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284 • ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA • MANUAL PRÁTICO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO •

O tratamento da tirotoxicose gestacional transitória inclui de tratamento definitivo escolhido, recomenda-se primeiramente
hidratação e beta-bloqueadores. a compensação dos pacientes com antitiroidianos, 100-200 mg de
PTU ou 10-20 mg de metimazol de oito em oito horas; o hiper-
Oftalmopatia tiroidismo já demonstra sinais de melhora dentro de duas sema-
nas e o paciente entra em eutiroidismo em quatro semanas. Se a
Em cerca de dois terços dos pacientes com a oftalmopatia da decisão da terapêutica for a favor da cirurgia, o paciente continua
doença de Basedow-Graves não há necessidade de qualquer trata- com os antitiroidianos até o dia da operação e acrescenta-se iodo
mento específico, pois as alterações são discretas e costumam me- alguns dias antes do procedimento cirúrgico.
lhorar com o tratamento do hipertiroidismo. Aqueles com a oftal-
mopatia moderada e com sintomas como fotofobia, vermelhidão Outras causas de tirotoxicose
nos olhos, exoftalmo moderado, quemose e edema periorbitário
discreto devem receber medidas terapêuticas como óculos com len- A ingestão excessiva dos hormônios da tiróide (tirotoxico-
tes escuras, elevação da cabeceira da cama durante o sono e colírio se factícia ou tirotoxicose medicamentosa) é, às vezes, verificada
lubrificante à base de metilcelulose. em indivíduos que a realizam com o objetivo de perder peso ra-
Os pacientes com quadro clínico grave, que inclui proptose pidamente; em alguns casos os pacientes negam veementemente
exagerada, edema periorbitário, diplopia, disfunções dos músculos a ingestão de qualquer droga. Do ponto de vista clínico, apresen-
oculares e ulcerações de córnea, têm indicação terapêutica de cor- tam-se em tirotoxicose, com a glândula tiróide impalpável, com o
ticosteróides (40 a 120 mg de prednisona/dia), às vezes combi- mapeamento por meio do 131I revelando ausência de captação do
nada com ciclosporina; as doses de corticóides são reduzidas gra- radioisótopo pela tiróide e com os hormônios tiroidianos séricos
dualmente em 5 mg a cada uma ou duas semanas. Nos casos de elevados, refletindo a ingestão exagerada desses fármacos. O tra-
recidiva usa-se pulsoterapia, com metilprednisolona endovenosa (1 tamento consiste na retirada da droga e no aconselhamento psico-
grama em 250 mL de soro fisiológico de duas horas/dia durante lógico desses pacientes, além da prescrição de terapêuticas alterna-
uma semana) ou radioterapia orbitária (2.000 cGy através de ace- tivas para a cura da obesidade.
lerador linear), seguidas de cirurgia de correção dos músculos ou Os tumores trofoblásticos, quer a benigna mola hidatiforme,
de descompressão orbitária. quer o maligno coriocarcinoma, podem ocasionar hipertiroidismo
devido à secreção exagerada da gonadotrofina coriônica (hCG),
Doença de Plummer que tem ação semelhante à do TSH. O hipertiroidismo só apare-
ce quando as concentrações de hCG atingem valores superiores a
O hipertiroidismo na doença de Plummer (bócio nodular 300000U/mL (nível bastante superior ao encontrado numa gra-
tóxico ou adenoma tóxico) é ocasionado pela produção exagerada videz normal). Essa forma de hipertiroidismo é curada com a reti-
de hormônios tiroidianos a partir das áreas autônomas presentes rada cirúrgica da mola ou com a quimioterapia para o coriocarci-
nas lesões uni ou multinodulares do tecido tiroidiano. Esse tipo de noma, que eliminam a produção de hCG.
doença, ao contrário da moléstia de Basedow-Graves, não está as- A tirotoxicose induzida por iodo (Jod-Basedow) pode ocor-
sociada a remissões espontâneas; em conseqüência, não se justifica rer quando um paciente com bócio multinodular atóxico é trata-
a esperança de que a doença desapareça naturalmente com o tra- do com iodo ou com medicações com grande quantidade desse
tamento a longo prazo com drogas antitiroidianas. elemento. Muitos dos folículos desses nódulos são autônomos e
A evolução natural da moléstia é caracterizada primeiramente incorporam o iodo e o transformam em hormônio. A terapêutica
pelo aparecimento do tecido autônomo, por mutação no receptor de adequada é a suspensão da administração da droga iodada.
TSH, que fica ativado constitutivamente e inicia, então, a produção Os tratamentos da tiroidite subaguda e da tiroidite linfocítica
de hormônios, independentemente do estímulo normal do TSH. À com resolução espontânea serão analisados no capítulo das tiroidi-
medida que este tecido vai crescendo, a quantidade de hormônio se- tes; o das metástases de carcinoma folicular da tiróide com hipoti-
cretada se eleva e inicia processo de supressão do TSH endógeno; em roidismo no capítulo de câncer da tiróide. A terapêutica do hiper-
conseqüência, os tecidos normais da glândula deixam de funcionar tiroidismo hipofisário se dá pela hipofisectomia, seguida, às vezes,
e toda a produção hormonal é dependente do nódulo ou nódulos da ablação da tiróide com iodo radioativo.
autônomos. Posteriormente, esta vai aumentando e surge a tirotoxi-
cose. A evolução para o estado de hipertiroidismo é, habitualmente,
bastante demorada e em inúmeros doentes ela nunca ocorre. De ma-
neira geral, entretanto, recomenda-se a terapêutica definitiva nos ca-
sos de nódulos autônomos com eutiroidismo quando o nódulo tem
pelo menos 3cm de diâmetro, pois estudos têm demonstrado que
quanto maior o nódulo, maior é a chance de eclosão da tirotoxico- 093 Hipotiroidismo
se; é claro que quando o doente já se apresenta em hipertiroidismo
deve-se também proceder ao tratamento definitivo. João Hamilton Romaldini
Este é realizado por meio da destruição da área autônoma
por cirurgia, iodo radioativo ou alcoolização. A cirurgia, nessas cir-
cunstâncias, não está associada às complicações referidas na doença
de Basedow-Graves, pois consiste apenas da retirada do adenoma.
M uitas anormalidades estruturais ou funcionais podem levar
à produção deficiente de hormônios tiroidianos. O estado
clínico resultante é chamado de hipotiroidismo. Do ponto de vis-
A terapêutica com iodo radioativo também não provoca o hipo- ta etiológico pode ser classificado como:
tiroidismo, pois é restrita à área tóxica e não lesa os tecidos nor-
mais adjacentes. A alcoolização do nódulo com etanol absoluto A- hipotiroidismo primário sem bócio:
vem ganhando terreno nos pacientes com risco cirúrgico ou que 1- hipotiroidismo pós-ablativo (cirúrgico ou após radioio-
não querem submeter-se ao iodo radioativo. Com qualquer tipo doterapia),
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2- hipotiroidismo primário idiopático, so e com respostas cognitivas muito lentas. Apnéia do sono ocor-
3- cretinismo atireótico (aplasia ou displasia tiroidiana); re nesses pacientes, principalmente associada a grande aumento de
B- hipotiroidismo primário com bócio: peso. A psicose é muito rara, mas depressão e ansiedade (com ou
1- tiroidite crônica auto-imune ou tiroidite de Hashimoto, sem sintomas de pânico) ocorrem em cerca de 20% dos pacientes
2- bócio endêmico (deficiência de iodo), hipotiroidianos. Anormalidades musculares são observadas: des-
3- agentes antitiroidianos (drogas tais como, propiltiouracil, de aumento na concentração de creatinoquinase até hipertrofia e
metimazol, amiodarona, ácido paraminossalicílico, fenil- fraqueza dos músculos proximais, produzindo quadro de miopa-
butazona, lítio e sertelazina), tia hipotiroidiana. Em alguns casos podemos notar a síndrome do
4- bócio e hipotiroidismo induzidos por iodo, túnel do carpo.
5- defeitos hereditários na ação e biossíntese de hormônios Coma mixedematoso pode ocorrer quando hipotiroidismo
tiroidianos, grave é complicado por trauma, infeção, exposição a frio intenso
6- resistência generalizada aos hormônios tiroidianos,; ou administração de hipnóticos, narcóticos ou anestesia. Deve-se
C- hipotiroidismo secundário (deficiência de hormônio suspeitar desse diagnóstico em pacientes comatosos e que apre-
tiroestimulante hipofisário (TSH): sentam hipotermia, hiperventilação, hipoglicemia e hiponatremia.
1- hipopituitarismo, moléstias infiltrativas da hipófise ou hi- Hipotiroidismo é causa freqüente de hiperlipidemia (o dobro da
potálamo; população geral). Somente pacientes com valores de TSH no soro
D- hipotiroidismo transitório: acima de 10 mU/L apresentam alterações no perfil lipídico, prin-
1- tiroidite silenciosa, cipalmente aumento nos valores séricos de colesterol, triglicérides
2- tiroidite subaguda (ou De Quervain), e fração LDL do colesterol. As alterações no sistema endócrino in-
3- tiroidite pós-parto. cluem a presença de ciclos anovulatórios (infertilidade), metror-
ragia, amenorréia com ou sem galactorréia e diminuição da secre-
As formas de hipotiroidismo primário são responsáveis por 95% ção de hormônio do crescimento.
dos casos de hipotiroidismo clínico. Hipotiroidismo pode originar-se Na clínica pediátrica, a deficiência dos hormônios tiroidianos
de doenças que afetam o hipotálamo e a hipófise ou de doenças pri- adquire particular importância, em virtude do seu papel no cresci-
márias da tiróide e seus sintomas e sinais dependem da magnitude da mento e no desenvolvimento físico e mental.
deficiência hormonal. O hipotiroidismo é menos intenso e mais tole-
rado quando há perda gradual da função tiroidiana do que nos casos Diagnóstico
de perda aguda após tiroidectomia ou retirada repentina de hormô-
nio tiroidiano exógeno. No hipotiroidismo de causa hipotalâmica-hi- O diagnóstico de hipotiroidismo baseia-se principalmente
pofisária, os sintomas e sinais de outras deficiências endócrinas como nos exames de laboratório, em virtude da perda de especificidade
hipogonadismo e insuficiência adrenal podem mascarar as manifes- de manifestações clinicas típicas de hipotiroidismo; com métodos
tações clínicas do hipotiroidismo. Quando o hipotiroidismo ocorre sensíveis na determinação da concentração de T4 livre e principal-
após tratamento do hipertiroidismo da doença de Graves, algumas mente do TSH sérico é possível o diagnóstico precoce de hipoti-
manifestações clínicas da doença de Graves como oftalmopatia, mi- roidismo. O ensaio de TSH sérico sensível pode ser utilizado co-
xedema pré-tibial e vitiligo podem persistir para sempre. mo único parâmetro no diagnóstico de hipotiroidismo primário,
Os hormônios tiroidianos influenciam todos os sistemas orgâ- não havendo diferenças entre ensaios de TSH de segunda ou ter-
nicos, portanto as manifestações de sua deficiência refletem uma ou ceira geração. Para a confirmação do diagnóstico utiliza-se a dosa-
mais alterações induzidas pela falta de hormônios da tiróide. Elas re- gem de T4 livre. A combinação de TSH sensível elevado (acima de
velam processo metabólico bastante lento e são caracteristicamente 5 mU/L) com a concentração de T4 livre sérico normal tem sido
insidiosas, múltiplas e diversas: fadiga, movimentos lentos, intole- denominada hipotiroidismo subclínico.
rância ao frio, constipação, diminuição da memória e concentração Pacientes com hipotiroidismo hipotalâmico (central) têm
mental e algumas vezes ganho de peso (mas não obesidade mór- níveis de TSH sérico normais ou diminuídos. Pacientes em uso
bida). O acúmulo de glicosaminoglicanos e ácido hialurônico em de glicocorticóide e dopamina podem mascarar o diagnóstico
muitos tecidos torna a pele mais seca e grossa, produz fácies incha- de hipotiroidismo primário pelo fato de bloquearem a secreção
das, aumento da língua e voz rouca. Tais alterações são facilmente de TSH. Além disso, concentrações de TSH sérico podem es-
reconhecíveis em pacientes jovens e nos idosos podem ser atribuídas tar inapropriadamente elevadas em condições não comuns, como
à menopausa ou à idade. A incidência de hipotiroidismo em mulhe- na resistência generalizada aos hormônios tiroidianos e no hiper-
res acima de 65 anos de idade é de 5 a 15% e, associada à perda de tiroidismo mediado por TSH. Hipotiroidismo primário é caracte-
sintomas e sinais específicos, enfatiza a necessidade de exames pe- rizado pela elevada concentração de TSH no soro e T4 livre baixo
riódicos para detectar hipotiroidismo nessa faixa etária. ou normal. Consideram-se com hipotiroidismo subclínico pacien-
As repercussões sobre o metabolismo lipídico e a hiperten- tes com concentração normal de T4 e elevada concentração de
são arterial, com acentuada predisposição à vasculopatia em geral TSH. O hipotiroidismo secundário é caracterizado pela presen-
e à coronariopatia em especial, acentuam a gravidade do hipoti- ça de baixa concentração de T4 e elevação de TSH não apropria-
roidismo. Queixas muito freqüentes nesses pacientes são dispnéia da. O diagnóstico diferencial deve ser feito com doenças hipotalâ-
durante pequenos exercícios e diminuição na capacidade física e de micas e hipofisárias.
concentração mental. Insuficiência cardíaca congestiva é rara em Anticorpos antitiroperoxidase tiroidiana ou antitiroglobuli-
pacientes que não apresentam outras doenças cardíacas, mas a in- na estão presentes em mais de 90% dos pacientes com tiroidite au-
suficiência cardíaca ou coronariana pode piorar quando o hipoti- to-imune, a tiroidite de Hashimoto. Outros testes ocasionalmente
roidismo se desenvolve nesses pacientes. são úteis para identificar formas menos comuns de falência tiroidia-
Depressão do sistema nervoso central é característica do hi- na, por exemplo, TRAb (anticorpos bloqueadores do receptor de
potiroidismo e o paciente pode se apresentar sonolento, vagaro- TSH) em pacientes com hipotiroidismo sem bócio e baixa captação
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de radioiodo. A dosagem de T3 sérico é pouco sensível e não tem necessário atentar para a concentração de T3 livre e para a presen-
valor no diagnóstico de hipotiroidismo. O teste de estímulo com ça de arritmia cardíaca. Em geral, durante o tratamento com L-T4
TRH não é melhor que a dosagem do TSH isolado na identificação o paciente deve ser mantido com concentrações normais de TSH
do paciente com hipotiroidismo subclínico e também não consegue (0,3 a 4,5 mU/L).
distinguir o hipotiroidismo hipofisário do hipotalâmico. A monito- O coma mixedematoso é emergência médica com eleva-
ração do perfil lipídico é necessária devido ao aumento do risco de do índice de mortalidade. A L-T4 deve ser administrada por via
o paciente hipotiroidiano desenvolver doença arterial coronariana. intravenosa em alta dose (400 µg), seguida de 100 µg IV diaria-
Hipercolesterolemia, aumento dos níveis de LDL-colesterol, aumen- mente. O paciente deve ser aquecido, para evitar colapso cardio-
to de apoproteína B, aumento de Lp(a) e triglicérides são as altera- vascular, e entubado, pois necessita de ventilação mecânica as-
ções lipídicas mais comumente observadas em pacientes hipotiroi- sistida. Infecção deve ser detectada e tratada agressivamente.
dianos, mesmo com grau leve de falência tiroidiana. Concomitantemente com a L-T4 os pacientes devem ser tratados
com hidrocortisona, 100 mg IV inicialmente, e então com 25 a
Tratamento 50 mg a cada oito horas.
Em relação ao hipotiroidismo subclínico (TSH elevado e T4
O tratamento de qualquer forma de hipotiroidismo é fei- livre normal), um dos fatores favoráveis à instituição da terapêutica
to pela reposição dos hormônios tiroidianos; a levotiroxina (L- com L-T4 é a presença de altos títulos de anticorpos antitiroidianos
T4) é o tratamento de escolha. Cerca de 80% da dose de L-T4 é e concentração de TSH acima de 10 mU/L. Há risco de progressão
absorvida e, em virtude de sua meia-vida ser longa (sete dias), da falência tiroidiana em pacientes com tiroidite de Hashimoto e,
uma dose diária produz concentrações constantes de T4 e T3 no dependendo das circunstâncias clínicas, por exemplo hipercoleste-
soro. Embora T4 seja o principal hormônio produzido na tirói- rolemia, aumento de LDL-colesterol ou presença de outros fatores
de, virtualmente todos os efeitos dos hormônios tiroidianos são de risco para doença arterial coronária há justificativa para o início
mediados pelo T3, cuja potência biológica é cerca de quatro ve- da terapêutica. Se a decisão terapêutica for aceita, deve-se monito-
zes maior do que a do T4. Assim, a via mais importante do me- rar os valores de TSH e mantê-lo nos limites normais.
tabolismo dos hormônios tiroidianos é a conversão do T4, por A presença de valor de TSH sérico elevado em pacientes tra-
meio da 5’ desiodação, ao hormônio ativo T3, de modo que 70 tados com L-T4 sugere revisão da dose administrada; contudo, deve-
a 80% do T3 circulante provem desse processo. No paciente tra- se primeiro avaliar a aderência ao tratamento. Outras causas podem
tado com L-T4 a concentração de T3 é normal. Depois de uma a influir na absorção intestinal de L-T4 que ocorre com administra-
duas semanas do início da terapia com L-T4 observa-se significa- ção concomitante de substâncias como ferro, hidróxido de alumí-
tivo aumento na concentração de T4 que deve atingir seu ponto nio e cálcio, além de preparados contendo soja em excesso. Dietas
máximo na quarta semana. Antes de iniciar a administração de ricas em fibra, em especial as sintéticas, também podem interferir
L-T4, entretanto, o paciente com hipotiroidismo deve submeter- com a absorção de L-T4.
se a análise da função adrenal. A resposta ao tratamento do paciente com hipotiroidismo
A dose média de L-T4 em adultos é de 1,6 µg/kg/dia, mas à reposição hormonal é bastante satisfatória. É importante frisar
as doses necessárias para manutenção do eutiroidismo variam mui- que uma vez diagnosticado o hipotiroidismo o tratamento deve ser
to, de 50 a 220 µg ao dia. Na criança, e especialmente no hipoti- mantido por toda a vida, exceto nos casos em que o hipotiroidismo
roidismo congênito, as doses são bem maiores. Nos pacientes jo- é transitório, como na tiroidite subaguda, ou reversível, quando a
vens e sem alterações coronarianas as doses iniciais de L-T4 são de causa for a ingestão de componentes antitiroidianos. Reavaliações
50 a 100 µg ao dia. No caso de pacientes com doença coronariana periódicas são necessárias para reajustes da dose de L-T4, pois esta
ou com mais de 60 anos as doses iniciais de L-T4 devem ser me- deve ser individualizada para cada paciente, baseada em cuidado-
nores, 12,5 a 25 µg ao dia. A dose pode ser aumentada em 12,5 sas avaliações clínicas e laboratoriais.
a 25 µg (dependendo da gravidade) a cada duas ou três semanas,
até levar o paciente ao estado de eutiroidismo.
Pacientes com hipotiroidismo grave necessitam de doses ini-
ciais maiores de L-T4, dado que o mixedema interfere em parte
com a absorção intestinal da tiroxina. Pode ser necessário aumen-
tar a dose de L-T4 em pacientes durante a gravidez, devido ao au-
mento da depuração metabólica e/ou diminuição da absorção. A 094 Nódulos de Tiróide
quantidade de L-T4 pode requerer aumento na dose de cerca de 20
a 50%. Após o parto, a dose deve ser reduzida. Quando indicada Reinaldo P. Furlanetto
a L-T3, devido a sua curta meia-vida (cerca de 24 horas), deve ser

O
administrada em doses fracionadas, tentando evitar as flutuações da nódulo de tiróide (NT) pode ser definido como qualquer
concentração sérica que ocorrem com esta preparação. A associação lesão macroscópica distinguível do parênquima tiroidiano
de L-T3, na dose de 12,5 µg ao dia com L-T4 foi descrita somente normal. O tamanho pode ser muito variável, desde aqueles clini-
em um pequeno estudo e provocou melhoria nos sintomas físicos, camente manifestos e evidentes à inspeção; até uma pequena le-
nos exames cognitivos e no humor de alguns pacientes. são perceptível apenas ao ultra-som (US). É a doença tiroidiana
Além do TSH, em algumas situações clínicas deve-se ava- mais freqüente; 4% da população geral e aproximadamente 50%
liar as concentrações séricas de T4 livre, T3 livre, creatino-quina- dos habitantes de áreas carentes de iodo têm nódulos tiroidianos
se e a função cardíaca. Somente nos pacientes com hipotiroidis- evidenciados clinicamente, ou seja, nódulos visíveis, palpáveis ou
mo em tratamento de câncer de tiróide a concentração de TSH sintomáticos. Entretanto, mesmo na população geral, o número
no soro pode ser mantida abaixo dos valores normais, menor do de nódulos assintomáticos é ainda maior; pelo US consegue-se
que 0,1 mU/L (TSH suprimido). Na presença desses valores é detectar NT em aproximadamente 30% dos indivíduos sem qual-

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