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http://emporiododireito.com.br/ao-deus-mercado-um-direito-laico-por-luciano-scheer-e-alfredo-
copetti-neto/
“Esses tecnocratas de quinta categoria… são uns ignorantes! Não sabem nada de nada (“un
carago de nada!”) e ganham uns salários imensos! E, em cada crise que eles desatam,
acabam aumentando suas fortunas! Porque são recompensados por essas façanhas que
consistem em arruinar o mundo! Esse é um mundo ao contrário: que recompensa os seus
arruinadores ao invés de castigá-los. Não tem nenhum preso, entre os banqueiros que
promoveram, provocaram essa crise no planeta inteiro. Nenhum preso! E, por outro lado,
há milhares de presos por terem consumido maconha! Ou por terem roubado uma galinha!
Milhares de presos! É o mundo do avesso! Um mundo de merda! Mas não é o único mundo
possível. E cada vez que eu me junto a essas concentrações lindíssimas com os jovens,
penso: Há um outro mundo que nos espera.”
Eduardo Galeano
Não obstante a análise criteriosa de Piketty, contemporaneamente, parece que aquele dito
“Deus Mercado”, da mão invisível, que tudo resolve, dotado de um suposto “espírito santo”, não
deu conta das nuances institucionais da vida cotidiana. Sua pretensa onipotência,
paradoxalmente, desencadeou, a partir de 2008, com a crise do subprime nos EUA, uma
avalanche catastrófica de problemas fiscais-financeiros em todo o mundo. O caso grego que o
diga. Na Grécia, hoje, a dívida pública estourou. Ao contrário do que se imagina, invertendo-se
a celebre frase de Höderlin – ali onde nasce o que salva, nasce também o perigo –, a
anunciada “ajuda” da União Europeia fez com que a dívida grega, que em 2009 era de 110%
do PIB, passasse para 185% do PIB em 2014. [3] Mais do que isso: a Tróika (composta pela
Comissão Européia, pelo Banco Central Europeu e pelo Fundo Monetário Internacional)
expressamente anunciou: a Grécia deve morrer para pagar a sua dívida.
“A Grécia, de 2010 para cá, não recebeu recursos. Ela recebeu papéis. Papéis que vieram de
uma empresa privada, localizada em Luxemburgo, da qual os países europeus são sócios.
Essa empresa foi criada no auge da crise em 2010 para salvar os bancos privados. E faz uma
espécie de reciclagem, tirando esses papéis podres que estavam abarrotando o balanço dos
bancos privados… Papéis desmaterializados, não comercializáveis. É um escândalo! Essa
empresa foi criada no mesmo dia em que foi endereçado o pacote de salvamento para a
Grécia […]”, e como se não bastassem as políticas de austeridade daí suscitadas, “[…] O FMI
[…], vem em socorro dos bancos privados, e o empréstimo ponte que o FMI fez foi para
garantir o pagamento dos juros que incidem sobre esses empréstimos de papel […].”. [4]
Essa situação nos remete a algumas colocações de Luigi Ferrajoli, feitas na obra La
democrazia atraverso i diritti, recentemente traduzida para o Português [5], quando trata da
crise da democracia constitucional. Para Ferrajoli, face o desenvolvimento de poderes
econômicos e financeiros de caráter global, que são propostos e se estabelecem em um
ambiente sem regras, o princípio político-democrático sucumbe aos interesse privados e
econômicos. Em outras palavras, ocorre a subversão do governo político e democrático da
economia para o governo econômico e não democrático da política, cujo resultado exacerba a
relativização dos Direitos Fundamentais.
Assim, “Não são mais os Estados, com suas políticas, que controlam os mercados e o mundo
dos negócios, impondo suas regras, limites e vínculos, mas são os mercados financeiros, quer
dizer, alguns milhares de especuladores e algumas agências privadas de rating, que controlam
e governam os Estados.”. (2015, p.149)
Notas e Referências:
[1] http://cartamaior.com.br/?/Opiniao/As-duas-crises-mais-importantes-do-capitalismo-nos-
ultimos-cem-anos/19573
[3] http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/541399-auditoria-da-divida-grega-uma-iniciativa-
urgente-entrevista-especial-com-maria-lucia-fattorelli