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SEMIOLOGIA PEDIÁTRICA

Anamnese

Prof. Ricardo Othon Sidou


FAMED – UFC
DSMCA – ABS DA CRIANÇA
2022 (3º ano pandêmico de Covid-19)
Lição número 1

• 1° conheça o normal;
• Depois, conheça as variantes do
normal; O NORMAL
• Então, conheça a anormalidade,
MORA
observando que normalidade e AQUI!
anormalidade estão intimamente
relacionadas e separadas por
estreitos limites
DIAGNÓSTICO

ANAMNESE EXAME INVESTIGAÇÃO


FÍSICO subsidiária
PRINCÍPIOS BINÁRIOS CLÍNICOS

• Ouvidos para ouvir


• Olhos para enxergar
2 • Mãos para examinar
• Hemisférios para deduzir (PENSAR)
Os 10 mandamentos das anotações clínicas
I. Escreverás legivelmente;
II. Anotarás data e hora;
III. Registrarás a história respeitando a cronologia dos
fatos;
IV. Anotarás as conclusões dos exames realizados;
V. Evitarás abreviaturas;
VI. Serás capaz de, ao final, fazer um resumo sucinto;
VII. Listarás os problemas importantes;
VIII. Farás um diagnóstico (DX) ou, se não for possível,
montarás uma lista de diagnóstico diferencial (dDX);
IX. Assinarás teu nome e graduação (não ao dr. Sombra
Garrancho da Silva);
X. Não alterarás os registros (seja honesto)
Descreva uma abelha?
Pediatria...
você sabe do que está falando?

Criança é conduzida para uma avaliação médica. Ao exame apresenta


FC de 145 bpm e FR de 45 mrm. Como ele está?
Exame físico pediátrico
Médico Pediatra
DESAFIO de CONHECIMENTOS, HABILIDADES e ATITUDES EXAME IGUAL DO ADULTO

1m 1m - 2a 2 - 5a 5 - 18a

NEONATO
LACTENTE 5 – 10a 10 – 18a
PRÉ-ESCOLAR
10-14a 14-18a
ESCOLAR PRECOCE TARDIA

ADOLESCENTE
Anamnese + exame físico

Entrevista com gestante + Exame


Sala de Parto AC, UCI ou UTI Neonatal
pré-alta
Prontuário
Dados da família
Indicação para doenças hereditárias

Hemofilia A
História materna e dados da gestação
• Idade
• Altura
• Peso (anterior e atual na hora do parto)
• Número de gestações, paridade e abortos
• Natimortos e neomortos
• Filhos malformados
• IG atual em semanas
• Doenças durante a gestação (HAS, DM, sangramentos, infecções)
• Uso de drogas (fumo e álcool)
• Grupo sanguíneo e fator RH
• Sorologias maternas
Dados do parto
• Tempo de rotura de membranas
• Duração do trabalho de parto
• Apresentação (C,P, córmica)
• Modo de início e término do parto
• Houve necessidade de intervenção? Qual e por qual motivo?
• Indução
• Condução
• Término artificial
• Oligo ou polidrâmnio
• Aspecto do líquido amniótico
• Presença de sofrimento fetal
• Hipovolemia
• Infecção
Dados do Recém-nascido
• Tempo até o pinçamento do cordão umbilical
• Exame do cordão umbilical
• Boletim de Apgar: 1° e 5° minutos
• Indicação imediata sobre a presença de anomalias
• Trauma obstétrico
• Hipovolemia
• Infecção
• Idade gestacional (Capurro ou Balard)
Avaliação da vitalidade e da Idade Gestacional

Escore de Apgar Capurro


Dados antropométricos

Apgar
Peso
Idade gestacional GIG
AIG
Peso X idade
gestacional
Comprimento
Perímetro cefálico PIG
Perímetro torácico
Perímetro
abdominal

Dean; Avery; McDonalds, 2011


Diagnósticos neonatais • Quanto ao peso de nascimento (PN) ➔ use a balança

• Quanto a idade gestacional (IG) ➔ use escala de Capurro

• Quanto a relação PN x IG ➔ use gráfico de Lubchenco

• Quanto a existência depressão neonatal (DNN) ➔ use escore de Apgar


Desconforto respiratório (DR):
Boletim de Silverman-Andersen
• FR
• Movimentos respiratórios
• Dificuldade: gemidos, retração xifoide, tiragem intercostal e subdiafragmática

3 4 6 7
DR Leve DR moderado DR severo
Sala de parto
• Como se deu a extração?
• ΔT ligadura cordão?
• Sexo, APGAR (1º/5º), Capurro, PN, Comp, PC, PT
• Avaliar vasos do coto umbilical:
• 2A + 1 V
• Avaliar condição respiratória:
• Boletim de Silvermen-Andersen
• Avaliar condição circulatória
• Ausculta, FC, TEC
• Avaliar sensório
• Detectar malformações
Por que as crianças são trazidas aos médicos?
1. Diagnóstico de uma doença aguda;
2. Diagnóstico ou investigação de uma doença crônica;
3. Atrasos em marcos do desenvolvimento;
4. Aconselhamento sobre:
1. Nutrição
2. Crescimento
3. Imunização
4. Variações da normalidade
5. Reconhecimento e/ou confirmação de síndromes.
Consulta pediátrica
• Sala de espera:
• Receptiva, descontraída, decorada;
• Acolhimento:
• “Ritual de aproximação”
• Visa reduzir a ansiedade
• Considerar a ansiedade, insegurança, medo, questionamentos
• Preparação: Levar em conta o ambiente e as circunstâncias
• 1º encontro ou cliente antigo?
• Qual a faixa etária?
• Consulta de urgência (priorize a queixa) ou de rotina ➔ (educação em saúde)
“Crianças e pediatras devem ser curiosos.”
Por quê?
Crianças:
1. Não gostam de ser encaradas;
2. Deitam-se quando estão doentes;
3. Recusa repetida de alimentos demonstra que não estão bem;
4. Apresentam capacidade de expressão limitada;
5. Adotam posição de conforto quando estão bem;
6. Tem instinto de sobrevivência forte.
Posição de conforto
A mãe: “funcionária” exemplar do médico.

1. Está certa até que se prove o contrário.


2. Não cobra hora extra.
3. Não te leva às barras da justiça do trabalho.
4. É proativa (antecipatória).
5. Cumpre 100% do combinado.
6. Reconhece seu esforço.
7. É grata por tê-lo(a) ao seu lado no cuidar da saúde de seu filho.
A mãe
Escute a fala materna:
• Quais são as suas preocupações?
• O que ela pensa desta situação?
• Cite-a literalmente no prontuário.
• Entenda seu linguajar pedindo que defina os termos que usa, por exemplo:

“Paulinho tá com dor no mucumbu, doutor!


Paulinho esta com dor no cóxis.
“Esse menino derne ontem tá com um farnizim”
Esta impaciente, mais irritado.
“Doutor, essa menina tá com uma xanha danada”
Prurido nas partes íntimas (sarna).
A mãe: Chame-a pelo nome
Deixe as mães falarem
1. Conhecimento geral da criança.
1. Fale-me sobre seu filho
2. Que tipo de sujeito ele é (extrovertido, sociável)?
3. Ele é ativo?
4. Como ele dorme?
5. Como vai na escola (desenvolvimento)?
2. Traçar a cronologia ➔ linha do tempo
1. Quando esteve bem pela última vez?
2. O que veio primeiro: a tosse ou o chiado?
3. De que maneira ele está diferente, me diga?
3. Diga-me o que ocorreu?
• A criança como um paciente
singular:
• Depende de um “tradutor” adulto:
• Reconhece
• Traduz
• Relata os problemas
• “Tradutor” da criança
• É parcial ➔ tem envolvimento afetivo
➔ percepção distorcida da saúde da
criança
Por que uma consulta pediátrica é difícil?
Ver e enxergar nem sempre algo óbvio
A criança na consulta
• Favorecer a sua participação na consulta/valorizar papel ativo
• A criança como paciente (“Patiens = padecer, sofrer”)
Como abordar um sintoma?

• Quando isso ocorreu?


• Há quanto tempo ele tem isso?
• Você pode descrever?
• O que provoca?
• Há algo que alivía?
• Quanto tempo dura?
• Qual o seu padrão e periodicidade?
• Há algum outro sintoma associado?
• O que ele faz quando tem isso?
• O que você faz quando ele tem isso?
Estratégia HELP de assistência qualificada

HISTÓRIA (anamnese)
EXAME físico
Dedução LÓGICA
PLANO terapêutico
Anamnese pediátrica ampla

FAMÍLIA:
Condições sociais,
Condições de vida.
Riscos familiares: genética, atopia, ambiente, pais separados,
pai ausente, avós

O INÍCIO:
Pré-natal;
Condições de nascimento;
Período neonatal
Anamnese pediátrica ampla

AMBIENTE FÍSICO:
Habitação;
Quartos;
Insolação;
Entorno e em torno

O PASSADO:
Desenvolvimento – “Foi tudo no tempo certo”;
Doenças prévias, crônicas ou de repetição.
Anamnese pediátrica ampla
VACINAÇÃO:
Completa?
Só as do PNI?
Vacinas complementares?
Reforços

Avaliação
AMPLA
Vou examinar e agora?
• 8 a 10 meses ➔ pouca oposição ao exame;
• 12 a 36 meses (exercício máximo da sua autonomia)
• Fortalecer o contato empático:
• Troque objetos e sorrisos com ela;
• Examine no colo da mãe;
• Deixe exames com instrumentos, cavidade oral, exame otológico para o final;
• Até os dois anos ➔ despida. Após apenas quando necessário (nunca nua totalmente).
• Sempre antecipe o que fará ou examinará ➔ informe
• > 5 anos ➔ solicite que ajude, que faça;
• Precisam ser ouvidas e vistas para serem notadas
• Peça que relate os eventos (obtenha confirmação parental de certos pontos)
• Se estiver reticente, tímido ou mudo ➔ não o pressione
• Permita que ele desenhe a si mesmo ➔ técnica do desenho da “figura humana”
• Anote como ele gosta de ser chamado: José Roberto, Zé Roberto, “ZERO” ou júnior
A criança na sua frente: o agora!
• Padrão alimentar da criança/família; problemas alimentares relatados;
• Higiene: geral (incluindo moradia)/bucal, genital;
• Lazer: TV/tecnologias (telas), cultural;
• Atividade física: na escola, brincadeiras e esportes;
• Hábito intestinal: diarreia? Constipação? Alternância diarreia/constipação?
• Aprendizado: Creche/escola?
• Quem sou eu?
• Crescimento: P, E, P/E, PC
• DNPM
• Escolaridade
• Controle de esfíncteres (micção/evacuação)
• Qual a impressão geral da criança (amigos, professores, família)
• Comportamento, disciplina, limites ➔ (birra, “problemas do sono”)
Exame físico
BUSCAR pela anormalidade

CONFIRMAR a anormalidade

INVESTIGAR a anormalidade

Anormalidade estabelecida
Pais tranquilizados

AGIR conforme o preconizado


Diagnósticos ➔ PROBLEMAS?

Diagnosticar para que?

Tratar Prognosticar

Orientar/ensinar
(Prevenir)
O pediatra é uma clínico,
porém não apenas...
O termo “clínico” provém do grego klinikós e tem como elemento de composição klíno, inclinar, ou klíne, leito

DIAGNÓSTICOS INICIAIS EM PEDIATRIA:


1. Nutricional
2. Crescimento
3. Desenvolvimento
4. Vacinal
5. Higiene mental
6. Enfermidades
DX nutricional – Relatório alimentar
Tamanho atingido em % do crescimento total pós-natal

Idade em anos
Tipos de crescimento infantil
DX crescimento – Antropometria
“O Pediatra é um médico de medidas”
Precisa de medidas precisas
• Peso (Drogas e HV)
• Comprimento/altura
• Perímetro braquial
• IMC
• Avaliação da composição
corporal
• Dobras cutâneas
• Bioimpedanciometria
Busque pelo histórico da criança
“Como ele era? Tem uma foto dele?”
Minhaj Farah vítima da guerra na Somália, 2011

7 meses: 3,2kg 10 meses: 8kg


Dx Desenvolvimento:
“Toda criança é diferente.”
• Campos do Craniocaudal
desenvolvimento:
• Linguagem
• Motor fino e visão
• Motor grosso
• Pessoal Social
Centrífugo
Desenvolvimento puberal – ♀
Critérios de Tanner

Martins WP, Leite SP, Nastri CO. Ultrassonografia pélvica em crianças e adolescentes. Radiol Bras. 2009;42(6):395–401
Desenvolvimento puberal – ♂
Critérios de Tanner
DX vacinal

https://saude.es.gov.br/Media/sesa/Vacina%C3%A7%C3%A3o/Calend%C3%A1rio%20Nacional%20de%20Vacina%C3%A7%C3%A3o%20-%202022.pdf?msclkid=930ac010a89711ecbf0136dbde369832
DX Higiene mental

Necessidades afetivas básicas da criança:


• Receber amor ➔ construção da autoimagem
• Ser aceita pelo grupo
• De receber aprovação
• De proteção
• De Independência
• Aprender os limites de seus poderes
Dx da doença

Dúvidas dos pais:


1. O que é isso?
2. O que há de errado?
3. O que causou isso?
4. Como isso aconteceu?
5. Qual será o resultado?
6. Acontecerá novamente?
Lembrem-se que ontem vocês foram criança

Obrigado!
Bibliografia
1. Gill,D & O´Brien, N. Simplificando a semiologia Pediátrica – Dicas práticas, 6ª ed., Rio de Janeiro, Thieme
Revinter Publicações, 2019
2. Barness, LA> Manual de Diagnóstico Físico Pediátrico, Rio de Janeiro, McGraw-Hill, 1998
3. Barbosa, ADM. Semiologia Pediátrica, 2ª ed, Rio de Janeiro, Livraria e editora Rubio, 2010
4. Rodrigues, YT & Rodrigues, PPB. Semiologia Pediátrica, 3ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2009
5. LeBlond RF, Brown DD & De Gowin RL. Examen Diagnóstico, 9ª ed, McGraw-Hill, México, 2010
6. Martins MA, Viana MRA, Vasconcelos MC, Ferreira RA. Semiologia da Criança e do Adolescente, Rio de
Janeiro, MedBook, 2010
7. Fonseca CRB, Fernandes TF. Puericultura passo a passo. Série atualizações pediátricas, Ed. Atheneu, Rio
de Janeiro, 2018
8. Pessoa, JHL. Puericultura Conquista da Saúde da Criança e do Adolescente. São Paulo, Ed. Atheneu, 2013
9. Porto, CC & Porto, AL. Exame Clínico: Porto e Porto, 7ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2011
10. Epstein et al. Clinical Examination, 4ª ed, Mosby – Elsevier, China, 2008
11. Santana JC, Kipper DJ & Fiore RW. Semiologia Pediátrica. Porto Alegre, Artmed, 2002
Obrigado!

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