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N1 Neuropsicopedagogia - Grace Costa da Silva de Castro - abril 2023

Neste estudo de caso, a Professora Fabiana ficará responsável pela inclusão de


Vinícius, uma criança com diagnóstico de TDAH, com 9 anos, matriculada no 3º ano do
Fundamental I em uma escola de ensino regular. Embora esta seja a primeira experiência da
professora com este tipo de aluno, ela é psicopedagoga e poderá lançar mão dos
conhecimentos da neuropsicopedagogia para enriquecer a experiência de aprendizagem de
Vinícius, despertando sua atenção e interesse por novos conhecimentos.
O TDAH é caracterizado por dificuldades nas funções executivas que
comprometem a realização de tarefas, bem como tomada de decisões.
As funções executivas, conjunto de capacidades como memória, atenção seletiva,
controle inibitório, flexibilidade cognitiva, planejamento, monitoramento, permitem executar
as ações necessárias para programar e atingir um objetivo e concluir tarefas (COSENZA e
GUERRA, 2011), funcionando como um mecanismo de controle cognitivo que administra o
comportamento com capacidade de adaptação ao contexto. O TDAH traz disfunções para
esse mecanismo, interferindo na interação social do indivíduo, na capacidade de
aprendizagem, enfim no seu desenvolvimento social e cognitivo. Na escola, o desempenho
será deficitário devido à incapacidade da criança de planejar e realizar atividades que exigem
atenção de longo prazo, além de dificuldades com habilidades em áreas específicas como a
consciência fonológica, o processamento numérico e de raciocínio geral e lógico , disgrafia
devido a dificuldade com a motricidade fina.1
As informações reunidas a partir dos relatos dos pais, da psicóloga que faz
atendimento de Vinícius e das queixas da escola anterior apontam para TDAH com
predomínio em desatenção. Neste subtipo, “predominante desatento”, há comprometimento
na execução de atividades rotineiras; na compreensão de conteúdos e interação com textos
longos; o processo cognitivo é mais lento; há pouca curiosidade, bem como, pouco interesse
pela aprendizagem; discalculia; desleixo; distração (sonha acordado) e, eventualmente,
agressividade.
A partir da compreensão deste quadro, Fabiana fará as intervenções necessárias
através do treino das funções executivas de Vinícius. Este conjunto de ações planejadas com
o auxílio da equipe multidisciplinar da escola, com orientações para cooperação contínua da
família no reforço das ações em casa, certamente vai melhorar o desempenho de Vinícius no
contexto escolar e social.2
O planejamento organizado pela equipe multidisciplinar e Fabiana, será adequado
às necessidades de Vinícius ao longo das aulas (inclusive a adaptação curricular e com
alternativas de avaliação apropriadas em relação ao tempo para processar informações e tipos

1
FUENTES et al, 2014, Apud GARCIA, Denise Fiuza. RÊGO, Gabriel Gaudêncio do. in “As Funções
Executivas em Alunos com Transtorno do TDAH na Educação Básica” - Revista Científica Multidisciplinar do
Conhecimento. Ano 05, Ed, 01, Vol. 10 pp.24-56. Janeiro de 2020.
2
GARCIA, Denise Fiuza. RÊGO, Gabriel Gaudêncio do. in “As Funções Executivas em Alunos com
Transtorno do TDAH na Educação Básica” - Revista Científica Multidisciplinar do Conhecimento. Ano 05, Ed,
01, Vol. 10 pp.24-56. Janeiro de 2020.
de propostas), e vai lançar mão de diversos recursos, partindo da organização do espaço físico
da sala, colocando o menino próximo à professora, longe de distrações, para que as
intervenções e estímulos possam ser contínuos, ensinar apenas quando houver silêncio e
atenção por parte dos alunos; solicitar o apoio de professor auxiliar, sempre que julgar
necessário. É importante não perder o foco no processo de inclusão de Vinícius, mas,
igualmente, garantir a qualidade da condução das ações para os demais alunos.
Fabiana poderá propor para Vinicius novas maneiras de interação social e de
relações interpessoais, através de ações e fórmulas verbais para diferentes situações do
cotidiano, em substituição para comportamentos indesejados e estimular a expressão verbal.
A professora, deverá expor com clareza expectativas e as consequências, com instruções
relacionadas à convivência em sala de aula e em outros ambientes da unidade, que poderão
ser reforçadas por escrito na sala e em outros espaços da escola. O mesmo procedimento
poderá ser reforçado em casa para organização do quarto e cuidados com material escolar,
além das ações de interação. Recursos como: agenda, grupo de whatsapp, contato telefônico
poderão estreitar a comunicação com a família, além de encontros presenciais regulares.
Em sala de aula, as tarefas propostas para Vinícius deverão ser adequadas e
compatíveis com suas habilidades cognitivas, e, aos poucos, aumenta-se o nível de
dificuldade e desafios: com adaptação de textos longos para formatos mais curtos, utilização
de técnicas multissensoriais, atividades que permitam a criatividade e a expressão, dentre
outras; proposição de atividades de cunho colaborativo para trabalhar em grupos pequenos ou
em parceria com colega, sem competitividade, estimulando-o e reconhecendo seu sucesso e
progresso nas ações. Será útil lançar mão de recursos diferenciados nas aulas como vídeos,
jogos, músicas que permitam a interação e participação, bem como intercalar dinâmicas
variadas para propiciar a retomada da atenção. A professora poderá incluir, ainda, na rotina
de Vinícius atividades organizadas em diferentes espaços da escola em colaboração com
outros profissionais da equipe multidisciplinar (biblioteca, sala de vídeo, aulas de artes); além
de adaptar trabalhos escritos para o uso de computador, que mobiliza a atenção de Vinícius,
utilizando recursos de jogos, software de pesquisa, gráficos, dentre outros.
Concluindo, a partir da compreensão dos fatores que interferem no processo de
aprendizagem de Vinícius, do conhecimento de aspectos da neurociência, levando em conta
a afirmação de Cosenza e Guerra (2009) de que as funções executivas estão se desenvolvendo
continuamente ao longo da infância e adolescência,3 Fabiana conseguirá organizar uma
agenda que torne possível a inclusão de Vinícius, superando, a partir de um conjunto de ações
técnico pedagógicas e comportamentais, as dificuldades impostas pelo TDAH, sempre
reforçando o comportamento positivo, insistindo nas ações, explicando motivos para
eventuais sanções com boa-vontade, mantendo o diálogo a respeito de suas necessidades com
respeito e carinho, deixando claro para o menino que há interesse em apoiá-lo.

3
COSENZA, R.M.; GUERRA, L.B. Neurociência e Educação. Porto Alegre: Artmed, 2009.

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