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Revisão Turbo | 39º Exame de Ordem

Direito Penal

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Revisão Turbo | 39º Exame de Ordem
Direito Penal

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Direito Penal
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Sumário

Aula 06/11/2023 – Turno da noite ................................................................................................ 4


Aula 10/11/2023 – Turno da manhã........................................................................................... 29
Aula 13/11/2023 – Turno da manhã........................................................................................... 57

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Aula 06/11/2023 – Turno da noite

1. Relevância da omissão: crimes omissivos


1.1. Crimes omissivos próprios
São aqueles em que há um tipo penal específico descrevendo a conduta omissiva. O
verbo nuclear do tipo descreve uma conduta omissiva. Nesse caso, o crime consiste em o sujeito
amoldar a sua conduta ao tipo legal que descreve uma conduta omissiva. Em síntese, o agente
será responsabilizado por não cumprir o dever de agir contido implicitamente na norma
incriminadora.
Exemplo: crime de omissão de socorro.

Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em
grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de
natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

1.2. Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão (art. 13,


§ 2o, do CP)
Têm a finalidade de impedir a ocorrência de determinado evento, desde que,
evidentemente, seja possível agir.
Para que alguém responda por crime comissivo por omissão é preciso que tenha o dever
jurídico de impedir o resultado, previsto no art. 13, § 2o, do CP:
a) Ter por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: nesse caso, por expressa
imposição da lei, o agente estará obrigado a agir para evitar o resultado. Assim, se o agente se

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omitir, ou seja, deixar de agir, quando lhe era possível, responderá pelo resultado gerado. Ex.:
mãe que deixa de alimentar o filho, que, por conta da sua negligência, acaba morrendo por
inanição. Essa mãe deverá responder pelo resultado gerado, qual seja, homicídio culposo. Se,
de outro lado, a mãe desejou a morte do filho ou assumiu o risco de produzi-la, responderá por
homicídio doloso.
b) De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado: aqui a
obrigação de agir para evitar o resultado não decorre de lei, mas do fato de o agente ter assumido
a responsabilidade de impedi-lo. Ex.: babá que, por negligência, deixa de cumprir corretamente
sua obrigação de cuidar da criança, que acaba caindo na piscina e, por isso, morre afogada.
Nesse caso, responderá pelo resultado gerado, qual seja, homicídio culposo. Se, de outro lado,
desejou a morte da criança ou assumiu o risco de produzi-la, responderá por homicídio doloso.
c) Com o comportamento anterior, criar o risco da ocorrência do resultado: nesta
hipótese, o sujeito, com o comportamento anterior, cria situação de perigo para bens jurídicos
alheios penalmente tutelados, de sorte que, tendo criado o risco, fica obrigado a evitar que ele
se degenere ou desenvolva para o dano ou lesão. Ex.: aluno veterano, por ocasião de um trote
acadêmico, sabendo que a vítima não sabe nadar, joga o incauto calouro na piscina. Nesse caso,
contrai o dever jurídico de agir para evitar o resultado, sob pena de responder por homicídio.

Resolva a questão a seguir:


1) FGV - 2019 - OAB – 28º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
David, em dia de sol, levou sua filha, Vivi, de 03 anos, para a piscina do clube. Enquanto a filha brincava
na piscina infantil, David precisou ir ao banheiro, solicitando, então, que sua amiga Carla, que estava no
local, ficasse atenta para que nada de mal ocorresse com Vivi. Carla se comprometeu a cuidar da filha
de David. Naquele momento, Vitor assumiu o posto de salva-vidas da piscina. Carla, que sempre fora
apaixonada por Vitor, começou a conversar com ele e ambos ficam de costas para a piscina, não
atentando para as crianças que lá estavam. Vivi começa a brincar com o filtro da piscina e acaba sofrendo
uma sucção que a deixa embaixo da água por tempo suficiente para causar seu afogamento. David vê
quando o ato acontece através de pequena janela no banheiro do local, mas o fecho da porta fica
emperrado e ele não consegue sair. Vitor e Carla não veem o ato de afogamento da criança porque
estavam de costas para a piscina conversando. Diante do resultado morte, David, Carla e Vitor ficam
preocupados com sua responsabilização penal e procuram um advogado, esclarecendo que nenhum
deles adotou comportamento positivo para gerar o resultado.
Considerando as informações narradas, o advogado deverá esclarecer que:

A) Carla e Vitor, apenas, poderão responder por homicídio culposo, já que podiam atuar e possuíam
obrigação de agir na situação.
B) David, apenas, poderá responder por homicídio culposo, já que era o único com dever legal de agir
por ser pai da criança.
C) David, Carla, Vitor poderão responder por homicídio culposo, já que os três tinham o dever de agir.
D) Vitor, apenas, poderá responder pelo crime de omissão de socorro.

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2. Desistência voluntária e arrependimento eficaz

Art. 15, do Código Penal


O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o
resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

*Para todos verem: esquema.

Início da execução do delito

Não consumação por vontade


própria

2.1. Desistência voluntária


• O sujeito inicia a execução do delito, mas interrompe os atos executórios;
• Não esgota a sua potencialidade lesiva;
• Tomemos como exemplo a conduta do agente que, com a intenção homicida,
desfere um disparo de arma de fogo contra a vítima, acertando-a em região não
letal. Podendo prosseguir, já que tinha mais cinco balas no revólver, o agente
resolve, por vontade própria, não efetuar mais disparos, deixando a vítima
sobreviver.

2.2. Arrependimento eficaz


• Antes da consumação possui uma postura ativa para impedir o resultado;
• Esgota a sua potencialidade lesiva;
• Exemplo: agente que, com a intenção homicida, após efetuar disparos de arma de
fogo contra a vítima, utilizando todas as balas do revólver, arrepende-se e,
adotando postura ativa, leva a vítima até o hospital, que, submetida a intervenção
cirúrgica exitosa, acaba sobrevivendo.

2.3. Efeitos
• Nos exemplos acima, o agente responderá pelo crime de lesão corporal (leve,
grave ou gravíssima, conforme o caso);
• Jamais o sujeito responderá por tentativa;

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• Responde pelos atos até então praticados;


• Se não for eficaz o arrependimento, ou seja, se o resultado se produzir, o sujeito
responderá pelo delito na modalidade consumada.

3. Arrependimento posterior

Art. 16, do Código Penal


Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou
restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

• Incide depois da consumação do delito;


• É causa de diminuição da pena de 1/3 a 2/3.

*Para todos verem: esquema.

Crimes praticados sem violência ou grave ameaça.

Restituição da coisa ou reparação do dano que provocou.

Até o recebimento da denúncia ou queixa-crime.

Assim, se o agente subtraiu uma TV do seu local de trabalho e, ao chegar em casa com
a coisa subtraída, é convencido pela esposa a devolvê-la, o que efetivamente vem a fazer no dia
seguinte, mesmo quando o fato já havia sido registrado na delegacia, haverá arrependimento
posterior, com reflexo na dosimetria da pena.
Se o crime for praticado com violência ou grave ameaça, ou, se praticado sem violência
ou grave ameaça, mas a reparação do dano ou restituição da coisa aconteceu depois do
recebimento da denúncia, incidirá a atenuante do artigo 65, III, “b”, do CP.

Resolva a questão a seguir:

2) FGV - 2019 - OAB – 29º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Durante a madrugada, Lucas ingressou em uma residência e subtraiu um computador. Quando se
preparava para sair da residência, ainda dentro da casa, foi surpreendido pela chegada do proprietário.
Assustado, ele o empurrou e conseguiu fugir com a coisa subtraída. Na manhã seguinte, arrependeu-se
e resolveu devolver a coisa subtraída ao legítimo dono, o que efetivamente veio a ocorrer. O proprietário,

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revoltado com a conduta anterior de Lucas, compareceu em sede policial e narrou o ocorrido. Intimado
pelo Delegado para comparecer em sede policial, Lucas, preocupado com uma possível
responsabilização penal, procura o advogado da família e solicita esclarecimentos sobre a sua situação
jurídica, reiterando que já no dia seguinte devolvera o bem subtraído. Na ocasião da assistência jurídica,
o(a) advogado(a) deverá informar a Lucas que poderá ser reconhecido(a)

A) a desistência voluntária, havendo exclusão da tipicidade de sua conduta.


B) o arrependimento eficaz, respondendo o agente apenas pelos atos até então praticados.
C) o arrependimento posterior, não sendo afastada a tipicidade da conduta, mas gerando aplicação de
causa de diminuição de pena.
D) a atenuante da reparação do dano, apenas, não sendo, porém, afastada a tipicidade da conduta.

4. Crime impossível

Art. 17, do Código Penal.


Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

*Para todos verem: esquema.

Instrumento

Ineficácia absoluta do
meio

Modo de execução
Crime impossível

Coisa ou pessoa sobre a


Impropriedade absoluta
qual recai a conduta do
do objeto
sujeito

O crime impossível por ineficácia absoluta do meio guarda relação com o meio de
execução ou instrumento utilizado pelo agente, que, por sua natureza, será incapaz de produzir
qualquer resultado, ou seja, jamais alcançará a consumação do delito. É o caso do agente que,
pretendendo matar a vítima, usa como meio executório arma completamente defeituosa, que
jamais efetuaria qualquer disparo.
O crime impossível pela impropriedade absoluta do objeto guarda relação com o
objeto material, compreendendo a pessoa ou coisa sobre o qual recai a conduta do agente.
Tomemos como exemplo a conduta do agente que, pretendendo matar a vítima, desfere vários
disparos de arma de fogo contra o seu corpo, verificando-se, após, que, ao receber os disparos,
já se encontrava morta, em decorrência de ter sofrido, momentos antes, fulminante ataque

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cardíaco. Evidente, neste caso, a impropriedade absoluta do objeto, diante da impossibilidade


de ceifar a vida de pessoa que já estava morta.
Neste caso, o fato é atípico.
Se a ineficácia ou impropriedade for relativa, o sujeito vai responder pela tentativa.

Resolva a questão a seguir:

3) FGV - 2019 - OAB – 30° Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Mário trabalhava como jardineiro na casa de uma família rica, sendo tratado por todos como um
funcionário exemplar, com livre acesso a toda a residência, em razão da confiança estabelecida. Certo
dia, enfrentando dificuldades financeiras, Mário resolveu utilizar o cartão bancário de seu patrão, Joaquim,
e, tendo conhecimento da respectiva senha, promoveu o saque da quantia de R$ 1.000,00 (mil reais).
Joaquim, ao ser comunicado pelo sistema eletrônico do banco sobre o saque feito em sua conta, efetuou
o bloqueio do cartão e encerrou sua conta. Sem saber que o cartão se encontrava bloqueado e a conta
encerrada, Mário tentou novo saque no dia seguinte, não obtendo êxito. De posse das filmagens das
câmeras de segurança do banco, Mário foi identificado como o autor dos fatos, tendo admitido a prática
delitiva. Preocupado com as consequências jurídicas de seus atos, Mário procurou você, como
advogado(a), para esclarecimentos em relação à tipificação de sua conduta. Considerando as
informações expostas, sob o ponto de vista técnico, você, como advogado(a) de Mário, deverá esclarecer
que sua conduta configura

A) os crimes de furto simples consumado e de furto simples tentado, na forma continuada.


B) os crimes de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado e de furto qualificado pelo abuso
de confiança tentado, na forma continuada.
C) um crime de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado, apenas.
D) os crimes de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado e de furto qualificado pelo abuso
de confiança tentado, em concurso material.

5. Erro de tipo essencial x erro de proibição


5.1. Erro de tipo essencial – art. 20, “caput”, do CP

Art. 20, do Código Penal


O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a
punição por crime culposo, se previsto em lei.

O erro de tipo essencial é aquele que repercute na própria tipificação da conduta do


agente, pois, se não tivesse a falsa percepção da realidade, o agente não teria praticado o fato
típico, ou, pelo menos, não nas circunstâncias que envolveram o contexto fático.
O erro de tipo essencial pode ser:

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a) Invencível, inevitável, escusável: é aquele erro em que qualquer pessoa, nas


mesmas circunstâncias, incorreria. É o erro inevitável, desculpável ou escusável, que não
poderia ser evitado, mesmo por uma pessoa cautelosa e prudente.
Tomemos como exemplo a conduta de uma estudante que deixa seu celular carregando
na tomada da sala de aula e sai para comprar café na cantina do local. Quando retorna, retira
um celular da tomada que, na verdade, não era o seu aparelho, mas de sua colega, que havia
colocado um celular idêntico para carregar em substituição ao da estudante. Nesse caso, há
evidente erro de tipo, pois a estudante, por conta da falsa percepção da realidade (supôs ser seu
o celular, já que idêntico), errou em relação ao elemento “alheio” do tipo que define o crime de
furto. E, trata-se de erro de tipo invencível, porque qualquer pessoa, nas circunstâncias,
consideraria que era o seu telefone celular que estava carregando na tomada em que havia
deixado.
O erro de tipo invencível, inevitável ou escusável exclui o dolo e a culpa. Sendo a conduta
elemento do fato típico, a ausência de dolo ou culpa leva à atipicidade da conduta.
b) Vencível, evitável ou inescusável: é aquele erro em que uma pessoa mais cautelosa
e prudente, nas mesmas circunstâncias, não incorreria. É o erro evitável, indesculpável ou
inescusável, que uma pessoa cautelosa e prudente teria evitado. Assim, se o fato for punido sob
a forma culposa, o agente responderá por crime culposo. Quando o tipo, entretanto, não admitir
essa modalidade, a consequência será inexoravelmente a exclusão do crime, já que configurará
fato atípico.
No exemplo do caçador que praticava a caça em mata próxima à zona urbana, onde havia
circulação de pessoas, o agente responderá pelo crime de homicídio culposo, já que se trata de
erro de tipo vencível.

5.2. Erro de proibição

Art. 21, do Código Penal


O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável,
isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a
consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir
essa consciência.

Nesse caso, o erro recai sobre a ilicitude do fato.

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O sujeito sabe o que está fazendo, mas falta potencial consciência de que a conduta é
ilícita.
O erro de proibição escusável, inevitável ou invencível ocorre quando o erro sobre a
ilicitude do fato é impossível de ser evitado, valendo-se o ser humano da sua diligência ordinária.
Ex.: um telejornal de alcance nacional informa, de forma equivocada, a aprovação da lei que
autoriza a eutanásia de doentes em estágio terminal. Não havendo nenhuma razão para duvidar
da veracidade da notícia, o agente dirige-se até o hospital e desliga os aparelhos que mantinham
vivo um ente querido, que se encontrava sofrendo com a doença que o acometia e em estágio
terminal, causando-lhe a morte. Praticou fato típico e ilícito, mas lhe faltou potencial consciência
da ilicitude, incidindo o erro de proibição inevitável, cuja consequência será a exclusão da
culpabilidade.
O erro de proibição inescusável ou evitável ocorre quando o erro sobre a ilicitude do
fato que não se justifica, pois, se tivesse havido um mínimo de empenho em se informar, o agente
poderia ter tido conhecimento da realidade. O critério de aferição do erro de proibição
inescusável, vencível ou evitável encontra-se no parágrafo único do art. 21 do CP, segundo o
qual “considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do
fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência”. Tratando-se
de erro de proibição evitável, permanece hígida a culpabilidade do agente, sendo, no entanto,
causa de diminuição da pena de um sexto a um terço.

Resolva a questão a seguir:

4) FGV - 2017 - OAB – 22º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Tony, a pedido de um colega, está transportando uma caixa com cápsulas que acredita ser de remédios,
sem ter conhecimento que estas, na verdade, continham Cloridrato de Cocaína em seu interior. Por outro
lado, José transporta em seu veículo 50g de Cannabis Sativa L. (maconha), pois acreditava que poderia
ter pequena quantidade do material em sua posse para fins medicinais. Ambos foram abordados por
policiais e, diante da apreensão das drogas, denunciados pela prática do crime de tráfico de
entorpecentes. Considerando apenas as informações narradas, o advogado de Tony e José deverá alegar
em favor dos clientes, respectivamente, a ocorrência de

A) erro de tipo, nos dois casos.


B) erro de proibição, nos dois casos.
C) erro de tipo e erro de proibição.
D) erro de proibição e erro de tipo.

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6. Erro sobre a pessoa x erro na execução


6.1. Erro sobre a pessoa

Art. 20, § 3º, do Código Penal


O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se
consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra
quem o agente queria praticar o crime.

*Para todos verem: esquema.

Pretende atingir
Erro na Atinge pessoa
determinada
identificação diversa
pessoa

• Consideram-se as condições ou qualidades da vítima pretendida. Ignora-se as


condições da vítima efetivamente atingida;
• Consideremos, por exemplo, a hipótese do filho desalmado que, pretendendo matar
seu pai, realiza disparos de arma de fogo contra o homem que estava na varanda
da residência do genitor, causando a morte deste. O filho, então, deixa o local
satisfeito, por acreditar ter concluído seu intento delitivo, mas vem a descobrir que
matara um amigo de seu pai, que contava com 65 anos de idade, que, de costas,
era com ele parecido;
• Nesse caso, nos termos do art. 20, § 3o, do CP, consideram-se as condições e
qualidades da vítima pretendida. Logo, o filho desalmado responderá pelo crime de
homicídio, com a incidência da agravante de ter praticado crime contra ascendente,
prevista no art. 61, II, e, 1a parte, do CP.

6.2. Erro na execução

Art. 73, do Código Penal


Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir
a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse
praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código.
No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a
regra do art. 70 deste Código.

Veja o esquema na página a seguir...

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*Para todos verem: esquema.

Pretende atingir Erro nos meios


Atinge pessoa
determinada de execução
diversa
pessoa ou acidente

A aberratio ictus pode ocorrer quando, por acidente, o agente, em vez de atingir a pessoa
pretendida, atinge pessoa diversa. Suponhamos, nesse caso, que o agente pretende matar
Wilson, deixando na sua mesa de trabalho uma xícara de café contendo veneno. Todavia, quem
toma o café é Pedro, que acaba falecendo.
Pode ocorrer também quando, por erro nos meios de execução, o agente, em vez de
atingir a pessoa pretendida, atinge pessoa diversa. Ex.: agente pretendendo matar Wilson,
visualiza a vítima, tendo-a como certa, faz a mira e efetua o disparo, mas, no entanto, erra o alvo
pretendido, atingindo pessoa diversa, que se encontrava próxima ao local.
A consequência jurídica da conduta do agente encontra-se retratada no art. 73, 1a parte,
do CP, que faz expressa remissão ao art. 20, § 3o, do CP. Ou seja, na hipótese de erro na
execução, deve-se observar o disposto no art. 20, § 3o, segundo o qual, embora tenha atingido
pessoa diversa, o agente deve receber tratamento penal considerando-se as condições ou
qualidades da pessoa pretendida (vítima virtual), desprezando-se as condições pessoais da
vítima efetivamente atingida.
Na aberratio ictus com resultado duplo, o agente, além de atingir a vítima pretendida,
atinge também pessoa diversa. Nesse caso, com uma única ação, o agente produz mais de um
resultado: atinge a pessoa pretendida e também pessoa diversa. Por essa razão, o art. 73, 2 a
parte, do CP faz expressa remissão ao art. 70 do CP, devendo ser aplicada a regra do concurso
formal de crimes.

Resolva a questão a seguir:

5) FGV - 2019 - OAB – 30º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Regina dá à luz seu primeiro filho, Davi. Logo após realizado o parto, ela, sob influência do estado
puerperal, comparece ao berçário da maternidade, no intuito de matar Davi. No entanto, pensando tratar-
se de seu filho, ela, com uma corda, asfixia Bruno, filho recém-nascido do casal Marta e Rogério,
causando-lhe a morte. Descobertos os fatos, Regina é denunciada pelo crime de homicídio qualificado
pela asfixia com causa de aumento de pena pela idade da vítima.
Diante dos fatos acima narrados, o(a) advogado(a) de Regina, em alegações finais da primeira fase do
procedimento do Tribunal do Júri, deverá requerer

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A) o afastamento da qualificadora, devendo Regina responder pelo crime de homicídio simples com causa
de aumento, diante do erro de tipo.
B) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, não podendo ser
reconhecida a agravante pelo fato de quem se pretendia atingir ser descendente da agente.
C) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro na execução (aberratio ictus), podendo
ser reconhecida a agravante de o crime ser contra descendente, já que são consideradas as
características de quem se pretendia atingir.
D) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, podendo ser reconhecida
a agravante de o crime ser contra descendente, já que são consideradas as características de quem se
pretendia atingir.

7. Coação moral irresistível

Art. 22, do Código Penal


Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da
ordem.

Na coação moral, o agente coator, para alcançar o resultado desejado, emprega grave
ameaça contra o coagido, que, por medo de suportar um mal grave contra si ou contra outrem,
acaba realizando a conduta criminosa exigida. A coação empregada pelo agente vicia a vontade
do coagido, retirando-lhe a exigência de se comportar de modo diferente. Nesse caso, em
relação ao coagido, incide a causa de exclusão da culpabilidade decorrente da inexigibilidade de
conduta diversa.
Ex.: se o sujeito é coagido a assinar um documento falso, responde pelo crime de falsidade
o autor da coação. O coato não responde pelo crime, uma vez que sobre o fato incide a causa
de exclusão da culpabilidade. Assim, quando o sujeito comete o fato típico e antijurídico sob
coação moral irresistível, não há culpabilidade em face da inexigibilidade de outra conduta (não
é reprovável o comportamento). A culpabilidade desloca-se da figura do coato para a do coator.
Convém sinalar que, se o sujeito pratica o fato sob coação física irresistível, não praticará
crime por ausência de conduta. Trata-se de causa excludente da tipicidade.

8. Estado de necessidade – art. 24, do CP

Art. 24 do Código Penal


Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual,
que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o
perigo.

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§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser
reduzida de um a dois terços.

*Para todos verem: esquema.

Se salvar de - Ação humana;


- Evento da natureza;
Fato típico situação de - Comportamento
perigo animal.

Comportamento animal: é considerado estado de necessidade quando o animal ataca


por instinto. Quando o animal for instigado por alguém para atacar, será considerada legítima
defesa.
Quem, por sua vontade, provocou a situação de perigo, não poderá alegar estado de
necessidade.
A conduta tem que ser inevitável para cessar o perigo. Se existir outro modo menos
lesivo de evitar o perigo, não poderá alegar estado de necessidade.
Critério de proporcionalidade: o bem protegido deve ser de igual ou maior valor que o
bem sacrificado.
Aquele que tem o dever legal de enfrentar o perigo, não poderá alegar estado de
necessidade.

9. Legítima defesa – art. 25, do CP

Art. 25, do Código Penal


Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários,
repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Parágrafo único - Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se
também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco
de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.

*Para todos verem: esquema.

Repelir uma injusta


Fato típico Atual ou iminente
agressão

Critério de proporcionalidade:
• Meio necessário e suficiente para fazer cessar a agressão;

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• Uso moderado desse meio.

Novidade do Pacote Anticrime: legítima defesa do Agente de Segurança Pública.


• Observados os requisitos do caput;
• Crime com vítima refém.

10. Estrito cumprimento do dever legal x exercício regular do direito

*Para todos verem: tabela comparativa.

Estrito cumprimento de um dever


Exercício regular de um direito
legal

• Agente público; • Cidadão comum;


• Fato típico; • Fato típico;
• Cumprimento de um dever imposto • Exercício regular de um direito.
pela lei.

Resolva a questão a seguir:

6) FGV - 2022 - OAB – 36º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Tainá, legalmente autorizada a pilotar barcos, foi realizar um passeio de veleiro com sua amiga Raquel.
Devido a uma mudança climática repentina, o veleiro virou e começou a afundar. Tainá e Raquel
nadaram, desesperadamente, em direção a um tronco de árvore que flutuava no mar.
Apesar de grande, o tronco não era grande o suficiente para suportar as duas amigas ao mesmo tempo.
Percebendo isso, Raquel subiu no tronco e deixou Tainá afundar, como único meio de salvar a
própria vida. A perícia concluiu que a morte de Tainá se deu por afogamento.
A partir do caso relatado, assinale a opção que indica a natureza da conduta praticada por Raquel.

A) Raquel deverá responder pelo crime de omissão de socorro.


B) Raquel agiu em legítima defesa, causa excludente de ilicitude.
C) Raquel deverá responder pelo crime de homicídio consumado.
D) Raquel agiu em estado de necessidade, causa excludente de ilicitude.

11. Inimputabilidade pela doença mental ou desenvolvimento mental


incompleto ou retardado

Art. 26, do Código Penal


É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

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• É adotado o critério biopsicológico (desenvolvimento mental incompleto ou


retardado + inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito da sua conduta);
• Sentença absolutória imprópria, com imposição de medida de segurança.

*Para todos verem: esquema.

Internação
Medida de
segurança
Tratamento
ambulatorial

Art. 97, do Código Penal


Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato
previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento
ambulatorial.

O tempo de duração da medida de segurança será a pena máxima cominada ao delito,


segundo se extrai da Súmula 527 do STJ.

Resolva a questão a seguir:

7) FGV - 2019 - OAB – 30º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Durante ação penal em que Guilherme figura como denunciado pela prática do crime de abandono de
incapaz (Pena: detenção, de 6 meses a 3 anos), foi instaurado incidente de insanidade mental do
acusado, constatando o laudo que Guilherme era, na data dos fatos (e permanecia até aquele momento),
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, em razão de doença mental. Não foi indicado,
porém, qual seria o tratamento adequado para Guilherme. Durante a instrução, os fatos imputados na
denúncia são confirmados, assim como a autoria e a materialidade delitiva. Considerando apenas as
informações expostas, com base nas previsões do Código Penal, no momento das alegações finais, a
defesa técnica de Guilherme, sob o ponto de vista técnico, deverá requerer

A) a absolvição imprópria, com aplicação de medida de segurança de tratamento ambulatorial, podendo


a sentença ser considerada para fins de reincidência no futuro.
B) a absolvição própria, sem aplicação de qualquer sanção, considerando a ausência de culpabilidade.
C) a absolvição imprópria, com aplicação de medida de segurança de tratamento ambulatorial, não sendo
a sentença considerada posteriormente para fins de reincidência.
D) a absolvição imprópria, com aplicação de medida de segurança de internação pelo prazo máximo de
02 anos, não sendo a sentença considerada posteriormente para fins de reincidência.

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12. Embriaguez completa e acidental

Art. 28, § 1º, do Código Penal


É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou
força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

• Completa: em decorrência da embriaguez, o sujeito será inteiramente incapaz de


compreender o caráter ilícito da conduta;
• Acidental: caso fortuito ou força maior.

No caso fortuito, o sujeito desconhece o efeito inebriante da substância que ingere, ou


quando, desconhecendo uma particular condição fisiológica, ingere substância que possui álcool
(ou substância análoga), ficando embriagado. É o caso do agente que está tomando determinado
medicamento e ingere bebida alcóolica. A conjugação do medicamento e da bebida alcoólica
potencializa o metabolismo do agente, a ponto de deixá-lo embriagado. É também o caso do
agente que ingere determinada bebida sem saber que nela foi colocada uma substância capaz
de lhe retirar os sentidos, deixando-o embriagado, como, por exemplo, o chamado “boa noite
cinderela”.
Na força maior, o agente é obrigado a ingerir bebida alcoólica. Não desejando se
embriagar nem de se exceder culposamente, o agente é forçado a ingerir bebida alcoólica. É o
caso, por exemplo, do trote acadêmico de péssimo gosto em que os veteranos obrigam, forçam
os calouros a ingerirem bebida alcoólica.

Resolva a questão a seguir:

8) FGV - 2021 - OAB – 33º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Após o expediente, Márcio saiu com seus colegas de trabalho para comemorar o sucesso das vendas
naquele mês e sua escolha como melhor funcionário do período. Ao chegarem ao bar, Márcio entregou
a chave de seu carro aos colegas, alertando-os que iria beber até se embriagar e cair. Após cumprir a
promessa feita aos colegas, Márcio, completamente alterado, se dirigiu até o caixa do bar para pagar sua
conta. Devido a divergências quanto à quantidade de bebida consumida, Márcio iniciou uma forte
discussão com o atendente do estabelecimento e arremessou a garrafa de cerveja que segurava em sua
direção, acertando a cabeça do funcionário e causando-lhe ferimentos de natureza grave. Preocupado
com as consequências jurídicas de seu ato, Márcio o(a) procura, na condição de advogado(a), para
assistência técnica.
Considerando apenas as informações expostas, sob o ponto de vista técnico, você, como advogado(a),
deverá esclarecer que a conduta praticada por Márcio configura

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A) crime de lesão corporal grave, diante da embriaguez culposa, podendo ser reconhecida causa de
diminuição de pena, já que a embriaguez era completa.
B) conduta típica e ilícita, mas não culpável, diante da embriaguez culposa, afastando a culpabilidade do
agente.
C) crime de lesão corporal grave, com reconhecimento de agravante, diante da embriaguez preordenada.
D) crime de lesão corporal grave, diante da embriaguez voluntária.

13. Concurso de pessoas

Art. 29 do Código Penal


Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na
medida de sua culpabilidade.

13.1. Requisitos do concurso de pessoas


a) Pluralidade de condutas: trata-se de requisito elementar do concurso de pessoas: a
concorrência de mais de uma pessoa na execução de uma infração penal.
Assim, para que haja concurso de pessoas, exige-se que cada um dos agentes tenha
realizado ao menos uma conduta relevante. Pode ser em coautoria, em que há duas condutas
principais; ou autoria e participação, em que há uma conduta principal e outra acessória,
praticadas, respectivamente, por autor e partícipe.
b) Relevância causal das condutas: para justificar a punição de duas ou mais pessoas
em concurso, afigura-se necessário que a conduta do agente tenha efetivamente contribuído,
ainda que minimamente, para a produção do resultado.
Em outras palavras, se a conduta não tem relevância causal, isto é, se não contribuiu em
nada para a produção do resultado, não pode ser considerada integrante do concurso de
pessoas.
Imaginemos que a empregada doméstica de uma residência, profundamente irritada por
ter sido ofendida pela patroa, observa que há uma movimentação suspeita no lado externo da
casa, concluindo que era alguém observando o local para praticar o delito de furto. Para facilitar
o sucesso da subtração, a empregada deixa aberta a porta da frente da residência. Durante a
empreitada criminosa, sem saber que a porta da frente se encontrava destrancada, o agente de
atitude suspeita arrombou a porta dos fundos, ingressou na residência, e subtraiu diversos
objetos. Diante desse quadro fático, a empregada doméstica não deverá responder por qualquer
infração penal, uma vez que a sua contribuição foi absolutamente irrelevante para o sucesso da
subtração.

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c) Do liame subjetivo e normativo (vínculo subjetivo e normativo entre os


participantes): exige-se homogeneidade de elemento subjetivo-normativo. Significa que autor e
partícipe devem agir com o mesmo elemento subjetivo (dolo + dolo) ou normativo (culpa + culpa).
Os agentes devem atuar conscientes de que participam de crime comum, ainda que não
tenha havido acordo prévio de vontades. A ausência desse elemento psicológico inviabiliza o
concurso de pessoas, ensejando condutas isoladas e autônomas.
Ex.: uma empregada doméstica, percebendo a presença de um ladrão, para vingar-se do
patrão, deliberadamente deixa a porta aberta, facilitando a prática do furto. Há participação, e,
não obstante, o ladrão desconhecia a colaboração da empregada. Por consequência, a
empregada também responderá pelo crime de furto.
d) Identidade de infração para todos os participantes: nos termos do art. 29 do CP,
todos que concorrem para o crime respondem pelo mesmo delito.
Ex.: alguém planeja a realização da conduta típica, ao executá-la, enquanto um desvia a
atenção da vítima, outro lhe subtrai os pertences e ainda um terceiro encarrega-se de evadir-se
do local com o produto do furto. É uma exemplar divisão de trabalho constituída de várias
atividades, convergentes, contudo, a um mesmo objetivo típico: subtração de coisa alheia móvel.
Respondem todos por um único tipo penal, qual seja, furto.

13.2. Participação de menor importância

Art. 29 do Código Penal


§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto
a um terço.

A participação de menor importância caracteriza-se, pois, pela mínima contribuição para


a produção do resultado. A conduta do agente efetivamente influencia na causa do resultado,
mas com reduzida relevância.

13.3. Cooperação dolosamente distinta

Art. 29 do Código Penal


§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada
a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave.

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O agente que desejava praticar um delito, sem a condição de prever a concretização de


crime mais grave, deve responder pelo que pretendeu fazer, não se podendo a ele imputar outra
conduta indesejada, sob pena de se estar tratando de responsabilidade objetiva.
Ex.: “A” determina a “B” que espanque “C”. “B” mata “C”. Segundo o art. 29, § 2o, “A”
responde por crime de lesão corporal, cuja pena deve ser aumentada até metade se a morte da
vítima lhe era previsível.

13.4. Circunstâncias incomunicáveis

Art. 30 do Código Penal


Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando
elementares do crime.

O art. 30 do CP determina que as circunstâncias e as condições de caráter pessoal não


se comunicam, salvo quando elementares do crime.
Via de regra, as circunstâncias e condições pessoais relacionadas a um dos agentes não
se comunica aos outros que contribuíram para a prática delituosa.
Todavia, há determinadas circunstâncias ou condições pessoais que compõem, integram
o tipo penal, figurando, no caso, como verdadeira elementar no tipo penal. Nesse caso, quando
também constituem o tipo penal, ou seja, figuram como elementares do tipo penal, as
circunstâncias ou condições pessoais relacionadas a um dos sujeitos se comunicam aos demais
coautores ou partícipes.
Ex.: “A”, funcionário público, comete um crime de peculato (art. 312), com a participação
de “B”, não funcionário público. A condição pessoal (funcionário público) é elementar do crime
de peculato, comunicando-se, portanto, ao agente que não é funcionário público. Logo, os dois
respondem por crime de peculato.
De outro lado, as circunstâncias objetivas alcançam o partícipe ou coautor se, sem haver
praticado o fato que as constitui, integraram o dolo ou culpa.
Ex.: “A” instiga “B” a praticar homicídio contra “C”. “B”, para a execução do crime, emprega
asfixia. O partícipe não responde por homicídio qualificado (art. 121, § 2o, III, 4a figura), a não ser
que o meio de execução empregado pelo autor principal tenha ingressado na esfera de seu
conhecimento.

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Resolva a questão a seguir:

9) FGV - 2022 - OAB – 36º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase


Túlio e Alfredo combinaram de praticar um roubo contra uma joalheria. Os dois ingressam na loja, e
Alfredo, com o emprego de arma de fogo, exige que Fernanda, a vendedora, abra a vitrine e entregue os
objetos expostos.
Enquanto Alfredo vasculha as gavetas da frente da loja, Túlio ingressa nos fundos do estabelecimento
com Fernanda, em busca de joias mais valiosas, momento em que decide levá-la ao banheiro e,
então, mantém com Fernanda conjunção carnal. Após, Túlio e Alfredo fogem com as mercadorias.
Em relação às condutas praticadas por Túlio e Alfredo, assinale a afirmativa correta.

A) Túlio e Alfredo responderão por roubo duplamente circunstanciado, pelo concurso de pessoas e
emprego de arma de fogo, e pelo delito de estupro, em concurso material.
B) Túlio responderá por roubo circunstanciado pelo concurso de pessoas e estupro; Alfredo responderá
por roubo duplamente circunstanciado, pelo concurso de pessoas e emprego de arma de fogo.
C) Alfredo e Túlio responderão por roubo circunstanciado pelo concurso de pessoas e emprego de arma
de fogo; Túlio também responderá por estupro, em concurso material.
D) Túlio e Alfredo responderão por roubo circunstanciado pelo concurso de pessoas e emprego de arma
de fogo; Túlio responderá por estupro, ao passo que Alfredo responderá por participação de menor
importância no delito de estupro.

14. Regime inicial de cumprimento de pena


O regime penitenciário é o meio pelo qual é executado ou efetivado o cumprimento da
pena privativa de liberdade.
O art. 33, § 1º, do CP prevê três regimes:
a) Fechado: a pena privativa de liberdade é executada em estabelecimento de segurança
máxima ou média;
b) Semiaberto: a pena privativa de liberdade é executada em colônia agrícola, industrial
ou estabelecimento similar;
c) Aberto: a pena privativa de liberdade é executada em casa de albergado ou em
estabelecimento adequado.
Após estabelecer a quantidade da pena imposta da sentença, cumpre ao juiz fixar o
regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade, levando em conta: a) a quantidade
da pena imposta; b) a reincidência; c) as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP.
Nos termos do art. 33, caput, do CP, nos crimes apenados com reclusão, o juiz poderá
fixar o regime inicial fechado, semiaberto ou aberto. Aos crimes apenados com detenção, o juiz
poderá fixar o regime inicial semiaberto ou aberto.

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Logo, nos crimes apenados com detenção, não é possível ao juiz fixar o regime inicial
fechado, podendo, no entanto, haver regressão para o regime fechado, no caso, por exemplo,
de falta grave.
Súm. nº 269 do STJ: “É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos
reincidentes condenados à pena igual ou inferior a 4 anos se favoráveis as circunstâncias
judiciais”.
Além disso, a imposição de regime inicial fechado depende de fundamentação adequada,
não se revestindo a gravidade em abstrato do delito motivação idônea para a fixação do regime
de cumprimento de pena mais severo do que a pena aplicada exigir. É o que se extrai das Súm.
nº 718 e 719 do STF, e Súm. nº 440 do STJ.

15. Penas restritivas de direito


15.1. Conceito
São penas alternativas às privativas de liberdade, expressamente previstas em lei, com a
finalidade de evitar o encarceramento de determinados criminosos, autores de infrações penais
consideradas mais leves, provocando-lhes a recuperação por meio de restrições a certos
direitos.
Nos termos do art. 43 do CP, as penas restritivas de direitos são: a) prestação pecuniária;
b) perda de bens e valores; c) prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; d)
interdição temporária de direitos; e) limitação de fim de semana.
As penas restritivas de direitos são substitutivas, uma vez que o juiz, depois de fixar a
pena privativa de liberdade, verificando a presença dos requisitos, efetua a substituição por uma
ou mais penas restritivas de direitos, conforme o caso. Isso porque não há, no preceito
secundário dos tipos penais incriminadores, previsão direta de pena restritiva de direitos, mas
tão somente pena privativa de liberdade.

15.2. Requisitos objetivos


a) Quantidade da pena aplicada: o legislador estabeleceu como parâmetro para a
concessão da pena restritiva de direitos a pena aplicada na sentença, independentemente da
pena abstratamente cominada no preceito secundário do tipo penal.
Nos crimes dolosos, praticados sem violência ou grave ameaça, apenados com reclusão
ou detenção, o limite estabelecido pelo legislador é de 4 (quatro) anos.

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Tratando-se de concurso de crimes, deve-se levar em conta o total da pena imposta, por
conta da aplicação das regras do cúmulo material ou exasperação da pena. Dessa forma, se
aplicadas as regras do concurso material, concurso formal e crime continuado, e o total da pena
privativa de liberdade efetivamente imposta não exceder a 4 (quatro) anos, será possível a
substituição por pena alternativa.
No caso de condenação por crime culposo, a substituição será possível,
independentemente da quantidade da pena imposta, não existindo tal requisito, ainda que resulte
violência contra a pessoa, por exemplo, no homicídio culposo do Código Penal (art. 121, § 3º,
CP) e no homicídio culposo na condução de veículo automotor (art. 302 do CTB).
b) Natureza do crime cometido: em relação aos crimes dolosos, as penas restritivas de
direitos são aplicáveis aos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa.

15.3. Requisitos subjetivos


Os requisitos subjetivos levam em conta as características pessoais do sentenciado.
a) Réu não reincidente em crime doloso: nos termos do art. 44, II, do CP, para
concessão do benefício, é necessário que o sujeito não seja reincidente em crime doloso. O texto
não trata de qualquer reincidente. Refere-se ao não reincidente em crime “doloso”, de modo que
não há impedimento à aplicação da pena alternativa quando: a) os dois delitos são culposos; b)
o anterior é culposo e o posterior é doloso; c) o anterior é doloso e o posterior culposo.
Ainda que o réu seja reincidente em crime doloso, o Código Penal, no seu art. 44, § 3º,
prevê uma exceção. Se, em face de condenação anterior, a medida for socialmente
recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime,
será possível aplicar a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
b) A culpabilidade, os antecedentes, a conduta ou a personalidade ou ainda os
motivos e circunstâncias recomendarem a substituição: conforme o art. 44, III, do CP, “a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os
motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente”.
Convém notar que esses requisitos praticamente reproduzem as circunstâncias judiciais
previstas no art. 59, caput, do CP, com exceção de duas: comportamento da vítima e
consequências do crime, coincidentemente as únicas de natureza objetiva. Logo, verifica-se que
o art. 44, III, do CP somente levou em conta as circunstâncias subjetivas.

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15.4. Penas restritivas de direitos e violência doméstica ou familiar contra a


mulher
Nos termos do art. 17 da Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, “é
vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de
cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique
o pagamento isolado de multa”.
Conforme a Súm. nº 588 do STJ, a prática de crime ou contravenção penal contra a mulher
com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição de pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos.

16. Concurso de crimes


16.1. Concurso material

Art. 69 do Código Penal


Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que
haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção,
executa-se primeiro aquela.

Ocorre o concurso material, também chamado de real, quando o agente, mediante mais
de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não (art. 69, caput, do CP).
Há, pois, pluralidade de condutas e pluralidade de resultados.
Na hipótese de crimes conexos apurados na mesma ação penal, a soma das penas, pelo
concurso material, será realizada na própria sentença, após a adoção do critério trifásico para
cada um dos delitos. Ex.: o agente pratica o crime de estupro (art. 213 do CP) e, para assegurar
a sua impunidade, mata, na sequência, a vítima (art. 121, § 2º, V, do CP). Imaginemos que o juiz
fixe, em relação ao delito de estupro, a pena de 8 (oito) anos; e em relação ao crime de homicídio
qualificado, a pena de 20 (vinte) anos. Ao final, verificando-se tratar de concurso material de
crimes, o Magistrado aplicará o sistema do cúmulo material, somando as penas, alcançando a
pena definitiva de 28 anos.

16.2. Concurso formal

Art. 70 do Código Penal


Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente

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uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas
aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes
concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69
deste Código.

Ocorre o concurso formal (ou ideal) quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes (art. 70, caput, do CP). Há unidade de conduta e pluralidade de
crimes.
O concurso formal perfeito, ou próprio, está previsto na primeira parte do art. 70 do
CP. Ocorre quando o agente pratica duas ou mais infrações penais por meio de uma única
conduta. Resulta de um único desígnio. O agente, de um só impulso volitivo, dá causa a dois ou
mais resultados, sem desígnios autônomos em relação a cada um dos resultados.
Desígnio autônomo caracteriza-se pelo fato de o agente pretender, mediante uma única
conduta, atingir dois ou mais resultados. Ou seja, o agente, mediante uma ação ou omissão, age
com consciência e vontade em relação a cada um deles, considerados isoladamente.
Assim, se, por exemplo, o agente, na condução de veículo automotor, atropela e causa a
morte de uma pessoa e lesão corporal em outra, pratica crime de homicídio culposo na condução
de veículo automotor (art. 302 do CTB), em concurso formal perfeito, já que não tinha desígnios
autônomos em relação a cada um dos resultados.
Em relação ao concurso formal perfeito, ou próprio, o Código Penal adotou o sistema
de exasperação da pena. Aplica-se a pena do crime mais grave ou, se iguais, somente uma
delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade.
No concurso formal imperfeito, ou impróprio, o agente, mediante uma ação ou omissão,
pretende, de forma consciente e voluntária, o resultado em relação a cada um dos crimes.
Ex.: o agente provoca fogo em uma residência com a intenção de matar todos os
moradores. O agente tem desígnios autônomos (intenção de matar) em relação a cada um dos
moradores da residência.
A expressão “desígnios autônomos” abrange tanto o dolo direto quanto o dolo eventual.
Assim, haverá concurso formal imperfeito, por exemplo, entre o delito de homicídio doloso com
dolo direto e outro com dolo eventual.
No concurso formal imperfeito, ou impróprio, por conta do maior grau de reprovabilidade
da conduta do agente, visando a não beneficiar agente que agiu com desígnios autônomos em
relação a cada resultado, as penas devem ser somadas, adotando-se o critério do cúmulo
material, nos termos do art. 70, caput, 2ª parte, do CP.

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*Para todos verem: tabela comparativa.

Concurso formal perfeito Concurso formal imperfeito

• Sem desígnios autônomos; • Desígnios autônomos;


• Exasperação da pena; • Cúmulo material.
• Pena do crime mais grave e aumenta
de 1/6 até 1/2.

16.3. Crime continuado

Art. 71 do Código Penal


Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes
da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro,
aplicasse-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência
ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes,
a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias,
aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o
triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.

Ocorre o crime continuado quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, devendo os subsequentes, pelas condições de
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, ser havidos como continuação do
primeiro.
Para a incidência das regras do crime continuado é preciso verificar a presença de
requisitos dispostos no art. 71 do CP, consistentes: a) na pluralidade de condutas; b) na
pluralidade de crimes da mesma espécie; c) nas mesmas condições de tempo, lugar, maneira
de execução e outras semelhantes.

16.4. Concurso material benéfico

Art. 70 do Código Penal


Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente
uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas
aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes
concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art.
69 deste Código.

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Se da aplicação da regra da exasperação da pena, no concurso formal, a pena tornar-se


superior à que resultaria se somadas, deve-se adotar o critério do cúmulo material, porque, nesse
caso, será mais benéfico (art. 70, par. ún., do CP).
Ex.: suponha-se que o agente tenha praticado um homicídio simples (art. 121 do CP –
pena de 6 a 20 anos) e uma lesão corporal leve (art. 129, caput, do CP – pena de 3 meses a 1
ano), em concurso formal. Aplicado o critério da exasperação da pena, considerando-se a pena
do crime mais agrave, acrescido de 1/6, resultaria na pena de 7 (sete) anos.
Se aplicada a pena considerando-se o critério do cúmulo material, considerando-se a pena
aplicada para crime de homicídio simples (6 anos) e lesão corporal leve (3 meses), a pena
definitiva ficaria em 6 (seis) anos e 3 (três) meses. Essa seria a pena a ser aplicada, já que a
aplicação do critério do concurso material é mais benéfico.
Em face disso, a pena a ser aplicada não pode ser superior à que seria cominada se fosse
caso de concurso material, aplicando-se, nesse caso, o disposto no art. 70, par. ún., do CP.

Resolva a questão a seguir:

10) FGV - 2021 - OAB – 33º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Félix, com dolo de matar seus vizinhos Lucas e Mário, detona uma granada na varanda da casa desses,
que ali conversavam tranquilamente, obtendo o resultado desejado. Os fatos são descobertos pelo
Ministério Público, que denuncia Félix por dois crimes autônomos de homicídio, em concurso material.
Após regular procedimento, o Tribunal do Júri condenou o réu pelos dois crimes imputados e o
magistrado, ao aplicar a pena, reconheceu o concurso material. Diante da sentença publicada, Félix
indaga, reservadamente, se sua conduta efetivamente configuraria concurso material de dois crimes de
homicídio dolosos. Na ocasião, o(a) advogado(a) do réu, sob o ponto de vista técnico, deverá esclarecer
ao seu cliente que sua conduta configura dois crimes autônomos de homicídio,

A) em concurso material, sendo necessária a soma das penas aplicadas para cada um dos delitos.
B) devendo ser reconhecida a forma continuada e, consequentemente, aplicada a regra da exasperação
de uma das penas e não do cúmulo material.
C) devendo ser reconhecido o concurso formal próprio e, consequentemente, aplicada a regra da
exasperação de uma das penas e não do cúmulo material.
D) devendo ser reconhecido o concurso formal impróprio, o que também imporia a regra da soma das
penas aplicadas.

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Aula 10/11/2023 – Turno da manhã

1. Crimes contra a vida


1.1. Homicídio

Art. 121 do Código Penal


Matar alguém.
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Observações importantes:
a) Homicídio simples (art. 121, caput): o homicídio simples se dá por exclusão, ou seja,
quando não presente nenhuma circunstância qualificadora prevista no parágrafo 2º. Via de regra
não é considerado crime hediondo, somente se for praticado mediante atividade típica de grupo
de extermínio.
b) Homicídio privilegiado (art. 121, § 1º do CP): o artigo 121, § 1º, do Código Penal,
descreve o homicídio privilegiado como o fato de o sujeito cometer o delito impelido por motivo
de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima. Neste caso, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3.
c) Homicídio qualificado (art. 121, § 2º CP): é o homicídio praticado com circunstâncias
legais que integram o tipo penal incriminador, alterando para mais a faixa de fixação da pena.
Dizem respeito aos motivos determinantes do crime e aos meios e modos de execução,
reveladores de maior periculosidade ou extraordinário grau de perversidade do agente. Portanto,
da pena de reclusão de 06 a 20 anos, prevista para o homicídio simples, passa-se ao mínimo de
12 e ao máximo de 30 para a figura qualificada. Tentado ou consumado, o homicídio doloso
qualificado é crime hediondo, nos termos do artigo 1º, inciso I, da Lei nº 8.072/90.
d) Feminicídio: a partir da edição da Lei nº 13.104/2015, o crime de homicídio passou a
ser qualificado também se praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
Nos termos do artigo 121, parágrafo 2º-A, o legislador considera que há razões de
condição de sexo feminino quando o crime envolve:

I - violência doméstica e familiar;


II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

Para o STJ a qualificadora do feminicídio pode ser cumulada com o motivo torpe ou fútil

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sem que haja bis in idem.


e) Lei nº 14.344/2022: com o advento da lei Henry Borel (Lei nº 14.344 de 2022) o
homicídio praticado contra menor de 14 anos passou a ser qualificado, nos termos do artigo 121,
§ 2º, inciso IX do CP.
Ademais, o artigo 121, § 2ºB (incluído também pela Lei Henry Borel) elenca causas de
aumento de pena específicas, quais sejam:

I - 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com doença que
implique o aumento de sua vulnerabilidade;
II - 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro
título tiver autoridade sobre ela.

1.2. Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou automutilação

Art. 122, do CP. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou


prestar-lhe auxílio material para que o faça:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza
grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
§ 3º A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de
computadores, de rede social ou transmitida em tempo real.
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de
rede virtual.
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza
gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do
ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente
pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código.
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze)
anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que,
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de
homicídio, nos termos do art. 121 deste Código.

a) Conceito de suicídio: é a morte voluntária, que resulta, direta ou indiretamente, de um


ato positivo ou negativo, realizado pela própria vítima, a qual sabia dever produzir este resultado.
O Código Penal leva em conta o ato da vítima, que vem a destruir a própria vida.
Observação especial: se o ato de destruição é praticado pelo próprio agente haverá o
crime de homicídio. Da mesma forma se não houver voluntariedade (vítima induzida a erro ou
obrigada a se matar) haverá o crime de homicídio.

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b) Automutilação: a autolesão não é punida. O que constitui crime é a conduta de induzir,


instigar ou auxiliar a vítima a se automutilar, ou seja, de causar lesões em si própria.
c) Ação nuclear: trata-se de um tipo misto alternativo (crime de ação múltipla ou de
conteúdo variado).
Induzir significa dar a ideia a quem não possui, inspirar, incutir. Portanto, nessa primeira
conduta, o agente sugere à vítima que dê fim à sua vida ou se automutile. Instigar é fomentar
uma ideia já existente. Trata-se, pois, do agente que estimula a ideia que alguém anda
manifestando. Já o Auxílio é a forma mais concreta e ativa de agir, pois significa dar apoio
material ao ato suicida. Exemplo: o agente fornece a arma utilizada para a vítima dar fim à sua
vida ou se automutilar.
d) Figuras típicas qualificadas:

Art. 122, §1º, do CP. Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal
de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

e) Formas majoradas (art. 122, § 3º):


• Se o crime é praticado por motivo egoístico: motivo egoístico é o excessivo
apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo pela vida alheia, desde que
algum benefício concreto advenha ao agente. Logicamente, merece maior
punição. Exemplo: é o caso de o sujeito induzir a vítima a suicidar-se para ficar
com a herança;
• Se a vítima é menor: em segundo lugar, a pena é majorada quando a vítima é
menor. Qual a idade para efeito da majorante? Se a vítima é maior de 18 anos,
aplica-se o “caput” do artigo 122. Se a vítima é menor de 14 anos, há crime de
HOMICÍDIO. A majorante só é aplicável quando a vítima tem idade entre 14
e 18 anos;
• Tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência: a terceira
majorante prevê a hipótese de a vítima ter diminuída, por qualquer causa, a
capacidade de resistência, como enfermidade física ou mental, idade avançada.
Ex.: induzir ao suicídio vítima embriagada.

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Por fim, é de ressaltar que o suicida com RESISTÊNCIA NULA, pelos abalos ou situações
supramencionadas, incluindo-se a idade inferior a 14 anos, haverá o emprego das regras
especiais estabelecidas nos parágrafos 6º e 7º do CP.
f) Pacto de morte: é possível que duas ou mais pessoas promovam um pacto de morte,
deliberando morrer ao mesmo tempo.
Se cada uma das pessoas ingerir veneno, de per si, por exemplo, aquela que sobreviver
responderá por participação em suicídio, tendo por sujeito passivo a outra.
Se uma delas ministrar diretamente o veneno na outra, a que sobreviver responderá por
homicídio. Em síntese, os atos executórios contra a própria vida devem partir exclusivamente da
vítima.

1.3. Infanticídio

Art. 123 do Código Penal


Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após.
Pena - detenção, de dois a seis anos.

Princípio da especialidade:
*Para todos verem: esquema.

Sujeito passivo Próprio filho

Sujeito ativo Mãe

Influência do estado
Elemento subjetivo
puerperal (perícia)

Durante o parto ou
Elemento temporal
logo após

Marco inicial: início do parto (eliminação da vida humana durante o parto ou logo após).
Antes do início do parto: aborto.
Atenção ao erro sobre a pessoa: art. 20, §3º, do CP.

1.4. Aborto

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Art. 124 do Código Penal (gestante)


Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.
Art. 125 do Código Penal (terceiro)
Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Art. 126 do Código Penal (terceiro)
Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze
anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude,
grave ameaça ou violência
Art. 127 do Código Penal (aborto majorado)
As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em
consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe
sobrevém a morte.
Art. 128 do Código Penal (aborto legal)
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante
ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Divisão:
*Para todos verem: esquema.

Autoaborto (1)
Gestante - 124 do CP
Aborto consentido (2)

Aborto sem consentimento


Terceiro - 125 do CP
da gestante

Aborto com consentimento


Terceiro - 126 do CP
da gestante

I - necessário/terapêutico:
Aborto legal - 128 do CP se não há outro meio de
salvar a gestante (não
Médico precisa de autorização da
gestante/rep. legal)

II - sentimental/humanitário:
Aborto legal - 128 do CP se a gravidez resulta de
estupro (precisa de
Médico autorização da
gestante/rep. legal)

Eliminação da vida humana intrauterina.

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Marco inicial: nidação.


Marco final: antes do início do parto (se for após haverá homicídio ou infanticídio).
ADPF 54: aborto do feto anencefálico (dignidade da pessoa humana).
Atenção ao crime impossível: art. 17 do CP.

2. Lesão corporal

Art. 129 do Código Penal


Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem.
Pena - detenção, de três meses a um ano.

Na lesão corporal o agente atua com animus laedendi, ou seja, age com a intenção de
produzir uma lesão corporal na vítima. Assim sendo, o agente não tem intenção de matar nem
assume o risco de produzir o resultado morte, pois, em tal caso, responderia pelo crime de
homicídio.
a) Lesão corporal dolosa lesão corporal dolosa, regra geral, varia de acordo com o grau
da lesão corporal, podendo ser simples (exclusão), grave (parágrafo 1º), gravíssima (parágrafo
2º) ou seguida de morte (parágrafo 3º).
Atenção:
• Lesão corporal grave:

Art. 129 do Código Penal


§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.

• Lesão corporal gravíssima:

Art. 129 do Código Penal


§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.Seguida de morte:

• Lesão corporal seguida de morte:

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Art. 129 do Código Penal


§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado,
nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

A lesão corporal seguida de morte possui natureza preterdolosa, ou seja, deve o agente
agir com dolo em relação à conduta inicial (lesão corporal) e culpa em relação ao resultado morte.
Trata-se de crime expressamente subsidiário, somente podendo ser reconhecido na
impossibilidade do homicídio (se o agente agiu com dolo direto ou dolo eventual em relação ao
resultado morte).
b) Lesão corporal culposa: a lesão corporal culposa não varia de acordo com a
intensidade, sempre será culposa (se agindo com negligência, imprudência ou imperícia).

Art. 129 do Código Penal


§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

c) Lesão corporal especial (art. 129, § 13):

Art. 129 do Código Penal


§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino,
nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).

d) Lesão corporal funcional: é crime hediondo em se tratando de lesão corporal


gravíssima ou seguida de morte.

Art. 129 do Código Penal


§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a
pena é aumentada de um a dois terços.

3. Crimes contra a honra


*Para todos verem: esquema.

Reputação
Calúnia e
Honra objetiva social do
difamação
indivíduo
Bem jurídico:
honra
Imagem
Honra subjetiva pessoal perante Injúria
ele mesmo

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3.1. Calúnia (art. 138 do CP)


Imputação falsa de fato definido como crime. Tem certeza de que está imputando um
crime a um inocente. O fato precisa ser um CRIME. Via de regra, cabe exceção da verdade. Só
não caberá exceção da verdade nos casos previstos no parágrafo 3º do artigo 138.

3.2. Injúria (art. 140 do CP)


Imputação de uma qualidade negativa. A injúria, quando cometida por escrito, admite a
tentativa; quando por meio verbal, não.
Nos termos do artigo 140, parágrafo 2º do CP se a injúria consiste em violência ou vias
de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes haverá a injúria
real com pena de detenção de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à
violência.
Por sua vez, nos termos do artigo 140, parágrafo 3º CP (já com a redação atualizada pela
Lei nº 14.532/2023) se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a religião ou à
condição de pessoa idosa ou com deficiência haverá a injúria qualificada com pena de reclusão,
de 1 a 3 anos e multa.
Quando o agente se dirige a uma pessoa de determinada raça, insultando-a com
argumentos ou palavras de conteúdo pejorativo, responderá por injúria racial, nos termos do
artigo 2º-A da Lei nº 7716 de 1989, com pena de reclusão de 2 a 5 anos e multa não podendo
alegar que houve uma injúria simples, tampouco uma mera exposição do pensamento (como
dizer que todo “judeu é corrupto” ou que “negros são desonestos”), uma vez que não há limite
para tal liberdade.
Assim, quem simplesmente dirigir a terceiro palavras referentes à “raça”, “cor”, “etnia” ou
“procedência nacional”, com o intuito de ofender, responderá por injúria racial nos termos do
dispositivo legal citado. Ademais, vale destacar que, nos termos do parágrafo único do artigo 2º-
A da Lei nº 7716/1989 a pena será aumentada de metade se o crime for praticado mediante o
concurso de duas ou mais pessoas.

3.3. Difamação (art. 139 do CP)


Imputação de um fato ofensivo à reputação do indivíduo (que não é crime). Pode ser
contravenção penal. Via de rega, não cabe exceção da verdade. Caberá exceção da verdade se
a ofensa for dirigida a funcionário público no exercício das funções.

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Causas de aumento de pena:

Art. 141 do Código Penal


As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é
cometido.
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em razão de suas funções, ou contra os Presidentes do Senado
Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da
difamação ou dainjúria.
IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso
de injúria.

Retratação:

Art. 143 do Código Penal


O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação,
fica isento de pena.
Parágrafo único - Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação
utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assimdesejar o ofendido,
pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.

Ação penal:

Art. 145 do Código Penal


Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando,no
caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único - Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso
I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no casodo
inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Código.

Conforme se extrai do art. 145 do CP, nos crimes contra a honra, a regra é a de ação
penal privada da vítima ou do seu representante legal. Todavia, resultando lesão física na vítima
(injúria real com lesão corporal), apura-se o crime mediante ação penal pública incondicionada.
No entanto, com o advento da Lei no 9.099/1995, alguns autores entendem que se trata de ação
penal pública condicionada à representação, já que é a prevista para os crimes de lesão corporal
leve.
Será penal pública condicionada à representação no caso de o delito ser cometido contra
funcionário público, no exercício das funções (art. 141, II), e condicionada à requisição do
Ministro da Justiça no caso do inciso I do art. 141 (contra o Presidente da República ou Chefe
de Governo Estrangeiro).
Convém ressaltar a Súm. no 714 do STF:

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Súmula nº 714 do STF. É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do


ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime
contra a honra deservidor público em razão do exercício de suas funções.

Por último, vale destacar que a injúria qualificada do parágrafo 3º do artigo 140 será de
ação penal pública condicionada à representação enquanto a injúria racial (art. 2º-A da Lei nº
7.716 de 1989) será de ação penal pública incondicionada.

4. Crimes contra o patrimônio


4.1. Furto
• Ação nuclear é subtrair, que significa tirar, retirar de outrem bem móvel, sem a sua
permissão com o fim de assenhoreamento definitivo. A subtração implica sempre
a retirada do bem sem o consentimento do possuidor ou proprietário;
• Agente não tem a posse anterior do bem e inverte a posse;
• É indispensável que o agente tenha a intenção de possuir a coisa alheia móvel,
submetendo-a ao seu poder, isto é, de não devolver o bem, de forma alguma. É o
chamado animus rem sibii habendi;
• Não existe na modalidade culposa;
• Para os nossos Tribunais Superiores (STF/STJ), para o furto atingir a consumação
basta a subtração da coisa, ou seja, a inversão da posse, ainda que por curto
espaço de tempo e em seguida a perseguição do agente, sendo prescindível a
posse mansa e pacífica ou desvigiada. Neste sentido temos a Súmula 582 do STJ
(referente ao roubo mas aplicável por analogia ao crime de furto), o RESP
1524450/RJ, o AgRg no ARESP 1.546.170/SO de 26/11/2019 do STJ e o HC
135674 de 27/09/2016 da 2° turma do STF.

4.2. Apropriação indébita

Art. 168 do Código Penal


Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou
depositário judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

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O pressuposto do crime de apropriação indébita é a anterior posse lícita da coisa alheia,


da qual o agente se apropria indevidamente. A posse, que deve preexistir ao crime, deve ser
exercida pelo agente em nome alheio, isto é, em nome de outrem.
O núcleo do tipo é o verbo “apropriar-se”, que significa fazer sua a coisa alheia. Tendo o
sujeito a posse ou a detenção do objeto material, em dado momento faz mudar o título da posse
ou da detenção, comportando-se como se dono fosse.

4.3. Roubo

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade
de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência
contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção
da coisa para si ou para terceiro.
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
I – (revogado);
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca;
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum.
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso
restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
§ 3º Se da violência resulta:
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa;
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

*Para todos verem: esquema.

Redução da
Violência Grave ameaça capacidade de
resistência

Ação nuclear: a ação nuclear do tipo, identicamente ao furto, consubstancia-se no verbo


subtrair, que significa tirar, retirar, de outrem, no caso bem móvel. Agora, contudo, estamos

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diante de um crime mais grave que o furto, na medida em que a subtração é realizada mediante
o emprego de grave ameaça ou violência contra a pessoa, ou por qualquer outro meio que reduza
a capacidade de resistência da vítima.

4.3.1. Espécies de roubo


*Para todos verem: tabela comparativa.

Roubo próprio (artigo 157, caput) Roubo impróprio (artigo 157, § 1°)
Admite violência ou grave ameaça (violência Somente admite a violência ou grave
própria) ou violência imprópria (diminuição ameaça (violência própria).
da capacidade de resistência).
A violência ou grave ameaça é empregada A violência ou a grave ameaça é empregada
antes ou durante a subtração. após a subtração.
A violência ou a grave ameaça é empregada A violência ou grave ameaça é empregada
como meio para subtrair o bem para si ou para assegurar a impunidade ou a detenção
para terceiro. da coisa para si ou para terceiro.

Consumação e tentativa: nos termos da Súmula nº 582 do STJ, “Consuma-se o crime


de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça,
ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da
coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada”.

4.4. Estelionato
a) Ação nuclear: consiste em induzir ou manter alguém em erro, mediante o emprego de
artifício, ardil, ou qualquer meio fraudulento, a fim de obter, para si ou para outrem, vantagem
ilícita em prejuízo alheio.
A característica primordial do estelionato é a fraude: engodo empregado pelo sujeito para
induzir ou manter a vítima em erro, com o fim de obter um indevido proveito patrimonial.
O meio de execução deve ser apto a enganar a vítima. Tratando-se de meio grotesco, que
facilmente demonstra a intenção fraudulenta, não há nem tentativa, por atipicidade do fato.
b) Consumação e tentativa: trata-se de crime material. Consuma-se com a obtenção da
vantagem ilícita indevida, em prejuízo alheio, ou seja, quando o agente aufere o proveito
econômico, causando dano à vítima. Via de regra, esses resultados ocorrem simultaneamente.
Há, assim, ao mesmo tempo, a obtenção de proveito pelo estelionatário e o prejuízo da vítima.

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A tentativa é perfeitamente possível, por exemplo, no caso em que o agente por


circunstâncias alheias à sua vontade não consiga obter o prejuízo em detrimento da vítima.
Considerações importantes! Falsidade documental como fraude para a prática do
estelionato: imagine que o agente pratique uma falsidade documental (falsidade de documento
público, particular ou ideológica) como meio para induzir ou manter a vítima em erro e desta
forma obter a vantagem ilícita e causar prejuízo alheio. Exemplo: o agente falsifica um cheque
para comprar em determinada rede de estabelecimentos comerciais. O STJ, na Súmula nº 17,
entende pela absorção do delito de falso pelo estelionato, desde que não haja mais
potencialidade lesiva.
c) Fraude no pagamento por meio de cheque (art. 171, § 2°, inciso VI do CP): se o
indivíduo emite um cheque na certeza de que tem fundos disponíveis para o devido pagamento
pelo banco, quando na realidade não há qualquer numerário depositado na agência bancária,
não se pode falar em ilícito criminal, ante a ausência de má-fé.
O que a lei penal pune é o pagamento fraudulento. Nesse sentido é o teor da Súmula nº
246 do STF: “comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque
sem fundos”.
Podemos destacar que diante das alterações promovidas pela Lei nº 14.155 de 2021
essa súmula perdeu o objeto, uma vez que no parágrafo 4º do artigo 70 do CPP o juízo
competente será o do domicílio da vítima.
Arrependendo-se o agente antes da apresentação do título pelo beneficiário no banco
sacado, e depositando o numerário necessário para cobrir a quantia constante do cheque, haverá
arrependimento eficaz, não respondendo ele por crime algum.
Se, por outro lado, o agente arrepender-se somente após a consumação do crime, ou
seja, após a recusa do pagamento pelo banco sacado, incidirá a Súmula nº 554 do STF: “O
pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não
obsta ao prosseguimento da ação penal”.
Assim, o pagamento do cheque antes do recebimento da denúncia extingue a punibilidade
do agente.
d) Lei nº 14.155/2021: cumpre ressaltar que a Lei nº 14.155/2021, a qual entrou em vigor
em 27 de maio de 2021, acrescentou os parágrafos 2°-A e 2°-B:

§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida


com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por

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meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou


por qualquer outro meio fraudulento análogo.
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado
gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante
a utilização de servidor mantido fora do território nacional.

e) Ação penal (art. 171, § 5° do CP): com o advento da Lei nº 13.964/19, a qual incluiu o
parágrafo 5° no artigo 171 do CP, o qual dispõe que a regra da ação penal no crime de estelionato
será pública condicionada à representação, com exceção nos casos em que a administração
pública (direta ou indireta), criança ou adolescente, pessoa com deficiência mental ou maior de
70 anos de idade ou incapaz forem vítimas, hipóteses em que a ação penal será pública e
incondicionada.

Resolva a questão a seguir:

11) FGV - 2022 - OAB – 36º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Américo é torcedor fanático de um grande clube brasileiro, que disputa todos os principais campeonatos
nacionais e internacionais. Américo recebeu a notícia de que seu clube iria jogar uma partida no estádio
de sua cidade, porém, ao tentar adquirir os ingressos, descobriu que estes já haviam se esgotado. André,
seu vizinho, torcedor do time rival, sempre incomodado com os gritos de comemoração que Américo
soltava em dias de jogo, resolveu se vingar, oferecendo ingressos falsos para Américo. Sem saber da
falsidade, Américo aceitou a oferta, porém, no momento da concretização do pagamento, percebeu, por
sua acurada expertise no tema ingressos de futebol, que os ingressos eram falsos.
Com base na situação hipotética, é correto afirmar que a conduta de André corresponde ao crime de

A) “cambismo”, do Estatuto do Torcedor, na modalidade tentada.


B) falsificação de documento público.
C) estelionato, na modalidade tentada.
D) uso de documento falso.

Resolva a questão a seguir:

12) FGV - 2023 - OAB – 37° Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Eduardo trabalha como porteiro do condomínio, e possui um primo, de nome Ygor, envolvido em vários
crimes. A semelhança entre ambos sempre foi notória.
Certa noite, após Eduardo se ausentar da portaria para colocar as lixeiras do prédio na rua, Ygor,
aproveitando-se dos traços físicos muito parecidos com os do seu primo, também vestido com um
uniforme idêntico, ingressa no edifício e subtrai vários pacotes endereçados aos moradores. Alguns
moradores viram a movimentação, mas pensaram que se tratava de Eduardo arrumando e conferindo os
pacotes.
Baseando-se no caso hipotético, Ygor cometeu

A) furto qualificado mediante fraude.

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B) estelionato.
C) falsa identidade.
D) furto qualificado por abuso de confiança.

Resolva a questão a seguir:

13) FGV - 2023 - OAB – 37° Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Silvio, mediante emprego da ameaça de “esquartejá-la com sua espada”, arrancou o cordão de ouro do
pescoço de Ana.
Após tal subtração, Silvio foi perseguido por policiais militares, que lograram prendê-lo em flagrante delito
e recuperar o bem subtraído da vítima.
É correto afirmar que Silvio cometeu crime de

A) extorsão tentada.
B) roubo tentado.
C) roubo impróprio.
D) roubo consumado.

5. Crimes contra a dignidade sexual


5.1. Ação penal

Art. 225 do Código Penal


Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública incondicionada.

5.2. Causas de aumento de pena

Art. 226 do Código Penal


A pena é aumentada:
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título
tiverautoridade sobre ela;
III – revogado;
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado:
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes;
b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.

5.3. Estupro

Art. 213 do Código Penal


Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar oupermitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

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*Para todos verem: esquema.

Qualquer
Sujeito ativo
pessoa
Crime
bicomum
Qualquer
Sujeito passivo
pessoa

Tipo penal misto alternativo: desta feita, se o agente no mesmo contexto fático praticar
ato libidinoso diverso e conjunção carnal mediante violência ou grave ameaça contra a mesma
vítima haverá apenas um crime de estupro e não concurso de crimes.
Prescindibilidade do contato físico entre o agente e a vítima: pode-se falar em crime
de estupro mesmo que não haja contato físico.
Estupro qualificado:

Art. 213 do Código Penal


§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18
(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2º Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

5.4. Estupro de vulnerável

Art. 217-A do Código Penal


Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se
independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações
sexuais anteriormente ao crime.

Ter conjunção carnal ou praticar ato libidinoso diverso com menor de 14 anos (ainda que
não haja violência, ainda que haja o consentimento da vítima). Neste sentido vale destacar que
nos termos da súmula 593 do STF e do parágrafo 5 do artigo 217-a do CP a presunção de
vulnerabilidade será absoluta.
Outras pessoas consideradas vulneráveis:

Art. 217-A do Código Penal


§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para
a prática do ato, ouque, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

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Atenção especial: deve o agente ter ciência da condição de vulnerabilidade da vítima.


caso o agente erra sobre tal condição, como por exemplo, acreditar que está mantendo relação
sexual com alguém maior de 18 anos quando na verdade tinha menos de 14 anos poderá alegar
o erro de tipo, tornando o fato atípico (erro de tipo).

Resolva a questão a seguir:

14) FGV - 2023 - OAB – 37º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Antônio, de 49 anos, manteve numerosas relações sexuais consensuais com Miriam, à época com 13
anos, que tinha experiência sexual anterior, durante o namoro entre eles. Antônio tinha conhecimento da
idade de Miriam. Sobre o caso, assinale a afirmativa correta.

A) Antônio cometeu conduta típica, ilícita e culpável.


B) Antônio cometeu conduta ilícita e culpável, mas não típica.
C) Antônio cometeu conduta típica e culpável, mas não ilícita.
D) Antônio cometeu conduta típica e ilícita, mas não culpável.

Resolva a questão a seguir:

15) FGV - 2022 - OAB – 36º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Robson, diretor-presidente da Sociedade Empresária RX Empreendimentos, telefona para sua secretária
Camila e solicita que ela compareça à sua sala. Ao ingressar no recinto, Camila é convidada para sentar
ao lado de Robson no sofá, pois ele estaria precisando conversar com ela.
Apesar de achar estranho o procedimento, Camila se senta ao lado de seu chefe. Durante a conversa,
Robson afirma que estaria interessado nela e a convida para ir a um motel. Camila recusa o convite e,
ato contínuo, Robson afirma que se ela não aceitar, nem precisa retornar ao trabalho no dia seguinte,
pois estaria demitida.
Camila, desesperada, sai da sala de seu chefe, pega sua bolsa e vai até a Delegacia Policial do bairro
para registrar o fato. Diante das informações apresentadas, é correto afirmar que a conduta praticada por
Robson se amolda ao crime de

A) tentativa de assédio sexual (Art. 216-A), não chegando o crime a ser consumado na medida em que
se trata de crime material, exigindo a produção do resultado, o que não ocorreu na hipótese;
B) assédio sexual consumado, uma vez que o delito é formal, ocorrendo a sua consumação
independentemente da obtenção da vantagem sexual pretendida;
C) fato atípico, uma vez que a conduta praticada por Robson configura mero ato preparatório do crime de
assédio sexual, sendo certo que os atos preparatórios não são puníveis;
D) importunação sexual (Art. 215-A), uma vez que Robson praticou, contra a vontade de Camila, ato
visando à satisfação de sua lascívia.

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Resolva a questão a seguir:

16) FGV - 2022 - OAB – 35º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
No dia 31/12/2020, na casa da genitora da vítima, Fausto, com 39 anos, enquanto conversava com Ana
Vitória, de 12 anos de idade, sem violência ou grave ameaça à pessoa, passava as mãos nos seios e
nádegas da adolescente, conduta flagrada pela mãe da menor, que imediatamente acionou a polícia,
sendo Fausto preso em flagrante.
Preocupada com eventual represália e tendo interesse em ver o autor do fato punido, em especial porque
sabe que Fausto cumpre pena em livramento condicional por condenação com trânsito em julgado pelo
crime de latrocínio, a família de Ana Vitória procura você, na condição de advogado(a), para
esclarecimento sobre a conduta praticada.
Por ocasião da consulta jurídica, deverá ser esclarecido que o crime em tese praticado por Fausto é o de

A) estupro de vulnerável (Art. 217-A do CP), não fazendo jus Fausto, em caso de eventual condenação,
a novo livramento condicional.
B) importunação sexual (Art. 215-A do CP), não fazendo jus Fausto, em caso de eventual condenação, a
novo livramento condicional.
C) estupro de vulnerável (Art. 217-A do CP), podendo Fausto, em caso de condenação, após cumprimento
de determinado tempo de pena e observados os requisitos subjetivos, obter novo livramento condicional.
D) importunação sexual (Art. 215-A do CP), podendo Fausto, em caso de condenação, após cumprimento
de determinado tempo de pena e observados os requisitos subjetivos, obter novo livramento condicional.

6. Crimes contra a fé pública


6.1. Conceito de fé pública
A Fé Pública que pode ser entendida como a presunção de legitimidade e de veracidade
que os documentos e os procedimentos públicos possuem, ou seja, basicamente a crença de
que os documentos e procedimentos públicos são verdadeiros e estão em consonância com a
lei.

6.2. Inexistência de crimes culposos


Os crimes contra a fé pública são exclusivamente dolosos, não havendo previsão de
modalidade culposa.
Observação especial: há tipos penais contra a fé pública que além do dolo exigem uma
finalidade especial do agente, tais como o crime de fraudes em certames de interesse público
(art. 311-A), falsidade ideológica (art. 299 do CP) e falsa identidade (art. 307 do CP).

6.3. Incriminação autônoma de atos preparatórios


O legislador, no artigo 291 e no artigo 294, incrimina, de forma autônoma, atos
preparatórios de outros crimes:

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Petrechos para falsificação de moeda


Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à falsificação de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Petrechos de falsificação (papéis públicos)


Art. 294 - Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado
à falsificação de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

6.4. Exigência da imitatio veri


É a aptidão do objeto falsificado para enganar, ou seja, é a semelhança com o produto
original. Assim sendo se a falsificação for grosseira não haverá lesão à fé pública, podendo
subsistir outros crimes como o estelionato por exemplo.

Súmula nº 73 do STJ: a utilização de papel-moeda grosseiramente falsificado configura,


em tese, o crime de estelionato, da competência da justiça estadual.

6.5. Principais crimes contra a fé pública


a) Falsificação de documento público (art. 297): este artigo trata da falsidade material,
ou seja, aquela que diz respeito à forma do documento. As ações nucleares se
consubstanciam nos verbos:
*Para todos verem: esquema.

Falsificar • Significa formar, criar um novo documento.

• Significa modificar um documento que já existe. O documento


Alterar
é verdadeiro e o agente substitui seu conteúdo.

O crime consuma-se com a falsificação ou alteração do documento, sendo prescindível o


uso efetivo deste.
A tentativa é possível, pois há um iter criminis que pode ser fracionado. A tentativa ocorrerá
se, por exemplo, o agente, estando no início do processo de formação da escritura pública falsa,
tendo preenchido apenas algumas linhas, é surpreendido por terceiro. Nessa hipótese, não
ocorreu ainda a contrafação total do documento, portanto o crime reputa-se tentado.

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Aplica-se a Súmula nº 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais


potencialidade lesiva, é por este absorvido”. Trata-se da aplicação da regra de que o crime-fim
absorve o crime-meio.
b) Falsificação de documento particular (art. 298): também se trata de falsidade
material, ou seja, aquela que diz respeito à forma do documento.
A consumação e a tentativa, neste crime, funcionam da mesma forma como no crime de
Falsificação de Documento Público.

*Para todos verem: esquema.

• Significa formar, criar um novo documento. Ex.: o agente se aproveita do


Falsificar espaço em branco entre o conteúdo da carta e a assinatura para inserir
confissão de dívida, "criando" um novo documento.

• Significa modificar o documento. Na hipótese o documento é verdadeiro, e


Alterar o agente substitui seu conteúdo, isto é, frases, palavras que alterem sua
essência, incidindo, portanto, sobre aspectos relevantes do documento.

c) Falsidade ideológica: diferentemente dos delitos precedentes, estamos agora diante


da chamada falsidade ideológica, aquela em que o documento é formalmente perfeito, sendo,
no entanto, FALSA A IDEIA NELE CONTIDA. O sujeito tem legitimidade para emitir o documento,
mas acaba por inserir-lhe um conteúdo sem correspondência com a realidade dos fatos.

*Para todos verem: esquema.

Omitir: deixar de inserir ou


não mencionar.

Falsidade Inserir: colocar ou


ideológica introduzir.

Fazer inserir: proporcionar


que se introduza.

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Ex.: assim, uma escritura lavrada pelo funcionário do Cartório de Registro de Imóveis é
formalmente perfeita, pois a ele incumbe formar o instrumento público. Entretanto, se essa escrita
encerrar declarações falsas prestadas pelo particular, haverá o crime de falsidade ideológica.

*Para todos verem: esquema.

Elementos normativos do tipo

• “Dele deveria constar” é expressão indicativa de um juízo valorativo jurídico, pertinente


ao conteúdo esperado do documento. Ex. em uma carteira de habilitação, espera-se que
conste, quando for o caso, que o motorista precisa usar óculos para dirigir. Se houver
omissão desse dado relevante, trata-se de declaração que dele devia constar.

Sujeitos do delito

• Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo. Caso seja funcionário
público, incidirá a causa de aumento de pena prevista no parágrafo único do artigo.

Consumação e tentativa

•Consuma-se com a omissão ou a inserção da declaração falsa ou diversa da que


deveria constar. Trata-se de crime formal; prescinde-se, portanto, da ocorrência efetiva
do dano, bastando a capacidade de lesar terceiro.

d) Uso de documento falso:

Art. 304 do Código Penal


Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a
302.
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.

Súmula nº 546 do STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de


documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o
documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor.

7. Crimes contra a administração pública


7.1. Súmula nº 599 do STJ
A Súmula nº 599 do STJ, diante da especificidade do bem jurídico moralidade
administrativa e da dificuldade de se precisar um valor, veda a aplicação do princípio da
insignificância aos crimes contra a administração pública.

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A exceção diz respeito ao crime de descaminho, previsto no artigo 334 do CP, no qual STF
e STJ reconhecem a insignificância para valores até R$ 20.000,00.

7.2. Conceito de funcionário público


Tendo em vista o fato de o funcionário público ostentar a condição de sujeito ativo nos
crimes definidos no Capítulo I, é de suma importância definir o conceito de funcionário público
para fins penais.
Neste sentido, o legislador, no artigo 327 do CP, definiu o conceito de funcionário público
para fins penais, havendo um verdadeiro caso de interpretação autêntica. Assim sendo, para fins
penais, adotamos um conceito amplo de funcionário público, podendo ser enquadrado em tal
definição todo aquele que exerce cargo, emprego ou função pública, ainda que transitoriamente
e sem remuneração, abarcando, por exemplo, os estagiários, trabalhadores voluntários,
servidores comissionados, temporários, etc.

*Para todos verem: esquema.

Para os efeitos penais, é quem, embora


transitoriamente ou sem remuneração, exerce
cargo, emprego ou função pública.
Funcionário Público

Equipara-se a funcionário público quem exerce


cargo, emprego ou função em entidade paraestatal,
e quem trabalha para a empresa
contratada/conveniada para prestrar serviço
público.

Aumenta-se a pena do crime quando os autores


forem ocupantes de cargos em comissão ou de
funação de direção/assessoramento de órgão da
administração direta, SEM, empresa pública ou
fundação pública.

7.3. Principais crimes praticados por funcionário público contra a


administração pública em geral
7.3.1. Peculato – art. 312, do CP

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O peculato próprio, na realidade, constitui uma apropriação indébita, só que praticada por
funcionário público com violação do dever funcional. Antes de ser uma ação lesiva aos interesses
patrimoniais da Administração Pública, é principalmente uma ação que fere a moralidade
administrativa, em virtude de quebra do dever funcional.
a) Peculato-apropriação (artigo 312, “caput”, 1ª parte do CP): é o denominado
peculato próprio. A ação nuclear típica consubstancia-se no verbo apropriar. Assim como no
crime de apropriação indébita, o agente tem a posse (ou detenção) lícita do bem móvel, público
ou particular, e inverte esse título, pois passa a comportar-se como se dono fosse, isto é,
consome-o, aliena-o.
Exemplo: servidor que tem em sua posse um notebook funcional e assina um termo de
responsabilidade do aparelho em questão. Após determinado tempo vende esse notebook a
terceiro.
b) Peculato-desvio (artigo 312, “caput”, 2ª parte do CP): é o denominado peculato
próprio. Está previsto na segunda parte do caput do art. 312: “ou desviá-lo, em proveito próprio
ou alheio”. O agente tem a posse da coisa e lhe dá destinação diversa da exigida por lei, agindo
em proveito próprio ou de terceiro.
Exemplo: servidor do Cartório que utiliza de R$ 1.000,00 que estão aprendidos no cofre e
empresta essa importância a alguém, devolvendo os mil reais depois mas ficando com os juros.
Observação importante: não confundir peculato-desvio com o peculato-uso que é fato
atípico, uma vez que no peculato de uso há o ânimo de temporariedade com a intenção de
posterior restituição de determinado bem infungível, por exemplo, no caso do policial que se
utiliza da viatura para levar o seu filho ao colégio.
Sujeitos do delito: trata-se de crime próprio. Somente o funcionário público (art. 327,
caput) e as pessoas a ele equiparadas legalmente (art. 327, §§1º e 2º) podem praticar o delito
de peculato.
A condição especial funcionário público, como elementar do crime de peculato, comunica-
se ao particular que eventualmente concorra, na condição de coautor ou partícipe, para a prática
do crime, nos termos da previsão do art. 30 do CP. Portanto, é perfeitamente possível o concurso
de pessoas, dada a comunicabilidade da elementar do crime (art. 30).

Veja o esquema na página a seguir...

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*Para todos verem: esquema.

Se comporta como
dono
Apropriação

Posse legítima

Peculato

c) Peculato-furto (artigo 312, parágrafo 1º do CP): é o denominado peculato impróprio.


Estamos agora diante de um crime de furto, só que praticado por funcionário público, o qual se
vale dessa qualidade para cometê-lo. Aqui o agente não tem a posse ou detenção do bem como
no peculato-apropriação ou desvio, mas se vale da facilidade que lhe proporciona a qualidade
de funcionário público para realizar a subtração.

*Para todos verem: esquema.

Peculato-furto (art. 312, §1º)

Não tem a posse anterior

Facilidade que cargo lhe proporciona

d) Peculato culposo (artigo 312, parágrafo 2° do CP): o funcionário para ser punido
insere-se na figura do garante, prevista no art. 13, § 2º. Assim, tem ele o dever de agir, impedindo
o resultado de ação delituosa de outrem. Não o fazendo, responde por peculato culposo.
Extinção da punibilidade no peculato culposo – art. 312, § 3º: deve ser completa e
não exclui eventual sanção administrativa contra o funcionário. A extinção da punibilidade
somente aproveita o funcionário, autor do peculato culposo.
Consoante a segunda parte do § 3º, no crime culposo, se a reparação do dano é posterior
à sentença irrecorrível, isto é, transitada em julgado, haverá a redução de metade da pena
imposta.

Resolva a questão na página a seguir...

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Resolva a questão a seguir:

17) FGV - 2023 - OAB – 38º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Francisco, funcionário público concursado de uma autarquia federal, recebeu de seu órgão de atuação
um notebook funcional, tendo assinado o livro de carga referente ao objeto e assumido o compromisso
de zelar pelo bem da administração. Durante suas férias, Francisco viaja para uma pousada no interior
do estado de São Paulo e leva o computador na mochila, uma vez que tinha o costume de assistir séries
através do aparelho. Durante sua estadia na pousada, Francisco leva o notebook para a piscina e o coloca
na mesa onde deixara seus demais pertences. Após se ausentar por cerca de 40 minutos para jogar uma
partida de futebol, retorna para a piscina e constata que o notebook fora furtado. Desesperado, procura
a administração do local que após analisar as câmeras de segurança não consegue identificar quem teria
subtraído o computador.
Diante dos fatos, o órgão funcional ao qual Francisco era vinculado instaura procedimento administrativo
e, ato contínuo, encaminha pedido de instauração de Inquérito na Polícia Federal que culmina no
oferecimento de denúncia por parte do Ministério Público Federal pela prática do crime de peculato
culposo. Francisco procura a repartição pública e se oferece para pagar o valor referente ao notebook, o
que é aceito, sendo certo que o ressarcimento ao erário se deu antes do julgamento da ação penal.
Diante dos fatos narrados, é correto afirmar que Francisco

A) terá direito à redução de metade da pena pelo fato de o ressarcimento ter sido feito após o recebimento
da denúncia.
B) terá direito à extinção da punibilidade pelo fato de o ressarcimento ter sido feito antes da sentença
irrecorrível.
C) não terá direito à atenuante referente à reparação do dano, prevista no Art. 65, inciso III, alínea b, do
CP, na medida em que esta exige a reparação do dano antes do recebimento da denúncia.
D) poderá ser beneficiado pelo arrependimento posterior, previsto no Art. 16 do Código Penal em razão
de ter reparado o dano antes da sentença.

7.3.2. Concussão – art. 316, do CP


Ação nuclear: a ação nuclear consubstancia-se no verbo exigir, isto é, ordenar,
reivindicar, impor como obrigação.
A vítima cede às exigências formuladas pelo agente ante o temor de represálias
relacionadas ao exercício da função pública por ele exercida.
Assim, não é necessária a promessa da causação de um mal determinado; basta o temor
que autoridade inspira.
Exemplo: carcereiro que exige dinheiro dos presos sob sua custódia. Na hipótese, o
simples fato de os presos encontrarem-se sob a guarda daquele gera neles o temor de eventuais
represálias.
Contudo, não pratica esse delito, mas o de extorsão ou roubo, por exemplo, o policial
militar que exige vantagem indevida da vítima utilizando-se de violência, ou ameaçando-a
gravemente de sequestrar seu filho.
Consumação e tentativa: trata-se de crime formal.

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A consumação ocorre com a mera exigência da vantagem indevida, independentemente


de sua efetiva obtenção. Se esta sobrevém, há mero exaurimento do crime.
É possível a tentativa, tendo em vista em que o crime é plurissubsistente, ou seja, admite
o fracionamento em mais de um ato executório.

7.3.3. Excesso de exação – art. 316, parágrafos 1° e 2° do CP


Modalidades: são duas as modalidades previstas:
• Exigência indevida: aqui a exigência do tributo ou contribuição social é indevida
(elemento normativo do tipo), isto é, não há autorização legal para sua cobrança,
ou seu valor já foi quitado pela vítima, ou então se refere a quantia excedente à
fixada por lei.
• Cobrança vexatória ou gravosa não autorizada em lei (excesso no modo de exação
ou exação fiscal vexatória): ao contrário da modalidade criminosa precedente, aqui
a exigência de tributo ou contribuição social é devida, mas a cobrança se faz com
o emprego de meio gravoso ou vexatório para o devedor, o qual não é autorizado
por lei.

Consumação e tentativa:
a) Exigência indevida: aqui o delito se consuma no momento em que é feita a exigência
do tributo ou contribuição social. Trata-se de crime formal, portanto a consumação independe do
efetivo pagamento do tributo ou contribuição social pela vítima. A tentativa é possível. Ex. carta
contendo a exigência de vantagem, a qual é interceptada antes de chegar ao conhecimento da
vítima.
b) cobrança vexatória ou gravosa: consuma-se com o emprego do meio vexatório ou
gravoso na cobrança do tributo ou contribuição social, independentemente de seu efetivo
recebimento. A tentativa é possível.
Excesso de exação – forma qualificada – art. 316, § 2º: nessa modalidade mais gravosa
do crime de excesso de exação, pune-se o funcionário público que, em vez de recolher o tributo
ou contribuição social, indevidamente exigido (§1º), para os cofres públicos, desvia-o em proveito
próprio ou alheio.

7.3.4. Corrupção passiva – art. 317, do CP

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Ação nuclear: trata-se de crime de ação múltipla. Três são as condutas típicas previstas:
• Solicitar: pedir, manifestar que deseja algo. Não há o emprego de qualquer
ameaça explícita ou implícita. O funcionário solicita vantagem, e a vítima cede por
deliberada vontade;
• Receber: aceitar, entrar na posse. Significa obter, direta ou indiretamente, para
si ou para outrem, vantagem indevida. Aqui a proposta parte de terceiros e a ela
adere o funcionário, ou seja, o agente não só aceita a proposta como recebe a
vantagem indevida. Ao contrário da primeira modalidade, é condição essencial
para sua existência que haja a anterior configuração do crime de corrupção ativa,
isto é, o oferecimento de vantagem indevida (art. 333). Sem essa oferta pelo
particular, não há como falar em recebimento de vantagem.
• Aceitar a promessa de recebê-la: nessa modalidade típica basta que o
funcionário concorde com o recebimento da vantagem. Não há o efetivo
recebimento dela. Deve haver necessariamente uma proposta formulada por
terceiros, à qual adere o funcionário, mediante a aceitação de receber a
vantagem.

Classificação:
a) Corrupção passiva própria: o funcionário, em troca de alguma vantagem, pratica ou
deixa de praticar ato de ofício para beneficiar alguém. O ato a ser praticado pode ser ilegítimo,
ilícito ou injusto. É a chamada corrupção própria. Exemplo: o funcionário do cartório criminal
solicita indevida vantagem econômica para suprimir documentos do processo judicial.
b) Corrupção passiva imprópria: também configura o crime a prática de ato legítimo,
lícito, justo. É a chamada corrupção passiva imprópria. Exemplo: Oficial de justiça solicita
vantagem econômica ao advogado, a fim de dar prioridade ao cumprimento do mandado judicial
expedido em processo em que aquele atua.
Sujeitos do delito: trata-se de crime próprio. Portanto, o delito só pode ser cometido por
funcionário público em razão da função (ainda que esteja fora dela ou antes de assumi-la). Nada
impede, contudo, a participação do particular, ou de outro funcionário, mediante induzimento,
instigação ou auxílio.

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Direito Penal

O particular que oferece ou promete vantagem indevida ao funcionário público responde


pelo delito de corrupção ativa (art. 333) e não pela participação no crime em estudo. Trata-se de
exceção à regra prevista no artigo 29 do CP.
Consumação e tentativa: trata-se de crime formal. Portanto, a consumação ocorre com
o ato de solicitar, receber ou aceitar a promessa de vantagem indevida. A corrupção passiva
consuma-se instantaneamente, isto é, com a simples solicitação da vantagem indevida,
recebimento desta ou com a aceitação da mera promessa daquela.
O tipo penal não exige que o funcionário pratique ou se abstenha da prática do ato
funcional. Se isso suceder, haverá mero exaurimento do crime, o qual constitui condição de maior
punibilidade (causa de aumento de pena prevista no § 1º do art. 317).
A tentativa é de difícil ocorrência, mas não é impossível. Basta que haja um iter criminis a
ser cindido. Exemplo: solicitação feita por carta, a qual é interceptada pelo chefe de repartição.
Causa de aumento de pena – art. 317, § 1º: eleva-se em 1/3 a pena do agente que, em
razão da vantagem recebida ou prometida, efetivamente retarda (atrasa ou procrastina) ou deixa
de praticar (não leva a efeito) ato de ofício que lhe competia desempenhar ou termina praticando
o ato, mas desrespeitando o dever funcional. É o que a doutrina classifica de corrupção exaurida.
Figura privilegiada – art. 317, § 2º: trata-se de conduta de menor gravidade, na medida
em que o agente pratica, deixa de praticar ou retarda o ato de ofício, não em virtude do
recebimento de vantagem indevida, mas cedendo a pedido ou influência de outrem, isto é, para
satisfazer interesse de terceiros ou para agradar ou bajular pessoas influentes.

7.3.5. Prevaricação – art. 319, do CP


Elementos do tipo/ação nuclear/objeto material:
a) Retardar: é atrasar, adiar, protelar, procrastinar, não praticar o ato de ofício dentro do
prazo estabelecido (crime omissivo). Exemplo: Servidor que, devendo expedir alvará de soltura,
por não simpatizar com o advogado, deixa de fazê-lo com a brevidade que a medida exige.
b) Deixar de praticar: trata-se de mais uma modalidade omissiva do crime em estudo.
Aqui, no entanto, ao contrário da conduta precedente, há o ânimo definitivo de não praticar o ato
de ofício.
c) Praticar (contra disposição expressa de lei): cuida-se aqui de conduta comissiva, em
que o agente efetivamente executa o ato, só que de forma contrária à lei. O interesse pessoal é

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Revisão Turbo | 39º Exame de Ordem
Direito Penal

qualquer proveito, vantagem, podendo ser patrimonial ou moral. Quanto ao interesse patrimonial,
importa distinguir algumas situações:
• Se o ato praticado, retardado ou omitido tiver sido objeto de acordo anterior entre
o funcionário e o particular, visando aquele indevida vantagem, o crime passará a
ser outro: corrupção passiva;
• Se houver, anteriormente à prática ou omissão do ato, a exigência de vantagem
indevida pelo funcionário público, haverá o crime de concussão.

Quanto ao sentimento pessoal podemos destacar que se manifesta em suas mais


variadas formas, tais como amor, paixão emoção ou ódio.

Resolva a questão a seguir:

18) FGV - 2022 - OAB – 35º Exame de Ordem Unificado - Primeira Fase
Para satisfazer sentimento pessoal, já que tinha grande relação de amizade com Joana, Alan, na condição
de funcionário público, deixou de praticar ato de ofício em benefício da amiga. O supervisor de Alan,
todavia, identificou o ocorrido e praticou o ato que Alan havia omitido, informando os fatos em
procedimento administrativo próprio.
Após a conclusão do procedimento administrativo, o Ministério Público denunciou Alan pelo crime de
corrupção passiva consumado, destacando que a vantagem obtida poderia ser de qualquer natureza para
tipificação do delito.
Confirmados os fatos durante a instrução, caberá à defesa técnica de Alan pleitear sob o ponto de vista
técnico, no momento das alegações finais,
A) o reconhecimento da tentativa em relação ao crime de corrupção passiva.
B) a desclassificação para o crime de prevaricação, na forma tentada
C) a desclassificação para o crime de prevaricação, na forma consumada.
D) o reconhecimento da prática do crime de condescendência criminosa, na forma consumada.

Aula 13/11/2023 – Turno da manhã

1. Aplicação da lei penal


1.1. Lei penal no tempo (art. 2º, do CP)
Pelo princípio tempus regit actum (“o tempo rege o ato”), a lei penal não alcança os fatos
ocorridos antes ou depois de sua vigência, de forma que, em regra, a lei aplicável a um crime é
aquela vigente ao tempo da execução deste crime.

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Revisão Turbo | 39º Exame de Ordem
Direito Penal

A regra, pois, é que a atividade da lei penal se dê no período de sua vigência; a extra-
atividade, representada pela retroatividade da lei mais benéfica e pela ultratividade, configura
exceção a esta regra.
Ultratividade quer dizer que se a lei antiga for mais favorável, prevalecerá ao tempo da
vigência da lei nova, mesmo estando revogada.
A retroatividade da lei mais benéfica significa que a lei mais benigna prevalece sobre a
mais severa, prolongando-se além do instante de sua revogação ou retroagindo ao tempo em
que não tinha vigência.

1.1.1. Abolitio criminis (art. 2º, caput, do CP)


Ocorre a chamada abolitio criminis quando a lei nova deixa de considerar crime fato que
anteriormente era considerado ilícito penal. A nova lei, demonstrando não haver mais, por parte
do Estado, interesse na punição do autor de determinado fato, retroage para alcançá-lo.
A abolitio criminis, além de conduzir à extinção da punibilidade, apaga todos os efeitos
penais da sentença condenatória, permanecendo, no entanto, íntegros seus efeitos na esfera
extrapenal. É o que se extrai do art. 2º, caput, do CP.

1.1.2. Novatio legis in mellius (art. 2º, par. ún., do CP)


Além da abolitio criminis, a lei nova pode favorecer o agente de várias maneiras. A lei
posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que
decididos por sentença condenatória transitada em julgado (art. 2º, par. ún., do CP).
Assim, se uma lei posterior deixar de prever uma circunstância de aumento de pena em
relação a determinado crime, retroagirá para beneficiar o réu. O mesmo se pode dizer se a lei
posterior passar a prever uma causa de diminuição da pena, por exemplo. Essa lei retroagirá
para alcançar fatos praticados antes da sua vigência.

1.1.3. Novatio legis incriminadora


A novatio legis incriminadora, ao contrário da abolitio criminis, considera crime fato
anteriormente não incriminado, e somente gerará efeitos para fatos praticados após a sua
vigência.

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Direito Penal

Por conferir tratamento severo, a novatio legis incriminadora, por evidente, não retroage
para alcançar fatos praticados antes da sua vigência, tendo eficácia, portanto, somente em
relação aos fatos praticados a partir da sua vigência.

1.2. Tempo do crime (art. 4º, do CP)


Em relação ao tempo do crime, o Código Penal adotou a teoria da atividade, segundo a
qual se reputa praticado o delito no momento da conduta, não importando o instante do resultado.
Assim, se um adolescente com 17 anos, 11 meses e 29 dias efetuar disparo de arma de fogo
contra a vítima, que vem a falecer cinco dias depois (quando já terá adquirido a maioridade),
responderá conforme as normas do ECA, diante da teoria da atividade que rege o tempo do
crime.
*Para todos verem: esquema.

Fato deixa de ser crime


ABOLITIO CRIMINIS

Cessam todos os efeitos penais

Causa de extinção da punibilidade

Permanecem efeitos civis

1.3. Da reincidência (art. 63 do CP)


1.3.1. Conceito
A reincidência pressupõe uma sentença condenatória transitada em julgado por prática de
crime.
Há reincidência somente quando o novo crime for cometido após a sentença condenatória
de que não cabe mais recurso. É o que se extrai do art. 63 do CP.
Exemplo: o agente pratica um crime, sendo processado e condenado. Não recorre, vindo
a sentença transitar em julgado. Meses depois, vem a praticar novo crime. É considerado
reincidente, uma vez que cometeu novo delito após o trânsito em julgado de sentença que o
condenou por prática de crime.

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Se o agente praticar o novo crime exatamente no dia em que transitar em julgado a


sentença penal condenatória pelo crime anterior, não incide a agravante da reincidência, pois a
lei é expressa ao mencionar que o novo crime deve ser praticado “depois” do trânsito em julgado.
No dia do trânsito, portanto, não se encaixa na hipótese legal.
Além disso, complementando os pressupostos da reincidência, o art. 7º da Lei de
Contravenções Penais (Decreto-lei n° 3.688/1941) dispõe que: “verifica-se a reincidência quando
o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha
condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de
contravenção”.
Assim, podem ocorrer várias hipóteses:
• O agente, condenado irrecorrivelmente pela prática de um crime, vem a cometer
outro delito: é reincidente (art. 63 do CP);
• O agente pratica um crime; condenado irrecorrivelmente, vem a cometer uma
contravenção: é reincidente (art. 7º da LCP);
• O sujeito pratica uma contravenção, vindo a ser condenado por sentença
transitada em julgado; comete outra contravenção: é considerado reincidente (art.
7º da LCP);
• O sujeito comete uma contravenção; é condenado por sentença irrecorrível; pratica
um crime: não é reincidente (art. 63 do CP).

Informativo 636 do STF: condenações anteriores pelo delito do art. 28 da Lei nº


11.343/2006 não são aptas a gerar reincidência.

1.3.2. Eficácia temporal da condenação anterior para efeito da


reincidência
Nos termos do art. 64, I, do CP, não prevalece a condenação anterior se entre a data do
cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior
a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se
não ocorrer revogação.
Logo, o prazo de 5 (cinco) anos começa a correr a partir do cumprimento da pena ou a
sua extinção por outro modo, por exemplo, incidência de uma causa extintiva da punibilidade,
como a prescrição da pretensão executória, graça ou indulto.

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Direito Penal

O período de prova do livramento condicional e da suspensão condicional da pena será


computado para fins de cessar os efeitos da reincidência.
Assim, em tese, ao agente condenado a 6 (seis) anos de reclusão, cumprindo 1/3 (ou seja,
2 anos), será concedido o livramento condicional (art. 83, I, do CP), restando outros 4 (quatro)
anos para o término da pena, que será o período de prova.
Consideremos a hipótese de o agente ter iniciado o cumprimento da pena no dia 10-8-
2010. Após cumprir 1/3 da pena, dois anos, portanto, obteve o livramento condicional em 10-8-
2012, cumprindo integralmente a pena no dia 10-8-2016.
Em 10-9-2017, o agente pratica novo crime. Nesse caso, não será considerado
reincidente, pois passaram-se mais de 5 (cinco) anos entre a data do cumprimento da pena e a
prática do novo crime, computando-se o período de prova do livramento condicional.

1.3.3. Crimes que não induzem reincidência


O art. 64, II, do CP dispõe que, para efeito de reincidência, não se consideram os crimes
militares próprios ou políticos.
Convém ressaltar que, conquanto não gere reincidência, o trânsito em julgado de uma
sentença penal condenatória por crime militar próprio ou crime político gera maus antecedentes,
já que o art. 64, II, do CP limita-se a afastar a reincidência, nada dispondo sobre maus
antecedentes.

Resolva a questão a seguir:

19) Questão Autoral Ceisc | Revisão Turbo 39° Exame da OAB


Em janeiro de 2020, Ricardo sequestrou Fabíola, com o propósito de postular resgate, sendo que a
restrição da liberdade da vítima durou mais de 60 (sessenta) dias. Ocorre que, no mês de fevereiro de
2020, quando o delito já estava consumado, entrou em vigor lei penal que aumentou a pena do crime de
extorsão mediante sequestro. A vítima foi resgatada em março de 2020. Após intensa investigação e
conclusão do inquérito policial, onde se apurou a autoria, o Ministério Público oferece denúncia em face
de Ricardo pela prática do crime de extorsão mediante sequestro e confirmada a autoria em instrução
probatória, o Magistrado, no momento da sentença, poderá aplicar a pena com base na:

A) lei em vigor em janeiro de 2020, momento em que foi consumado o crime imputado, aplicando-se ao
Direito Penal o princípio do tempus regit actum;
B) lei em vigor a partir de fevereiro de 2020, ainda que mais gravosa, aplicando-se ao Direito Penal, em
relação ao tempo do crime, o princípio da ubiquidade.
C) lei em vigor em janeiro de 2020, por ser aplicável ao Direito Penal o princípio da irretroatividade da lei
penal mais gravosa;
D) lei em vigor a partir de fevereiro de 2020, ainda que mais gravosa, em razão da natureza permanente
do crime imputado a Ricardo.

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Direito Penal

Resolva a questão a seguir:

20) Questão Autoral Ceisc | Revisão Turbo 39° Exame da OAB


Ao elaborar uma sentença condenatória em um processo pela prática de determinado crime, na
dosimetria da pena, após haver fixado a pena-base, o juiz verifica que o acusado possui uma condenação
anterior transitada em julgado por crime de deserção, considerado crime militar próprio, cuja pena
aplicada fora cumprida três anos antes da prática do delito objeto do processo em julgamento. Diante da
situação narrada, deverá o magistrado:

A) reconhecer a agravante da reincidência, diante da sentença condenatória transitada em julgado pelo


crime militar anterior.
B) Não reconhecer a agravante da reincidência, em razão do decurso do prazo entre o cumprimento da
pena e a prática de novo crime.
C) Reconhecer a agravante da reincidência, em razão do decurso do prazo entre o cumprimento da pena
e a prática de novo crime.
D) Não reconhecer a agravante da reincidência, diante da natureza do crime anterior objeto de sentença
condenatória transitada em julgado.

2. Suspensão condicional da pena


2.1. Conceito
Trata-se de um instituto de política criminal, tendo por fim a suspensão da execução da
pena privativa de liberdade, evitando o recolhimento ao cárcere do condenado não reincidente
condenado à pena não superior a 2 (dois) anos (ou a 4 anos, na hipótese de sursis etário ou
humanitário), mediante o cumprimento de determinadas condições, fixadas pelo juiz, durante o
período de prova.
Os requisitos da suspensão condicional da execução da pena estão previstos no art. 77
do CP.

2.1.1. Requisitos objetivos


a) Pena privativa de liberdade: quanto à qualidade da pena, somente a pena privativa
de liberdade, seja reclusão, seja detenção, admite a suspensão condicional da execução da
pena.
Não cabe sursis em relação à pena restritiva de direitos e à pena de multa. É o que se
extrai do art. 80 do CP, segundo o qual “a suspensão não se estende às penas restritivas de
direitos nem à multa”.
Não se aplica o sursis às medidas de segurança, uma vez que o instituto é voltado a
suspender a execução da pena. E medida de segurança não tem natureza jurídica de pena. Além

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Direito Penal

disso, verificada a inimputabilidade pela enfermidade mental, a sentença será absolutória


imprópria, não havendo, pois, execução da pena a suspender.
b) Quantidade da pena privativa de liberdade: como regra, a quantidade da pena
imposta na sentença não pode ser superior a 2 (dois) anos, ainda que resulte, no concurso de
crimes, de sanções inferiores a ela.
Tratando-se, entretanto, de condenado maior de 70 anos de idade, ao tempo da sentença
ou do acórdão (sursis etário) ou em razão de saúde (sursis humanitário ou profilático), a pena
aplicada pode ser igual ou inferior a 4 (quatro) anos (art. 77, § 2°, do CP).
Em relação a concurso de crimes, em qualquer das suas espécies, a pena aplicada,
considerando os critérios da exasperação da pena ou cúmulo material, não pode ser superior a
2 (dois) anos (ou 4 anos, na hipótese de sursis etário ou humanitário).
c) Impossibilidade de substituição por pena restritiva de direitos: somente se aplica
o sursis quando incabível ou não recomendável a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos (art. 77, III, do CP).

2.1.2. Requisitos subjetivos


a) Condenado não reincidente em crime doloso: nem toda reincidência impede a
concessão do sursis, mas somente a reincidência em crime doloso. Isso quer dizer que a
condenação anterior, mesmo definitiva, por crime culposo ou por simples contravenção, por si
só, não é causa impeditiva da suspensão condicional da pena.
Todavia, a reincidência, ainda que em crime doloso, em decorrência de anterior
condenação a pena de multa, não impede a concessão do sursis (art. 77, § 1°, do CP).
b) Circunstâncias judiciais favoráveis ao agente: não é indispensável que todas as
circunstâncias sejam favoráveis, como ocorre com sursis especial. Basta que, no geral, não
sejam desfavoráveis de modo a criar dúvidas fundadas sobre a possibilidade de o condenado
voltar a delinquir.

2.2. Condições
Durante o período do sursis, o condenado deve cumprir determinadas condições, sob
pena de ser revogada a medida e ter de cumprir a sanção privativa de liberdade. Essas condições
são: a) legais: impostas pela lei (arts. 78, § 1º, e 81 do CP); b) judiciais: impostas pelo juiz na
sentença (art. 79 do CP).

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No sursis simples, a condição legal e obrigatória consiste na prestação de serviços à


comunidade ou limitação de fim de semana, no primeiro ano do período de suspensão (art. 78,
§ 1º, 1ª parte, do CP).
Tratando-se de sursis especial, satisfeitos os seus requisitos, as condições alternativas da
prestação de serviços à comunidade e a limitação de fim de semana são substituídas por:
proibição de frequentar determinados lugares; proibição de o condenado ausentar-se da
comarca onde reside, sem autorização judicial; e comparecimento pessoal e obrigatório a juízo,
mensalmente, para informar e justificar suas atividades (art. 78, § 2º, a e c, do CP).
As condições legais do sursis especial, previstas no art. 78, § 2º, a, b e c, do CP, devem
ser impostas cumulativamente.

2.3. Extinção da pena


Se o período de prova termina sem que haja ocorrido motivo para a revogação, não mais
se executa a pena privativa de liberdade (art. 82 do CP).
Assim, expirado o prazo de suspensão ou de prorrogação sem que tenha havido motivo
para a revogação, o juiz deve declarar extinta a pena privativa de liberdade.
Trata-se de sentença declaratória. Em face disso, considera-se, para fins de extinção da
pena, a data do término do período de prova e não a data em que o juiz profere a decisão, ainda
que seja em período posterior.

3. Livramento condicional
3.1. Conceito
Trata-se de um instituto de política criminal, destinado a antecipar o retorno do condenado
ao convívio social, mediante determinadas condições e de forma precária, desde que
preenchidos os requisitos legais.

3.2. Requisitos
Os requisitos do livramento condicional, de ordem objetiva e subjetiva, encontram-se no
art. 83 do CP.
Os requisitos objetivos estão previstos no art. 83, I, II, IV e V, do CP, vinculando-se à pena
e à reparação do dano.

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a) Natureza e quantidade da pena: assim como na suspensão condicional do processo,


o livramento condicional somente pode ser concedido em relação à pena privativa de liberdade.
Não cabe, pois, à pena restritiva de direitos e multa.
Além disso, o benefício somente poderá ser concedido à pena privativa de liberdade igual
ou superior a 2 (dois) anos (art. 83 do CP). A soma das penas é permitida para atingir esse limite
mínimo, mesmo que tenham sido aplicadas em processos distintos, nos termos do art. 84 do CP.
b) Cumprimento de parte da pena: nos termos do art. 83, I, do CP, se o criminoso não
for reincidente em crime doloso e ostentar bons antecedentes, deverá cumprir mais de 1/3 da
pena privativa de liberdade para obter o benefício. É a hipótese de livramento condicional
simples.
Se o condenado for reincidente em crime doloso, deverá cumprir mais da metade da pena
privativa de liberdade, conforme dispõe o art. 83, II, do CP. Trata-se do livramento condicional
qualificado. Nesse particular, há uma omissão do legislador na hipótese de o condenado não ser
reincidente em crime doloso, mas portador de maus antecedentes. Isso porque não se enquadra
na hipótese do inciso I (que exige bons antecedentes) nem na do inciso II (que trata da hipótese
de reincidente em crime doloso) do art. 83 do CP.
Nesse caso, prevalece o entendimento de que, por conta da ausência de expressa
previsão legal, deve-se conferir ao condenado o tratamento mais benéfico. Ou seja, o condenado
não reincidente em crime doloso, mas portador de maus antecedentes, deverá cumprir mais de
1/3 da pena para obtenção do livramento condicional. É a posição do Superior Tribunal de
Justiça.1
Tratando-se de condenado por prática de tortura, crime hediondo, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, terrorismo e tráfico de pessoas (introduzido pela Lei nº
13.344/2016), desde que não seja reincidente específico em tais delitos, deve cumprir mais de
2/3 da pena (art. 83, V, do CP). Trata-se do livramento condicional específico.
Assim, sendo reincidente específico em crime hediondo ou equiparado, não é admissível
o livramento condicional. Há reincidência específica, para efeito desse dispositivo, quando o
sujeito, já tendo sido condenado por qualquer dos delitos hediondos por sentença transitada em
julgado, vem novamente a cometer crime dessa mesma natureza. Exemplo: após condenação
definitiva por crime de homicídio qualificado, o agente pratica e é condenado pelo crime de tráfico

1 HC 102.278/RJ. Superior Tribunal de Justiça. Rel. Min. Jane Silva (Desembargadora Convocada do TJ/MG), 6 a Turma, julgado em
03/04/2008.

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de drogas. Nesse caso, não terá direito a livramento condicional, por ser reincidente específico
por crime de natureza hedionda e equiparado.
c) Reparação do dano, salvo efetiva impossibilidade: nos termos do art. 91, I, do CP,
a condenação torna certa a obrigação de indenizar o dano resultante do crime. Assim, o
condenado não pode obter o livramento condicional enquanto não reparar o dano causado, salvo
quando insolvente.
Na prática, esse requisito tem limitado alcance, uma vez que, via de regra, os condenados
são pessoas pobres, absolutamente insolventes, sem a menor possibilidade de reparar o dano
causado.
d) Bom comportamento durante a execução da pena: o bom comportamento
carcerário, via de regra, é aferido com base no atestado emitido pelo diretor do estabelecimento
carcerário, considerando-se a conduta do condenado ao longo da execução da pena. Em outras
palavras, para a verificação do requisito subjetivo não se leva em conta o crime praticado pelo
condenado, mas seu comportamento durante o cumprimento da pena.
Convém sinalar, por pertinente, que a prática de falta grave não interrompe o prazo para
a concessão do livramento condicional. É o que se extrai da Súm. nº 441 do STJ, segundo a qual
“A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional”.
De acordo com a Súm. nº 439/STJ, “admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades
do caso, desde que em decisão motivada”.
e) Não cometimento de falta grave nos últimos doze meses: a Lei nº 13.964/2019
acrescentou mais um requisito para a obtenção do livramento condicional, consistente no não
cometimento de falta grave nos últimos 12 meses de execução da pena.
As hipóteses de falta grave durante a execução da pena estão previstas no art. 50 da Lei
nº 7.210/1984.
Se o condenado praticou falta grave ao longo dos últimos 12 meses, não terá direito à
obtenção do livramento condicional, ainda que preenchidos os demais requisitos.
f) Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído: trata-se de uma exigência
salutar para o retorno do condenado ao convívio social, mas, infelizmente, de pouca efetividade
prática, por conta da carência ou dificuldade de inserção do apenado no mercado de trabalho.
Ao referir-se a “trabalho que lhe foi atribuído”, fica claro que não se trata apenas das
atividades laborais desenvolvidas no interior do cárcere, mas também se refere ao trabalho

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efetuado fora da prisão, por exemplo, o serviço externo, tanto na iniciativa privada como na
pública.
g) Aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto: a lei não
determina que o apenado deve ter emprego assegurado no momento da liberação. O que a lei
exige é a aptidão, isto é, a disposição, a habilidade, a inclinação do condenado para viver às
custas de seu próprio e honesto esforço.
h) Constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não
voltará a delinquir na hipótese de condenado por crime doloso, cometido com violência
ou grave ameaça: tratando-se de condenado por crime doloso cometido com violência ou grave
ameaça à pessoa, a concessão do livramento fica subordinada, além dos requisitos do art. 83
do CP, à constatação, mediante perícia, de condições pessoais que façam presumir que o
liberado não voltará a delinquir (art. 83, par. ún., do CP).

3.3. Livramento condicional vedado


A Lei nº 13.964/2019, que altera o art. 112 da Lei nº 7.210/1984 (LEP), passou a prever
vedação do livramento condicional a condenados pela prática de determinados crimes.
É vedado o livramento condicional:
• ao condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte
(art. 112, VI, a e c, da LEP);
• ao condenado expressamente em sentença, por integrar organização criminosa
ou por crime praticado por meio de organização criminosa, não será facultada a
progressão de regime de cumprimento de pena ou a obtenção do livramento
condicional ou outros benefícios prisionais se houver elementos probatórios que
indiquem a manutenção do vínculo associativo (art. 2º, § 9º, da Lei nº
12.850/2013);
• ao reincidente em crime hediondo ou equiparado (art. 83, V, do CP).

Resolva a questão a seguir:

21) Questão Autoral Ceisc | Revisão Turbo 39° Exame da OAB


Ronaldo, primário e com bons antecedentes, em 15 de junho de 2021, abordou Joana que estava no
interior de seu veículo, parada no sinal de trânsito. Ao perceber que se tratava de um assalto, Joana,
apavorada, arranca o seu veículo, momento em que Ronaldo efetua um disparo de arma de fogo, que
atinge a cabeça da vítima, causando-lhe a morte. Ronaldo foi denunciado, e, ao final, condenado pela
prática do crime de latrocínio, previsto no artigo 157, § 3º, II, do Código Penal.

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Direito Penal

Diante do caso narrado, acerca da possibilidade de Ronaldo vir a obter livramento condicional, assinale
a opção correta.

A) Não poderá obter livramento condicional em razão do não cabimento do instituto para crimes hediondos
com resultado morte.
B) Poderá obter o livramento condicional após o cumprimento de 2/3 da pena em razão de o latrocínio
ser crime hediondo, além de atender aos demais requisitos do art. 83 do Código Penal.
C) Poderá obter o livramento condicional após cumprir 1/3 da pena em razão de ser primário e possuir
bons antecedentes, além de atender aos demais requisitos do art. 83 do Código Penal.
D) Poderá obter o livramento condicional após cumprir 1/2 da pena em razão de o crime por ele praticado
ser hediondo, além de atender aos demais requisitos do art. 83 do Código Penal.

4. Perseguição ou stalking (art. 147-A do CP)

Art. 147-A do Código Penal


Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade
física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma,
invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade.
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
(Causas de aumento de pena):
§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:
I – contra criança, adolescente ou idoso;
II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art.
121 deste Código;
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma.
(Concurso de crimes):
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
(Ação penal):
§ 3º Somente se procede mediante representação.

*Para todos verem: esquema.

Qualquer
Sujeito ativo
pessoa
Crime
bicomum
Sujeito Qualquer
passivo pessoa

Características importantes:
a) Crime bicomum: no que tange ao sujeito ativo podemos afirmar que o delito em
questão possui natureza comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa, da mesma forma
que qualquer pessoa também poderá figurar como sujeito passivo.
Entretanto, se o crime for cometido contra criança, adolescente ou idoso, ou ainda contra
mulher por razões da condição de sexo feminino temos a aplicação de causa de aumento de

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pena de metade, nos termos do parágrafo 1° do artigo 147-A.


b) Crime habitual: podemos afirmar que a característica marcante do delito em questão
é que se trata de um crime habitual, uma vez que o tipo penal exige que a perseguição seja
reiterada. Desta feita, podemos afirmar que a tentativa não é admitida.
c) Ação penal: a ação penal, nos termos do parágrafo 3º do artigo 147-A, é pública e
condicionada à representação (inclusive em se tratando de violência doméstica e familiar contra
a mulher).

5. Extorsão (art. 158 do CP)

Art. 158 do Código Penal


Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para
si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de
fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
(Causas de aumento de pena):
§ 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-
se a pena de um terço até metade.
(Extorsão qualificada):
§ 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.
(Sequestro-relâmpago):
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição
é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis)
a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as
penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.

*Para todos verem: esquema.

Súmula A cooperação
Coisa alheia e
da vítima é
móvel 582 do STJ dispensável
Roubo
X
Extorsão
Vantagem Súmula A cooperação
econômica da vítima é
indevida 96 do STJ indispensável

a) Conduta típica: extorsão é o fato de o sujeito constranger alguém, mediante violência


ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica,
a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa. A diferença em relação ao roubo

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concentra-se no fato de a extorsão exigir a participação ativa da vítima fazendo alguma coisa,
tolerando que se faça ou deixando de fazer algo em virtude da ameaça ou da violência sofrida.
b) Consumação: a extorsão atinge a consumação com a conduta típica imediatamente
anterior à produção do resultado visado pelo sujeito. Para a consumação, portanto, o agente deve
atingir o segundo estágio, isto é, a consumação ocorre quando a vítima cede ao constrangimento
imposto e faz ou deixa de fazer algo. Esse é o entendimento que prevalece na doutrina. Nesse
sentido, a Súm. n° 96 do STJ: “O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção
da vantagem indevida”.
A tentativa é admissível. Ocorre quando o sujeito passivo, não obstante constrangido pelo
autor por meio da violência física ou moral, não realiza a conduta positiva ou negativa pretendida,
por circunstâncias alheias à sua vontade.
c) Extorsão qualificada (art. 158, §2°): as duas hipóteses (lesão corporal grave ou morte)
elencadas, como no roubo, caracterizam condições de exasperação da punibilidade em razão
da maior gravidade do resultado. Inusitadamente, o legislador deixou de considerar hediondo o
crime de extorsão qualificada pelo resultado morte, ao dar nova redação ao art. 1º, III, da Lei nº
8.072/1990, que passou a prever como crime hediondo somente a extorsão qualificada pela
restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º).
d) Sequestro-relâmpago (art. 158, §3º): nada mais é do que uma modalidade qualificada
do delito de extorsão, na qual a privação da liberdade da vítima é condição indispensável para
obtenção da vantagem econômica pretendida pelo agente. Trata-se de crime hediondo, nos
termos do artigo 1º, inciso III da Lei nº 8.072/90.

6. Extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP)

Art. 159 do Código Penal


Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
(Figura qualificada I):
§ 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de
18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou
quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
(Figura qualificada II):
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave.
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
(Figura qualificada III):

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§3º - Se resulta a morte:


Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos
(Delação premiada/diminuição de pena):
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade,
facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

a) Conduta típica: o crime consubstancia-se no verbo sequestrar, que significa privar a


vítima de sua liberdade de locomoção, ainda que por breve espaço de tempo. Exige a presença
de um elemento subjetivo específico, consistente na finalidade de obtenção, para si ou para
outrem, de qualquer vantagem como condição ou preço de resgate. É crime hediondo.
b) Consumação: a consumação ocorre com a privação de liberdade de locomoção da
vítima, exigindo-se tempo juridicamente relevante. Trata-se de crime permanente, cuja
consumação se prolonga no tempo. Assim, enquanto a vítima estiver submetida à privação de
sua liberdade de locomoção, o crime estará em fase de consumação.
Tratando-se de crime formal, pune-se a mera atividade de sequestrar pessoa, tendo a
finalidade de obter vantagem. Assim, embora o agente não consiga a vantagem almejada, o
delito está consumado quando a liberdade da vítima é cerceada.

*Para todos verem: esquema.

Extorsão Crime permanente


mediante Crime formal
sequestro Súmula 711 do STF

Resolva a questão a seguir:


22) Questão Autoral Ceisc | Revisão Turbo 39° Exame da OAB
Guilherme, inconformado com o término de seu relacionamento, resolve sequestrar a sua amada Joana.
Após privá-la da liberdade e, sabedor que a família de Joana possuía recursos financeiros, resolve exigir
o pagamento de R$ 200.000,00 a título de resgate.
A família de Joana optou por não efetuar o pagamento do resgate, acionando a Polícia Civil, a qual após
um belo trabalho de equipe e um prazo de 10 dias, conseguiu localizar o paradeiro de Joana prendendo
o sequestrador em flagrante delito.
Baseando-se no caso hipotético, Guilherme cometeu

A) apenas o crime de sequestro do artigo 148 do CP, uma vez que o resgate não foi pago.
B) crime de extorsão qualificada mediante restrição de liberdade (sequestro-relâmpago) previsto no artigo
158, parágrafo 3º do CP.
C) crime de extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP) na modalidade tentada, considerando a
natureza material do delito e que não houve pagamento de resgate.
D) crime de extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP) na modalidade consumada, considerando a
natureza formal do delito e que eventual pagamento não é necessário para fins de consumação.

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7. Dano
Art. 163 do Código Penal
Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
(Dano qualificado):
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais
grave;
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de
autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviços públicos;
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à
violência.
(Ação penal):
Art. 167 do Código Penal
Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede
mediante queixa.

Observações importantes:
Destruir quer dizer arruinar, extinguir ou eliminar. Inutilizar significa tornar inútil ou
imprestável alguma coisa aos fins para os quais se destina. Deteriorar é a conduta de quem
estraga ou corrompe alguma coisa parcialmente.
O delito de dano somente é punido na forma dolosa, não havendo punição para a forma
culposa.
De acordo com o art. 167, a ação penal privada é cabível no crime de dano simples (art.
163, caput, do CP) e dano qualificado pelo motivo egoístico ou prejuízo considerável.
A ação penal pública incondicionada é cabível nas demais hipóteses.

8. Receptação (art. 180 do CP)

Art. 180 do Código Penal


Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que
sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou
oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
(Receptação qualificada):
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto
de crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma
de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência.
(Receptação culposa):

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§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor
e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio
criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.
(Dispositivos importantes):
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime
de que proveio a coisa.
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração
as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no
§ 2º do art. 155
§ 6º - Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de
Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia
mista ou empresa concessionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista
no caput deste artigo.

Observações importantes:
Nos termos do art. 180, caput, do CP, a receptação é o fato de adquirir, receber,
transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de
crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.
Já a forma qualificada é praticada no exercício de atividade comercial ou industrial e tem
como elemento subjetivo o dolo, seja direto ou eventual.
É pressuposto do crime de receptação a existência de crime anterior. Trata-se de delito
acessório, em que o objeto material deve ser produto de crime antecedente, chamado de delito
pressuposto.
Para a concretização do crime de receptação não importa se houve a condenação do
autor do crime anterior. Porém, é necessário evidenciar-se a existência do crime anterior.
A receptação culposa constitui o fato de o sujeito adquirir ou receber coisa que, por sua
natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece,
deve presumir-se obtida por meio criminoso (art. 180, § 3º).
Nos termos do art. 180, § 5º, 1ª parte, do CP, na hipótese da receptação culposa, se o
criminoso é primário, deve o juiz, tendo em consideração determinadas circunstâncias, deixar de
aplicar a pena. No caso, fixaram a doutrina e a jurisprudência que, além da primariedade, deve-
se exigir o seguinte: a) diminuto valor da coisa objeto da receptação; b) bons antecedentes; c)
ter o agente atuado com culpa levíssima.

Veja os esquemas na página a seguir...

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*Para todos verem: esquemas.

QUALQUER PESSOA
RECEPTAÇÃO CRIME COMUM (exceto o agente que
concorreu para o crime
anterior)

Exemplo: agente
Ocultar coisa que sabe
oculta carro que
ser produto de crime em $$ - proveito
sabe ser produto de
RECEPTAÇÃO proveito próprio ou econômico
crime, mas quer ficar
(art. 180 do CP) alheio
com as rodas
X
Prestar a criminoso, fora Exemplo: agente
FAVORECIMENTO Agente não visa
dos casos de co-autoria oculta carro que
REAL proveito
ou de receptação, sabe ser produto de
(art. 349 do CP) econômico
auxílio destinado a cirme para auxiliar o
próprio ou de
tornar seguro o proveito ladrão
terceiro
do crime (camaradagem)

9. Disposições gerais (art. 181 a 183 do CP)

Art. 181 do Código Penal


É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou
natural.
Art. 182 do Código Penal
Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido
em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita
Art. 183 do Código Penal
Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave
ameaça ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos

a) Imunidade absoluta (art. 181 do CP)


Trata-se da chamada imunidade penal absoluta, também conhecida como escusa
absolutória, incidente sobre os crimes contra o patrimônio, nas seguintes hipóteses:

I – do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;


II – de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou
natural.

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b) Imunidade relativa (art. 182, I, II e III, do CP)


Consubstancia-se em imunidade penal relativa ou processual, que não extingue a
punibilidade, mas tão somente impõe uma condição objetiva de procedibilidade.
Neste caso, ao contrário da imunidade absoluta, o autor do crime não é isento de pena,
mas os crimes de ação penal pública incondicionada passam a ser condicionados à
representação do ofendido.
c) Exclusão de imunidade ou privilégio (art. 183 do CP)
Dá-se nas seguintes hipóteses:

I – se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave


ameaça ou violência à pessoa;
II – ao estranho que participa do crime;
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
anos.

Resolva a questão a seguir:


23) Questão Autoral Ceisc | Revisão Turbo 39° Exame da OAB
Silvio, dependente químico e para saldar a sua dívida com famoso traficante de drogas, resolve subtrair
R$ 10.000,00 de seu pai Mauro, que era aposentado e tinha 70 anos de idade. Cumpre destacar que
Sílvio tinha conhecimento que seu pai guardava grande quantidade de dinheiro em um cofre na sua casa,
pois não confiava nas instituições financeiras do país.
Após descobrir a senha do cofre, que era a data de aniversário de sua mãe Maria, Sílvio subtrai os valores
pretendidos. Ao chegar em casa Mauro se dá conta da subtração e aciona a Polícia Civil que inicia as
investigações e descobre a autoria do furto.
É correto afirmar que Silvio

A) será isento de pena, pois cometeu crime patrimonial sem violência ou grave ameaça contra
ascendente.
B) poderá ser responsabilizado criminalmente pelo delito de furto, desde que Mauro represente
criminalmente.
C) será responsabilizado criminalmente pelo delito de furto, não fazendo jus a escusa absolutória.
D) não cometeu crime, uma vez que o dinheiro subtraído pertencia a sua família.

10. Crimes contra a administração da justiça


10.1. Denunciação caluniosa (art. 339 do CP)

Art. 339 do Código Penal


Dar causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de
processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de
improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou
ato ímprobo de que o sabe inocente:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
(Causa de aumento de pena)

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§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome


suposto.
(Causa de diminuição de pena)
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.

*Para todos verem: esquema.

O agente imputa A imputação pode ser de


um ato ilícito a crime, contravenção penal,
uma pessoa ato de improbidade ou
certa/determinada infração ético-disciplinar.
Denunciação
caluniosa Se o agente simplesmente
(art. 339 do CP) Dolo direto: o comunicar falsamente um
agente sabe que crime ou uma contravenção,
está denunciando mas sem acusar ninguém
uma pessoa haverá o crime do artigo 340
inocente do CP (comunicação falsa de
crime ou contravenção).

Elemento subjetivo: é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de dar causa à


instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação
administrativa contra alguém, imputando-lhe crime. É imprescindível que o denunciante saiba
(dolo direto) que o denunciado é inocente, conforme expressa exigência legal contida na
expressão “de que o sabe inocente”. Sem ele, não há crime. A dúvida (dolo eventual) afasta a
tipicidade do delito.
Conduta nuclear: trata-se da conduta do agente que dá causa à instauração de inquérito
policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo
disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-
lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente. O elemento do tipo
“alguém” indica, nitidamente, tratar-se de pessoa certa, não se podendo cometer o delito ao
indicar para a autoridade policial apenas a materialidade do crime e as várias possibilidades de
suspeitos.

Resolva a questão a seguir:


24) Questão Autoral Ceisc | Revisão Turbo 39° Exame da OAB
Diego, funcionário público do Tribunal de Justiça, ao tomar conhecimento que João, também funcionário
público e com menos tempo de carreira, foi designado para atuar em uma função de chefia, faz uma
denúncia anônima a Corregedoria do Tribunal imputando falsamente que João exigia vantagem indevida
para acelerar o andamento de processos que tramitavam na serventia cartorária.

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Diante da gravidade das acusações, a Corregedoria resolve instaurar processo administrativo disciplinar
em desfavor de João para melhor apurar os fatos. Após intensa investigação e oitiva de todos os
funcionários lotados na unidade judiciária em questão, o processo administrativo disciplinar restou
arquivado.
Após alguns meses, restou comprovado que a denúncia que pairava sobre João era completamente
descabida e que o autor da denúncia anônima era Diego, tendo a Corregedoria de Justiça encaminhado
o expediente à Delegacia de Polícia responsável para apurar a conduta de Diego no âmbito criminal.
Diante dos fatos narrados, é correto afirmar que Diego

A) cometeu o delito de comunicação falsa de crime ou contravenção penal previsto no artigo 340 do CP.
B) cometeu o delito de denunciação caluniosa previsto no artigo 339 do CP sem aplicação de causa de
aumento de pena.
C) cometeu o delito de denunciação caluniosa previsto no artigo 339 do CP com aplicação de causa de
aumento de pena em razão do anonimato.
D) não cometeu crime contra a administração da justiça pois o processo administrativo restou arquivado,
devendo sua conduta ser enquadrada, no máximo, como crime de calúnia previsto no artigo 138 do CP.

10.2. Comunicação falsa de crime ou contravenção penal (art. 340 do CP)

Art. 340 do Código Penal


Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de
contravenção que sabe não se ter verificado:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

10.3. Autoacusação falsa (art. 341 do CP)

Art. 341 do Código Penal


Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

10.4. Falso testemunho ou falsa perícia (art. 342 do CP)

Art. 342 do Código Penal


Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador,
tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo
arbitral:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa
(Aumento de pena)
§ 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante
suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo
penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou
indireta.
(Retratação)
O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o
agente se retrata ou declara a verdade.

Conduta nuclear: trata-se de crime de ação múltipla, pois três são as ações típicas:

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a) “Fazer afirmação falsa”. Segundo a doutrina, cuida-se aqui da falsidade positiva, pois o
agente declara a ocorrência de fato inverídico. Ex.: testemunha que, para forjar um álibi em favor
do acusado, afirma falsamente que, no momento do crime, ele estava em sua companhia.
b) “Negar a verdade”. Essa modalidade constitui a chamada falsidade negativa, pois o
agente tem ciência da verdade, mas nega o que sabe. Ex.: testemunha de acusação que nega
falsamente que a vítima de homicídio tenha anteriormente tentado estuprar a filha do acusado.
c) “Calar a verdade”. É, segundo a doutrina, a chamada reticência. Aqui há o silêncio a
respeito do que se sabe ou se recusa em manifestar a ciência que se tem dos fatos. Há, assim,
resistência por parte do agente em declarar a verdade. Não há, ao contrário das demais
modalidades, qualquer afirmação falsa ou negativa. Ex.: perito que omite dados relevantes ao
elaborar o laudo pericial, de forma a criar prova benéfica ao acusado.
Crime de mão própria: trata-se de crime de mão própria (de atuação pessoal ou de
conduta infungível). Nesse passo, somente pode ser cometido pelo sujeito em pessoa. São
sujeitos ativos desse delito a testemunha, o perito, o tradutor, o contador ou o intérprete
Consumação: é crime formal, não exigindo, portanto, para a sua consumação, resultado
naturalístico. Consuma-se o falso testemunho com o encerramento do depoimento. Em tese, o
crime consuma-se no momento em que é proferido o falso; contudo, como o depoente pode
retificar o que foi declarado até o encerramento do depoimento, entende-se consumado o crime
nesse exato instante.
Retratação: no caso, o agente, antes da sentença no processo em que ocorreu o falso
testemunho, declara a verdade. Na realidade, o crime já se consumou no momento em que o
depoimento foi encerrado, contudo, a lei faculta ao agente o direito de arrepender-se antes da
prolação da sentença de primeiro grau, possibilitando com isso o esclarecimento da verdade dos
fatos e, consequentemente, a extinção da punibilidade. Trata-se, portanto, de condição resolutiva
da punibilidade. Embora já consumado o crime, a punição depende, ainda, de o agente não se
retratar ou declarar a verdade, oportunamente.

10.5. Exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP)

Art. 345 do Código Penal


Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo
quando a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à
violência.
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.

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10.6. Favorecimento pessoal (art. 348 do CP)

Art. 348 do Código Penal


Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena
de reclusão:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão:
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa.
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do
criminoso, fica isento de pena.

10.7. Favorecimento real (art. 349 do CP)

Art. 349 do Código Penal


Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a
tornar seguro o proveito do crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

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Gabaritos das questões:

1–A 2–D 3–C 4–C 5–B 6–D 7–C

8–D 9–C 10 – D 11 – C 12 – A 13 – D 14 – A

15 – B 16 – A 17 – B 18 – C 19 – D 20 – D 21 – A

22 – D 23 – C 24 – C

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