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Contrato de Casamento

Irmãos Moretti

Mila Ponti
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184 do código penal.

"Esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança com nome, pessoas, fatos ou situações
da vida real, terá sido mera coincidência."
Prólogo

​ stava sendo uma semana difícil. Ainda não fazia muitos dias que meu
E
pai havia falecido devido a uma luta de anos contra o câncer e precisávamos
agora ouvir um advogado nos informar o destino de toda herança. Embora
todos tivéssemos nossa parte separada nos negócios da família, ainda assim,
meu pai havia deixado diversos imóveis espalhados tanto no Brasil como na
Itália, país do qual ele deixou quando ainda era criança junto com meus
avós.
​— Lucca, não podemos mais esperar por você. Já estamos atrasados. —
Gritou Antonella, minha irmã do meio. — Como filho mais velho, todos
sabíamos que a presidência da empresa era uma responsabilidade minha e
um dos desejos de nosso pai. Essa parte da decisão não era nenhum segredo
para nenhum de nós, porém, não era apenas a empresa que estava sob
minhas mãos agora, toda a minha família. — Estou descendo Tone, apenas
terminando de abotoar o terno.
​Entramos no veículo que estava parado na frente da mansão onde todos
morávamos. Enquanto eu, minha mãe e minha irmã ocupamos o banco de
trás, meu irmão mais novo Enzo ocupou o banco do carona ao lado de
nosso motorista.
​Apesar de morarmos todos juntos e trabalharmos no mesmo lugar todos
os dias, eu e Enzo não nos dávamos tão bem como deveríamos, nosso
contato não passava de informações sobre a empresa, apenas. Enzo não se
conformava com a decisão de nosso pai de me deixar a frente da nossa rede
de hotéis, afinal, ele queria ter esse direito por se achar mais apto para a
atividade do que eu. Não posso dizer que ele não era qualificado, pois
estaria mentindo, Enzo formou-se com honras em Administração e acabara
de terminar seu mestrado em Contabilidade. Como diretor financeiro da
empresa, foi um dos que mais acreditava na expansão da nossa hotelaria por
toda a região do Nordeste do país.
​Chegamos até o escritório do advogado da família. Doutor Maurílio já
cuidava de nossos negócios desde quando nosso pai havia começado o
primeiro hotel quando na verdade ainda era uma pequena pousada no litoral
de Natal.
​ Sinto muito pela perda de todos vocês e sinto muito mais ainda por

ter que recebê-los ainda no momento de luto. — Começou a falar logo que
nos viu entrar em sua sala.
​— Doutor, não queremos demorar muito. Será que podemos ir logo ao
que interessa? — Enzo, impaciente e completamente desagradado da
situação tomou a frente para acelerar o processo de abertura do testamento.
​Doutor Maurílio pediu que apenas nossa mãe ficasse na sala com ele no
primeiro momento, o que nos deixou de uma certa forma curiosos, mas
como disse doutor Maurílio, era a pedido do nosso próprio pai que assim
acontecesse.
​Depois de quase uma hora trancados dentro da minúscula sala, foi a vez
de minha irmã ser chamada. E mais cerca de trinta minutos ela passou
sozinha com o advogado.
​Posteriormente, meu irmão mais novo foi chamado e mais trinta
minutos aproximadamente se passaram. Ao sair, Enzo bateu à porta e logo
foi embora sem ao menos se despedir de nós. Quando o advogado chamou
meu nome, senti um calafrio na barriga, mesmo sabendo que a maior
informação seria minha nomeação como presidente da rede de hotéis
Moretti, ainda assim era angustiante pensar em toda a responsabilidade que
estaria em mim a partir daquele momento.
​— Lucca, você já deve saber do que se trata. Afinal, seu pai sempre
deixou claro para todos o seu desejo de que você assumisse a empresa na
sua ausência.
​— Sim doutor. Isso não seria nenhuma surpresa. Existe algum
procedimento padrão que precisamos seguir diante do conselho?
​— Calma meu filho, não é tão rápido assim. Além da presidência da
empresa, seu pai deixou para cada filho, um imóvel no Brasil e um na Itália,
aqui estão as escrituras e já estou todas no seu nome. Estão agora sob sua
responsabilidade e você pode dar o destino que desejar. — Disse enquanto
me entregava as escrituras em um grande envelope, óbvio que feliz por
mais esses bens deixados pelo meu pai, porém, o fato de doutor Maurílio ter
esperado um pouco para tratarmos do assunto da minha nomeação me
deixou mais ansioso e preocupado ao mesmo tempo. — Agora, vamos tratar
do assunto que você mais espera. — Retirou um envelope pequeno de
dentro de uma pasta e me entregou. Nela estava escrito a punho com a letra
de meu pai meu nome.
​ Do que se trata? — Perguntei um tanto curioso ao mesmo tempo que

meu coração acelerou com medo do que poderia estar escrito naquele
envelope.
​— Seu pai pediu que antes de tratar de qualquer questão da sua
nomeação, você lesse esta carta e entendesse o seu desejo. Não sei do que
se trata, mas só posso fazer qualquer outra coisa quando soubermos o que
está escrito.
​Abri rapidamente o envelope e retirei um pedaço de papel não tão
grande de dentro. As lágrimas rolaram em meu rosto, afinal, tinha em
minhas mãos uma carta de meu pai que ainda podia sentir seu cheiro no
pedaço de papel.
​Enquanto passei meus olhos por cada palavra, aos poucos fui
entendendo o motivo daquele bilhete. Não entendia a necessidade de tudo
aquilo que meu pai desejava, não acreditava que mesmo estando tudo certo
para que eu assumisse a presidência, ele me poria essa condição que não
fazia nenhum sentido.
​— Isso não é possível. — Resmunguei e entreguei o papel ao nosso
advogado para que ele lesse e pudesse me explicar o que aconteceria a
partir daquela situação. — O que o senhor me diz agora doutor? —
Perguntei com uma fúria que tomou conta de mim. Não podia entender o
motivo, afinal, não era meu maior sonho tornar-me presidente, esse era o
desejo do Enzo, eu apenas aceitei para satisfazer os desejos de nosso pai e
de tanto ele falar, isso gerou uma ansiedade no me coração. Agora ele
estava me submetendo a essa condição. Como que eu resolveria isso?
​— Infelizmente não tem muito o que fazer. Precisamos seguir aquilo
que seu pai escreveu aqui. — Respondeu-me um tanto quanto surpreso com
o que havia lido.
​— E a empresa, como fica até tudo se resolver?
​— Bem, fica na responsabilidade do maior acionista no momento, no
caso a sua mãe. Você poderá continuar suas atividades como diretor
administrativo, porém, depois do prazo estipulado pelo seu pai, caso o
senhor ainda não tenha acatado com a condição, precisaremos fazer uma
eleição, e assim como o senhor bem leu, nenhum dos filhos poderão
participar.
​Não tinha outra coisa a fazer, ou era isso, ou era isso. Saí de seu
escritório e assim como Enzo, passei pela minha mãe e pela Antonella sem
nem as olhar nos olhos. Tudo o que mais queria era sair daquele lugar e
pensar por que meu pai desejara aquilo.
Capítulo 1
Lua Holanda

​ sol bateu na janela do quarto de hotel já forte. Acordei com meu rosto
O
queimando como se tivesse sido jogado água fervente. Até parece que o sol
a beira mar é mais quente do que em qualquer outra parte do mundo.
​Olhei de um lado para o outro e não o vi. Procurei suas roupas jogadas
no chão como havíamos deixado na noite anterior, e encontrei o canto mais
limpo do que minha própria casa. Não conseguia acreditar que mais uma
vez havia caído naquele golpe.
​Procurei o telefone e liguei para a recepção.
​— Bom dia, em que poderia ajudar?
​— Oi, estou no quarto 402, o moço que estava comigo ontem à noite,
ele já saiu?
​— Só um momento... Ah, sim, ele já saiu, mas não se preocupe, ele já
deixou a hospedagem e o café da manhã pagos, a senhora deseja que
levemos?
​Não consegui nem ouvir o que a recepcionista havia falado depois de
dizer que aquele cretino havia ido embora sem nem pagar pelos meus
serviços. Foda-se o pagamento do hotel e do café da manhã, eu queria o
dinheiro que ele havia prometido, afinal, ou levava esse dinheiro comigo
hoje, ou seria despejada de casa.
​Vesti-me rapidamente e saí. Não havia motivos para ficar ali naquele
lugar, precisava trabalhar ou fazer qualquer coisa para conseguir o dinheiro
hoje ou o Bebê não esperaria mais nenhum dia para colocar para fora os
poucos bens que ainda me restavam.
​Apesar de o chamarem de Bebê, ela pesava quase cem quilos e
assustava qualquer pessoa que tentasse enganá-lo. Mesmo devendo quase
dois meses de aluguel, eu era a única que conseguia aliviar sua cobrança,
afinal, conseguia sempre um tempo a mais satisfazendo alguns de seus
desejos, o que era nojento, mas era a única forma de não parar na rua.
​Peguei meu celular e fiz algumas ligações, tentei entrar em contato com
alguns clientes antigos, mas não obtive retorno. Alguns eram casados,
outros trabalhavam mais tempo viajando do que dentro de um escritório.
Liguei para algumas amigas de profissão para ver se tinha algum evento
aquele dia em alguma boate, às vezes, esses eventos eram os lugares onde
mais ganhávamos dinheiro. Ricos vindos de toda parte do mundo a
negócios ou apenas por diversão, nada os impedia de curtir a vida ou a noite
regada a drogas, bebida e muito sexo.
​Fiquei sabendo da inauguração de uma boate nova na praia de ponta
negra, perto do hotel onde estava hospedada, aproveitei para pedir uma
roupa emprestada de uma amiga e um lugar para ficar até o anoitecer, temia
voltar para casa e me deparar com minhas coisas na rua, preferi arriscar e
permanecer onde estava, caso conseguisse algum noturno, teria no dia
seguinte dinheiro suficiente para pagar o que devia, pelo menos uma boa
parte.
Capítulo 3
Lucca

​ ão conseguia acreditar nessa condição louca e sem sentido que meu


N
pai impôs para que eu pudesse assumir a presidência. Minhas qualificações
já não seriam suficientes? O que uma esposa tem a ver com isso? Afinal,
ela não iria trabalhar na empresa comigo, iria ficar em casa e cuidar da
família.
​Meu celular não parava de tocar, quando não era minha mãe, era minha
irmã. Acho que o advogado já deve ter contado a elas a condição que meu
pai impôs, afinal, minha mãe teria que assinar documentos para assumir a
presidência de forma temporária até que eu arrumasse alguma esposa ou até
expirar o prazo de seis meses que meu pai deixou condicionado para que
houvesse uma eleição de uma nova presidência.
​Saí sem nem saber pra onde ir. Agi impulsivamente assim como meu
irmão, algo que não costumo fazer. Sempre sou o filho mais centrado, o que
tenta ser mais racional do que emocional, talvez por esse motivo não tenha
nunca conseguido segurar uma namorada, sempre coloco a razão antes da
emoção.
​Quanto a sexo, nunca me faltou, sempre me encontrava com algumas
mulheres que contratava para fazer o que eu desejava, essas que eram as
melhores, pois bastava pagar que elas satisfaziam o meu desejo.
​Depois da milésima tentativa de ligação da minha irmã, resolvi atender
para não deixar minha mãe mais nervosa ou preocupada do que já estava.
​— Pelo amor de Deus Lucca, onde você está? Mamãe está em tempo de
ir ao hospital de tanto nervoso.
​— Estou bem Antonella, diga a ela que estou bem. Precisava andar um
pouco pela praia e espairecer.
​— Ficamos sabendo o que o papai fez. Você já sabe o que vai fazer?
​— Eu gostaria muito de saber responder essa pergunta. Preciso
desligar, mesmo não sendo presidente da empresa, ainda sou funcionário e
as coisas precisam voltar a caminhar. Tchau irmã.
​Desliguei sem esperar resposta, o que ela precisava saber, já havia sido
dito. Precisava agora voltar ao escritório e pensar o que faria dali em diante.
Como casaria se não tinha nenhuma namorada? Claro, isso não seria uma
tarefa difícil, afinal, muitas mulheres davam em cima de mim, mas
nenhuma nunca pensou em casamento estando a meu lado, talvez por eu ser
um tanto frio e calculista ou apenas porque queriam curtição assim como
eu.
​O escritório não ficava tão longe dali, caminhando mesmo pela areia,
fui em direção ao nosso hotel sede, lugar onde ficava também nosso
escritório. Dali, mantínhamos sob controle toda a rede de hotéis que até o
momento, era de nove, um em cada capital e nosso objetivo em um período
de 10 anos, era expandir acrescentando mais um hotel em cada cidade.
​Ao chegar, me deparei com Luiz, um amigo de infância que havia se
tornado gerente do nosso hotel. De imediato, ele veio me parabenizar pela
minha nomeação que não acontecera. Ao contar-lhe, percebi a tristeza em
seu olhar e a mesma pergunta que todos me faziam, ele também me fez. O
que eu iria fazer? Era a resposta de um milhão, pois eu gostaria muito de
responder.
​O dia rapidamente passou e quando estávamos encerrando o expediente
daquela sexta, o celular toca com uma mensagem.
Luiz

Irmão, vamos sair hoje? Sei que não está muito

contente com tudo o que aconteceu, mas será

bom pra você respirar um pouco, pegar umas gatas.

Lucca

Bem que eu queria estar com seu ânimo, mas

Não estou muito no clima.

Luiz

Não precisa estar no clima, só


Precisa sair. Quem sabe você não tem

Alguma ideia do que fazer?

Lucca

Onde você pretende ir, quem sabe eu apareço.

Luiz

Uma boate nova vai inaugurar na

Praia de Ponta Negra. Vou deixar seu nome

Na lista.

Lucca

Obrigado Luiz, se der, apareço.

​ e fato, Luiz tinha razão. Não ia adiantar deixar de viver porque não
D
tinha esposa para estar apto para me tornar presidente da empresa. Deveria
sair, curtir e tentar amenizar a fúria que eu estava naquele momento.
Apaguei as luzes da minha sala, que não era a sala do meu pai, ainda era
minha sala antiga, chamei um carro de aplicativo e fui para a mansão me
arrumar para ir a boate.
Capítulo 4
Lua

​ oje, a noite não seria suficiente para mim. Estava disposta a voltar pra
H
casa apenas quando tivesse em minhas mãos, todo o dinheiro necessário
para pagar meu aluguel atrasado. Não poderia passar pela humilhação de
ser despejada de casa. Se não fosse os dias que havia ficado sem trabalhar
por conta de uma crise de asma, e os cafajestes com que dormi que não me
pagaram, não estaria passando por esse problema.
​Chamei um carro de aplicativo junto com minha amiga que também iria
até a boate. Um cliente fixo seu colocou nosso nome para não termos
problema quando chegarmos no local. Seria uma corrida de pelo menos
vinte minutos e durante esse tempo, poderia aproveitar para retocar a
maquiagem e passar um pouco mais de perfume.
​Eu não era a mais bela das mulheres, pelo menos era o que muitos
clientes me falavam. Talvez pelas sardas que eu possuo bastante em meu
rosto. Sempre que era possível, passava um pouco mais de base e blush para
esconder o máximo que eu pudesse. Durante toda infância e adolescência,
sofri na escola com piadinhas que me ofendiam e que me deixaram até por
um tempo, sem querer estudar, o que me atrasou bastante na conclusão dos
meus estudos. Hoje, com vinte e seis anos, tudo o que eu mais desejo é um
dia poder recuperar o tempo perdido e conseguir fazer uma faculdade.
​Já não estou mais tão nova e os homens estão cada vez mais exigentes
quanto a idade das mulheres com quem eles deitam. Querem cada vez
mulheres mais jovens.
​Enquanto o carro percorria toda a avenida, passávamos por enormes
prédios residenciais, restaurantes que por algumas vezes estive com alguns
clientes, mas que desejara muito um dia poder sentar em uma daquelas
mesas, não por estar acompanhando alguém como companheira de luxo,
mas por estar acompanhando o homem que seria meu marido.
​Esse era um assunto muito delicado no nosso meio que exercia essa
profissão. Algumas garotas até já haviam perdido a esperança de um dia ter
um relacionamento sério, afinal, que homem iria querer casar-se com uma
mulher que já havia dormido com mais homens do que sua própria idade?
​ Chegamos. — Só percebi que havíamos chegado quando o motorista

interrompeu meus pensamentos.
​A fila de frente a boate já dava voltas. Felizmente, as pessoas com o
nome na lista podiam seguir em uma outra entrada exclusiva para
convidados.
​— Por sorte que o meu boy conhece o dono. — Comemorou minha
amiga eufórica com o fato de podermos entrar logo e aproveitar tudo ao
máximo.
​Júlia e eu nos conhecíamos desde o tempo de escola. Diferente de mim,
ela terminou os estudos no tempo certo, porém, não se deu tão bem na
faculdade como esperava. Não chegou a concluir o curso de enfermagem
pois logo casou-se com um homem que só fez mal a ela. O próprio marido a
entregou a um traficante que ele estava devendo e a partir dali ela começou
a vender seu corpo para poder tirar o seu sustento.
​Assim como eu, Julia acredita que um dia, aparecerá alguém que pedirá
sua mão em casamento como num conto de fadas e ela poderá viver feliz
para sempre.
​— Vamos Lua, é nossa vez. — Me puxou pelos pulsos e fomos em
direção a portaria.
​Dois enormes seguranças conferiram nossos nomes e nos colocou uma
pulseira VIP, o que nos daria acesso a bebidas, comida e ao camarim, lugar
onde as pessoas mais importantes e ricas da cidade poderiam estar. Jovens
cheios da grana em busca do primeiro sexo, homens mais velhos
insatisfeitos com o casamento e até homens mais velhos que nunca se
casaram, eram esses homens velhos que nunca casaram que nos davam uma
certa esperança de um dia casar.
Capítulo 5
Lucca

​ ão sei bem se deveria estar aqui. Não tinha nem uma semana desde a
N
morte de meu pai e apesar de tudo o que estou passando, deveria estar com
minha mãe e minha irmã, o fato é que nem pensei em nada disso quando
resolvi vir até aqui.
​— Lucca, Lucca, aqui. — Busquei a direção da voz que me chamava
insistentemente em meio ao barulho de dentro da boate quando avistei de
longe no andar de cima, Luiz.
​Subi alguns degraus, mostrei a pulseira que me dava acesso ao camarote
VIP, peguei um drink no bar e fui em sua direção. O homem já estava
acompanhado com algumas garotas em sua mesa e não fazia nem muito
tempo que a boate havia sido aberta.
​— Senta aqui irmão. Esse é meu harém pessoal. — Disse enquanto
apontava para as mulheres a seu redor.
​O dono da boate era um amigo de Luiz. Um homem de negócios, mas
que também tinha sua forma ilegal de fazer dinheiro. A boate serviria
apenas para satisfazer seus desejos e lavagem de dinheiro. Apesar de
conhecer pessoas assim, Luiz era um homem justo e honesto, e esses foram
os motivos que levaram meu pai a nomeá-lo gerente de nossa sede aqui em
Natal.
​— O que você bebeu? Chegou aqui agora. — Perguntei ao mesmo
tempo em que imaginava que não havia sido apenas bebida que o tivera
deixado naquele estado.
​— Uma coisa muito boa, quer?
​— Não, obrigado. Prefiro ficar com meu whisky.
​O local estava lotado e não parava de entrar mais gente. A boate era
dividida em três ambientes. O primeiro era o andar de baixo, onde ficava
um bar e a pista de dança. O segundo andar era uma área mais reservada,
com salas que podiam abafar o som para ser um ambiente onde poderia
tratar de negócios e um enorme salão com algumas mesas e que dava vista
para todo o andar de baixo. O terceiro andar era onde tinham alguns
quartos, digamos que um Motel particular dentro de uma boate. Um
negócio bem lucrativo para o dono.
​Aos poucos, fui me adaptando a tudo o que estava acontecendo a meu
redor. O local sem dúvida seria muito mais frequentado por garotos saindo
da puberdade e um pouco mais jovens. Eu, com meus trinta e seis anos de
idade já não tinha tanta disposição para dançar a noite toda, principalmente
depois de um longo dia de trabalho.
​Não precisava subir ao terceiro andar e entrar em um dos quartos para
ver pessoas se esfregando umas nas outras, homens excitados e
completamente embriagados, mulheres se agarrando no meio do salão, um
verdadeiro antro de perversão.
​Mesmo não sendo um voyeur, podia sentir meu sangue ferver e meu pau
querer subir excitado buscando por prazer. A bebida já fazia um efeito
escaldante em meu corpo e vendo aquelas pessoas excitadas, quase que
fazendo sexo na frente de todos, me senti como um adolescente quando fica
escondido no banheiro vendo foto de mulheres peladas, a única diferença é
que eu não precisava me preocupar em me esconder.
​Sentado numa roda cercado de mulheres seminuas em uma das salas
privativas do segundo andar, algumas se beijando e tocando em seus seios à
mostra, enquanto outras duas se excitavam enquanto excitavam Luiz, abri
minhas pernas e deixei que o volume em minha calça aumentasse, fechei os
olhos e viajei em meus prazeres imaginários quando senti um peso em
minhas pernas.
​— Aí gostoso, que tal assim? — Uma das garotas percebeu minha
excitação e se sentou em cima do meu volume fazendo movimentos pra
frente e pra trás. Fiquei sem reação de pedir pra que ela saísse, e nem
queria. Estava muito gostoso todo aquele prazer.
​— Continua. — Foram as únicas palavras que saíram de minha boca.
​Apesar de dormir com muitas garotas de programa, eu nunca as beijava
e nem fazia sexo oral em nenhuma delas, o meu único objetivo era o meu
prazer e nada mais. O beijo era algo muito especial e íntimo, algo que eu
não tinha com nenhuma dessas garotas.
​A sala em que estávamos era toda vidrada, podíamos ver todo o
ambiente lá fora, mas quem estava fora, não conseguia ver nada do que
fazíamos lá dentro. O que era bem estranho, pois podíamos ver as pessoas
nos olhando nos olhos, quando na verdade, apenas nós estávamos as
olhando nos olhos.
​ nquanto a garota esfregava sua calcinha úmida em meu pau, Luiz
E
metia seu pau em outra garota no meu lado. Nunca havia visto outra pessoa
fazer sexo ao vivo em minha frente e foi uma experiência muito excitante
apesar de ser maluca. Outras duas garotas se chupavam no sofá de frente
para onde eu estava, as duas completamente peladas, satisfaziam seus
próprios desejos.
​Em meio a tanta orgia, abri o sutiã da garota que cavalgava em cima de
mim, apalpei um de seus seios com uma mão e o outro, abocanhei fazendo
movimentos circulares com a língua. Enquanto ela gemia de prazer, eu me
excitava com seu esfregar.
​Lentamente, desci minhas mãos pelo seu corpo a impulsionando a
acelerar um pouco mais os movimentos que fazia. Não aguentando mais de
tanta excitação, a tirei de cima de mim, fiquei de pé apenas para abrir o
zíper da calça e colocar pra fora meu pau que estava ficando sufocado de
tão duro que estava, a ajoelhei diante de mim e das pessoas que estavam
com a gente naquela sala pequena e pedi que me chupasse.
​Segurei seus cabelos e movimentava sua cabeça pra frente e pra trás
pressionando ainda mais, enquanto eu olhava para fora da vidraça e tinha a
impressão de que as pessoas estavam todas vendo o que estava
acontecendo, mas eu me excitava com a fricção das mãos e da boca da
garota.
​Luiz quando se deu conta do que estava acontecendo, parou e ficou
olhando enquanto colocou as mãos em seu pau e começou a se masturbar
com a cena, algo inimaginável para mim, mas eu não podia parar, estava
chegando ao ápice do prazer.
​— Mais um pouco...
​Quando gozei, soltei um longo suspiro diante de todos, só então fui me
dar conta da loucura que fizera.
​Limpei-me com um guardanapo que havia em cima da mesa, peguei
duzentos reais de dentro da carteira e entreguei a moça que havia me
satisfeito.
Capítulo 6
Lua

​ boate estava lotada e como podíamos imaginar, muitas


A
acompanhantes de luxo estavam no local todas em busca de mais uma noite
de sucesso.
​Não precisamos andar muito pelo espaço para sermos notadas, Julia e
eu éramos bem-vistas e andávamos sempre bem elegantes para chamar
atenção das pessoas certas, aquelas que teriam dinheiro suficiente para nos
pagar pela noite.
​Um homem de aproximadamente um metro e oitenta me segurou pelo
pulso, ele estava aparentemente um pouco embriagado.
​Ela aproximou-se do meu ouvido e me perguntou quanto eu cobraria
apenas para fazer um sexo oral nele. Não pensei duas vezes, e cobrei o
preço que valia por uma noite toda, assim, estaria com parte do dinheiro da
minha dívida e poderia pegar mais um cliente para passar a noite que
conseguiria quitar tudo de vez.
​Saí com o homem para o terceiro andar e pegamos um dos quartos que
estava livre.
​O homem de cerca de cinquenta anos mais ou menos, usava aliança na
mão esquerda e apesar da idade, estava em forma com quase nenhum
cabelo branco na cabeça. Mal entramos no quarto, ele já foi baixando a
calça e colocando pra fora seu pau ainda sem nenhuma excitação, acho que
a bebida não era um bom estimulando naquele caso. Ajoelhei-me a seus pés
e enquanto ele escorou em uma bancada, segurei com minhas mãos para
excitá-lo um pouco e endurecer seu pau.
​Fechei os olhos como sempre fazia naquelas situações em que nada no
homem me agradava e abocanhei seu pau para fazer o trabalho que
precisava. Enquanto ele gemia de prazer, eu me esforçava para que ele
gozasse logo, geralmente, quando era homens mais velhos e ainda por cima
bêbados, não demorava tanto.
​Após algumas pressões com a mão e o vai e vem da boca, ele atingiu a
ereção e o gozo invadiu minha garganta. Corri para a pia que ficava no lado
do balcão para cuspir o que pudesse ter ficado em minha boca e lavar o
rosto.
​Quando cobrei o que era meu de direito, o homem me diz que precisava
buscar o dinheiro no carro. Mais uma vez, alguém disposto a me passar a
perna, mas desta vez eu não iria deixar.
​Saímos do quarto e enquanto descíamos as escadas, avistei Julia
dançando com um garoto bem jovem, sorte dela. Apontei para a saída e
para o homem que andava a minha frente afim de avisá-la que iria até lá
fora e continuei seguindo-o até seu carro. Saímos por uma porta lateral que
dava acesso ao estacionamento e quando o homem entrou, não deu tempo
de mais nada, ele arrancou com o carro e foi embora sem me pagar o que
devia.
​Saí gritando dentro do estacionamento em total desespero, essa era uma
vida que estava me matando aos poucos tanto por dentro como poderia
acabar me matando por fora.
Capítulo 7
Lucca

​ u estava completamente envergonhado do que havia feito. Na frente


E
do meu amigo, mas também funcionário do hotel. Mesmo estando a ponto
de explodir de excitação, poderia ter saído e ido a um dos quartos do
terceiro andar, afinal, é pra isso que eles servem.
​Saí sem me despedir e desci as escadas completamente tonto com tudo
aquilo. Fui até o estacionamento para pegar meu carro e voltar para a
mansão, não deveria ter ido para aquele lugar, ele parecia despertar o pior
que existe em qualquer pessoa.
​Liguei o motor do meu Aston Martin que ecoou em todo o andar do
estacionamento, respirei fundo para tentar recuperar um pouco da
consciência que me restava, e acelerei buscando a saída quando vi uma
mulher correndo atrás de um Mustang que estava um pouco desgovernado.
Acelerei meu carro para chegar o mais rápido possível perto daquela mulher
imaginando que talvez estivessem roubando o seu veículo.
​— Entra, nós podemos pegar ele. — Gritei quando me aproximei dela.
Ela estava com o rosto borrado de maquiagem talvez pelo choro de raiva,
angústia e tristeza pelo acontecido.
​Seu corpo ficou mais fraco e de joelhos, ela caiu e começou a soluçar de
tanto que chorava. Desci do carro com o motor ainda ligado e tentei de
todas as formas levantá-la, ela estava completamente desestabilizada e me
xingava como se eu tivesse culpa do que lhe acontecera.
​Abracei seu corpo enquanto ela tentava de todas as formas se soltar do
meu abraço. Não sei o que aconteceu com aquela mulher, mas o sentimento
de perda que ela sentia, eu também estava sentindo, tanto pela morte de
meu pai como pela presidência da empresa.
​Depois de alguns instantes agachado abraçando suas pernas, a mulher
seca suas lágrimas e com um tom de voz ríspido, me pede para soltá-la.
​— O que você pensa que está fazendo? Me solta. Acha que só porque é
homem e rico pode se aproveitar de mim? — Não entendi em primeiro
momento porque ela falava daquela maneira, mas parecia que ela já havia
tido muitas experiências ruins com outros homens pela forma que falou.
​— Calma. — Fiz sinal de rendição para que ela não se preocupasse
comigo, pois não iria fazer mal nenhum. — Só tentei ajudá-la. Alguém
levou o seu carro?
​— Não, não se trata disso. E não tem a ver com você. Não preciso da
sua ajuda. — Colocando a bolsa nos ombros e levantando-se do chão sujo
do estacionamento, a mulher arrumou seus sapatos nos pés e saiu sem olhar
pra trás.
​Alguma coisa em mim me deixou incomodado e agarrei seus braços
virando-a para mim. — Só quero ajudá-la, se quiser, posso levá-la para
casa. — Arrisquei a pergunta mesmo sabendo que o não poderia voltar
como resposta, mas pelo menos minha parte teria feito, oferecer ajuda a
alguém que precisa.
​A mulher estava bem-vestida em um lindo vestido preto com um decote
caído que deixava a mostra parte do seu peito. Apesar da maquiagem
borrada e marcas de lágrimas em sua bochecha, não pude deixar de notar
sua beleza angelical e muito menos as inúmeras sardas que pintavam seu
rosto, mesmo numa tentativa frustrada de que fossem escondidas.
​— É, e o que vai querer em troca? Uma noite de amor? — Sua pergunta
me deixou surpreso e rapidamente soltei seu braço e fiquei sem saber o que
falar apenas a encarando nos olhos. — Foi o que imaginei. — Meu silêncio
fez com que a mulher tivesse conclusões precipitada sobre minha real
intenção e eu não poderia deixar que ficasse daquela maneira.
​Enquanto ela caminhava no estacionamento em direção a saída, entrei
no meu carro que ainda estava com o motor ligado e vagarosamente, fui em
sua direção. — Não preciso que me pague nada, muito menos com uma
noite de amor. Quero apenas ajudá-la a chegar em casa.
​Seu olhar era de medo e dúvida. Ela parecia analisar meu carro e a mim
como se estivesse recebendo alguma informação sobre quem sou através de
alguma inteligência artificial, só depois de alguns segundos, ela deu a volta
pela frente do carro e entrou sentando-se no banco do carona.
Capítulo 8
Lua

​ pesar de saber que não deveria ter entrado naquele carro, eu não tinha
A
como chegar em casa. Meu dia não estava nada bom e parecia que só tinha
a piorar.
​O homem parecia sério e muito bem aparentado. Com aquele carro, não
tinha dúvidas de que era alguém com muito dinheiro além de ser muito
atraente e bonito.
​Seguimos para o endereço que eu havia indicado no gps do veículo. Em
silêncio a todo momento, ele não ousou me perguntar o real motivo do meu
desespero, visto que o que ele imaginava, não era de fato o que havia
acontecido. O carro não estava sendo roubado, mas a minha dignidade mais
uma vez estava sendo arrastada para o fundo de um poço que ficava cada
vez mais profundo a ponto de não conseguir enxergar mais nem um fio de
iluminação se quer.

​ Falta pouco. — Quebrei o silêncio. — É melhor me deixar na



esquina, o lugar não é muito bom para você. Pode ser perigoso aparecer
com esse carro. — O alertei, pois não estava mentindo. O bairro em que eu
morava não era dos mais seguros. Muita gente envolvida com tráfico de
drogas, prostituição e muita violência moravam naquele fim de mundo,
apesar de algumas poucas famílias que não podiam pagar por algo melhor
morarem ali também, o que dominava o bairro eram as temidas gangues que
se formavam cada vez mais rápido.

​ Faço questão de deixá-la na porta de sua casa. Ainda mais agora



sabendo do perigo. — Mesmo sem saber meu nome, sem saber quem sou e
sem saber em que ele poderia estar se metendo teimando em me deixar na
porta de casa, aquele homem fez o que nenhum outro já havia feito por
mim. Me enxergou não como um pedaço de carne, mas como um ser
humano que precisava de ajuda.
​ ó conseguia pensar em chegar logo em casa, retirar aquela roupa e
S
tomar um bom banho para tirar qualquer fedor que pudesse me fazer
lembrar daquele dia terrível.

​ ão fiquei muito surpresa quando dobramos a esquina da comunidade


N
em que morava e avistei de longe dois homens carregando minha cama pra
fora de casa e o Bebê, escorado em uma caminhonete com seu cigarro na
boca. Pedi que o homem parasse imediatamente e saí correndo do carro em
direção ao Bebê implorando para que ele me deixasse ficar apenas por mais
uma noite até conseguir o dinheiro que lhe devia.

​ bvio que depois de tantas cobranças ele não esperaria mais nenhuma
Ó
noite sequer e ainda me ameaçou dizendo que se eu não lhe pagasse,
mandaria alguns homens atrás de mim e me encontraria onde quer que eu
estivesse. Sem um pouco de compaixão, entrou em seu carro a arrancou
dali.

​ nquanto os homens continuavam a retirar meus poucos móveis de


E
dentro da casa, eu tentava acumular tudo em um só lugar e pensava o que
faria a partir daquele momento. Onde iria passar a noite? Onde colocaria
os poucos bens que ainda me restava? Estava tão devastada e sem entender
muito bem o que faria a seguir que não notei que o homem que me deu
carona ainda estava no mesmo lugar.

​ lhei rapidamente para trás e avistei seu carro parado. Por que ele não
O
foi embora? Fiquei envergonhada com aquela situação, afinal, tinha toda
certeza que ele havia visto toda aquela confusão e ainda mais, me visto
naquela situação deplorável.
Capítulo 9
Lucca

​ iquei sem reação ao ver tudo o que havia acabado de acontecer. Não
F
entendia direito o que aquela mulher estava passando, mas sabia que ela não
poderia mais ficar em sua casa. Era seu marido? Seu locatário? Será que a
estavam roubando?

​ ilhares de coisas passaram em minha cabeça e não conseguia


M
imaginar o que ela poderia estar sentindo. Nasci em uma família que já
tinha uma boa condição financeira. Meus avós quando chegaram ao Brasil
há pouco mais de cinquenta anos atrás, começaram os negócios com uma
pequena pousada que logo viera a se transformar no Moretti Hotel Natal,
local que hoje é nossa sede. Nunca havia vivenciado ou visto uma situação
como aquela.

​ esci do carro quando percebi que ela me viu. Não sei se fiz certo,
D
talvez ela ficasse constrangida com minha presença, mesmo assim fui em
sua direção.

​ Moça, está tudo bem? — Só percebi que a pergunta que havia feito

tinha sido tão idiota depois que as palavras saíram de minha boca.

​— É sério que eu preciso responder a sua pergunta? — Sem nem olhar


em minha direção, a mulher que eu ainda não sei o nome respondeu
baixinho entre soluços do seu choro.

​ Desculpa, é que eu fiquei sem reação quando vi aqueles homens aqui



e não consegui imaginar o que de fato poderia estar acontecendo.

​ Parece até que você não é desse mundo. Nunca percebe nada do que

está acontecendo. — Friamente ela me respondeu, mas pude sentir a dor em
sua voz.
​ Desculpa por ser meio idiota, mas posso dizer que de fato não sou do

seu mundo. — Minhas palavras pareceram um pouco soberbas, mas não
estava mentindo. De fato, eu não pertencia àquele mundo que ela vivia.

​ Olha moço, acho melhor você ir embora. — Ela levantou-se



rapidamente e nem se deu ao trabalho de enxugar suas lágrimas. — Seu
carro e esse seu terno de garoto rico já está chamando muita atenção.

​ Não mais do que você com tudo no meio da rua. — Mais uma vez

falei merda. Como pude ter sido tão insensível? Também, estou apenas
tentando ajudar e ela vem com sete pedras nas mãos pra tacar uma de cada
vez.

​ Sai daqui agora antes que eu... — Sem saber o que dizer, ela respirou

fundo e saiu andando na rua escura e desértica. Voltei para o meu carro afim
de voltar para casa, porém, alguma coisa me fez mudar de ideia e eu apenas
dirigi em sua direção. Não foi tão difícil alcançá-la com aqueles saltos altos.

​ Espera, eu posso te ajudar se quiser. — Com um dos braços pra fora



do veículo e outro no volante, fui seguindo-a enquanto tentava convencê-la
a aceitar minha ajuda.

​— Como você poderia me ajudar? — Me dando carona de novo?

​— Pode ser, mas posso te hospedar em um hotel.

​ Sério? E o que vai querer em troca? — Nesse momento, acelerei o



veículo e girei o volante afim de me colocar de frente para ela.

​ Por que eu iria querer alguma coisa em troca? Você já me fez essa

pergunta hoje. — A questionei enquanto descia do carro já perdendo a
paciência de tudo aquilo.

​ Porque é bem difícil acreditar que um homem como você quisesse



ajudar alguém só por ser bom.

​ Acredite, eu não sou como os homens que você já deve ter



conhecido. — A encarei nos olhos, e vi o medo tomar conta daquele oceano
azul. Nos encaramos por alguns segundos e acredito que ela estava
completamente assustada ao mesmo tempo que pensava no que fazer. Seu
corpo ficou paralisado e nenhuma palavra saía de sua boca apesar de ela
parecer querer falar algo. — E então, vai aceitar ou não minha ajuda? Já
estou ficando cansado de você.
​— Tudo bem. Mas eu não vou dormir com você. — Disse enquanto saía
da minha frente e se dirigia ao banco do carona.
​— Eu nunca disse que queria dormir com você. — Me senti vitorioso e
um sorriso involuntário saiu do meu rosto.
Capítulo 10
Lua

S​ eria ele um anjo que havia sido enviado para me salvar?


​Não conseguia pensar em outra coisa senão aquela. Minha mãe quando
ainda estava viva sempre me dizia que existia um ser maior que cuidava de
nós sempre que precisávamos e parecia que esse era um desses momentos.
​Quando a perdi, pedi muito a esse ser que cuidasse de mim. Sozinha,
com vinte e um anos de idade, tive que deixar de lado meu sonho de um dia
estudar, fazer uma faculdade e precisei começar a trabalhar.
​Sempre chamei muita atenção na rua por ser um pouco diferente das
outras garotas. Com um cabelo castanho claro, olhos tão azuis que pareciam
o céu e com o rosto pintado de sardas, poderia ser destacada em qualquer
lugar. Sem muitas opções de trabalho e precisando ganhar dinheiro para ter
como me sustentar e pagar aluguel, aceitei a proposta para tirar algumas
fotos para uma grande marca de roupas de banho. Minha inocência não me
deixou perceber que estava entrando em uma grande cilada.
​Sou grata a esse ser por ter conseguido me safar da exploração sexual a
qual fiquei presa por longos quatro anos, mas agora, um pouco mais velha,
não teria outra coisa que eu pudesse fazer se não, continuar como
acompanhante de luxo. O único problema era que agora, eu mesma
precisaria ter pulso forte para receber o que era acertado com os clientes,
por esse motivo, durante o último ano, fui enganada diversas vezes me
endividando cada vez mais.
​Enquanto olhava à Beira-mar e via as pessoas caminhando naquela
madrugada, passava um filme em minha mente e tudo o que havia vivido
desde a perda de minha mãe. É mãe, talvez esse ser esteja olhando por mim.
​— Então, qual o seu nome? — Meus pensamentos foram interrompidos
pela sua pergunta.
​— Por que a pergunta?
​— Por que você continua armada comigo? Eu já não deixei claro que
não vou machucar ou fazer qualquer outra coisa com você? — Ele tinha
razão. De todos os homens com quem já estive, até o momento, aquele era o
único que havia me tratado como um ser humano, e não como um pedaço
de carne que era saboreada e depois jogado fora o resto.
​— Desculpa, eu só já passei por muita coisa na vida. Não sei em quem
posso confiar. Mas você tem razão, desde o início você só tem tomado
conta de mim. Me chamo Lua.
​— Somente Lua? Não tem sobrenome ou um segundo nome?
​— Lua Holanda.
​— Prazer Lua. Me chamo Lucca Moretti. — Moretti? Será que ouvi
certo? Se ele é um Moretti, então também é dono dos hotéis Moretti.
​— Você é o Moretti, Moretti mesmo? Ou...
​— Sim, eu sou esse Moretti. — Ele interrompeu minha pergunta um
tanto mal formulada e com um sorrisinho no rosto, respondeu.
​Como pude ser tão descuidada em não perceber que durante quase toda
noite estava diante de um dos homens mais cobiçados da região. Alto, forte
e bonito além da conta, num terno de muitos zeros por trás. Fiquei ainda
mais constrangida com toda aquela situação e só desejava chegar logo no
hotel para poder me afastar dele e descansar. Amanhã será outro dia e
poderei ver o que fazer da minha vida.
​Não voltamos a nos falar. Continuamos o caminho até nosso destino, o
que não demorou mais do que dez minutos. Logo estávamos na porta de um
dos hotéis mais caros de todo o Nordeste. O Moretti hotel.
​Ao chegarmos, logo apareceu o manobrista para levar o carro para a
garagem exclusiva. Passamos rapidamente pela recepção sem precisar dar
muitas informações, ele recebe uma chave e fomos para o elevador em
direção a um dos muitos quartos que o hotel possuía.
​— Você pode ficar aqui o tempo que precisar. Deixei o quarto reservado
em meu nome. Não precisa se preocupar com nada, muito menos com a
refeição. — Disse-me mantendo seu olhar para a porta do elevador. Estava
muito grata, mas não podia aceitar tudo aquilo.
​— Não precisa. Uma noite já será suficiente para me recuperar de tudo
isso. Amanhã já posso tentar conseguir algum trabalho.
​— E ser enganada outra vez? — Dessa vez seu tom de voz mais ríspido
me deixou assustada. Ele não teria motivos para tanta raiva em suas
palavras, mas foi o que pareceu. — Desculpa, eu não devo nada com sua
vida. É só que pelo que você me contou, as coisas não têm dado muito certo
ultimamente.
​ Tudo pode mudar não é mesmo. Agradeço sua preocupação, mas

você de fato não tem nada a ver com isso. Já sou muito grata pelo que está
fazendo.
​Ao chegarmos no nosso andar, entramos em um quarto e pude ter quase
certeza de que estava diante de um palácio. Na frente do que era minha casa
com apenas dois compartimentos e na frente de todos os outros hotéis em
que já havia me deitado com uma incontável quantidade de homens, aquele
quarto era um retrato do que só se via em filmes.
​— Tem certeza de que precisa de tudo isso? — Questionei por não
sentir necessidade de algo tão luxuoso assim.
​— Claro que precisa. Eu ficarei aqui com você por essa noite, mas não
se preocupe, dormirei num quarto separado do seu.
​No mesmo quarto que parecia mais um apartamento, havia dois quartos
que ficavam separados por uma sala e um espaço de refeições. A vista era
toda para o mar. Sem dúvida, quando o sol raiasse, poderia ter a visão mais
linda de toda cidade. Me acostumaria fácil em morar num lugar como
aquele.
​Fui até o banheiro tomar um banho enquanto Lucca ligava para pedir
comida. Me despi da única roupa que tinha e que era emprestada de minha
amiga Julia, entrei na banheira com água quente para relaxar o corpo e
fiquei ali completamente perdida no tempo.
Capítulo 11
Lucca

​ edi uma macarronada para nós dois, pois se a fome apertava meu
P
estômago, imagine o de Lua. Me despi dentro do meu quarto e fui tomar um
banho rápido apenas para tirar o odor da boate e da bebida que ainda
exalava em meu corpo.
​Não conseguia parar de pensar em Lua no quarto ao lado. Apesar de não
estar tão limpa e com a maquiagem borrada, não dava pra deixar de
perceber que ela era linda e diferente de todas as mulheres que já havia
estado na vida. Seu rosto pintado de sardas era a coisa mais linda e inocente
que poderia ter visto, apesar de saber que de inocente ela não tinha nada.
​Enquanto a água caía em meu rosto, minha mente viajou até seu quarto
e pude quase ver seu corpo perfeitamente nu deitado na banheira. Seus seios
que quase saltava daquele vestido sendo saboreado pela minha língua e suas
mãos em meu pau me fazendo gozar.
​O que eu estou fazendo? Não posso pensar isso.
​Tentei interromper meus devaneios voltando a realidade quando alguém
bateu na porta. Certeza que era o garçom trazendo nosso jantar.
Rapidamente me cobri com o roupão desajeitado e fui receber nossa
refeição. Percebi que ela ainda não havia terminado o banho e fui até seu
quarto chamá-la antes que a comida esfriasse. Bati repetidas vezes e
nenhum sinal de vida. Girei a maçaneta da porta e percebi que ela deixara
aberta. Não ouvi barulho de chuveiro e pensei que talvez ela pudesse ter ido
embora assustada ou até mesmo com medo de mim ou de que eu fizesse
algo com ela. Fui até o banheiro e a vi deitada, de olhos fechados coberta
por espuma.
​Sua perna elevada me fez imaginar seu corpo esbelto. Seus cabelos
úmidos já não estavam tão claros como quando estavam secos, mas
continuavam como véu. Meu pênis começou a sair do meu controle e dei
alguns passos para trás antes de chamar por seu nome um pouco mais alto.
​ Lua. — Gritei. — O jantar chegou. Melhor comermos logo antes que

esfrie e assim podermos nos deitar um pouco antes que o dia amanheça.
​— Sim. Perdi um pouco a noção do tempo, mas já estou indo. — Não
tinha como não ter percebido isso. Pude ver como ela havia perdido noção
do tempo, mas ela não viu o quanto ela me fez perder a noção do perigo.
​Voltei rapidamente para a mesa e sentei-me para que ela não percebesse
que eu havia entrado em seu quarto, e mais do que isso, que eu a havia visto
tomar banho.
​Tentava de todas as formas tirar aquela lembrança da minha cabeça, mas
não tinha como esquecer alguém tão angelical em seu momento mais
íntimo.
​— Desculpe a demora. Acabei relaxando tanto que não vi o tempo
passar. — Ela veio andando enquanto ainda amarrava o roupão do hotel em
sua cintura.
​Com uma tolha enrolando seu cabelo e agora, sem maquiagem no rosto,
pude ter a certeza de que estava diante de um anjo, e não mais de uma
mulher. Esse anjo tinha um olhar que fuzilava qualquer ser humano, era
assim que eu me sentia quando ela me olhava.
​— Não tem problema, eu também acabei de sair do banho. — Tentei
disfarçar a tensão que tomou conta de mim.
​Enquanto comíamos, nada falamos e rapidamente tudo terminou.
​— Lucca. — Chamou meu nome com tanta intimidade que me deu até
calafrio. — Quero agradecer o que você fez por mim.
​— Não precisa. Está tudo certo. Eu fiz por você porque senti que
precisa fazer isso.
​— Mas você não me conhece, não sabe pelo que passei e nem o que
posso fazer com você e mesmo assim, me deu abrigo, me alimentou e se
preocupou por mim. Me diga o que posso fazer por você, por favor. —
Aquele seu pedido parecia tão sincero que não sabia o que responder. Juro
que tudo que queria pedir era uma noite de sexo, mas não podia fazer isso
com aquela mulher, não com Lua, não com aquele anjo demônio que
parecia ter invadido todo o meu ser sem nem saber.
​— Posso pensar em alguma coisa, mas não te responderei agora, preciso
de um boa noite de sono.
​— Sem problemas, amanhã ainda estarei aqui. — Ela respondeu com
um sorriso no rosto que ressaltou ainda mais sua beleza. Céus, por que ela
me tomou dessa maneira? Não podia me apaixonar por alguém assim. Eu
mais do que ninguém sou desacreditado dessas coisas de amor à primeira
vista. — Vou me deitar. Boa noite.
​Ela saiu e eu fiquei parado no mesmo lugar. Milhões de coisas passaram
pela minha cabeça. O que ela poderia fazer por mim? Procurei qualquer
coisa que ela pudesse fazer, mas não conseguia pensar em nada. Meu
celular tocou e eu percebi que havia deixado em cima da cama. Corri para o
quarto e vi que era Luiz. Havia saído da boate sem dizer nada e o deixei
muito bem acompanhado, sabe-se lá o que poderia ter acontecido com ele.
​— Luiz.
​— O que aconteceu irmão, você saiu do nada depois daquela gozada.
​— Aquilo não deveria ter acontecido. Onde você está?
​— Já tô em casa. Relaxa. Mais me fala, o que aconteceu?
​— Só não me senti bem.
​— E aí? Foi pra casa ou está com alguma boazuda?
Luiz apesar de não ter muita noção das coisas, era meu melhor
amigo e a pessoa que me conhecia melhor do que meus irmãos, ele era
quem sabia todas as loucuras que eu já havia feito na vida. Não pensei duas
vezes antes de contar toda a loucura que havia sido a minha noite.
— Irmão, se essa dona te assassinar enquanto você dorme?
— Ela não faria isso. Eu sei. Ela quer fazer alguma coisa por mim,
mas ainda não pensei em nada.
— Por que você não pediu só uma noite?
— Porque ela não é um pedaço de carne. Ela é uma mulher e muito
linda por sinal.
— Já sei. Pede ela em casamento. Isso resolveria todos os seus
problemas.
— Isso é loucura. Eu mal a conheço e o fato de achá-la bonita não
significa que ela é mulher pra ser mãe dos meus filhos.
— E quem falou em filhos idiota. Tô falando de um casamento de
mentira. Pensa só, você precisa de uma esposa e ela precisa de um lugar
pra morar. Além do que, você pode oferecer um bom dinheiro pra ela poder
fazer alguma coisa da vida depois da separação. Um ano ou um pouco
mais, e só.
— Você precisa dormir Luiz, e está assistindo filme demais. Boa
noite.
​Apesar daquela sugestão ser loucura, poderia ser uma boa pra nós dois.
​ Isso é loucura. Não posso pensar em nada disso. — Falei em voz alta

afim de me ouvir e não esquecer que era tudo uma grande loucura.
Capítulo 12
Lua

​ cordei com o sol adentrando a janela do quarto.


A
​Não lembrava a última vez que havia dormido tão bem como naquela
noite, mas não podia me acostumar, tudo aquilo era apenas por uma noite e
nada mais.
​Procurei meu celular em cima da mesinha lateral e quando o abri,
tinham várias mensagens e ligações não atendidas da Julia. Fiquei
preocupada com o que poderia ter acontecido a ela. Assim como o que
aconteceu comigo, algo muito pior poderia ter lhe acontecido.

Lua

​Júlia, você está bem? Aconteceu

alguma coisa?

​ la demorou a responder, talvez ainda estivesse dormindo? Tentei


E
imaginar nas melhores possibilidades.

​Júlia

​O que passa na sua cabeça Lua?

​Não pensa que existem pessoas

que se preocupam com você?

​Lua

​Ufa! Ainda bem.


Júlia

Você não está prestando atenção

em mim. Onde você se meteu?

​Lua

​Eu estou bem. Aconteceram

​alguns imprevistos, mas tudo vai

​se resolver.

Júlia

Ai meu Deus, só não faz mais isso

de novo. Fiquei preocupada com você.

​Lua

​Jú, sei que é difícil pra você,

mas posso te perguntar uma coisa?

Júlia

Manda a boa.

Lua

Bebê fez o que disse que ia fazer.

Será que eu poderia ficar uns dias com você?

Júlia

Amiga, você sabe que eu bem queria,


Mas você viu que quase não dá pra mim.

Eu queria muito te ajudar, mas infelizmente, tá difícil

O pior é que Júlia tinha razão, mas eu precisava perguntar, não


podia deixar passar nada.
Lua

Tudo bem, amiga. Eu te entendo.

preciso ir agora, tenho umas coisas pra

resolver.

​ ão é que eu tivesse algo pra resolver de imediato, mas ouvi a porta do


N
quarto bater e deduzi que o café da manhã pudesse ter chegado.
​Levantei-me, me cobri com o roupão e abri a porta do meu quarto. O
avistei sentado à mesa com uma mão no celular e a outra com um copo de
suco. Não pude deixar de notar algumas sacolas na poltrona ao lado e
imaginei que talvez tivessem ido deixar algumas roupas para que ele
pudesse vestir-se sem parecer ter chegado da balada.
​— Oi, bom dia. — Disse ao me ver encolhida na entrada do quarto e
apenas com a cabeça pra fora.
​— Desculpa, ainda estou de roupão. Fiquei sem saber se devia sair do
quarto ou não.
​— Claro que deve. — Ele disse apontando para si mesmo. Afinal, ele
também ainda estava de roupão. — Por falar nisso, pedi que comprassem
alguma coisa pra você vestir. Percebi que não havia trazido nenhuma roupa
depois de toda aquela confusão.
​Como assim roupa pra mim?
​— Você não precisava ter feito nada disso. Mas como sabia meu
número? — Espantei-me ao pegar uma calça jeans e ver a numeração.
​— Perguntei a minha irmã. Pelo seu corpo, imaginei que vocês
vestissem o mesmo número e parece que acertei. — De fato ela havia
acertado. Mas estava achando tudo aquilo muito estranho. Apesar de ele ter
sido um homem super respeitoso, o achei bem esquisito.
​Voltei para o quarto, vesti a calça jeans e uma camisa gola polo azul céu
que combinou perfeitamente com meus olhos e calcei uma sandália
baixinha que veio acompanhando a roupa. Procurei algo para passar no
rosto afim de esconder minhas sardas, mas não encontrei. Àquela altura já
não era mais tão necessário. Eu não queria seduzi-lo e mesmo assim, ele já
havia me visto quase que completamente nua.
​— Deu perfeitamente. — Disse ao mesmo tempo em que saía do quarto.
​— Perfeitamente. — Disse enquanto me encarava nos olhos. Ele parecia
mais surpreso ou alguma coisa estava fora do lugar.
​— Está tudo bem? — Perguntei enquanto me sentei em uma das
cadeiras dispostas a mesa.
​— Sim. Está tudo bem. Espero que tenha tido uma boa noite de sono.

​ A melhor noite em muitos anos.



​— Se você quiser, poderá ter outras noites como essa. — Suas palavras
saíram de sua boca com a mesma velocidade em que ela se encheu de pão.
​— Não entendi sua afirmação. O que você está querendo dizer com
isso? — Irritada e sem entender onde ele queria chegar, o questionei.
​— Você me perguntou ontem o que podia fazer por mim. E bem, eu
pensei que... Na verdade um amigo me deu uma ideia que pareceu meio
loucura, mas que depois, pensei que talvez pudesse dar certo.
​— O que foi Lucca. — Sem paciência e com medo do que viria a seguir,
levantei-me e joguei o lenço na mesa demonstrando minha agonia.
​— Calma Lua. Sente-se. Você não será obrigada a nada, mas tenho uma
proposta a fazer pra você. Não se preocupe que eu não lhe tocarei, não se
trata de nada disso.
​Sentei-me e ouvi atentamente tudo o que ele tinha a me oferecer. Não
posso dizer que não achei loucura, de fato seu amigo precisava parar de
assistir filme, mas confesso que fiquei tentada. O que ele tinha a me
oferecer poderia ser um novo recomeço para mim assim como ele poderia
assumir a presidência dos negócios da família como era desejo de seu pai.
Um casamento por contrato não era algo tão fora do comum. E não seria tão
difícil me sentir esposa de um homem como ele, mesmo que fosse de
mentirinha.
​Pensei em todos os anos que passei deitando com homens da mais alta
classe social que estavam traindo suas esposas, de todas as vezes em que fui
enganada e até das noites em que precisava apanhar para ganhar o sustento
do dia seguinte. Um ano longe de toda essa vida que estava me desgastando
pouco a pouco não seria tão ruim.
Capítulo 13
Lucca

​ Preciso que prepare esse contrato pra mim, mas tem que ser no

sigilo.
​Não conseguia acreditar que estava fazendo isso, mas era o que iria
acontecer, e o mais rápido possível. Liguei para um amigo advogado e
enviei por e-mail todas as informações necessárias que deveriam estar no
contrato.
​Acordamos algumas coisas que seriam importantes para tudo dar certo e
funcionar perfeitamente. Precisava comprar um apartamento o mais rápido
possível e deixar no nome da Lua, quando nos separássemos depois de um
ano, o apartamento seria dela e assim ela não precisaria passar por mais
nenhuma necessidade, afinal, mesmo sendo um casamento falso, ela ainda
seria ex-esposa de um Martinelli.
​Um outro ponto importante que não poderia ficar de fora, era a ausência
de sexo. Lua não queria se sentir obrigada a ter relações sexuais comigo, o
que um casamento geralmente trazia, a responsabilidade de homem e
mulher como casal.
​Depois de nós dois analisarmos bem cada detalhe do contrato, e não
deixar nada passar. Entramos em um acordo e o selamos com um aperto de
mão assim como fazemos em qualquer outro negócio.
​Saímos juntos do hotel e fomos direto visitar alguns apartamentos que
ficassem próximo ao hotel. Assim, eu poderia ficar perto do trabalho e Lua
perto da praia, o que era um grande desejo seu.
​Ainda não sabia o que iria dizer para minha família, como anunciar que
iria me casar e que não demoraria tanto? Não tinha pensado em nada, mas
não estava disposto a desistir.
Capítulo 14
Lua

​ uinze dias depois...


Q
​Não dava nem pra acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. Desde
a escolha do apartamento, eu só pensava no dia em que poderia morar
naquele lugar. A vista para o mar era a melhor de todas e nunca em meus
maiores sonhos, imaginei algo parecido.
​Lucca não apareceu mais desde o dia que escolhemos o lugar que seria
nosso pelo período de um ano. A assinatura dos documentos fora feita todos
com o advogado que ele mesmo havia contratado, tanto para cuidar da
compra como do nosso contrato de casamento.
​Arrumei as poucas roupas que tínhamos comprado para o tempo que
ficaria no hotel e esperei a hora que o veria de novo, o momento em que
Lucca viria me buscar para finalmente assinar nosso contrato de casamento
e eu poder começar a morar no nosso apartamento.
​O telefone tocou...

​ Senhorita Holanda, é da recepção. O Senhor Martinelli pediu para



informar que ele lhe aguarda no estacionamento. Precisa de ajuda com as
malas?
​— Ah, tudo bem. Não precisa de ajuda não. Já estou indo.
​Como tudo era responsabilidade dele, não tinha nenhuma necessidade
passar na recepção para devolver a chave do quarto de hotel. Fui direto para
o estacionamento onde ele já me aguardava em seu carro. Talvez, por ser
dia e horário de trabalho, ele não quisera que ninguém o visse acompanhado
com uma mulher completamente desconhecida.
​— Oi. — Apenas o cumprimentei enquanto entrei em seu carro com
uma pequena bolsa de mão.
​— Vamos primeiro passar no escritório do Dr. Chagas, assinar nosso
contrato e poder passar para o passo seguinte.
​— Que seria?
​ Nosso casamento. — Me olhou com um ar de preocupação. Não sei

se estava arrependido, afinal, não havíamos mais nos falado e as únicas
informações que eu recebia, eram dadas pela recepcionista do hotel.
​— Você tem certeza de que quer continuar com essa ideia? Se caso
tenha mudado o pensamento, eu irei entender. — Precisava ter a certeza do
que ele estava pensando. Não queria também ser pega de surpresa e na hora
do casamento, ser deixada no altar.
​— Tenho toda certeza do que quero e não sou homem de voltar atrás. —
Seu tom ríspido e seu olhar frio até me assustou. Ele não parecia aquele
homem tão prestativo que conheci.
​Chegamos no escritório, descemos juntos de seu carro e o segui até uma
sala toda vidrada. Um homem bem distinto e novo levantou-se enquanto
entrávamos em sua sala sem ter sido anunciados. Ele não era bem o que
imaginei. Na minha mente, via um homem mais velho e barrigudo, e não
um homem alto, forte e esguio.
​Não demoramos muito, afinal, os pontos do contrato já haviam sido
decididos e conversados. Apenas uma coisa havia sido acrescentada. Na
última cláusula explicava que no final de um ano, quando este contrato já
não tivesse mais valia e nos divorciássemos, além do apartamento, eu
receberia uma quantia de duzentos mil reais.
​Eu não poderia recusar aquela oferta, afinal, teria um apartamento para
manter e aquele dinheiro poderia ser a oportunidade de começar uma
faculdade e mudar de vida.
Capítulo 15
Lucca

​ assar estes dias longe da Lua foi muito importante, eu não poderia
P
perder a cabeça e me apaixonar tão fácil assim. Nunca acreditei nessa
história de amor à primeira vista, mas vê-la tão indefesa aquela noite, fez
algo brotar dentro de mim. Não posso negar que sua beleza natural me
abalou fortemente e me fez delirar por várias noites.
​Quando assinamos o contrato, pensei: — Não tem mais volta. E só tinha
uma última coisa a fazer, apresentá-la para minha família.
​Não sei bem o que ainda vou fazer, como vou fazer, e isso estava
tirando o meu sono. O que iria dizer? Ninguém poderia saber as condições
com que estaríamos nos casando, mas precisaria inventar uma boa desculpa,
afinal, Enzo não deixaria nada disso barato. Sua inveja e o desejo por
ocupar o lugar que deve ser meu sempre falou mais alto do que o próprio
sangue.
​Saímos do escritório do Dr. Chagas e o destino seria nosso lar. Se é que
podia chamar assim. Deixei tudo por conta da Lua. Todos os móveis,
pintura, decoração. Tudo a seu gosto, afinal, minha moradia ali seria
temporária.
​— Está pronta? — Olhei para o lado do carona e a vi ansiosa enquanto
abraçava sua via do contrato. Sua garantia para daqui um ano.
​— Não sei se posso dizer pronta, mas ansiosa. — Um sorriso tímido e
nervoso brotou em seu rosto. Ah! Que belo sorriso.
​— Então vamos. Quero ver como tudo ficou.
​Seguimos para o apartamento e durante todo o percurso, a via olhar para
o lado de fora enquanto o vento batia em seu rosto severamente jogando
longe as lágrimas que escorriam. Espero eu, lágrimas de alegria. Apesar de
ser um casamento de mentirinha, ainda assim, estaria a prendendo a mim
por um ano. Como homem, sei que posso saciar meus desejos a qualquer
momento que ninguém me repreenderia, mas e ela? E sua felicidade? Ela
renunciou a tudo isso para me ajudar e claro, ela teria sua recompensa, mas
será que valia a pena?
​ Chegamos. — Disse enquanto estacionava o carro na nossa vaga de

garagem. Nossa. Tudo agora não era mais meu, mas nosso.
​— Você já ficará comigo aqui ou esperará o casamento?
​— Bem, trouxe algumas roupas. Antes de qualquer coisa, preciso
apresentar você para minha família e ainda estou pensando em como fazer
isso, mas hoje pretendo ficar aqui, tudo bem pra você?
— Claro, o apartamento também é seu. Na verdade, mas seu do que
meu.
​Suas palavras não foram frias, mas senti uma pontada apertar em meu
peito.
​O lugar estava magnífico. A sala minimalista, poucos móveis, um sofá
que ocupava todo espaço em seu contorno e uma pequena mesa no centro
com alguns livros em cima. Na varanda, plantas tornavam o lugar praiano
mais arborizado e uma rede que complementava a vista. Não era um lugar
tão grande, mas era o suficiente para nós dois. Na cozinha, um balcão
separava na sala de jantar, o que era necessário estava lá, nada mais e nada
menos. Um corredor nos levava a duas suítes e um banheiro social. Ambos
os quartos estavam decorados. Um, que acredito ser o meu, mais escuro.
Tons cinza e preto nos móveis. O outro, tons mais claros. Rosa e branco.
​— Está tudo perfeito Lua. — Disse enquanto desfazia minha mala e
organizava as roupas no móvel.
​— Que bom que gostou. Não sabia se lhe agradaria, afinal, a gente mal
se conhece.
​— Tem razão. Mas precisamos mudar essa situação. Precisamos nos
conhecer e muito bem. Minha mãe vai querer saber tudo sobre você e meus
irmãos mais ainda.
​— Nossa, até me deu um medo agora. Mas acho que posso me sair bem.
​— Hoje à noite vamos jantar juntos. Se você não tiver compromisso,
claro.
​— Não tenho não. Aceito seu convite. — Ela piscou um olho pra mim e
saiu. Fiquei paralisado com tanta beleza. Lua não estava usando as
maquiagens que usava quando a conheci. Agora, seu rosto parecia cada vez
mais lindo e suas sardas brilhavam e embelezavam toda sua face. Era tão
doce e angelical.
Capítulo 16
Lua

​ ão tenho uma roupa decente para ir jantar. Não sei onde estava com a
N
cabeça quando aceitei o convite. Mas também, não tinha como negar, afinal,
ele é meu noivo tecnicamente falando.
​Troquei umas dez vezes de roupa enquanto ele já devia estar me
esperando na sala. Podia sentir seus passos de um lado para o outro. Peguei
um vestido de cetim de cor bege e alcinhas, vesti e não ficou tão bom, o
sutiã aparecia e não ficou confortável. Retirei o sutiã e ficou perfeito. Será
que não fica tão sedutor? Talvez ele pense que eu queira seduzi-lo? Não
podemos ter relações sexuais, está no contrato, então, ele não pode fazer
nada.
​Passei um pouco de lápis no olho apenas para realçar o azul céu e passei
um pouco de brilho nos lábios. Lucca já havia deixado bem claro que não
gostava de muita maquiagem. Por que eu estaria preocupada com o que ele
ia pensar de mim? Meu coração acelerou quando me preparei para sair do
quarto como se eu fosse encontrar ali o amor da minha vida. Como se
existisse amor da vida.
​— Estou pronta. — Saí como se estivesse despreocupada e nada tensa
com aquele jantar.
​— Uau! Você está, deslumbrante.
​— Estou arrumada demais? Se eu estiver, pode falar que posso trocar.
​— Não, está perfeito. — Parecia que seu olhar atravessava meu vestido
pela maneira com que ele me encarou. E se for, não tenho problemas com
isso, Lucca não era de se jogar fora.
​— Você também está bem. Muito bonito. — Aproximei-me e abri mais
um botão de sua camisa social branca. — Assim está melhor. — Apoiei
minhas mãos em seu peitoral e pude sentir sua respiração acelerar. Nos
encaramos por alguns segundos que mais parecia uma eternidade.
​— Acho melhor irmos. — Ele interrompeu aquele momento
constrangedor e ao mesmo tempo tão esquisito.
​ aímos e fomos em direção a um dos melhores restaurantes da região.
S
Fomos exatamente no restaurante que sempre me imaginei com meu esposo
ou até mesmo sozinha, sendo dona da minha própria vida. Infelizmente, não
era como eu gostaria de estar, mas era melhor do que antes. Posso dizer que
estava acompanhada de um amigo.
​Comemos, bebemos e jogamos muita conversa fora. Foi de fato uma
boa oportunidade para nos conhecer melhor. Lucca apesar de ter esse rosto
sério e quase que intocável, amava sua família e eu pude entender os seus
motivos para fazer essa loucura de se casar mesmo sem amar alguém. Por
um momento, até havia esquecido o porquê de estar ali, me senti viva, e
feliz.
​Estava chegando a hora da sobremesa e Lucca começou a me contar seu
plano para me apresentar a sua família. Primeiro começaríamos pela sua
irmã que poderia ser mais compreensível. Como ele mesmo disse, ela
sempre quis vê-lo em um relacionamento sério, então, seria a cumplice
perfeita para apoiá-lo nessa decisão. Combinamos que iríamos contar meia
verdade sobre como nos conhecemos, seria menos perigoso e Lucca não
queria que eu me sentisse constrangida com a situação apesar de eu nunca
ter me sentido assim.
​Quando a sobremesa chegou, não pude acreditar no que aquele maluco
tinha preparado. O garçom se aproximou acompanhado de um violinista e
ao colocar o prato com um pudim de leite em minha frente, tinha um lindo
anel de noivado com uma pedra de diamante superdelicada. Por um
momento, não acreditei que fosse pra mim. Então, Lucca se ajoelhou,
segurou minhas mãos e me pediu em casamento.
​Nessa hora, todo o restaurante estava voltado pra nós dois que nos
sentamos discretamente numa mesa bem no fundo. As pessoas diziam: —
Aceita. Aceita. Diga sim.
​As palavras não saiam de minha boca e as lágrimas escorriam como se
tudo aquilo fosse real. E mesmo eu sabendo que não era, pude sonhar e
imaginar como seria esse momento. Eu apenas balancei em cabeça em sinal
de afirmação e enquanto Lucca colocava o anel em meu dedo e se
levantava, um coro gritou: — Beija, beija.
​— Posso? — Lucca sussurrou e eu pude ler seus lábios.
​— Sim. — Eu disse.
​Seus lábios se aproximaram do meu e pude senti-lo. Foi um beijo sem
calor, mas tão úmido que fez meu corpo se elevar como se fosse ser
arrebatada daquele lugar. O beijo tinha vida, tinha cor, tinha nome, e mesmo
não parecendo, tinha desejo e amor. Não durou três segundos, mas parecia
uma vida inteira. Suas mãos apertaram minha cintura com força, com
vontade. Senti seu calor e seu peito junto a mim. Pude ouvir seu coração
com o meu bater descompassado até nos afastarmos e receber os aplausos
de todos que estavam ali.
​— Vocês gostariam que eu tirasse uma foto? — Perguntou o garçom
que estava nos atendendo. Rapidamente, Lucca puxou de seu bolso o
celular e entregou nas mãos do garçom. Ele me puxou para seu lado e me
abraçou novamente. Era o registro daquele nosso momento. Nos olhamos e
mais uma foto. Era a prova de que estávamos juntos.
Capítulo 17
Lucca

​ ua boca. Macia e deliciosa. Apesar de ter sido breve, pude sentir


S
calafrios em todo meu corpo. Seu corpo deu choque no meu. Lembrei-me
das palavras de meu pai quando ele nos contava como havia conhecido
minha mãe. Ele dizia que parecia que ele havia sido arrebatado para outra
dimensão. Não podia ouvir mais nada a seu redor, era como se tudo tivesse
silenciado. Não podia aceitar sentir o que senti com Lua. Claro que ela me
dominava mesmo sem saber, sua beleza angelical não existia nenhuma outra
que pudesse se comparar e toda sua sensualidade me deixa atormentado de
desejo.
​Não podia acontecer diferente depois do nosso beijo. Estávamos os dois
constrangidos mais podia ver em seu rosto um sorriso interno.
​— Então, está tudo certo. Vamos embora?
​— Claro. Estava tudo delicioso. E, ... obrigada pela surpresa. Mesmo
sendo de mentirinha. — Ela sussurrou aproximando seu rosto por cima da
mesa.
​Caminhamos silenciosamente até o carro e partimos para nosso lar. Não
ia demorar muito para me acostumar a chamar aquele lugar, de meu lar.
​— Não tinha nada sobre aliança no contrato. Por que você fez isso? —
Ela questionou.
​— Bem, precisávamos de uma exposição. E um noivado em público era
nossa melhor opção. Eu sabia que não podia contar a você para termos a
reação mais verdadeira de surpresa.
​— Bem pensado. Eu me surpreendi.
​A música tocava no carro e era o único som que era emitido. Logo
chegamos ao apartamento e subimos. O elevador parecia não caber nós
dois. Senti um medo, uma ansiedade incontrolável. Queria perguntar sobre
o beijo, queria falar sobre o beijo, mas não sabia como começar.
​Entramos e ela se direcionou de imediato para seu quarto sem ao menos
dizer um boa noite. Ali mesmo, desabotoei a camisa, puxei para fora da
calça, peguei um drink de whisky e sentei-me na varanda. Estava tudo
escuro e apenas lembranças do que havia acontecido. Perdi a noção do
tempo e não percebi quando a luz da cozinha se acendeu e ela estava lá, de
camisola branca como um anjo. Observei atentamente sem falar nada
enquanto ela abria a geladeira, pegava um copo e se servia de água. Já era
madrugada e posso garantir que o único barulho que podia se ouvir, era do
meu coração acelerado ao vê-la.
​— Ei. — A chamei antes que ela voltasse a se esconder em seu
cantinho.
​— Que susto! O que você faz aqui? Pensei que já estivesse dormindo.
— Indagou ela assustada pondo suas mãos em seu coração.
​— Pensando. Que loucura tudo hoje né.
​— Sim. Foi tudo intenso. — Ela tomou sua água, guardou a garrafa e se
dirigiu até a varanda.
​— Posso te fazer uma pergunta?
​— Claro. — Respondeu enquanto ainda se aproximava e cruzava os
braços abraçando seu corpo para se proteger da maresia fria.
​— Você se chateou por eu tê-la beijado? — A pergunta saiu em alta
velocidade como quem buscava rapidamente uma resposta.
​— Claro que não. Acho que nos últimos anos você foi o homem mais
novo e mais bonito que eu beijei. E não vamos considerar aquilo um beijo
né.
​— Como assim? Não foi um beijo.
​— Para né Lucca. Aquilo foi no máximo um selinho. Um beijo é mais
intenso, você sente a alma do outro entregue a você. A troca de fluidos é tão
intensa que não podemos distinguir o que faz parte de um e de outro.
​— Então você é expert em beijo agora.
​— Não, longe de mim. Eu nunca tive um relacionamento verdadeiro pra
sentir tudo isso. Mas eu sei o que não é um beijo.
​— Como você pode nunca ter tido um relacionamento? Com vinte e
seis anos eu já devia ter tido uns dez pelo menos.
​— Você sabe que minha vida fugiu do convencional. Quem em plena
consciência iria querer ter um relacionamento com uma acompanhante de
luxo? Ninguém.
​— Eu estou. Mesmo que sendo de mentira. Nós somos um casal. Você é
minha noiva. — Aproximei-me dela e peguei sua mão onde estava a
aliança, com a outra mão, deslizei pelo seu rosto. Senti sua pele arrepiar e
seus olhos fecharem com o meu toque. Tentei parar, mas eu desejava tocá-
la, senti-la, cheirar seu pescoço. Me contive o máximo que pude até sentir
meu pênis se excitar. Sua camisola era fina o suficiente para perceber seus
mamilos ficarem eriçados. Ela também queria. Eu queria. Mas não
podíamos.
Capítulo 18
Lua

I​ sso não está correto. Talvez ele esteja um pouco bêbado. Mas lembrei-
me de que no jantar só havíamos tomado uma taça de vinho e uma de
champagne. A garrafa de whisky ainda estava cheia, talvez faltando uma
dose.
‘​— Não podemos Lucca. — Falei em voz alta, mas não conseguia me
desligar do seu toque.
​Seu corpo foi cada vez mais se aproximando e pude sentir seu peito
colado ao meu.
​— Eu sei Lua. Mas sei que você também quer.
​— E quem não gostaria de ter uma noite com um Martinelli? E você
não é de se jogar fora. Mas temos o contrato.
​— Assinamos hoje. Podemos fingir que assinaremos amanhã. — Pude
sentir seu hálito quente soprando em meu ouvido.
​— E amanhã você vai estar arrependido. Não acho que devemos.
​— Eu te quero desde aquela noite Lua. Só por uma noite. Estaremos um
ano como marido e mulher.
​Seu braço me abraçou e pude sentir sua pele quente se aproximando da
minha e seu pênis parecia estourar sua calça. Não tinha como resistir àquele
homem mesmo sabendo que era errado. Mesmo sabendo que não devíamos
nos envolver emocionalmente.
​Sua boca se aproximou da minha.
​— Me mostra como é um beijo de verdade anjo. — Ele falou enquanto
aproximava seus lábios do meu e me olhou no fundo dos olhos. Ele me
chamou de anjo.
​Não entendi o que ele quis dizer com aquilo, mas depois do que ouvi,
não tive mais saída e nem forças pra lutar com meu desejo ansioso por tê-lo
dentro de mim.
​Nos beijamos com toda nossa força. Ele me empurrou para dentro da
sala enquanto ainda estávamos nos beijando, me apertou contra a parede,
levantou minha camisola buscando minha calcinha, mas eu estava sem ela.
Ele olhou para mim como se estivesse surpreso e eu apenas sorri. Enquanto
tirava minha roupa, eu desabotoava sua calça e a tirava deixando-o apenas
com sua cueca branca já úmida de desejo.
​Me segurando pelas mãos, Lucca me levou até seu quarto. Me parou a
sua frente e ficou me olhando. Suspirou e voltou a me beijar. Era um beijo
intenso e ao mesmo tempo doce. Ele se preocupava se estava me
machucando ou se estava gostoso daquele jeito. Enquanto sua mão
deslizava pelo meu corpo nu, eu segurava seu pescoço o beijando ainda
mais. Eu me virei para tomar o controle da situação e o joguei em sua cama.
Subi de joelhos em cima dele e tirei sua cueca. Seu volume estava apetitoso
e eu o abocanhei fazendo movimentos para cima e para baixo enquanto com
uma das mãos segurava seu pau firme.
​Podia ouvi-lo gemer de prazer e pedir por mais. Diferente dos outros
homens com quem me deitei, ele não segurou minha cabeça para controlar
meus movimentos. Ele estava gostando de como eu estava fazendo.
​Parei antes que ele gozasse em minha boca e beijando seu corpo, subi
lentamente o deixando ainda mais excitado. O beijei e ele me beijou.
​Passamos a noite juntos e posso afirmar que foi a melhor noite de sexo
que já tive em toda minha vida. Não me senti usada, apesar de saber que
tudo o que havíamos vivido, também não era tão real assim, mas eu queria
aquela noite, eu desejei aquele homem e fiz sexo porque queria fazer, e não
porque precisava fazer.
​Enquanto seu pau pressionava dentro de mim, me senti indo parar em
outra dimensão. Sabia que tudo aquilo era real, mas era tão bom, tudo tão
mágico, que parecia tudo um sonho.
​Quando ele gozou dentro de mim. Virou para o lado e me abraçou por
trás. Ficamos ali, de conchinha até ele adormecer. Levantei-me para fazer
um asseio e voltei para seus braços. Não queria que o dia chegasse, queria
ficar ali, quentinha e me sentindo segura.
Capítulo 19
Lucca

​ cordei e me deparei com Lua a meu lado. Nessa hora, lembrei-me da


A
noite tórrida de amor que tivemos. Minha cabeça latejava incessantemente.
O sol que adentrava a janela de meu quarto, iluminava seu rosto. Seu corpo
semicoberto deixou a mostra seu pescoço e parte de seus seios. Voltou a
minha memória que há algumas horas, eles estavam em minha boca, e
como estavam deliciosos.
​Balancei a cabeça antes que começasse a pensar outras coisas. Levantei-
me ainda nu e fui até a cozinha em busca de algum remédio para amenizar a
dor que teimava em permanecer.
​Meu telefone tocou.
​— Oi? — Perguntei sem nem olhar quem havia atendido a ligação.
​— Lucca? Onde você está? Quer matar a mamãe do coração?
​— Antonella? O que aconteceu?
​— O que aconteceu que você não voltou pra casa Lucca. Onde você
está? Ainda está bêbado?
​— Claro que não. Estou com dor de cabeça. Eu estou bem, devo ir pra
casa na hora do almoço. Tenho uma surpresa pra vocês. Avisa a mamãe pra
colocar mais um lugar a mesa.
​— O que? Não acredito. Meu irmãozinho está namorando?
​— Mais do que isso. Estou noivo.
​— Como assim Lucca, você não havia falado nada pra gente. Por que
isso agora? Isso é por culpa da carta do papai?
​— Claro que não. A gente já estava ficando, mas não era nada sério. E
então, as coisas começaram a esquentar um pouco. Mas quando eu estiver
aí, a gente conversa tá bom. Preciso ir agora. — Desliguei antes dela falar
qualquer coisa. Sabia que esse momento ia chegar, e por que adiar se
preciso casar-me logo? Foi uma boa oportunidade.
​Voltei para o quarto e a encontrei sentada cobrindo seu corpo com o
lençol. Ela parecia encolhida e com um certo medo. Talvez tenha escutado a
conversa que tive com minha irmã ou talvez estivesse arrependida pela
noite anterior.
​— Ei, bom dia. — Disse enquanto voltava para a cama apertando minha
testa.
​— Você está bem? — Ela perguntou.
​— Sim, apenas com um pouco de dor de cabeça. — Deitei-me na cama
com o corpo esticado e não liguei para o fato de estar pelado. Afinal, o que
seria me ver nu na frente do que havíamos feito antes? Meu pênis em sua
boca, seus seios na minha. Meu pênis dentro de sua vagina e de seu ânus.
Mesmo sendo um casamento por contrato, quebramos umas das regras e
não porque fomos forçados, mas porque queríamos e era isso que
importava.
​— Você não vai se cobrir?
​— Por quê? Você já me viu pelado antes.
​— Tudo bem. — Ela disse permanecendo encolhida e coberta.
​Olhei para seu rosto e a vi assustada.
​— Você está bem? — Perguntei sentando-me a seu lado.
​— Não sei. Não consigo entender o que está acontecendo. Você poderia
me responder?
​— Como assim. Tivemos uma noite de sexo. Não foi isso que
aconteceu?
​— Então foi isso que aconteceu? Não foi mais nada pra você? — Ela
perguntou e eu sabia onde ela queria chegar. Não sabia muito bem o que
dizer, mas não queria e nem podia abrir meu coração para o que de fato
estava sentindo. Eu a estava amando, mas não podia amar, estava
desejando, mas não podia desejar e tudo o que mais queria era ficar a seu
lado, mas não podia compartilhar nada disso com ela, não até ter minha
vida resolvida e até ter certeza de que ela é de fato a mulher que seria minha
esposa.
​— Lua, claro que não vou negar que você é linda, sexy e gostosa. Mas,
temos um contrato. Combinamos uma coisa e até já descumprimos, mas é
apenas isso, e nada mais.
​— Então todo aquele frenesi era só desejo. Bem que imaginei. — Ela
levantou da cama e jogou os lençóis em cima de mim. Vi seu corpo nu
dando a volta em minha cama e as lembranças da noite anterior tomaram
conta de mim. Meu pau começou a ficar duro desejando meter em sua
vagina, desejando que sua boca me chupasse todo, mas eu já havia
estragado tudo.
​A deixei ir, mas antes que ela saísse, avisei de nosso almoço com minha
família. Disso ela não podia escapar.
​Fui tomar um banho para esfriar minha cabeça. Tanto a de cima como a
de baixo. Meu pau latejava. Segurei com minhas mãos tentando pressionar
para que parasse, mas ele a desejava. Peguei em meu celular nossa foto de
noivado, dei um zoom em seu decote, segurei firme meu pau, fechei os
olhos e friccionei para frente e para trás como se estivesse metendo nela.
Enquanto a água caía na banheira, gemia sem nem perceber. Pressionei com
tanta vontade até chegar ao ápice e liberar o líquido para fora. Eu gozei
pensando nela mesmo ela estando perto de mim.
Capítulo 20
Lua

​ ão sei por que me decepcionei com ele. Sabia que isso podia
N
acontecer, mas bem no fundo, tinha esperanças.
​Procurei a melhor roupa e mais discreta para ir ao almoço com a família
Martinelli. Tinha que estar preparada para o que viesse a acontecer. Lucca
já havia me passado algumas informações sobre eles e depois, pesquisei um
pouco mais. Eu estaria como noiva do filho mais velho, como sua futura
esposa e futura mãe de seus filhos. Teria que atuar por pelo menos duas
horas, mas isso não seria tão difícil. Não era tão difícil se apaixonar por
aquele homem.
​Vestindo um vestido florido e calçando um allstar branco, com o cabelo
preso num coque solto no topo da cabeça, saí do meu quarto ao mesmo
tempo em que Lucca aparece com uma bermuda azul e uma camisa gola
polo cinza. Ele ficou parado me olhando dos pés à cabeça e eu o interrompi.
​— Não está bom?
​— Desculpa, está perfeito.
​Ele aproximou-se, deslizou seus dedos pelo meu rosto descendo pelo
pescoço. Um leve calafrio tomou conta do meu corpo me fazendo puxar o
ar com força dos meus pulmões.
​— Me desculpa. — Disse me olhando enquanto sua mão repousava no
meu busto. — Não queria que você pensasse que eu apenas te usei. Eu
queria ter aquela noite com você e teria outras vezes, só não quero que a
gente confunda nada.
​Eu não queria e nem sabia que isso iria acontecer, mas nessa hora, uma
lágrima desceu dos meus olhos.
​— Eu acredito em você mesmo não querendo acreditar.
​— Mas porque está chorando? — Perguntou enquanto subiu sua mão
para aparar a lágrima que escorria.
​— Eu não sei Lucca. Melhor a gente ir antes que atrasemos. — Tentei
passar, mas ele me segurou pelos braços e puxou-me para perto. Ele me
abraçou com força e ali, era o meu lugar de paz.
​ ua respiração em meu ouvido era forte, seu coração estava acelerado
S
de forma descompassada. Pude sentir seu sangue correndo pelas suas veias.

​— Lua. — Sussurrou. — Eu quero estar dentro de você.

​— Dentro como Lucca?

​ De todas as formas. Dentro do seu coração e do seu corpo. — Ele me



segurou pelos ombros e vi lágrimas se formando em seus olhos. Não resisti
e o beijei. Pulei em seu pescoço e enquanto o beijava, entramos em meu
quarto. Ele me jogou na cama ansioso, puxou minha calcinha, abriu minhas
pernas, abriu o zíper de sua bermuda e colocou seu pau para fora. Se
ajoelhou na cama e meteu em mim seu pau duro e excitado. Enquanto ele
metia com vontade, seus olhos não deixaram os meus.

​ oi intenso e animal ao mesmo tempo que foi romântico. Meus olhos


F
com os seus, nossos corpos em perfeita sintonia e junção. Éramos o perfeito
encaixe de desejo e tesão.

​ le gozou mais uma vez e não pudemos ficar como queríamos.


E
Tínhamos um almoço a nossa espera. Tínhamos um compromisso para
contar. O que seria daqui pra frente, não sei. Mas sei que não seria a mesma
coisa.
Capítulo 21
Lucca

​ ua me era suficiente. Linda, doce e angelical. Dependente e


L
independente. Quando tudo da vida ela havia vivido, necessitava de carinho
e atenção. Eu estava disposto a fazer dar certo esse nosso compromisso de
casamento. O que viria depois, não podia pensar.

​ aímos um pouco atrasados para o almoço, mas bem a tempo de sobrar


S
algo pra gente.

​ ntramos no carro e diferente das outras vezes, estávamos mais


E
conectados. Pus minha mão sobre sua coxa, e ela pôs sua mão em cima da
minha. Não podia deixar de viver esse momento e nem deixar de aproveitar.
Como sempre dizem, o que tiver que ser, será.

​Antonella já estava a porta da mansão nos esperando ansiosa. Mais do


que qualquer ser humano, ela era a pessoa mais especial que alguém podia
ter como amiga e eu a tenho como minha irmã.

​ Já estava ficando preocupada. — Disse vindo em minha direção de



braços abertos pronta para me abraçar.

​ Tivemos um imprevisto. — Respondi olhando para Lua deixando



claro o que talvez pudesse nos ter feito atrasar.

​ Eu até imagino. Olha que linda. Até eu atrasaria irmão. — Falou



olhando para Lua e indo a seu encontro dando um forte abraço. — Seja
bem-vinda a família querida.

​ Antonella, essa é Lua. Minha noiva. — Aproximei-me e pus as mãos



em sua cintura.
​ Muito prazer Lua. Vocês fazem um casal muito bonito, mas você não

vai me escapar. Quero saber de tudo. Vamos entrar porque você sabe né,
Enzo não para de reclamar.

​ ntramos e encontrei minha mãe e meu irmão reunidos na mesa. Logo,


E
apresentei Lua a todos que a receberam muito bem, mesmo meu irmão que
ficou soltando suas alfinetadas sobre ter sido tão repentino esse noivado
visto que era uma boa condição para que eu assumisse a presidência da
empresa.

​ s coisas aconteceram melhor do que eu podia imaginar. Minha mãe


A
estava aparentemente feliz em me ver feliz. Lua parecia estar bem à vontade
e talvez, nem tão preocupada assim em disfarçar nosso romance. Ela
parecia sincera a tudo o que falava e contava sobre nós.

​ Então Lucca, já tem a data do casamento? — Enzo perguntou com



seu tom de deboche.

​ Ainda estamos vendo. Não decidimos nada. — Firme em minha



resposta, ignorei qualquer indireta.

​ Irmão, não pode demorar. Vocês já sabem onde vão morar? —



Antonella perguntou.

​ Bem, na verdade eu comprei um apartamento tem algumas semanas.



Como já estava com o pensamento de pedi-la em casamento, me antecipei.

​ Nossa filho, você não falou nada pra gente. — Questionou minha

mãe.

​— E como vocês se conheceram? — Perguntou Enzo.

J​ á tínhamos combinado uma história e contaríamos meia verdade.


Então, fizemos uma cena nesse momento apenas para despistar qualquer
questionamento de Enzo ou de quem quer que fosse.

​— Prefiro deixar Lua contar da maneira dela.


​ ua começou a falar que havíamos nos conhecidos há alguns anos num
L
evento e ficamos apenas aquela noite. Depois, ela contou que perdemos
contato, e que como modelo, viajava muito, então, não tinha motivos para
se prender a alguém naquela época. Somente há algumas semanas nos
encontramos novamente na inauguração de uma boate por pura sorte ou
destino. E claro, a química ainda permanecia a mesma. Nos envolvemos e
resolvemos dar uma chance para o amor.

​ Nossa! Que romântico Lucca. — Boba, Antonella se derreteu com a



história romântica contada.

​ Entendi. Boa sorte pra vocês. Casal. — Foram as últimas palavras de



Enzo antes de sair da sala e subir talvez para seu quarto.
Capítulo 22
Lua

​ almoço em família foi um sucesso. Acredito que não tenhamos


O
deixado nenhuma suspeita. Todos, até Enzo pareceu acreditar na nossa
história de casal apaixonado que o destino ou a sorte resolveu unir
novamente.

​Voltamos já no final da tarde bem cansados.

​ ucca, estava um pouco mais leve e talvez até despreocupado por ter
L
tirado um peso de cima dos seus ombros, o passo seguinte agora seria
organizar um casamento simples e o mais rápido possível. Ele tinha apenas
seis meses para providenciar um casamento, e nós não podíamos esperar
esse tempo todo, afinal, nosso contrato só durava um ano apesar de que eu
estava começando a querer que durasse uma eternidade.

​ s dias foram passando e enquanto Lucca saia todo dia para o trabalho,
O
eu ficava em casa ou às vezes caminhava no calçadão da praia apenas para
relaxar. Não tinha muito o que fazer e a ociosidade estava começando a me
matar por dentro.

J​ á fazia um mês desde que nos mudamos e a data do casamento estava


ficando mais próxima. Lucca não estava mais tão frio, porém,
continuávamos dormindo em quartos separados mesmo tendo algumas
recaídas.

​ Lucca, falta apenas quinze dias para o nosso casamento. Como você

está se sentindo? — Quebrei o gelo enquanto tomávamos nosso café da
manhã.
​ Pensei que ficaria mais nervoso, mas estou até tranquilo. Depois que

casarmos, as coisas vão melhorar.

​ Mas tem alguma coisa acontecendo? — Perguntei achando que sua



expressão não era das melhores.

​ Bem, é apenas Enzo tentando me desestruturar. Ele sempre quis o



cargo que papai deixou para mim, e agora que está vendo seu desejo ir por
água abaixo, vem causando problemas dentro da empresa.

​— Mas isso pode prejudicar nós dois?

​ Não, claro que não. —Ele respondeu um pouco certo de que não

tinha problema de fato. — Por falar em nós dois, estava pensando uma
coisa. O que acha de fazer uma faculdade?

​ Como assim? Não está satisfeito comigo do jeito que estou? — Não

entendi onde Lucca estava querendo chegar. Fazer uma faculdade é tudo o
que sempre quis, mas porque tinha que trazer essa questão?

​ Não é nada disso Lua, eu só pensei que talvez você quisesse fazer

alguma coisa ao invés de só ficar presa nesse apartamento sozinha.

​ Tudo bem. Desculpa. — Me senti constrangida com a reação que



acabara de ter. — Claro que penso em uma faculdade, mas não tenho como
pagar.

​ Você sabe que isso não é problema, enquanto estivermos juntos, você

é minha responsabilidade. Procure a faculdade, o curso e me fale, e não
demore. — Disse enquanto levantou-se da mesa e foi para seu quarto
terminar de se arrumar.
Capítulo 23
Lucca

​ ogo agora que as coisas estão prestes a entrar no caminho certo, vem
L
esse problema financeiro na empresa. Ainda não assumi a presidência, mas
sem dúvidas que esse problema pode ser um empecilho para que eu assuma
mesmo tendo cumprido o desejo de meu pai.

​ epois de tomar meu café da manhã como todos os dias e tendo


D
resistido mais uma vez aos encantos de Lua, me dirigi ao escritório para
tentar resolver e descobrir o que de fato pode ter causado essas compras
fantasmas que constam minha assinatura. A compra do meu apartamento a
vista é um dos maiores motivos para toda essa desconfiança e justifica a
auditoria pedida pelo meu irmão que é responsável pelas finanças da
empresa.

​ Sr. Martinelli, precisamos das suas informações bancárias mais



atuais. — Veio logo me solicitando o auditor da empresa que contratamos.

​ Toda documentação que foi solicitada eu já enviei para o Enzo. O



que mais querem ver?


— Eu sei senhor, mas encontramos algumas divergências da
documentação que nos foi enviada com alguns lançamentos na empresa.

​ ão deveria haver divergência nenhuma. Todo dinheiro só sai da


N
empresa com autorização do meu irmão, e eu, não havia solicitado nada a
ele. Tanto que nem ele sabia da compra do meu apartamento.

​ Solicitarei ao banco que enviem o que for necessário. Agora eu



preciso de um tempo por favor.
​ homem saiu e me deixou ir até minha sala. Lá, estavam minha mãe e
O
Antonella tensas e sem saber no que acreditar.
​— O que fazem aqui? — Perguntei curioso.
​— Meu filho, me diga que você não fez nada disso.
​— Fez o que mãe, não estou sabendo de nada.
​— Enzo já confessou Lucca. Disse que você havia solicitado um
dinheiro pra ele e que ele liberou, mas não sabia pra que era. — Disse
minha irmã com tristeza em seu olhar.
​— Mas é claro que isso é mentira. Eu nunca solicitei dinheiro nenhum a
ele. Comprei o apartamento com o meu dinheiro e dos investimentos que
venho fazendo há muitos anos. Não dependo apenas do que recebo dos
hotéis.
​— E como consta um recebimento de quinhentos mil na sua conta meu
filho?
​— Oi? — Respondi atônito e sem acreditar nas palavras que saiam da
boca de minha mãe. Não me recordava de algum dia ter recebido uma
transferência de um valor tão alto como esse de uma só vez. — Isso só pode
ser um engano. Entreguei toda documentação ao Enzo e estava tudo
certinho.
​— Lucca, nós queremos muito acreditar em você, mas está no seu
extrato. — Minha irmã afirmou com tanta tristeza no rosto que até eu fiquei
na dúvida se de fato havia solicitado ou não esse valor em algum momento.
Às vezes uma mentira é tão bem contada, que nos deixa na dúvida e engana
nossa mente.
​— Olha, acabei de autorizar o banco a enviar diretamente meu extrato
ao auditor, mas se quiserem ver, está aqui meu extrato bancário. Podem
verificar se tem alguma transferência nesse valor ou próximo nos últimos
meses. — Entreguei meu celular com meu extrato bancário aberto
diretamente do aplicativo do banco. Antonella o segurou e procurou nos
últimos cinco meses e nada encontrou.
​— De fato, não tem nada. Estranho. — Disse me devolvendo o celular.
— O que será que pode ter acontecido?
​— Eu até desconfio, mas prefiro ter certeza. — Me direcionei a porta da
minha sala — Podem ficar à vontade, volto logo.
​— O que você vai fazer Lucca. Me explica o que está acontecendo.
​— Não se preocupe mãe. Só preciso confirmar uma coisinha.
​ ão era a primeira vez que tínhamos problemas financeiros na empresa.
N
Algumas outras vezes, meu pai deixou tudo coberto por panos para
ninguém ficar sabendo dos desfalques que meu irmão fazia, e eu não tinha
nenhuma dúvida de que poderia ter o dedo sujo dele nessa história.
​Cheguei em sua sala e o confrontei.
​Óbvio que ele negou qualquer artimanha, mas nada que tenha me
convencido do contrário. Não tinha muito o que fazer a não ser aguardar a
conferência da auditoria que iria receber do banco meus extratos bancários.
Por via das dúvidas, solicitei também que a auditoria pedisse os extratos
bancários dos outros sócios, no caso, minha mãe, minha irmã e Enzo.
Capítulo 24
Lua

​ ma semana depois
U
​Tem uma semana desde que Lucca foi afastado de suas atividades na
empresa até tudo ser esclarecido e confirmado. Durante estes dias, ele
reversou entre dormir aqui comigo e dormir em sua casa, apesar de que em
todas as vezes em que dormiu lá, chegava no outro dia cada vez pior por ter
que aturar as piadinhas de seu irmão.
​Faltam apenas alguns dias para o nosso casamento e mesmo diante de
toda essa situação, Lucca não quis adiar ou desistir.
​Conviver com sua presença era cada dia mais suportável e bom. Apesar
de estar cheio de problemas para resolver, em todo momento ele me tratou
com delicadeza e paciência. Mesmo nas noites de sexo, Lucca era
romântico e cuidadoso.
​— Bom dia. — Seus olhos se abriram e se encontraram com os meus.
​— Oi. O que acha de levantarmos e fazer alguma coisa hoje?
​— A ideia de levantar é boa, mas não posso sair hoje, preciso aguardar
minha mãe ligar. Ela mandou uma mensagem na madrugada avisando que a
auditoria seria concluída hoje.
​— Nossa! Que bom Lucca. Fico feliz que tudo isso vai acabar.
​— Bem, na verdade será o recomeço. Temos um casamento em alguns
dias e aí sim, tudo vai acabar. — Suas palavras me deixaram mais nervosa.
Meu medo de descobrirem que era um casamento arranjado era imenso.
Talvez tudo isso prejudicasse apenas a ele mesmo dentro da empresa. Era
necessário que um presidente tivesse bom caráter e honra.
​Ficamos o dia todo esperando alguma resposta, alguma ligação, algum
e-mail. Qualquer informação que pudesse mudar a tensão que tomava conta
do ar da nossa sala.

Notícia do jornal
​Acabamos de receber a informação de que Enzo Martinelli, diretor
financeiro da rede de hotéis Martinelli, foi destituído do seu cargo na
empresa. Fontes confiáveis informaram que Enzo fez um desvio de meio
milhão de reais enviando para uma de suas contas no exterior. Foi
constatado também que durante os últimos anos, Enzo desviava valores
menores e distribuía entre suas três contas no exterior para despistar
qualquer suspeita.
​— Preciso ligar para minha mãe agora.
​— Você precisa se acalmar. Ela deve estar nervosa e você não pode agir
sem pensar.
​— Você tem razão. Se arrume, vamos até a mansão. — Lucca saiu para
seu quarto e vestiu a primeira roupa que deve ter encontrado. Fiz o que ele
me pediu e coloquei uma calça jeans e uma blusa gola polo para não o
deixar mais nervoso ainda. — O que você pensa em fazer?
​— No momento o mais importante é ficar ao lado da minha mãe. Ela
não merece está passando por mais essa desgraça. Meu irmão não devia ter
feito isso com ela. — Enquanto íamos para o estacionamento do prédio,
pensei em como ele poderia estar mais preocupado com sua mãe do que
com sua reputação que poderia ter sido afetada.
Todo esse tempo a seu lado me fez conhecer um homem cada vez
mais admirável. No meu pior momento, foi ele quem apareceu e me
estendeu a mão. Por diversas vezes no dia, batia em meu rosto para me
fazer acordar para a realidade. O que temos é muito bom e gostoso, mas
esse é apenas um casamento arranjado. O que temos vivido tem sido
memorável, mas tudo não passa de um contrato.
As coisas não estavam muito boas quando chegamos na casa da
família Martinelli. Enzo já não voltava para casa há dois dias e nessas
circunstâncias, pensávamos que pudesse ter acontecido o pior. Antonella e
Lucca começaram a ligar para todos os hospitais da região e fora dela
procurando por ele, mas o pouco que conheço dele, tudo pode ser possível,
até mesmo uma fuga para não arcar com as consequências de seus atos.
Apesar de passar a maior parte do seu tempo na mansão dos
Martinelli, Enzo também tinha seu próprio apartamento, o lugar onde
poderia mais ser chamado de motel do que de um lar. Saí com Lucca a sua
procura e não o encontramos lá. Voltamos para a mansão onde se
encontravam sua mãe muito preocupada e sua irmã aflita. A polícia estava o
tempo todo no jardim a sua espera para prestação de esclarecimentos,
afinal, toda a diretoria da empresa estava questionando os seus atos e
pedindo pressa para que Lucca assumisse de imediato sua posição como
presidente.
Dois dias se passaram e durante este período, dormimos na mansão
para dar suporte e apoio a matriarca quando o telefone principal da casa
toca e acorda a todos nós assustados a espera de qualquer ligação. Enzo
sofrera um acidente de carro na noite anterior ao resultado da auditoria e
não portava nenhuma documentação ou aparelho de celular, o que
impossibilitou qualquer contato com sua família, foi graças aos jornais e a
grande busca da polícia que médicos e enfermeiros o reconheceram.
Depois de alguns dias, mesmo com Enzo ainda no hospital, o
mesmo foi afastado do seu cargo na empresa se mantendo apenas como
sócio devido as suas ações. A polícia o impediu de sair do país e até do
estado até que todas as acusações fossem apuradas e a condenação saísse
como deve acontecer, porém, devido a seu acidente, ficou em sua
residência, no caso, ele foi para o seu apartamento acompanhado de uma
enfermeira que ele mesmo contratou para tomar de conta das suas
necessidades.
Capítulo 25
Lua

Depois das coisas parcialmente resolvidas, poderíamos retomar os


preparativos para o casamento. Lucca ficou mais afastado do nosso
apartamento e decidiu ficar com sua mãe até que estivéssemos casados.
Diante de todos os acontecimentos, precisamos acelerar para que Lucca
pudesse assumir a presidência o mais rápido possível e as ações da empresa
pudessem se estabilizar. Assim, restavam poucos dias para que tudo ficasse
organizado.
Os dias que estive sozinha foram os mais difíceis desde que o
conheci. Seu cheiro me fazia falta, sua voz, seu carinho. Eu poderia ter
certeza do quanto estava apaixonada por quem não devia. Mal nos
comunicamos e as poucas vezes que nos falamos era apenas para tratar do
nosso negócio: “nosso casamento”.
Eu poderia ter a certeza de que para Lucca, tudo não passava de
negócios como era desde o início. Ele não parecia sentir minha falta nem
dos nossos momentos juntos. Aquele homem que eu conheci intimamente já
não estava mais ali.
Antonella aparecia no apartamento para desabafar e contar sobre
suas aventuras amorosas, nossa relação havia se estreitado bastante desde
que fiquei na mansão por uns dias e eu gostava disso. Ela confiava em mim
assim como eu também confiava nela. Não tinha muitos amigos e ela se
tornou essa pessoa a meu lado. Me doía saber que tudo isso um dia poderia
acabar, principalmente depois do nosso divórcio.
Agora, apenas uma semana nos distancia do cumprimento do nosso
contrato.
Eu já me preparava pra dormir quando a campainha toca. Já era
tarde da noite e Antonella estava parada em minha porta com uma cara não
muito agradável. Eu penso no que poderia ter acontecido e enquanto não
abro, ela começa a bater com força gritando pelo meu nome e pedindo que
eu abra depressa. Preocupada que algo tenha acontecido a Lucca, abro
depressa sem pestanejar mais.
— O que você pensa que está fazendo? — Me questiona ainda
parada na porta do apartamento.
— Como assim Antonella? O que aconteceu? — Perguntei sem
entender do que ela estava falando.
— Você pensou mesmo que poderia enganar meu irmão desse jeito?
Ainda bem que meu irmão descobriu tudo antes e todo mundo duvidando
das suas intenções. Meu Deus, como eu fui burra de acreditar em você.
Pensei mesmo que éramos amigas.
— Antonella, entra por favor. Já está tarde e os vizinhos podem
chamar a segurança. — Pedi com cautela.
— Agora você está com vergonha de ser uma garota de programa?
— Disse em alto e bom tom pausadamente.
Rapidamente e boquiaberta, a puxei para dentro do apartamento não
porque estava com vergonha de alguém descobrir, mas para não acordar os
moradores daquele andar ou até mesmo do prédio todo.
— Quem contou isso pra você? O que seu irmão tem a ver com
isso? Como assim eu estou enganando? — Questionei por não entender o
que ela estava tentando dizer, visto que eu não estava enganando ninguém,
apenas aceitei a proposta de Lucca de uma ideia que ele mesmo teve.
— O Enzo me contou tudo. E ainda por cima, você é a culpada pelo
acidente dele. Foi seu cafetão quem contou tudo pra ele e ainda o perseguiu
naquela noite querendo dinheiro. Foi por isso que ele capotou o carro.
— Mas eu nunca tive cafetão. Sempre trabalhei por minha conta. —
Disse sentando-me no sofá pensando em todas as possibilidades existentes
sobre quem seria essa pessoa que havia contado a Enzo sobre meu passado
não tão distante.
— Meu Deus Lua. — Sentou-se no mesmo sofá que eu. — Você não
está nem negando essa situação.
— Eu posso explicar tudo Antonella, se você deixar. E isso não é
nada do que você está pensando. Mas eu preciso saber o nome desse
“cafetão” que Enzo falou pra você.
Antonella mesmo com muita raiva que podia ser transmitido pelo
seu olhar, me contou com calma e com detalhes de tudo o que Enzo havia
lhe dito. Claro que na versão dele. Sua desculpa era de ter ido pesquisar um
pouco mais sobre mim, afinal, ele amava o irmão e não podia deixar que ele
se casasse com qualquer uma. Depois de muitas perguntas e investigação,
ele chegou até o homem cujo se apresentou como meu cafetão: O Bebê. Foi
ele quem disse que eu era garota de programa e que eu havia fugido dele
porque estava lhe devendo muita grana dos programas que havia feito.
— Ele não está falando 100% mentiras. Eu de fato estou devendo a
ele, mas não fugi e o que devo é de aluguel, pois eu morava num muquifo
que ele chama de casa e foi ele mesmo quem me despejou e jogou o pouco
que eu tinha na rua. — Fui contando toda história até chegar no momento
em que estou agora. Prestes a me casar com seu irmão por contrato.
Antonella não parecia acreditar no começo, mas no fim, ficou
satisfeita com a minha história, porém, triste por saber que tudo não passava
de uma encenação.
— Então quer dizer que meu irmão não é esse romântico
apaixonado. Ele continua rabugento e seco como sempre foi? Mas Lua, por
que você concordou com tudo isso? Ele te obrigou? — Claro que
não. Eu também me beneficiaria. Não posso negar nada disso a você. Como
também não posso concordar com o que você pensa sobre seu irmão. Ele é
sim romântico apaixonado. Apesar de tudo não passar de um contrato, ele
sempre me tratou com muito carinho e respeito. — Disse valorizando-o.
— Meu Deus Lua, eu não acredito que você se apaixonou?
— Claro que não. — Disse, porém, minhas bochechas logo ficaram
rosadas de vergonha. — Eu não sei. Talvez sim.
— Eu vou te contar um segredo. Todas as ex-namoradas do Lucca
reclamaram dele pra mim, você está sendo a única que o está elogiando.
Será que ele também se apaixonou por você?
— Eu duvido. Já estamos alguns dias longe um do outro e daqui a
três dias deve ser nosso casamento. Quer dizer. — Me voltei para ela. —
Isso se não tiver problema nenhum pra você e pudermos continuar com
nosso plano.
— Eu não sei Lua. Gosto muito de você, mas preciso conversar com
Lucca primeiro e entender o que passa na cabeça dele.
— Eu entendo. Fica tranquila. Vou aguardar resposta de vocês.
Nos despedimos e me senti aliviada por pelo menos não ter perdido,
ou achar que não perdi a amizade de Antonella.
Capítulo 26
Lucca

Ficar longe de Lua tem sido sufocante, mas diante de tudo o que
passamos nos últimos dias, precisei dar forças a minha mãe, afinal de
contas, não faz muito tempo da perca do meu pai, e agora todo esse
escândalo envolvendo o meu nome e o acidente de Enzo. Tudo isso e o meu
desejo de querer estar com Lua ser muito forte, precisava me afastar um
pouco e colocar em ordem os meus sentimentos, se é que tenho de fato
algum por ela.
Agora só faltam três dias, e todo esse tempo longe só me fez ter
certeza de uma coisa: Eu não consigo esquecê-la por nenhum instante. Tudo
a meu redor me faz pensar em Lua. Se ando na rua, penso que ela amaria
estar ali, se faço compras, quero comprar o que ela gosta de comer, se
assisto um filme, deixo salvo na minha lista para assistir com ela novamente
depois. Se isso não for amor, então não sei o que pode ser. Nunca tive
muitas experiências boas nos meus relacionamentos.
Sou acordado no meio da noite por Antonella batendo na porta do
meu quarto.
— Meu Deus, você não tem nada pra fazer Antonella? — Perguntei
com cara de sono.
— Eu já sei de tudo. Você não tem vergonha de fazer uma proposta
indecente dessas pra Lua? — Afirma e pergunta batendo em meu peito me
fazendo entrar no quarto e ela mesmo fechando a porta do quarto.
— Fala baixo pra mamãe não ouvir. O que é que você está me
dizendo?
— A Lua me contou tudo. Acabei de voltar do apartamento dela,
afinal, depois que vocês se divorciarem, vai ser dela né.
— Como você descobriu? Por que ela contou? Ela desistiu da
proposta? — Preocupado e assustado com essa bomba, lancei mil perguntas
nas costas de minha irmã.
— Calma aí, uma coisa de cada vez. Não foi bem ela que me
contou.
Antonella sentou-se em minha cama e então começou a me contar o
que de fato havia acontecido, desde a história que Enzo havia contado até o
que Lua lhes contou. Até mesmo o fato dela achar estar apaixonada por
mim.
— E você? O que acha que sente por ela? Ela está muito triste e
apreensiva com seu isolamento.
— Me diga você o que estou sentindo? Eu não consigo ficar um
minuto sem pensar no seu rosto, no seu cheiro. Tudo em minha vida agora
não é mais meu. Fica um vazio se saiu sozinho no carro ou se faço qualquer
outra coisa que não seja trabalho.
— Não precisa mais falar nada. Você está caidinho por ela. Sinto
muito irmão, mas você está apaixonado pela senhorita Holanda. — Falou
apenas para implicar.
— Não a chame mais assim. Essa foi apenas uma fase ruim da sua
vida. — Disse bem sério.
— Não está mais aqui quem falou. — Levantou-se, tocou em meus
ombros com as duas mãos, olhou fundo nos meus olhos e disse. — Só peça
muito a Deus para mamãe não descobrir nada disso, porque você sabe como
ela é.
Nisso Antonella tinha razão. Na cabeça de minha mãe, eu deveria
me casar com uma mulher de classe alta para que pudéssemos juntar forças
e sobrenome e assim, fazer os negócios crescerem.
Após Antonella sair de meu quarto, resolvi acabar com meu silêncio
e mandar mensagem para Lua. Já não podia fazer mais nada se o que sinto é
amor.
— Ainda acordada?
Esperei alguns minutos e não tive nenhum retorno. Nem ao menos
visualizar a mensagem ela fez.
— Será que ela está com tanta raiva assim de mim? — Pensei em
voz alta, mas continuei insistindo e enviei uma nova mensagem.
— Oi Lua. Me perdoa. Eu precisava colocar algumas coisas em
ordem e acabei me afastando de você. Me responde por favor.
Depois de alguns segundos, a mensagem foi visualizada e ela
começou a digitar. E parou. E depois voltou a digitar novamente. Alguma
coisa não estava certa quando finalmente recebo sua resposta.
— SOSBB.
Não entendi muito bem o que ela quis dizer, mas já ficando
preocupado, vou até o quarto de Antonella e a chamo com pancadas fortes
na porta.
— Que barulho é esse que vocês resolveram fazer essa noite? Meu
Deus, está acontecendo mais alguma coisa que eu não estou sabendo?
— Não é nada mãe, pode voltar a dormir. — Voltei a bater na porta
do quarto de minha irmã que demorava a abri. — Antonella, abre essa
porta.
Enquanto esperava por ela, recebo novamente uma mensagem de
Lua.
— Polícia chamar.
Nesse momento meu coração batia tão forte que parecia sair.pela
boca e Antonella finalmente abriu a porta.
— O que foi? Meu Deus. — Balbuciou enquanto saia para o
corredor e se deparava comigo e nossa mãe parados. — Aconteceu alguma
coisa? — Perguntou. — Alguém pode me responder por favor.
— A Lua.
— O que tem? — Perguntou ao mesmo tempo em que tomou o cel
de minhas mãos. — Meu Deus Lucca, você precisa ir pra lá agora. Eu
chamo a polícia.
— Polícia? O que aconteceu? Foi alguma coisa com o Enzo? —
Perguntou nossa mãe um tanto nervosa.
— Mesmo depois de tudo o que Enzo fez a senhora ainda fica aí se
preocupando com ele? Meu Deus mãe, minha noiva está em apuros e eu
não sei direito o que pode ter acontecido.
Tudo o que eu mais queria era encontrar Lua bem. Saí da mansão do
jeito que estava e peguei meu carro. Não sei como nada de ruim me
aconteceu. Costurei todos os carros que estavam em minha frente e ao
chegar no apartamento, tudo estava destruído. Chamei por seu nome
diversas vezes, mas ela não respondia. Parecia que por muitos minutos meu
coração havia parado de bater e meu corpo todo tremia e o ar me faltava só
em pensar que eu poderia ter perdido a mulher por quem estava loucamente
apaixonado.
Andei por todos os cômodos e ela não estava lá.
Quando voltei para a sala, Lua entrava juntamente com um policial
que havia sido chamado por Antonella. Quando a vi, bem, porém com
alguns machucados em seus braços, caí aos prantos de joelhos no chão e só
senti o seu abraço agachada junto a mim.
— Não precisa chorar. Está tudo bem. — Disse com a voz
embargada.
— A culpa é toda minha Lua, me perdoa. Eu deveria estar aqui com
você para te proteger e não permitir que nada desse tipo acontecesse.
— Você não tem culpa de nada. Isso apenas aconteceu.
— Quem fez isso vai pagar muito caro. Como foi que eles entraram
aqui? Onde estava a segurança do prédio?
— Eles entraram escondidos no carro de outro morador. Eles o
pegaram e o fizeram de refém. Eles estão agora prestando esclarecimentos
na delegacia e eu também preciso ir até lá, só voltei aqui para pegar alguns
documentos.
— Eu vou com você. Não sairei mais do seu lado.
Saímos juntos e fomos o tempo todo acompanhados pelo policial.
Lua contou toda sua história para a polícia inclusive os nomes das pessoas
que haviam invadido nosso apartamento. Apesar de estar com muito medo e
trêmula, ela foi forte o suficiente para prestar todos os esclarecimentos para
a polícia.
Quando saímos da delegacia, não voltamos para o apartamento.
Fomos para a mansão e ficaríamos lá até que tudo ficasse melhor do que
antes no nosso lar. Afinal, agora não seria mais apenas o apartamento dela,
mas nosso.
Capítulo 27
Lua

Foi a noite mais longa de toda a minha vida. E não foi porque estava
vivendo a melhor experiência que um ser humano poderia ter, mas por ter
vivenciado a pior de todas elas. Ter seu lar invadido, ser espancada e não
poder reagir, se sentir impotente é muito ruim. Por sorte que aquele
desgraçado do Bebê e dos seus capangas se assustaram com o barulho das
sirenes.
Não fosse por estar ao lado de Lucca, eu não teria sobrevivido
sozinha no nosso apartamento. Depois do que vi hoje, sei que o que sinto
pode ser correspondido por ele, o homem que tomou meu coração da forma
mais linda possível. O que antes era um contrato de casamento, agora é
amor.
Agora faltam apenas dois dias para nosso casamento. Tudo está
preparado e o pior aconteceu, mas Lucca não quer desistir. Agora mais do
que nunca ele quer que tudo ocorra como planejado.
Acordamos cedo na mansão dos Martinelli e logo descemos para
tomar café da manhã. Enquanto comíamos, sua mãe desceu de seu quarto e
com uma cara séria, o chamou para conversar no escritório sem ao menos
dizer bom dia. Fiquei um pouco constrangida com a situação, mas
Antonella logo apareceu para se sentar a mesa e tomar café juntamente
comigo. Curiosa como ela é, logo perguntou sobre tudo o que havia
acontecido na noite anterior. Contei tudo e procurei não esquecer de
nenhum detalhe, afinal, agora éramos amigas e logo seríamos cunhadas.
— Lua, preciso contar algo pra você. — Disse em tom sério e
olhando para a porta do escritório que se mantinha fechada com Lucca e sua
mãe lá dentro. — Ela sabe de tudo. — Contou-me.
— Meu Deus Antonella. — Disse surpresa. — Como ela descobriu?
Você contou?
— Desculpa, mas depois de ontem logo após Lucca sair daquele
jeito, ela me jogou contra a parede e se eu não contasse nem sei se estaria
aqui pra contar história. — Disse sendo sarcástica.
— Até numa hora dessas você tem que tirar brincadeiras. Por isso
que ela desceu e nem deu bom dia. — Disse pensativa. — Antonella, em
nenhum momento eu quis me aproveitar de Lucca, muito pelo contrário,
tudo isso foi proposto por ele, mas eu também não tiro minha culpa de ter
aceitado essa ideia. Eu sabia que isso não daria certo.
— Não precisa se preocupar. — Disse com a boca cheia de bolo. —
Ela não vai atrapalhar o casamento de vocês.
— Como assim? Mesmo sabendo que tudo é uma farsa?
— Eu já estou sabendo de tudo, mas também não posso contar.
Agora eu preciso ir, tenho alguém me esperando.
— Você e seus segredos amorosos.
Fiquei ansiosa esperando pelo retorno de ambos. Não demorou
muito, apenas Lucca apareceu. Como eu já havia terminado meu café da
manhã, subimos juntos para nosso quarto.
— Lua, precisamos conversar. — Disse bem sério.
— Tudo bem, Antonella já me contou o que aconteceu. Eu sabia que
uma hora alguém descobriria. E agora? Como fica sua nomeação?
— Mais do que você está falando? Tudo segue como o planejado.
Pelo menos quase tudo.
— Como assim? Sua mãe não questionou nada?
— Ela até questionou no começo, mas sem nem me deixar falar
nada, disse que ontem me viu diferente e sabia que eu havia encontrado a
pessoa certa para passar o resto da minha vida. A pessoa que conseguiu
capturar o meu coração.
— Como assim? — Fiquei sem entender as meias palavras que ele
dizia ou talvez tenha entendido, mas no fundo não conseguia acreditar que
poderia ser verdade.
— Eu estou apaixonado por você Lua e não iria nunca me perdoar
se algo acontecesse a você. Minha mãe viu esse amor que eu estou sentindo
e mesmo sabendo que tudo foi um contrato, ela sabe que o que sinto é real.
E eu preciso saber de você. — Disse enquanto se ajoelhava em minha frente
e abria uma pequena caixa com um lindo anel dentro. — Você aceita ser
minha esposa pelo resto da vida? Agora de verdade?
— Meu Deus Lucca. — Disse atônita e com as mãos trêmulas
cobrindo a boca de espanto por essa declaração. — Eu não sei nem o que
dizer depois do que você me disse.
— Apenas diga que sente o mesmo.
— Sim, eu sinto o mesmo por você. Sim, eu estou completamente
apaixonada por você e sim, eu desejo passar o resto da minha vida a seu
lado – de verdade.
Epílogo
Lucca

Já está fazendo um ano desde a data do nosso casamento. Os


negócios da família estão todos em ordem e nossa família agora está
crescendo. Lua está com o barrigão mais lindo que já vi em toda minha
vida.
— Lucca, pode vir aqui rapidinho? — Chamou-me Enzo
atrapalhando meus pensamentos enquanto admirava a minha mulher, a
minha esposa.
— O que você acha? Ela vai gostar? —Perguntou enquanto me
mostrava uma bela aliança com brilhantes.
— É sério? Vai pedi-la mesmo em casamento?
— Eu não posso mais perder tempo. Se eu tenho que fazer algo, tem
que ser logo.
— Tem meu apoio irmão.
As coisas mudam tão rápido que quando mudam, a gente nem
percebe direito. Um dia, Lua acordou se sentindo mal e hoje, estamos quase
prestes a ser os pais mais babões do mundo. Nossa querida Luna está
prestes a nascer.
— Lucca, Lucca... — Gritava Lua do outro lado da piscina.
— O que aconteceu? — Perguntei também aos gritos.
— Acho que vai nascer. Socorro.
Quem diria que o desejo de um pai para um filho, que parecia ser
tão simples, mas para mim era praticamente impossível, se tornou a melhor
decisão que já tomei em toda minha vida. Conhecer minha senhorita
Holanda me fez um homem muito, mas muito melhor.
AGRADECIMENTO

Se você chegou até aqui, eu só tenho a agradecer.


Sempre digo que vida de autora independente é por mero prazer de
escrever e muitas pessoas ainda não acreditam nisso.

Escrever é apenas parte de um sonho, a realização do sonho é saber que


pessoas como você se interessou pela leitura de algo que eu criei, pensei,
escrevi e tive a coragem de publicar - Mesmo tendo demorado mais de um
ano - caso deste livro.

Não deixe de dar sua nota... Marque a quantidade de estrelinhas


que você acha que este livro vale.

E fica ligado(a), o Livro 2 sai em breve.

E lembre-se, um livro ganha o mundo através da sua recomendação.

LEIA MEUS OUTROS LIVROS


Prestes a crescer ainda mais na empresa de tecnologia onde trabalho
com apenas 24 anos de idade, meu ex noivo me envia até uma cidade pacata
no meio do nada para encontrar alguém que só sabemos o nome. Mesmo
contra a minha vontade e sabendo que o que ele estava fazendo era apenas
porque havia terminado o noivado com ele, encarei a viagem sozinha de
carro. O que eu não esperava, era encontrar naquele meio do nada, uma
família e um amor.

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E quando antes mesmo de você nascer, sua mãe faz uma acordo com a
melhor amiga dos filhos se casarem?
Luiza vive esse dilema difícil, ainda mais após a morte de sua mãe num
grave acidente em uma tempestade. Agora, ela fica sem saber o que fazer,
se casa e realiza o desejo de sua mãe, ou se vive sua própria vida e busca a
felicidade.

João Marcos é apenas um pescador que tenta crescer profissionalmente


cursando uma faculdade de Administração. Depois da construção do Hotel
do pai de Luiza, muitos de seus amigos perderam suas casas e hoje, ele
guarda muito rancor. Após seu pai desaparecer ou morrer, ele assumiu a
responsabilidade de casa e com a sua mãe.
Duas almas improváveis e opostas se cruzam e nasce um grande amor. Será
conto de fadas ou isso pode ser verdade? Embarque nesse barco e vamos
curtir juntos essa história.

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