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-medo/#page1
Você tem o sentimento por causa do que pode acontecer, de algo não
concreto.
Ambos também têm consequências diferentes: o medo é mais visceral, suscita uma
resposta rápida, sobretudo em situações de ameaça à integridade física. Sob
ansiedade, a reação demora mais e é voltada para planejar o que pode ser feito —até
porque nem sempre o estímulo é real.
O medo é considerado uma das sete sensações universais —as outras são a alegria, a
tristeza, o nojo, a surpresa, a raiva e o desprezo.
Ele exerce, principalmente, um estímulo de proteção. Sentimos medo para nos
preservarmos de situações que colocam nossa vida, saúde e integridade física em perigo.
Portanto, pode-se dizer que ele tem um papel importante na sobrevivência das espécies e,
assim, é essencial para a evolução humana.
Há, no entanto, quem não consiga lidar com a sensação de maneira saudável. Nesses
casos, surgem as fobias, o mecanismo deixa de ser protetivo, prejudicando outras áreas da
vida.
"Toda vez que há ativação da amígdala, uma descarga de noradrenalina extra tende a
ser disparada, o que aumenta as percepções. A interpretação das multissensações
concomitantes vai variar de pessoa para pessoa. Para algumas, pode ser bem
amedrontador, achar que está infartando", afirma o psiquiatra Pedro Beria, mestre pela
UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Boa parte das fobias é específica, quando há aversão a algo definido. E não
necessariamente a pessoa teme aquilo que já viu ou viveu: ela pode ter aversão a animais
que nunca encarou, experiências que não são frequentes. Além disso, não é necessário
elemento visual, ou seja, ela pode ter reações exacerbadas de medo apenas ao imaginar o
objeto de sua fobia.
E se o medo não existisse?
O medo é um tema bastante estudado ao longo das civilizações. Segundo a doutora em sociologia
Maria Claudia Coelho, é impossível traçar uma história da sensação sem considerar as
particularidades históricas de cada período. No entanto, há com certa frequência a associação dele
com a coragem.
"Existe uma espécie de dinâmica emocional entre o medo e a coragem, mas ela não é
exatamente a ausência de medo. Na verdade, a coragem supõe o medo. Quando você não tem
medo, você não precisa ter coragem", comenta Coelho, professora da UERJ (Universidade do
Estado do Rio de Janeiro).
De acordo com a professora da UFABC Tatiana Lima Ferreira, em termos evolutivos, o medo foi
conservado nas espécies porque tem papel de preservação. Afinal, é importante aprender a sentir
potenciais perigos para adaptar as respostas comportamentais e se proteger.
Ou seja, uma vida sem medo com certeza seria também muito mais vulnerável, já que a
resposta adaptativa traz espectros de cuidado e alerta. "Toda vez que temos alguma ativação
do reflexo de luta ou fuga, seremos cuidadosos. Isso faz com que tenhamos um desempenho
superior em diversas situações e o medo se torna essencial", diz o psiquiatra Pedro Beria.
Publicado em 23/03/2023
Reportagem: Sarah Alves Moura | Edição: Gabriela Ingrid | Design e colagens:
Bruna Sanches
Fontes: Amaury Cantilino, presidente da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria
e doutor em neuropsiquiatria e ciências do comportamento pela UFPE
(Universidade Federal de Pernambuco); Carlos Filinto, psiquiatra e doutor em
ciências médicas pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); Maria
Claudia Coelho, historiadora, doutora em sociologia pelo IUPERJ (Instituto
Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e professora da UERJ (Universidade
do Estado do Rio de Janeiro); Pedro Beria, psiquiatra, mestre em psiquiatria pela
UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e professor da Feevale
(Federação de Estabelecimentos de Ensino Superior em Novo Hamburgo), no Rio
Grande do Sul; Tatiana Lima Ferreira, doutora em psicobiologia pela Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo) e professora da UFABC (Universidade Federal
do ABC).