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AVE Isquêmico
trombólise ou não. Essa sequência não pode demorar.
CASO CLÍNICO
tendo que acontecer nos primeiros minutos da
• Paciente, 66 anos, masculino, admitido com chegada do paciente à emergência.
hemiplegia à direita, afásico, sonolento há 1
EXAMES
hora;
• Comorbidades: HAS, DM; • Hemograma completo com coagulação;
• FC 88, FR 20, TA 170x110; • Eletrólitos:
• Pupilas isocóricas e fotorreagentes. ❖ Sódio, principalmente. Se for um AVC grande, é
Em todo paciente com hemiplegia e/ou afasia, é preciso que o sódio do paciente esteja lá pra
preciso fazer o diagnóstico diferencial para AVC. O cima, no limite superior, para proteger o
cérebro de edema;
AVC pode não ser sempre tromboembólico, mas
diante de um déficit motor agudo, temos que ❖ Potássio: o potássio não lesiona diretamente o
cérebro, mas dá arritmia e ela pode soltar um
suspeitar de AVC. O déficit motor quando é
insidioso, abre um leque muito grande de outros trombo para o cérebro causando um evento
tromboembólico;
diagnósticos diferenciais, mas no AVC, o déficit
❖ Magnésio: diminui o limiar de crise convulsiva.
motor é agudo. O paciente estava bem, eu consigo
Então temos que deixar o magnésio no nível
pontuar uma faixa de horário em que o paciente
normal. Um paciente com AVC que tem
começou a apresentar os sintomas. Não
necessariamente o paciente precisa estar intercorrência com crise convulsiva, tem sua
mortalidade multiplicada por três;
hipertenso ou hipotenso, ele pode estar
simplesmente normotenso para ocorrer o AVC. E ❖ Cálcio: para poder fazer diagnóstico diferencial
com estados catatônicos.
tem diversas possibilidades para isso.
• Gasometria arterial com lactato: para todo e
• Provável diagnóstico: AVC.
qualquer paciente grave ou potencialmente
Esquecer em relação ao quadro clínico do paciente ser grave;
isquêmico ou hemorrágico, não vai mudar em nada a • Função renal;
conduta. Para saber se o paciente tem AVC isquêmico • Função e enzimas hepáticas;
ou hemorrágico, é preciso tomografia de crânio. • Glicemia sérica (HGT);
Antes de 2018, era assim: quando vier junto com • ECG: no mesmo potencial do potássio, para
cefaleia, tem mais associação com hemorrágico. identificar possíveis arritmias, e também para
Ter maior associação ou não, não vai mudar nem descartar AVC tromboembólico de origem
medicação, muito menos trombólise, nem outra cardíaca;
medicação, até porque não vai estar liberado o uso de • Toxicologia, dosagem de anticonvulsivantes,
AAS quando fizer a tomografia, por exemplo. Então hormônios;
o provável diagnóstico é AVC, e a principal coisa do • TAC de crânio: exame modificador de conduta:
AVC, antes mesmo da trombólise, é o alvo pressórico.
OBS.: A função da tomografia de crânio em um
Então quando o paciente chega com suspeita de
paciente neurocrítico não é dar diagnóstico de AVC
AVC, a gente vai comparar o AVC isquêmico com ou
hemorrágico. É descartar qualquer evento
sem trombólise e o AVC hemorrágico com
hemorrágico. Esse é o objetivo da tomografia logo na
GLASGOW ≤ 8.
admissão desses pacientes.
Então, nos primeiros minutos de um paciente com
Diante de um paciente com AVC, os exames são os
suspeita de AVC, a principal coisa é o controle
mesmos para crise convulsiva. Todo e qualquer
pressórico. Segunda coisa é a realização de
paciente com afecção neurológica, os exames de
tomografia e a terceira coisa é a perspectiva de
Beatriz Machado de Almeida
Emergências clínicas – Aula 11 2
investigação são os mesmos. Porque assim como na OBS.: Pode ser AVC ou AVE. Desde 2011, pelo
síndrome coronariana aguda, infarto, existe o infarto consenso, eles queriam colocar de forma traduzida:
tipo I, II, III e agora o tipo IV. O tipo II, que é por acidente vascular encefálico. Mas também está
hipofluxo, o AVC também tem. Existe o AVC correto acidente vascular cerebral.
isquêmico tipo II que é por hipofluxo. O paciente tem
AVE
uma obstrução de 80, 90% e como reduz o fluxo
sanguíneo cerebral, por qualquer motivo (choque, • Perda rápida de função neurológica, decorrente
hipotensão mesmo que transitória), esses 80-90% de isquemia ou hemorragia de vasos cerebrais;
acaba virando 100%. Então precisa saber se teve • Início súbito + hemiplegia/paresia parcial ou
alguma infecção, se teve alguma anemia grave (como total + dificuldade na fala ou articulação das
a falciforme) ou então a policitemia, em casos de palavras + déficit visual súbito de uma parte
paciente com DPOC, em que aumenta a viscosidade do campo visual (hemianopsia):
sanguínea. E a coagulação também, independente do
Lembrar que enxaqueca também pode dar
paciente fazer uso de medicação prévia ou não, a
hemianopsia.
gente pode ter algum distúrbio de coagulação. Ginkgo
• Pode ainda evoluir com coma e outros sinais.
biloba, que pessoas utilizam para memória, como
fitoterápico, faz distúrbio de coagulação tipo o AAS. AVE ISQUÊMICO
Inclusive quando o paciente é submetido a uma
cirurgia, é suspendido o Ginkgo biloba 7 dias antes. • Mais comum – 80%;
• Falta de fluxo sanguíneo cerebral:
❖ Sofrimento do parênquima do sistema nervoso
(obstrução: edema, tumor, dentre outros);
contrário.
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OBS: o trombolítico para o AVC “verdadeiro” tem que ❖ Tempo de ictus < 4,5h (até 6h? – 3?).
❖ TAC de crânio sem evidências de hemorragia.
ser feito em 4:30h. então, algumas vezes acaba
❖ TA < 185x110: é preciso abaixar a pressão.
trombolisando o AIT.
❖ Hidratação/Euvolemia.
O alvo pressórico é Acima desse valor não tem trabalho adequado, além
sempre avaliado para de que aumenta o risco de sangramento, e se o
não dar sangue de menos paciente sangrar, fica muito mais fácil atingir o alvo
e nem sangue de mais do AVCh.
para esse cérebro. Por • Caso seja necessário tratar a TA:
esse motivo existe um ❖ Evitar reduções > 15% nas primeiras 24h. Se
intervalo de alvo
reduzir mais que isso (o paciente está
pressórico. acostumado com a PA alta), pode fazer AVC tipo
Nesse gráfico III, levando à isquemia mesentérica (ou angina
podemos inferir que mesentérica), piora da função renal em 2-3 dias.
não se pode deixar a Não adianta evitar que o paciente tenha uma
PA nem muito alta hemorragia se ele sai dialítico, infartado ou com
nem muito baixa,
cirurgia para retirada de parte do intestino.
porém, se for preciso
O paciente que se pode reduzir > 15% nas
escolher entre PA
primeiras 24h é aquele com lesão de órgão alvo,
baixa ou alta, é de escolha a elevada, pois a
por exemplo, aquele que se encontra com PA de
mortalidade é menor, ou seja, a mortalidade em
320x180 mmHg, fez um sangramento, não teve
pacientes com a pressão baixa é maior do que em
tempo de reduzir de forma adequada, porque se não
pacientes com a pressão alta. Existem alguns
o paciente vai morrer. Então pesa-se risco e
pacientes que, por exemplo, estão com a PAS de 130
benefício (descrever no prontuário). 15% de uma
e iremos usar noradrenalina. O que precisamos saber
sistólica de 220 vai dar 34 mmHg que dá quase
é que a pressão baixa (120/140) a mortalidade é
próximo do alvo do AVCh.
maior do que em pacientes hipertensos. Essa faixa
pressórica é o ideal para 95% dos pacientes, ou O alvo do AVCi sem trombólise é maior porque é
seja, 5% da população mundial não se encaixa nesse mais difícil de fazer AVCh, mas quando é feita
gráfico, e é aí que entra o papel do intensivista, para trombólise, o alvo é menor.
poder identificar qual é o alvo pressórico para ❖ Usar drogas de ação rápida e meia vida curta.
esses pacientes. Existe uma faixa que vai reduzir a 1. Nada de captopril SL ou qualquer outro IECA: o
mortalidade desses pacientes. pico de ação e a biodisponibilidade do SL é a
mesma do oral (captopril), com um adendo, pois
ALVO PRESSÓRICO – AVC ISQUÊMICO em 15% da população, o captopril SL dá isquemia
SEM TROMBÓLISE: de língua.
• Vaso ainda está total ou parcialmente ocluído. 2. Labetalol – recomendado – 1º linha
• Prioridade: manter perfusão. Exemplo: quando se (betabloqueador - droga de escolha no
tem um cano obstruído em casa, ou joga um consenso): não faz edema cerebral, aumento de
produto químico (no caso do vaso – o trombolítico) fluxo sanguíneo cerebral. Além disso, a meia vida
ou passa um arame (no caso do vaso – a é curta (se o paciente começar a complicar,
hemodinâmica) ou coloca pressão. desliga o labetalol e o efeito acaba em 2 minutos).
Não existe no Brasil (se tiver em algum hospital
Então, se não é colocado o produto químico, porque
é porque foi importando do mercado americano
tem contraindicação, se não vai passar o arame
sem o consentimento da ANVISA e da ANS).
porque não tem como fazer agora, o que sobra é a
3. Esmolol – aceitável: meia vida curta, mas não
pressão, aumentando-a o máximo possível para
tanto quanto o labetalol. Nem todo hospital tem.
fazer com que o que está entupindo saia.
4. Nitroprussiato de sódio não usa em 1º linha: Não
• TA sistólica: 220 mmHg. usa vasodilatador porque ele aumenta o fluxo
• TA diastólica: 110 (105 – 120) mmHg. das meninges (que é hipervascularizada), e no
início da década de 90 dizia que ao fazer
Beatriz Machado de Almeida
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vasodilatador, ele aumenta o fluxo sanguíneo • AAS e/ou clopidogrel – 24h após fibrinólise. O
cerebral. Nesses pacientes não é adequado AAS usa para todos os pacientes, e para alguns
aumentar esse fluxo (pelo menos não na maior pacientes usa AAS + Clopidogrel.
parte deles), então o NIPRID não era muito Exemplo, aquele paciente que já usa AAS por algum
adequado. No entanto, não teve nenhum estudo
motivo e faz um AVC já em uso do AAS de maneira
falando que o nitroprussiato apresenta essa correta. Então, o AAS sozinho não sustenta esse
possibilidade, mas se for considerar essa droga
paciente, sendo necessário usar então AAS +
do ponto de vista farmacodinâmico e Clopidogrel (clop não deve ser usado nos pacientes >
farmacocinético o nitroprussiato de sódio pode
75 anos pelo risco de sangramento).
fazer aumento de fluxo na meninge por conta do
❖ Estudo POINT – dose de ataque dos dois.
Niprid estar com uma dose muito alta, e não
1. AIT/AVC minor (NIH < 4 sem afasia – exceto
espera-se que essa dose chegue a ser tão alta,
fossa posterior).
até porque esses pacientes com este descontrole
pressórico acabam indo para o centro cirúrgico Recentemente, faz uso do AAS + Clopidogrel nos
em algum momento. Inclusive, no último consenso pacientes que tem ataque isquêmico transitório
este medicamento está liberado como segunda (AIT) porque o paciente que tem AIT tem 5x mais
ou terceira linha (coloca niprid e esmolol na chance de ter um evento isquêmico, um AVCi;
segunda linha) de tratamento. também usa no paciente com AVC minor, que é aquele
paciente com NIH < 4 sem afasia – exceto fossa
O problema da clonidina é que, primeiro, sua meia vida
posterior.
não é curta, o pico de ação é curto, mas ela se mantém
por algumas horas. Então se ela for desligada, vai 2. Uso anterior.
demorar de passar (entre 4 – 6h) e o efeito rebote, • Não anticoagular.
sendo este último o grande problema da clonidina. Não existe anticoagulação para AVC. Exemplo: o
paciente tem FA, um trombo, ou qualquer outra
ALVO PRESSÓRICO – AVC ISQUÊMICO coisa, anticoagula esse paciente, mas não vai ser pelo
COM TROMBÓLISE: AVC.
• Há um risco de transformação hemorrágica. • Vigilância neurológica.
• Recomendação: manter TAS < 180/185 mmHg e ❖ Convulsões/edema cerebral se
TAD < 105/110 mmHg. intenso/transformação hemorrágica.
• Preferir drogas parenterais de meia vida curta.
É importante fazer a vigilância neurológica desse
• Estudos mostram que reduzir a TA > 10/15%
paciente, devido ao risco de crise convulsiva, edema
e/ou TA média < 85 mmHg e/ou PAS < 140
cerebral, que vai ser visto antes de se manifestar
mmHg estão associadas com pior prognóstico.
clinicamente pela tomografia (o mesmo se aplica para
Nesse paciente existe um risco de transformação transformação hemorrágica). Por exemplo, se o
hemorrágica maior do que no AVCi, então por isso paciente chega, e é feita a tomografia, a próxima
há recomendação de manter os níveis pressóricos nos tomografia de controle deve ser feita 48h depois.
valores citados acima. Se quiser reduzir 15% desse
valor, para atingir 150 – 160 da sistólica é muito
mais fácil, pois não vai causar lesão em outros
órgãos do paciente.
MEDIDAS – AVEI
Se a TC tivesse assim, não seria feito nada, pois esse a craniotomia descompressiva. A trombose está
paciente está com uma lesão hemorrágica, devendo atingindo a artéria cerebral média e boa parte da
ser tratado como qualquer AVCh. Qualquer lesão artéria posterior (?)
hemorrágica contraindica fibrinólise. Além disso, vai
contraindicar o AAS e a heparina.
❖ NIH < 4.
❖ Afasia (ficar atento a pacientes com afasia).
• Controle glicêmico:
❖ HGT > 400 é igual a insulinoterapia venosa
(mede a glicemia de hora em hora).
❖ Entre 180 e 400 é possível usar a insulina NPH
subcutânea com regular de resgate.
CONSIDERAÇÕES
• Dieta: