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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Investigação Diagnóstica......................................... 6
3. Tratamento e seguimento.....................................13
Referências Bibliográficas .........................................16
HEMATÚRIA 3

1. INTRODUÇÃO etiologias variam com a idade e as


mais comuns são litíases, infecções
Hematúria ou existência de células
e inflamações da bexiga ou da prós-
sanguíneas na urina é sinal comum
tata. Quando ocorre em crianças, de
em mais de uma centena de doenças
forma isolada, geralmente é transitó-
ou de condições sistêmicas, sendo
ria e sem grandes consequências. Em
muito frequente na população ge-
adultos, principalmente acima de 50
ral (Tabela 1). Em muitos casos, é o
anos de idade, há mais risco de estar
primeiro sinal clínico. As principais
relacionada a patologia maligna.

ORIGEM GLOMERULAR ORIGEM NÃO GLOMERULAR


Glomerulonefrite primária Causas que afetam parênquima renal
Alterações vasculares (malformação arteriovenosa, infarto
Nefropatia IgA (doença de Berger)
e trombose de veia renal)
Tumores renais (carcinoma de células renais, angiomiolipo-
Glomerulonefrite pós-infecciosa
ma e oncocitoma)
Glomerulonefrite membranoproliferativa Alteração metabólica (hiperuricosúria e hipercalciúria)
Esclerose focal glomerular Causa familiar (doença policística e rim esponja medular)
Infecção (pielonefrite, tuberculose, leptospirose, citomega-
Glomerulonefrite rapidamente progressiva
lovírus e mononucleose)
Glomerulonefrite secundária Necrose papilar
Nefrite lúpica Causas extrarrenais
Síndrome de Henoch-Schonlein Tumor (pélvis, ureter e bexiga e próstata)
Vasculites (poliarterite nodosa e granulomato-
Hiperplasia prostática benigna
se Wegener)
Síndrome hemolítico-urêmica Litíase via urinária
Púrpura trombocitopênica Infecções (cistite, prostatite e tuberculose)
Nefrite por medicamentos (analgésicos) Coagulopatias sistêmicas e anemia falciforme
Familiar (doença genética de membrana basal) Radiação
Síndrome de Alport Medicamentos (heparina e ciclofosfamida)
Doença de membrana basal fina Hipertensão maligna
Familiar (doença de Fabri) Endometriose e fístula vésico-uterina
Congênitas (refluxo vésico-ureteral e obstrução junção
Exercício físico
uretero-piélica)
Tabela 1. Causas glomerulares e não glomerulares de hematúria. Fonte: Zerati-Filho (2010)

Classificação da hematúria; da sintomatologia; e


Em função do quadro clínico, pode ser da temporalidade.
classificada de acordo com aspecto
HEMATÚRIA 4

• Aspecto: Pode ser classificada sintomática ou hematúria assin-


como sendo hematúria micros- tomática, respectivamente.
cópica, quando as hemácias são
• Temporalidade: Quanto à tem-
detectadas somente por sedimen-
poralidade, a hematúria pode ser
toscopia urinária, ou hematúria ma-
episódica (ou isolada), contínua
croscópica, quando a coloração da
ou intermitente (quando durante
urina sugere existência de sangue.
o dia apresenta micções com colo-
ração normal).
Por definição, considera-se hematú-
ria microscópica o achado de mais de
A hematúria pode ser classificada
três eritrócitos por campo de gran-
também em persistente ou transi-
de aumento (400x) em sedimento de
tória, quando permanece por período
centrifugado de urina em, pelo menos,
superior ou inferior a três meses. Ela
duas amostras distintas coletadas
será considerada recorrente, quando
com intervalo de duas a quatro se-
há intervalos de meses ou de anos
manas. Já a hematúria macroscópica
entre as remissões.
é definida quando há alteração gros-
seira de coloração urinária; no exa- Na hematúria sintomática, sinais e sin-
me de urina I observa-se presença de tomas auxiliam no diagnóstico da do-
hemoglobina em três cruzes (+++). ença de base. Nos casos assintomáti-
cos, aumenta a dificuldade diagnóstica
e na maioria não se identifica a causa.
SE LIGA! O exame de fita na investiga-
Estudos populacionais com exames
ção de urina I pode vim falso-positivo
para hemoglobina em situações de mio- de urina observaram hematúria assin-
globinúria, ou até mesmo em situações tomática transitória em 12 a 16% e na
de colúria. maioria absoluta não se identificou a
origem. Em 3% da população obser-
vou-se micro-hematúria persistente
• Sintomatologia: Pode ser clas-
(superior a três meses). Nesse grupo,
sificada, de acordo com a pre-
a probabilidade de identificar alguma
sença ou não de sintomas
anormalidade foi maior (20%) e em
associados, em hematúria
10% a origem era urológica.
HEMATÚRIA 5

MAPA MENTAL CLASSIFICAÇÃO

Sintomática Assintomática

Sintomatologia

Quando há intervalos de meses


Recorrente
ou de anos entre as remissões

Classificação Episódica Episódio isolado de hematúria


da hematúria
Alteração grosseira de
coloração urinária; no exame de Hematúria Não apresenta micções com
Contínua
urina I observa-se presença de macroscópica coloração normal ao longo do dia
hemoglobina em três cruzes (+++)

Aspecto Temporalidade
Achado microscópico de
mais de três eritrócitos por
campo de grande aumento Hematúria Quando durante o dia apresenta
(400x) em sedimento de Intermitente
microscópica micções com coloração normal
centrifugado de urina em,
pelo menos, duas amostras
distintas coletadas com intervalo Persistente Duração superior a três meses
de duas a quatro semanas

Transitória Duração inferior a três meses


HEMATÚRIA 6

2. INVESTIGAÇÃO morbidade e efetuar-se investigação


DIAGNÓSTICA para determinar sua causa e o local
do sangramento.
Os objetivos da avaliação são: 1) re-
conhecer e confirmar o achado de Presença intermitente de hemácias
hematúria; 2) procurar identificar na na urina pode ser considerada nor-
história e no exame físico uma pos- mal quando a quantidade for inferior
sível etiologia glomerular ou extraglo- a 500 mil eritrócitos em 12 horas ou
merular; 3) identificar se a hematú- até três eritrócitos por campo. Pode
ria é transitória ou permanente; e 4) decorrer de exercício vigoroso antes
identificar pacientes com maior risco da coleta, intercurso sexual, trauma
para doenças significativas, principal- de leve intensidade ou de contamina-
mente tumores. ção por sangramento menstrual. Pre-
valência de hematúria microscópica
Na presença de hematúria macroscó-
assintomática é de 0,2 a 16% depen-
pica, as suspeitas devem recair sobre
dente da idade e do sexo. Em homens
causas urológicas, já que elas são as
jovens, sua incidência é de 2,5%, au-
etiologias mais comumente associa-
mentando com a idade, podendo atin-
das a este acometimento. As princi-
gir até 22% após os 60 anos.
pais causas de hematúria macroscó-
pica são lesões traumáticas; tumores;
litíase urinária; infecção; induzida por Anamnese
exercício (maratonista); uso de me-
Anamnese e exame físico devem ser
dicamentos (anticoagulante) e coa-
bem detalhados, procurando por in-
gulopatias. No caso da hematúria
fecções recentes (bacterianas ou
microscópica, quando patológica,
virais), ingestão de alimentos (por
geralmente advém de causa nefroló-
exemplo, beterraba, páprica, etc.) e
gica (glomerulonefrite, síndrome he-
medicamentos que podem alterar a
molítico-urêmica, lúpus, púrpura de
coloração da urina (por exemplo, fe-
Henoch-Schönlein, etc.).
nitoína e nitrofurantoína) e os que
Hematúria microscópica assintomá- podem causar hematúria. Deve-se
tica geralmente não indica doença interrogar sobre tabagismo, sangra-
significativa. Intensidade da hematú- mentos frequentes, antecedentes
ria também não tem correlação com pessoais e familiares de doenças
a gravidade da patologia. Em mui- urológicas, renais e sistêmicas. A
tos casos, é episódica e desaparece presença de retenção urinária tam-
em duas a três semanas. Em situa- bém precisa ser interrogada.
ções específicas, deve ser conside-
A queixa de hematúria deve ser devi-
rada resultante de doença com alta
damente caracterizada na anamnese.
HEMATÚRIA 7

A macro-hematúria pode ser inicial correlaciona-se com a intensidade e


(quando a urina é hemática somente a duração da atividade. Normalmen-
no jato urinário inicial); total (quando te, o sangramento é limitado e desa-
o jato urinário é hemático do inicial ao parece em até 72 horas de repouso,
fim); ou terminal (quando o jato uri- sem necessitar de transfusão. Caso
nário se torna hemático só no final da permaneça além desse período, de-
micição). Essa classificação permite ve-se suspeitar de outras associa-
suspeição do local anatômico. He- ções e indicar avaliação diagnóstica
matúria inicial relaciona-se com al- mais detalhada.
teração na uretra; a terminal, com
uretra prostática ou com colo ve- SE LIGA! Qualquer região do trato uri-
sical; e a total, com bexiga ou com nário pode provocar hematúria, seja ela
trato urinário superior. micro ou macroscópica.

A cor da urina pode indicar sua origem.


Na glomerular, predomina micro-he- Exame físico
matúria com a coloração castanho-
-escura, enquanto nas causas uroló- Deve-se proceder a avaliação da
gicas predomina macro-hematúria de pressão arterial, dos parâmetros an-
cor vermelho-vivo. Falsa hematúria tropométricos em crianças, do exame
ocorre pela presença de mioglobina das genitálias e da uretra, bem como
ou de porfirina na urina, bem como atenção a hematomas e a equimoses.
corantes, medicamentos e alimentos. As repercussões do sangramento
Esquema de anticoagulação habitual, também devem ser avaliadas (esta-
com dicumarínicos ou aspirina, não bilidade hemodinâmica). A presença
predispõem hematúria, exceção aos de sopros ou edema podem denotar
casos com tempo de protrombina a etiologia glomerular da hematúria.
muito elevado. Nesses pacientes, em
até 80% dos casos diagnosticou-se Exames laboratoriais
infecção urinária. Deve-se interrogar
sobre a presença de coágulos e os Inicialmente solicita-se hemogra-
mesmos devem ser caracterizados ma, sumário de urina e avaliação
(coágulos maiores estão mais asso- da função renal (ureia e creatini-
ciados à origem vesical). na). Outros estudos urinários, sé-
ricos, sorológicos e de coagulação
Hematúria cíclica pode ser causa-
são indicados em função da suspei-
da por endometriose ou por fístula
ta diagnóstica (Tabela 2). Avaliação
vésico-uterina (síndrome de Yous-
urológica completa (tomografia e
sef). Exercícios físicos extenuantes
uretrocistoscopia) está indicada na
podem causar hematúria e o grau
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macro-hematúria não glomerular. Urina tipo I: Realizado geralmente


Não há necessidade de estudo com- com a primeira urina da manhã, com-
pleto em crianças com micro-hema- preende a análise química obtida por
túria assintomática persistente, sem fita reagente, análise macroscópica
proteinúria, em que a causa provável e exame microscópico. É um exame
é nefropatia de membrana basal ou simples e rápido que permite identifi-
hipercalciúria idiopática, ambas de car, entre outros, hemoglobina, prote-
evolução favorável. Realizar a avalia- ína, nitrito e glicose na urina.
ção completa quando há maior risco A intensidade da cor da fita relacio-
para tumor (Tabela 3). na-se diretamente com a quantidade
do elemento presente na urina. Tes-
TESTE
tes falso-positivos para hemoglobina
PATOLOGIA ASSOCIAÇÃO
SOROLÓGICO ocorrem na presença de mioglobinú-
Glomerulonefrite Faringite e ria e contaminantes oxidativos (hipo-
ASLO
pós-estreptocócica impetigo clorito, povidine e peroxidases de ori-
Glomerulonefrite Infecções IgA sérica gem bacteriana). Teste de fita positivo
da IgA respiratórias aumentada
para hematúria deve ser confirmado
FAN, Anti-D-
Lúpus eritematoso Artrite e rash
NA, C3 e C4
pela avaliação microscópica do sedi-
sistêmico cutâneo
diminuídos mento urinário.
Endocardite
Febre e sopro Hemocultura e O exame microscópico da urina per-
cardíaco C3 diminuído
mite documentar o grau de hematúria,
Tabela 2. Patologias glomerulares, sinais e sintomas
associados e testes sorológicos habituais. Fonte: Zera- determinar o aspecto morfológico
ti-Filho (2010) do eritrócito e avaliar a existência de
cristais urinários e cilindros hemá-
ticos (patognomônico para origem
Tabagismo
glomerular). Coágulos ou agregados
Idade acima de 40 anos (principalmente sexo
masculino)
eritrocitários microscópicos sugerem
História anterior de hematúria macroscópica lesão do trato urinário. Quando há pi-
Antecedentes de patologias urológicas (cálculos e úria ou bacteriúria, realiza-se urino-
tumores) cultura com antibiograma para des-
Exposição ocupacional a químicos ou a corante cartar patógenos no trato urinário. Se
Uso abusivo de anti-inflamatório não hormonal há piúria e cultura negativa, suspei-
Sintomas irritativos vesicais ta-se de tuberculose do trato urinário
Antecedentes de irradiação pélvica ou de nefrite intersticial.
Antecedentes de infecção do trato urinário
Considera-se proteinúria valores aci-
Antecedentes de uso de ciclofosfamida
ma de duas cruzes (++) em duas amos-
Tabela 3. Fatores indicativos de avaliação urológica
completa por risco mais alto de patologias de vias uri- tras. Nesses casos, há necessidade
nárias. Fonte: Adaptado de Nardozza Jr (2010)
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de confirmação com proteinúria de vasculites e infecções (hepatite e


24 horas. Comprometimento renal endocardite).
tem relação direta com o grau de Na avaliação da amostra de urina po-
proteinúria e sua ausência não ex- de-se analisar a morfologia da he-
clui glomerulopatias. Na presença de mácia. Esse exame, conhecido como
proteinúria significativa, avalia-se do- estudo do dismorfismo eritrocitário
ença do parênquima renal, que pode (Figura 1), feito com microscopia de
estar associada a diversas patologias contraste de fase. Caracteriza-se pelo
sistêmicas, como lúpus eritematoso, achado de irregularidades na superfí-
cie do eritrócito.

Figura 1. Pesquisa de dismorfismo eritrocitário. Fonte: Disponível em <https://labfreire.com/dismorfismo-eritrocita-


rio/> Acesso em 08/06/2020

Acantócitos, eritrócitos em forma de necessária para classificar a origem


anel com uma ou mais protrusões, da hematúria. Geralmente, associa-se
forma inicial de dismorfismo, sugerem a concentrações superiores a 80%.
origem glomerular quando encon- Considera-se hematúria glomeru-
trados em mais de 5% da amostra. lar quando mais de 80% dos eritró-
Isomorfismo eritrocitário caracteriza citos são dismórficos numa amostra
lesões das vias urinárias. Ainda não de urina, e hematúria não glomerular
se sabe exatamente a porcentagem quando mais de 80% da amostra é
de eritrócitos isomórfico/dismórfico isomórfica. Com valores inferiores, a
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origem da hematúria é considerada devido a característica de intermitên-


indeterminada ou mista. cia da hematúria nos tumores de vias
Citologia urinária: Como teste de urinárias. Adultos jovens com micro-
screening, apresenta baixa sensibilida- -hematúria assintomática não apre-
de (33 a 54%) e não é indicada na ava- sentam risco mais alto de câncer de
liação inicial na população geral com vias urinárias do que a população nor-
hematúria microscópica assintomática, mal. Neles, deve-se realizar avaliação
reservando sua recomendação para in- apenas com um método de imagem
divíduos com mais risco para tumores (por exemplo, ultrassonografia).
uroteliais e que serão submetidos a cis- Para avaliação radiográfica inicial, re-
toscopia. Sua especificidade também é comenda-se tomografia compu-
baixa para tumores uroteliais bem di- tadorizada (TC) (padrão-ouro), que
ferenciados (11%) e para tumores de apresenta especificidade de 97%, acu-
trato urinário superior. Quando asso- rácia de 98% e é melhor que urogra-
ciada a cistoscopia, aumenta em 3% a fia excretora (UGE) para diagnosticar e
probabilidade de diagnóstico de tumor. caracterizar lesões renais, como tumo-
Citologia negativa não exclui a possibi- res e cistos, extrarrenais e ureterais,
lidade de tumor urotelial. principalmente tumores pequenos na
região anterior e posterior do rim, bem
como cálculos urinários e lesões infec-
Avaliação urológica completa ciosas (Figura 2). Embora apresente
Indicada para todos os casos de ma- sensibilidade inferior à uretrocistosco-
cro-hematúria não glomerular. Mesmo pia na detecção de tumores vesicais,
pacientes com um único episódio de permite identificação de lesões que in-
macro-hematúria devem ser avaliados vadem os tecidos perivesicais.

Figura 2. Tumor renal em rim direito na tomografia computadorizada. Fonte: Disponível em <https://www.medicina-
net.com.br/conteudos/revisoes/3981/tumoracoes_renais.htm> Acesso em 08/06/2020
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A Ressonância magnética (RM) tem renais. No diagnóstico de tumores


precisão semelhante à TC na identi- vesicais, sua sensibilidade também é
ficação de tumores e pode ser indi- inferior à uretrocistoscopia (Figura 3).
cada para pacientes com histórico US pode ser utilizada como método
de reação ao contraste. Uma possí- auxiliar na avaliação de lesões císticas
vel crítica à RM como primeiro exa- renais. Uma boa indicação, como pri-
me seria seu alto custo e sua menor meiro exame, seria no caso de hema-
sensibilidade para detecção de litíase. túria em crianças, para pacientes com
RM com contraste (gadolínio) em pa- baixo risco para desenvolvimento de
cientes com insuficiência renal (agu- tumores e para pacientes com históri-
da ou crônica) associa-se ao risco de co de reação ao contraste. Nefropatia
desenvolvimento de fibrose sistêmica por contraste ocorre geralmente em
nefrogênica, em que há aparecimen- pacientes com doença renal preexis-
to de espessamento e contratura da tente, em desidratados e em pacien-
pele (extremidades), fraqueza mus- tes diabéticos.
cular e morte (5% dos casos). Por ser invasiva, pielografia ascen-
Vários centros utilizam ultrassono- dente tem indicação restrita aos ca-
grafia (US) renal como exame inicial sos de suspeição de lesões de pelve e
por ser um método de menor custo, de ureter. Para esses casos, apresen-
não invasivo e não radioativo, embora ta sensibilidade superior à citologia
apresente limitações na avaliação do urinária e inferior à ureterorrenosco-
sistema coletor e de pequenas lesões pia flexível.

Figura 3. Ultrassonografia mostra lesão vegetante em parede vesical. Fonte: Zerati-Filho (2010)
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Uretrocistoscopia é indicada a to- Rotineiramente, não se utiliza bióp-


dos os indivíduos com mais risco de sia renal em casos de hematúria para
desenvolver câncer de bexiga (Figu- esclarecimento diagnóstico. Ela tem
ra 4). É aconselhável que os exames indicação precisa para glomerulopa-
de imagem precedam a cistoscopia, tias e para pacientes com piora pro-
permitindo assim a realização con- gressiva da função renal. Biópsias de
comitante de pielografia ascendente pacientes com micro-hematúria iso-
ou de ureterorrenoscopia quando há lada identificaram doença de mem-
suspeita de tumores de via uriná- brana basal em 36% e nefropatia por
ria superior. Cistoscopia é o melhor IgA em 23%, achados que não con-
exame para diagnóstico de tumo- tribuíram para mudança na conduta
res vesicais, embora seja invasiva, de observação.
pois permite a realização de biópsias
de lesões e de áreas suspeitas.

Figura 4.Tumor de bexiga urinária diagnosticado por exame de cistoscopia. Fonte: Disponível em <https://www.
urologia-jau.com.br/cancer-de-bexiga/> Acesso em 08/06/2020
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MAPA MENTAL INVESTIGAÇÃO

1) Reconhecer e confirmar o achado de hematúria

2) Procurar identificar na história e no exame físico


uma possível etiologia glomerular ou extraglomerular

3) Identificar se a hematúria é
transitória ou permanente

4) identificar pacientes com maior risco para


doenças significativas, principalmente tumores

Objetivos da avaliação

Investigação
da hematúria

Inicialmente solicita-se hemograma,


Avaliação urológica completa
sumário de urina e avaliação da função
(tomografia e uretrocistoscopia)
renal (ureia e creatinina). Outros estudos
está indicada na macro-hematúria
urinários, séricos, sorológicos e de
não glomerular e quando há quando
coagulação são indicados em função
há maior risco para malignidade
da suspeita diagnóstica

Para avaliação radiográfica inicial,


recomenda-se tomografia
computadorizada (TC) (padrão-ouro)
3. TRATAMENTO E
SEGUIMENTO Vários centros utilizam ultrassonografia
(US) renal como exame inicial
Após diagnóstico da origem e da
causa da hematúria, institui-se o tra-
tamento recomendado para cada
etiologia subjacente. Não há consen- dos níveis pressóricos e exames de
so quanto ao acompanhamento de urina a cada seis meses ou anuais até
hematúria persistente de causa des- a resolução da hematúria. Citologia
conhecida. Recomenda-se avaliação
HEMATÚRIA 14

urinária pode ser realizada nos casos O risco de desenvolvimento de cân-


com alto risco. cer após avaliação inicial é muito bai-
Não há consenso sobre a realização xo: até 3% em cinco anos e menos de
de novos exames de imagem e cistos- 1% em acompanhamentos de até 14
copia em pacientes assintomáticos. anos. Em média, esses tumores ocor-
Recomenda-se reavaliação comple- reram após seis anos de seguimento.
ta se houver aumentos significativos Nos casos de micro-hematúria as-
da hematúria (>50 cels), episódio de sintomática transitória, sem fatores
macro-hematúria ou surgimento de de risco para ocorrência de tumores,
sintomas irritativos na ausência de indica-se reavaliação e novo exame
infecção. Recomenda-se acompa- de urina após um ano. Quando há he-
nhamento regular dos indivíduos com matúria associada à infecção urinária,
hematúria persistente por até três realiza-se novo exame de urina seis
anos se não ocorrerem intercorrên- semanas após o tratamento da infec-
cias. Nesses casos, provavelmente há ção, principalmente se estiverem no
algum grau de lesão glomerular e, na grupo de risco para tumor. Na perma-
maioria das vezes, apresenta evolu- nência de hematúria, indica-se ava-
ção favorável, não havendo indicação liação completa.
para biópsia renal.
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MAPA MENTAL FINAL

Uso abusivo de
Definição: Existência de
anti-inflamatório não hormonal
células sanguíneas na urina

Antecedentes de infecção
do trato urinário

As suspeitas devem recair Achados que indicam


Hematúria macroscópica HEMATÚRIA
sobre causas urológicas avaliação urológica completa

História anterior de
Trauma
hematúria macroscópica

Hematúria microscópica Exposição ocupacional


Tumores a químicos ou a corante

Geralmente advém Idade acima de 40 anos


Litíase urinária de causa nefrológica (principalmente sexo masculino)

Tabagismo
Infecção Glomerulonefrite

Antecedentes de
Síndrome uso de ciclofosfamida
Induzida por exercício hemolítico-urêmica
Antecedentes de
Lúpus irradiação pélvica
Medicamentos

Antecedentes de patologias
Púrpura de urológicas (cálculos e tumores)
Coagulopatias Henoch-Schönlein

Sintomas irritativos vesicais


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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Nardi AC et al. Urologia Brasil. São Paulo: PlanMark; Rio de Janeiro: SBU-Sociedade Brasi-
leira de Urologia, 2013.
Nardozza Jr et al. MANU: Manual de Urologia. São Paulo: PlanMark, 2010.
Zerati-Filho et al. Urologia Fundamental. São Paulo: Planmark e Sociedade Brasileira de Uro-
logia - SBU, 2010.
HEMATÚRIA 17

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