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Autos nº 8000222-22.2018.805.

0154
SENTENÇA
Trata-se de AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS COM
PEDIDO LIMINAR DE TUTELA ANTECIPATÓRIA, ajuizada por XXX, em face de XXX
TELEFONIA, todos devidamente qualificados nos autos em epígrafe.
A autora argumenta, em síntese que é proprietá ria do terminal/linha telefô nica (XX)
XXXX-XXXX, e usuá ria de serviços de internet há muitos anos. Embora sempre tenha
cumprido com a obrigaçã o de pagamentos devidos, desde outubro de 2017 o serviço
de internet nã o funciona mais.
Buscando resolver a situaçã o, a autora alega ainda ter ligado diversas vezes pedindo
por um auxílio de um técnico para consertar o problema. Assim, a autora entrou em
contato com o PROCON e, posteriormente, com a ANATEL, nã o logrando êxito em
nenhuma das tentativas de resolver o problema. Ademais, a requerente afirma que a
empresa ré confirmou envio de um técnico, tendo ainda por cima marcado dia e hora,
sendo que ninguém apareceu.
Requereu LIMINARMENTE que o serviço de internet fosse imediatamente
normalizado, sendo esse deferido pelo juízo competente, por decisã o à s fls.XX.
Ademais, pediu pela gratuidade da justiça, qual nã o demonstrou comprovada
necessidade nos autos, assim a mesma foi indeferida.
Requereu ainda, a procedência da açã o, bem como a condenaçã o da ré ao pagamento
de indenizaçã o por danos materiais e morais num quantum equivalente à R$
57.240,00 (cinquenta e sete mil, duzentos e quarenta) reais, além dos devidos
pagamentos das custas processuais e honorá rios advocatícios e sucumbenciais.
Em seguida, em despacho à s fls.XX citou-se a ré para audiência de
mediaçã o/conciliaçã o. Ocorrida audiência no dia 14/05/2018, nã o logrou-se êxito,
porquanto ambas as partes nã o aceitaram qualquer acordo, nã o havendo
mediaçã o/conciliaçã o.
Assim, abriu-se prazo para a ré apresentar contestaçã o. Apresentada a contestaçã o, a
ré impugnou pelos pedidos suscitados na inicial pela autora.
É o relató rio, Passo a DECIDIR:
Narra a inicial, que a autora constituiu relaçã o contratual com a ré, por prazo
indeterminado, que era atualizado a cada novo ano, conforme afirmado pela ré,
havendo mensalidade imposta pelo serviço a ser paga pela contratante.
Com relaçã o ao contrato houve impugnaçã o da incapacidade da parte. No entanto, nã o
há nos autos qualquer prova documental ou testemunhal do fato narrado pela ré.
I - DA LIMINAR
O pedido de liminar baseou-se no possível dano irrepará vel, pela alegaçã o do autor
que já sofria há meses sem resoluçã o do problema, razã o pela qual esta autoridade
judiciá ria deferiu a medida.
O art. 562 do mesmo có dex processual, assevera que: Estando a petição inicial
devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar
manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará que o autor justifique
previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for
designada.
Entendo que no presente caso, nã o há mais falar em necessidade de se deferir a
liminar requerida, haja vista estarem comprovados nos autos que a autora estava em
atraso com a mensalidade do serviço, qual era prestado mediante pagamento,
conforme notificaçã o apresentada pela ré, razã o pela qual determino o imediato
desligamento dos serviços de internet.
II – DO MÉRITO

Em sede de inicial afirma a autora que estava adimplindo suas obrigaçõ es


devidamente, mas nã o há nos autos qualquer prova de pagamento, comprovante,
contrato, entre outras possíveis formas de provas. Além disso, os constantes
protocolos sinalizados pela autora (do ano de 2015), como sendo provas de seus
inú meros contatos com a ré, conforme documento acostado à s fls. _____ nada tem a ver
com o litígio ora acionado.
Entendo que faltou de ambas as partes juntada de documentos idô neos para se
afirmar dos fatos alegados, porém observo que a ré, com o dever da inversã o do ô nus
da prova trouxe aos autos có pia de notificaçã o extrajudicial e o ú nico protocolo
confirmado pela autora e ré (fls.___/____).
Na contestaçã o, juntou-se notificaçã o e protocolo da conversa mantida pelas partes,
entretanto, o devido protocolo nã o confirma os fatos alegados pela autora, pois o
mesmo trata do descontentamento da autora com o serviço de internet, que há época
já estava mais “lenta” por causa de seu inadimplemento, que fora explicado motivo
devidamente à autora, que deveria pagar a mensalidade em atraso e, posteriormente,
a suspensã o parcial do serviço seria cancelado, voltando a funcionar normalmente.
Alega a autora que a ré agendou hora e data para deslocamento de um técnico para
consertar o problema com o serviço de internet, porém este fato foi impugnado e
comprovado pelo autor, que nã o houve, já que a autora estava inadimplente com a
operadora, e, nã o há nos autos qualquer prova de veracidade por parte da autora.
Além disso, alega também que se sentiu desrespeitada e prejudicada pela ré, em razã o
de esperar a soluçã o do problema e indiferença total na sua reivindicaçã o.
De certo que a lei autoriza suspensã o apenas apó s aviso prévio ao consumidor, para
que o mesmo possa reconhecer possíveis erros e corrigi-los. No entanto, a autora
estava em atraso e permaneceu sem pagar a mensalidade dos serviços, por isso, como
alega a ré, esta suspendeu, apó s aviso, mediante notificaçã o (à s fls.____), de forma total
o serviço mencionado. Quanto ao prejuízo material, este nã o resta evidenciado, nã o
merecendo o autor ser indenizado, porquanto nã o houve lesã o a nenhum bem ou
direito economicamente apreciá vel. Alguns tribunais já entenderam que o bloqueio do
serviço nã o comprova lucros cessantes, o que é o caso concreto também aqui. Ora
vejamos:
CONSUMIDOR. SERVIÇO DE TELECOMUNICAÇÕ ES. TELEFONIA FIXA E INTERNET.
BLOQUEIO DOS SERVIÇOS. LUCROS CESSANTES NÃ O COMPROVADOS. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71005558028, Terceira Turma
Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Cleber Augusto Tonial, Julgado em
09/07/2015).
Quanto ao dano moral, nota-se que a autora de fato reclamou acerca do serviço
suspenso parcialmente, mas a autora estava em descumprimento com a obrigaçã o do
pró prio contrato. Pelos Princípios da razoabilidade e proporcionalidade nã o
configura, pela suspensã o parcial ou mesmo total do serviço que a ré humilhou ou
lesionou a honra subjetiva da autora, restando um mero aborrecimento, pois a ré
estava amparada pela lei.
Conforme consta na Resoluçã o ANATEL, no. 632 em seus arts. 90, 93 e 97:
Art. 90. Transcorridos 15 (quinze) dias da notificaçã o de existência de débito vencido
ou de término do prazo de validade do crédito, o Consumidor pode ter suspenso
parcialmente o provimento do serviço.
Art. 93. Transcorridos 30 (trinta) dias do início da suspensã o parcial, o Consumidor
poderá ter suspenso totalmente o provimento do serviço.
Art. 97. Transcorridos 30 (trinta) dias da suspensã o total do serviço, o Contrato de
Prestaçã o do Serviço pode ser rescindido.
Além disso, há tribunais que decidiram pelo desprovimento de dano moral ou
material decorrente de ato ilícito praticado pela operadora, vejamos:
TJ-SE APELAÇÃ O CÍVEL AC 2003200725 DATA DE PUBLICAÇÃ O 15/03/2004.
EMENTA: Apelaçã o e indenizaçã o por danos material e moral. Corte no fornecimento
de energia elétrica. Ato ilícito. Lei no. 8987/95, art. 6º § 3º, II, INADIMPLÊNCIA DE
FATURAS E PRÉVIO AVISO. Requisitos presentes. Culpa exclusiva do usuário.
Exceção ao art. 22 do CODECON. Recurso Adesivo. Dano Moral. Inexistência. (...)
sendo o ato da suspensão do fornecimento da energia lícito, não há que se falar
em dano moral ou material que dele possa vir.
A notificaçã o extrajudicial, bem como a juntada do protocolo simbolizam a mora da
autora, e ainda, evidencia a motivaçã o legal imposta pela ré:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. LIMINAR. COMODATO.
NOTIFICAÇÃ O PARA DESOCUPAÇÃ O DO IMÓ VEL. ESBULHO. POSSESSÓRIA. VIA
ADEQUADA. POSSE VELHA. NÃO CONFIGURAÇÃO. 1. COMO REGRA, CELEBRADO
O COMODATO, O PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL TRANSFERE, AO COMODATÁRIO, A
POSSE PRECÁRIA DO BEM, CARACTERIZANDO-SE O ESBULHO SE, CESSADO O
NEGÓCIO JURÍDICO, DEVIDAMENTE NOTIFICADO, O ÚLTIMO NÃO DESOCUPA O
IMÓVEL. 2. A REINTEGRAÇÃ O DE POSSE É VIA ADEQUADA PARA COMBATER
ESBULHO PRATICADO EM RAZÃ O DA DETENÇÃ O DO BEM APÓ S O TÉ RMINO DO
COMODATO. PRECEDENTES. 3. SÓ A P ARTIR DO ESBULHO, A COMODATÁ RIA TEM
POSSE PLENA DO BEM, INICIANDO-SE, A PARTIR DO CITADO ATO, O PRAZO MÁ XIMO
DE UM ANO E UM DIA NECESSÁ RIO, PRESENTES OS DEMAIS PRESSUPOSTOS LEGAIS,
À APLICAÇÃ O DO ART. 928, DO CPC. 4. SENDO RELEVANTE A ARGUMENTAÇÃ O DA
AUTORA, BEM COMO SE ENCONTRANDO PRESENTE O PERIGO DE LESÃ O
IRREPARÁ VEL OU DE DIFÍCIL REPARAÇÃ O, DEVE SER CONCEDIDA A LIMINAR
POSTULADA PARA REINTEGRAR-LHE NA POSSE DO IMÓ VEL. 5. AGRAVO DE
INSTRUMENTO IMPROVIDO.(TJ-DF - AI: 238157420118070000 DF 0023815-
74.2011.807.0000, Relator: ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS, Data de Julgamento:
16/05/2012, 4ª Turma Cível, Data de Publicaçã o: 06/06/2012, DJ-e Pá g. 119)
Isto posto, entendo que a autora nã o possuía direitos a tal reclamaçã o, posto que nã o
estava cumprindo com o contrato estabelecido com a prestadora, ré, o que deu direito
à empresa de suspender os serviços, como já mencionado acima.
III - DO VALOR DA CAUSA
A inicial está em desacordo total com as provas acostadas aos autos. Dessa forma, nã o
há falar, no presente momento, em valor da causa.
IV – DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS REQUERIDOS PELO
AUTOR.
Nã o vislumbro o cabimento de indenizaçã o por danos morais, como requer a autora,
pois nã o fora comprovada nos autos a evidência de tais danos por ela sofridos.
Com relaçã o aos danos patrimoniais, estes nã o sã o cabíveis no caso em comento, pois,
nã o há provas nos autos de lesã o efetivamente causada, ou de bem perdido, tampouco
de dano frustrado ou que deveria ser recebido (lucro cessante), dada comprovada
inadimplência da pró pria autora, ou seja, resta dano causado por fato da pró pria
autora.
Porém com relaçã o as custas processuais e honorá rios advocatícios, estes devem ficar
por conta da autora, vez que sucumbente.
V – DO DISPOSITIVO
ISTO POSTO, JULGO TOTALMENTE IMPROCEDENTE ESTA AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS AJUIZADA EM DESFAVOR DA
XXX- TELEFONIA, CONFIRMANDO PARA TANTO, O INDEFERIMENTO DA LIMINAR
ANTES DEFERIDA. INDEFIRO TAMBÉM OS PEDIDOS DE INDENIZAÇÕES
CONSISTENTES EM DANOS MATERIAIS E MORAIS, ENTENDO QUE TAL
DEFERIMENTO ENSEJARIA O ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA DA REQUERENTE.
NESTE PASSO, CONDENO A AUTORA AOS PAGAMENTOS DAS CUSTAS
PROCESSUAIS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA.
I-PUBLIQUE-SE. REGISTRE-SE. INTIMEM-SE. CUMPRA-SE.
II- AGUARDE-SE O TRÂNSITO EM JULGADO, EM CASO DE NÃO INTERPOSIÇÃO DE
RECURSOS, ARQUIVE-SE, OS AUTOS.

Cidade, estado, data, mês e ano


XXX
Juiz de Direito

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