Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
APRESENTAÇÃO
PROF. BRUNO
FERRAZ
Futuro Residente,
@profbrunoferraz
Estratégia Med
t.me/estrategiamed
/estrategiamed
Estratégia
MED
@estrategiamed
CARDIOLOGIA Bradiarritmias Estratégia
MED
SUMÁRIO
1.0. DEFINIÇÃO 4
2.0. ETIOLOGIA DAS BRADIARRITMIAS 5
3.0. CLASSIFICAÇÃO DAS BRADIARRITMIAS 6
3 .1 . DISFUNÇÃO DO NODO SINUSAL 6
4 .2 . BRADIARRITMIAS ESTÁVEIS 15
CAPÍTULO
1.0. DEFINIÇÃO
Começaremos definindo bradiarritmia: são as arritmias que ocorrem com frequência cardíaca (FC) abaixo de 50 bpm, de modo
permanente ou intermitente.
CAPÍTULO
que possui uma taxa de disparo mais baixa. Por fim, se o nodo
atrioventricular for inibido, o ventrículo despolarizará por conta
Feixe de His
própria. Quanto mais distante do nodo sinusal, mais baixa é a taxa
Nodo Atrioventricular
de despolarização.
Ramo esquerdo
Ramo direito
Diversas situações, incluindo fisiológicas, podem provocar bradiarritmias. Didaticamente, dividimos em causas intrínsecas (relacionadas
a algum acometimento direto do tecido de condução) e extrínsecas (relacionadas ao estímulo externo como causador da bradicardia).
CAPÍTULO
Esse tipo de bradiarritmia é caracterizado pela presença de alterações anatômicas ou funcionais no nodo sinusal (ou sinoatrial). Ao
provocar sintomas, ela passa a ser denominada doença do nodo sinusal. Se o sintoma for síncope, também pode ser chamada de síndrome
de Stoke-Adams. É mais comum em mulheres e idosos (60 a 69 anos) e é responsável por metade dos implantes de marcapasso definitivo
nos EUA. No Brasil, a causa mais comum de doença do nodo sinusal é a cardiopatia chagásica crônica. A cardiopatia isquêmica também é
uma causa importante.
Existem três tipos de disfunção de nodo sinusal: bloqueio sinoatrial, bradicardia sinusal e síndrome “bradi-taqui”. Esses temas raramente
são cobrados nas provas de Residência, por isso serão resumidos neste mapa mental:
BSA 10 grau
BSA 30 grau
Mulheres e idosos
(60-69 anos)
INTRÍNSECA EXTRÍNSECA
Taquicardias
supraventriculares
(especialmente, FA)
Causas: cardiopatia Causas: fármacos, Síndrome
chagásica, isquêmica, distúrbios “bradi-taqui”
degeneração eletrolíticos, vagal
Bradicardia
Síncope e palpitação
Mapa mental disfunção do nodo sinusal. BSA: bloqueio sinoatrial; ECG: eletrocardiograma; FC: frequência cardíaca; FA: fibrilação atrial.
O intervalo PR é o atraso fisiológico da condução atrioventricular que visa a proteção do ventrículo em caso de taquiarritmias
supraventriculares. Deve-se imaginar que o intervalo PR será a chave para identificação dos distúrbios da condução atrioventricular. O
intervalo PR normal possui 120 ms a 200 ms (três a cinco quadradinhos)
A principal causa dos bloqueios atrioventriculares (BAV) é DEGENERATIVA (fibrose ou esclerose progressiva das fibras de condução –
doença de Lev-Lenègre). A segunda principal causa é isquêmica, e devemos ter atenção especial ao infarto inferior! Em muitos pacientes, a
coronária direita emite o ramo que irriga o nodo sinusal e o nodo atrioventricular. Por isso, o infarto inferior (relacionado à coronária direita,
na maioria das vezes) ocasiona BAV em 15% dos casos.
O diagnóstico eletrocardiográfico dos bloqueios atrioventriculares é um dos tópicos mais cobrados sobre esse tema. Então, vamos fixá-
lo! O bloqueio pode ser subdividido em três graus:
• BAV de 1º grau: ocorre um atraso maior e fixo na condução atrioventricular, porém todo estímulo atrial atinge os ventrículos.
Dessa forma, será caracterizada por aumento do intervalo PR (> 200 ms ou cinco quadradinhos)
BAV de 1º grau: aumento do intervalo PR (> 200ms ou cinco quadradinhos). Todas as ondas P geram QRS.
• BAV de 2° grau: neste caso, já ocorrem falhas de condução do átrio para o ventrículo. É subdividido em dois tipos:
○ BAV de 2° grau Mobitz I (Wenckebach): ocorre aumento progressivo do intervalo PR até haver falha de estimulação ventricular
(uma onda P não gera um QRS).
BAV de 2º grau Mobitz I: há aumento progressivo do intervalo PR até surgir uma falha na condução atrioventricular. O intervalo RR vai reduzindo progressivamente.
○ BAV de 2º grau Mobitz II: a falha de condução é inesperada. Está associado ao distúrbio de condução no feixe de His e denota
pior prognóstico (bloqueio mais distal). Existe também o BAV avançado, em que a condução atrioventricular está bloqueada de maneira
fixa (2:1, por exemplo).
BAV de 2º grau Mobitz II: há uma falha de condução inesperada. O intervalo PR é fixo.
• BAV de 3º grau ou BAV total (BAVT): não existe qualquer relação da atividade atrial com a ventricular. Nenhum estímulo atrial
chega ao ventrículo! Com isso, o ventrículo assume despolarização própria. Essa despolarização pode ser por escape juncional (QRS
estreito) ou idioventricular (QRS largo). Quanto mais largo o QRS, mais distante da junção atrioventricular e pior o prognóstico.
BAV de 3º grau: a onda P não tem qualquer relação com o QRS. Observe que a atividade atrial é mais rápida que a atividade ventricular e ambas são regulares.
Esse é o tópico mais importante deste capítulo! Você entendeu que o bloqueio atrioventricular tem caráter progressivo? No início, nada
é bloqueado, mas ocorre lentificação. Com a evolução do bloqueio, as coisas vão piorando até chegar ao bloqueio triplo da seleção russa de
vôlei (não passa nada!). Aliás, o vôlei pode ajudar-nos a entender melhor esses bloqueios.
P
SAQUE
PR
TEMPO QUE A BOLA
QRS MANCHETE
DEMORA A CHEGAR NO
OUTRO JOGADOR
PR > 200ms
P
SAQUE
PR
TEMPO QUE A BOLA
QRS MANCHETE
DEMORA A CHEGAR NO
OUTRO JOGADOR
INTERVALO PR VAI PROLONGANDO ATÉ BLOQUEAR
P
SAQUE
PR
TEMPO QUE A BOLA
QRS MANCHETE
DEMORA A CHEGAR NO
OUTRO JOGADOR
INTERVALO PR FIXO E HÁ UM BLOQUEIO SÚBITO
P
SAQUE
PR
TEMPO QUE A BOLA
QRS SAQUE
DEMORA A CHEGAR NO
OUTRO JOGADOR
ONDA P NÃO TEM RELAÇÃO COM O QRS
Essa classificação não é apenas importante para as provas de Residência, mas tem importância PROGNÓSTICA. O BAV de 1º grau e o
BAV de 2° grau Mobitz I são benignos. A prevalência é maior em atletas e indivíduos sadios assintomáticos. Em contrapartida, o BAV de 2º
grau Mobitz II e o BAV de 3º grau são mais graves e, geralmente, indicam a necessidade de marcapasso.
O bloqueio atrioventricular pode ser definitivo ou intermitente. Por isso, é fundamental reconhecer sua causa. Diante de causas
degenerativas, a tendência é que o bloqueio seja definitivo. No caso de uso inadequado de medicamentos (betabloqueador, por exemplo), o
bloqueio é intermitente e devemos aguardar a reversão do efeito do medicamento antes de indicar terapia definitiva.
BLOQUEIOS
BOM PROGNÓSTICO ATRIOVENTRICULARES MAU PROGNÓSTICO
CAPÍTULO
4 .1 . BRADIARRITMIAS INSTÁVEIS
Quando a bradicardia provoca sintomatologia ou demonstra sinais de baixo débito cardíaco, significa que devemos agir!
Nas bradiarritmias, identificar a causa é fundamental e pode ser a chave para o tratamento. A história e exame físico podem trazer dicas
valiosas sobre o diagnóstico. Além disso, o ECG será peça fundamental na abordagem inicial. Além de fornecer o diagnóstico da bradiarritmia,
pode informar o local do distúrbio de condução e sua causa (infarto do miocárdio, por exemplo).
A presença de QRS estreito sugere que a origem do bloqueio é acima do feixe de His (supra-hissiano). Esses bloqueios têm a
característica de responder à atropina. Por outro lado, a presença de QRS largo sugere bloqueio infra-hissiano. Esses bloqueios são mais
graves e demandarão, na maioria dos casos, marcapasso.
Na identificação do diagnóstico diferencial, devemos procurar as seguintes condições:
• Hipoxemia: causa comum de bradicardia. Devemos suspeitar em pacientes com sinais de insuficiência respiratória e queda da
saturação ao oxímetro de pulso. A correção da hipoxemia pode reverter a bradiarritmia.
• Hipotermia: causa comum de bradicardia em pacientes hospitalizados.
• Medicamentos: importante questionar o uso de betabloqueadores, bloqueadores de canais de cálcio (verapamil e diltiazem),
antiarrítmicos (amiodarona e propafenona), antidepressivos tricíclicos e digitálicos.
• Distúrbios eletrolíticos: suspeitar nos pacientes em uso de medicamentos que provocam alterações eletrolíticas ou com disfunção
renal.
• Reflexo vagal: identificar situações que promovem estimulação vagal, como infarto inferior, dor intensa, entre outros. Esses casos
respondem bem à atropina.
• Infarto/isquemia miocárdica: o ECG pode ajudar nesse diagnóstico diferencial, assim como a presença de dor torácica.
• Cirurgia cardíaca e endocardite: manipulação da valva aórtica e mitral podem comprometer o sistema de condução cardíaco. O
mesmo acontece com a endocardite, especialmente quando há formação de abscesso.
• Doenças do sistema de condução: algumas doenças acometem o sistema de condução, como a doença de Chagas. A doença do
nodo sinusal também pode ser causa da bradiarritmia.
As pás liberarão descarga elétrica no subcutâneo que cronotropismo, utilizaremos em dose beta-adrenérgica (2 mcg/
gerarão “choques” constantes na parede torácica. Esses “choques” kg/min a 20 mcg/kg/min). Por fim, podemos utilizar a adrenalina
ocasionam desconforto razoável e demandam analgesia e sedação. em infusão contínua (2 mcg/min a 10 mcg/min), visto que também
Dessa forma, você já deve ter imaginado que esse procedimento possui potente ação alfa e beta-adrenérgica. Devemos ter cautela
é temporário! Ele serve apenas para resolver a instabilidade em pacientes com infarto do miocárdio, já que essa droga aumenta
rapidamente. Esse paciente precisa de um marcapasso transvenoso! o consumo miocárdico e pode piorar a isquemia. Vale lembrar que
Uma opção ao marcapasso transcutâneo é o uso de o uso concomitante dessas drogas não é aconselhável, já que atuam
dopamina. A dopamina possui efeito alfa e beta-adrenérgico, nos mesmos receptores.
dependendo da dose utilizada. Como queremos aumentar o
O marcapasso transvenoso é a resolução dos problemas na fase aguda. Em todos os pacientes que não responderam à atropina,
seu uso deve ser fortemente considerado. O uso prolongado de dopamina e adrenalina deve ser considerado somente em locais onde o
marcapasso transvenoso não está disponível. O implante de marcapasso transvenoso exige punção venosa profunda, por isso exige pessoal
treinado, assim como confere risco de pneumotórax.
A figura abaixo sumariza o fluxograma de atendimento do paciente com bradiarritmia instável:
BRADIARRITMIA
INSTÁVEL
INSTABILIDADE PERSISTENTE?
Diminuição da pressão
Diminuição do nível de consciência
Monitoração e observação Dor torácica
NÃO Dispneia (insufiência cardíaca)
SIM
ATROPINA IV
0,5mg IV a cada 3-5min
Dose m´xima: 3mg
SE INEFICAZ
Marcapasso ou transcutâneo
ou
Infusão de dopamina
(2-20mcg/Kg/min)
ou
Infusão de adrenalina
(2-10mcg/min)
Marcapasso transvenoso
4 .2 . BRADIARRITMIAS ESTÁVEIS
Em pacientes sem sinais de instabilidade hemodinâmica, temos tempo para pensar! Inicialmente, devemos procurar por causas
reversíveis (já citadas anteriormente). Uma vez descartada a presença de causa reversível, devemos avaliar o grau do bloqueio. Pacientes com
BAV avançado (BAV de 2º grau Mobitz II ou BAV de 3° grau) devem ser considerados para implante de marca-passo definitivo, especialmente
aqueles com cardiopatia prévia.
Bloqueios avançados
INDICAÇÃO DE
MARCAPASSO Causa irreversível
DEFINITIVO
Sintomas
https://bit.ly/3qhmopu
CAPÍTULO
6.0. BIBLIOGRAFIA
1. Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia
- 2019. Arq Bras Cardiol 2019; 113(3):449-663.
2. Medicina Intensiva: abordagem prática. Luciano César Pontes de Azevedo, Leandro Utino Taniguchi, José Paulo Ladeira. 2ª edição. Manole,
2015.
3. Emergências Clínicas: abordagem prática. Herlon Saraiva Martins et al. 10° edição. Manole, 2015.
4. III Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre análise e emissão de laudos eletrocardiográficos. Arq Bras Cardiol 2016;
106(4Supl.1):1-23.
5. Kalil & Fuster. Medicina Cardiovascular. Editora Atheneu, 2016.
6. Advanced cardiac life support (ACLS) in adults. Uptodate.com (acesso em 05/06/2020).
7. Sinus node dysfunction: Clinical manifestations, diagnosis, and evaluation. Uptodate.com (acesso em 30/05/2020).
8. Medicina Interna de Harrison. 20° edição, 2019. J. Larry Jameson, Anthony S. Fauci, Dennis L. Kasper, Stephen L. Hauser, Dan L. Longo,
Joseph Loscalzo.
CAPÍTULO