TEORIA
A definição dos objetivos da pesquisa pode ser feita através da
revisão das teorias já existentes (revisão do "estado da arte")
A revisão do estado da arte permite definir hipóteses teóricas,
que podem ser testadas pela verificação dos fenómenos.
A teoria coordena e direciona a pesquisa, permitindo
selecionar e iluminar um ponto de vista sobre a realidade.
MÉTODOS
Para exercitar a imaginação sociológica, devemos seguir um
determinado método, enquanto conjunto de regras e
procedimentos que permitam encarar e organizar as
investigações concretas:
método extensivo (de medida ou quantitativo) análise de
dados estatísticos
> pretende a quantificação de práticas (atitudes, padrões de
comportamento, opiniões, valores…) de populações
relativamente numerosas.
vantagens:
 observação de populações numerosas;
 comparabilidade dos resultados e representatividade
estatística;
 deteção de regularidades ou padrões nas práticas sociais
estudadas.
desvantagens:
 superficialidade da informação recolhida;
 frieza e dificuldade em captar o lado vivido dos
fenómenos sociais.
método intensivo (de estudo ou qualitativo) inquérito/entrevista temas e a valorização da organização relativamente livre do
> analisa um determinado fenómeno na sua especificidade e
multidimensionalidade, geralmente uma unidade social bem
delimitada (uma turma, escola, grupo…). Para tal aprofunda a
informação recolhida e valoriza o sentido que os agentes
sociais conferem à sua própria ação.
vantagens:
 profundidade da observação;
 valorização do quotidiano dos agentes sociais e das suas
formas de expressão no próprio momento em que se
produzem;
 atenção à especificidade de cada caso.
desvantagens:
 dificuldade na generalização da informação recolhida nos
estudos de caso;
 maior tendência para a empatia e identificação com os
observados, com perda de objetividade.
Perante as vantagens e as desvantagens de ambos os métodos,
muitos autores defendem a sua combinação, aproveitando as
respetivas vantagens, e, se possível, eliminando as suas
desvantagens, a isto se chama eclectismo metodológico.
Investigação-ação: abordagem metodológica que combina
pesquisa e ação prática. A pesquisa é feita dentro do contexto
que se está a estudar, com o objetivo de o transformar através
da aplicação dos resultados da pesquisa.
TÉCNICAS
> Documentais:
Fontes:
- primárias: informação produzida pelo próprio investigador
- secundárias: informação preexistente e independente da pesquisa
- não escritas: imagem, som, oralidade, símbolos, arte…
- escritas oficiais: arquivos, legislação
- escritas não oficiais: websites, redes sociais, livros, jornais
> De inquirição:
questionário:
- perguntas abertas: conferem à resposta uma liberdade mais
ampla
- semiabertas/semifechadas: combinação das perguntas
abertas e fechadas
- perguntas fechadas: não permitem outras opções além das
que estão previamente definidas no inquérito
É usual inquirir-se apenas uma amostra – subconjunto da
população alvo, deve ter representatividade (ser proporcional
às características da população alvo, e que permite a
generalização à totalidade do universo de análise).
população alvo – conjunto de pessoas ou grupo que queremos
conhecer.
entrevista:
- diretiva: quando o entrevistador não concede qualquer
margem de manobra ao entrevistado, seguindo rigidamente a
ordem de perguntas do guião
- semidiretiva ou em profundidade: compromisso entre a
necessidade de abordar o entrevistado sobre determinados
seu discurso
- não direta ou livre: quando não há propriamente um guião,
mas sim alguns temas que conduzem a conversa.
história de vida: série de entrevistas de tipo semidiretivo,
geralmente aplicadas em várias sessões, tendo subjacente um
guião que procura cruzar dados biográficos e ciclos de vida
pessoais com circunstâncias históricas e sociais.
vantagens/desvantagens da entrevista face ao questionário
vantagens:
 aprofunda a informação recolhida;
 capta o sentido que os agentes sociais dão às práticas;
 respeita a “voz” e os quadros culturais dos entrevistados.
desvantagens:
 não permite relacionar variáveis com tanta facilidade;
 é muito mais difícil obter representatividade estatística;
 nem sempre o que as pessoas dizem corresponde ao que
fazem – importa, portanto, comparar as “declarações”
com as práticas reais.
> De observação:
- observação participante (pesquisa etnográfica ou método
etnográfico): entrada do investigador num determinado
terreno e a sua permanência durante algum tempo, ganhando
familiaridade com os observados e interagindo com eles como
se pertencesse ao seu território e cultura; articula várias
técnicas e é registada através de um diário de campo.
- observação direta: caracteriza-se pelo facto de o investigador
ver e ouvir de acordo com uma grelha de observação
preexistente, registando, por exemplo, posturas corporais,
indumentárias, conversas…, sem entrar em interação verbal
com os observados.
- sociologia visual: utilização, para fins de pesquisa, da
fotografia e da filmagem.
questionário quantitativo
inquirição
entrevista qualitativa
participante qualitativa
observação diretiva – grelha de
quantitativa
observação
análise estatística quantitativa
documental
análise do conteúdo qualitativa
A cultura permite-nos conhecer as convenções comuns e
partilhar um conjunto de valores, crenças, informações e
expectativas.
Definição sociológica de cultura: é tudo aquilo que é adquirido
e que não é inato/natural mas sim o resultado das práticas de
um povo (tradições, crenças, valores e costumes).
A cultura é "todo aquele complexo que inclui o conhecimento
as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros
hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro
de uma sociedade" - E.B. Tyler,
Antropologia – o sentido que as pessoas atribuem à realidade
que as rodeia (a cultura é um modo de vida que identifica os
povos e a sua identidade) e não há culturas superiores às
outras. Só podemos entender uma cultura a partir do
significado que é dado às práticas pelas pessoas que fazem
parte dela.
Relativismo cultural – as práticas e os valores culturais variam
no espaço e no tempo
Vantagem: respeito pelas diferenças culturais
Desvantagem: impossibilidade de condenar práticas
desumanas de outros povos - justificação de todas as práticas,
incluindo práticas desumanas ou discriminatórias. (ex.:
mutilação genital feminina)
Elementos de cultura – podem ser materiais (gastronomia,
vestuário, arquitetura, obras de arte) ou imateriais (língua,
religião, valores, criações intelectuais, costumes, tradições).
Padrões de cultura - são os modos de vida próprios e habituais
de certas sociedades ou grupos, adotados pela maioria dos
seus membros
No mundo atual existe uma enorme variedade de padrões de
cultura, por vezes no mesmo espaço: diversidade cultural.
Etnocentrismo - atitude pela qual um indivíduo ou um grupo
social consideram a própria cultura como padrão de referência
e julga outros indivíduos ou grupos à luz dos seus próprios
valores. Pressupõe que o indivíduo, ou grupo de referência, se
considere superior àqueles que ele julga.
Multiculturalismo: coexistência, numa sociedade, de
diferentes culturas que são toleradas.
Interculturalismo: interação entre as diferentes culturas e
influência mútua.
Aculturação: influência excessiva de uma cultura sobre a
cultura local.
NORMAS, VALORES E PADRÕES
A cultura, ao concretizar-se num determinado modo de vida
que engloba maneiras de pensar, de agir e de sentir, influencia
os valores e as crenças dos indivíduos, bem como os seus
comportamentos e sentimentos.
Valores - são aquilo que um indivíduo ou uma comunidade
considera bom e desejável.
Normas - são as regras ou os padrões de comportamento
partilhados pelos membros de um grupo social.
Padrão de cultura - é o conjunto de normas e símbolos que
regem e unificam, numa determinada cultura, as maneiras de
agir, de pensar e de sentir dos seus membros.
A existência de padrões culturais comuns permite saber como
agir e o que esperar dos outros numa dada situação. Deste
modo, favorecem a existência de coesão social, o que é
gerador de sentimentos de segurança.
 A cultura é transmitida de geração em geração - o ser
humano é um produto da cultura
 Interage com a sociedade e transforma-a – o ser humano
é um agente produtor de cultura.
Socialização: agentes e mecanismo
Integração social – modo como indivíduos autónomos são
incorporados num espaço social comum através dos seus
relacionamentos e interdependência, isto é, como são
constituídos os laços e símbolos de pertença coletiva.
Inclusão social – medidas e políticas que têm como objetivo
garantir a participação igualitária de todos a sociedade,
independente da classe social, da condição física, da educação,
do género, da orientação sexual ou da etnia…
Exclusão social – processos sociais que privam certos grupos
e/ou classes sociais de participação nas instituições e na vida
normal da sociedade.
Inclusão/exclusão social – também se produz de acordo com o
grau de assimilação das normas e valores de uma cultura
Socialização – processo através do qual o individuo interioriza,
ao longo da sua vida as normas e os valores da sociedade a que
pertence.
Socializar é transmitir os modos de agir, pensar e sentir que
permitem a integração dos indivíduos
O processo de socialização começa com o nascimento do
indivíduo e só termina com a sua morte.
Socialização primária - ocorre durante a infância e a
adolescência. Neste período aprende-se a linguagem, as regras
básicas da sociedade, a moral e os modelos comportamentais
do grupo a que se pertence.
Socialização secundária - ocorre na vida adulta, em contexto
mais específicos, quando o indivíduo tem de se adaptar a novas
situações, tais como, por exemplo, quando arranja um novo
emprego, muda de cidade ou constitui família.
O indivíduo vai aprender as normas e os comportamentos
próprios desse novo contexto, aprendendo a desempenhar
novos papéis sociais.
Mecanismos de socialização:
• Imitação - é muito importante na infância, mas também
acontece na vida adulta, quando o indivíduo está perante
situações novas.
• Aprendizagem – a aprendizagem da linguagem e das regras
de convívio social, por exemplo, são fundamentais para a socia
lização.
• Identificação - o indivíduo identifica-se com certos modelos
de comportamento. Inicialmente a criança identifica se com os
pais, mais tarde com os colegas de escola e amigos do grupo,
com os colegas de trabalho, etc.
Dado que os indivíduos pertencem a vários grupos e ainda
desejam pertencer a outros, a identificação é um processo
complexo: por um lado, o indivíduo deseja ser como os outros
e ser aceite; por outro lado, sente necessidade de se
diferenciar dos grupos para afirmar a sua individualidade.
Agentes de socialização: transmissores das normas sociais e
padrões culturais:
• Família - é o primeiro e principal agente de socialização. A
família garante a segurança e a sobrevivência da criança, e
transmite uma série de hábitos e valores
• Escola – permite a aquisição de conhecimentos e
desenvolvimento de competências.
• Media - Os meios de comunicação social (televisão, internet,
jornais, revistas, filmes, rádio, etc. ) são cada vez mais
importantes na vida dos indivíduos, particularmente dos
jovens. São fonte de informação e de entretenimento, e
divulgam modelos de comportamento que são muitas vezes
imitados.
• Grupo de pares – tal como os meios de comunicação social,
podem valorizar e encorajar comportamentos que são
contrários às normas impostas pela escola e pela família.
Os contextos em que a socialização acontece podem ser
classificados de formais – interações que ocorrem nas
instituições de ensino, sujeitas a um programa (ex., a escola e o
local de trabalho) ou informais (rua, café, redes sociais)
Agentes de socialização: grupo de pares
O grupo de pares, ou de amigos, são muito importantes na
socialização dos jovens
Os comportamentos individuais são afetados pelas normas dos
grupos em que estão inseridos
Entre amigos, os jovens frequentemente socializam sem a
intervenção de adultos, podendo surgir comportamentos
desviantes.
Os jovens também se podem identificar, por antecipação, com
o grupo a que gostariam de pertencer. Adotam os
comportamentos e os estilos de vida que percebem como
sendo próprios desse grupo, tendo em vista uma possível
integração futura
Podemos distinguir o grupo de pares (de que o sujeito faz
parte) do grupo de referência (a que aspira pertencer):
• Grupos de pertença - são aqueles em que estamos inseridos
e mais ou menos integrados. Por ex: alunos de uma turma,
membros de uma família, grupo de amigos, etc.
• Grupos de referência - são aqueles a que aspiramos pertencer.
• Socialização por antecipação - o indivíduo adota os
comportamentos dos grupos a que aspira pertencer.
Exemplos: Operário que quer subir na vida, e se esforça por
imitar o estilo de vida da classe média. Jovem que quer
integrar-se num grupo mais popular, adotando o mesmo tipo
de comportamentos (p. ex. ao nível do vestuário, vocabulário,
consumos, etc.)
Papéis sociais, estatutos atribuídos e adquiridos
Papel social - normas e condutas ligadas a uma situação ou
atividade social que orientam o jogo de expectativas nas
relações sociais. Orientam as nossas expectativas face ao
comportamento dos outros e os nossos comportamentos
medias as expectativas dos demais – confere previsibilidade.
Estipula limites à liberdade, conduzindo-nos para determinadas
condutas, posturas e linguagens e influenciando as nossas
aspirações.
As pessoas relacionam-se com a posse de um estatuto social -
posição que uma pessoa ocupa na estrutura/ hierarquia social:
• estatutos de atribuição ou inatos – o individuo não controla,
já nasceram com ele (ascendência, género, etnia,...)
• estatutos de realização ou adquiridos – resultam de
aquisições o indivíduos (escolaridade, profissão, modos de
vida,...) condicionados pelos recursos de que dispõe.
Sociedades complexas: o individuo (ator social – age em
função dos seus papeis e dos outros atores sociais)
desempenha vários papéis (que determinam as expectativas
relativamente ao seu comportamento)
Mecanismos de controlo social
Ordem social – forma como uma determinada sociedade
integra os seus membros, por intermédio da promoção de
valores e instituições comuns, mas também através de
mecanismos – formais ou informais – de controlo da sociedade.
A manutenção da ordem social implica que os indivíduos
aceitem os valores, normas e comportamentos do grupo ou
sociedade em que estão inseridos.
As normas são "regras de comportamento que refletem ou
incorporam os valores de uma cultura, prescrevendo um
determinado tipo de comportamento ou proibindo-o".
Controlo social – processos que se desenrolam no interior de
grupos sociais para impedir a violação das regras sociais
Os atos praticados pelos indivíduos que se conformam às
normas em vigor são recompensados (sanção positiva)
 enquanto aqueles que são contrários às normas são alvo de
castigos (sanções negativas).
Os comportamentos contrários às normas vigentes são
classificados como comportamentos desviantes.
Por vezes os agentes de socialização transmitem normas e
valores dissonantes:
– grupos de pares: por incentivarem o incumprimento de
obrigações escolares
– media: criam “batalhas cognitivas”(ex.: algoritmo, a pessoa
só vai receber informações que reforçam a sua opinião) 
possível polarização da opinião pública o que torna mais difícil
o diálogo entre pessoas com opiniões diferentes
Desvio social – transgressão ao que os grupos dominantes na
sociedade consideram como “normal”.
As sanções, tanto positivas como negativas, são muito diversas.
As negativas, por exemplo, podem ir desde um mero olhar ou
comentário reprovador, até aos castigos com pena de prisão
quando os comportamentos são contrários à lei.
O papel das instituições sociais: produção e reprodução social
As instituições são organizações básicas da vida social, criadas
pelo uso comum ao longo do tempo. Cumprem funções sociais
que ultrapassam os indivíduos.
Exemplos de instituições: escola, família, igreja, Estado.
As instituições sociais têm um papel fundamental no processo
de reprodução social, isto é, na manutenção da ordem social,
das hierarquias existentes, das normas e valores dominantes.
reprodução social – transmissão das normas e valores da
sociedade e da sua organização (agentes de reprodução:
escola, família)
Caraterísticas das instituições:
• Normatividade – são sentidas como obrigatórias. Os
indivíduos sujeitam-se a sanções conforme as respeitem ou não.
• Estruturação – geram padrões de comportamento comuns à
maioria dos atores sociais.
• Durabilidade - perduram no tempo, assegurando a fixação e
reprodução da estrutura social, das suas normas e costumes.
• Legitimidade - a maioria reconhece-lhes utilidade e
autoridade.
Reprodução e mudança social
As sociedades também têm uma componente dinâmica. As
normas, valores e estruturas sociais estão em permanente
mudança, embora lentamente.
Numa mesma sociedade coexistem processos de reprodução e
de mudança social.
Mudança social - mudança (lenta) das estruturas básicas de um
grupo social ou da sociedade. A mudança social resulta muitas
vezes da existência de conflitos sociais e da reivindicação de
direitos.
Mobilidade social – é a possibilidade do indivíduo melhor a sua
posição social na sociedade.
Revoluções - são períodos de rápida mudança social.
Mudança social e conflitos sociais
Muitas vezes a mudança social surge na sequência de conflitos
sociais (mudança através de reivindicações) e da reivindicação
de direitos, por exemplo:
 Movimento feminista sufragista – lutou pelo alargamento
do direito ao voto às mulheres
 Reivindicação dos trabalhadores para a conquista de
melhores condições de trabalho
 Movimentos de luta contra o racismo (por exemplo, o
movimento "Black Lives Matter")
Fatores que influenciam a mudança social:
 Económicos - descobertas científicas e inovações
tecnológicas
 Políticos - implementação de novas políticas, luta entre
diferentes partidos e setores da sociedade com diferentes
interesses
 Culturais – surgimento de novas correntes de
pensamento e novos movimentos artísticos
Representações sociais
As representações sociais podem ser definidas como o
conjunto de conhecimentos, crenças ou opiniões partilhadas
por membros de um grupo em relação a objectos sociais, tais
como por exemplo:
 Assuntos atuais (por exemplo, vacinação)
 Objectos físicos (por exemplo, carros eléctricos)
 Grupos sociais (por exemplo, migrantes)
São esquemas simplificados de perceção e de classificação da
realidade transmitidos pelos agentes socializadores e
internalizados pelos indivíduos, parecendo ser evidentes e
indiscutíveis.
Podem estar ligadas à formação de estereótipos e a processos
de estigmatização
Estereótipos – construção de traços simplificadores (de
personalidade, de cultura, de aparência) que visam reduzir a
complexidade do outro a um conjunto de etiquetas e que não
atentam à realidade.