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Geovana Baier

RCC Semana 13

Tumor de Wilms → O risco de evoluir para tumor de Wilms é maior


em algumas síndromes congênitas de
→ Tumor de Wilms ou nefroblastoma, é a forma supercrescimento, como a síndrome de Beckwith-
mais comum de neoplasia renal na infância. Wiedemann, hemi-hipertrofia isolada, síndrome
de Perlman, síndrome de Sotos e síndrome de
→ Geralmente ocorre nos primeiros 2 a 5 anos de Simpson-Golabi-Behmel.
vida.
→ Síndromes congênitas não relacionadas ao
→ O risco de desenvolver tumor de Wilms é maior supercresimento, incluindo aniridia isolada,
em algumas síndromes congênitas de trissomia do cromossomo 18, síndrome WAGR
supercrescimento, síndromes congênitas não (tumor de Wilms + aniridia + anormalidades
relacionadas ao supercrescimento e crianças geniturinárias + retardo mental), síndrome de
com anomalias congênitas geniturinárias. Bloom e síndrome de Denys-Drash (pseudo-
hermafroditismo e insuficiência renal)
≠ Epidemiologia:
→ Crianças com anomalias geniturinárias
→ Há a mesma incidência no sexo feminino e
congênitas como hipospadia, genitália ambígua
masculino e entre crianças negras e brancas;
ou criptorquidia também estão predispostas a
→ Ocorre com mais frequência nos primeiros 2 a desenvolver tumor de Wilms.
5 anos de vida;
≠ Rastreamento:
→ Casos unilaterais se manifestam em uma idade
→ Para vigilância do tumor, a USG renal pode ser
mais precoce em meninos (média de 42 meses)
realizada a cada 3 a 4 meses até os 4 ou 5 anos
que em meninas (média de 47 meses).
em todas as crianças com tumor de Wils
→ Até 10% dos pacientes têm doença esporádico (aquelas sem síndromes genéticas) e
metastática quando se apresentam, sendo os até os 7 ou 8 anos em pacientes com síndrome de
lugares mais comuns o pulmão (80%), os supercrescimento.
linfonodos regionais, o fígado e os ossos.
→ O aconselhamento genético e pré-natal deve
≠ Etiologia: ser oferecido aos pais com história familiar.

→ O tumor de Wilms é uma neoplasia ≠ Fatores de risco:


geneticamente heterogênea.
❖ Idade entre 2 e 5 anos
→ Pode ser hereditário ou ocorrer ❖ História familiar
esporadicamente. ❖ Anomalias geniturinárias congênitas
❖ Síndromes congênitas
→ Estudos identificaram genes candidatos a
❖ Exposição pré-natal a radiação ou
supressores de tumor que possuem um papel
substâncias químicas
importante no desenvolvimento normal do trato
❖ Ocupação paterna – como soldador,
urogenital, como o gene WT1 no locus 11p13 e o
mecânico. São dados inconclusivos.
gene WT2 no locus 11p15. A inativação desses
genes parece ser um evento genético inicial na ≠ Quadro clínico:
evolução do tumro de Wilms.
→ Geralmente a criança se apresenta com uma
→ Acredita-se que a perda de heterozigosidade massa abdominal, dura e que não atravessa a
em 1p e 16q seja um evento secundário que, em linha média.
última instância, resulta na formação do tumor de
wilms.
Geovana Baier

→ A criança pode ser assintomática ou menos → A TC ou RNM abdominal e pélvica são úteis
comumente, ter sintomas como dor abdominal, para estadiar o tumor e planejar uma nova
mal-estar, febre, hematúria macroscópica e terapia.
hipertensão.
→ O diagnóstico definitivo de suspeita de tumor
→ Muitas vezes a mãe percebe a massa durante de Wilms é feito por ressecção cirúrgica
o banho da criança. (nefrectomia) ou biópsia aberta (se o tumor for
irressecável).
→ A elevação dos níveis tensionais é decorrente
de isquemia do parênquima por compressão da → Doença metastática deve ser descartada na
artéria renal e encontra-se descrita em 60% dos radiografia torácica e TC ou RNM
pacientes. abdominal/pélvica.

→ O sangramento no interior do tumor, → Exame físico: A massa geralmente é


eventualmente pode ser grave e levar à anemia retroperitoneal (balão) e não se move com a
e ao aumento do volume abdominal. A trombose respiração. É lisa, firme ao toque e insensível à
de veia cava por trombo tumoral apresenta-se palpação. O paciente pode ter distensão
com veias distendidas na superfície do abdome. abdominal.

→ A criança com tumor de Wilms geralmente está A genitália deve ser examinada quanto à
mais bem disposta quando comparada ao presença de anormalidades geniturinárias
paciente com neuroblastoma, e isso é muito congênitas (hipospadia, genitália ambígua ou
importante, pois estas duas patologias criptorquidia).
apresentam massas abdominais.
A presença de uma varicocele na posição
→ O tumor raramente é bilateral ou multifocal. supina pode estar associada à extensão do tumor
na veia cava inferior ou na veia renal.
→ Os tumores bilaterais são raros e ocorrem em 6-
10% dos pacientes, podem se manifestar Hepatomegalia, sensibilidade ou dor
simultaneamente em ambos os rins (síncronos) ou óssea, ou linfadenopatia pode indicar doença
comprometer um rim seguido do outro metastática.
(metácronos).
→ Exames laboratoriais: deve ser solicitado
→ O tumor pode ocorrer em um local extrarrenal hemograma completo, função renal e hepática,
como o retroperitôneo, cavidade pélvica (útero), urinálise, proteína/albumina sérica e estudo de
região inguinal, testículos, tórax ou dentro de um coagulação devem ser solicitados inicialmente.
teratoma, no entanto, isso é extremamente raro. Porém, não fazer diagnóstico definitivo.

→ Dispneia, linfadenopatia, hepatomegalia ou → Exames de imagem:


sensibilidade óssea podem indicar doença
❖ USG abdominal é o exame de primeira
metastática.
linha recomendado para estabelecer o
≠ Diagnóstico: diagnóstico presuntivo. O achado típico é
uma grande massa intrarrenal ecogênica,
→ O diagnóstico inclui uma história completa dos
heterogênea, unilateral e principalmente
principais sintomas, uma massa indolor e unilateral
sólida.
na parte superior do abdome/flanco e a
❖ Raio-x de tórax deve ser solicitado antes do
presença de história familiar positiva (embora
encaminhamento para onco pediatra,
rara) e de anomalias congênitas ou síndromes
para identificar metástases pulmonares se
congênitas associadas.
o paciente tiver sintomas respiratórios.
→ A USG de abdome é o exame inicial de ❖ TC ou RNM abdominal e pélvica devem ser
escolha. feitas para planejar a cirurgia e
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documentar qualquer disseminação intra- recomendado realizar uma biópsia por agulha
abdominal. É importante também para percutânea (BAP) para facilitar a identificação
identificar restos nefrogênicos ou avaliar se dos pacientes cujos tumores não são tumor de
há metástase hepática, linfadenopatia Wilms. Devido suas complicações, a BAP não é
abdominal ou trombose tumoral da veia recomendada pelo Children’s Oncology Group.
cava inferior ou veia renal.
→ Teste genético: é uma ferramenta diagnóstica
❖ TC de tórax deve ser realizada para
útil para identificação de síndromes fenotípicas
descartar metástase pulmonar.
que podem estar associadas ao tumor de Wilms.
→ Biópsia: O diagnóstico definitivo é feito por Serão examinados quanto a deleções de WT1 e
ressecção cirúrgica (nefrectomia) ou biópsia outros genes contíguos como PAX6 por
aberta (se o tumor for irressecável). É hibridização in situ fluorescente.
Geovana Baier
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≠ Estadiamento: Deve-se realizar uma amostragem seletiva dos


linfonodos. Não se deve fazer exploração do rim
→ NWTSG/COG:
contralateral.
o Estágio I: tumor se limita aos rins, não está
A abordagem aberta com amostragem de
rompido, foi completamente removido e a
linfonodos será necessária se o tumor for
cápsula renal está intacta. Nenhuma
irressecável. Ele é considerado irressecável
biópsia é realizada antes da ressecção. As
quando há aderências extensivas nas estruturas
margens estão livres de tumor.
vitais adjacentes, quando há comprometimento
o Estágio II: o tumor se estende além do rim,
respiratório ou extensão intraluminal de um
pode haver penetração da cápsula renal
trombo do tumor acima do nível das veias
ou invasão extensiva do seio renal, mas foi
hepáticas.
completamente removido e as margens
estão livres de comprometimento pelo → Quimioterapia: a quimioterapia pode ser
tumor. administrada de forma pré e pós-operatória, ou
o Estágio III: tumor não hematogênico somente de forma pós-operatória.
residual ou irressecável micro ou
A SIOP/UKCCSG recomenda a
macroscópico presente e confinado ao
quimioterapia inicial antes de qualquer tentativa
abdome. Pode representar linfonodos
de ressecção, independente do estádio inicial,
positivos para tumor na região intra-
pois acredita que isso resulta na diminuição do
abdominal ou na pelve, implantes ou
tamanho do tumor, aumentando a possibilidade
penetração peritoneais. Estará no estágio
de ressecção e diminuindo as complicações pós-
III se uma biópsia excisional tiver sido
operatórias.
realizada ou se, antes ou durante a cirurgia
houver vazamento do tumor confinado ao A NWTSG recomenda a quimioterapia
flanco e sem comprometer a superfície somente no pós-operatório, recomendando de
peritoneal. forma inicial apenas quando o tumor se estende
o Estágio IV: metástases hemotogênicas na veia cava inferior acima da veia hepática,
(pulmão, fígado, ossos e cérebro) ou quando o tumor primário é irressecável à
metástases de linfonodo fora da região apresentação ou quando os dois rins estão
abdominal e pélvica estão presentes. envolvidos.
o Estágio V: comprometimento renal
bilateral. Estadiar cada rim → Radioterapia: Todos os tumores de estágio III
individualmente. recebem irradiação no flanco ou no abdome
inteiro. Aqueles com histologia favorável e
≠ Tratamento: metástase pulmonar que não mostram resposta
completa a quimioterapia na 6ª semana
→ Os pacientes devem ser encaminhados
recebem irradiação no pulmão inteiro; aqueles
imediatamente a um grande centro oncológico.
com resposta completa a quimioterapia
→ O tratamento consiste na nefrectomia em recebem irradiação somente abdominal/no
todos os pacientes, bem como quimioterapia flanco.
e/ou radioterapia dependendo do estadiamento
→ Nos pacientes com histologia favorável, o
e da histologia do tumor.
tratamento cirúrgico deve ser complementado
→ Cirurgia: permite o controle local e evita a apenas com quimioterapia, vincristina e
disseminação metastática. A nefrectomia radical actinomicina nos estágios I e II, e ambas
é recomendada a todos os pacientes usando associadas à doxorrubicina no estágio III. Nesse
uma abordagem transperitoneal. Deve-se evitar o caso também se utiliza a radioterapia. A presença
vazamento ou a remoção incompleta do tumor. de uma histologia desfavorável requer
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quimioterapia com quatro drogas (doxorrubicina, → Pacientes em estágio IV devem receber


vincristina, ciclofosfamida e actinomicina) e quimioterapia somada à radioterapia para as
radioterapia para o leito tumoral. metástases pulmonares.
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≠ Monitoramento:

→ O acompanhamento rigoroso por pelo menos


60 meses é necessário para identificar recidiva
local, desenvolvimento do tumor de Wilms
contralateral, metástases à distância e efeitos
adversos graves e raros do tratamento como
neoplasias secundárias, insuficiência renal, ICC,
doença pulmonar restritiva e infertilidade.

→ A vigilância do tumor inclui TC abdominal e do


tórax e deve ser realizada em série até 18 meses
depois do término do tratamento.

→ USG abdominal e RX de tórax são suficientes


para identificar recidivas tardias a partir de então.

→ ECO e clearance de creatinina também


devem ser realizados em série (ou seja, na
metade do tratamento, no final do tratamento, e
1,3 e 5 anos após o tratamento).

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