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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

CONSEQUENCIAS JURÍDICAS DO CRIME

NAMPULA, AGOSTO, 2022


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

LEONEL DIONISIO JAIME

CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO CRIME

Trabalho individual de carácter avaliativo da

Cadeira Direito penal II, 2°ano,turma B

Curso de Direito, leccionada pelo docente,

MA.Sezinho Muachana

NAMPULA, AGOSTO, 2022


1.1.1 Índic

1.1 Introdução...........................................................................................................4
1.2 Consequências Jurídicas do Crime.....................................................................5
1.3 Medida Legal da pena.........................................................................................5
1.4 Circunstâncias agravantes e atenuantes legais....................................................7
1.5 As regras de punição do crime quando se verificam as circunstâncias
agravantes e atenuantes legais.......................................................................................9
1.6 A individualização da pena dentro da moldura abstracta.................................10
1.7 Elementos de individualização concreta da pena. A ilicitude. A culpa,
influência da pena sobre o criminoso..........................................................................11
1.8 Classificação das circunstâncias.......................................................................15
1.9 Relações entre as circunstâncias agravantes e atenuantes................................16
1.10 Aplicação das penas quando se verifiquem circunstâncias agravantes e
atenuantes.....................................................................................................................16
1.11 Conclusão..........................................................................................................18
1.12 Bibliografia.......................................................................................................19
Introdução

O presente trabalho tem como tema Consequências jurídicas do crime, pude


constatar que a lei penal faz corresponder ao cometimento de cada crime uma certa
sanção legal ou uma pena. Dito de outra forma, após provada a autoria de um crime,
fica verificado o conjunto dos pressupostos de que depende a aplicação de uma
consequência ou de um efeito jurídico que no caso das penas do nosso Código Penal
actual trata-se de penas variáveis, isto é, penas com limites máximos e mínimos.

Mas nem sempre assim o foi. Historicamente passou de um sistema de penas


arbitrárias a um sistema de penas fixas, como resposta aos abusos daquele sistema,
abolindo “qualquer espécie de discricionariedade na apreciação, pelos juízes, da maior
ou menor gravidade do facto e, correlativamente, na medida da punição que lhe devia
corresponder”. Não havia, desta forma, lugar a qualquer ponderação das diferentes
tonalidades e graduações concretas do facto, nem da sua relação com o arguido e a sua
personalidade. A individualização judiciária da pena, operada através da determinação
da medida concreta da pena, dentro da moldura penal abstracta prevista para o crime em
questão, ou seja, o procedimento através do qual o juiz fixa uma determinada pena e a
sua medida concreta, num caso concreto, dada a discricionariedade que permite, revela
a verdadeira “arte” de julgar do juiz criminal. A determinação da medida da pena supõe,
num primeiro momento a determinação da moldura abstracta da pena aplicável ao caso
e, num segundo momento, a determinação da medida concreta da pena a aplicar.

O trabalho esta estruturado da seguinte maneira:

 Introdução
 Desenvolvimento
 Conclusão e
 Bibliografia.

4
Consequências Jurídicas do Crime

A Prior, começaremos por definir o que é isso de consequências jurídicas do


crime para melhor se entender o tema em questão.

Bom, consequências – é o resultado, conclusão ou alcance de um determinado acto.

Jurídica – diz respeito ao direito, conforme a ciência do Direito.

Crime – é toda acção típica, ilícita, culposa e punível.

Portanto, consequências jurídicas do crime vai ser a punição da acção que esta
relativamente ligada ao Direito.

Medida Legal da pena

No domínio da escolha e da medida da pena, fornece o critério geral para a


escolha da pena trata da determinação da medida da pena que compreende também a
dispensa da pena e a declaração de impunidade.

A determinação da medida da pena supõe a determinação da medida legal ou abstracta


da pena (num primeiro momento determina-se a moldura legal aplicável ao caso
concreto) e da medida judicial ou concreta da pena, (num segundo momento determina-
se a pena a aplicar concretamente).

Como resulta da Parte Especial, a lei criou uma moldura penal abstracta mais
ou menos ampla, igual para todos os casos subsumíveis ao mesmo preceito legal, dentro
de cujos limites deve ser fixada a pena, moldura a que se pode chamar da pena normal
ou geral.

Mas o legislador considera frequentemente, a partir daqueles tipos de


crimes fundamentais, em determinadas circunstâncias que modificam aquela moldura
penal abstracta, ou seja, circunstâncias modificativas que, tanto podem acarretar uma
diminuição (circunstâncias atenuantes) como uma elevação (circunstâncias agravantes
ou qualificativas) e, por outro lado, cria, na Parte Especial, tipos de crimes
especialmente graves (ou qualificados), ou menos graves (ou privilegiados). São, em
síntese, as seguintes as circunstâncias modificativas comuns a todos os crimes.1

1
SANTOS, Manuel Simão dos, Supremo tribunal de Justiças sugestão de Estado, Edição Lisboa.

5
Medida legal da e a medida judicial da pena

Se for caso da dispensa de pena ou adiamento da sentença ou das medidas de


correcção ao jovem delinquente poder-se-á ficar pela determinação da medida legal ou
abstracta da pena. Mas, não o sendo, haverá que concretizar ou individualizar a pena.
Ou seja, haverá que determinar a medida concreta da pena.

Um dos princípios basilares do Código Penal reside na compreensão de que


toda a pena tem de ter como suporte axiológico-normativo uma culpa concreta, como
desde logo o pronuncia o seu ao dispor que só é punível o facto praticado com dolo ou,
nos casos especialmente previstos na lei, com negligência.

Esse princípio da culpa significa não só que não há pena sem culpa, mas
também que a culpa decide da medida da pena, ou seja, a culpa não constitui apenas o
pressuposto e fundamento da validade da pena, mas a medida da culpa afirma-se
também como limite máximo da mesma pena, foi mantido na presente publicação é
aceite mesmo pelos autores que dão uma maior tónica à prevenção geral. Mas já não se
verifica o mesmo acordo quanto ao papel que cabe à culpa na determinação concreta da
pena, apresentando-se três posições: teoria da pena exacta no acto de determinação da
pena o juiz parte da pena que, de acordo com o seu critério, corresponde à culpa (pena
exacta), modificando-a depois em função dos outros fins das penas, combinando
diferentes possibilidades de sancionamento, sem que possa ultrapassar o limite imposto
pela culpa;

Teoria da margem de liberdade a pena concreta é fixada entre um limite


mínimo (já adequado à culpa) e um limite máximo (ainda adequado à culpa),
determinados em função da culpa, intervindo os outros fins das penas (as exigências da
prevenção geral e, sobretudo, da prevenção especial) dentro destes limites;

Teoria do valor de emprego ou dos graus a culpa só é tomada em conta no


momento de determinação da duração da pena, e as razões de prevenção
(designadamente, especial) decidem, sem intervenção da culpa, da escolha do tipo da
pena (prisão, multa, suspensão da pena, regime de prova, admoestação).2

2
SANTOS, Manuel Simão dos, Supremo tribunal de Justiças sugestão de Estado, Edição Lisboa.

6
Decidiu-se pela teoria da margem de liberdade, tendo o Autor do projecto
considerado, é claro que, em absoluto, a medida da pena é uma certa; simplesmente,
qual ela seja exactamente é coisa que não poderá determinar-se, tendo, pois, o aplicador
que remeter-se a uma aproximação que, só ela, justifica aquele, dentro do qual podem
ser decisivas considerações derivadas da pura prevenção.3

Circunstâncias agravantes e atenuantes legais

A responsabilidade penal é agravada ou atenuada quando ocorrem no crime


ou no agente, circunstâncias agravantes ou atenuantes. A esta agravação ou atenuação
ee correlativa a agravação ou atenuação da pena.

São circunstâncias agravantes se o crime tiver sido cometido: com premeditação, por
motivo fútil, mediante recompensa, remuneração ou sua promessa, para facilitar ou
assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime, por
razões de discriminação racial, nacional, étnica, ideológica, religiosa, sexual, de doença
ou deficiência física ou psíquica.

Contra menor, idoso, mulher grávida ou pessoa enferma, mediante


convocação, pacto ou execução entre duas ou mais pessoas, com auxílio de pessoas que
poderiam facilitar ou assegurar a impunidade, com espera, emboscada, disfarce,
surpresa, traição, aleivosia, excesso de poder, abuso de confiança ou qualquer fraude,
com arrombamento, escalamento ou chaves falsas, por meio de veneno, instrumento ou
arma cujo porte e uso for proibido, por ocasião de incêndio, explosão, naufrágio,
terramoto, inundação, óbito, acidente ou avaria de meios de transporte automóvel, aéreo
e ferroviário, qualquer calamidade pública ou desgraça particular do ofendido, com o
emprego simultâneo de diversos meios ou com insistência em o consumar, depois de
malogrados os primeiros esforços, entrando o agente ou tentando entrar em casa do
ofendido.4

Na casa de habitação do agente, quando não haja provocação do ofendido,


em lugares destinados ao culto religioso, em cemitérios ou em repartições públicas, em
estrada ou lugar deserto, de noite, se a gravidade do crime não aumentar em razão de
escândalo proveniente da publicidade, por qualquer meio de publicidade ou para que a

3
SANTOS, Manuel Simão dos, Supremo tribunal de Justiças sugestão de Estado, Edição Lisboa
4
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019 de 24 de Dezembro, Aprova a Lei de revisão do
código penal, in Boletim da República

7
sua execução possa ser presenciada, nos casos em que a gravidade do crime aumente
com o escândalo da publicidade, com desconsideração da qualidade de servidor público,
no exercício das suas funções, com quaisquer actos de crueldade, espoliação ou
destruição, desnecessários à consumação do crime, com abuso de autoridade ou
prevalecendo-se o agente de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade,
com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício ou profissão, tendo o
agente a obrigação especial de o não cometer, de obstar a que seja cometido ou de
concorrer para a sua punição.

Havendo o agente recebido benefícios do ofendido, quando este não houver


provocado a ofensa que haja originado a perpetração do crime, contra ascendentes,
descendentes, parentes até ao terceiro grau da linha colateral, ou afins, cônjuge ou
pessoa em situação análoga, com manifesta superioridade em razão da compleição
física, idade ou armas.

São circunstâncias atenuantes da responsabilidade penal do agente infractor: o bom


comportamento anterior, a prestação de serviços relevantes à sociedade, ser menor de
dezoito ou maior de sessenta anos, ter sido a conduta do agente determinada por motivo
honroso, por forte tentação ou solicitação da própria vítima ou por provocação injusta
ou ofensa imerecida, a intenção de evitar um mal ou a de produzir um mal menor, o
imperfeito conhecimento do mal do crime, o constrangimento físico sendo vencível.

A imprevidência ou imperfeito conhecimento dos maus resultados do crime,


a espontânea confissão do crime, ter havido actos demonstrativos de arrependimento
sincero do agente, nomeadamente, a reparação, até onde lhe era possível, dos danos
causados, a ordem ou o conselho do seu ascendente, adoptante, tutor ou educador, sendo
o agente menor e não emancipado, o cumprimento de ordem do superior hierárquico do
agente, quando não baste para justificação deste, ter o agente cometido o crime para se
desafrontar a si, ao seu cônjuge, ascendente, descendente, irmãos, tios, sobrinhos ou
afins nos mesmos graus, adoptante ou adoptado de alguma injúria, desonra ou ofensa,
imediatamente depois da afronta, súbito arrebatamento despertado por alguma causa
que excite a justa indignação pública.5

5
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019 de 24 de Dezembro, Aprova a Lei de revisão do
código penal, in Boletim da República

8
O medo vencível, a resistência às ordens do seu superior hierárquico, se a
obediência não for devida e se o cumprimento da ordem constituísse crime mais grave;
17.ª O excesso da legítima defesa, a apresentação voluntária às autoridades, a natureza
reparável do dano causado ou a pouca gravidade deste, o descobrimento dos outros
agentes, dos instrumentos do crime ou do corpo de delito, sendo a revelação verdadeira
e profícua à acção da justiça, ter o agente agido sob temor reverencial, as que forem
expressamente qualificadas como tais, nos casos especiais previstos na lei, em geral,
quaisquer outras circunstâncias, que precedam, acompanhem ou sigam o crime, se
enfraquecerem a culpabilidade do agente ou diminuírem por qualquer modo a gravidade
do facto criminoso ou dos seus resultados.

As regras de punição do crime quando se verificam as circunstâncias agravantes e


atenuantes legais

A pena de prisão agrava-se e atenua-se, fixando a sua duração nos limites que
a lei determinar para a infracção. Se nos casos em que forem aplicáveis penas de prisão
concorrerem circunstâncias agravantes ou atenuantes, as quais não sejam consideradas
especial e expressamente na lei para qualificar a maior ou menor gravidade do crime,
determinando a pena correspondente, é de se agravar ou atenuar, quanto à duração,
dentro do máximo e mínimo das mesmas penas.6

A medida concreta da pena

De forma a tentar responder a um dos grupos de objectivos deste estudo, ou


seja perceber que factores se relacionam com a percentagem da pena em que o arguido
vai condenado (dentro da moldura penal abstracta para o crime em questão), e se são
sobretudo factores mais legais ou psicossociais e quais, ou se se trata de uma
constelação de factores combinados (legais e extralegais) e quais, realizamos um
conjunto de análise bi-variadas, uma para cada uma das variáveis independentes, uma
vez que a sua quantidade não permitiu uma análise da relação entre todas. 7 Assim,
cruzámos a variável dependente “percentagem da pena em que o arguido vai condenado

6
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019 de 24 de Dezembro, Aprova a Lei de revisão do
código penal, in Boletim da República
7
CARDOSO RUA, Suzana Filipa, Justiça individualizadora a consideração do arguido na
determinação da pena, Porto, 2015.

9
dentro da moldura penal abstracta para o crime pelo qual vai condenado”
individualmente com as todas as variáveis a controlar neste estudo nas diferentes áreas:

1) As estritamente legais;
2) As que se referem as características psicossociais dos arguidos; e
3) Outras variáveis controladas relativas ao tribunal e aos juízes. Com esta análise
visámos fundamentalmente verificar se algum factor individualmente influência
ou explica a percentagem da pena em que o arguido foi condenado.

A individualização da pena dentro da moldura abstracta

A lei penal faz corresponder ao cometimento de cada crime uma certa sanção
legal, uma pena. Dito de outra forma, após provada a autoria de um crime, fica
verificado o conjunto dos pressupostos de que depende a aplicação de uma
consequência ou de um efeito jurídicos que no caso das penas do nosso Código Penal
actual trata-se de penas variáveis, isto é, penas com limites máximos e mínimos.

Mas nem sempre assim o foi. Historicamente passamos de um sistema de


penas arbitrárias a um sistema de penas fixas, como resposta aos abusos daquele
sistema, abolindo “qualquer espécie de discricionariedade na apreciação, pelos juízes,
da maior ou menor gravidade do facto e, correlativamente, na medida da punição que
lhe devia corresponder”. Não havia, desta forma, lugar a qualquer ponderação das
diferentes tonalidades e graduações concretas do facto, nem da sua relação com o
arguido e a sua personalidade.

No entanto, começou a questionar-se se seria justo as diferenças que


revestiam os casos concretos não terem projecção na natureza e medida da pena. Desta
forma, com o tempo, passou-se de uma individualização puramente “legal” que apenas
tomava em consideração “certas circunstâncias modificativas, com valor
predeterminado na lei e que o juiz teria automática e mecanicamente que aplicar”, para
uma individualização judicial das penas, permitindo ao juiz graduar concretamente a
pena, dentro de uma pena abstracta variável, com limites mínimos e máximos. Esta
individualização judicial criava um novo problema: como é que o juiz fixa uma
determinada pena e sua medida concreta, num caso concreto?

10
A individualização judiciária da pena, operada através da determinação da
medida concreta da pena, dentro da moldura penal abstracta prevista para o crime em
questão, ou seja, o procedimento através do qual o juiz fixa uma determinada pena e a
sua medida concreta, num caso concreto, dada a discricionariedade que permite, revela
a verdadeira “arte” de julgar do juiz criminal. A determinação da medida da pena supõe,
num primeiro momento a determinação da moldura abstracta da pena aplicável ao caso
e, num segundo momento, a determinação da medida concreta da pena a aplicar. O
Capítulo V da Secção II do nosso Código Penal actual (art.º 112.º) debruça-se sobre a
escolha e a medida da pena, fornece o critério geral para a escolha da pena, e o art.º112
trata da determinação da medida da pena.

Elementos de individualização concreta da pena. A ilicitude. A culpa, influência da


pena sobre o criminoso

A que elemento deve o juiz atender na determinação da pena, a efectuar,


dentro dos limites definidos na lei, em função da culpa do agente e das exigências de
prevenção criminal? 8

A todas as circunstâncias que, não fazendo parte do tipo de crime, deponham a


favor ou contra o agente, nomeadamente às referidas no n.°2 do art.º 112 do código
penal, a título exemplificativo:

— O grau de ilicitude do facto (o modo de execução deste e a gravidade das suas


consequências, bem como o grau de violação dos deveres impostos ao agente);

— A intensidade do dolo ou da negligência;

— Os sentimentos manifestados no cometimento do crime e os fins ou motivos que o


determinaram;

— As condições pessoais do agente e a sua situação económica;

— A conduta anterior ao facto e a posterior a este, especialmente quando esta seja


destinada a reparar as consequências do crime;

— A falta de preparação para manter uma conduta lícita, manifestada no facto, quando
essa falta deva ser censurada através da aplicação da pena.

8
SANTOS, Manuel Simão dos, Supremo tribunal de Justiças sugestão de Estado, Edição Lisboa.

11
Deve ter-se em atenção que:

Não se pode recorrer às circunstâncias que fazem parte do tipo legal do


crime, para que se não viole o princípio ne bis in idem, uma vez que tais circunstâncias
já foram tomadas em consideração pela própria lei para a determinação da moldura
penal. Mas isso não impede que o tribunal atenda àquelas circunstâncias nos casos em
que a sua intensidade concreta ultrapasse aquela que foi considerada pelo legislador
para efeitos da determinação daquela moldura.9

Os sentimentos manifestados na preparação do crime c) do n.º 2 do art.º 112


são os elementos que caracterizam a atitude interna ou atitude moral do delinquente e
que não cabem no dolo, nem nos motivos ou fins da vontade criminosa, dizendo
respeito, mais directamente, à posição do agente perante a própria ordem jurídica
(elemento imprescindível da medida da pena);

A conduta posterior é tomada em conta desde que se relacione com o crime.


Este elemento não vale autonomamente mas só na medida em que revele uma maior ou
menor adequação do facto à personalidade do agente.

A al. f) do n.º 2 do art.º 112 refere-se a elementos da culpa pela personalidade que hão-
de servir de complemento à culpa pelo facto.

Sucede, por vezes, que os factores que influem na medida da pena podem
ter um significado oposto (ambivalência desses factores), segundo o fim das penas
considerado. Se por exemplo, o réu, face à frequência de roubos «por esticão», o «tenta
uma vez», merece indulgência do ponto de vista do princípio da culpabilidade, mas ao
inverso, do ponto de vista da prevenção geral, merece uma pena severa.

O papel das circunstâncias gerais na determinação da medida concreta da pena

O art.º 112 do C.P. estabelece no seu nº 1 a orientação base para a medida da pena a
aplicar: “A determinação da medida da pena, dentro dos limites definidos na lei, é feita
em função da culpa do agente e das exigências de prevenção”.

No nº 2 do preceito faz-se referência às “circunstâncias que, não fazendo parte do tipo


de crime, depuseram a favor do agente ou contra ele. E por último, obriga a explicitar na
sentença os fundamentos da medida da pena que se elegeu.
9
SANTOS, Manuel Simão dos, Supremo tribunal de Justiças sugestão de Estado, Edição Lisboa.

12
Perante este artigo, a primeira questão que vem sendo posta, é que pode, e de
que maneira, sindicar a medida concreta da pena escolhida na decisão recorrida. E é
bom de ver que a referida exigência, de fundamentação da concreta pena aplicada, no
que diz respeito à sua medida, pode estar ao serviço da respectiva sindicabilidade em
sede de recurso. À partida, importa então distinguir o que deve ser considerado “facto”,
e o que deve ser considerado “direito”, na escolha da medida da pena. As várias
decisões analisadas socorrem-se da lição de Figueiredo Dias, (in “Direito Penal
Português – As consequências jurídicas do crime”, pág. 197), para optarem pela
viabilidade de se sindicar, em sede de revista, os seguintes aspectos: O procedimento
adoptado, os passos que se deram até se chegar, na decisão recorrida, à escolha da
medida da pena, com observância (ou não) dos princípios gerais que regem a matéria. A
relevância que se deu, ou o desprezo em que se tiveram, elementos de facto que
interessam à medida da pena. Daí resulta que, acaba por ter que se pronunciar sobre o
grau de culpa do agente, como indicador do limite intransponível da medida da pena, e
bem assim sobre a correspondência na medida da pena das exigências da prevenção. No
entanto, sempre que o procedimento adoptado se tenha mostrado correcto, se tenham
elegido os factores que se deviam ter em conta para quantificar a pena, a ponderação do
grau de culpa que o arguido pode suportar tenha sido feita, e a apreciação das
necessidades de prevenção reclamadas pelo caso não mereçam reparos, sempre que
nada disto seja objecto de crítica, então o “quantum” concreto de pena já escolhido deve
manter-se intocado. 10

Por regra, os acórdãos encontrados não vão ao ponto de explicitar o


procedimento que foi acolhido, para conjugação do princípio geral do nº1 do art.º 112
do C.P. com a ponderação das circunstâncias que depuseram a favor ou contra o agente,
e que se acham nomeadas exemplificativamente no nº2 do preceito. E a questão seria de
saber, se a ponderação do grau de culpa e das finalidades da prevenção constitui uma
operação autónoma, em relação à consideração das circunstâncias atenuantes e
agravantes, porém que, subjacente às decisões, está uma forma de encarar o nº1 e o nº2
do dito art.º 112 do C.P., no seu relacionamento, que se não afasta do que tenha
acolhido “para uso próprio”, nas decisões de que tenho sido relator.

Antes do mais, que por muito “prático” que se mostre o procedimento de


partir do meio da moldura, e elevar essa medida, ou baixá-la, de acordo com o peso das
10
http://www.slidehere.net/jrozono/elementaresecircunstancias

13
agravantes e atenuantes gerais, não será esse o único modo de compatibilizar o jogo das
circunstâncias do caso com a ponderação da culpa e da prevenção.

Depois de seleccionados os elementos de facto que preenchem o tipo legal (tipo


fundamental, qualificado ou privilegiado), momento em que só interessa ver se ocorreu
um crime, e qual, transita-se para outro momento em que se pondera, já, qual a
consequência do crime praticado.

Aqui se inclui a escolha da medida da pena a aplicar, suportada por elementos


de facto que estão para além daqueles elementos típicos. Ora, o ponto a salientar é que,
neste segundo momento, não haverá que distinguir duas fases, elegendo primeiro a
medida da pena, fruto do jogo das circunstâncias gerais, e aferindo depois a
compatibilização da medida da pena escolhida, com a ponderação da culpa do agente e
das exigências de prevenção, como se fossem valências independentes. Na verdade, o
peso das circunstâncias estabelece com a ponderação da culpa e das exigências de
prevenção uma relação de convergência. De tal modo que, por um lado, essas
circunstâncias fundamentam a reflexão e conclusões a que se chegue em matéria de
prevenção e limite imposto pela culpa, e, por outro lado, nenhuma circunstância que
interesse à ponderação da medida da pena deixará de se repercutir naquela reflexão. O
grau de culpa e as exigências de prevenção não são variáveis autónomas em relação ao
peso das circunstâncias.

E se antinomias surgirem, elas manifestar-se-ão logo ao nível das circunstâncias


(agravantes e atenuantes a neutralizarem os efeitos respectivos), reflectindo-se
necessariamente, na culpa que o agente pode suportar e a prevenção que interessa
prosseguir.11

Classificação das circunstâncias

As circunstâncias consistem em todo o dado acessório, secundário e eventual a


figura típica cuja ausência não influi de forma alguma a sua existência. Tem a função de

11
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agravar ou abrandar a sanção penal, situam-se em regra, nos parágrafos do tipo
incriminador.

As circunstâncias possuem duas classificações muito importantes, ou são


classificadas quanto a incidência podendo ser objectivas e subjectivas, ou são
classificadas quanto a natureza podendo ser judiciais ou legais.

Classificação das circunstâncias quanto a sua incidência

As circunstâncias segundo este critério podem ser:

Objectivas: dizem respeito a aspectos do fato típico, tais como, condição de tempo,
lugar, modo de execução e outras relacionadas ao delito.

Subjectivas: relacionam-se ao agente, e não ao facto concreto. São exemplos de


circunstâncias subjectivas, a personalidade, antecedentes, conduta social, motivos
determinantes, relação do agente do crime com a vítima.

Classificação das circunstâncias quanto a sua natureza

As circunstâncias segundo este critério podem ser:

Judiciais: não estão na lei, mas são fixadas livremente pelo magistrado de acordo com
os critérios no código penal.

Legais: estão expressamente discriminadas na lei. Podendo ser:

Legais gerais são aquelas previstas na parte geral do Código penal, quais sejam
agravantes, atenuantes e causas de aumento e de diminuição previstas na parte geral do
Código Penal.

Legais especiais: são aquelas previstas na parte especial do código Penal, quais sejam
causas de aumento e de diminuição e as qualificadoras. 12

As qualificadoras estão sediadas em parágrafos dos tipos incriminadores e tem


por função alterar os limites da pena. Em contrapartida, tanto as causas de aumento e de

12
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15
diminuição geral como especifica, aumentam ou diminuem a pena a pena de acordo
com o que já estiver pré fixado em lei.13

Relações entre as circunstâncias agravantes e atenuantes

Os atenuantes e agravantes são circunstâncias de um crime ou delito que


atuam na aplicação da pena. São elementos em torno do ato, mas que não afectam
substancialmente sua acção. O atenuante reduz a pena, e o agravante aumenta a
condenação. Quando ocorre concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes, devem
prevalecer, sobre as circunstâncias objectivas, as de cunho subjectivo, que o Código
Penal classifica como preponderantes, ou seja, as que resultam ou se originam dos
motivos do crime, personalidade do agente e reincidência.

Aplicação das penas quando se verifiquem circunstâncias agravantes e atenuantes

Haverá lugar à agravação extraordinária das penas nos termos descritos nos
artigos 101 e 109 do código penal, sem, contudo, exceder os limites ali estabelecidos. Se
no mesmo comportamento concorrerem mais do que uma das circunstâncias agravantes
gerais e outras circunstâncias especiais só é considerada para efeito de determinação da
pena aplicável a que tiver efeito agravante mais forte, sendo a outra ou outras valoradas
na medida da pena.14 O tribunal atenua especialmente a pena, para além dos casos
expressamente previstos na lei, quando existirem circunstâncias anteriores ou
posteriores ao crime, ou contemporâneas dele, que diminuam por forma acentuada a
ilicitude do facto, a culpa do agente ou a necessidade da pena. São consideradas, entre
outras, as circunstâncias seguintes:

a) Ter o agente actuado sob influência de ameaça grave ou sob ascendente de


pessoa de quem dependa ou a quem deva obediência;
b) Ter sido a conduta do agente determinada por motivo honroso, por forte
solicitação ou tentação da própria vítima ou por provocação injusta ou ofensa
imerecida;
c) Ter havido actos demonstrativos de arrependimento sincero do agente,
nomeadamente a reparação, até onde lhe era possível, dos danos causados; ou
d) Ter decorrido muito tempo sobre a prática do crime, mantendo o agente boa
conduta. Só pode ser tomada em conta uma única vez a circunstância que, por si
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http://www.slidehere.net/jrozono/elementaresecircunstancias
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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019 de 24 de Dezembro, Aprova a Lei de revisão do
código penal, in Boletim da República

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mesma ou conjuntamente com outras circunstâncias, der lugar simultaneamente
a uma atenuação especialmente.

Sempre que houver lugar à atenuação especial da pena observa-se o seguinte


relativamente aos limites da pena aplicável:

a) O limite máximo da pena de prisão é reduzido de um terço;


b) O limite mínimo da pena de prisão é reduzido a um quinto se for igual ou
superior a dois anos e ao mínimo legal se for inferior;
c) O limite máximo da pena de multa é reduzido de um terço e o limite mínimo
reduzido ao mínimo legal;
d) Se o limite máximo da pena de prisão não for superior a dois anos pode a mesma
ser substituída por multa. A pena especialmente atenuada que tiver sido em
concreto fixada é passível de substituição e suspensão.15

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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019 de 24 de Dezembro, Aprova a Lei de revisão do
código penal, in Boletim da República

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Conclusão

Chegado o fim do trabalho concluí que, no domínio da escolha e da medida da


pena, fornece o critério geral para a escolha da pena trata da determinação da medida da
pena que compreende também a dispensa da pena e a declaração de impunidade.

A determinação da medida da pena supõe a determinação da medida legal ou abstracta


da pena (num primeiro momento determina-se a moldura legal aplicável ao caso
concreto) e da medida judicial ou concreta da pena, (num segundo momento determina-
se a pena a aplicar concretamente).

Como resulta da Parte Especial, a lei criou uma moldura penal abstracta mais
ou menos ampla, igual para todos os casos subsumíveis ao mesmo preceito legal, dentro
de cujos limites deve ser fixada a pena, moldura a que se pode chamar da pena normal
ou geral.

Sucede, por vezes, que os factores que influem na medida da pena podem ter
um significado oposto (ambivalência desses factores), segundo o fim das penas
considerado. Se por exemplo, o réu, face à frequência de roubos «por esticão», o «tenta
uma vez», merece indulgência do ponto de vista do princípio da culpabilidade, mas ao
inverso, do ponto de vista da prevenção geral, merece uma pena severa.

Os atenuantes e agravantes são circunstâncias de um crime ou delito que


atuam na aplicação da pena. São elementos em torno do ato, mas que não afectam
substancialmente sua acção. O atenuante reduz a pena, e o agravante aumenta a
condenação. Quando ocorre concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes, devem
prevalecer, sobre as circunstâncias objectivas, as de cunho subjectivo, que o Código
Penal classifica como preponderantes, ou seja, as que resultam ou se originam dos
motivos do crime, personalidade do agente e reincidência.

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Bibliografia

Legislação:

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019 de 24 de Dezembro, Aprova a Lei


de revisão do código penal, in Boletim da República.

Doutrina:

SANTOS, Manuel Simão dos, Supremo tribunal de Justiças sugestão de Estado,


Edição Lisboa.

CARDOSO RUA, Suzana Filipa, Justiça individualizadora a consideração do arguido


na determinação da pena, Porto, 2015.
Link:
http://www.slidehere.net/jrozono/elementaresecircunstancias

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