2020 R4 GO 07 - R4 Complicações Perinatais

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VIDEO_01_R4_GO_07 Beta-agonistas, bloqueadores do canal de cálcio, antagonistas
da ocitocina e inibidores das prostaglandinas.

TRABALHO DE PARTO Corticoprofilaxia


PREMATURO
Indicada entre 24 e 34 semanas. Betametasona ou
dexametasona.
QUADRO DE RESUMO

Neuroproteção
Definição

Sulfato de magnésio entre 24 e 32 semanas.


Parto prematuro é o parto que ocorre antes de 37 semanas
completas e a partir de 20-22 semanas de gestação.

Fatores de risco
DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA
Estresse, fadiga ocupacional, distensão uterina excessiva,
fatores cervicais, infecção, patologia placentárias, parto VIDEO_02_R4_GO_07
prematuro anterior, uso de drogas, alcoolismo, tabagismo, O parto pré-termo ou prematuro é aquele ocorrido a partir de
idade materna (< 18 ou > 40 anos), raça (negra), desnutrição 20-22 semanas e antes de 37 semanas completas (259 dias). É o
e baixo IMC, pré-natal inadequado, anemia (hemoglobina < principal problema da medicina perinatal atual, com altas taxas
10 g/dl), contratilidade uterina excessiva, baixo nível de complicação e custo extremamente elevado. Em 2010, quase
educacional e fatores genéticos. 15 milhões de crianças nasceram prematuras, sendo que 60%
dos partos ocorreram na África subsaariana e no sul da Ásia.
Diagnóstico Mesmo em países desenvolvidos, a prematuridade ainda é a
maior causa de morbimortalidade perinatal.
Contrações regulares que provocam dilatação e apagamento
cervical. Nas últimas décadas, a incidência de prematuridade vem
aumentando, mas com melhores resultados perinatais. Isto
Predição decorre de um maior número de interrupções da gestação por
indicações médicas, maior número de gestações gemelares
devido a técnicas de reprodução assistida e melhoria na
Medida do comprimento cervical (< 20 ou 25 mm); dosagem
assistência ao recém-nascido (Figura 1 ).
de fibronectina.

Prevenção

Progesterona vaginal entre 16-24 semanas. Indicação: parto


prematuro anterior; colo curto com menos de 24 semanas.

Tocólise

Contraindicações

➤ Morte fetal.
➤ Anomalia fetal letal.
➤ Sofrimento fetal agudo.
➤ Pré-eclâmpsia grave ou eclâmpsia.
➤ Sangramento materno com instabilidade hemodinâmica.
➤ Corioamnionite.
➤ Amniorrexe prematura (questionável).
➤ Dilatação cervical avançada (≥ 4 cm).
➤ Contraindicações relacionadas ao agente.

Medicações disponíveis

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Felizmente, a maior parte dos fetos que nascem prematuros é
classificada como pré-termo tardio, o que resulta em menor
morbimortalidade.

Figura 3. Distribuição dos partos pré-termo nos EUA.


Um erro conceitual frequente é confundir prematuridade com
baixo peso ao nascer! A prematuridade está relacionada com a
idade gestacional do nascimento, enquanto o peso ao nascer
Figura 1. Variação nas taxas de prematuridade ao longo dos
define se o recém-nascido é adequado ou não para aquela idade
anos.
gestacional. Se ele for menor que o percentil 10 para aquela
A sobrevivência neonatal está diretamente relacionada com a idade gestacional, o recém-nascido é classificado como Pequeno
idade gestacional do parto, aumentando significativamente para a Idade Gestacional (PIG). Se o seu peso for adequado
após 28 semanas (Figura 2 ).
(entre o percentil 10 e o 90), ele é classificado como Adequado
para a Idade Gestacional (AIG).

Outra classificação utilizada é de acordo com o peso absoluto ao


nascimento, sem qualquer relação com a idade gestacional:

➤ Baixo peso ao nascer: peso ao nascimento entre 1.500 e 2.500


g.
➤ Muito baixo peso ao nascer: peso ao nascimento entre 1.000 e
1.500 g.
➤ Extremo baixo peso ao nascer: peso ao nascimento entre 500 e
1.000 g.

LEMBRE-SE: a prematuridade está relacionada com a


idade gestacional e não com o peso ao nascimento!

Figura 2. Mortalidade neonatal de acordo com a idade


gestacional do nascimento.
Por este motivo, divide-se a prematuridade da seguinte forma: MORBIMORTALIDADE NEONATAL
➤ Prematuro extremo: < 28 semanas.
DO PRÉ-TERMO
➤ Muito pré-termo: 28-30 semanas e seis dias. A morbimortalidade relacionada ao parto prematuro é uma
➤ Pré-termo precoce: 31-33 semanas e seis dias. consequência da imaturidade dos órgãos. O parto pré-termo é
responsável por 75% da mortalidade neonatal e 50% das lesões
➤ Pré-termo tardio: 34-36 semanas e seis dias.
neurológicas em crianças. Conforme mencionado
anteriormente, estas complicações ocorrem de forma
VIDEO_03_R4_GO_07 inversamente proporcional à idade gestacional do parto
(Figura 4) e (Tabela 1).

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Figura 5. A) Parede alveolar sem ação surfactante:
Figura 4. Complicações neonatais de acordo com a idade colabamento devido à instabilidade da interface ar/alvéolo.
gestacional do parto. B) Parede alveolar com ação surfactante: estabilidade,
facilitando a expansão alveolar.
TABELA 1: SOBREVIDA E SOBREVIDA INTACTA DE ACORDO
Sabe-se que a lecitina é o principal fosfolipídio de ação
COM A IDADE GESTACIONAL.
surfactante no pneumócito pulmonar, sendo assim responsável
pela maturação pulmonar. Até aproximadamente 35 semanas
de gestação, há predomínio da produção de lecitina por reação
de metilação, sendo instável como complexo surfactante. Após
esse período, passa a ser produzida predominantemente pela
via CDF-colina, tornando-se muito mais estável. Portanto, como
nos prematuros há predomínio da produção pela primeira via,
há maior predisposição à SAR.

Essa síndrome é caracterizada por respiração trabalhosa do


recém-nascido, taquipneia com tiragem intercostal ou esternal,
batimento de asa do nariz, gemência, acidose metabólica e
respiratória, cianose e estertores. O tratamento é feito com a
administração de surfactante exógeno, obtendo melhora
VIDEO_04_R4_GO_07 significativa na maioria dos casos. Em alguns casos, pode haver
Perceba na Figura 4 que a insuficiência respiratória é a mais desenvolvimento da chamada doença da membrana hialina,
frequente, acometendo inclusive recém-nascidos com mais de pelo depósito de fibrina nos alvéolos.
34 semanas. A Síndrome de Angústia Respiratória (SAR) é a
principal causa de morte do recém-nascido pré-termo,
Por estes motivos, diversas técnicas para tentar predizer a
conforme explicaremos a seguir.
maturidade pulmonar foram descritas. Todas as abaixo
requerem a coleta de líquido amniótico através de
As paredes alveolares do pulmão fetal são revestidas por dois amniocentese para sua realização, o que limita de forma
tipos de células epiteliais: os pneumócitos tipo I e II. Os significativa sua aplicação na prática clínica.
pneumócitos I situam-se próximos às paredes capilares,
apresentam citoplasma reduzido e são desprovidos de atividade ➤ Dosagem de creatinina: avalia a maturidade renal, sendo
secretora. Os do tipo II sintetizam e armazenam o surfactante
tanto maior quanto mais avançada a gestação. Valores
pulmonar. Esta substância é responsável pela estabilidade
maiores ou iguais a 2 mg% falam a favor de feto maduro.
alveolar, pois reduz a tensão superficial na interface ar/alvéolo,
diminuindo a pressão necessária para a sua expansão e
➤ Percentual de células fetais maduras: avaliação da
impedindo o seu colabamento (Figura 5). maturidade epidérmica através da coloração pelo azul do
Nilo. A presença de células anucleadas e de coloração
alaranjada acima de 10% fala a favor de maturidade.
➤ Teste de Clements: mistura-se etanol à amostra de líquido
amniótico. A visualização de borbulhas estáveis após agitação
fala a favor da presença significativa de lecitina produzida
pela via CDF-colina (mais estável).
➤ Relação lecitina/esfingomielina: se maior ou igual a 2,0, há
provável maturidade pulmonar.

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Dosagem de fosfatidilglicerol: quando a dosagem deste erroneamente calculada.
elemento do surfactante pulmonar se encontra maior ou igual
a 0,3 sugere maturidade pulmonar. Sobredistensão Uterina Gestação gemelar e
polidramnia.
TABELA 2: PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DE CURTO E LONGO
PRAZO RELACIONADAS À PREMATURIDADE.
Amniorrexe Prematura Primária ou secundária a
outros elementos.

Gestação de Alto Risco Devido a alterações


endócrinas e aumento da
contratilidade.

Hemorragias da Segunda Placenta prévia e DPP.


Metade da Gravidez

Malformações Uterinas Útero suporta mal a


(Hipoplasia e Defeitos de distensão dada pelo feto.
Fusão) e Miomas

Incompetência Causa de prematuridade,


Istmocervical abortamento tardio e
amniorrexe prematura.

Infecções ➤ Infecção aguda com


hipertermia levando ao
aumento da cinética
uterina.
➤ Corioamnionite: pode
VIDEO_05_R4_GO_07 desencadear prema‐
turidade tanto pelo
possível óbito fetal quanto

CAUSAS DE PREMATURIDADE pelo desenvolvimento de


amniorrexe prematura.

No nosso meio, as taxas de parto prematuro situam-se em torno


de 10% dos nascimentos. Nos EUA, esta taxa é de 12%. Estima-se
que 30 a 35% dos casos de prematuridade ocorrem por
indicação médica, 40 a 45% são decorrentes de trabalho de FATORES DE RISCO
parto espontâneo e 30 a 35% são consequência de Ruptura
Prematura das Membranas Ovulares (RPMO). Um dos principais fatores de risco para parto prematuro é a
história de parto prematuro em gestação anterior, o que
Quatro fatores maiores levam ao trabalho de parto prematuro aumenta o risco em até duas vezes na gestação subsequente. No
espontâneo em grande parte dos casos: estresse materno-fetal; entanto, o parto prematuro apresenta características
hemorragia decidual; sobredistensão uterina; e infecção multifatoriais e muitas vezes não é possível identificar um fator
intrauterina. Os fatores de risco, discutidos a seguir, de um associado. Vale ressaltar que os fatores de risco para
modo geral se encaixam nestas situações. Outras causas menos prematuridade são muito semelhantes àqueles para RPMO.
frequentes, mas também relevantes, são resposta inflamatória
exagerada, insuficiência vascular uteroplacentária, fatores Algumas características maternas aumentam o risco de
hormonais, incompetência cervical e fatores genéticos. prematuridade, como tabagismo, uso de drogas ilícitas, baixo
peso pré-gestacional (IMC < 20 kg/m²) e intervalo interpartal
As causas mais comuns do parto prematuro indicado são curto (menor que 18-24 meses). A suspensão do tabagismo ao
distúrbios hipertensivos, hemorragia e sofrimento fetal crônico. longo da gravidez pode amenizar este risco. Outros fatores
como infecções genitais, infecções urinárias e doença
periodontal também já foram relacionados, porém não há
VIDEO_06_R4_GO_07 comprovação de que o tratamento destas condições irá
diminuir o risco de parto prematuro.
TABELA 3: CAUSAS DE PREMATURIDADE.

Iatrogenia Cesariana eletiva com IG


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Dentre os fatores de risco da gestação atual, o comprimento Infecção
cervical curto, normalmente definido como menor que 25 mm
com menos de 24 semanas, possui uma boa correlação com o ➤ IST.
parto pré-termo e é inclusive utilizado como método de
➤ Pielonefrite.
rastreamento para esta complicação obstétrica, como veremos a
seguir. Quanto menor o colo, maior o risco de prematuridade. A ➤ Infecção sistêmica.
sobredistensão uterina, caracteristicamente encontrada na ➤ Bacteriúria.
polidramnia e na gestação gemelar, também são fatores de risco
importantes.
➤ Doença periodontal.
➤ Vaginose bacteriana.
O estresse, tanto físico quanto emocional, está associado a
eventos adversos da gravidez, como natimortalidade, Patologia Placentária
crescimento intrauterino restrito e a própria prematuridade. Os
mecanismos propostos são diversos, mas parece haver uma ➤ Placenta prévia.
correlação com ativação prematura do eixo placentário-adrenal
materno. Baixo nível socioeconômico, extremos da vida
➤ DPP.

reprodutiva e raça negra também são fatores de risco descritos. ➤ Sangramento vaginal.

Vamos citar os fatores de risco que já foram associados à Outros


prematuridade:
➤ Parto prematuro anterior.

FATORES DE RISCO PARA PARTO PREMATURO. ➤ Uso de drogas.


➤ Alcoolismo.
Estresse
➤ Tabagismo.

➤ Mulher solteira.
➤ Idade materna (< 18 ou > 40).

➤ Baixo status socioeconômico.


➤ Raça (negra).

➤ Ansiedade.
➤ Desnutrição e baixo IMC.

➤ Depressão.
➤ Pré-natal inadequado.

➤ Eventos de vida (divórcio, morte).


➤ Anemia (hemoglobina < 10 g/dl).

➤ Cirurgia abdominal durante a gravidez.


➤ Contratilidade uterina excessiva.
➤ Baixo nível educacional.
Fadiga Ocupacional ➤ Fatores genéticos.

➤ Postura em pé.
Fatores Fetais
➤ Uso de máquinas industriais.

➤ Esgotamento físico.
➤ Anomalia congênita.

➤ Estresse mental ou ambiental.


➤ Crescimento restrito.

➤ Feto do sexo masculino.


Distensão Uterina Excessiva

Os principais micro-organismos associados à prematuridade


➤ Gestação múltipla.
são: E. Coli, Streptococcus do grupo B, Chlamydia trachomatis,
➤ Polidramnia. Trichomonas sp., Bacteroides sp., Gardnerella vaginalis,
➤ Anomalia uterina ou miomatose. Ureaplasma urealyticum, Peptostreptococcus sp., Neisseria
gonorrheae e Mycoplasma hominis.
➤ Dietilestilbestrol.

Fatores Cervicais VIDEO_07_R4_GO_07

➤ História de aborto de segundo trimestre.

➤ História de cirurgia cervical. PREDIÇÃO E PREVENÇÃO


➤ Dilatação ou apagamento prematuro do colo.
Considerando todas as complicações para o recém-nascido
descritas, várias tentativas foram propostas para identificar as
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pacientes que evoluirão para o parto pré-termo e,
principalmente, para reduzir sua incidência. No entanto, poucas
medidas foram realmente eficazes nestas duas situações.

PREDIÇÃO DO PARTO PRÉ-TERMO


ULTRASSONOGRAFIA
A ultrassonografia é o melhor exame para avaliação do colo
uterino, sendo tanto confiável quanto reprodutível. A via
transvaginal é a de escolha, pois não é influenciada pela
obesidade materna, posição do colo ou sombra da apresentação
fetal.

Figura 7. Colo uterino curto (14 mm).


A medida do colo uterino deve ser feita em um corte Não existe consenso sobre a utilização da medida do colo
longitudinal, desde o orifício externo até o orifício interno. Esta uterino como forma de rastreamento de parto pré-termo.
avaliação normalmente é feita entre 18 e 24 semanas, no Muitos autores recomendam sua utilização apenas em
mesmo momento da realização da ultrassonografia pacientes com história de parto pré-termo anterior, enquanto
morfológica. outros advogam que ela seja utilizada de forma universal,
mesmo em pacientes assintomáticas. O American College of
O percentil 10 entre 22 e 24 semanas é de 25 mm e um estudo Obstetricians and Gynecologists (ACOG) não recomenda o
observacional identificou que um colo menor que este tamanho rastreamento universal em pacientes sem história de parto
no período descrito apresentou um risco relativo de 6,5 para prematuro, porém relata que esta estratégia pode ser
parto pré-termo antes de 35 semanas e 7,7 para parto antes de considerada.
32 semanas. O percentil 5 (20 mm) também é utilizado como
ponto de corte para risco de parto prematuro, com aumento do
risco relativo e do valor preditivo positivo.
VIDEO_09_R4_GO_07
Publicações recentes sugeriram que a presença de imagem
hiperecogênica próxima ao orifício interno do colo uterino,
chamada de sludge, é indicativa de infecção intra-amniótica
subclínica e que está relacionada com trabalho de parto
prematuro (Figura 8 ). No entanto, a conduta frente a este
achado ainda não é bem estabelecida, já havendo sido proposto
antibioticoterapia mas ainda sem evidências científicas sobre
sua eficácia.

Figura 6. Colo uterino normal.

Figura 8. Sludge intra-amniótico.

DOSAGEM DA FIBRONECTINA FETAL NA


SECREÇÃO CERVICOVAGINAL
A fibronectina fetal é uma glicoproteína produzida por diversas
células, incluindo hepatócitos, fibroblastos, células endoteliais e
células do âmnio fetal. Ela é responsável pela adesão
intercelular do trofoblasto durante a implantação e pela

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manutenção da aderência placentária com a decídua uterina,
sendo detectada em concentrações maiores quando há PREVENÇÃO
remodelamento estromal do colo.
Diversas medidas como farmacoterapia com indometacina ou
antibióticos, repouso ou suplementação de ômega 3, vitamina C
A detecção da fibronectina fetal nas secreções cervicovaginais
e vitamina E não foram capazes de reduzir a incidência de
foi descrita como um possível preditor de parto prematuro com
parto pré-termo. Atualmente, apenas a utilização de
membranas íntegras, podendo ser esta detecção qualitativa ou
progesterona e a cerclagem cervical em casos selecionados
quantitativa. Uma concentração maior que 50 ng/ml se associa a
foram eficazes como forma de prevenção primária.
parto em sete dias em 30% dos casos e parto em duas semanas
em 41%. Sua maior qualidade encontra-se no valor preditivo
Recentemente alguns estudos foram desenhados utilizando
positivo, já que apenas 1% das mulheres com teste negativo (<
pessário vaginal em pacientes com colo curto entre 20 e 24
50 ng/ml) terá parto em uma semana.
semanas. Os resultados, no entanto, são controversos e ainda
não há recomendação de uso do pessário para prevenção de
Diversos estudos em pacientes assintomáticas falharam em
trabalho de parto prematuro na prática clínica.
mostrar benefício perinatal na detecção da fibronectina fetal.
Mais recentemente, tem-se recomendado sua mensuração
associada com a medida do colo uterino para pacientes PROGESTERONA
sintomáticas com menos de 34 semanas (Figura 9 ).
Na maioria dos mamíferos, a retirada da progesterona é um
evento que resulta no parto. Nos humanos, apesar de os níveis
de progesterona continuarem elevados durante o parto,
acredita-se que há uma redução da atividade dos seus
receptores. Estes dados justificam a reposição da progesterona
via intramuscular ou vaginal como forma de prevenção do
parto prematuro. No Brasil, apenas a via vaginal está
disponível.

Figura 9. Associação da ultrassonografia transvaginal com Pacientes com história de parto pré-termo espontâneo anterior

fibronectina fetal em gestantes sintomáticas com menos de devem receber suplementação com progesterona micronizada

34 semanas. por via vaginal 200 mg/dia a partir de 16-24 semanas, que
deverá ser mantida até 34-37 semanas. Esta medida é capaz de
RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2017 reduzir a recorrência do evento em torno de 35%.

SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA


MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – SURCE Outra indicação de progesterona é a identificação de um colo
uterino curto em uma paciente com menos de 24 semanas e
As medidas de rastreamento das principais complicações da sem história de parto prematuro, no chamado rastreamento
gestação incluem avaliações bioquímicas e biofísicas. universal. O ACOG considera um colo de 20 mm como indicativo
Levando em consideração a oportunização e a possibilidade de reposição de progesterona, enquanto outras referências
de prevenção baseada em evidências científicas, qual medida mencionam 25 mm. De qualquer maneira, estudos
deve ser acrescentada ao exame morfológico fetal de demonstraram uma redução de até 45% na incidência de parto
segundo trimestre em populações de alto risco, prematuro, além de redução similar na morbimortalidade
assintomáticas? neonatal.

a) Medida do colo uterino via transvaginal. Até o momento, os estudos são controversos em relação ao uso
b) Dopplervelocimetria de artérias uterinas. da progesterona em pacientes com gestação múltipla, com a
maior parte deles não demonstrando benefício na sua
c) Dosagem da Fibronectina fetal no conteúdo vaginal.
utilização. Assim, a reposição de progesterona nesta população
d) Swab retal e vulvar para cultura de estreptococos do grupo não está indicada.
B.

VIDEO_10_R4_GO_07
R. Perceba que as bancas da prova de especialista nem
sempre fogem da polêmica! Apesar de a indicação universal
ser controversa na literatura, a medida do colo uterino por CERCLAGEM UTERINA
via transvaginal é um bom método de rastreamento de parto
A cerclagem uterina é um procedimento utilizado para o
prematuro em pacientes assintomáticas. Já a fibronectina
tratamento da incompetência istmocervical, causa importante
fetal não foi eficaz neste sentido. Resposta: letra A.
de abortamento de segundo trimestre, e foi proposta como
intervenção para prevenção de parto prematuro.

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A realização de cerclagem uterina entre 16 e 24 semanas em A presença de contrações uterinas regulares sem a modificação
pacientes de baixo risco de parto prematuro com colo menor cervical é considerada como ameaça ou falso trabalho de parto
que 25 mm não demonstrou benefício na redução de parto pré- prematuro.
termo, com alguns relatos inclusive de aumento de eventos. No
entanto, uma metanálise demonstrou que há redução da
incidência de prematuridade após cerclagem em pacientes com
colo curto (menor que 25 mm) E história de parto pré-termo
CONDUTA
(antes de 34 semanas).
A conduta depende de vários fatores, como idade gestacional,
vitalidade fetal e recursos neonatais. De forma resumida, a

RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2016 conduta oscila entre a tentativa de inibir a atividade uterina e
adotar medidas que possam melhorar o prognóstico fetal, como
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO
corticoterapia e neuroproteção fetal, ou prestar assistência ao
SUL – AMRIGS trabalho de parto prematuro. A inibição do trabalho de parto só
Em relação ao nascimento pré-termo, analise as assertivas a está indicada quando o risco das complicações perinatais
seguir: I. Parto pré-termo anterior é um dos mais importantes superar o risco de manutenção da gravidez e das condutas
fatores de risco. II. Ruptura prematura das membranas é a adotadas ou quando há necessidade de transferência para
causa identificável mais comum. III. Não há indicação de centros de referência de tratamento neonatais.
rastreamento rotineiro de parto pré-termo através da medida
do colo uterino por via transvaginal. IV. Em pacientes com
feto único e risco de parto pré-termo, deve-se usar INIBIÇÃO DO TRABALHO DE PARTO
progesterona vaginal. Quais estão CORRETAS?
A inibição do trabalho de parto consiste no uso de drogas
a) Apenas I e II. tocolíticas. No entanto, estas medicações não prolongam de
forma significativa o parto, mas o atrasam em torno de 48
b) Apenas III e IV.
horas. Este tempo é suficiente para o transporte para outra
c) Apenas I, II e III. unidade com cuidados intensivos neonatais e para prescrição
de corticoterapia, conforme discutiremos a seguir. O uso isolado
d) Apenas I, II e IV.
da tocólise, sem associação com a corticoterapia, não melhorou
e) I, II, III e IV. os resultados perinatais e também não há indicação da
manutenção da tocólise após o curso de corticoterapia.
R. Mais uma questão polêmica sobre o rastreamento de parto
pré-termo através da ultrassonografia no segundo trimestre! Os agentes tocolíticos devem ser utilizados entre 24 e 34
As bancas de provas de especialistas tendem a considerar semanas, visto que após esta idade gestacional os resultados
este rastreamento universal válido, portanto a afirmativa III neonatais são favoráveis. Antes de 24 semanas a mortalidade
está incorreta. A progesterona é o método de escolha para neonatal é extremamente elevada e não é reduzida nem mesmo
prevenção da prematuridade em pacientes de alto risco, pela corticoterapia, portanto também não há benefício da
como parto prematuro anterior, e a amniorrexe prematura é tocólise nesta fase.
responsável por 30% dos casos de prematuridade. Resposta:
letra D.
O uso de antibioticoterapia em pacientes com membranas
íntegras ou o repouso no leito não foram capazes de
interromper ou adiar o trabalho de parto prematuro, portanto
não estão indicados para este fim.
DIAGNÓSTICO
A diferenciação entre um verdadeiro e um falso trabalho de VIDEO_11_R4_GO_07
parto prematuro é muitas vezes difícil, considerando-se que há
maior atividade uterina a partir do terceiro trimestre. Por outro CONTRAINDICAÇÕES À TOCÓLISE
lado, a tentativa de caracterizar claramente o trabalho de parto ➤ Morte fetal.
pré-termo pode resultar em atraso na conduta adequada.
➤ Anomalia fetal letal.

O critério diagnóstico para trabalho de parto prematuro mais ➤ Sofrimento fetal agudo.
aceito atualmente é o seguinte: ➤ Pré-eclâmpsia grave ou eclâmpsia.

➤ Sangramento materno com instabilidade


➤ Quatro contrações em 20 minutos ou oito em 60 minutos; E
hemodinâmica.
➤ Dilatação cervical maior que 2 cm; OU
➤ Corioamnionite (absoluta).
➤ Apagamento cervical maior ou igual a 80%.
➤ Amniorrexe prematura (questionável).
➤ Dilatação cervical avançada (≥ 4 cm).
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➤ Contraindicações relacionadas ao agente. ➤ Insuficiência aórtica.

ATENÇÃO: o uso concomitante com sulfato de


magnésio é potencialmente perigoso, devido ao risco
RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2018
de bloqueio neuromuscular e hipotensão grave.
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO
SUL – AMRIGS
➤ Betamiméticos:
Qual das situações abaixo se constitui em contraindicação
absoluta para a inibição de um Trabalho de Parto
Prematuro? Atuam na musculatura involuntária lisa, como nos receptores
uterinos, causando relaxamento muscular. Promovem a
elevação do AMP-c, com consequente diminuição do cálcio
a) Diabete tipo 1 compensado.
livre intracelular.
b) Corioamnionite.

c) Polidrâmnio. Esta classe de medicações é efetiva na inibição do trabalho de


parto prematuro em 48 horas, porém apresenta diversos
d) Pré-eclâmpsia leve.
efeitos colaterais que limitam seu uso. Taquicardia materna,
e) Pielonefrite materna. hipotensão, desconforto torácico, palpitação, tremor, cefaleia,
náuseas, vômitos, hipocalemia e hiperglicemia são efeitos
R. A presença de infecção das membranas amnióticas colaterais comuns. Pacientes cardiopatas frequentemente
justifica a interrupção da gestação pelos riscos maternos e apresentam descompensação da doença de base, portanto não
fetais. Desta forma, não tem sentido fazer tocólise nestes devem utilizar estas medicações caso não suportem o
casos e sim induzir o parto, quando for possível. Resposta: aumento da frequência cardíaca.
letra B.
Algumas das medicações disponíveis no mercado estão
listadas abaixo e não há evidências de que uma seja superior
à outra:
ATENÇÃO

O objetivo da tocólise é ganhar tempo para prescrição da ■ Salbutamol – cinco ampolas diluídas em 500 ml S.G. 5% (5
corticoterapia ou permitir a transferência da gestante! mcg/1 ml). Iniciar 10 gotas por minuto, aumentando 10 gotas
a cada 20 minutos até a cessação completa das
Vamos apresentar os principais tocolíticos e suas características: metrossístoles ou até o surgimento de taquicardia materna
ou fetal;
➤ Bloqueadores de canal de cálcio: ■ Ritodrina – 150 mg em 500 ml S.G. 5% em velocidade de 0,05
mg/min, com aumentos de 0,05 até a dose máxima de 0,35
Atuam diretamente pelo bloqueio do influxo de íons de cálcio mg/min;
pela membrana celular e inibição da liberação do cálcio ■ Terbutalina – pode-se utilizar a via venosa ou subcutânea. O
intracelular pelo retículo sarcoplasmático. A menor
esquema venoso pode ser realizado pela infusão de 2,5
quantidade de cálcio livre intracelular resulta em inibição da
mcg/min até a dose de 25 mcg/min. O esquema subcutâneo
fosforilação-mediada da miosina de cadeia leve quinase,
pode ser realizado pela administração de 0,25 mg a cada 20
resultando em relaxamento do miométrio. São considerados
minutos, até o máximo de três horas. A terbutalina, quando
por alguns autores como a medicação de escolha para tocólise
utilizada por via endovenosa, se associa com maior
devido ao menor número de efeitos colaterais, principalmente
frequência à ocorrência de edema pulmonar. Portanto,
em comparação com os beta-agonistas.
prefere-se, neste caso, a via subcutânea.

Os bloqueadores de canal de cálcio apresentam rápido início


de ação e posologia facilitada. Algumas sugestões de CONTRAINDICAÇÕES AO USO DE
posologias incluem uma dose de ataque oral com 30 mg de BETAMIMÉTICOS
nifedipina, seguida de 20 mg de nifedipina de longa duração
de 4-6 horas. Alternativamente, é possível utilizar 10 mg por ➤ Cardiopatia sensível à taquicardia.
via oral a cada 20 minutos até o máximo de quatro doses. Os ➤ Diabetes descontrolado.
efeitos colaterais mais comuns são hipotensão, cefaleia e
náuseas.
➤ Inibidores da síntese de prostaglandina:

CONTRAINDICAÇÕES AO USO DE Atuam inibindo a cicloxigenase e bloqueando a conversão do


BLOQUEADORES DE CANAL DE CÁLCIO ácido araquidônico livre em prostaglandina. Uma vez que as
prostaglandinas E e F têm papel relevante na gênese das
➤ Hipotensão.
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contrações uterinas, através do aumento da formação de gap CONTRAINDICAÇÕES AO USO DE
junctions miometriais e aumento do cálcio intracelular
ANTAGONISTAS DA OCITOCINA
disponível, espera-se que sua inibição produza uma
diminuição das contrações. ➤ Não há contraindicações específicas ao uso do atosiban.

Os efeitos colaterais maternos são leves, como náuseas e


➤ Sulfato de magnésio:
vômitos, e dificilmente limitam a sua utilização. No entanto, o
seu uso está associado com o fechamento do canal arterial em
até 50% dos fetos expostos, principalmente após 32 semanas. O sulfato de magnésio age competindo com o cálcio na placa

Muitas vezes esta constrição é transitória e reversível após a motora ou na membrana celular. Apesar de muito utilizado

suspensão da medicação, mas fechamentos persistentes já anteriormente como agente tocolítico, sua eficácia é inferior

foram descritos com o uso contínuo. Outras complicações aos outros agentes descritos anteriormente e não é mais

fetais e neonatais importantes são oligodramnia, enterocolite recomendado com este intuito. Esta medicação pode ser

necrosante e canal arterial patente. utilizada para prevenção de dano neurológico no recém-
nascido, como veremos a seguir.

Nesta classe de tocolíticos, a indometacina é o fármaco mais


frequentemente utilizado. Pode ser prescrita na dose inicial
RESUMO
de 100 mg por via retal, seguida de 100 mg via retal a cada 12
horas ou 25-50 mg por via oral a cada 4 horas, por no máximo INFORMAÇÕES QUE VOCÊ DEVE SABER SOBRE OS
48 horas. TOCOLÍTICOS:

➤ Bloqueadores de cálcio – mais utilizado, contraindicado


CONTRAINDICAÇÕES AO USO DE em cardiopatas e pacientes com hipotensão. Uso
INIBIDORES DA CICLOXIGENASE cauteloso em conjunto com sulfato de magnésio;

➤ Disfunção plaquetária. ➤ Indometacina – contraindicada após 32 semanas por


risco de oligodramnia e fechamento precoce do ducto
➤ Distúrbios da coagulação.
arterioso;
➤ Disfunção hepática.
➤ Beta-agonistas – contraindicados em cardiopata, muitos
➤ Úlcera gastrointestinal. efeitos colaterais;
➤ Disfunção renal. ➤ Atosiban – medicação mais cara, mas sem
➤ Asma. contraindicações específicas;

➤ Sulfato de magnésio – menos efetivo que os outros.

➤ Antagonista da ocitocina:

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A ocitocina estimula a contração uterina ao converter o
fosfatidilinositol em inositol trifosfato, que se liga a uma
proteína no retículo sarcoplasmático e libera cálcio no
citoplasma. O atosiban é um antagonista seletivo do receptor
CORTICOTERAPIA
de ocitocina no miométrio e na decídua, impedindo as
A corticoterapia antenatal promove a síntese de surfactante no
contrações uterinas mediadas por este hormônio. Os efeitos
pulmão fetal, aumentando a complacência pulmonar, além de
colaterais maternos e fetais são considerados nulos, visto que
reduzir a permeabilidade vascular e melhorar a resposta
só há receptores de ocitocina no útero e nas mamas. Sua
neonatal ao surfactante. Também há relatos de aceleração na
eficácia é similar aos outros agentes tocolíticos, porém seu
maturação pulmonar em outros órgãos, incluindo cérebro, rins
custo atual é consideravelmente mais elevado.
e intestino.

Sua posologia consiste em três etapas:


Estudos mostraram que a administração de betametasona ou
dexametasona antes do parto prematuro reduz a mortalidade
■ 6,75 mg venoso durante um minuto; perinatal, síndrome do desconforto respiratório, hemorragia
■ 300 mcg/min, IV, em três horas; intraventricular, canal arterial patente e enterocolite
necrosante. É importante ressaltar que a corticoterapia
■ 100 mcg/min, IV, durante três horas e meia.
utilizada neste contexto, por um curto período, não está
associada com aumento de risco de corioamnionite mesmo em
Em casos de fracasso com a posologia proposta, mantém-se a pacientes com amniorrexe prematura.
dose de 100 mcg/min durante até 48 horas, não se devendo
ultrapassar a dose total de 330 mg.
Outros corticoides não devem ser utilizados, pois não
atravessam eficazmente a barreira placentária, pois são

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metabolizados pela 11-beta-hidroxiesteroide desidrogenase tipo Mulheres diabéticas em uso de insulina devem ser
II placentária ou por apresentarem excessivo efeito rigorosamente acompanhadas pelo risco de descontrole
mineralocorticoide. Em pacientes que estão utilizando glicêmico. Ocorre aumento de cerca de 30% na contagem total
regularmente outros corticoesteroides, como por exemplo a de leucócitos e aproximadamente 45% de redução na contagem
prednisona, e que tenham indicação de maturação pulmonar de linfócitos dentro de 24h após injeção de betametasona, as
fetal, está indicada a troca para betametasona ou dexametasona quais retornam aos valores basais dentro de três dias. No
por 48 horas e posterior retorno ao corticoide em uso. Ou seja, entanto, não há aumento das formas jovens como bastões.
outros corticoides não substituem a betametasona ou
dexametasona. Em relação ao feto, podem ocorrer alterações nos parâmetros
de avaliação do bem-estar fetal, tais como diminuição ou
As doses recomendadas são: aumento da frequência cardíaca fetal basal, diminuição ou
aumento da variabilidade, diminuição dos movimentos fetais e
➤ Betametasona: 12 mg, IM, 1x ao dia, por dois dias; alterações nos parâmetros biofísicos fetais, as quais podem ser
confundidas com comprometimento do bem-estar fetal. Tais
➤ Dexametasona: 6 mg, IM, 2x ao dia, por dois dias.
alterações são transitórias e retornam ao normal no quarto dia
após a administração da primeira dose de corticoide.
As duas medicações parecem ser igualmente efetivas quando
comparamos a incidência de morte e morbidade neonatal. Não
há diferença na dose recomendada para gestações gemelares e,
como há benefício no seu uso a partir de seis horas, o corticoide
SULFATO DE MAGNÉSIO PARA
deve ser prescrito mesmo que não seja possível completar as NEUROPROTEÇÃO
duas doses.
Estudos recentes, incluindo grandes ensaios randomizados
Um ciclo de corticoterapia deve ser prescrito entre 24 e 34 placebo-controlados e metanálises, mostraram redução
semanas em toda gestante com risco de parto prematuro em significativa da morbidade neurológica e paralisia cerebral em
uma semana, independentemente da presença de rotura recém-nascidos cujas mães receberam sulfato de magnésio
prematura de membranas ovulares. Seus maiores benefícios antes do parto, apesar de o mecanismo para esta proteção ainda
são atingidos em gestantes entre 28 e 34 semanas. Caso haja o não estar bem esclarecido. De qualquer maneira, as evidências
diagnóstico de trabalho de parto prematuro, recomenda-se o apontam que o sulfato de magnésio funciona como
uso de tocólise por 48 horas conforme discutido anteriormente. neuroprotetor quando o parto ocorre antes de 32 semanas.

Mais recentemente houve uma ampliação do uso de corticoide Indica-se sulfato de magnésio em todas as gestantes com idade
para maturação pulmonar fetal. O ACOG permitiu o seu uso a gestacional entre 24 e 32 semanas em trabalho de parto ativo (>
partir de 23 semanas caso haja decisão de ressuscitação do 4 cm de dilatação, com ou sem RPMO) ou em parto pré-termo
recém-nascido por parte da família. eletivo indicado por razões maternas ou fetais, na dose de 4-6 g
em bolus durante 20 minutos, seguido de 1-2 g/hora de
manutenção, por no máximo 24 horas antes do parto, sendo
No outro extremo, a utilização de corticoterapia entre 34 e 36
suspenso logo após o mesmo. Não se recomenda sua
semanas e seis dias diminuiu a morbidade respiratória do
readministração caso o parto não se concretize neste período.
recém-nascido, apesar de ter aumentado a incidência de
Em indicações eletivas, preconiza-se sua administração por,
hipoglicemia neonatal. Esta conduta após 34 semanas só poderá
pelo menos, quatro horas antes do parto (Figura 10 ).
ser tomada caso a paciente não tenha feito corticoterapia
anteriormente e se isto não for atrasar a conduta recomendada.

ATENÇÃO

O corticoide entre 34 e 36 semanas e seis dias não deve atrasar


a conduta! Portanto, a tocólise não está indicada nesse período.

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A dose de resgate consiste em um novo ciclo de corticoterapia
caso nova ameaça de parto surja após sete dias da dose inicial.
Ela pode ser prescrita até 34 semanas. O uso de corticoterapia
por um período maior que dois ciclos está associado à redução
do peso ao nascer e do perímetro cefálico do recém-nascido,
portanto não é recomendada.

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Figura 10. Sulfato de magnésio para neuroproteção.

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As pacientes deverão ser avaliadas para intoxicação pelo sulfato é mais recomendada. Da mesma forma, não se recomenda
de magnésio periodicamente, diagnosticada a partir da abolição episiotomia rotineira ou fórcipe para proteção fetal.
do reflexo patelar e redução da frequência respiratória (< 12
irpm). A oligúria (diurese < 25 ml/h) predispõe à intoxicação
pelo magnésio. LEMBRE-SE

O trabalho de parto prematuro em paciente sem swab para GBS


é uma indicação de profilaxia para sepse neonatal para o
ASSISTÊNCIA AO TRABALHO DE estreptococo do grupo B!

PARTO PREMATURO
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O parto deve ser assistido quando houver:

RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2020


➤ Presença de contraindicações à tocólise; SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO
➤ Idade gestacional maior que 34 semanas ou menor que 24 DE PERNAMBUCO – SES-PE
semanas; Qual é a medicação que promove neuroproteção ao concepto,
diminuindo as chances de paralisia cerebral no parto
➤ Falha na tocólise.
prematuro antes de 32 semanas?

O trabalho de parto de um feto prematuro apresenta alguns


a) Terbutalina.
detalhes importantes que precisam ser lembrados. Existe uma
maior incidência de apresentação pélvica em comparação aos b) Sulfato de magnésio.
fetos a termo, especialmente com menos de 32 semanas de
c) Progesterona.
idade gestacional. Recomenda-se, nestes casos, a realização de
cesariana pela maior dificuldade de extração da cabeça d) Antagonistas de receptores de ocitocina.
derradeira. e) Inibidores da cicloxigenase.

Alguns autores recomendam a monitorização fetal contínua, já R. Apesar de todas as medicações prescritas terem alguma
que a acidemia fetal intraparto pode piorar as complicações relação com o trabalho de parto prematuro, apenas o sulfato
atribuídas à prematuridade. Outro ponto importante é a de magnésio é capaz de promover neuroproteção. Resposta:
profilaxia para o estreptococo do grupo B (GBS), que deve ser letra B.
feita de acordo com o protocolo discutido na apostila Obstetrícia
Básica (Fluxograma 1 ).

Fluxograma 1. Fluxograma para profilaxia do GBS.


Antigamente, acreditava-se que a cesariana protegeria o feto
prematuro de hemorragia intracraniana e morte perinatal,
principalmente aqueles com menos de 1.500 g. No entanto,
estudos mostraram que não há este benefício e esta prática não

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RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2020
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SÃO PAULO – SUS-
SP
Gestante de 33 semanas encontra-se em trabalho de parto
prematuro. A vitalidade fetal é adequada e a mãe não tem
comorbidades. A dinâmica uterina é de 3 contrações em 10
minutos, o foco é de 144 bpm, a dilatação é de 2 cm,
apresentação cefálica alta e móvel. As intervenções a serem
feitas nesse momento são:

a) Nifedipina, betametasona e penicilina.

b) Atosibano e penicilina.

c) Inibina, sulfato de magnésico e cefazolina.

d) Terbutalina e sulfato de magnésio.

e) Betametasona e sulfato de magnésio.

R. Como não há uma contraindicação aparente para tocólise,


devemos prescrever imediatamente este tipo de medicação.
Mas lembre-se: a tocólise isoladamente não tem benefício,
devendo ser utilizada em conjunto com a corticoterapia para
melhorar o resultado neonatal! A prescrição de penicilina
para profilaxia da sepse neonatal pelo GBS não seria
obrigatória neste momento, visto que o trabalho de parto
ainda é bem inicial, mas não estaria errada. Não há indicação
de sulfato de magnésio para neuroproteção após 32 semanas.
Resposta: letra A.


Vaginose bacteriana.

ROTURA PREMATURA DE
➤ Gestação múltipla.

Deficiências nutricionais.
MEMBRANAS OVULARES

➤ Doenças maternas.

➤ Atividade sexual.
QUADRO DE RESUMO
➤ Traumatismo.
Definição ➤ História de parto prematuro.

Rotura espontânea das membranas amnióticas antes do Diagnóstico


início do trabalho de parto. É dita pré-termo (RPPMO)
quando ocorre antes de 37 semanas de gestação. ➤ Anamnese e exame físico.
➤ Outros: teste da nitrazina, pesquisa de elementos fetais,
Fatores de risco
teste da cristalização, ultrassonografia, AmniSure®, Actim
PROM.
➤ Exames invasivos: amniocentese e cordocentese (risco de 1
a 2%).
Conduta
➤ Incompetência istmocervical.

➤ Inserção baixa de placenta. ➤ Na presença de infecção: interrupção imediata em


➤ Macrossomia. qualquer IG.

➤ Polidramnia.
➤ Na ausência de infecção:

➤ Trabalho de parto prematuro.


➤ Infecções genitais (estrepto B, gonococo).
➤ Tabagismo.

➤ Sangramento genital.

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Macrossomia.
Outros ➤ Polidramnia.
➤ Trabalho de parto prematuro.
Antibioticoprofilaxia para Streptococcus do grupo B,
corticoterapia e neuroproteção conforme indicações ➤ Infecções genitais (estrepto B, gonococo).
habituais. ➤ Tabagismo.

➤ Sangramento genital.
➤ Vaginose bacteriana.
DEFINIÇÃO E PREVALÊNCIA ➤ Gestação múltipla.
➤ Deficiências nutricionais.
A Rotura Prematura das Membranas Ovulares (RPMO), também
chamada de amniorrexe prematura, é definida como rotura ➤ Doenças maternas (deficiência de alfa-1-antitripsina,
espontânea das membranas amnióticas antes do início do síndrome de Ehlers-Danlos, doença falciforme).
trabalho de parto. Ela é referida como pré-termo (RPPMO) ➤ Atividade sexual.
quando ocorre antes de 37 semanas de gestação.
➤ Traumatismo.

Como há uma quebra da esterilidade intraútero após a RPMO, ➤ História de parto prematuro.
diversos parâmetros precisam ser avaliados para decidirmos se
a gestação deverá ser mantida ou interrompida.

Ela ocorre em cerca de 8% das gestações a termo, enquanto a DIAGNÓSTICO


RPPMO complica 3% de todas as gestações. Além disso, a RPMO
é responsável por entre 30 e 35% dos partos prematuros e
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também por grande parte da morbimortalidade associada ao
nascimento antecipado. Em mais de 90% dos casos, a RPMO é diagnosticada através de
anamnese e exame físico. A paciente refere perda de líquido
claro via vaginal, que pode ser de forma contínua ou em
VIDEO_16_R4_GO_07 pequena quantidade. À inspeção, visualiza-se o líquido
escorrendo pela fenda vulvar ou, quando isto não ocorre,
realiza-se um exame especular que identifica a saída de líquido

FATORES DE RISCO através do orifício externo do colo. É fundamental, durante o


exame especular, tentar visualizar se há prolapso de cordão,
algum sinal de infecção e qual é a apresentação fetal, quando
A RPMO pode ser um processo fisiológico, quando por exemplo
possível.
ocorre em uma gestação a termo devido a um processo normal
de fraqueza progressiva das membranas, ou um processo
patológico de enfraquecimento que normalmente resulta na O toque vaginal deve ser realizado se houver contrações
RPMO pré-termo. A infecção intra-amniótica é frequentemente uterinas e suspeita de trabalho de parto. Caso contrário, ele
identificada como causa de RPPMO, enquanto a história de deverá ser evitado, pois aumenta o risco de infecção
amniorrexe prematura pré-termo aumenta o risco de ascendente.
recorrência em três vezes na gestação subsequente.
Nos casos duvidosos, podemos utilizar os seguintes testes
Os outros fatores de risco para RPMO são similares àqueles diagnósticos auxiliares:
encontrados no trabalho de parto prematuro espontâneo, como
comprimento cervical curto, polidramnia, IMC baixo, baixo ➤ Detecção do pH vaginal (teste do papel de nitrazina): sabe-
nível socioeconômico, tabagismo e uso de drogas ilícitas. Assim se que o pH vaginal normalmente situa-se entre 4,5 e 5,5,
como no trabalho de parto prematuro espontâneo, muitas vezes enquanto o líquido amniótico tem pH alcalino (6,5 a 7,5).
não é possível identificar um fator de risco ou causa associada à Portanto, confirmando o pH vaginal acima do normal,
RPMO pré-termo. podemos sugerir o diagnóstico de RPMO.
A fita é introduzida no fundo de saco posterior e, quando azul,
significa pH maior que 6-6,5, sendo, portanto, sugestivo de
FATORES DE RISCO PARA RPMO
RPMO. Sangramento, sabão, sêmen, cervicite e vaginose
podem tornar o pH mais alcalino e resultar em um teste falso-
➤ Exames invasivos: amniocentese e cordocentese (risco de 1 positivo, enquanto um falso-negativo pode ocorrer na
a 2%). presença de pouco líquido amniótico;
➤ Incompetência istmocervical. ➤ Teste da cristalização da secreção vaginal: o fluido obtido
➤ Inserção baixa de placenta. de fundo de saco vaginal, aplicado sobre uma lâmina e

deixado secar por 10 minutos apresentará na vigência de
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amniorrexe a típica aparência em folha de samambaia, estão intactas. Já suas concentrações no líquido amniótico
também observada no muco cervical durante a 1ª fase do estão compreendidas num intervalo entre 2.000-25.000 ng/ml
ciclo menstrual em mulheres não grávidas (estímulo e o teste é capaz de detectar a PAMG-1 a partir de 5-7 ng/ml.
estrogênico) – Figura 1 . Durante a gestação, não é esperada a Desta forma, sua presença na secreção vaginal em altas
cristalização do muco cervical, devido aos altos teores de concentrações é indicativa de ruptura das membranas.
progesterona;
Através de um kit específico, um swab estéril é inserido na
vagina por um minuto e a seguir é transferido para um frasco
contendo um solvente. Após um minuto, introduz-se uma fita
de teste (AmniSure®) no frasco e o resultado é revelado pela
presença de uma ou duas linhas após 5-10 minutos: uma linha
visível significa resultado negativo para fluido amniótico e
duas linhas visíveis define um resultado positivo. A ausência
de linhas significa resultado inválido.

O fabricante informa uma sensibilidade de 99%,


especificidade de 100%, valor preditivo positivo de 100% e
valor preditivo negativo de 99%.
Figura 1. Teste da cristalização da secreção vaginal.
➤ Teste do fenol vermelho: posiciona-se um tampão vaginal na Devido ao custo elevado, deve-se restringir seu uso aos casos
vagina da paciente e, após um tempo, adiciona-se algumas que não puderem ser diagnosticados pelo exame físico,
gotas do reagente, quando se observa a alteração da coloração ultrassonografia, teste da cristalização arboriforme e teste da
(de laranja para vermelho); nitrazina.
➤ Teste de Lanneta: identifica a mudança de coloração (incolor
para marrom) da amostra de secreção vaginal depositada em
lâmina e aquecida durante um minuto, também confirmando
a rotura de membranas;

➤ Presença de elementos fetais em secreção vaginal:


presença de lanugem e células da epiderme fetal (poligonais),
as últimas caracterizadas por assumirem coloração
alaranjada (orangiófilas) após tratamento com sulfato azul do
Nilo a 1%;

➤ Injeção de contrastes na cavidade abdominal: através de


amniocentese, introduzem-se corantes (índigo-carmim,
vitamina B12) na cavidade abdominal e observa-se se
ocorrerá o tingimento de um forro ou tampão vaginal após 30
minutos. É um método pouco utilizado na prática devido aos
riscos associados;

➤ Ultrassonografia: permite avaliar a diminuição do líquido Figura 2. AmniSure®.


amniótico através do Índice de Líquido Amniótico (ILA) ou o ➤ Actim PROM®: é um teste similar ao AmniSure®, inclusive
Maior Bolsão Vertical (MBV). Considera-se oligodramnia quando comparamos a sensibilidade e especificidade
quando os valores são menores que 5 cm e 2 cm, diagnóstica, porém detecta a proteína de ligação ao fator de
respectivamente. Outras causas de oligodramnia, como crescimento insulina-like -1 (IGFBP).
crescimento intrauterino restrito e malformações renais
fetais, deverão sempre ser consideradas e resultados falso-
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negativos ocorrem em casos de polidramnia ou que ainda não
apresentaram grande perda de líquido por via transvaginal;

Dosagem de Alfafetoproteína: a AFP é a enzima produzida


RPMO A TERMO

pelo feto e eliminada pelo rim que está presente em altas


concentrações no líquido amniótico, mas não na vagina de
Normalmente a RPMO após 37 semanas é seguida de contrações
mulheres grávidas em condições normais. Sua identificação
e início do trabalho de parto. Metade das pacientes em que se
na secreção vaginal é indicativa de perda líquida;
opta pela conduta conservadora após este período tem o parto
➤ AmniSure®: trata-se de um teste rápido que detecta a em até 33 horas e 95% tem o parto em até 94 horas. O principal
proteína alfa microglobulina placentária no fluido vaginal risco da RPMO a termo é a infecção intrauterina, que está
(PAMG-1). A PAMG-1 apresenta nível reduzido no sangue e diretamente relacionada com o tempo de amniorrexe.
nível basal extremamente reduzido (50-220 picogramas/ml)
nas secreções cervicovaginais quando as membranas fetais

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RPMO PRÉ-TERMO
O tempo de latência entre a amniorrexe e o parto é
inversamente proporcional à idade gestacional do evento. De
qualquer maneira, independentemente da conduta obstétrica,
metade das pacientes deste grupo terá o parto em uma semana.

Há evidência clínica de infecção intra-amniótica em 15 a 25%


dos casos e a infecção puerperal ocorre em até 20%. Este risco é
maior em idades gestacionais mais precoces. Outra complicação
comum é o descolamento prematuro de placenta, que incide em
2 a 5% das RPPMO.

Figura 3. Relação entre momento da RPMO pré-termo e o


Os principais riscos para o feto são decorrentes das intervalo do parto.
complicações da prematuridade. O desconforto respiratório é a
complicação mais comum, mas hemorragia intraventricular,
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enterocolite necrosante e sepse também ocorrem com Desta forma, percebemos que o que influencia diretamente o
frequência. A associação de RPPMO com infecção intrauterina resultado gestacional é o momento da amniorrexe e o tempo
ou aquela que ocorre em idades gestacionais mais precoces para o parto. Isto servirá como base para a conduta, que será
aumenta o risco de atraso de neurodesenvolvimento e lesão da descrita a seguir.
substância branca do sistema nervoso central.

A RPMO pré-viável ocorre em menos de 1% das gestações e a CONDUTA


probabilidade de morte e morbidade neonatal diminui quanto
maior for a latência para o parto e maior a idade gestacional Primeiramente, todas as pacientes devem ser internadas após o
que a RPMO ocorre. A sobrevivência é de 14,4% quando a diagnóstico de RPMO, visto que não há estudos que atestem a
RPPMO ocorre antes de 22 semanas, subindo para 57,7% segurança para a conduta conservadora fora do ambiente
quando ocorre após esta idade gestacional. Em torno de 80% hospitalar.
terão parto dentro de duas a cinco semanas após a amniorrexe
pré-viável.
A definição da conduta nos casos de amniorrexe prematura
depende de algumas variáveis: idade gestacional, presença ou
Outro problema da RPMO pré-viável é a hipoplasia pulmonar, não de infecção, avaliação da vitalidade fetal e presença ou não
que acomete entre 10 e 20% dos neonatos e possui uma alta de trabalho de parto. A presença de infecção intra-amniótica,
letalidade. Esta complicação grave é rara quando a RPMO descolamento prematuro de placenta ou sofrimento fetal
ocorre após 24 semanas, provavelmente porque já ocorreu justificam a interrupção imediata da gravidez,
algum desenvolvimento alveolar pulmonar para suportar o independentemente da idade gestacional.
desenvolvimento fora do útero. Os maiores fatores associados
com a hipoplasia pulmonar são idade precoce da amniorrexe e
oligodramnia após o evento. A oligodramnia precoce também
resulta em malformações fetais, como implantação baixa de
CORIOAMNIONITE
orelhas, deformidade de membros e achatamento da face, na
A principal origem da infecção é por via ascendente. A febre
chamada sequência de Potter.
parece ser o único indicador confiável para o diagnóstico,
quando associada à ruptura prematura de membranas. Já a
Neste contexto, a gestante também encontra-se em risco, com leucocitose não parece ser um bom indicador de infecção
relato de sepse materna em 1% dos casos, além de endometrite, isoladamente, devendo ser associado a outros parâmetros,
descolamento prematuro de placenta e retenção placentária. como taquicardia fetal, sensibilidade uterina e odor vaginal
fétido.
A Figura 3 resume o prognóstico da RPMO pré-termo.
Não há consenso no diagnóstico de corioamnionite. O
Ministério da Saúde (2012) define este diagnóstico a partir da
presença de febre materna (≥ 37,8ºC) e pelo menos dois dos
seguintes critérios:


Leucocitose materna (leucometria > 15.000 cels/mm3);
➤ Taquicardia materna (> 100 bpm);

➤ Taquicardia fetal (> 160 bpm);

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Sensibilidade uterina;
RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2015
➤ Líquido amniótico com odor fétido.
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO
SUL – AMRIGS
Outros marcadores podem auxiliar no diagnóstico, como
dosagem de proteína C-reativa, dosagem de interleucina-6, Gestante primigesta apresenta-se na emergência com 33
Velocidade de Hemossedimentação (VHS) e análise do líquido semanas e ruptura prematura de membranas. Pré-natal sem
amniótico por meio de amniocentese. anormalidades. Ao exame físico, apresentou temperatura
axilar de 39,1ºC, pressão arterial de 80/50 mmHg, frequência
Após o diagnóstico, institui-se imediatamente a cardíaca materna de 126 bpm e batimentos cardiofetais de
antibioticoterapia empírica, pela associação de ampicilina (2 g, 170 bpm. Dinâmica uterina de duas contrações em 10
IV, 6/6 horas) e gentamicina (5 mg/kg por dia ou 1,5 mg/kg 8/8 minutos. Apresentação cefálica e líquido claro fluindo pela
horas), que deverá ser mantida até 48 horas após o último cérvice uterina. Qual a conduta imediata mais adequada
episódio febril, não sendo necessária a administração de nesse caso?
manutenção oral. É possível a adição de clindamicina 900 mg
8/8 horas ou metronidazol 500 mg de 8/8 horas por via a) Iniciar antibioticoterapia para corioamnionite e realizar
intravenosa para ampliar a cobertura anaeróbia caso seja cesariana.
realizada cesariana ou se não houver resposta inicial ao
b) Iniciar nifedipina para tocólise, após comprovado bem-
tratamento antibiótico.
estar fetal.

É obrigatória a interrupção imediata da gravidez,


c) Não iniciar medicamento para tocólise pelo diagnóstico de

independentemente da idade gestacional, devido aos riscos ruprema, aplicar corticosteroide e aguardar a evolução

maternos e fetais associados à terapia conservadora em espontânea do parto.

vigência de infecção intrauterina. Deve-se dar preferência ao d) Iniciar antibioticoterapia para corioamnionite e iniciar
parto vaginal para evitar contaminação da cavidade abdominal. ocitocina para indução imediata do parto.

e) Coletar swab vaginal e anal para Streptococcus agalactie,


VIDEO_20_R4_GO_07 iniciar antibioticoprofilaxia com penicilina G cristalina e
induzir imediatamente o parto com misoprostol.
RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2019
SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE GOIÁS R. A paciente do caso clínico tem diagnóstico de amniorrexe
– SES-GO prematura associada à febre, hipotensão arterial e
taquicardia materna e fetal. Estamos frente a um quadro de
A corioamnionite responde por cerca de 25% dos partos corioamnionite e a conduta deverá ser antibioticoterapia
prematuros. A principal causa da corioamnionite é a com interrupção da gestação. Mas cuidado! A melhor via de
infecção: parto é a vaginal, visto que a cesariana aumenta o risco de
infecção da cavidade abdominal. Resposta: letra D.
a) Urinária.

b) Dentária.

c) Genital ascendente. RPMO COM ≥ 34 SEMANAS


d) Orofaringeana.
A conduta na amniorrexe com 34 semanas ou mais deve ser a
interrupção imediata da gestação. Uma metanálise demonstrou
R. A corioamnionite ou infecção intra-amniótica é uma
que a indução do trabalho de parto reduziu o tempo entre a
inflamação aguda das membranas e do córion da placenta,
RPMO e o parto, a incidência de corioamnionite e/ou
tipicamente consequente à infecção bacteriana
endometrite e a taxa de admissão em unidade de terapia
polimicrobiana ascendente da vagina e do colo uterino no
intensiva neonatal, isto sem aumentar a taxa de cesariana ou
contexto de ruptura de membranas, condição que
parto operatório.
corresponde a mais de 70% dos casos de corioamnionite.
Resposta: letra C.
A indução pode ser feita tanto com misoprostol ou com
ocitocina, mas há relatos de aumento da taxa de corioamnionite
quando utilizado prostaglandinas. O uso de métodos mecânicos,
como a sonda de Foley, deve ser evitado também pelo risco de
infecção. O ACOG recomenda aguardar pelo menos 12 a 18
horas de contrações uterinas eficazes em vigência de ocitocina
para declarar falha de indução e indicar a cesariana. Deve-se
evitar toques vaginais frequentes para não aumentar o risco de
infecção ascendente.

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O uso de antibióticos neste contexto deve-se restringir àquelas
pacientes que possuem indicação de profilaxia para o RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2019
estreptococo do grupo B (Fluxograma 1 ). O uso profilático de HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES -
antibióticos na RPMO a termo apresentou resultados UFRN – HUOL
controversos com relação à redução da infecção intrauterina,
portanto ainda não é recomendado. Primigesta de 22 anos de idade, com gravidez de 25 semanas
é admitida no serviço de urgência obstétrica com diagnóstico
de rotura prematura de membranas ovulares. O uso de
corticoide, nesses casos, tem sido:

a) Relacionado ao aumento do risco de infecção materna.

b) Indicado para reduzir o risco de enterocolite necrotizante.

c) Relacionado fortemente com sepsis neonatal.

d) Contraindicado por não ser benéfico nessa idade


gestacional.

R. A corticoterapia entre 24 e 34 semanas reduz a incidência


de síndrome do desconforto respiratório, enterocolite
necrosante, hemorragia intraventricular e morte neonatal,
sem aumentar o risco de infecção materna ou fetal mesmo
nos casos de RPMO. Resposta: letra B.

O sulfato de magnésio para neuroproteção fetal não possui


qualquer restrição quando há RPMO e deve ser utilizado
seguindo as recomendações para o trabalho de parto
prematuro.
Fluxograma 1. Fluxograma para profilaxia do GBS.

VIDEO_21_R4_GO_07 A tocólise profilática na vigência de RPMO, ou seja, quando não


há atividade uterina, não é recomendada, pois aumentou a taxa
de corioamnionite sem benefício materno ou fetal significativo.
RPMO ENTRE 24 E 34 SEMANAS Da mesma forma, em pacientes com trabalho de parto ativo a
tocólise terapêutica não prolongou a latência ou melhorou os
Na ausência de infecção, há benefício na conduta conservadora resultados neonatais.
nesta faixa de idade gestacional. A paciente deverá ser
internada e avaliada rotineiramente para infecção,
descolamento prematuro de placenta, compressão do cordão VIDEO_24_R4_GO_07
umbilical, sinais de sofrimento fetal e trabalho de parto. Não há Um estudo multicêntrico americano demonstrou aumento do
consenso na frequência desta avaliação, mas ela pode ser desde período de latência entre a RPMO pré-termo (entre 24 e 32
diária até duas vezes por semana. O parto está recomendado semanas) e o parto nas pacientes que utilizaram
quando a idade gestacional de 34 semanas for alcançada. antibioticoterapia em comparação ao placebo, com 50% das
mulheres do grupo de estudo tendo parto após uma semana do

VIDEO_22_R4_GO_07 evento. Além disso, os recém-nascidos apresentaram menor


incidência de síndrome do desconforto respiratório,
A elevação da temperatura pode indicar infecção intrauterina, enterocolite necrosante e eventos adversos compostos.
enquanto outros achados, como leucocitose e marcadores de
inflamação, não são específicos na ausência de febre,
O esquema antibiótico utilizado neste estudo foi de ampicilina e
especialmente se foi administrada corticoterapia.
eritromicina venosos a cada 6 horas por 48 horas, seguido por
amoxicilina e eritromicina oral a cada 8 horas por 5 dias. Como
O uso de corticoide antenatal está recomendado, pois reduz as a eritromicina venosa não é disponível no Brasil, o esquema
complicações da prematuridade sem aumentar o risco de antibiótico utilizado é o seguinte:
infecção materna ou fetal, conforme discutido no capítulo
anterior. Um ciclo de corticoterapia está recomendado entre 24
e 34 semanas, podendo ser considerado a partir de 23 semanas. ANTIBIOTICOTERAPIA PARA AUMENTO DA
O ciclo de resgate, no entanto, é controverso neste contexto
LATÊNCIA DA RPMO
assim como o uso de corticoterapia entre 34 e 36 semanas e seis
dias. Ampicilina 2 g, IV, a cada 6 horas, por 48 horas +
Azitromicina 1 g, VO, dose única. Após, amoxicilina 500
mg, 8/8 horas, por mais 5 dias.
VIDEO_23_R4_GO_07
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VIDEO_25_R4_GO_07
Se a paciente entrar em trabalho de parto em vigência do
antibiótico para latência da RPMO, deve-se trocar o esquema
para profilaxia do GBS (Fluxograma 2).

Fluxograma 3. Conduta na Rotura Prematura das


Membranas Ovulares (RPMO).

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RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2020
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES -
UFRN – HUOL
Paciente de 24 anos, Gesta II Para I, sendo um parto normal,
chega ao serviço de urgência da maternidade apresentando
perda líquida vaginal. O cálculo da idade gestacional foi
compatível com 35 semanas e, ao exame obstétrico, detectou-
se apresentação cefálica e feto com boa vitalidade. O exame
especular confirma a amniorrexe. Diante desse caso, o
obstetra deve:
Fluxograma 2. Profilaxia para GBS na RPPMO.
A associação amoxicilina/clavulanato deve ser evitada, pois está a) Realizar a antibioticoprofilaxia para sepse neonatal por
associada a maior risco de enterocolite necrosante. estreptococo do grupo beta e iniciar a indução do parto.

b) Iniciar a antibioticoprofilaxia para sepse neonatal por


estreptococo do grupo beta e administrar corticoides para
RPMO COM MENOS DE 24 o amadurecimento pulmonar fetal.

SEMANAS c) Administrar sulfato de magnésio para proteção neural do


feto e induzir o parto após 48 horas de iniciada a perda
As pacientes deverão ser orientadas sobre o risco da conduta líquida vaginal.
conservadora e a alta taxa de morbimortalidade perinatal neste
d) Administrar corticoides para o amadurecimento pulmonar
contexto. O ACOG e o Ministério da Saúde (2012) recomendam
fetal e realizar uma ultrassonografia para avaliar o
que a interrupção da gestação seja oferecida à paciente.
volume de líquido amniótico residual.

Caso a paciente opte pela conduta conservadora e não haja


R. Frente a uma amniorrexe com mais de 34 semanas,
sinais de infecção, é possível o acompanhamento ambulatorial
recomenda-se a interrupção da gestação, preferencialemente
até alcançar a viabilidade neonatal, quando a internação
com indução do trabalho de parto, sem necessidade de
hospitalar deve ser realizada. A antibioticoterapia de latência
corticoterapia ou sulfato de magnésio nesta idade
pode ser feita neste período, no entanto a corticoterapia não é
gestacional. Como não há relato de swab para GBS,
recomendada, pois não reduz a altíssima mortalidade se o parto
recomenda-se a profilaxia antibiótica já que
ocorrer.
obrigatoriamente teremos um parto prematuro. Resposta:
letra A.
O Fluxograma 3 resume a conduta na RPMO.

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cerclagem caso a paciente tenha história de parto prematuro
RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2016 espontâneo e colo curto em ultrassonografia com menos de 24
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO semanas.
DE PERNAMBUCO – SES-PE
Gestante com diagnóstico de ruptura prematura das
membranas na 33a semana de gestação, ausência de infecção,
SITUAÇÕES ESPECIAIS
colo imaturo, apresentação cefálica e vitalidade fetal
Pacientes com RPMO pré-termo e herpesvírus ativo deverão ser
preservada. Além de antibióticos, recomenda-se:
tratadas com aciclovir com intuito de diminuir a transmissão
vertical. Caso as lesões ainda estejam presentes no momento do
a) Corticoterapia e conduta expectante. parto, está indicada a cesariana.
b) Corticoterapia seguida de cesárea.
A conduta para gestantes portadoras de HIV com RPPMO ainda
c) Corticoterapia e indução do parto com misoprostol ou
não é bem estabelecida. Dados iniciais sugeriam que a
ocitocina.
transmissão vertical aumentava com o tempo de bolsa rota, mas
d) Indução do parto com misoprostol. parece que esta duração não influencia a transmissão vertical
e) Indução do parto com ocitocina. nas pacientes em uso de Terapia Antirretroviral (TARV) e baixa
carga viral. Recomenda-se que a conduta seja individualizada,
considerando-se a conduta conservadora quando a
R. A ausência de infecção e sofrimento fetal permite a
prematuridade for muito significativa, a paciente estiver
conduta conservadora na RPMO entre 24 e 34 semanas, com
utilizando TARV e a carga viral for baixa.
prescrição de antibioticoterapia para aumento da latência
entre a amniorrexe e o parto e corticoterapia para melhorar
o resultado neonatal. Resposta: letra A. Pacientes que apresentam RPMO após amniocentese
diagnóstica apresentam resultado gestacional favorável, com
frequente normalização do líquido amniótico e interrupção da
perda de líquido.
GESTAÇÃO SUBSEQUENTE
Caso ocorra amniorrexe em uma paciente com cerclagem
A paciente com RPPMO apresenta risco maior de recorrência e uterina, não há consenso sobre a conduta e tanto a retirada
parto prematuro. Assim, alguns autores recomendam o uso de quanto a manutenção do fio são opções aceitáveis.
progesterona entre 16 e 24 semanas para pacientes com parto
prematuro espontâneo anterior, mesmo que o motivo do parto
tenha sido RPMO. Da mesma forma, é possível a realização de

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