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Sumário

Generalidades
Pneumonia por Pneumocystis Jiroveci
Pneumonia Intersticial Linfocítica (LIP)
Sintomatologia
Diagnóstico
Tratamento
Profilaxia
Pneumopatias associadas ao HIV
As doenças infecciosas que afectam os pulmões são
factores importantes na morbilidade e mortalidade
infantil, especialmente em doentes
imunocomprometidos
As doenças pulmonares ocupam cerca de 80 % das
infecções oportunistas associadas ao SIDA
Pneumopatias associadas ao HIV
IMPORTANTE:
O diagnóstico correcto das pneumopatias associadas ao
HIV permite melhor abordagem e tratamento
adequado, o que melhora a sobrevida e a qualidade de
vida dos doentes

Identificar as pneumopatias mais frequentes em


crianças infectadas pelo HIV para melhorar a conduta
terapêutica e o prognóstico dos doentes
Introdução
Agente: Pneumocystis jiroveci, um fungo (antes
denominado Pneumocystis carinii);
Transmissão inalatória;
Pode ser a primeira manifestação numa criança
exposta;
Define o Estadio IV da OMS;
Pneumonia Pneumocystis Jirovecii
(PPJ)
Principal causa de morbimortalidade em lactentes
infectados com HIV;
Incidência mais alta durante o primeiro ano de vida;
faixa etária de maior risco entre 3º e 6º M;
Geralmente bom estado nutricional, mas pode haver
sinais de infecção pelo HIV (candidíase oral, perda de
peso, LAG)
Tem curso rápido e geralmente fatal
Manifestações clínicas
•Início agudo ou subagudo
•Febre moderada de 38º c
•Apneia nos lactentes
•Tosse seca, persistente
Quadro •Dificuldade respir. marcada (tiragem,
clínico
variável cianose)
•Dificuldade em se alimentar
•Hipoxémia grave
•Auscultação pulmonar Normal ou
escassos fervores
Diagnóstico
Clínico:
Apresentação clínica típica e sugestiva
Radiológico:
Não existem alterações específicas da PPJ;
Rx pode ser normal ou mostrar um infiltrado perihilar
bilateral ou infiltrado intersticial basal, mas não é
específico;
Parênquima com infiltrado tipo grão de vidro ou com
aparência reticulo-granular com áreas de condensação
Diagnóstico Radiológico
Infiltrado peri-hilar/intersticial; aspecto de “vidro moído”
Diagnóstico Laboratorial
Isolamento do fungo no LBA;
Biópsia pulmonar
LDH ⇧
PaO₂<70 mmHg
Tratamento
Cotrimoxazol 20 mg/kg/dia de TMP, de 6/6 horas via
EV ou oral, 21 dias; se boa resposta EV, ao 5º dia
passar para CTZ oral até terminar o Tto;
Diluição: 1ml CTZ+ 25 ml de SF

Nos casos graves- Prednisolona


1mg/kg/dia 12/12 horas nos 1ºs 5 dias
0.5 mg/kg/dia 12/12 horas 6 º ao 10º dia
0.25mg/kg/dia 1 ×/dia até 21º dia
Tratamento de suporte
Oxigenioterapia
Hidratação
Paracetamol
Conforto do doente e reduzir a agitação
Profilaxia e seguimento
Cotrimoxazol 5 mg/kg/dia de TMP, via oral:
A toda a criança exposta até que a infecção seja excluída;
Por toda a vida, após um episódio de PPJ;
Crianças infectadas independentemente dos sintomas;
Ou crianças com CD4<25%
Caso clínico
Kizua de 4 meses, peso: 5kg
FMSP
Há 2 dias, com tosse seca irritativa acompanhada de
dispneia com tiragem intercostal, dificuldade em
chupar, agitação psicomotora, cianose. Saturação de
oxigénio 40%
Qual é a Hipótese diagnóstica?
Diga a qual é a conduta?
Caso clínico
Kizua, fez CD4, resultado 1100 (14%)
Qual é a conduta?
Como fazer o seguimento
Caso clínico
Cotrimoxazol 20mgx5kg= 100mg/24h=25 mg por dose
Ampola de CTZ 80mg/5 ml; 25 mg= 1,6 ml
Para cada ml de CTZ dilui-se em 25 ml de SF=1.6x25=40
ml
Prednisolona 2,5 mg de 12/12 horas – 5 dias
1,25mg 12/12h – 6º ao 10º dia
depois faz 1,25 mg 1 vez por dia até 21º dia
Seguimento
Iniciar o TARV de acordo com as normas nacionais
Manter o CTZ profiláctico!
Teste de HIV aos 18 M
Pneumonia Intersticial Linfocítica
(PIL/LIP)
Doença crónica pulmonar, característica em algumas
crianças seropositivas nas chamadas progressoras
lentas
Idade mais frequente superior a 1 ano (2-6 anos)
Por vezes é um processo assintomático
Define o Estadio III da OMS
Manifestações clínicas
Tosse crónica (as vezes sem tosse), dispneia, cianose,
deformidade da caixa toráxica, dedos em baqueta de
tambor, aumento das glândulas parótidas, hepato-
esplenomegália, adenopatias
Manifestações clínicas
É frequente a complicação com pneumonias associadas
que devem ser tratadas
Em geral, o quadro clínico não reúne sempre todos os
sinais ou sintomas
Pode ser confundida com Tuberculose Pulmonar (Miliar)
DIAGNÓSTICO
É geralmente clínico, evolutivo
Biópsia
LBA-elevada percentagem de linfócitos
Radiológico:
 Infiltrado reticul0-intersticial fino
 Infiltrado reticulonodular com ou sem envolvimento
alveolar
 Broquiectasias…
Radiografia do Tórax

Pneumonia
Intersticial
Linfocítica
Tratamento da LIP
Na presença de sintomas importantes:
É indicado o início do TARV (isto é, crianças com doença
grave/avançada) independentemente do CD4
Em caso de dispneia forte, associar corticóides:
 Prednisolona, 1-2 mg/kg/dia durante 3 ou 4 semanas
Associar antibióticos, se existe coinfecção bacteriana
(Penicilina, Amox+Ac Clavulânico, Cloxacilina….)
Em caso de Bronquiectasias- cobertura para Pseudomonas..
Tratamento da LIP
Broncodilatadores
Fisioterapia respiratória
21.07.2010 30.02.2011
Comparação entre LIP e TB Miliar
TB Miliar LIP

Sintomas Respiratórios +/- +++

Febre ++ ++

Emagrecimento +++ +/-

LAG +/- +++

Hipertrofia das parótidas - ++

Hipocratismo digital - +

Hepatomegália ++ ++
Introdução
O vírus da Imunodeficiência Humana invade o SNC,
infectando os monócitos, atravessa a Barreira Hemato-
encefálica e fixa-se nas células da micróglia, provocando
danos
Estima-se que 40-70 % dos indivíduos infectados pelo
HIV desenvolvam sintomas neurológicos
Anatomofisiologia do Sistema
Nervoso
Áreas sensoriais primárias: Tronco cerebral –
Córtex cerebral bulbo, ponte,
Medula espinhal mesencéfalo
Cerebelo Gânglios basais –
Tálamo núcleo caudado,
putámen, globo pálido,
substância negra
Anatomofisiologia do Sistema
Nervoso
Componente Função Sinal de disfunção/Lesão
Córtex Sensação somática, funções Fala deficiente, apraxia
cognitivas, Tacto, Audição, motora, amnésia, dific.
Visão, Olfacto, movimentos aprendizagem, hipotonia,
voluntários espasticidade
Cerebelo Equilíbrio, tónus corporal Ataxia, disartria, tremor,
axial (Ex: manter-se de pé) nistagmus, hipotonia

Gânglios Controle motor Atetose, coreia, hemibalismo,


basais Controle cognitivo rigidez/ tremor (Parkinson)
Medula Padrões de movimento (Ex: Espasticidade, hipotonia
marcha=rítmicos)
Alterações Neurológicas no HIV
As alterações neurológicas no contexto do SIDA são
muito frequentes, ocorrendo em todos os estadios da
doença e afectando qualquer parte do Sistema Nervoso
O cérebro é mais afectado nas crianças, as quais
frequentemente desenvolvem ADPM ou regressão nas
habilidades préviamente adquiridas
Alterações Neurológicas no HIV
A gravidade e prevalência das alterações neurológicas
na infecção pelo HIV variam de acordo com:
 Estadio da doença
 Tempo desde o aparecimento dos 1ºs sintomas
 Grau de deterioração das funções
 Gravidade dos déficits
 Idade
Alterações Neurológicas no HIV
O grau de envolvimento do SNC no SIDA em crianças é
variável e pode ser dividido em 3 (três) subclasses:
 Crianças com Encefalopatia associada ao HIV
 Crianças com prejuízo neuro-psicológico (também
chamado Compromisso do SNC associado ao HIV)
 Crianças com desenvolvimento aparentemente
Normal

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Patogenia
Relacionada com:
Carga viral

Número e tipo de células nervosas infectadas


Patogenia
 As conexões entre a substância branca dentro do SNC
são mais vulneráveis qdo o desenvolvimento ainda não
terminou
A infecção perinatal afecta a mielinização e conexão
das fibras resultando num padrão global de déficits
neurológicos motores
Uma infecção tardia afecta as conexões comissurais
com os polos dos lobos (frontal e temporal), afectando
muito a função cognitiva
Encefalopatia por HIV (1)
Perda global e severa nas funções cognitivas, motoras,
linguagem e socialização
Há também anormalidades motoras, como diplegia
espástica, quadriplegia e hipotonia central
Desordens do movimento – rigidez, bradicinésia e
distonia
Encefalopatia por HIV (2)
Movimentos anormais dos olhos, incluindo nistagmus,
entre outros
Regressão do desenvolvimento psicomotor
Dano cerebral localizado
Encefalopatia por HIV (3)
A idade de início do atraso de desenvolvimento
psicomotor é imprevisível, mas o início da encefalopatia
pode ser relacionada com a presença de outros sintomas
do SIDA, como Hepato-Esplenomegália ou LAG
Tem duas formas de apresentação:
Forma de evolução precoce e severa
Forma de progressão lenta
Encefalopatia por HIV forma
Precoce/Severa
Antes dos 12 M : Depois dos 24 M:
É mais frequente a afecção Início súbito com diplegia
motora espástica
Ocorre em 20% crianças Regressão do DPM
infectadas por transmissão O déficit neurológico aparece
vertical antes do déficit imunológico
Déficit imunitário precoce /
carga viral alta à nascença
Diminuição do crescimento do
PC e da aquisição cognitiva
Encefalopatia por HIV na forma de
progressão lenta
O desenvolvimento da criança é normal nos 1ºs 5-6
anos de vida
Após os 6 Anos:
insucesso escolar
hiperactividade
desorientação T/Espacial
Diagnóstico das Alterações
Neurológicas
História Clínica:
Exposição Perinatal ao HIV
Regressão ou atraso no DPMotor
Déficit motor ou ataxia
Convulsões (Focais ou Generalizadas)
Parestesias / Dor
Cefaleia, desorientação, insucesso escolar
Distúrbios do humor (+ adolescentes)
Diagnóstico
Exame Objectivo:
Microcefalia/Hidrocefalia
Sinais meníngeos
Atraso na linguagem
Sinais piramidais
Alterações neurológicas já referidas
Hipo/hiper - reflexia
Encefalopatia por HIV
forma precoce: diplegia
espástica e hipertonia axial
Exame objectivo
Importante

Prestar maior
atenção ao
desenvolvimento
psicomotor e ao
exame neurológico
da criança HIV+
Tratamento
 O objectivo do Tto é reduzir a carga viral – TARV!
 Dependendo da gravidade o doente pode precisar de:
a. Fisioterapia/Cinesioterapia
b. Ortofonia
c. Apoio psico-social
d. Cirurgia para minimizar as contracturas e outras
sequelas
Conclusão
Os avanços no tratamento do SIDA e no manejo das
complicações associadas à imunodepressão
aumentaram a duração e qualidade de vida → o nº
de crianças e adolescentes com sequelas
neurológicas associadas ao SIDA tem vindo a reduzir
considerávelmente
TARV precoce está associado
a uma grande redução da
encefalopatia por HIV na
infância
Profilaxia das Infecções
Oportunistas
☛Depende do estado imunológico da criança
O início da terapia profiláctica é determinado pela:

☛Presença e gravidade das infecções intercorrentes


Profilaxia das Infecções
Oportunistas
Profilaxia primária

Profilaxia secundária
Profilaxia das Infecções
Oportunistas
Profilaxia p/ infecções bacterianas

Profilaxia p/ P.Pneumocystis jirovecii

Profilaxia p/ Toxoplasmose
Cotrimoxazol
Sulfamida usada na prevenção da PPJ ou PPC
(Pneumonia por Pneumocystis Jiroveci ou carinii);
Deve ser iniciado as 4 semanas de vida, quando a criança
exposta ao HIV vai à consulta da criança em risco (CCR)
no Centro de Saúde para colheita do PCR….
Disponível em Comprimidos, Suspensão e Ampolas de
80mg/5 ml para injecção EV (usadas para o tratamento
da PPJ)
Cotrimoxazol
Uso de Cotrimoxazol­
Cotrimoxazol
Normas Nacionais
FMSP
Todas as crianças expostas devem receber o CTZ
profiláctico a partir das 4 semanas de vida
Criança exposta > 9 M, com teste rápido positivo
Suspender com confirmação de diagnóstico
HIV/SIDA negativo
Uso de Cotrimoxazol ­
Normas nacionais: Profilaxia com cotrimoxazol
Iniciar Suspender
< 5 anos: todas as crianças Não suspender a profilaxia
independente do CD4 e/ou em < 5 anos de idade
estadio clínico
5-14 anos: estadio II, III ou IV ≥ 5 anos e CD4≥ 500 em 2
e/ou CD4< 500 cels/mm3 medidas consecutivas
separadas por 6 meses
Dosagem de CTZ
XAROPE trimetoprim COMPRIMIDOS
(40/200mg/5ml) trimetoprim (80/400mg)

PESO (kg) DOSE/Ml DOSE/comprimidos

<7 2.5 -

7-10 5 ½

10-15 7.5 1

15-20 10 1
Dosagem de CTZ
Em crianças > 30 Kg ou acima de 14 A:
2 comp de 480 mg
Critérios para suspender
Cotrimoxazol
Em crianças expostas:
PCR negativo sem história de aleitamento materno
nos últimos 2 meses;
PCR e Teste rápido em crianças > 9 meses negativos,
desmame há mais de 2 meses e sem nenhum sintoma
sugestivo de HIV
Se PCR não disponível até confirmação do seroestado
aos 18M (HIV -)
Em crianças infectadas: ≥ 5 anos e CD4≥ 500
Contra­indicações do Cotrimoxazol
Alergia às Sulfamidas

Doença hepática severa

Insuficiência renal

Anemia ou pancitopénia graves


Caso clínico
Elton tem 5 Kg e veio hoje pela 1ª vez à consulta da
criança em risco (CCR) do Centro de Saúde para colheita
do PCR e iniciar a profilaxia com Cotrimoxazol.
Qual é a dose diária de CTZ a dar ao Elton?
5mgx5 kg= 25 mg/dia= 25x5=125/40=3ml diários
Toxoplasmose
Infecção prévia por T.gondii e /ou CD4<100

☛Sulfadiazina 75mg/kg /dia VO de 12/12 horas +


primetamina 1mg/kg por dia
☛Cotrimoxazol 5mg/(TMP)kg ,VO,1× dia

☛Ácido folico 5 - 10 mg VO 3 × por semana


Citomegalovirus
Todas as crianças que já tiveram um episódio de CMV
Todas as crianças com CD4<100 células/mm3
Doença CMV prévia

☛ Ganciclovir 5mg /kg/ dia VO


Complexo MAC
IDADE CD4 MEDICAMENTO

< 1 ano 750 cel/mm³ ☛ Claritromicina


7.5mg/kg 2×dia
1 - 2 anos 500 cel/mm³ ou

3 - 5 anos 75 cel/mm³ ☛ Azitromicina


20mg/kg/dia 1×semana
6 - 13 anos 50 cel/mm³
Criptococose
Criança com um episódio prévio de meningite
criptocócica

☛ Fluconazol 5mg/kg/dia
ou
☛Itraconazol 5mg/kg/dia 3×por semana
ou
☛Anfotericina B 1mg/kg EV 3×por semana
Critérios para profilaxia com isoniazida
(INH)
1. Todas as crianças assintomáticas HIV negativas menores de 5
anos de idade que tenham contacto com TB
2. Toda a criança infectada pelo HIV assintomática que tenha
contacto com TB (independente da faixa etária)
 A profilaxia deve ser feita com:

 Isoniazida: 10 mg/kg/dia durante 6 meses

Todas crianças em profilaxia devem fazer Piridoxina (10 mg/dia)


ou multivitaminas xarope para prevenir neuropatia periférica
Algorítmo 1: Critérios de TPI em crianças HIV
positivas
Definem-se os seguintes esquemas para a PPE de acordo com o
peso da criança;

Este esquema é independente, tanto do grau como do risco da


exposição;

Idade/peso Regime PPE preferencial Regime alternativo PPE

Peso < 35Kg AZT/3TC+ LPV/r ABC/3TC+ LPV/r

Peso ≥ 35Kg AZT/TDF +3TC+ATV/r TDF + 3TC + EFV


Moçambique preconiza o uso de PPE em
3 situações
1. Exposição ocupacional (trabalhadores de saúde)

2. Violência sexual (casos de violação de adultos e crianças)

3. Relações sexuais consentidas (sem violência) nas quais há


exposição (exemplo: rompimento do preservativo durante o acto
sexual, outras circunstâncias)
Peso Nº de cápsulas de LPV/r Quantidade de LPV/r Nº de comprimidos de
40/10mg (pellets) 80/20mg (kaletra) LPV/r 100/25mg (Aluvia)

Manhã tarde Manhã Tarde Manhã Tarde


3 - 4.9 kg 2 2 1 ml 1 ml NR NR
5 - 5.9kg 2 2 1 ml 1 ml NR NR

6 - 9.9kg 3 3 2 ml 2 ml NR NR

10 - 13.9kg 4 4 2,5 ml 2,5 ml 2 1

14 - 19.9kg 5 5 3 ml 3 ml 2 2

20 - 24.9kg 6 6 1 ml 1 ml 2 2

25 - 29.9kg 7 7 NR NR 3 3

30 - 34.9 kg 8 8 NR NR 3 3

NR – Não recomendado
OBRIGADA PELA ATENÇÃO

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