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1-Introdução Ao Direito Penal e Ao Processo Penal
1-Introdução Ao Direito Penal e Ao Processo Penal
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INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
Núcleo de Educação a Distância
O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.
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Prezado(a) Pós-Graduando(a),
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-
ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver
um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atua-
ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos
conhecimentos.
Um abraço,
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INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas!..
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O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.
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Esta unidade analisará a parte geral do Direito Penal. Espe-
cificamente, foram enfocadas: a) teoria do crime b) teoria da pena c)
prescrição. O módulo trabalha com temas de fundamental estruturação
do Direito Penal, dos limites de atuação do poder punitivo estatal em
virtude da existência do princípio da dignidade da pessoa humana en-
quanto suporte da Constituição de 1988 e consequente análise da Teo-
ria Garantista. Busca também a adoção de um Sistema Penal que tem
por objetivo integrar as Ciências Criminais às demais Ciências Sociais
por meio de um estudo interdisciplinar, utilizando-se dos movimentos e
modelos de política criminal. Ao final, trabalha com o objetivo de pro-
porcionar a compreensão do sistema penal como controle social e sua
adequação aos preceitos constitucionais de um Estado Democrático de
Direito sob pena de ilegitimidade da própria atuação estatal.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
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Apresentação do Módulo _______________________________________ 11
CAPÍTULO 01
ESTUDOS INICIAIS SOBRE O DIREITO PENAL BRASILEIRO
CAPÍTULO 02
PARTE GERAL DO CÓDIGO PENAL
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CAPÍTULO 03
CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
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O Direito Penal é formado por um conjunto de normas jurídicas
que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas
sanções correspondentes. Sua finalidade é a proteção de bens importante
à sobrevivência da sociedade, através de cominação, aplicação e execu-
ção da pena. Aqui, podemos observar que não pode ser criado qualquer
tipo penal sem que se aponte com precisão o bem jurídico que se deseja
proteger.
Cabe ser realizada a divisão entre Direito Penal Objetivo e Direito
Penal Subjetivo. O Direito Penal Objetivo vem a ser o conjunto de normas
que define os crimes e as contravenções, bem como outras questões de
natureza penal. Já o Direito Penal Subjetivo é o direito que o Estado tem de
punir aquele que praticou a infração penal. É o ius puniendi. Direito penal
objetivo e o direito penal subjetivo são duas faces de uma mesma moeda,
ou seja, o primeiro editando as normas e o segundo com o dever poder
de o Estado exercer o seu direito de punir conferido pelas normas por ele
editadas.
As fontes do Direito Penal podem se subdividir em fontes de pro-
dução e fontes de conhecimento.
A única fonte de produção (ou material ou substancial) do Direito
Penal é a União, de acordo com o art. 22, I da CF. Trata-se de competência
privativa da União legislar sobre matéria Penal. No entanto, como o próprio
art. 22 parágrafo único da CF estabelece, é possível que lei complementar
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ESTUDOS INICIAIS SOBRE O
DIREITO PENAL BRASILEIRO
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Normas Penais Incriminadoras
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Assim, sempre que precisarmos buscar uma outra lei para de-
finir algo que se encontre descrito no tipo penal, estaremos diante de
uma norma penal em branco. Para definirmos droga, há necessidade
de uma Portaria expedida pela ANVISA para complementar o preceito
primário da norma penal.
Deste modo, vê-se que a norma penal é dita como em branco
porque o seu preceito primário precisa de complementação.
As normas penais em branco podem ser:
Homogêneas ou em sentido amplo – ou seja, o complemen-
to advém da mesma fonte de produção da norma a ser complementada.
Essas ainda podem se subdividir em homogêneas homovitelina ou de
complementação homóloga (quando o complemento está no mesmo di-
ploma legal da norma a ser complementada. Ex: no crime de peculato, o
conceito de funcionário público também se encontra previsto no Código
Penal) e homogênea heterovitelina ou de complementação heteróloga
(quando o complemento está em diploma legal diverso da norma a ser
complementada. ex.: artigo 237 do Código Penal fala de impedimento
para o casamento. As causas de impedimento que causam nulidade
absoluta para o casamento estão previstas no Código Civil. A fonte de
produção do Código Civil é a mesma fonte de produção do Código Pe-
nal, ou seja, o Congresso Nacional).
Heterogêneas ou em sentido estrito – o complemento é edi-
tado por fonte de produção diferente. Ou seja, o exemplo da substância
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se limita apenas a exigir a existência de lei penal prévia, mas também
há outros aspectos dentro desse princípio que também precisam ser
obedecidos. Assim, é possível que os seguintes requisitos sejam obe-
decidos.
► Lex scripta
► Lex praevia
► Lex certa
► Lex stricta.
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ta praticada e a norma proibida; é necessário que o Direito Penal seja a
última alternativa para a solução do problema, assim como o bem jurídi-
co em questão deve estar dentre aqueles por ele tutelados e que tenha
ocorrido uma efetiva lesão ou ameaça de lesão a este bem.
Os requisitos citados, como veremos, configuram, respectiva-
mente, os princípios da subsidiariedade, fragmentariedade e lesividade.
Princípio da Lesividade
Princípio da Culpabilidade
Princípio da Proporcionalidade
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soa humana não é vista somente como um princípio, mas sim como
fundamento do próprio Estado Democrático de Direito (art. 1º, III da
CRFB/88).
O princípio da humanidade não permite que o Estado aplique
penas cruéis, desumanas ou degradantes, ou seja: impede a comina-
ção abstrata dessas penas. Na nossa Constituição o princípio da huma-
nidade se encontra no artigo 5º, XLVII da CRFB/88, que traz expressa
vedação às penas de morte, de caráter perpétuo, de trabalhos forçados,
de banimento ou cruéis. No entanto não se esgota aí, pois o referido
princípio também possui importância no momento da aplicação da pena
Nesse ponto, portanto, cabe-nos fazer uma análise das finali-
dades da pena. Sabe-se que a pena, em sua moderna concepção, pos-
sui tríplice finalidade: prevenir, retribuir e ressocializar. Fica claro que
uma das finalidades da pena é a retribuição do mal causado (a prática
da infração penal) com outro mal (a imposição de uma pena), tal caráter
retributivo não pode ter por objetivo infligir sofrimento ao condenado e
nem desconhecê-lo enquanto pessoa humana.
E qual a ligação então ao princípio da humanidade? O princípio
da humanidade, portanto, garante a integridade física e moral do ser-
-humano, especialmente no momento da execução da pena.
Nesse sentido, podemos perceber que tal princípio não se
restringe apenas a proibir que o nosso ordenamento consagre penas
cruéis. Sua função é também a de impedir que aqueles já inseridos no
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HC 274848 / SP - HABEAS CORPUS 2013/0250408-6 – PUBLICAÇÃO EM
04/02/2015 PROCESSUAL E PENAL. HABEAS CORPUS. (1) IMPETRA-
ÇÃO SUBSTITUTIVA DE RECURSO ORDINÁRIO. IMPROPRIEDADE DA
VIA ELEITA. (2) CRIMES DE ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PU-
DOR. DUAS VÍTIMAS. CRIME ÚNICO EM RELAÇÃO ÀS CONDUTAS PRA-
TICADAS CONTRA CADA UMA DAS VÍTIMAS. LEI Nº 12.015/09. (3) CON-
TINUIDADE DELITIVA RELATIVA ÀS CONDUTAS PRATICADAS CONTRA
AS DUAS VÍTIMAS. UNIDADE DE DESÍGNIOS. AUSÊNCIA.CONSTRANGI-
MENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. (4) NÃO CONHECIMENTO. ORDEM
DE OFÍCIO.
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Para que possamos concluir pela existência de uma infração
penal, há necessidade de que o agente tenha cometido um fato típico,
ilícito e culpável. Cada um desses requisitos pressupõe o anterior.
Do tipo doloso
Conceito de dolo: dolo é a vontade livre e consciente dirigida a
realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador. Desse conceito,
podemos concluir que o dolo é formado por dois elementos: um elemen-
to intelectual e um elemento volitivo. A consciência, momento intelectual
do dolo, significa que o agente deve saber exatamente aquilo que faz,
para que lhe possa atribuir um resultado lesivo a título de dolo. Ex.:
alguém, durante uma caçada, pretendendo matar uma onça, confunde
um homem com um animal e atira, matando o homem. Não havia dolo
de matar o homem, e sim de matar o animal. Nesse caso, o dolo ficará
afastado porque não havia consciência, incorrendo o agente em erro de
tipo.
A vontade é outro elemento sem o qual desnatura o crime do-
loso. Como já falamos anteriormente, aquele que sofre uma coação físi-
ca, age com ausência de dolo. Não há vontade e, portanto, deverá ser
afastado o dolo da conduta do agente.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
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refere ao dolo eventual.
Espécies de dolo.
Distingue-se o dolo em direto e indireto. O dolo será direto
quando o agente quer efetivamente cometer a conduta descrita no tipo
penal. O agente pratica a conduta dirigida finalisticamente à produção
do resultado por ele pretendido inicialmente. No dolo direto, o agente
quer praticar a conduta descrita no tipo. É o dolo por excelência.
O dolo direto divide-se em dolo direto de primeiro grau e dolo
direto de segundo grau. Será de primeiro grau quando for referente ao
fim proposto e aos meios escolhidos. Será de segundo grau quando se
referir aos seus efeitos colaterais, necessários para que se possa che-
gar ao dolo direto de primeiro grau. Ex.: um terrorista pretende matar
um Chefe de Estado que estará viajando em um avião. Coloca dentro
desse avião uma bomba, o avião explode e todos morrem. Quando ao
Chefe de Estado, haverá dolo direto de primeiro grau. Quanto aos pas-
sageiros do avião, haverá dolo direto de segundo grau, pois para matar
o Chefe de Estado, a morte dos passageiros seria necessária para que
se pudesse alcançar o dolo direto de primeiro grau. A finalidade primeira
não era de se alcançar a morte dos demais passageiros, mas de qual-
quer forma ela foi querida pelo agente, como consequência necessária
do meio escolhido. Também é conhecido por dolo de consequências
necessárias.
O dolo poderá também ser indireto. O dolo indireto se divide
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quase quebrando e você, ao invés de ajuda-lo, balança o galho de leve
e ele cai. Se você não passasse ali o galho mais cedo ou mais tarde se
quebraria, certo? Mas a partir do momento que você sacudiu o galho e
precipitou a queda de seu inimigo, você interferiu na cadeia causal e,
portanto, deverá responder pelo resultado, mesmo que ele ocorresse
sem a sua colaboração.
Causa: conceito e espécies: absolutamente independente, re-
lativamente independente.
O art. 13§ 1º do Código Penal traz as causas supervenientes
relativamente independentes. Mas não podemos esquecer que há tam-
bém causas preexistentes e concomitantes, absoluta e relativamente
independentes
CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES - são aque-
las segundo as quais o resultado teria ocorrido independentemente da
conduta do agente.
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a) Preexistentes: já existia antes do comportamento do agente e conjugada
com tal conduta, produziu o resultado. Ex: hemofílico. A quer matar B e des-
fere um golpe de faca, sabendo que B era hemofílico. Mesmo que tenha sido
em um local que não fosse causar a morte, ele morreu porque era hemofílico
e em virtude da facada. Responderá, portanto, por homicídio.
O art. 13, §1º traz a expressão “por si só”. Significa dizer que
somente serão imputados ao agente os resultados que se encontrarem
em uma linha de desdobramento físico causal da ação. Ou seja, que
pela conduta do agente seriam previsíveis ocorrer. Não sendo previ-
síveis, ou seja, não estando na linha de desdobramento físico causal,
o agente somente responderá pelos atos praticados por seu dolo. É
importante verificarmos também a significância da lesão para que não
cheguemos a situações absurdas.
O nexo causal na omissão - na leitura do art. 13 do Código
Penal, podemos verificar que a omissão também poderá ser considera-
da causa do resultado, bastando que o emitente tenha o dever jurídico
de impedir ou de tentar impedir o resultado. Trata aqui de o agente não
fazer aquilo que a lei que determinava fazer.
Teoria da imputação objetiva
Não é a teoria adotada pelo nosso Código Penal. Tem por fun-
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damento o incremento do risco e a finalidade de proteção da norma. A
causação de um resultado típico só se observará se o agente criou um
risco juridicamente reprovável.
Nessa teoria, devemos abstrair o dolo e a culpa, analisando
o tipo penal objetivamente. Por isso que a teoria se chama imputação
objetiva. A conduta do agente deverá ter criado ou aumentado um risco
juridicamente proibido. Ex: uma pedra vai cair na cabeça de A. Ao per-
ceber o que pode acontecer, B empurra A, que se machuca nas pernas
para que a pedra não caia na cabeça de A. B teria cometido o crime de
lesão corporal. Porém, devemos verificar que B reduziu um risco que
iria acontecer e, portanto, não poderá ter o resultado a ele imputado.
Alguns princípios surgem nessa teoria:
poderá ser imputada a conduta. Ex.: uma pessoa vai roubar a vítima,
essa se assusta, sai correndo para o meio da rua e morre atropelada.
Ao agente deverá ser imputado apenas o crime de roubo.
ITER CRIMINIS
Trata-se do caminho que a infração penal irá percorrer desde
a cogitação do agente até seu exaurimento (esgotamento da figura tí-
pica). É um instituto importante para verificar se a infração comporta
ou não tentativa. Assim, pode-se dizer que essa análise será cabível
apenas em crimes dolosos.
A doutrina enumera as seguintes fases do iter criminis:
Cogitação, Atos Preparatórios, Atos Executórios, Consumação
e Exaurimento.
TENTATIVA.
Instituto previsto no art. 14, II do Código Penal e sua punição
encontra-se descrita no art. 14, parágrafo único. O pressuposto para se
falar em tentativa é haja o início da execução do crime, mas a não con-
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sumação, decorrente de circunstâncias alheias à vontade do agente.
A tentativa é considerada perfeita quando o agente faz tudo
que está ao seu alcance para consumar o crime e ainda assim, ele
não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Será
considerada imperfeita quando o agente inicia a execução do crime,
mas sequer chega ao fim, e o crime não se consuma por circunstâncias
alheias à vontade do agente.
A punição pela tentativa leva em consideração a proximidade
que o agente ficou da consumação do delito. Se o agente ficou perto
da consumação, a pena será diminuída da fração mínima. Se o agente
ficou distante da consumação, ou seja, se foi caso de tentativa imperfei-
ta, a pena ficará diminuída no seu patamar máximo.
Algumas infrações não são passíveis de punição pela tentati-
va. São as seguintes: Crimes Culposos, Crimes Habituais, Crimes Pre-
terdolosos, Crimes Omissivos Próprios e Crimes Unissubsistentes
Vale lembrar que não se pune a tentativa de contravenção pe-
nal – art. 4º DL 3688/41.
A tentativa constitui-se em causa obrigatória de diminuição da
pena. Incide na terceira fase de aplicação da pena privativa de liberda-
de, e sempre a reduz. A liberdade do magistrado repousa unicamente
no quantum da diminuição, balizando-se entre os limites legais, de 1
(um) a 2/3 (dois terços). Deve reduzi-la, podendo somente escolher o
montante da diminuição5.
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consumação deve ser por ele evitada. Assim, se o agente fizer tudo que
está ao seu alcance para evitar a consumação do delito, mas o crime
ainda assim se consumar, temos que ele será responsabilizado pelo
crime consumado.
Arrependimento Posterior – art. 16 do CP.
Nesse caso, o crime alcançou a sua consumação, mas o agen-
te, se reparar o dano ou restituir a coisa antes do recebimento da de-
núncia ou da queixa, receberá uma diminuição da pena. Vale lembrar
que não se aplica o referido instituto aos crimes cometidos com violên-
cia ou ameaça à pessoa.
Requisitos para a aplicação:
a) ocorrência de crimes sem violência ou grave ameaça à pessoa. Entretan-
to, a violência há de ser dolosa, pois é admissível a aplicação da causa de
redução de pena, caso o delito, produzindo efeitos patrimoniais, tenha sido
praticado com violência culposa. Assim é a hipótese de haver lesões culpo-
sas, passíveis de reparação completa. Ensina Dante Busana: “O arrependi-
mento posterior (art. 16, CP) alcança também os crimes não patrimoniais em
que a devolução da coisa ou o ressarcimento do dano seja possível, ainda
que culposos e contra a pessoa. Neste último caso, a violência que atinge o
sujeito passivo não é querida pelo agente, o que impede afirmar tenha sido
o delito cometido, isto é, praticado, realizado, perpetrado, com violência, pois
esta aparece no resultado e não na conduta” (cf. Waléria Garcelan Loma
Garcia, Arrependimento posterior, p. 105).
No caso de violência presumida, já que os casos retratados em lei demons-
tram ser a violência fruto da inibição da vontade da vítima, não há possibilida-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
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o surgimento do roubo e não do furto, em caso de subtração por tal meio.
Logo, é crime violento;
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intérprete não compete restringir o sentido ou alcance do dispositivo em pre-
juízo do agente, resultando, assim, somente enfrentar e dirimir as questões
da aferição do dano e a forma de sua reparação” (Arrependimento posterior,
p. 85). Permitimo-nos discordar dessa posição, destacando que, em alguns
dos exemplos citados, torna-se até mesmo impossível não somente mensu-
rar o dano (violação de sepultura ou perturbação de cerimônia religiosa, entre
outros), mas sobretudo identificar a vítima, isto é, a pessoa destinatária da
indenização.
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ver, um taco de golfe, veneno. E o que vem a ser meio absolutamente
ineficaz? É aquele de que o agente se vale a fim de cometer a infração
penal, mas no caso concreto não possui aptidões para produzir o re-
sultado pretendido. Exemplos: revólver sem munição, quando o agente
se confunde e ao invés de colocar veneno colocar açúcar, falsificação
grosseira.
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Crime impossível e Súmula 145 do STF.
Nesse caso, ficou pacificado o entendimento de que se a po-
lícia preparar o flagrante de modo a tornar impossível a consumação
do delito, haverá o crime impossível. Flagrante preparado é quando o
agente é estimulado pela vítima ou pela autoridade policial a cometer a
infração penal. Contudo, se a infração penal restar consumada, o agen-
te responderá pelo crime consumado, mesmo que tenham sido toma-
das todas as providências para evita-la. Se o resultado foi alcançado,
significa que os meios ou objetos não eram absolutamente ineficazes
ou impróprios.
Flagrante esperado é diferente: este ocorre quando, a polícia,
sabendo que haverá infração penal, aguarda o agente para que possa
efetuar a prisão em flagrante – nesse caso, é possível se falar em tenta-
tiva. No flagrante esperado não há estímulo do policial nem de terceiro.
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mesmo artigo também determina a aplicação da lei brasileira caso o
crime aconteça no interior de embarcações ou aeronaves brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada se estiverem em alto mar ou em
espaço aéreo correspondente ao alto mar. Logo, se no interior de uma
aeronave de propriedade de uma empresa brasileira houver um crime,
se essa aeronave estiver sobrevoando o alto mar, haverá aplicação da
lei brasileira.
O art. 5º §2º também trata da territorialidade. Assim, se uma
embarcação estrangeira estiver em mar territorial brasileiro ou uma ae-
ronave estrangeira estiver sobrevoando o espaço aéreo correspondente
ao território nacional, haverá a aplicação da lei brasileira. Vale lembrar
que tanto a embarcação quanto a aeronave devem ser de propriedade
privada.
O estudo da Lei Penal no Espaço diz respeito à necessidade
de se saber se o Brasil poderá aplicar ou não a sua lei. Trata-se de um
estudo que envolve o Direito Penal Internacional, ou seja, hipótese de
a conduta criminosa violar sistema jurídico de mais de um país. Não se
pode confundir com critérios de fixação de competência previstos no art.
70 do CPP e seguintes uma vez que ali há a definição do juízo compe-
tente para processar e julgar crimes cometidos no Brasil.
As teorias aplicadas para o estudo do lugar do crime recebem
os mesmos nomes das teorias para estudo do tempo do crime. Porém,
em se tratando de lugar do crime, o Código Penal, no seu art. 6º, adota
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destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo, bem como efe-
tuando a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo,
conforme art. 1.º da Lei 2.889/56), quando o agente for brasileiro ou
domiciliado no Brasil. Tratase do princípio da justiça universal (art. 7.º,
I, d, CP);
e) crime de tortura, conforme previsão da Lei 9.455/97, que
estabeleceu a possibilidade de se aplicar a lei brasileira ao torturador,
onde quer que o delito seja cometido, desde que a vítima seja brasileira
ou esteja o autor da infração penal sob jurisdição brasileira (art. 2.º).
Como se trata de lei especial, que não fixou condições para se dar o
interesse do Brasil na punição do torturador, trata-se de extraterritoriali-
dade incondicionada. É aplicação do princípio da justiça universal.
Outrossim, como hipóteses de extraterritorialidade condicio-
nada temos:
a) crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou
a reprimir (são os delitos previstos em tratados ou convenções que o
Brasil subscreveu, obrigando-se a 5.4 punir, como o tráfico ilícito de
drogas, a pirataria, a destruição ou danificação de cabos submarinos, o
tráfico de mulheres, entre outros). É o princípio da justiça universal (art.
7.º, II, a, CP);
b) crimes praticados por brasileiros. A justificativa para a exis-
tência desse princípio é a proibição de extradição de brasileiros, ve-
dada pela Constituição Federal (art. 5.º, LI). Assim, caso um brasileiro
Tempo do crime
No Direito Penal, ao contrário do que se estuda nos demais ra-
mos do Direito, nem sempre se aplica aquilo que chamamos de tempus
regit actum (ou seja, a norma aplicada será aquela vigente na data da
prática do fato). Isso porque, pela regra da retroatividade mais benéfica,
se na data do julgamento, houver uma lei mais benéfica do que a vigen-
te na data do fato, a lei em vigor retroagirá para beneficiar o réu. Caso
contrário, se na data do fato houver uma lei mais benéfica do que a lei
vigente na data do julgamento, ela produzirá efeitos ultra-ativos e será
aplicada a lei vigente na data do fato, mesmo se ela já estiver revogada.
Existem três teorias acerca do tempo do crime: teoria da ativi-
dade, teoria do resultado e teoria mista ou da ubiquidade:
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o seguinte: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continui-
dade ou da permanência”.
Em se tratando de crime permanente, deve-se observar o se-
guinte: a lei que deverá ser aplicada será aquela que estiver vigente no
momento em que cessar a permanência. Assim, no caso de um seques-
tro, se no momento da privação da liberdade da vítima, estiver em vigor
uma lei mais branda, mas quando da libertação da vítima, houver um a
lei mais, grave, aplica-se a lei mais grave, uma vez que a execução do
crime persistiu até a entrada em vigor da lei mais grave.
No caso do crime continuado, a explicação mais detalhada
ocorrerá no momento do estudo do concurso de crimes, mas já é possí-
vel adiantar que temos nada mais nada menos do que a estrita aplica-
ção do que dispõe o próprio artigo 71 do Código Penal.
Extra atividade da lei penal: ultratividade e retroatividade.
Chama-se extra atividade da lei penal a sua capacidade de se
movimentar no tempo. Ela pode regular fatos ocorridos durante a sua vi-
gência se já tiver sido revogada bem como poderá retroagir a situações
anteriores à sua vigência, desde de que favoráveis ao réu.
A ultratividade permite que a lei, mesmo depois de revogada,
continue regulando fatos ocorridos na sua vigência. Um ótimo exemplo
diz respeito à lei 11.343/2006, com relação ao tráfico de drogas. Na lei
revogada, lei 6368/76, o tráfico era punido com uma pena de 3 a 15
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Novatio legis in pejus
ANTES DEPOIS
O estelionato contra idoso configu- O estelionato contra idoso configu-
rava o art. 171 do CP (pena de 1 a 5 ra o art. 171, §4º do CP, aplicando
anos). a pena em dobro. Obs.: o §4º não
pode retroagir para alcançar os fatos
pretéritos. E se o estelionato for pra-
ticado em continuidade delitiva, e no
fim da sequência desses esteliona-
tos já estava em vigor o §4º, do art.
171 do CP? Aplicação da Súmula
711, STF.
ANTES DEPOIS
Antes do advento da Lei 11.106, o Após o advento da Lei 11.106, o
adultério era crime, nos moldes do adultério passou a não ser mais
art. 240 do CP. crime, houve a abolição da figura
criminosa.
Combinação de leis
Seria possível o juiz, ao perceber que uma lei tem uma parte
mais benéfica e outra prejudicial ao acusado, realizar a combinação de
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leis, de forma que a norma vise uma aplicação mais benéfica ao réu? O
STF entende que não é possível haver combinação de leis. Essa viola-
ria o princípio da separação dos poderes, uma vez que o judiciário não
pode agir como legislador positivo. O STJ, com relação à lei de drogas
também sumulou o tema com relação à Lei de Drogas e consequente-
mente afastou a possibilidade de combinação de leis.
De acordo com o que dispõe a Súmula 501 do STJ, é cabível
a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da
incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu
do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a
combinação de leis. Essa súmula foi editada porque a Lei 11.343/2006
trouxe uma causa de diminuição de pena que não existia na revogada
Lei 6368/76 para o tráfico no caso de criminoso ser primário, de bons
antecedentes, que não se dedicar a atividades criminosas e nem inte-
grar organização criminosa.
Muitos então sustentaram que se o fato tivesse sido praticado
na vigência da Lei 6368, mas se o acusado preenchesse o disposto
no art. 33§4º, seria possível aplicar a causa de diminuição de pena da
nova lei ao crime previsto na Lei 6368. O STJ então se manifestou no
sentido da impossibilidade de combinação de leis, de forma que deveria
ser verificada qual a norma mais benéfica, sem fracionamento dos seus
dispositivos.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
TEORIA DO CRIME
A pretensão de se desenvolver uma teoria geral do crime pres-
supõe uma definição de seu objeto, ou seja, uma definição do crime, a
partir da qual será possível analisar todos os elementos que a compõem.
As definições de crime são as mais variadas possíveis, dependendo do
prisma sob o qual é analisado. Assim, pode-se falar em um conceito
formal de crime que seria simplesmente a violação da lei penal, ou um
conceito material que poderia ser a lesão ou o perigo de lesão aos bens
jurídicos penalmente protegidos. Porém, a partir desses conceitos, não
é possível estabelecer uma teoria geral, pois essas conceituações não
estabelecem os componentes/elementos essenciais ao crime, o que so-
mente é feito pelo conceito analítico ou operacional de crime.
Segundo o conceito analítico ou operacional, o crime pode ser
definido como uma conduta típica, ilícita e culpável, sendo certo que a
conduta é o pressuposto para existência do crime, mas para que seja
assim considerada, precisa ser dotada de tipicidade, ilicitude e culpabi-
lidade, sendo que na ausência de qualquer um desses elementos, não
haverá crime.
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Conforme destaca Claus Roxin: Na moderna dogmática de Di-
reito penal existe um substancial acordo de que toda conduta punível
pressupõe uma ação típica, antijurídica e culpável (...). Portanto, toda
conduta punível apresenta quatro elementos comuns (ação, tipicidade,
antijuridicidade e culpabilidade)8.
Essa concepção do crime que enxerga a conduta como o subs-
tantivo que para ser considerado crime precisa ser adjetivada de típica,
ilícita e culpável é conhecida como teoria tripartida do crime. Porém,
apesar deste “acordo” da doutrina internacional, existem posicionamen-
tos divergentes que adotam o conceito bipartido (conduta típica e ilí-
cita) ou quadripartido (conduta típica, ilícita, culpável e punível) para o
crime, que apesar de serem minoritários, também são importantes.
TEORIA DO ERRO
Erro é a falsa representação da realidade ou o falso ou equi-
vocado conhecimento de um objeto. Entende-se por erro de tipo aquele
que recai sobre as elementares, circunstâncias ou qualquer dado que
se agregue a uma determinada figura típica.
Quando o agente tem essa falsa representação da realidade,
falta-lhe consciência de que pratica uma infração penal e, dessa forma,
resta afastado o dolo, que é a vontade livre e consciente de praticar a
conduta incriminada. Ex.um caçador atira em um arbusto achando que
tinha um animal escondido lá atrás, quando na verdade era um homem.
49
sência de algum dos elementos objetivos ou subjetivos do tipo penal
acaba por afastar a tipicidade.
Sendo o erro de tipo vencível (inescusável, injustificável, evi-
tável), quando qualquer pessoa, naquela situação conseguiria evitar o
resultado se tivesse atuado com a diligência exigida. O agente, nesse
caso, responderá pelo crime culposo, se houver previsão em lei.
Erro de tipo essencial.
O erro do agente recai sobre as elementares, circunstâncias ou
qualquer outro dado que se agregue à figura típica. É o erro estudado
acima.
Erro de tipo acidental.
Não tem o condão de afastar o dolo do agente. O agente age
com consciência de que seu comportamento é ilícito. Poderá ocorrer
nos seguintes casos:
Erro sobre o objeto.
O agente tem consciência e vontade de praticar uma conduta
ilícita, mas erra sobre ao valor do bem, por exemplo. Ex: o agente acha
que vai furtar um brinco de outro, mas na verdade seria de bijuteria.
Nesse caso, em nada influencia na definição jurídica do fato.
Erro sobre a pessoa.
Nesse caso, há previsão no art. 20 §3º do CP. Nesse caso, são
levadas em consideração as qualidades de quem o agente gostaria de
atingir. Ex: quero matar mamãe. Supondo que era ela ali presente, dou
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
um tiro e na verdade, mato uma mulher. Nesse caso, vou responder por
homicídio, com a agravante de ser contra um ascendente meu. O erro,
nesse caso, refere-se à identificação da vítima. Aqui, confundo aquela
pessoa que eu queria atingir com outra.
Erro na execução (aberratio ictus).
Encontra-se no artigo 73 do Código Penal. Aqui, o agente erra
o alvo: ao invés de atingir a pessoa que pretendia, erra a mira e acerta
outra. Nada impede que ambas sejam atingidas (caso em que se apli-
cará a regra do concurso formal). O art. determina que seja aplicada a
regra do art. 20, §3º do CP. O instituto do erro na execução somente
existe em caso de crimes dolosos. E se o agente estiver agindo em le-
gítima defesa? Não responderá pelo resultado, apenas responderá na
esfera da responsabilidade civil.
Vejamos entendimento jurisprudencial sobre o assunto:
PENAL E PROCESSUAL PENAL. TRIBUNAL DO JÚRI. APE-
LAÇÃO DA DEFESA. DOSIMETRIA DA PENA. PENAS-BASE. CIR-
CUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. REFUNDAMENTAÇÃO E EXCLUSÃO
DE CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAS. TENTATIVA. FRAÇÃO. ITER CRI-
MINIS. ABERRATIO ICTUS. CONCURSO FORMAL. REDIMENSIO-
50
NAMENTO DA REPRIMENDA. APELO PROVIDO PARCIALMENTE.
DECISÃO UNÂNIME. 1. Observou-se que o Magistrado singular não
seguiu a melhor técnica na aplicação da pena, porquanto, não realizou
a dosimetria em relação a cada um dos delitos de maneira individualiza-
da para, só então, ingressar no quantum devido pelo concurso formal,
referente à aberratio ictus com unidade complexa (...) 4. Por fim, face
ao reconhecimento do instituto do aberratio ictus em sentido amplo
ou erro na execução do crime, aplicou-se a regra do concurso formal,
como reza o art. 73, segunda parte, do Código Penal e majorando-se
em 1/6 (um sexo) a reprimenda mais grave, qual seja, 09 (nove) anos e
04 (quatro) meses de reclusão, finda a sanção definitiva do réu em 10
anos, 10 meses e 20 dias de reclusão; 5. Por unanimidade de votos,
deu-se provimento parcial ao apelo (TJ-PE - APR: 4982038 PE, Relator:
Mauro Alencar De Barros, Data de Julgamento: 19/06/2019, 2ª Câmara
Criminal, Data de Publicação: 15/07/2019).
Aberratio criminis ou delicti.
Vê-se o artigo 74 do Código Penal. Significa desvio no crime.
Nesse caso, fora da hipótese do art. 73, por acidente ou erro na execu-
ção, ocorre resultado diverso do pretendido. Aqui, o erro incide de coisa
para pessoa e de pessoa para coisa. Ex.: o agente pretende acertar uma
pedra em uma vitrine, erra e acerta uma pessoa, machucando-a: nesse
caso, responderá por lesão corporal culposa. Mas cuidado, porque se
o agente queria atingir uma pessoa, mas acerta uma coisa, responderá
ILICITUDE
Conceito: é a relação de antagonismo, de contrariedade entre
a conduta do agente e o ordenamento jurídico. Se a conduta do agente
colidir com o ordenamento jurídico penal, podemos dizer que ela será
penalmente ilícita.
Causas de exclusão da ilicitude
O código penal, no seu art. 23 prevê expressamente quatro
causas de exclusão da ilicitude da conduta praticada pelo agente, fa-
zendo com o que o fato por ele praticado seja considerado lícito. São as
seguintes causas:
- estado de necessidade
- legítima defesa
- estrito cumprimento do dever legal
- exercício regular do direito
53
cussão. Somente devemos falar de perigo atual ou englobaria também o
perigo iminente? Embora haja entendimento diverso, há também o perigo
iminente, pois a atualidade engloba a iminência do perigo. Somente esta-
rá afastado o Estado de Necessidade se falarmos de perigo passado, bem
como de perigo futuro, ou seja onde não haja uma possibilidade quase ime-
diata de dano.
b) Perigo não provocado pelo agente. Quando o artigo 24 fala de vontade,
refere-se somente ao dolo, ou engloba também a culpa? Também há contro-
vérsias quanto a essa questão. Uma primeira corrente sustenta que exclui o
estado de necessidade se o perigo for provocado pelo agente por dolo e por
culpa. No entanto, é melhor entender que somente estará excluído o estado
de necessidade se o agente tiver causado o perigo a título de dolo.
c) Evitabilidade do dano: isso significa que aquele que age em estado de ne-
cessidade, não poderá ter opção a escolher, pois sempre deverá seguir o ca-
minho menos gravoso. Isso porque estamos trabalhando com bens jurídicos
protegidos em confronto. Logo, a alternativa menos danosa é a que deverá
ser escolhida. Caso contrário, o agente responderá pelo excesso.
d) Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo: aquele que tem por lei
a obrigação de enfrentar o perigo, não pode optar pela saída mais cômo-
da. Ex.: um bombeiro. Mas isso deve ser interpretado logicamente com bom
senso (ou seja, para que se possa alegar estado de necessidade para essas
pessoas, deve-se comprovar que nem mesmo enfrentando o perigo o bem
poderia ser salvo).
54
ficante. Já o Código Penal Militar adotou a teoria diferenciadora, admitindo o
estado de necessidade exculpante.
55
Legítima defesa: conceito e finalidade - A legítima defesa sur-
giu de forma a amparar o agente que se vê em uma situação em que o
Estado não pode de imediato amparar. Devem, portanto, estar presen-
tes os requisitos objetivos e subjetivos da legítima defesa. O conceito de
legítima defesa está presente no art. 25 do Código Penal
Requisitos e elementos:
Injusta agressão: agressão significa ameaça humana de lesão
de um interesse juridicamente protegido. Agressão aqui precisa ser ato
do homem. Logo, não há legítima defesa contra ataque de animais. A
agressão deverá ser também injusta, ou seja, ela não pode, de qualquer
modo ser amparada por nosso ordenamento jurídico.
para que se fale no cumprimento desse dever, esse deverá se dar nos
exatos termos impostos pela lei. Ultrapassando os limites, já haverá o
excesso e, portanto, haverá a ilicitude.
Como estudamos anteriormente, Zaffaroni sustenta que quan-
do estamos diante de um estrito cumprimento do dever legal, na verda-
de, a tipicidade que deverá ser afastada (pois devemos analisar o orde-
namento jurídico como um todo, em razão daquilo que chamamos de
tipicidade conglobante). Isso porque, não é possível haver uma norma
jurídica que proíba e outra que fomente. Em virtude desse posiciona-
mento é que estaria havendo um esvaziamento das causas de exclusão
da ilicitude.
No entanto, devemos lembrar que isso é apenas um estudo e
no Brasil, o estrito cumprimento do dever legal é analisado como uma
causa de exclusão da ilicitude, devendo assim ser considerado.
Exercício regular de um direito
Conceito e requisitos: também não tem definição no Código
Penal, mas é importante perceber que a própria expressão conceitua. O
9 Nucci, Guilherme de Souza Manual de direito penal / Guilherme de Souza Nucci. – 16.
ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020.
60
direito poderá ser extraído também dos costumes. É a atuação do agen-
te dentro dos limites conferidos pelo ordenamento jurídico. Exemplos
que podem ser considerados: práticas desportivas violentas (desde que
haja uma atuação dentro do regulamento), castigo que os pais impõem
aos seus filhos menores (desde que seja obedecida uma razoabilida-
de). Configurado o excesso, no entanto, a causa de exclusão da ilicitude
desaparece.
Consentimento do ofendido
Poderá ter dois enfoques: o primeiro, de afastar a tipicidade. O
segundo, de afastar a ilicitude, dependendo do tipo penal que se possa
analisar. Estará afastada a tipicidade se por exemplo, num crime de
invasão de domicílio (art. 150), o morador consentir o ingresso no local;
no estupro, se a mulher consentir a relação sexual. Afastará a ilicitude
se um tatuador fizer uma tatuagem em uma pessoa. O não consenti-
mento no crime de lesão corporal não está descrito no tipo penal.
Essa causa é considerada supralegal porque não tem previsão
expressa em nosso ordenamento jurídico.
Requisitos: para que se possa levar em consideração, alguns
requisitos deverão ser observados:
- o ofendido deverá ter capacidade para consentir – ou seja,
deverá ser maior de 18 anos, que é quando se dá a capacidade plena.
- o bem sobre o qual recaia a conduta do agente deverá ser
disponível: por isso que a eutanásia é punida no nosso ordenamento
CULPABILIDADE
Conceito, natureza e fundamento jurídico – Culpabilidade é juí-
zo de reprovação pessoal que recai sobre o autor do fato. Culpabilidade
é reprovabilidade. Inicialmente, pela teoria causalista o dolo e a culpa
integravam a culpabilidade. Entretanto, com o advento da teoria finalista
do delito, o dolo e a culpa foram deslocados para o fato típico e na cul-
pabilidade permaneceram somente os elementos normativos (daí o mo-
tivo da teoria finalista ser conhecida também por teoria normativa pura).
Elementos da culpabilidade: A culpabilidade passou a se cons-
tituir então pela:
Imputabilidade – é a possibilidade de se atribuir a alguém a
61
responsabilidade por algum fato. A imputabilidade é a regra. A inimputa-
bilidade é a exceção.
Potencial consciência da ilicitude – ou seja, se nas condições
que o agente se encontrava, deveria ser possível compreender que o
fato que o agente praticava era ilícito.
Exigibilidade de conduta diversa – é um conceito muito amplo.
É a possibilidade que o agente teria de, no momento da ação ou omis-
são, agir de acordo com o direito. Essa possibilidade varia de pessoa
para pessoa e deverá ser feito o juízo de aferição de acordo com a aná-
lise do caso concreto.
Exemplo: Mãe solitária, que sai para trabalhar e deixa as crian-
ças em casa sozinha. Leva a chave para que as crianças não venham a
sair e nem permitam a entrada de estranhos. Casa na vizinhança pega
fogo e as crianças ficaram impossibilitadas de sair, vindo a óbito.
In casu, reconheceu-se a inexigibilidade de conduta diversa
por parte da genitora, a qual no contexto apresentada, não tinha outra
alternativa. Potencial Consciência da Ilicitude.
A aplicação da pena ao autor de uma infração penal somente é
justa e legítima quando ele, no momento da conduta, era dotado ao me-
nos da possibilidade de compreender o caráter ilícito do fato praticado.
Exige-se, pois, tivesse o autor o conhecimento, ou, no mínimo, a poten-
cialidade de entender o aspecto criminoso do seu comportamento, isto
é, os aspectos relativos ao tipo penal e à ilicitude. Em síntese: o agente
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
10 Estefam, André ; Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal esquematizado® – parte
geral / André Estefam; Victor Eduardo Rios Gonçalves. – Coleção esquematizado ® / coordenador
Pedro Lenza - 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020
62
- Reaprovabi- - Expansão
- Vínculo psi- - Reaprovabilida- lidade do ato da culpabi-
Concei- cológico que de do ato (inte- (composta lidade para
to une o autor grada por dolo e de elementos a noção de
ao fato culpa) puramente responsabili-
normativos) dade
- Culpabili-
dade (impu-
- Imputabili- tabilidade
dade + potencial
- Imputabilidade consciência
- Potencial da ilicitude +
Elemen- - Dolo ou - Dolo ou culpa consciência da exigibilidade
tos culpa ilicitude de conduta
- Exigibilidade de
diversa)
conduta diversa - Exigibilidade
de conduta - Satisfação
diversa de necessi-
dades pre-
ventivas
CULPA
Modalidades (quebra
Culpa consciente x
63
putável aquele que , em razão de sua condição mental era, no momento
da prática do fato, totalmente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato e determinar-se de acordo com aquele entendimento.
A menoridade – art. 27 do Código Penal: é a inimputabilidade
por imaturidade natural. Ou seja, há uma presunção legal de que os me-
nores de 18 anos não gozam de plena capacidade de entendimento que
lhes permita imputar a prática de um fato típico e ilícito. Ao inimputável
pela menoridade será aplicada uma medida sócio educativa. A prova da
menoridade penal é feita através de certidão de nascimento ou outro
registro que a substitua (como por exemplo, a carteira de identidade).
OBS: Súmula 74 do STJ
Doença mental: previsto tal critério no art. 26 caput do Código
Penal. O desenvolvimento mental incompleto abrange a demência, psi-
cose maníaco depressiva, esquizofrenia, etc. Em se tratando de desen-
volvimento mental incompleto temos os silvícolas ainda não adaptados
à vida em sociedade. Já o desenvolvimento mental retardado abrange
as pessoas oligofrênicas (idiotas, imbecis, débeis mentais).
A semi imputabilidade: ocorre quando o agente, no momento
da ação ou da omissão, encontra-se parcialmente privado de sua capa-
cidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acor-
do com esse entendimento. Nesse caso, o agente comete fato típico,
ilícito e culpável. Entretanto, a ele se aplica uma causa de diminuição
de pena.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
Embriaguez
Inicialmente, devemos fazer a divisão entre embriaguez vo-
luntária e involuntária: somente haverá a exclusão da culpabilidade se
houver embriaguez completa involuntária proveniente de caso fortuito
ou força maior: ex: o agente se embriagou porque caiu em um barril
cheio de cachaça; o agente se embriagou porque estava amarrado e foi
obrigado a ingerir bebida alcoólica. Não sendo completa a embriaguez
involuntária, incidirá uma causa de diminuição de pena, de acordo com
o art. 28§2º, II do Código Penal.
Será voluntária a embriaguez quando o agente ingere bebida
alcoólica ou substância de efeitos análogos porque quer. Nesse caso,
mesmo sendo completa, permite a punição, nos termos do art. 28, II
do Código Penal. Isso em virtude da teoria da actio libera in causa.
Significa que há possibilidade de punir o agente, quando ele se coloca
propositalmente com a intenção de produzir o evento lesivo, ou sem
essa intenção previu a possibilidade da ocorrência do resultado. Nesse
caso, haverá para o agente punição a título de dolo se vier a cometer
a infração penal. A embriaguez poderá ser culposa – ocorre quando o
agente ingere quantidade de álcool suficiente que o deixa embriagado
64
por ter inobservado um dever de cuidado. Vindo o agente a causar um
resultado lesivo, será responsabilizado a título de culpa.
OBS: Embriaguez preordenada: art. 61, II do CP – circunstân-
cia agravante – quando o agente se embriaga com o fim de cometer
uma infração penal.
A emoção e a paixão - O art. 28, I prevê que a emoção e a pai-
xão não excluem a culpabilidade
Emoção é uma intensa perturbação afetiva, de breve duração.
Já a paixão é mais duradoura, caracteriza-se por uma afetividade per-
manente. O Código Penal com isso quis punir os crimes passionais (ou
seja, aqueles motivados por violenta paixão ou emoção).
No entanto, conjugados com outros elementos, podem apare-
cer como uma circunstância atenuante da pena (art. 65, III, c) ou como
causa de diminuição de pena (como é o caso do homicídio privilegiado).
Coação moral irresistível e obediência hierárquica – art. 22 do
CP.
Inicialmente, devemos lembrar que a coação prevista no art. 22
é a moral pois a física, como vimos anteriormente, afasta a própria con-
duta do agente, pois não há vontade. Exemplo de coação moral: aquele
que é obrigado a praticar um injusto porque alguém disse que iria matar
sua mãe caso não fizesse. O coagido atua como um mero instrumento
do coator, sendo o coator chamado de autor mediato (pois vale-se de
interposta pessoa para cometer uma infração penal).
SÍNTESE
são causas que dirimem a reprova-
ção social no tocante àquele que
pratica um fato típico e antijurídico,
impedindo, pois, a consideração de
Excludentes de culpabilidade que houve crime, merecendo o autor
punição. Não há juízo de censura
em relação ao agente que atua pro-
tegido por excludente de culpabili-
dade.
66
é a impossibilidade do agente do
fato típico e antijurídico de com-
preensão do caráter ilícito do fato ou
Inimputabilidade
de se comportar de acordo com esse
entendimento, uma vez que não há
sanidade mental ou maturidade.
é o conjunto de alterações psíquicas
qualitativas, que retiram do indivíduo
Doença mental ou desenvolvimen-
a inteligência ou a vontade, impos-
to mental incompleto ou retardado
sibilitando-o de atuar conforme as
regras do Direito.
é considerada doença mental, nos
Embriaguez decorrente de vício
termos supraexpostos.
cuida-se de imaturidade do agente,
presumida pela lei, aplicável aos
menores de 18 anos, retirando-lhe a
Menoridade
capacidade de compreensão do ilí-
cito ou de comportamento de acordo
com esse entendimento.
cuida-se da hipótese do agente que
atua sem consciência potencial da
Erro de proibição escusável: ilicitude, razão pela qual não deve
sofrer juízo de censura, caso prati-
que um fato típico e antijurídico.
trata-se de excludente de ilicitude
67
é a intoxicação do organismo em
função do álcool, sem que o agente
perceba a hipótese de se embriagar
ou quando não tenha como reagir
Embriaguez completa decorrente à ingestão da droga, retirando-lhe a
de caso fortuito ou força maior capacidade de entendimento do ca-
ráter ilícito do fato ou da determina-
ção de acordo com tal compreensão.
Não haverá juízo de reprovação so-
cial, afastando-se a culpabilidade.
significa que o agente, dentro da ra-
zoabilidade, não pôde agir de modo
Inexigibilidade de conduta diversa diverso, seguindo as regras impos-
tas pelo Direito, motivo pelo qual não
pode sofrer juízo de censura.
é uma situação particular de ine-
xigibilidade de conduta diversa,
quando o agente opta salvar bem
Estado de necessidade exculpan-
de menor valor, deixando perecer
te
outro, de maior valor, porque não lhe
era razoável exigir que tivesse outra
atitude.
decorrente de medo, perturbação
de ânimo ou surpresa no ataque, o
agente termina exagerando na rea-
Excesso exculpante
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
68
QUESTÕES DE CONCURSOS
Questão 1
Ano: 2019 Banca:VUNESP Órgão: TJ-AC Prova: Juiz de Direito
Substituto
Assinale a alternativa correta quanto à aplicação da lei penal.
a) Para efeito de análise sobre o local do crime, a legislação brasileira
adota a teoria da ubiquidade.
b) É incabível a aplicação retroativa da Lei n° 11.343/2006, ainda que
o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais
favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n° 6.368/76, per-
mitida, no entanto, a combinação das mencionadas leis para beneficiar
o agente.
c) O Código Penal Brasileiro não adotou o princípio da representação
na eficácia espacial da lei penal.
d) A lei penal mais grave não se aplica ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade
ou da permanência.
QUESTÃO 2
Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: TJ-PR Prova: Juiz Substituto
Nas disposições penais da Lei Geral da Copa, foi estabelecido que
QUESTÃO 3
Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: DPE-RO Prova: Defensor Públi-
co Substituto
Doutrinadores nacionais admitem que a reforma de 1984 da Parte
Geral do Código Penal, especialmente no que concerne ao “con-
ceito de crime”, aderiu ao “finalismo”. Quem é considerado o cria-
dor de tal sistema jurídico-penal?
A) Hans Welzel.
B) Claus Roxim.
C) Von Liszt.
69
D) Günther Jakobs.
E) Cesare Beccaria.
QUESTÃO 4
Ano: 2017 Banca: FCC Órgão: DPE-SC Prova: Defensor Público
Substituto
Sobre o iter criminis, é correto afirmar:
A) A aferição do início do ato de execução do crime independe do
elemento subjetivo do tipo.
B) O Código Penal brasileiro adota a teoria subjetiva pura na aferi-
ção do início do ato de execução.
C) A Lei Antiterrorismo (Lei n° 13.260/2016) prevê a punição de atos
preparatórios de terrorismo quando realizado com o propósito ine-
quívoco de consumar o delito.
D) A punição da tentativa de crime culposo depende de expressa
previsão legal.
E) Em verdadeira regressão garantista, o Superior Tribunal de Jus-
tiça firmou entendimento de que a posse mansa e pacífica é neces-
sária à consumação do roubo.
QUESTÃO 5
Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: MPE-PI Prova: Promotor de Jus-
tiça Substituto
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
No dia 05 de abril de 2019, por volta das 18h, na Av. República Argenti-
na, n. 000, Bairro Centro, na cidade de Blumenau, Bonavides, locatário
do apartamento de Pedro, deixou o imóvel e levou consigo algumas to-
madas de luz, dois lustres e duas grades de ferro, bens de que detinha
a posse e detenção em razão de contrato de locação. Pedro dirigiu-se
ao imóvel tão logo tomou ciência de que Bonavides havia o abandona-
do sem efetuar o pagamento do último aluguel, bem como constatou
70
a apropriação dos objetos acima descritos, que guarneciam parte do
imóvel conforme descriminado no contrato de locação.
Dos fatos narrados, Bonavides, restou denunciado pelo delito de apro-
priação indébita, previsto no art.168, do Código Penal, tendo a sentença
rejeitado a denúncia sob o fundamento de que sua conduta configurava
mero ilícito civil, não havendo falar em responsabilização penal.
Foi correta a decisão do magistrado? Justifique
TREINO INÉDITO
NA MÍDIA
Jovem estrábica atira em rival, mas mata cliente por engano em bar de
Irmão da suspeita também foi preso por envolvimento no crime. Ele con-
fessou homicídio e disse que mulher não tem ligação com assassinato.
“Ela tem estrabismo e baixa visão. Então ela tentou matar uma mu-
lher no bar por questões de ciúme, mas acertou um cliente que não
tinha qualquer ligação com a história devido a esse problema”, explicou
Dannilo Proto.
Leonice nega o crime. Ela informou à polícia que não atirou contra a
vítima e que o autor dos disparos foi o irmão. Ela foi presa no dia 28 de
março. Já o irmão foi preso no último dia 12. Ele confessou o crime e
disse que a jovem não tem qualquer participação no assassinato.
Porém, para a polícia, Leonice foi quem atirou contra José Paixão por
acidente. “Pela dinâmica, pelas testemunhas que estavam no local e
pela posição que nos relataram que a vítima e a suspeita estava, tudo
leva a crer que foi ela mesma quem atirou contra a vítima”, concluiu
proto.
Fonte: Globo.com
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
Saiba mais
72
NA PRÁTICA
CONCURSO DE CRIMES
Conceito: dá-se quando uma só pessoa praticar uma pluralida-
de de delitos (mas nada impede que mais de uma pessoa, em concurso
de pessoas, pratique mais de um delito – concurso de crimes).
Espécies:
- concurso material (art. 69)
- concurso formal (art.70)
- crime continuado (art. 71)
74
E enumera como consequência a aplicação cumulativa das pe-
nas privativas de liberdade.
Não se pode confundir com a unificação das penas. Nesse
caso, as infrações penais teriam sido cometidas em épocas diferentes,
investigadas por meio de processos diferentes, conforme dispõe o art.
66 III, a da Lei de Execução Penal. Unificação é a soma das penas para
que, no momento da execução não se possa ultrapassar o limite de
trinta anos previsto no art. 75 do Código Penal. Para se caracterizar o
concurso material, os crimes deverão ser cometidos dentro de um mes-
mo contexto ou quando houver casos de conexão (CPP – art. 76). No
entanto, essa é uma posição minoritária, em que a corrente majoritária
(que eu não concordo) diz que não há necessidade de conexão entre
as infrações.
E como inserir a regra do concurso material no cálculo da pena?
O juiz deverá encontrar primeiro a pena para cada uma das infrações
isoladamente. Posteriormente haverá a soma das mesmas.
Pela redação do art. 69 podemos concluir que há duas hipóte-
ses diferentes de concurso material, pois o dispositivo menciona “dois
ou mais crimes idênticos ou não” .
Diz-se o concurso material homogêneo quando o agente co-
mete dois ou mais crimes idênticos, podendo ser na sua forma simples
ou qualificada. Será considerado concurso material heterogêneo quan-
do o agente praticar dois ou mais crimes diversos.
77
Podemos falar em concurso de pessoas quando duas ou mais
pessoas concorrem para a prática de uma infração penal.
78
Conceito restritivo: teoria objetiva - autor seria somente aquele
que pratica a conduta descrita no núcleo do tipo penal. Quem não pra-
ticasse tal conduta seria considerado partícipe. Essa teoria encontrou
diversas dificuldades no que diz respeito à autoria mediata, pois não
seria razoável que aquele que se vale de uma interposta pessoa para
cometer o crime, por não praticar o verbo núcleo do tipo, responder
apenas como partícipe do crime.
Conceito extensivo: teoria subjetiva - tal conceito, ao contrário
do anterior, não distingue o autores de partícipes. Todos que de algu-
ma forma colaboram para a prática do fato são considerados autores.
Para saber se uma pessoa é considerada partícipe, busca-se o elemen-
to subjetivo do agente: a vontade de ser autor (ou seja, o agente quer
o fato como próprio) e a vontade de ser partícipe ( o agente quer o fato
como alheio).
Teoria do domínio do fato: considerada uma teoria objetivo sub-
jetiva. Aquele que realiza a conduta descrita no tipo penal tem o poder
de decidir se irá até o fim com o plano criminoso, ou, por ter o domínio
do fato, deixar de lado a empreitada criminosa. É aquele que poderá
definir o “se” e o “como” acontecerá a infração penal. Aqui, é importante
ressaltar que a divisão do trabalho deverá ser fundamental.
Coautoria
Quando pensamos em coautoria, nos vem em mente a questão
Erro determinado por terceiro – art. 20 §2º do CP – enfermeira que aplica in-
jeção em um paciente achando que era remédio porque o médico prescreveu
79
e na verdade era veneno
Coação moral irresistível (art. 22 primeira parte) – alguém ameaça matar sua
mãe se você não subtrair valores de uma agência bancária
Obediência hierárquica (art. 22 segunda parte) – um detetive prende alguém
por ordem do delegado
Instrumento impunível em virtude de condição ou qualidade pessoal (art. 62,
III, segunda parte) – quando o agente se vale de menores ou de inimputáveis.
80
Espécies de participação: pode ser moral ou material. A par-
ticipação é dita como moral nos casos de induzimento (determinação)
– quando o agente faz brotar na cabeça da pessoa a idéia criminosa e
instigação (quando há o incentivo para a prática da infração penal, o
agente reforça a idéia que já existia anteriormente). Mas a instigação
deverá ser decisiva no sentido de determinar a execução da infração
penal. A conduta dolosa do partícipe deve ser à prática de uma deter-
minada infração penal. Isso é importante porque, se o agente incitar à
prática de um crime à pessoas indeterminadas, não estará agindo como
partícipe e sim será autor do crime do art. 286 do CP.
81
Se A e B resolverem furtar uma pessoa, sendo A pelo espírito
de aventura e B por estar passando fome, é claro que a conduta de A
deverá ser punida de forma mais grave do que a de B, embora ambos
respondam pelo crime de furto.
82
Em se tratando da participação culposa em crime culposo, há
o tradicional exemplo de que o carona induz o motorista a ultrapassar
o limite permitido de velocidade, e o motorista vem a atropelar alguém.
Para Rogério Greco, nesse caso, é possível se falar em participação
culposa em crime culposo. César Roberto Bittencourt e Nilo Batista no
entanto, rechaçam veementemente a possibilidade de participação em
crime culposo, sendo ela culposa ou dolosa.
83
As circunstâncias incomunicáveis
APLICAÇÃO DA PENA
Trata-se de um tema de enorme relevância e bastante explora-
do pois pode aparecer nas peças processuais bem como em questões.
As peças que exigem domínio da técnica da aplicação da pena são me-
moriais (uma vez que deve-se saber, em caso de não absolvição do réu,
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
84
aparecer como circunstância judicial, agravante e causa de aumento,
por exemplo. Assim, deve-se lembrar do seguinte:
1. CULPABILIDADE
2. ANTECEDENTES
3. CONDUTA SOCIAL
4. PERSONALIDADE
5. MOTIVOS DO CRIME
6. CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
7. CONSEQUÊNCIAS DO CRIME
8. COMPORTAMENTO DA VÍTIMA
87
atenuante incide em todos os crimes: doloso, culposo ou preterdoloso.
88
Segundo o art. 61 do CP, as circunstâncias que sempre agra-
vam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime são conside-
radas agravantes:
• reincidência
• cometido o crime por motivo fútil ou torpe
• cometido o crime para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a
impunidade ou vantagem de outro crime
• cometido o crime à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou
outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido • co-
metido o crime com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro
meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum
• cometido o crime contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge
• cometido o crime com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a
mulher na forma da lei específica
• cometido o crime com abuso de poder ou violação de dever inerente a car-
go, ofício, ministério ou profissão
• cometido o crime contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou
mulher grávida
• cometido o crime quando o ofendido estava sob a imediata proteção da
autoridade • cometido o crime em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação
ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido
• cometido o crime em estado de embriaguez preordenada
89
As causas de aumento e diminuição presentes na parte geral
se aplicam a todos os crimes, inclusive aos tipificados em leis penais
extravagantes, enquanto que as previstas na parte especial se aplicam
tão somente aos delitos que integram, ou seja, ao tipo penal que se
referem.
Não se confundem com qualificadoras. As qualificadoras
alteram a própria pena em abstrato prevista ao delito, dando-lhe maior
importância, maior gravidade e relevo. A pena em abstrato do crime
qualificado é sempre maior do que a prevista ao delito simples, sendo
que o julgador deixa de aplicar a cominada ao caput para incidir a forma
qualificada.
91
“Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine
pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada
a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à
diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja com-
patível com o seu rendimento lícito.
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por
patrimônio do condenado todos os bens:
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o
benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos poste-
riormente; e
II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irri-
sória, a partir do início da atividade criminal.
§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou
a procedência lícita do patrimônio.
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo
Ministério Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação
da diferença apurada.
§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença
apurada e especificar os bens cuja perda for decretada.
§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações
criminosas e milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou
do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não
ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública,
nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos
crimes”.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
92
concurso com o adolescente R.O.S. e mediante grave ameaça exercida
com o emprego de arma de fogo, subtraiu de F.A., proprietário do “Bar
da Estrada”, a quantia de R$ 500,00, em dinheiro, e de L.J. e T.J., fre-
quentadores do estabelecimento, um relógio de pulso e um aparelho de
telefonia celular, respectivamente.
M.P., com qualificação nos autos, também foi processado por-
que, segundo a denúncia, levou F.Q. e o adolescente R.O.S. em seu
veículo, até as imediações do local dos fatos, onde permaneceu vigian-
do e também para lhes propiciar fuga, concorrendo, assim, para os cri-
mes.
A denúncia foi oferecida com base em inquérito policial iniciado
por auto de prisão em flagrante. A autoridade policial que presidiu o auto
de flagrante determinou a apreensão dos bens subtraídos e da arma de
fogo, que estava municiada, constatando-se, mediante perícia, que era
apta para a realização de disparos.
A denúncia foi recebida no dia 25 de abril de 2011 e F.Q. e M.P.,
citados pessoalmente para responderem à acusação, apresentaram as
respectivas defesas preliminares.
Afastada a possibilidade de absolvição sumária, o Magistrado
designou audiência de instrução e julgamento para o dia 5 de julho de
2011, às 14h00, na qual foram tomadas as declarações das vítimas F.A.,
L.J. e T.J., inquiridos os policiais militares G.M. e R.C. e o adolescente
R.O.S, arrolados pela acusação, as testemunhas L.B. e I.B., arroladas
RESOLUÇÃO
Vistos
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO ofe-
receu denúncia contra F.Q. e M.P., dando-os como incursos, por três
vezes, no art. 157, § 2.º, I e II, do CP e uma vez no art. 244-B, caput, da
Lei 8.069/90, pois, em tese, no dia 22 de março de 2011, por volta das
23h, na Rua das Samambaias, n.º 57, Vila Diamatina, na Cidade e Co-
marca de São Paulo, em concurso com o adolescente R.O.S, mediante
grave ameaça e emprego de arma de fogo, subtraíram R$ 500,00, um
relógio de pulso e um aparelho de telefonia celular das vítimas F.A., L.J.
e T.J. , respectivamente. E, assim agindo, corromperam o mencionado
adolescente, com ele praticando infração penal, tudo conforme denún-
cia de fls.
a) CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS:
art. 65, III, d, do CP. Mas é reincidente específico; nos termos do art. 67
do CP, esta deve preponderar, razão pela qual agravo a sua pena em
1/7, já considerada a atenuante da confissão.
Assim, fixo a sua pena provisória em 04 (quatro) anos, 06
(seis) meses e 25 (vinte e cinco) dias de reclusão para o crime de rou-
bo, e de 01 (um) ano, 01 (um) mês e 21 (vinte e um) dias de reclusão
e pagamento de 11 (onze) dias-multa para o crime do art. 244-B da Lei
8.069/1990.
Ainda, incide o aumento relativo ao uso de arma de fogo e tam-
bém a causa de aumento do concurso de agentes, de sorte que, nos
termos do art. 157, § 2.º, I e II, do CP, majoro a pena em 3/8, culminando
em 06 (seis) anos, 03 (três) meses e 11 (onze) dias de reclusão e paga-
mento de 15 (quinze) dias-multa (MASSON, Cleber. Direito Penal: parte
especial. 3. ed. São Paulo: Método, 2011. v. 2, p. 392).
Por serem três crimes patrimoniais idênticos, a pena daqueles
delitos será a mesma. De outro lado, houve concurso formal daquelas
infrações penais com o crime de corrupção de menores (art. 244-B da
Lei 8.069/1990). Como esta é menos grave, é sobre aquela sanção que
98
deve recair o aumento do concurso formal (art. 70 do CP).
Levando-se em consideração que foram quatro crimes (3 rou-
bos e 1 corrupção de menores), exaspero a pena do roubo em 1/3, tor-
nando definitiva a pena do réu em 8 (oito) anos, 4 (quatro) meses e 14
(catorze) dias de reclusão e pagamento de 20 (vinte) dias-multa.
Fixo o valor do dia-multa no mínimo legal, pois não há provas
de suficiência econômica do réu para arcar com multa em valor superior.
a) MEDIDAS ALTERNATIVAS:
a) REGIME INICIAL:
99
meses e 14 (catorze) dias de reclusão em regime fechado e pagamento de
20 (vinte) diasmulta, no valor de 1/30 do salário mínimo nacional vigente à
época do fato.
DISPOSIÇÕES GERAIS:
P.R.I.
100
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: TJ-PR Prova: Juiz Substituto
A respeito de autoria e participação no âmbito penal, é correto afir-
mar que
A) a autoria colateral é aquela em que há pluralidade de agentes e liame
subjetivo entre eles para a realização da conduta.
B) o crime de falso testemunho é classificado como crime próprio e nele
são admitidas tanto a coautoria quanto a autoria mediata.
C) a participação, que pode ser moral ou material, é admitida até a con-
sumação do crime.
D) a teoria da acessoriedade limitada entende que basta o fato principal
ser típico para que o partícipe seja punido.
QUESTÃO 2
Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: Câmara de Altinópolis - SP Pro-
va: Procurador Jurídico
Acerca da aplicação da pena, assinale a alternativa que representa
entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
A) Fixada a pena-base no mínimo legal, é permitido o estabelecimento
de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção
QUESTÃO 3
Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: TJ-BA Prova: Juiz de Direito
Substituto
À luz da jurisprudência do STJ a respeito das circunstâncias judi-
ciais e legais que devem ser consideradas quando da aplicação da
pena, assinale a opção correta.
A) A confissão qualificada, na qual o réu alega em seu favor causa des-
101
criminante ou exculpante, não afasta a incidência da atenuante de con-
fissão espontânea.
B) A confissão espontânea em delegacia de polícia pode servir como
circunstância atenuante, desde que o réu não se retrate sobre essa
declaração em juízo.
C) Uma condenação transitada em julgado de fato posterior ao narrado
na denúncia, embora não sirva para fins de reincidência, pode servir
para valorar negativamente a personalidade e a conduta social do agen-
te.
D) A reincidência penal pode ser utilizada simultaneamente como cir-
cunstância agravante e como circunstância judicial.
E) A múltipla reincidência não afasta a necessidade de integral com-
pensação entre a atenuante da confissão espontânea e a agravante
da reincidência, haja vista a igual preponderância entre as referidas cir-
cunstâncias legais.
QUESTÃO 4
Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: TJ-MT Prova: Juiz Substituto
Entende-se por “concurso material benéfico” a
A) limitação de tempo de cumprimento de pena em 30 anos.
B) aplicação da regra do concurso material para beneficiar o coautor ou
partícipe.
C) regra estabelecida em lei pela qual a pena aplicada pelo concurso
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
QUESTÃO 5
Ano: 2018 Banca: IBFC Órgão: TRF - 2ª REGIÃO Prova: Juiz Fede-
ral Substituto
Assinale a afirmação certa:
A) Para o Supremo Tribunal Federal, é possível a suspensão condicio-
nal do processo em crime continuado, sendo irrelevante o somatório da
pena mínima da infração mais grave com o aumento de um sexto a dois
terços, considerando-se a pena de cada crime para a suspensão.
B) Para o Superior Tribunal de Justiça, não cabe a suspensão condi-
cional do processo para as infrações penais cometidas em concurso
material ou em concurso formal, quando a pena mínima cominada ultra-
passar um ano em razão do somatório ou da fração incidente.
C) No denominado erro na execução, quando por acidente sobrevêm
resultado diverso do que era pretendido pelo agente, este responde por
102
culpa, se o fato é previsto como crime culposo. Mas se ocorre também
o resultado pretendido, este, por ser doloso, absorve o primeiro.
D) Quando o sujeito ativo, por acidente ou erro no uso dos meios de
execução, atinge pessoa diversa da que pretendia ofender, responde
como se tivesse praticado o crime contra esta, em virtude do erro sobre
a pessoa. Mas, se atingir também a pessoa que pretendia ofender, res-
ponderá pelos dois crimes em concurso material.
E) No concurso material de crimes; no concurso ideal próprio; no con-
curso formal imperfeito; e no crime continuado, a dogmática jurídico-pe-
nal adotou, indistintamente, a regra do cúmulo de penas, haja vista que,
em todos eles, prevalece o entendimento de que constituem delitos por
acumulação.
TREINO INÉDITO
NA MÍDIA
Fonte: Globo.com
Data: 02 fev 2019.
Leia a notícia na íntegra: https://g1.globo.com/sp/presidente-pruden-
te-regiao/noticia/2019/02/02/imagens-de-camera-de-seguranca-mos-
tram-assassinato-de-rapaz-em-frente-a-casa-de-shows-em-presidente-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
-prudente.ghtml
NA PRÁTICA
ÍNTEGRA DA SENTENÇA 12
VISTOS
1. ALEXANDRE ALVES NARDONI e ANNA CAROLINA TROTTA
PEIXOTO JATOBÁ , qualificados nos autos, foram denunciados pelo
Ministério Público porque no dia 29 de março de 2.008, por volta de
23:49 horas, na rua Santa Leocádia, nº 138, apartamento 62, vila Isolina
Mazei, nesta Capital, agindo em concurso e com identidade de propó-
sitos, teriam praticado crime de homicídio triplamente qualificado pelo
meio cruel (asfixia mecânica e sofrimento intenso), utilização de recur-
so que impossibilitou a defesa da ofendida (surpresa na esganadura e
lançamento inconsciente pela janela) e com o objetivo de ocultar crime
anteriormente cometido (esganadura e ferimentos praticados anterior-
12 https://oglobo.globo.com/brasil/caso-isabella-confira-na-integra-sentenca-que-condenou-casal-
-nardoni-3033479
104
mente contra a mesma vítima) contra a menina ISABELLA OLIVEIRA
NARDONI.
Aponta a denúncia também que os acusados, após a prática do crime
de homicídio referido acima, teriam incorrido também no delito de frau-
de processual, ao alterarem o local do crime com o objetivo de inovarem
artificiosamente o estado do lugar e dos objetos ali existentes, com a
finalidade de induzir a erro o juiz e os peritos e, com isso, produzir efeito
em processo penal que viria a ser iniciado.
2. Após o regular processamento do feito em Juízo, os réus acabaram
sendo pronunciados, nos termos da denúncia, remetendo-se a causa
assim a julgamento ao Tribunal do Júri, cuja decisão foi mantida em
grau de recurso.
3. Por esta razão, os réus foram então submetidos a julgamento perante
este Egrégio 2º Tribunal do Júri da Capital do Fórum Regional de San-
tana, após cinco dias de trabalhos, acabando este Conselho Popular,
de acordo com o termo de votação anexo, reconhecendo que os acu-
sados praticaram, em concurso, um crime de homicídio contra a vítima
Isabella Oliveira Nardoni, pessoa menor de 14 anos, triplamente qualifi-
cado pelo meio cruel, pela utilização de recurso que dificultou a defesa
da vítima e para garantir a ocultação de delito anterior, ficando assim
afastada a tese única sustentada pela Defesa dos réus em Plenário de
negativa de autoria..
Além disso, reconheceu ainda o Conselho de Sentença que os réus
FUNDAMENTAÇÃO.
truoso assédio a que a mesma foi obrigada a ser submetida como de-
corrência das condutas ilícitas praticadas pelos réus, o que é de co-
nhecimento de todos, exigindo um maior rigor p or parte do Estado-Juiz
quanto à reprovabilidade destas condutas.
A análise da culpabilidade, das personalidades dos réus e das circuns-
tâncias e conseqüências do crime, como foi aqui realizado, além de
possuir fundamento legal expresso no mencionado art. 59 do Código
Penal, visa também atender ao princípio da individualização da pena,
o qual constitui vetor de atuação dentro da legislação penal brasileira,
na lição sempre lúcida do professor e magistrado Guilherme de Souza
Nucci:
“ Quanto mais se cercear a atividade individualizadora do juiz na
aplicação da pena, afastando a possibilidade de que analise a per-
sonalidade, a conduta social, os antecedentes, os motivos, enfim,
os critérios que são subjetivos, em cada caso concreto, mais cres-
ce a chance de padronização da pena, o que contraria, por natu-
reza, o princípio constitucional da individualização da pena, aliás,
cláusula pétrea” (“Individualização da Pena”, Ed. RT, 2ª edição, 2007,
pág. 195).
106
Assim sendo, frente a todas essas considerações, majoro a pena-base
para cada um dos réus em relação ao crime de homicídio praticado por
eles, qualificado pelo fato de ter sido cometido para garantir a ocultação de
delito anterior (inciso V, do parágrafo segundo do art. 121 do Código Penal)
no montante de 1/3 (um terço), o que resulta em 16 (dezesseis) anos de
reclusão, para cada um deles.
Como se trata de homicídio triplamente qualificado, as outras duas qualifi-
cadoras de utilização de meio cruel e de recurso que dificultou a defesa da
vítima (incisos III e IV, do parágrafo segundo do art. 121 do Código Penal),
são aqui utilizadas como circunstâncias agravantes de pena, uma vez que
possuem previsão específica no art. 61, inciso II, alíneas “c” e “d” do Códi-
go Penal.
Assim, levando-se em consideração a presença destas outras duas quali-
ficadoras, aqui admitidas como circunstâncias agravantes de pena, majoro
as reprimendas fixadas durante a primeira fase em mais ¼ (um quarto), o
que resulta em 20 (vinte) anos de reclusão para cada um dos réus.
Justifica-se a aplicação do aumento no montante aqui estabelecido de ¼
(um quarto), um pouco acima do patamar mínimo, posto que tanto a quali-
ficadora do meio cruel foi caracterizada na hipótese através de duas ações
autônomas (asfixia e sofrimento intenso), como também em relação à qua-
lificadora da utilização de recurso que impossibilitou a defesa da vítima
(surpresa na esganadura e lançamento inconsciente na defenestração).
Pelo fato do co-réu Alexandre ostentar a qualidade jurídica de genitor da
107
Quanto ao crime de fraude processual para o qual os réus também te-
riam concorrido, verifica-se que a reprimenda nesta primeira fase da fi-
xação deve ser estabelecida um pouco acima do mínimo legal, já que as
condições judiciais do art. 59 do Código Penal não lhe são favoráveis,
como já discriminado acima, motivo pelo qual majoro em 1/3 (um terço)
a pena-base prevista para este delito, o que resulta em 04 (quatro) me-
ses de detenção e 12 (doze) dias-multa, sendo que o valor unitário de
cada dia-multa deverá corresponder a 1/5 (um quinto) do valor do salá-
rio mínimo, uma vez que os réus demonstraram, durante o transcurso
da presente ação penal, possuírem um padrão de vida compatível com
o patamar aqui fixado.
Inexistem circunstâncias agravantes ou atenuantes de pena a serem
consideradas.
Presente, contudo, a causa de aumento de pena prevista no parágrafo
único do art. 347 do Código Penal, pelo fato da fraude processual ter
sido praticada pelos réus com o intuito de produzir efeito em processo
penal ainda não iniciado, as penas estabelecidas acima devem ser apli-
cadas em dobro, o que resulta numa pena final para cada um deles em
relação a este delito de 08 (oito) meses de detenção e 24 (vinte e qua-
tro) dias-multa, mantido o valor unitário de cada dia-multa estabelecido
acima.
5. Tendo em vista que a quantidade total das penas de reclusão ora
aplicadas aos réus pela prática do crime de homicídio triplamente quali-
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
ficado ser superior a 04 anos, verifica-se que os mesmos não fazem jus
ao benefício da substituição destas penas privativas de liberdade por
restritivas de direitos, a teor do disposto no art. 44, inciso I do Código
Penal.
Tal benefício também não se aplica em relação às penas impostas aos
réus pela prática do delito de fraude processual qualificada, uma vez
que as além das condições judiciais do art. 59 do Código Penal não são
favoráveis aos réus, há previsão específica no art. 69, parágrafo primei-
ro deste mesmo diploma legal obstando tal benefício de substituição na
hipótese.
6. Ausentes também as condições de ordem objetivas e subjetivas pre-
vistas no art. 77 do Código Penal, já que além das penas de reclusão
aplicadas aos réus em relação ao crime de homicídio terem sido fixa-
das em quantidades superiores a 02 anos, as condições judiciais do
art. 59 não são favoráveis a nenhum deles, como já especificado acima,
o que demonstra que não faz jus também ao benefício da suspensão
condicional do cumprimento de nenhuma destas penas privativas de
liberdade que ora lhe foram aplicadas em relação a qualquer dos crimes.
7. Tendo em vista o disposto no art. 33, parágrafo segundo, alínea “a”
108
do Código Penal e também por ter o crime de homicídio qualificado a
natureza de crimes hediondos, a teor do disposto no artigo 2o, da Lei
nº 8.072/90, com a nova redação que lhe foi dada pela Lei n. 11.464/07,
os acusados deverão iniciar o cumprimento de suas penas privativas de
liberdade em regime prisional FECHADO .
Quanto ao delito de fraude processual qualificada, pelo fato das con-
dições judiciais do art. 59 do Código Penal não serem favoráveis a
qualquer dos réus, deverão os mesmos iniciar o cumprimento de suas
penas privativas de liberdade em relação a este delito em regime
prisional SEMI-ABERTO , em consonância com o disposto no art. 33,
parágrafo segundo, alínea “c” e seu parágrafo terceiro, daquele mesmo
Diploma Legal.
8. Face à gravidade do crime de homicídio triplamente qualificado pra-
ticado pelos réus e à quantidade das penas privativas de liberdade
que ora lhes foram aplicadas, ficam mantidas suas prisões preventi-
vas para garantia da ordem pública, posto que subsistem os motivos
determinantes de suas custódias cautelares, tal como previsto nos
arts. 311 e 312 do Código de Processo Penal, devendo aguardar deti-
dos o trânsito em julgado da presente decisão.
Como este Juízo já havia consignado anteriormente, quando da prola-
ção da sentença de pronúncia - respeitados outros entendimentos em
sentido diverso - a manutenção da prisão processual dos acusados,
na visão deste julgador, mostra-se realmente necessária para garantia
Saiba mais
Filme sobre o assunto: Justiça (2004)
Acesse o link: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/brasil/sistema-
-carcerario-brasileiro.htm
Observação: Sobre a temática, é importante que o aluno note a rele-
vância do assunto dentro do seu campo de atuação.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
114
CAUSAS DE EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE
116
diretamente o próprio Direito de Punir do Estado.
Aplica-se, então, a regra de contagem prevista no art. 10 do
Código Penal de forma que o dia do começo se inclui no cômputo do
prazo; contam-se os anos pelo calendário comum (calendário gregoria-
no). Isto significa que o Direito Penal não possui um calendário próprio.
O ano, em matéria penal, tem exatamente os mesmos dias que
existem no calendário comum, sejam 365 ou 366.
De forma a facilitar a contagem, deve-se agir da seguinte ma-
neira: pega-se o dia do começo do prazo, vai-se ao mesmo dia, do
mesmo mês, acrescentando-se tantos anos quantos forem os definidos
pelo art. 109 do CP, e volta-se um dia. Ex: Um prazo de três anos,
cuja contagem tenha começado em 25/12/2013, terá seu último dia em
24/12/2016.
118
condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o
condenado está preso por outro motivo. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
Nas causas suspensivas ou impeditivas, o tempo decorrido an-
tes da causa é computado no prazo. A enumeração legal é taxativa,
salvo o caso de normas posteriores criarem novas hipóteses de suspen-
são. Logo, não constituem causas suspensivas da prescrição o inciden-
te de insanidade mental do acusado, por exemplo.
As seguintes causas são hipóteses de suspensão do prazo
prescricional que não se encontram no rol do art. 116 do CP.
119
3) entre a data da pronúncia e a sua confirmação;
4) entre a pronúncia ou sua confirmação e a publicação da sentença conde-
natória;
5) Entre a publicação da sentença condenatória e o acórdão que modifique
substancialmente a sentença condenatória
6) a partir da publicação da sentença condenatória ou acórdão condenatório
até o início da execução da pena (ou da continuação da execução da pena)
7) quando da reincidência.
120
AS CIRCUNSTÂNCIAS GENÉRICAS, AS CIRCUNSTÂNCIAS AGRA-
VANTES E ATENUANTES E AS CAUSAS DE AUMENTO OU DE DI-
MINUIÇÃO DE PENA
As circunstâncias genéricas do art. 59 do CP (culpabilidade,
antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivos, cir-
cunstâncias do crime, consequências do crime, comportamento da víti-
ma, as circunstâncias agravantes (art. 61 e 62 do CP) e atenuantes (art.
65 e 66 do CP), não são consideradas para o cálculo da prescrição,
uma vez que elas não possuem um valor pré-fixado em Lei.
Entretanto, as causas de aumento ou de diminuição da pena
devem ser consideradas no cálculo, exceto quando ser tratar de con-
curso de crimes, caso em que se deve considerar cada crime isolada-
mente.
121
ções penais, devem sujeitar-se a regime de prescrição, pois o contrário
violaria o princípio constitucional da prescritibilidade13.
De acordo com o artigo 96, parágrafo único, do Código Penal,
“extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança, nem sub-
siste a que tenha sido imposta”. Assim, aplicada medida de segurança
nos casos do semi-imputável (art. 26 parágrafo único), a prescrição da
pretensão punitiva ou a prescrição superveniente podem ser reconheci-
das, tomando-se como base a sentença concretamente aplicada e que
foi substituída.
Caso a medida de segurança seja concedida ao inimputável,
seria injusto não haver o reconhecimento da prescrição, pelo simples
fato de não haver aplicação de pena, pois não seria lógico que pudesse
haver o reconhecimento da prescrição, em caso de prática de crime e
que não pudesse ocorrer prescrição quando se reconhecesse que não
houve crime por ser o agente inimputável. E nesse sentido, tanto o STF
quanto o STJ já se manifestaram. Isso porque, medida de segurança é
espécie do gênero sanção penal
Por fim, a prescrição deverá ser calculada com base no máxi-
mo da pena abstratamente cominada para o crime.
13 Estefam, André ; Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal esquematizado® – parte
geral / André Estefam; Victor Eduardo Rios Gonçalves. – Coleção esquematizado ® / coordenador
Pedro Lenza - 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020.
122
PRESCRIÇÃO ANTECIPADA, PRESCRIÇÃO PELA PENA HIPOTÉ-
TICA, PRESCRIÇÃO VIRTUAL, PRESCRIÇÃO PELA PENA IDEAL.
Surgiu através de uma corrente no Tribunal de Alçada Criminal
de São Paulo que começou a vislumbrar a possibilidade de reconheci-
mento da prescrição, mesmo antes da sentença condenatória.
Muitas vezes, porém, em certos casos, antes da sentença, ou
até mesmo antes do recebimento da denúncia, transparece lúcida e
imutável a certeza de que o réu não será punido com a pena máxima
cominada ao crime, por ser primário, de bons antecedentes e ter a seu
favor todas as circunstâncias judiciais do artigo 59 do C.P.
Assim, sendo possível evidenciar antecipadamente, a apli-
cação da pena mínima ao final processo, ou ainda se já se constata,
previamente, que mesmo que a sentença aplicada seja superior ao
mínimo, não atingirá a máxima, não faz sentido iniciar uma ação penal
ou mesmo continuar com a relação jurídica para no final reconhecer-se
a prescrição retroativa.
123
PENA MÁXIMA COMINADA PRESCREVE EM
Acima de 12 anos 20 anos
8 anos e 1 dia até 12 anos 16 anos
4 anos e 1 dia até 8 anos 12 anos
2 anos e 1 dia até 4 anos 8 anos
1 ano até 2 anos 4 anos
Menor que 1 ano 3 anos (alterado pela lei 12.234/2010)
125
retroativa. A Lei 12.234/2010 eliminou o § 2.º do art. 110 do CP, que
previa o cômputo da prescrição retroativa entre a data do fato e a do
recebimento da peça acusatória. Aliás, deixou bem clara essa opção
diante da nova redação dada ao caput do art. 110. Restringiu-se
o alcance da prescrição da pena concreta, mas não se elimi-
nou o benefício. Os crimes em geral, salvo racismo e ação de grupos
armados contra o Estado Democrático (previstos como imprescritíveis
pela CF), continuam prescritíveis. Por isso, não vislumbramos inconsti-
tucionalidade na reforma penal elaborada nesse artigo14.
126
Vale lembrar ainda que não se pode confundir o dia em que
se revoga a suspensão da pena com o termo inicial no caso em que o
sursis é tornado sem efeito,. Neste último caso, portanto, se o juiz tornar
sem efeito o sursis, o prazo começará a contar da data do trânsito em
julgado para a acusação.
Os prazos fixados para as penas restritivas de direitos e para
a pena de multa obedecem às mesmas regras já estudadas. O prazo
prescricional da pena de multa não sofre alteração (artigo 114 do CP);
No caso de concessão de livramento condicional, a prescri-
ção é regulada pelo tempo que resta da pena (artigo 113 do CP);
c) Do dia em que se interrompe a execução (hipótese de fuga
do condenado), salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se
na pena, ou seja, nas hipóteses dos artigos 41 e 42 do C.P. (superve-
niência de doença mental ou internação do condenado em hospital).
Na eventualidade de fuga do condenado, a prescrição executó-
ria é interrompida (artigo 117, segunda parte) e o prazo começa a correr
no dia da fuga (interrupção da execução), sendo que, nesse caso, o
prazo prescricional também é regulado pelo tempo que resta da pena
(artigo 113 do CP). Portanto, é importante que o artigo 113 (prescrição
no caso de evasão do condenado ou de revogação do livramento con-
dicional) seja examinado em conjunto com o artigo 112, I e II, ambos do
CP.
No curso da execução da pena, se o condenado for internado
127
Anterior Atual (Lei 13.964/19)
Art. 83. O juiz poderá conceder livra- Art. 83. III - comprovado: a) bom
mento condicional ao condenado a comportamento durante a execução
pena privativa de liberdade igual ou da pena; b) não cometimento de falta
superior a 2 (dois) anos, desde que: grave nos últimos 12 (doze) meses;
III - comprovado comportamento c) bom desempenho no trabalho que
satisfatório durante a execução da lhe foi atribuído; e d) aptidão para
pena, bom desempenho no trabalho prover a própria subsistência median-
que lhe foi atribuído e aptidão para te trabalho honesto.
prover à própria subsistência median-
te trabalho honesto;
A REINCIDÊNCIA
129
começa a correr o prazo regulado pela pena concretamente aplicada
(artigo 110, § 1º do CP).
A razão está no fato de que, ou porque somente o réu apelou,
ou, não tendo apelado, poderia fazê-lo, ou porque a decisão transitou
em julgado para a acusação, ou foi improvida a sua apelação, a conde-
nação, quanto à quantidade de pena não pode ser alterada em prejuízo
para a defesa.
A prescrição superveniente, assim como a prescrição da pre-
tensão punitiva retroativa, de acordo com o entendimento jurispruden-
cial dominante - não podem ser declaradas pelo juiz de primeiro grau
após a prolação de sua sentença, uma vez que ele já encerrou a sua
função jurisdicional.
FORMA DE CONTAGEM DO PRAZO
Uma vez transitada em julgado para a acusação, ou improvido
o seu recurso, verifica-se o quantum da pena imposta na sentença con-
denatória. Em seguida, adequa-se tal prazo num dos incisos do artigo
109 do C.P.
Encontrado o respectivo prazo prescricional, procura-se en-
caixá-lo entre os períodos prescricionais. Lembre-se que no caso de
se utilizar a pena aplicada na sentença, em se tratando de prescrição
retroativa, não será possível considerar a data entre a consumação do
delito e o recebimento da denúncia ou queixa.
Não há interrupção do prazo prescricional a interposição de
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
130
SENTENÇA CONDENATÓRIA ANULADA.
Quando a sentença for anulada em razão de recurso exclusivo
da Defesa, isto é, sem recurso do MP, a nova sentença proferida em
razão da anulação da sentença anterior, não poderá impor pena mais
grave do que a anterior, em razão do princípio da proibição da reforma-
tio in pejus. Vale lembrar que tendo sido anulada a sentença, ela não
tem a capacidade de interromper o curso do prazo prescricional.
131
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: Exame de Ordem Unifi-
cado - XV
Francisco foi condenado por homicídio simples, previsto no Art.
121 do Código
Penal, devendo cumprir pena de seis anos de reclusão. A sentença
penal condenatória transitou em julgado no dia 10 de agosto de
1984. Dias depois, Francisco foge para o interior do Estado, onde
residia, ficando isolado num sítio. Após a fuga, as autoridades
públicas nunca conseguiram capturá-lo. Francisco procura você
como advogado (a) em 10 de janeiro de 2014. Com relação ao caso
narrado, assinale a afirmativa correta:
a) Ainda não ocorreu prescrição do crime, tendo em vista que ainda não
foi ultrapassadoo prazo de trinta anos requerido pelo Código Penal.
b) houve prescrição da pretensão executória
c) não houve prescrição, pois o crime de homicídio simples é impres-
critível.
d) houve prescrição da pretensão punitiva pela pena em abstrato, pois
Francisco nunca foi capturado
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
QUESTÃO 2
Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: Exame de Ordem Unifi-
cado - XXIII - Primeira Fase
Silva foi vítima de um crime de ameaça por meio de uma ligação
telefônica realizada em 02 de janeiro de 2016. Buscando identificar
o autor, já que nenhum membro de sua família tinha tal informação,
requereu, de imediato, junto à companhia telefônica, o número de
origem da ligação, vindo a descobrir, no dia 03 de julho de 2016,
que a linha utilizada era de propriedade do ex-namorado de sua
filha, Carlos, razão pela qual foi até a residência deste, onde houve
a confissão da prática do crime. Quando ia ao Ministério Público,
na companhia de Marta, sua esposa, para oferecer representação,
Silva sofreu um infarto e veio a falecer. Marta, no dia seguinte, afir-
mou oralmente, perante o Promotor de Justiça, que tinha interesse
em representar em face do autor do fato, assim como seu falecido
marido. Diante do apelo de sua filha, Marta retorna ao Ministério
Público no dia 06 de julho de 2016 e diz que não mais tem interesse
na representação. Ainda assim, considerando que a ação penal é
pública condicionada, o Promotor de Justiça ofereceu denúncia,
132
no dia 07 de julho de 2016, em face de Carlos, pela prática do crime
de ameaça.
Considerando a situação narrada, o (a) advogado (a) de Carlos, em
resposta à acusação, deverá alegar que:
a) ocorreu decadência, pois se passaram mais de 6 meses desde a data
dos fatos.
b) a representação não foi válida, pois não foi realizada pelo ofendido.
c) ocorreu retratação válida do direito de representação.
d) a representação não foi válida, pois foi realizada oralmente.
QUESTÃO 3
Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: Exame de Ordem Unifi-
cado - XXIV - Primeira Fase
No dia 28 de agosto de 2011, após uma discussão no trabalho
quando todos comemoravam os 20 anos de João, este desfere
uma facada no braço de Paulo, que fica revoltado e liga para a
Polícia, sendo João preso em flagrante pela prática do injusto de
homicídio tentado, obtendo liberdade provisória logo em seguida.
O laudo de exame de delito constatou a existência de lesão leve. A
denúncia foi oferecida em 23 de agosto de 2013 e recebida pelo juiz
em 28 de agosto de 2013. Finda a primeira fase do procedimento
do Tribunal do Júri, ocasião em que a vítima compareceu, confir-
mou os fatos, inclusive dizendo acreditar que a intenção do agente
QUESTÃO 4
Ano: 2016 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: Exame de Ordem Unifi-
cado - XX - Primeira Fase (Reaplicação Salvador/BA)
No dia 29/04/2011, Júlia, jovem de apenas 20 anos de idade, prati-
cou um crime de lesão corporal leve (pena: de 03 meses a 01 ano)
em face de sua rival na disputa pelo amor de Thiago. A represen-
tação foi devidamente ofertada pela vítima dentro do prazo de 06
meses, contudo a denúncia somente foi oferecida em 25/04/2014.
Em 29/04/2014 foi recebida a denúncia em face de Júlia, pois não
houve composição civil, transação penal ou suspensão condicio-
nal do processo. Nesta hipótese:
a) poderá ser requerido pelo advogado de Júlia o reconhecimento da
prescrição pela pena ideal, pois entre a data dos fatos e o recebimento
da denúncia foram ultrapassados mais de 03 anos.
b) deverá, caso aplicada ao final do processo a pena mínima prevista
em lei, ser reconhecida a prescrição da pretensão punitiva retroativa,
pois entre a data dos fatos e o recebimento da denúncia foram ultrapas-
sados mais de 03 anos.
c) não foram ultrapassados 03 anos entre a data dos fatos e do recebi-
mento da denúncia, pois o prazo prescricional tem natureza essencial-
mente processual e não material.
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS
QUESTÃO 5
Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2017 - OAB - Exa-
me de Ordem Unificado - XXII - Primeira Fase
No dia 15 de abril de 2011, João, nascido em 18 de maio de 1991, foi
preso em flagrante pela prática do crime de furto simples, sendo,
em seguida, concedida liberdade provisória. A denúncia somente
foi oferecida e recebida em 18 de abril de 2014, ocasião em que o
juiz designou o dia 18 de junho de 2014 para a realização da au-
diência especial de suspensão condicional do processo oferecida
pelo Ministério Público. A proposta foi aceita pelo acusado e pela
defesa técnica, iniciando-se o período de prova naquele mesmo
dia. Três meses depois, não tendo o acusado cumprido as condi-
ções estabelecidas, a suspensão foi revogada, o que ocorreu em
decisão datada de 03 de outubro de 2014.
Ao final da fase instrutória, a pretensão punitiva foi acolhida, sen-
do aplicada ao acusado a pena de 01 ano de reclusão em regime
134
aberto, substituída por restritiva de direitos. A sentença condena-
tória foi publicada em 19 de maio de 2016, tendo transitado em
julgado para a acusação.
Intimado da decisão respectiva, João procura você, na condição
de advogado (a), para saber sobre eventual prescrição, pois tomou
conhecimento de que a pena de 01 ano, em tese, prescreve em 04
anos, mas que, no caso concreto, por força da menoridade relativa,
deve o prazo ser reduzido de metade.
Diante desse quadro, você, como advogado (a), deverá esclarecer
que:
a) ocorreu a prescrição da pretensão punitiva entre a data do fato e a do
recebimento da denúncia.
b) ocorreu a prescrição da pretensão punitiva entre a data do recebi-
mento da denúncia e a da publicação da sentença condenatória.
c) ocorreu a prescrição da pretensão executória entre a data do recebi-
mento da denúncia e a da publicação da sentença condenatória.
d) não há que se falar em prescrição, no caso apresentado.
NA MÍDIA
João de Deus: por que a lei pode dificultar processar casos ocorridos há
mais de seis meses
Código Penal brasileiro determinava que as vítimas de crimes sexuais
deveriam se manifestar no prazo máximo de seis meses. A regra deixou
de existir em setembro, mas ainda é válida para crimes que ocorreram
antes disso.
135
Fonte: Globo.com
Data: 18 dez 2018.
Leia a notícia na íntegra:
https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2018/12/18/joao-de-deus-por-
-que-a-lei-pode-dificultar-processar-casos-ocorridos-ha-mais-de-seis-
-meses.ghtml
Saiba mais
136
GABARITOS
CAPÍTULO 01
QUESTÕES DE CONCURSOS
01 02 03 04 05
A B A C A
137
CAPÍTULO 02
QUESTÕES DE CONCURSOS
01 02 03 04 05
C D A C B
138
vantes nem atenuantes.
Após analisar as circunstâncias judiciais, o juiz deverá levar em consi-
deração as circunstâncias atenuantes (65 e 66 do CP) e agravantes (61
e 62). Essas somente poderão ser valoradas se não aparecerem como
elementares, qualificadoras, causas de aumento e/ou diminuição.
Por fim, analisa-se as causas de aumento e diminuição de pena. Essas
causas possuem um quantum especificado e a sua valoração levará em
consideração as condições do caso concreto e não a sua gravidade em
abstrato. Vale lembrar que o Código Penal autoriza que no concurso de
causas de aumento ou diminuição apenas da parte especial, o juiz pode
limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, to-
davia, a causa que mais aumente ou diminua. Essa faculdade não é
permitida quando houver concurso de causas de aumento e diminuição
da parte geral
TREINO INÉDITO
Gabarito: A
139
CAPÍTULO 03
QUESTÕES DE CONCURSOS
01 02 03 04 05
B C B D D
ção retroativa.
A Súmula 438 do STJ rechaçou a possibilidade de reconhecimento da
prescrição pela pena ideal. É inadmissível a extinção da punibilidade
pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipoté-
tica, independentemente da existência ou sorte do processo penal
TREINO INÉDITO
Gabarito: B
140
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. V.2. 11. ed.
São Paulo: Saraiva, 2011.
CAPEZ, Fernando Capez. Curso de Direito Penal. v.4. 5.ed. São Pau-
lo: Saraiva, 2010.
______ Curso de Direito Penal. Parte Especial, v.2.10. ed. São Paulo:
Saraiva.
QUEIROZ, Paulo. Direito penal. Parte geral. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2006. p. 45. Na dicção do STF: “Os direitos fundamentais não podem
ser considerados apenas proibições de intervenção (Eingrif sverbote),
expressando também um postulado de proteção (Schutzgebote). Po-
de-se dizer que os direitos fundamentais expressam não apenas uma
proibição do excesso (Übermassverbote), como também podem ser
traduzidos como proibições de proteção insuficiente ou imperativos de
tutela (Untermassverbote)” (HC 102.087/MG, rel. Min. Celso de Mello,
rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes, 2.ª Turma, j. 28.02.2012).
Masson, Cleber Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cle-
ber Masson. – 13. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2019.
142
143
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL E AO PROCESSO PENAL - GRUPO PROMINAS