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ASSOCIAÇÃO CULTURAL PISADA DO SERTÃO

CURSO DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

10 PASSOS PARA ELABORAÇÃO DO MÉTODO PISADA DO SERTÃO

1º Passo- Estudo Dirigido

A Pisada do Sertão sempre buscou investir na qualificação didática e pedagógica da


equipe a fim de promover uma prática educativa fundamentada com sentido e significado.
Nesses moldes, surge a necessidade de construir um método que pudesse nortear as
práticas a serem realizadas na organização. Dessa forma, buscamos compreender o que
seria o método e como construir essa proposta a partir dos saberes e fazeres da
organização.
A palavra método está ligada a caminho, modos de proceder a fim de atingir
determinado objetivo. Richardson (1985) conceitua método, em se tratando de pesquisa
científica, como uma “escolha de procedimentos sistemáticos para a descrição e
explicação de fenômenos”. (p. 29). Assim, o Método Pisada do Sertão, é um
direcionamento que norteia o percurso pedagógico a ser seguido, buscando ressignificar o
processo de atuação prática, a fim de favorecer uma aprendizagem significativa, lúdica e
prazerosa que inspire o sujeito a Aprender a Aprender.
Para que tivéssemos referência e inspiração para construção do nosso método,
buscamos realizar um estudo dirigido a partir da análise de diferentes métodos do campo
da pedagogia entre eles:

Método Montessori- é o nome que se dá ao conjunto de teorias, práticas e materiais


didáticos criado ou idealizado inicialmente por Maria Montessori. De acordo com sua
criadora, o ponto mais importante do método é, não tanto seu material ou sua prática, mas
a possibilidade criada pela utilização dele de se libertar a verdadeira natureza do
indivíduo, para que esta possa ser observada, compreendida, e para que a educação se
desenvolva com base na evolução da criança, e não o contrário.Montessori escreveu que o
desenvolvimento se dá em “planos de desenvolvimento”, de forma que em cada época da
vida predominam certas necessidades e comportamentos específicos. Sem deixar de
considerar o que há de individual em cada criança, Montessori pode traçar perfis gerais de
comportamento e de possibilidades de aprendizado para cada faixa etária, com base em
anos de observação.

Freiriano- Neste Método, baseado nos conceitos de Paulo Freire, os aspectos culturais,
sociais e humanos do aluno devem ser levados em conta. Essa postura implica ouvir o
aluno para ajudá-lo a construir confiança, para que ele possa entender o mundo por meio
do conhecimento. Segundo Freire, o conhecimento faz sentido para o estudante quando o
transforma em sujeito que pode transformar o mundo. Bom senso, humildade, tolerância,
respeito, curiosidade são alguns dos princípios defendidos por esse método. A educação
se torna uma ferramenta para “libertar” o aluno. O Método de Paulo Freire não prevê
provas, mas a escola pode ter avaliações.

Waldorf- No método de ensino Waldorf, desenvolvida pelo filósofo austríaco Rudolf


Steiner, procura-se equilibrar os aspectos cognitivos com o desenvolvimento de
habilidades artísticas, musicais, de movimentação e de dramatização. Considera-se cada
aluno como um ser único, que deve ser acompanhado de forma próxima. O trabalho é
feito em três âmbitos do desenvolvimento da criança: físico, social e individual. Os alunos
são divididos em faixas etárias e não em séries, pois Steiner acreditava que cada idade
tem necessidades específicas a serem atendidas. O aluno estuda com a mesma turma e
com o mesmo professor dos 7 aos 14 anos. Como o ritmo biológico não pode ser alterado,
não há repetência. O método dá igual importância às formações ética, estética e
acadêmica.

Freinet- Nas instituições que colocam em prática conceitos do pedagogo francês Célestin
Freinet, o aprendizado acontece por meio do trabalho e da cooperação. Criador do
Movimento da Escola Moderna, na França, que se caracteriza por sua dimensão social,
Freinet acreditava que a criança tem que ser vista não como um indivíduo isolado, mas
como parte de uma comunidade e jamais ser marginalizada, principalmente quando fizer
parte de classes menos favorecidas. Ele dizia que, “se não encontrarmos respostas
adequadas a todas as questões sobre educação, continuaremos a forjar almas de escravos
em nossos filhos”. Nesse tipo de escola, a criança é incentivada a compartilhar suas
produções com os colegas, sejam eles de sua classe, de outras ou de escolas diferentes. As
avaliações levam em conta o progresso do aluno em comparação ao seu desempenho
anterior e não em relação com os demais. Estudos de campo (aulas em que os estudantes
são levados em algum lugar específico para aprender determinada matéria, como um
parque, por exemplo), elaboração de jornais em grupo e debates são atividades comuns
em escolas que se identificam com o pensamento de Freinet, que valoriza o
desenvolvimento da capacidade de análise pelos estudantes.
Após estudar os tipos de métodos e compreender como foram pensamos e
organizados, buscamos analisar quais são os aspectos de cada método estudado que se
relaciona com as práticas da Pisada do Sertão.

2º Passo- Análise de Documentos

Inspirados pelos métodos já estudados, foi realizada análise de documentos da


organização do setor pedagógico que pudesse evidenciar como as práticas funcionam,
como se fundamentam, resultados alcançados, indicadores entre outros aspectos. Os
documentos analisados foram: planejamento estratégico(ainda em processo de
elaboração), Guia de produção de conhecimento, relatórios de execução de projetos,
matriz de avaliação da Aprendizagem, Planos de Trabalho das oficinas, Registros de
aulas, Plano de trabalho da coordenação pedagógica.
Sobre a pesquisa documental, Fonseca (2002, p. 32) afirma:

A pesquisa documental trilha os mesmos caminhos da pesquisa


bibliográfica, não sendo fácil por vezes distingui-las. A pesquisa
bibliográfica, utiliza fontes constituídas por material já elaborado,
constituído basicamente por livros e artigos científicos localizados em
bibliotecas. A pesquisa documental, recorre a fontes mais diversificadas
e dispersas, sem tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas,
jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais , cartas, filmes,
fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de
programas de televisão, etc.

A partir da análise surgiram diversos questionamentos e descobertas, além de sugestões


de documentos que precisam ser elaborados e práticas que precisam ser sistematizadas, pois
compreendemos que a organização já tem seu jeito próprio de fazer, e que este fazer precisa
está fundamentado e sistematizado.

3º Passo- Observação

Considerando que para construção de um método é necessário que se tenha um


trabalho teórico e prático, realizamos observações nas aulas de cada oficina, nos quais as
observações foram seguidas por um roteiro que direcionava as questões a serem
observadas durante a realização das atividades.

ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO
 A aula segue uma rotina?
 Como acontece a dinâmica da aula? (interdisciplinaridade, ludicidade, recursos,
organização do ambiente);
 De que forma é explorada a criatividade, curiosidade, participação e atuação dos
educandos?
 Como os conteúdos são trabalhos?
 As atividades realizadas se relacionam com o que foi proposto nos planos de
trabalho e em outros documentos analisados?
 Outras questões que não estão direcionadas no roteiro.

A observação favoreceu um campo de discussões pertinentes a este contexto. As


questões observadas foram sistematizadas e foram subsídios para a elaboração do roteiro
de entrevistas a serem realizadas com os educadores.

4º Passo- Entrevistas

Para realização das entrevistas, foi necessária uma análise dos procedimentos
realizados anteriormente, e a definição do roteiro das entrevistas. Pois, a participação da
equipe nesse processo é fundamental, para que o método construído tenha legitimidade.

Segundo (COMBESSIE, 2004, p. 41),

O roteiro da entrevista é regido antes e abrange a lista de temas ou dos


aspectos do tema que deverão ser abordados antes do fim da entrevista.
Como todo roteiro, deve ser de consulta fácil e rápida: detalhado,
preciso, mas com notações breves e claras (palavra-chave, frases
nominais...). A ordem dos temas da lista é construída para prefigurar um
desenvolvimento possível da entrevista, uma lógica provável de
encadeamento.

Neste sentido, a entrevista foi estruturada seguindo as informações coletadas de todo


percurso. As perguntas foram elaboradas com base nas observações e nos documentos
analisados.

Roteiro das entrevistas:

 Quais são os recursos e ou ferramentas que você utiliza para favorecer o


aprendizado dos educandos?
 O que você faz para que o educando desenvolva a capacidade de análise,
percepção, curiosidade, investigação, imaginação e criticidade?
 Como acontece o acompanhamento em relação ao desenvolvimento dos
educandos?
 De que forma você escuta o educando para ajuda-lo a construir autoconfiança?
 Como são selecionados os conteúdos? Esses conteúdos estão relacionados com as
necessidades dos educandos? De que forma?
 Como os conteúdos são trabalhados? Qual a importância de trabalhar com esses
conteúdos?
 Qual é o maior desafio que você encontra no seu trabalho de educador social?
 Qual é o seu diferencial?
 O que você almeja para seus educandos?
 Qual é a sua concepção sobre Planejamento?

A aplicação das entrevistas foi realizada em In loco, de forma individual. A entrevista


foi do tipo semiestruturada, flexibilizando o entrevistador a abordar outras questões que
foram surgindo no decorrer da entrevista que não estavam previstas no roteiro.

5º Passo- Elaboração da estrutura do método

Com a realização das entrevistas, foi possível cruzar as informações nos aspectos
condizentes e divergentes entre fala e escrita, teoria e prática. O contato direto com os
educadores favoreceu a ampliação da concepção das práticas educativas realizadas pela
organização, possibilitando a produção de novos conteúdos e a sistematização dos seus
fazeres.

Neste sentido, foi elaborado uma estrutura de coleta de dados coerente e assertiva
que revelasse os caminhos traçados pela equipe na sua prática numa perspectiva de
organização pedagógica.
Estrutura do Método

1. Conceito

2. Papel do educador

3. Papel do educando

4. Objetivo

5. Competências

6. Organização do ambiente

7. Organização da aula

8. Recursos e ferramentas

9. Rotina

10. O que fundamenta

11. Atividades

12. Conteúdos

13. Planejamento

14. Avaliação

15. Pilares

16. Frase de efeito

Ao definir a estrutura do método, é possível ter clareza do que se faz, como se faz,
para que faz, para quem faz, com quem fazemos, onde fazemos e o que queremos. Dessa
forma, teremos um modelo estruturado padrão a ser aplicado nas nossas práticas.

6º Passo- Aplicação do conteúdo da estrutura do método para a equipe

A aplicação do conteúdo da estrutura do método aconteceu em dois momentos. O


primeiro momento com a equipe do curso de qualificação profissional e no segundo
momento com a equipe de educadores e gestão. Ao aplicar a mesma atividade com os
dois grupos, foi feito o cruzamento de informações e a sistematização da discussão para
que fossem subsidio para a descrição de cada ítem. Observa-se que houve alinhamento
nas respostas e que as ideias de complementam, enriquecendo o conteúdo a ser produzido
pelo setor.

7º Passo- Sistematização das respostas e produção escrita de conteúdo

As respostas dos grupos foram sistematizadas e com elas foram feitas as descrições de
cada item que define o método. Alguns itens não foi possível descrever através das
respostas, nesse caso foi preciso nos remeter aos documentos que caracterizam as práticas
educativas da organização. Dessa forma, foi possível descrever detalhadamente cada item,
deixando claro e objetivo o método de trabalho da Pisada do Sertão.

8º Passo- Elaboração da atividade de intervenção

A atividade de intervenção foi elaborada com referência ao que se caracteriza o


método construído. A proposta foi que a equipe de educadores respondessem a um
questionário sobre suas práticas, esse questionário foi considerado um diagnóstico para
que pudéssemos acompanhar a avaliação dos resultados a partir da proposta do método.
Os educadores foram orientados que seguissem as orientações do método para aplicação
de suas aulas no período de 4 semanas. Após esse período retornasse apresentando os
resultados, desafios e sugestões. Essas informações foram sistematizadas através de um
relatório escrito aplicado aos educadores.

Roteiro do questionário

 A Organização segue um método de trabalho padrão?


 Você considera essa questão importante, por quê?
 Qual é o seu papel como educador social?
 Como você organiza suas aulas, ambiente, recursos e rotina?
 Como você avalia os avanços dos educandos?

9º Passo- Apresentação do método para a equipe e aplicação da atividade de


intervenção

O método após ser estudado, analisado e sistematizado, foi apresentado para a equipe a
fim de tornar objeto de discussão e debate. A flexibilidade para as alterações, favoreceu a
participação da equipe nas sugestões e tomada de decisão. Alinhada a proposta à missão
da organização cada educador recebeu o método completo e sistematizado para que seja
colocado em prática nos seus planejamentos e na execução das atividades.

10º Passo- Análise dos resultados e definição final do método

Após a vivência prática das orientações do método, percebemos que este representa a
identidade da Pisada do Sertão e que este método foi testado e aprovado podendo ser
disseminado em outros espaços de educação formal e não formal

DEPOIMENTOS DE EDUCADORES

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