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STJ DECIDE QUE FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO NÃO É RELAÇÃO DE

TRATO SUCESSIVO

O Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Agravo Interno no Recurso


Especial n. 1.837.718/PR, julgado pela quarta turma, decidiu que o
parcelamento de saldo devedor nos contratos de financiamento imobiliário não
configura relação de trato sucessivo.
O agravo foi interposto pela Companhia de Habitação de Londrina
Cohab Ld em face de decisão que negou seguimento ao recurso especial
contra acórdão julgado pelo TJPR, que tinha por objetivo discutir o início do
prazo prescricional para a cobrança de dívidas em contrato de mútuo do
sistema financeiro de habitação.
No acórdão decidiu-se que o contrato realizado entre a Companhia de
Habitação de Londrina Cohab Ld junto a Elsa da Silva Mostaco tratava-se de
contrato de trato sucessivo e, portanto, todas as parcelas vencidas há mais de
cinco anos da distribuição da ação estavam sujeitas à prescrição de acordo
com art. 206 § 5º, I, do Código Civil.
No primeiro voto, o Excelentíssimo Senhor ministro Raul Araújo
(Relator), concordou com o entendimento do Acórdão sobre o prazo
prescricional, ou seja, a execução hipotecária proposta para a cobrança de
crédito vinculado ao Sistema Financeiro da Habitação possui prazo
prescricional de 5 (cinco) anos. Entendimento previsto também no artigo 206, §
5º, I, do Código Civil, seguido pela corte que, entendeu que nas obrigações de
trato sucessivo, o prazo é contado a partir do vencimento de cada parcela, de
modo que a prescrição atinge as parcelas vencidas no quinquênio anterior ao
ajuizamento da ação, julgamento consonante com a jurisprudência do
Enunciado 83 da Súmula do STJ. Dessa forma, o Relator negou provimento ao
agravo interno.
Após pedido de vistas, a Ministra Maria Isabel Gallotti, discordou do
entendimento do ministro relator Raul Araújo ao dizer que a conclusão do
tribunal paranaense não esta de acordo com a jurisprudência consolidada do
STJ, afastando a ocorrência da súmula 83/STJ, complementando que o
sistema de amortização do saldo devedor dos contratos de financiamento
imobiliário não configura relação de trato sucessivo provendo sim de uma única
obrigação o pagamento do valor de empréstimo contraído para compra de
imóvel, pagamento que deverá ser realizado de forma parcelada nas datas
pactuadas em contrato, a benefício do devedor, que tem a obrigação de pagar
o valor total do empréstimo até o termo do contrato.
As parcelas não pagas na data dos respectivos vencimentos
incrementam o valor da dívida a ser quitada, não se tratando de parcelas que
se renovam mês a mês, como aluguel e salário, por exemplo, concluindo que
não é a data da contratação, nem a do inadimplemento de cada parcela do
preço, que dão início ao prazo prescricional, mas a data final para quitação do
saldo devedor.
Após voto-vista da ministra Maria Isabel Gallotti, o ministro relator Sr.
Raul Araújo mostrou-se ter se equivocado quanto ao seu voto, demostrando
estar com a razão a referida ministra, entendendo que o caso se trata de “...
uma obrigação única, relativa ao pagamento do valor do empréstimo contraído
para a aquisição do imóvel, quantia já disponibilizada pela instituição financeira.
O parcelamento do pagamento, em benefício da parte devedora, nas datas de
vencimento pactuadas no contrato, não configura relação de trato sucessivo
decorrente de obrigações periódicas, que se renovam mês a mês. A obrigação
de pagamento do valor financiado é única, devendo ser quitada a integralidade
do valor financiado até o termo do contrato”, modificando seu voto e dando
provimento ao agravo interno para dar provimento ao recurso especial, a fim de
afastar a prescrição, pois o início da contagem do prazo prescricional ocorreria
somente com o vencimento da última parcela.
Assim, após o voto-vista da Ministra Maria Isabel Gallotti dando
provimento ao agravo interno, para dar provimento ao recurso especial,
divergindo do relator, e a retificação do voto do relator para acompanhar a
divergência, a Quarta Turma, por unanimidade, decidiu dar provimento ao
agravo interno para dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do
relator. A Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti (voto-vista) e os Srs. Ministros
Antonio Carlos Ferreira, Marco Buzzi e Luis Felipe Salomão (Presidente)
votaram com o Sr. Ministro Relator.

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