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CURSO TÉCNICO EM ENFERMAGEM

APOSTILA DE ENFERMAGEM
SIENF
MATERNO II

ENF. KAROLINA VASCONCELOS


MATERNO INFANTIL II

Sumário
1. DATA PROVÁVEL DO PARTO E IDADEGESTACIONAL ..2
1.1. DATA PROVÁVEL DO PARTO - DPP..................2
1.2. Quando a data da última menstruaçãoé
desconhecida. .............................................................2
2. IDADE GESTACIONAL – IG ...............................2
3. DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL .......2
3.1. QUADRO CLÍNICO ...........................................4
3.2. OS PRINCIPAIS TIPOS ......................................4
4. HIPERÊMESE GRAVÍDICA.............................................7
5. CHOQUE ......................................................................7
5.1. CHOQUE HIPOVOLÊMICO ...............................8
6. AMNIORREXE PREMATURA ........................................9
7. GRAVIDEZ PROLONGADA..........................................10
8. DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL ............................11
9. DOENÇA HIPERTENSIVA VASCULAR CRÔNICA ..........12
10. SÍNDROME TROMBOEMBÓLICA ...........................14
11. DOENÇAS INFECCIOSAS ........................................14
11.1. AIDS ...............................................................14
11.2. TOXOPLASMOSE ...........................................15
12. CÂNCER GENITAL ..................................................15
12.1. COLO DO ÚTERO ...........................................15
12.2. ENDOMÉTRIO................................................16
12.3. OVÁRIO .........................................................17
12.4. VULVA ...........................................................17
13. ROTURA UTERINA .................................................17
14. LACERAÇÕES DO TRAJETO ....................................18
15. INFECÇÃO PUERPERAL ..........................................19

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1. DATA PROVÁVEL DO PARTO E IDADE 2. IDADE GESTACIONAL – IG


GESTACIONAL
1.1. DATA PROVÁVEL DO PARTO - DPP Em geral o cálculo da idade gestacional é baseado
na data da última menstruação, conhecida como
Para calcular a data provável do parto (DPP) e saber o
DUM. Neste caso, é muito simples. Verifica-se a
dia em que o bebê vai nascer, é necessário que a gestante
saiba a data da sua última menstruação (DUM), que quantidade de dias quese passaram da DUM até o
corresponde ao primeiro dia da sua última menstruação. dia do cálculo e divide-se por 7. O valor inteiro,
resultado da divisão, é o número de semanas da
1º - Passo: Escrever num papel a data da última gravidez e o resto da divisão é o número de dias
menstruação no formato DD/MM/AAAA. passados na última semana.
• Se a DUM for em janeiro, fevereiro ou março, é Ex.: Vamos supor que, no dia 26/09/2021, queira-
somado 7 ao dia; e 9 ao mês e o ano deve ser
se saber qual a idade gestacional de uma gravidez em
mantido.
Ex.: DUM: 10/01/2021 que a gestante menstruou pela última vez em:
+7/+9 10/07/2021.
DPP = 17/10/2021
1º Passo: Subtrair os dias do mês pelo número de
• Se a DUM for de abril a dezembro, é somado 7 aodia;
e subtraído 3 do mês e acrescentado 1 ao ano. diasque passaram no mês da DUM:

Ex.: DUM: 10/05/2021 - Julho tem 31 dias e a DUM foi dia 10


+7/-3/+1 31 – 10 = 21
DPP= 17/02/2022 2º Passo: Somar o número de dias da última
Obs1: Se o dia somado ultrapassar 30 ou 31 (dependendo menstruação até o dia da consulta:
do mês), o saldo restante deverá serconsiderado no mês JULHO = 21 dias.
seguinte. AGOSTO = 31 dias.
Ex.: DPP = 32/10/2021 01/11/2021 SETEMBRO = 26 dias.
Obs2: Nas mulheres primigestas (1º gestação) usa-se o +10 21+31+25= 78 dias
no lugar do +7.
1.2. Quando a data da última menstruação é 3º Passo: Dividir o número total de dias por 7:
desconhecida. 78 7
Consideram-se as seguintes datas:
1 11
• No início do mês: a data da última menstruação
RESPOSTA: IG = 11 SEMANAS E 1 DIA
será dia 05 do mês;
• No meio do mês: a data da última menstruação 3. DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL
será dia 15 do mês;
• No final do mês: a data da última menstruação A Doença Trofoblástica Gestacional (DTG) é um
será dia 25 do mês. evento patológico relacionado com a fertilização
Ex.: Se a gestante teve seu período menstrual no final de aberrante, representado por formas clínicas distintas,
maio de 2021, por exemplo, a sua DUM será dia geralmente evolutivas, sistematizadas em:
25/05/2021.
- Mola Hidatiforme.
- Mola Invasora.
- Coriocarcinoma.
Essas formas clínicas são blastomas originários do
tecido de revestimento das vilosidades coriais (cito e
sinciciotrofoblasto) caracterizados por aspectos

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degenerativos (hidropisia do estroma) e proliferativos


(hiperplasia/anaplasia).
O tumor trofoblástico do sítio placentário - PSTT –
é uma forma rara da doença, originária do trofoblasto
intermediário.
As formas malignas (mola invasora, coriocarcinoma
e PSTT), são denominadas neoplasias trofoblástica
gestacional (NTG).

Após a identificação de uma NTG, é necessário


realizar uma série de análises para saber o estádio em que
a doença se encontra e avaliar os riscos. Para isso são feitos
exames de raios-X, ultrassonografias, tomografias e
ressonância magnética.
A Doença Trofoblástica Gestacional – DTG é o
A seguir são descritos os quatro estádios da
termo abrangente para nomear os tumores do trofoblasto
doença:
viloso placentário, englobando as várias formas de mola
hidatiforme, mola invasora, coriocarcinoma e PSTT. • Estádio I - Doença está apenas no útero;

Nos Estados Unidos, a mola hidatiforme é • Estádio II - Doença está localizada no útero e nos órgãos
observada em 1:1500 gestações. Aproximadamente 20% genitais;
das pacientes com mola hidatiforme após o esvaziamento • Estádio III - Doença apresenta metástases no pulmão e
desenvolvem NTG, requerendo a administração de pode ter ou não envolvimento dos órgãos genitais;
quimioterapia. A maioria das pacientes com NTG pós-molar
• Estádio IV- Apresenta outros locais com metástase,
apresenta a forma não metastática ou mola invasora, mas
frequentemente atingindo fígado e cérebro.
o coriocarcinoma pode ocorrer nesse cenário. A neoplasia
trofoblástica é um tumor funcionante produtor de Anteriormente, as neoplasias trofoblásticas
gonadotrofina coriônica humana (hCG). gestacionais eram tratadas com uma cirurgia para a
retirada da matriz uterina, porém os riscos de morte eram
Atualmente, na dependência da utilização rotineira
muito grandes. Hoje em dia, a maioria das NTGs é tratada
dos testes de grande sensibilidade de hCG e do emprego
com quimioterapia, que é capaz de curar um grande
eficaz da quimioterapia, pode-se dizer que, de todos os
número de pacientes. Essa pode ser feita através de apenas
cânceres humanos, a neoplasia trofoblástica é a que
um medicamento ou então com combinados, sendo, nesse
apresenta maior taxa de cura.
caso, chamada de poliquimioterapia. A escolha de um ou
mais medicamentos dependerá do estádio da doença e de
seus riscos.
No caso do tumor trofoblástico do leito placentar, a
quimioterapia com um único medicamento não resolve o
problema. Recomenda-se, nesse caso, a histerectomia
(retirada do útero) associada à poliquimioterapia.

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Durante o tratamento da NTG, é importante a


avaliação do hCG para saber se os níveis estão decaindo. A
quimioterapia é realizada até a negativação do hCG e as
dosagens são feitas por um período de 1 ano após o fim do
tratamento. Sendo assim, é importante que durante esse
período a mulher não engravide em nenhuma hipótese,
pois isso influenciará os resultados da dosagem. Uma nova
gestação só é permitida após um ano de negativação.
Não é possível prever quantas quimioterapias a mulher
deverá realizar até a completa cura, uma vez que cada
organismo responde de uma maneira diferente à terapia.
Isso também é válido para os efeitos colaterais, que são
3.2.2. Mola Hidatiforme Parcial (Incompleta)
sentidos de formas distintas por cada mulher. Dentre os
As molas hidatiformes parciais apresentam
efeitos mais relatados, destacam-se fadiga, náusea,
degenerações limitadas da placenta, que exibe vilosidades
manchas na pele e irritação ocular.
anormais e distendidas, hidrópicas. Existe feto, cuja
3.1. QUADRO CLÍNICO presença é caracterizada pelos ruídos cardíacos e
• Sangramento vaginal; certificada pela ultrassonografia.
• Aumento do volume uterino em desacordo com a
Na macroscopia feto, cordão e membrana
idade gestacional;
amniótica estão frequentemente presentes. No entanto, o
• Cistos tecaluteínicos dos ovários;
desenvolvimento do feto se faz comprometido devido o
• Hiperêmese;
desenvolvimento do tecido trofoblástico.
• Toxemia gravídica precoce.
A mola hidatiforme parcial ou incompleta que se
3.2. OS PRINCIPAIS TIPOS desenvolve quando dois espermatozoides fertilizam um
3.2.1. Mola Hidatiforme Completa óvulo normal. Estes tumores contém algum tecido fetal,
A forma mais comum da doença trofoblástica mas estão misturadas com tecido trofoblástico. É
gestacional é chamada mola hidatiforme, também importante saber que um feto viável não está sendo
conhecida como gravidez molar. É composta de vilosidades formado. As molas hidatiformes parciais raramente
edemaciadas que crescem em cachos similares a cachos de evoluem para doença trofoblástica gestacional maligna.
uvas. Isto é o que se denomina gravidez molar, entretanto
não é possível formar um feto normal. É um tumor
normalmente benigno que surge durante a gestação,
apresentando potencialidade para evoluir para
malignidade.
Macroscopicamente o feto, cordão umbilical e
membranas estão sempre ausentes. A mola completa
origina-se de um equívoco de fertilização. Por alguma razão
desconhecida, o óvulo perde sua carga genética haploide,
“esvazia-se”, sendo fecundado por espermatozoide
aparentemente normal. Assim, a mola hidatiforme
completa na maioria das vezes se desenvolve quando uma
ou duas células de esperma fertilizam um óvulo que não
contém nenhum núcleo ou DNA. Portanto, não há tecido
fetal.

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removida. O risco de desenvolver uma mola invasiva nessas


mulheres aumenta se:
• Existe um grande intervalo de tempo (mais de 4
meses) entre o último período menstrual e o tratamento.
• O útero se tornou muito grande.
• A mulher tem mais de 40 anos.
• A mulher teve doença trofoblástica gestacional no
passado.
Algumas vezes as molas invasivas podem
desaparecer por conta própria, mas na maioria dos casos é
necessário tratamento. Um tumor ou mola que se
3.2.3. Mola Invasiva
desenvolve na parede do útero pode resultar em
Outrora também denominada corioadenoma
hemorragia na cavidade abdominal ou pélvica. Esse
destruens, é uma doença confinada ao útero, caracterizada
sangramento pode ser perigoso e em alguns casos fatal.
por vilosidades coriônicas hidrópicas com proliferação
trofoblástica que invadem diretamente o miométrio. Algumas vezes, após a remoção de uma mola
Raramente alcançam locais extrauterinos. A mola invasora hidatiforme completa, o tumor se espalha (metástase) para
é sempre sequela da mola hidatiforme. Pacientes com mola outras partes do corpo, principalmente para os pulmões.
invasora podem apresentar resolução espontânea em 40% Isto acontece em cerca de 4% dos casos.
das vezes. O diagnóstico da mola invasora habitualmente é 3.2.4. Coriocarcinoma
clínico (NTG não metastática), e não histológico. A É uma forma maligna de doença trofoblástica
ultrassonografia fornece subsídios de valor ao mapear pelo gestacional. É muito mais provável que outros tipos de
Doppler colorido a invasão do miométrio pelo trofoblasto. doença trofoblástica gestacional cresçam rapidamente e se
A dilatação e curetagem (D&C) diagnóstica deve ser evitada espalhem para outros órgãos.
pela possibilidade de perfuração uterina.
A constituição celular do coriocarcinoma é
Uma mola invasiva é uma mola hidatiforme, que se dimórfica, com sincício e citotrofoblasto, mas não
tornou a camada muscular do útero. As molas invasoras forma estrutura vilosa. O coriocarcinoma é muito invasivo
podem se desenvolver a partir de qualquer mola e metastático. Procede de qualquer tipo de gravidez: 50%
hidatiforme completa ou parcial, mas as molas completas de gestação normal, 25% de mola hidatiforme, 25% de
se tornam invasoras com muito mais frequência do que as abortamento e até de gravidez ectópica.
molas incompletas.
Na maioria das vezes o coriocarcinoma se
desenvolve a partir de uma mola hidatiforme completa,
mas também pode ocorrer a partir de uma parcial, de uma
gravidez normal ou da interrupção da gravidez.

As molas invasivas se desenvolvem em menos de 1


em cada 5 mulheres que tiveram uma mola completa

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3.2.5. Tumor Trofoblástico de Localização


Placentária – PSTT.

O paciente pode não apresentar nenhum sintoma


até que o câncer atingiu as fases posteriores. Na fase inicial O PSTT forma bastante raro de DTG que se origina
de coriocarcinoma, a gravidez pode parecer normal. No do trofoblasto intermediário, pode ocorrer após gravidez
entanto, o seu médico deve verificar se há sangramento normal, abortamento, gravidez ectópica ou mola
vaginal. Crescimento canceroso visto em outras partes do hidatiforme. As células do trofoblasto intermediário
corpo na altura da doença é diagnosticado. Em alguns invadem o miométrio e produzem hCG (níveis baixos) e
casos, o paciente apresenta os seguintes sintomas: lactogênio placentário humano (hPL). O quadro clínico mais
comum é o de amenorreia, seguida de sangramento
• Hemorragia vaginal irregular; vaginal e aumento do volume uterino.
• Os cistos ovarianos (sacos cheios de líquido no
Macroscopicamente, o PSTT forma massa branco-
ovário);
amarelada que invade o miométrio, podendo projetar-se
• Baixa dor abdominal;
para a cavidade uterina, assumindo aspecto polipoide. O
• Inchaço anormal do útero observado;
número de células de sinciciotrofoblasto está diminuído no
• Vômitos ou náuseas;
PSTT, o que se reflete nos baixos níveis de hCG
• Descarga anormal do mamilo;
encontrados. Em geral, o PSTT não é sensível à
• Crescimento uterino, resultando em um abdômen
quimioterapia como as outras formas de NTG, sendo
inchado;
importante sua distinção histológica. É valiosa a sua
• Nenhuma redução do tamanho do útero, mesmo
caracterização imuno-histoquímica com positividade para
após o parto.
hPL. A cirurgia assume papel crítico nesses casos e,
O tratamento pode ser muito eficaz, especialmente felizmente, na maioria das pacientes a doença está
se a doença for detectada em seus estágios iniciais. A confinada ao útero e é curada pela histerectomia.
quimioterapia é utilizada principalmente para o
Clinicamente, apresenta-se como amenorreia ou
tratamento de coriocarcinoma.
sangramento vaginal irregular que pode acontecer meses
As chances de recuperação dependem ou anos após última gestação, associado à hCG
inteiramente do que as células cancerosas se espalharam discretamente aumentado.
no corpo. A detecção precoce é a chave para melhorar o
O diagnóstico é dado por curetagem e estudo
resultado. O monitoramento cuidadoso do paciente que
histopatológico; as metástases menos frequentes e ao
teve uma gravidez molar pode ajudar a diagnosticar a
estudo ecográfico não há características específicas,
doença quando ela está em um estágio avançado. A
devendo-se valorizar o histórico clínico associado a uma
possibilidade de uma recuperação completa é alta, se a
massa irregular uterina, geralmente localizada.
doença é diagnosticada em um estágio inicial de
desenvolvimento.

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4. HIPERÊMESE GRAVÍDICA resultando no aparecimento de corpos cetônicos na urina:


A êmese gravídica, vômitos simples do início da quadro denominado cetonúria. Quando a
gestação, e a hiperêmese gravídica, vômitos desnutrição está muito avançada, ocorre deficiência de
incoercíveis da gravidez, diferem apenas na intensidade e tiamina (vitamina B1), que conduz ao
na repercussão clínica de seus efeitos. quadro neurológico/psiquiátrico da síndrome de Wernicke-
Tratam-se do mesmo processo, no entanto, a hiperêmese Korsakoff.
configura a forma grave.
A separação da hiperêmese gravídica em duas
Náuseas e vômitos da gravidez são condições formas clínicas, de média e de grave
comuns que afetam 70 a 85% das grávidas. Em intensidade, é clássica:
60% dos casos, cessam ao fim do 1º trimestre; em 90% dos
- Formas médias: pacientes abandonadas na êmese
casos, com 20 semanas. Do ponto de
simples, por 2 a 4 semanas, com perda ponderal discreta,
vista epidemiológico, a hiperêmese gravídica é cada vez
de 5% do peso pré-gravídico; o pulso mantém-se abaixo de
mais rara, e ocorre em 0,5 a 2% das
100 bpm.
gestações (American College of Obstetricians and
Gynecologists — ACOG, 2004). - Formas graves: a perda ponderal é acentuada, 6 a 8%, e o
pulso mostra-se rápido, acima de
Não há definição única para a hiperêmese
100 bpm; cetonúria pontual.
gravídica, sendo a mais aceita aquela que considera
a perda ponderal de, no mínimo, 5% do peso pré-gravídico; O tratamento da hiperêmese se faz através de:
anormalidades como desidratação e
desnutrição (cetonúria) costumam estar presentes.
A hiperêmese gravídica é a segunda causa mais frequente
de internação hospitalar; a primeira
é o parto pré-termo.
A etiologia de náuseas e vômitos da gravidez ainda
é imprecisa. Especula-se como candidatos
prováveis os hormônios placentários, gonadotrofina
coriônica humana (hCG) e estrogênios, talvez
inter-relacionados. Sabe-se, com certeza, que o pico dos
sintomas de náuseas e vômitos da gravidez está associado
ao da hCG. Além disso, hCG e estrogênios têm seus níveis 5. CHOQUE
elevados nas gestações gemelar e molar, É um distúrbio caracterizado pelo insuficiente
reconhecidamente relacionadas com o exagero de náuseas suprimento sanguíneo para os tecidos e células do corpo.
e vômitos da gestação. Pode - se dizer que é a perfusão e oxigenação inadequada
dos órgãos e tecidos. O estado de choque é uma situação
Entre os fatores de risco, podem ser citadas a
na qual existe uma desproporção entre a quantidade de
história de hiperêmese gravídica em gestação
sangue circulante e a capacidade do sistema.
anterior, a história familiar (mãe, irmã) e a gravidez de feto
feminino. É provável que o conceito de que náuseas e Tem como causas:
vômitos da gravidez represente conflito • Falha no mecanismo que bombeia o sangue
psicológico tenha impedido o progresso para o (coração);
conhecimento da verdadeira causa da doença.
• Problemas nos vasos sanguíneos (alteração na
O quadro clínico decorre, inicialmente, de perdas resistência da parede vascular);
hidreletrolíticas; mais tarde, da desnutrição. • Baixo nível de fluido no corpo (sangue ou líquidos
Nas pacientes negligenciadas, a deficiência de carboidratos corporais).
acelera o metabolismo dos lipídios,

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5.1. CHOQUE HIPOVOLÊMICO parto. Uma das medidas consiste em tratar certos
problemas, como a anemia. Outra é reunir a maior
É o tipo mais comum de choque, e deve-se a quantidade possível de informação acerca da paciente.
redução absoluta e geralmente súbita do volume
sanguíneo circulante em relação a capacidade do sistema Por exemplo, o fato de se saber que a mulher tem
vascular. A hipovolemia pode ocorrer como resultado da maior quantidade de líquido amniótico, que tem uma
perda sanguínea secundária a hemorragia (interna ou gravidez múltipla (de gêmeos), que possui um tipo de
externa) ou pode advir da perda de líquidos e eletrólitos. sangue raro ou que teve crises anteriores de hemorragia
Esta última forma de hipovolemia pode seguir-se a perda pós-parto pode fazer com que o médico esteja preparado
significativa de líquidos gastrintestinais (diarreia, vômito), para enfrentar possíveis perturbações hemorrágicas.
perdas renais (poliúria), que pode ocorrer em Diabetes
O médico tenta sempre reduzir ao mínimo a sua
mellitus, perdas externas secundárias ou quebra da
intervenção no parto. Uma vez que a placenta se tenha
integridade da superfície tecidual (queimaduras), ou
desprendido do útero, a mulher recebe ocitocina para
perdas internas de líquidos sem alteração na água corporal
facilitar a contração uterina e reduzir a perda de sangue. Se
total (por exemplo sequestro de líquidos para o terceiro
a placenta não se soltar por si só 30 minutos depois do
espaço-ascite). Os sintomas variam de acordo com a
parto, o médico tira-a de forma manual. Se a expulsão tiver
magnitude da perda e, portanto, com a gravidade da
sido incompleta, extrai manualmente os fragmentos que
situação.
faltam. Em casos excepcionais, os fragmentos infectados da
A hemorragia pós-parto é a perda de mais de meio placenta ou de outros tecidos devem ser extraídos
litro de sangue durante ou depois da terceira etapa do cirurgicamente (por meio de raspagem). Depois da
parto, no momento em que se expulsa a placenta. expulsão da placenta, a mulher é submetida a controlo
Este problema é a terceira causa mais frequente de durante pelo menos uma hora para assegurar que o útero
morte materna no parto, depois das infecções e das se contraiu e também para controlar a hemorragia vaginal.
complicações provocadas pela anestesia. As causas da
hemorragia pós-parto são diversas e a maioria delas pode Em caso de hemorragia grave, faz-se uma
ser evitada. Uma causa é a hemorragia que se verifica no massagem abdominal para ajudar a contrair o útero e é
local donde se soltou a placenta. Esta hemorragia ocorre administrada uma perfusão endovenosa contínua de
quando o útero não se contrai corretamente, quer porque ocitocina. Se a hemorragia persistir, pode ser necessária
se distendeu em demasia, quer porque o parto foi uma transfusão de sangue.
prolongado ou anormal, quer porque a mulher teve várias
Pode-se examinar o útero para procurar cortes ou
gravidezes anteriores ou ainda porque se utilizou um
fragmentos retidos da placenta e de outros tecidos, e
anestésico relaxante muscular durante o parto.
depois extraí-los cirurgicamente; ambos os procedimentos
A hemorragia pós-parto também pode ser devida a requerem um anestésico. Também se examinam o colo
feridas (lacerações) de um parto espontâneo, à presença uterino e a vagina. Pode-se injetar prostaglandina no
de tecido (em geral, partes da placenta que não se soltaram músculo uterino para facilitar a contração.
de forma adequada) que não foi expulso durante o parto
ou à existência de valores baixos de fibrinogênio (um Se o útero não puder ser estimulado para que se
importante fator necessário à coagulação). A perda de uma contraia e a hemorragia seja reduzida, é possível que seja
quantidade importante de sangue costuma dar-se pouco necessário fazer uma laqueação das artérias que levam o
depois do parto, mas o risco subsiste até um mês mais sangue ao útero. Devido à quantidade abundante de
tarde. sangue que chega à pélvis, o fato de se conseguir controlar
Prevenção e tratamento a hemorragia não significa que o êxito da operação seja
definitivo. A extirpação do útero (histerectomia) raramente
Antes de começar o trabalho de parto, devem ser é necessária.
tomadas precauções para evitar uma hemorragia pós-

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6. AMNIORREXE PREMATURA As mais diversas teorias têm sido propostas para


É a rotura das membranas coriônica e amniótica antes explicar o rompimento das membranas ovulares, mas de
do trabalho de parto, seja qual for a idade gestacional. No qualquer forma a causa pode ser subordinada a:
momento da rotura o feto pode ser:
• Fatores mecânicos
- Pré-viável (< 23 semanas de gestação); • Fatores enzimáticos
- Longe do termo (23-32 semanas); • Fatores bacterianos
• Fatores histológicos
- Próximo de termo.
Diagnóstico:
- AMNIORREXE PREMATURA: rotura das membranas
corioamnióticas antes da deflagração do trabalho de parto, - A principal evidencia de que tenha ocorrido à rotura das
independente da idade gestacional. membranas ovulares é a evidente de perda de líquido
amniótico por via vaginal. Porém em certas situações esta
- AMNIORREXE PREMATURA PRETERMO: rotura das
perda não é tão evidente, de modo que se deve lançar mão
membranas antes do termo.
de recursos subsidiários para se chegar à confirmação do
- PERÍODO DE LATÊNCIA: intervalo entre a rotura das diagnóstico.
membranas e o início do trabalho de parto.
- A modificação do pH vaginal - Sendo o líquido amniótico
• Epidemiologia: alcalino, e o meio vaginal ácido, a alteração deste último,
seria um indicativo de rotura ovular.
- A incidência de AP varia de 3 a 18,5%.
- Avaliação ultrassonográfica.
- Aproximadamente 8 a 10% das pacientes com gestação a
termo apresentam AP. • Consequências:
- AP pré-termo corresponde a 25% de todos os casos de AP - Como consequência maior, tem-se o risco da
e é responsável por cerca de 30% de todos os partos prematuridade sempre que a rotura das bolsas ocorra
prematuros. antes de 37 semanas.
- É maior e contribui mais para partos prematuros em - Outra complicação quase sempre presente é o risco de
populações de baixo nível sócio econômico e maiores infecção fetal e/ou materna, e todas suas consequências.
índices de ISTs.
- A procidência de cordão poderá ocorrer nas situações em
• Importância das membranas fetais: que a rotura das membranas ocorra quando a
apresentação fetal ainda é alta.
- Barreira física que separa o feto e o líquido amniótico
estéreis do canal vaginal contaminado. - Nesta última situação também serão mais frequentes as
apresentações anômalas.
- Importância para o desenvolvimento do feto - o líquido
amniótico é necessário para o desenvolvimento dos • Conduta geral:
sistemas respiratório, gastrintestinal e urinário, além de
Diante de uma situação de amniorexe, deve ser a
permitir a movimentação fetal, contribuindo para o
paciente internada, e observada em regime hospitalar. A
desenvolvimento normal da musculatura, e proteger o feto
indicação de antibioticoterapia profilática e curativa vai
de lesões traumáticas e de lesões isquêmicas, por
depender de cada situação, onde deverão ser observados
compressão do cordão umbilical.
principalmente tempo desde o momento da rotura, bem
- Previne o prolapso de qualquer estrutura intra-amniótica como as características do liquido amniótico,
pela cérvix, que frequentemente sofre dilatação antes da principalmente o odor.
deflagração do trabalho de parto franco.
Dependendo da idade gestacional, os conceitos
- Depósito de substratos para processos bioquímicos. básicos de tratamento têm rumos diferentes. Portanto em
gestação com menos do que 34 semanas, a conduta pode
• Etiologia:

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ser expectante com administração de inibidores da onde infelizmente "antecipar o parto" virou sinônimo de
contratilidade uterina e com corticoterapia preventiva. cesariana eletiva.
Entre 34 e 37 semanas de gestação a conduta pode O maior temor de uma gestação prolongada é que, com
ser expectante, ou resolutiva. Acredita-se que a partir o passar do tempo, possa ocorrer insuficiência placentária,
desta época a corticoterapia não tem mais razão de ser. com redução do aporte de nutrientes e oxigênio para o
bebê, o que pode acarretar aumento de morbidade e
Após 37 semanas de gestação, está indicada a
mortalidade perinatal, com maior frequência de morte
interrupção da gravidez, ou seja, através de indução ou
perinatal, anormalidades da frequência cardíaca fetal
através de uma cesárea segmentar transversa.
intraparto, eliminação de mecônio, macrossomia e
cesariana.
7. GRAVIDEZ PROLONGADA
O descolamento de membranas pode ser oferecido
No Brasil tem sido frequente a indicação de cesariana
para mulheres com 41 semanas ou mais de idade
quando a gestação ultrapassa 40 semanas mesmo não
gestacional, reduzindo em torno de 40% a necessidade de
havendo indicações científicas para esse procedimento.
indução quando realizado com 41 semanas e em 72%
Gestação prolongada, ou seja, a partir de 42 semanas, quando realizado com 42 semanas. Esse procedimento, no
ocorre em aproximadamente 5% dos casos, enquanto entanto, não pode ser imposto às pacientes, porque causa
aproximadamente 10% de todas as gestações se estendem desconforto e traz inconvenientes, como contrações
além de 41 semanas. É certo que as gravidezes realmente irregulares, pródromos prolongados, dor e sangramento.
prolongadas (além das 42 semanas) são relativamente
O exato ponto de corte de idade gestacional para indicar
raras, uma vez que em muitos casos ocorre um erro na
indução do parto ainda não foi estabelecido, devendo-se
determinação da idade gestacional, porque a data da
individualizar os casos de acordo com as características e
última menstruação não está correta, ou porque houve
expectativas das gestantes. Recomenda-se prestar todo o
uma ovulação tardia e a fecundação não ocorreu por volta
esclarecimento, respondendo a eventuais dúvidas, e as
do 14º dia do ciclo.
gestantes devem assinar termo de consentimento quer
Justamente por esse motivo, uma política de indução prefiram aguardar o trabalho de parto quer decidam pela
do parto ou, como ocorre com certa frequência em nosso indução.
país, de cesariana eletiva depois de 40 semanas (ou até
No termo de consentimento devem constar
antes!) pode promover danos, uma vez que bebês ainda
vantagens e desvantagens de cada opção, incluindo as
não preparados para nascer podem ser retirados
possíveis complicações da indução, como taquissistolia,
prematuramente do ventre de suas mães. A realização de
frequência cardíaca fetal não tranquilizadora e síndrome
ultrassonografia precoce (primeiro trimestre) reduz a
de hiperestimulação uterina.
frequência de diagnóstico de gravidez prolongada, uma vez
que boa parte dos casos se deve a erro de datação da idade • Métodos:
gestacional. Os métodos para indução mais utilizados são:
Por outro lado, mesmo gestações realmente - A sonda de Foley pode ser utilizada em pacientes com
prolongadas, datadas corretamente, com idade gestacional cesárea anterior e colo desfavorável, não aumentando o
confirmada por ultrassonografia precoce, podem ser risco de hiperestimulação.
fisiologicamente prolongadas, porque aquele bebê,
especificamente, ainda não está maduro, pronto para - Ocitocina está indicada se o colo é favorável (escore de
nascer, e, portanto não se ativa a complexa cascata de Bishop maior ou igual a seis).
eventos hormonais e bioquímicos que leva à deflagração - Prostaglandina E2 e misoprostol podem ser utilizadas
do trabalho de parto. Esses bebês também não se quando o colo é desfavorável, porém o misoprostol é
beneficiam de uma política de antecipação do parto, quer contraindicado em mulheres com cesariana anterior.
por indução quer por cesariana, como ocorre aqui no Brasil,

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- Misoprostol oferece vantagens em termos de custo, hemorragia materno-fetal, durante o parto ou quando se
facilidade de uso, estocagem, efetividade e administração, aborta. Há evidências de que a principal causa é a
podendo ser usado tanto por via oral como vaginal. hemorragia materno-fetal, tanto durante a gestação como
Monitoração rigorosa da vitalidade fetal intraparto no parto - contabiliza-se 75% dos casos.
também deve ser realizada, independente se o trabalho de
Além disso, consta-se que o risco dessa hemorragia
parto foi espontâneo ou induzido.
aumenta com o tempo de gestação – 45% das grávidas
Devemos destacar, igualmente, que todos os apresentaram hemorragia materno-fetal no último
esforços devem ser feitos para datar corretamente a trimestre de gravidez. Outro fator que contribui para a
gestação e evitar a interrupção eletiva antes do termo. hemorragia feto-materna é a intensidade da sensibilização
Uma das consequências da política de interromper materna, isto é, o risco de hemorragia feto-materna
sistematicamente as gestações que ultrapassam 40 aumenta quando se têm procedimentos que colocam a
semanas tem sido o aumento das taxas de prematuros mãe e o feto em maior contato, como placenta abrupta
tardios (bebês que nascem entre 34 e 36 semanas) ou (descolamento prematuro da placenta), aborto
"termo precoces" (entre 37 e 38 semanas, aumentando a espontâneo ou provocado, gravidez ectópica (o ovo se
morbidade neonatal. Esses bebês apresentam risco implanta fora do útero), traumatismo abdominal, ou em
aumentado de complicações no período neonatal, dentre certas técnicas invasivas, como a amniocentese e a
os quais se destacam os distúrbios respiratórios e a cordocentese (explicadas mais adiante).
icterícia.
• Transmissão:
A instalação da doença acontece em duas etapas.
8. DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL
Doença hemolítica perinatal é uma patologia que - A primeira é chamada de resposta primária, isto é,
atinge mulheres de Rh negativo e fetos de Rh positivo primeiro contato, no qual os diferentes tipos sanguíneos se
desde o seu terceiro mês e meio intrauterino até os misturam e geram uma reação fraca e lenta – prolonga-se
primeiros sete dias de vida – período perinatal. Essa por um período de 8 a 9 semanas, podendo chegar até a 6
patologia vem aumentando a mortalidade e morbidade meses.
perinatal, além estar elevando o risco de morte materna. Nessa etapa não se observa o ataque de anticorpos, já que
Estima-se que a taxa de mortalidade fetal, em países a maioria dos anticorpos produzidos são da classe IgM,
desenvolvidos, é de 5 a 8 por 10 mil. Além disso, consta-se caracterizados por ter alto peso molecular, o que
que é a causa de 3% a 4% de doença mental, ou seja, a cada impossibilita a passagem através da placenta.
150 a 200 nascimento, um tem retardo mental por - Já a resposta secundária, ou seja, segunda etapa,
consequência da doença hemolítica perinatal. caracteriza-se pela produção de anticorpos IgG, os quais
A doença caracteriza-se, basicamente, pela são capazes de ultrapassar essa barreira, visto que tem um
incompatibilidade sanguínea em relação ao fator Rh entre baixo peso molecular. Essa segunda exposição leva até 7
a mãe e o feto. A sua instalação inicia-se pela sensibilização dias para se concretizar, necessitando de pouca quantidade
da mãe pelos antígenos do feto, ou seja, ativação da de anticorpos.
resposta imune materna contra antígenos fetais, sendo • Interação doença – corpo:
que a tipagem do Rh materno deve ser negativa e a fetal,
Após atravessarem a barreira placentária, os
positiva. Os principais antígenos causadores dessa
anticorpos IgG se ligam a superfície dos antígenos fetal,
patologia são do tipo D, visto que é o mais imunógeno,
levando, inicialmente, à hemólise do feto, isto é, à
além de estar presente exclusivamente na população
destruição dos glóbulos vermelho fetal e anemia.
eritrocitária; Além do antígeno do tipo D, têm-se o Kell,
Duffy, Kidd, entre outros. Para compensar essa perda de glóbulos vermelho,
inicia-se a produção de eritropoietina na medula óssea. O
A sensibilização ocorre pelo contato de sangue das
agravamento do quadro faz com que ocorra uma produção
seguintes formas: transfusões sanguíneas incompatíveis,

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sanguínea extra medular na suprarrenal, no intestino, nos • Teste do eluato no RN;


rins, e, principalmente, no baço e no fígado. Quando se tem • Níveis séricos de bilirrubinas totais e frações no
uma produção aumentada de hemácias, ou seja, RN.
eritropoiése excessiva por parte do fígado, há um déficit
O diagnóstico clínico é considerado positivo caso estejam
em suas funções primordiais, podendo gerar alteração na
presentes os seguintes achados:
pressão oncótica, hipoalbunemia e hidropsia, além da
progressão para acidose metabólica, falência cardíaca e • Palidez;
óbito. • Icterícia;
• Hepatoesplenomegalia;
• Classificação:
• Petéquias;
De acordo com a gravidade, esta patologia pode ser • Edema;
classificada em três estágios: • Reticulocitose;
-FORMA LEVE: Acomete 50% dos fetos com doença • Anasarca.
hemolítica, sendo que esses têm hemoglobina acima de 12
gramas por cento, o que não exige um tratamento pré-
9. DOENÇA HIPERTENSIVA VASCULAR CRÔNICA
natal.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde,
-FORMA INTERMEDIÁRIA: Atinge 25% dos fetos e dentre as doenças hipertensivas ligadas à gestação, a pré-
caracteriza-se por hemoglobina entre 8 e 12 gramas por eclâmpsia (PE) afeta de 2% a 3% de todas as gestações no
cento, o que se faz necessário a eritropoiese. mundo, sendo responsável por, aproximadamente, 60 mil
-FORMA GRAVE: Os outros 25% são portadores da doença mortes a cada ano.
hemolítica mais grave, com hemoglobina abaixo de 8 A PE é uma síndrome que faz parte de um conjunto
gramas por cento, tendo as seguintes consequências: de patologias denominadas doenças hipertensivas ligadas
hemólise intensa; aumento da eritropoiese extra medular; à gestação. Elas constituem uma das principais causas de
aparecimento de ascite fetal; disfunção hepatocelular ; morbidade e de mortalidade tanto materna quanto fetal,
distorção nos cordões de hepatócitos causada pelas ilhas mesmo em países desenvolvidos. Essa condição está
de tecido hematopoiético, o que leva à obstrução portal; associada à restrição de crescimento intrauterino em cerca
elevação na resistência ao fluxo da veia umbilical; de 30% dos casos, além de parto prematuro e baixo peso
hipoalbuminemia, que pode causar anasarca fetal (edema ao nascer.
generalizado); insuficiência cardíaca consequente da
Segundo o grupo de investigação do “National
hipóxia do miocárdio.
Heart, Lung and Blood Institute”, as doenças hipertensivas
• Diagnóstico: gestacionais podem ser classificadas em pré-eclâmpsia,
eclampsia, hipertensão gestacional e hipertensão crônica.
Para recém-nascidos, o método de diagnóstico se
dá, primeiramente, por meio da analise da história Define-se pré-eclâmpsia como surgimento de
pregressa materna e da execução de exame físico do hipertensão arterial sistêmica (pressão arterial sistólica
recém-nascido com excelência, observando se há sinais e maior ou igual a 140 mmHg ou pressão arterial diastólica
sintomas pertinentes a patologia. Posterior a esses igual ou acima de 90 mmHg) combinada com proteinúria
procedimentos, utiliza-se as técnicas laboratoriais com diária superior a 300 miligramas (mg) manifestadas após a
intuito de encontrar o tratamento mais eficaz através dos vigésima semana de gestação.
seguintes exames:
Eclampsia ocorre quando a PE evolui
• Tipagem sanguínea da mãe e do recém-nascido; acompanhada de crises convulsivas.
• Hemograma com contagem de reticulócitos e A hipertensão gestacional surge após a metade da
morfologia das hemácias do recém-nascido; gestação, podendo ser distinguida da PE por não
• Teste de Coombs indireto na mãe e direto no apresentar proteinúria acima de 300 mg.
recém-nascido;

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Por outro lado, a hipertensão crônica pode ser Os fatores de risco para pré-eclâmpsia incluem:
caracterizada pela elevação dos níveis tensionais acima dos
• Histórico familiar de pré-eclâmpsia;
limites citados, instalada previamente ao período
• Primeira gravidez;
gestacional, ou antes, da vigésima semana de gestação.
• Nova paternidade, ou seja: cada gravidez com um
Considera- se ainda hipertensão crônica quando a pressão
novo parceiro aumenta o risco de pré-eclâmpsia;
arterial permanece elevada após doze semanas do parto.
• Idade, sendo que o risco é maior após os 35 anos;
A causa exata da pré-eclâmpsia é desconhecida. • Gravidez múltipla;
Especialistas acreditam que ela começa na placenta - o • Intervalo de 10 anos ou mais entre as gestações.
órgão que nutre o feto durante a gravidez. No início da
A presença de outras doenças também pode aumentar o
gravidez, novos vasos sanguíneos se desenvolvem e
risco de pré-eclâmpsia, como:
evoluem para enviar eficientemente o sangue para a
placenta. Em mulheres com pré-eclâmpsia, estes vasos • Obesidade
sanguíneos não parecem desenvolver-se adequadamente. • Hipertensão
Eles são mais estreitos do que os vasos sanguíneos • Enxaqueca
normais e reagem de forma diferente à sinalização • Diabetes tipo 1 ou diabetes tipo 2
hormonal, o que limita a quantidade de sangue que pode • Doença renal
fluir através delas. • Tendência a desenvolver coágulos de sangue
(trombofilias)
As causas deste desenvolvimento anormal podem incluir:
• Doença autoimune, como a artrite reumatoide,
• Fluxo sanguíneo insuficiente para o útero esclerodermia e lúpus.
• Danos aos vasos sanguíneos • Sintomas:
• Um problema com o sistema imunológico
Você pode não notar um aumento da pressão
• Certos genes
arterial durante a gravidez até que ela esteja
• Outros distúrbios de pressão arterial elevada perigosamente alta. Assim, é fundamental para todas as
durante a gravidez. pessoas grávidas agendarem visitas regulares com obstetra
A pré-eclâmpsia é classificada como uma das quatro e para acompanhar e identificar os sintomas de pré-
doenças hipertensivas que podem ocorrer durante a eclâmpsia precocemente.
gravidez. Os outros três são: Entre os primeiros sintomas estão:
- Hipertensão gestacional. Mulheres com hipertensão - Rápido ganho de peso, de 2 a 5 quilos em uma única
gestacional têm pressão arterial elevada, mas sem excesso semana;
de proteína na urina ou outros sinais de danos em órgãos.
- Inchaço da face ou extremidades, especialmente as mãos
Algumas mulheres com hipertensão gestacional podem,
e pés.
eventualmente, desenvolver pré-eclâmpsia.
Se a pré-eclâmpsia progride, é possível observar outros
- Hipertensão crônica. A hipertensão crônica é a
sintomas, tais como:
hipertensão arterial que estava presente antes da gravidez
ou que ocorre antes de 20 semanas de gravidez. Como a • Dor de cabeça
pressão arterial elevada geralmente não tem sintomas, • Alterações da visão (visão turva, visão dupla, vendo
pode ser difícil determinar quando começou pontos de luz)
- Hipertensão crônica com pré-eclâmpsia superposta. Esta • Dor abdominal, especialmente no canto superior
condição ocorre em mulheres que têm pressão arterial direito, ou meio abdômen
elevada crônica antes da gravidez e desenvolvem o • Urinar com menos frequência
agravamento dessa pressão com presença de proteína na • Falta de ar
urina. • Náuseas ou vômitos
• Confusão

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• Convulsão. aumentada, assim como os níveis dos fatores de


• Cuidados de enfermagem: coagulação II, VII, VIII e X, e a atividade fibrinolítica está
diminuída. Além disso, ocorre a redução da velocidade do
- Orientar repouso no leito;
fluxo venoso em aproximadamente 50% nas pernas,
- Verificar peso diário da paciente em jejum e observar principalmente entre a 25ª e a 29ª semana de gestação até
edemas; a 6ª semanas após o parto, quando a taxa de fluxo volta à
- Verificar SSVV a cada 4 ou S/N; normalidade (D). Além disso, a obstrução mecânica
causada pelo útero diminuiria a capacidade e o fluxo
- Auscultar BCF de 4 em 4 horas;
venosos.
- Avaliar ingesta de líquidos e a eliminação urinária (balanço
Além da história prévia de tromboembolismo, o
hídrico);
fator de risco mais importante para trombose venosa
- Orientar a paciente a diminuir a ingesta de sal; durante a gravidez é a trombofilia (D). A maioria das formas
hereditárias de trombofilia inclui deficiência de
- Orientar a cliente a movimentos ativos no leito para
antitrombina, proteína C e proteína S, mutações do gene
melhorar a circulação;
da protrombina e fator V de Leiden, e homozigose para
- Orientar e oferecer dieta rica em proteínas; metilenotetroidrofolato redutase. A forma mais comum de
- Investigar e atentar sobre a ocorrência de cefaleia, trombofilia adquirida é o lúpus e altas concentrações de
perturbação visual, dor epigástrica e nível de consciência; anticorpos antifosfolípedes.

- Investigar sinais de parto; FATORES DE RISCO

- Orientar sobre a coleta de proteinúria. Condições Clínicas Complicações na gravidez e


parto

Cardiopatias Gestação múltipla


10. SÍNDROME TROMBOEMBÓLICA
Tromboembolismo venoso aparece como uma das Anemia Falciforme Hiperêmese
principais causas de morbimortalidade materna no mundo Lúpus Descontrole hidroeletrolítico
ocidental. Eventos tromboembólicos incluem trombose
Obesidade Hemorragia anteparto
venosa profunda (TVP) na perna, panturrilha ou pelve, e a
mais séria complicação, frequentemente causa de morte: Anemias Parto cesariano
embolia pulmonar. Além da morbidade imediatamente Diabetes Infecção pós-parto
ligada à TVP, existe uma morbidade duradoura associada à
Hipertensão Hemorragia pós-parto
síndrome pós-trombótica, como riscos de tromboses
recorrentes e ulcerações. A mulher acometida pelo Tabagismo Hemotransfusão
tromboembolismo durante a gestação está mais sujeita a
complicações na gravidez.
A trombose venosa é um diagnóstico comum e comple- 11. DOENÇAS INFECCIOSAS
xo tanto em pacientes grávidas como em não-grávidas. 11.1. AIDS
Durante a gestação, existe uma predisposição da perna es-
querda à trombose venosa profunda (aproximadamente 70 A AIDS é uma doença que representa um dos
a 90% dos casos), possivelmente causada pela exacerbação maiores problemas de Saúde Pública da atualidade, em
dos efeitos compressivos na veia ilíaca esquerda, que tem função do seu caráter pandêmico e de sua gravidade.
o cruzamento da artéria ilíaca direita sobre ela.
Os infectados pelo vírus da imunodeficiência
• Fatores de risco: humana (HIV) evoluem para uma grave disfunção do
sistema imunológico, à medida que vão sendo destruídos
A gestação é sabidamente um estado de
os linfócitos T CD4+, uma das principais células-alvo do
hipercoagulabilidade. A produção de fibrinogênio está

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vírus. A contagem de linfócitos T CD4+ é um importante O modo de transmissão se dá onde o homem adquire a
marcador dessa imunodeficiência, sendo utilizada tanto infecção por três vias:
para estimar o prognóstico e avaliar a indicação de início de
- Ingestão de oocistos provenientes do solo, areia, latas de
terapia antirretroviral.
lixo contaminado com fezes de gatos infectados;
A AIDS tem como seu agente etiológico HIV-1 e
- Ingestão de carne crua e mal cozida infectada com cistos,
HIV-2 retrovírus da família Lentiviridae, tendo o homem
especialmente carne de porco e carneiro;
como seu reservatório. O modo de transmissão do HIV se
dá por via sexual (esperma e secreção vaginal); pelo sangue Infecção transplacentária, ocorrendo em 40% dos fetos de
(via parenteral e vertical) e pelo leite materno. O período mães que adquiriram a infecção durante a gravidez.
de incubação compreende entre a infecção pelo HIV e o O período de incubação varia de 10 a 23 dias,
aparecimento de sinais e sintomas da fase aguda, podendo quando a fonte for a ingestão de carne; de 5 a 20 dias, após
variar de 5 a 30 dias. Em se tratando de AIDS, o período de ingestão de oocistos de fezes de gatos.
latência pode ser compreendido entre a fase de infecção
Como medidas de controle deve-se evitar o
aguda, até o desenvolvimento da imunodeficiência; esse
consumo de carnes cruas e/ou mal passadas (caprinos e
período varia entre 5 e 10 anos, média de seis anos.
bovinos); eliminar as fezes de gato infectados em lixo
Outros fatores de risco associados aos mecanismos de seguro; proteger as caixas de areia, para que os gatos não
transmissão do HIV são: as utilizem; lavar as mãos após manipular carne crua ou
- Tipo de prática sexual: relações sexuais desprotegidas; terra contaminada; as grávidas devem evitar o contato
direto com as fezes do gato, além de adotar as medidas já
- A utilização de sangue ou seus derivados não testados ou
citadas.
não tratados adequadamente;
- A recepção de órgãos ou sêmen de doadores não
12. CÂNCER GENITAL
testados;
A mulher paga um grande tributo em relação ao
- A reutilização de seringas e agulhas, bem como o seu câncer, pois o câncer do seu aparelho genital,
compartilhamento; especialmente do colo do útero, é o câncer que mata mais
- Acidente ocupacional durante a manipulação de no mundo. Está em 1º lugar nos países subdesenvolvidos,
instrumentos perfuro-cortantes, contaminados com já tendo ocupado o 1° lugar nos países desenvolvidos,
sangue e secreções de pacientes; estando hoje em 3º ou 4º, devido aos programas de
prevenção em massa, desenvolvidos por esses países.
- Gestação em mulheres HIV positivo (fator de risco para o
concepto). É impressionante o alto número de mulheres que
chegam para consulta especializada, já nas fases finais,
11.2. TOXOPLASMOSE onde a cura não é mais possível, devido à ignorância da
paciente, à falta de orientação do médico que a examinou
Trata-se de uma zoonose cosmopolita, causada por pela 1ª vez e também em virtude da falta de recursos para
protozoário. Apresenta quadro clínico variado, desde procurar o tratamento especializado.
infecção assintomática a manifestações sistêmicas
Veremos, a seguir, as diferentes localizações do câncer no
extremamente graves. Do ponto de vista prático, é
aparelho genital feminino:
importante fazer uma distinção entre as manifestações da
doença, aqui abordaremos a forma da Toxoplasmose na
12.1. COLO DO ÚTERO
gravidez. Haja vista que a infecção da mãe é usualmente
assintomática, geralmente não é detectada. Por isso. Tem- São considerados fatores de risco no câncer do colo
se sugerido a realização de testes sorológicos na gestação, uterino a condição sexual, e a condição socioeconômica. O
durante o acompanhamento pré-natal. Quando se realiza o início precoce da vida sexual, a maternidade precoce, o
diagnóstico, deve ser instituída a quimioterapia adequada. grande número de filhos, e a promiscuidade sexual com

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múltiplos parceiros, são os principais fatores de risco Os exames preventivos, que devem ser anuais,
englobados na condição sexual. Quanto mais precoce for o constam da colposcopia, da citologia, e da anatomia
início da vida sexual, quanto mais baixa for a idade da patológica quando necessário. A colposcopia serve para
primeira gravidez, quanto maior for o número de filhos e localizar e identificar no colo uterino, e com extrema
quanto maior for o número de parceiros sexuais, maior margem de segurança as lesões chamadas de pré-malignas,
será a incidência de câncer do colo uterino. dirigindo a biópsia para as zonas suspeitas e diferenciando
as lesões benignas das malignas e pré-malignas.
A condição social está representada pelo baixo
nível socioeconômico, que conduz à baixa condição de A citologia estuda as modificações das células do colo
higiene corporal e principalmente à higiene genital uterino, descobrindo com exatidão as modificações que
inadequada. A baixa condição social é também responsável essas células apresentam na fase pré-maligna. É um
por todo o aspecto sexual, porque a pobreza e a ignorância método de extrema facilidade e rapidez, na coleta do
são fatores determinantes de todas as condições sexuais material, de custo barato e de resultados exatos.
apresentadas. A falta de higiene genital da mulher -
As células que descamam do colo do útero e são
acrescida da falta de higiene genital dos múltiplos parceiros
examinadas pela citologia, começam a se modificar de 10 a
- é responsável pelo aumento do número de processos
15 anos antes de um câncer se tornar invasivo, portanto
inflamatórios especialmente por vírus, atualmente
tempo demais suficiente para se fazer um exame
considerados com um importante fator de risco para
preventivo, descobrindo-se o câncer na fase pré-maligna,
câncer do colo.
obtendo-se cura total a custos extremamente baixos.
De um modo geral, o câncer do colo uterino incide
A biópsia, ou melhor, o exame anatomopatológico só
principalmente em:
é realizada nos casos de malignidade e de lesões pré-
1. Mulheres de países subdesenvolvidos (em oposição malignas.
àquelas dos países desenvolvidos);
12.2. ENDOMÉTRIO
2. Mulheres de baixa condição socioeconômica (a
incidência é menor entre as mulheres de classes mais Quanto ao endométrio, que é a mucosa que
favorecidas); reveste a cavidade interna do útero, a prevenção não é
3. Mulheres da zona rural que nas da área urbana; possível; entretanto, o diagnóstico precoce é essencial para
a cura da paciente. O câncer do endométrio ocupa, nos
4. Não virgens (que nas virgens);
países desenvolvidos, o 1º lugar entre as diversas
5. Mulheres que tiveram muitos filhos, com pouca localizações do aparelho genital feminino, nos países
incidência entre aquelas que tiveram poucos filhos ou desenvolvidos. No Brasil ele está situado em 4º lugar entre
não os tiveram; as localizações genitais.
6. Mulheres que pariram em idade precoce, ao invés das Há um aumento gradativo do número de pacientes
que pariram em idade adiantada; portadoras de câncer do endométrio nos últimos anos,
7. Mulheres que tiveram relação sexual precoce; devido ao aumento da expectativa de vida; visto que o
câncer do endométrio é um câncer da mulher idosa, e
8. Mulheres que têm hábitos higiênicos precários; também devido ao aumento significativo do uso
9. Nas fumantes que nas não fumantes; prolongado e indiscriminado dos hormônios estrogênicos
para o tratamento do climatério e da menopausa.
10. Por último mais nas mulheres que tiveram múltiplos
parceiros sexuais, principalmente em idade precoce, e Existe um grupo de mulheres onde a incidência de
todos esses fatores estão aumentados naquelas com câncer do endométrio é bem maior, e essas mulheres são
processos inflamatórios vaginais produzidos pelo consideradas pacientes de alto risco. São considerados
papiloma vírus humano, conhecido como HPV. fatores de risco: a idade, porque é uma doença da mulher
idosa; a alimentação porque é mais constante em mulheres

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com maior ingestão de gordura. É também mais comum brancas, avermelhadas ou cinzentas; sendo as brancas (em
nas mulheres que tiveram uma menarca precoce e uma maior número), conhecidas como distrofia vulvar crônica,
menopausa tardia, além daquelas que não tiveram filhos. tendo como sintoma principal um prurido intenso, de longa
Ainda como fator de risco está o uso prolongado e duração e de tratamento difícil, que, com o coçar
indiscriminado, em altas doses, dos hormônios constante, leva ao surgimento de ulcerações. Somente 10%
estrogênicos para o tratamento da reposição hormonal da dessas lesões podem chegar a um câncer de vulva.
menopausa.
As verrugas da vulva conhecidas como condiloma e
O câncer do endométrio vem sempre produzidas por vírus, chamado de papiloma vírus humano,
acompanhado pela hipertensão, diabetes e obesidade, que o HPV ou papova vírus, são hoje consideradas como
também são considerados fatores de risco. precursoras do câncer da vulva. O condiloma é transmitido
essencialmente pelas relações sexuais e considerado
O diagnóstico precoce deve ser procurado,
atualmente como a doença sexualmente transmissível
fazendo-se, anualmente, depois dos 40 anos, uma
mais importante como indutora e causadora do câncer da
ultrassonografia do útero. Após a menopausa, qualquer
vulva e colo uterino.
perda sanguínea pela via vaginal deverá ser logo
investigada para a descoberta precoce de qualquer lesão O acompanhamento dessas lesões faz-se com uma
pré-maligna ou já maligna em fase inicial. vulvoscopia, ou seja, um exame realizado pelo colposcópio,
que é um aparelho ótico para localizar essas lesões e
O uso prolongado de pílulas anticoncepcionais que
realizar uma biópsia, se necessário. A patologia do raspado
contenham progestogênio diminui bastante os casos de
dessas lesões é também realizada para complementar-se o
câncer do endométrio.
diagnóstico. Todos os sinais, todas as verrugas e lesões
12.3. OVÁRIO coloridas da vulva deverão ser examinados, e biopsiados,
principalmente se acompanhados de um prurido intenso e
O câncer do ovário não pode ser considerado como de difícil tratamento.
pouco frequente. Nos Estados Unidos ocupa o 3º lugar,
atrás da mama e endométrio. É o câncer que apresenta o
13. ROTURA UTERINA
menor índice de cura entre as localizações genitais, pois a
Ruptura uterina (ou rotura uterina) é o rompimento
localização profunda dos ovários na pélvis feminina impede
lento e progressivo, total ou parcial, das paredes do útero,
o diagnóstico precoce, sendo o diagnóstico possível
o que mais frequentemente ocorre durante o parto. No
quando o tumor já é de grande tamanho, com extensa
entanto, essa complicação não ocorre apenas durante o
invasão.
parto, pode acontecer também durante a gestação.
Um exame ginecológico anual, em mulheres com
Nesse caso a cavidade abdominal e uterina entram
mais de 40 anos, e uma ultrassonografia transvaginal são
em comunicação e há extrusão do feto ou de partes dele.
os meios capazes de descobrir um tumor ainda em fase
Trata-se de uma das complicações obstétricas mais
inicial e propiciar a cura. O uso contínuo e prolongado de
temidas da gravidez porque representa risco de vida tanto
pílulas anticoncepcionais tem um efeito protetor para o
para o feto quanto para a mãe.
ovário, e quanto maior for o período de uso, menor será a
incidência de câncer do ovário. • Causas da ruptura uterina:
A ruptura uterina ocorre devido a um aumento de
12.4. VULVA
pressão no interior do útero, seja pelas contrações uterinas
Os tumores malignos da vulva são considerados durante o trabalho do parto (o mais comum) seja pelo
pouco frequentes. O câncer da vulva é uma doença da crescimento do próprio feto, durante a gestação. Ela pode
mulher idosa, pois sua grande incidência ocorre depois da dever-se a condições inerentes ao parto e aos
menopausa. A vulva apresenta - assim como o colo do procedimentos obstétricos, tais como desproporção
útero - lesões consideradas pré-malignas. São lesões cefalopélvica e parto obstruído, por exemplo, ou ser

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facilitada por fatores ligados à gestante: um grande 14. LACERAÇÕES DO TRAJETO


número de partos anteriores; cirurgias uterinas prévias No Brasil, a cada ano, aproximadamente 1,5 milhões de
(inclusive cesariana), etc. mulheres têm parto vaginal e a maioria delas sofre algum
tipo de trauma perineal, seja por episiotomia ou lacerações
Outros fatores que podem levar à ruptura uterina
espontâneas, estando sujeitas à morbidade associada a
são: traumas e cicatrizes uterinas, malformações
este trauma.
congênitas do útero, doenças uterinas diversas,
desnutrição, polidrâmnio (aumento do líquido amniótico), Entre as principais morbidades estão a dor perineal
tumores, curetagens mal feitas, dentre outros. e o sangramento aumentado. Nesses casos, devido à
urgência, os traumas perineais muitas vezes são suturados
• Sinais e sintomas:
sem a boa visualização do local, podendo produzir
Se a ruptura ocorre no início da gestação, a acidentes, com lesão no trato geniturinário e nas estruturas
paciente apresentará um quadro de abdome agudo, com do assoalho pélvico (AP), causando hipermobilidade uretral
dor intensa e sinais de sangramento interno. Se ocorre mais e prolapso genital. Após o parto, também podem surgir
tarde durante a gestação pode ser pouco sintomática e hematúria, incapacidade vesical e incontinência urinária.
evoluir aos poucos, causando uma dor abdominal
A episiotomia também é fator de risco significante
imprecisa e sangramento vaginal.
para as lacerações perineais de terceiro grau ou quarto
Quando ocorre durante o trabalho de parto, graus, que podem estar associadas aos danos do AP. Além
geralmente se apresenta com dor súbita e bem localizada disso, considera- se que a episiotomia está fortemente
no abdome, interrupção do parto e as repercussões do associada à incidência de hemorragia pós-parto e o seu uso
grande sangramento causado pela rotura. rotineiro não está relacionado à redução da morbidade
Existem casos em que a rotura se dá apenas em materna e fetal.
alguma das camadas do útero, mas não em todas: ruptura Considerando os problemas em curto prazo (perda
incompleta. Nestes casos os sintomas são menos intensos sanguínea, necessidade de sutura e dor perineal) e em
e na maioria das vezes a situação só é reconhecida após o longo prazo (disfunções intestinais, urinárias e sexuais),
parto. Uma ruptura até então incompleta pode tornar-se associados ao trauma perineal no parto, sua redução é uma
completa no momento do parto. prioridade para as mulheres e os profissionais que as
• Tratamento: assistem. Assim, informações sobre sua ocorrência podem
contribuir para a assistência ao parto com menores taxas
Nas pacientes com prole já constituída pode ser de trauma perineal.
feita uma histerectomia parcial ou total. Nas mulheres que
desejam ter mais filhos, pode ser feita uma sutura uterina. • Cuidados de enfermagem:
Uma cesariana de urgência pode tentar extrair o feto ainda - Lavar as mãos antes e depois dos cuidados com a
vivo e, posteriormente, proporcionar ao obstetra as episiorrafia;
condições para fazer a sutura do útero. A administração de
- Realizar uma higiene genital cuidadosa, lavando com água
antibióticos deve ser feita logo a seguir. Uma transfusão de
e sabão ou com água fervida com sal e enxaguar com
sangue também pode ser necessária.
bastante água 2 a 3 vezes por dia;
• Prevenção:
- Deve-se evitar as duchas vaginais;
A fim de diminuir os riscos de ruptura uterina deve-
- Ter o cuidado de manter o períneo seco para evitar a
se observar um intervalo entre os partos de, no mínimo,
proliferação de infecções;
dois anos.
- Em um processo de boa cicatrização não é necessário o
A paciente deve fazer um acompanhamento pré-
uso de antisséptico;
natal em que os fatores de risco sejam corretamente
avaliados e seus possíveis efeitos sejam minimizados. - Orientar o aporte de vitaminas e minerais necessários
assim como os analgésicos;

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- Caminhar diariamente e iniciar exercícios físicos com a As manifestações clínicas desta condição variam de
episiorrafia; acordo com o local da infecção e com a extensão do
processo infeccioso. A paciente pode apresentar febre,
- Evitar esforços físicos que comprometam o períneo;
calafrios, mal-estar geral, palidez e freqüência cardíaca
- Orientar uma alimentação adequada e rica em fibras acelerada. Além disso, há dilatação uterina, passando o
aliada a ingesta hídrica para tornar o processo de útero a ficar flácido e dolorido, e expulsando uma secreção
evacuação menos sofrido devido a constipações intestinais que, habitualmente, apresenta odor desagradável. Nos
e hemorroidas comuns nestes casos; casos de infecção dos tecidos circunjacentes ao útero, há
- Recuperação do pavimento pélvico pós-parto; dor e febre intensas.

- Realizar exercícios de Kegel (contrações seguidas de Distintas complicações podem ocorrer em casos de
relaxamento dos músculos do períneo); infecção após o parto, como:

- Fortalecer os grupos musculares afetados durante a • Peritonite;


gravidez e o parto, com ginástica localizada para os • Tromboflebite pélvica;
músculos peitorais, das costas e abdominais, a partir da 4ª • Embolia pulmonar;
semana após o parto. • Endotoxemia, que pode levar a um choque séptico;
• Lesão renal grave;
• Morte.
15. INFECÇÃO PUERPERAL
• Diagnóstico:
A infecção puerperal é aquela que afeta o aparelho
genital feminino no período pós-parto. Estima-se que entre O diagnóstico de infecção puerperal é obtido por meio
1% a 7,2% das gestantes apresentam esta afecção nesse de exame clínico, levando em consideração os sinais e
período, sendo, no Brasil, uma das principais causas de sintomas que a paciente evidencia, como, febre dentro das
morte materna. primeiras 48 horas após o parto. O exame de sangue revela
uma taxa elevada de leucócitos e a cultura da secreção
• Causas e os fatores de risco
uterina ou vaginal aponta o agente causador da infecção.
• Infecção da ferida pós-operatória, tanto no caso de
cesariana quanto de episiotomia; As possíveis complicações decorrentes da infecção
• Presença de celulite perineal; puerperal podem ser identificadas através de exame
• Retenção de restos de membranas gestacionais no clínico, podendo, em alguns casos, serem confirmadas
útero; através de exames de imagem.
• Infecção do trato urinário; • Tratamento:
• Sepse da flebite pélvica;
O tratamento é feito por meio da administração
• Mastite;
intravenosa de antibióticos de amplo espectro, sendo
• Deficiência nutricional;
estendido por 48 horas após o desaparecimento da febre.
• Diabetes;
Outros fármacos que também podem ser utilizados
• Obesidade.
incluem analgésicos para suspender a dor; antissépticos
Os agentes patogênicos encontrados na infecção nos casos de lesões locais; e anti-eméticos para as náuseas
puerperal podem ser de fonte endógena e exógena. No e vômitos no caso de haver peritonite.
primeiro caso, os mais comumente encontrados são as
O tratamento suporte consiste no repouso,
bactérias Escherichia coli e Streptococcus faecalis; já no
ingestão adequada de líquidos, fluidoterapia (quando
segundo casos, a bactéria anaeróbica Clostridium sp. é a
necessário) e medidas para abaixar a febre. Algumas
mais frequente.
medidas podem aliviar o desconforto causado por lesões
• Sinais e sintomas: locais, como é o caso dos banhos de assento. Caso haja
membranas fetais remanescentes, a cirurgia pode ser
necessária para removê-las, bem como pode ser necessária

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para drenar lesões locais. Outra opção é a realização de


histerectomia, quando necessário.

REFERÊNCIAS
BENSON R. C. - Handbook of Obstetrics & Ginecology, 8-th
edition ed. Lange 1983.
BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS. Nascidos vivos.
Brasil. Nascimento por residência da mãe segundo Região.
Tipo de parto: vaginal, 2007 [citado em 6 abr 2010].
Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/n
vuf.def>. Acesso em: 21 jan. 2015.
GARNER E.I, GOLDSTEIN D.P, FELTMATE C.M, BERKOWITZ
R.S. Gestational Trophoblastic Disease. Clin Obstet
Gynecol. 2007;50(1):112-22.

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