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Unidade de Ensino: 01

Competência da Unidade: Compreender os conceitos iniciais e basilares


Teoria Geral do acerca do sistema constitucional vigente, bem como os mecanismos de
interpretação aplicáveis e suas variáveis.
Direito Resumo: Será abordado o histórico e fundamentos do constitucionalismo
Constitucional brasileiro, bem como os fundamentos filosóficos e políticos da CF/88. Ao final,
trataremos da mutação constitucional e da interpretação da Constituição.
Palavras-chave: Constitucionalismo; Constituição; Mutação; Reforma.
Constituição e Hermenêutica
Título da Teleaula: Constituição e hermenêutica
Prof. Me. Alexandre Guimarães Melatti Teleaula nº: 01

Contextualização
• Quais são os fundamentos do constitucionalismo
brasileiro?
• Quais são os fundamentos que norteiam a
Introdução
Constituição Federal de 1988?
• O que é mutação e reforma constitucional?
• Como se interpreta a Constituição?

Introdução Introdução
A Constituição é a norma fundamental e suprema que Sociológico – Lassale
rege a organização e o funcionamento do Estado.
• para ser real Constituição, a norma deve refletir a soma
dos fatores reais de poder, que são os elementos sociais,
É fundamento de validade de todas das normas do ou seja, a vontade social.
nosso sistema jurídico. Ela está no centro do nosso
ordenamento jurídico irradiando seus efeitos e Político – Carl Schmitt
devendo ser observada por todos os outros atos
normativos infraconstitucionais, sejam eles leis • a Constituição é uma decisão política fundamental, obra
ordinárias, leis complementares, decretos, medidas do poder constituinte, que deve refletir a decisão de
provisórias, resoluções, regulamentos, portarias etc. governo, relativas a direitos fundamentais, princípios
fundamentais e organização política do Estado.
Introdução Introdução
Jurídico – Hans Kelsen
• A Constituição é a norma jurídica pura, que não
se vincula a valores sociológicos, políticos ou
filosóficos, dotada de eficácia jurídica per se.
• Considerada norma hipotética fundamental
(norma imaginada, pressuposta, que não possui
fundamento de validade próprio), tem-se o
sentido lógico-jurídico de Constituição.

Histórico
1824:
• Primeira Constituição, outorgada por D. Pedro I, por
Histórico das ocasião da independência; estabelecia a forma
Constituições monárquica de governo e o chamado Poder
Moderador.
brasileiras 1891:
• Promulgada diante da proclamação da república,
instituiu o presidencialismo e reconheceu a soberania
popular.

Histórico Histórico
1934: 1946:
• Surgiu na Era Vargas e preocupou-se com direitos • Promulgada após a queda de Vargas, enfraquecido pela
sociais, voltados à população e aos trabalhadores. derrocada do autoritarismo no final da 2ª Guerra Mundial;
tratou das liberdades individuais.
1937: 1967:
• Marcou o início do Estado Novo, mostrando-se • Outorgada a fim de legitimar o regime militar estabelecido
tendente ao autoritarismo, pela concentração de em 01/04/1964; trouxe retrocessos no campo da
poderes na figura do Executivo, tendo sido democracia, ao permitir a edição de Ais-Atos Institucionais
outorgada. pelo Executivo, que era eleito a partir do voto indireto.
Histórico
1988:
• Promulgada – Marcou a reabertura democrática Classificação
do país, com a instituição de eleições diretas, o
equilíbrio de poder entre Executivo, Legislativo e
Judiciário e a consagração de uma série de
direitos e garantias fundamentais, individuais e
sociais, além de estabelecer fundamentos e
objetivos à república.

Classificação Classificação
ELABORAÇÃO > EXTENSÃO >
• SINTÉTICA ou ANALÍTICA.
• HISTÓRICA ou DOGMÁTICA.
ALTERABILIDADE >
FORMA >
• FLEXÍVEL ou RÍGIDA
• ESCRITA ou NÃO ESCRITA (costumes). • ou SEMIRRÍGIDA ou PARCIALMENTE IMUTÁVEL (cláusulas
pétreas).
ORIGEM > CONTEÚDO >
• PROMULGADA; OUTORGADA; CESARISTA; PACTUADA. • MATERIAL ou FORMAL.

Classificação
CF 1988:
Alteração do sistema
•A CF/88 classifica-se como:
dogmática, escrita, promulgada, de governo
analítica, rígida* e formal ou
material (tendência para um
critério misto – EC 45/2004
Descrição da situação-problema Problematização da situação-problema
 A CF em vigência foi promulgada em 1988, marcando a  Diante das transformações políticas ocorridas
reabertura democrática do Brasil, depois de mais de duas
décadas de um regime autoritário. nos últimos 30 anos, desde sua origem, seria
 Não à toa que seu texto mostra-se permeado de valores ecléticos possível alterar o texto constitucional a fim de
e plurais e marcado por uma série de direitos e garantias que promover a mudança radical do sistema de
sequer admitem restrição.
governo proposta (presidencialismo X
 A CF/88 estabeleceu como sistema de governo o
presidencialismo, mas, sempre que se fala em reforma política é parlamentarismo)?
levantada a hipótese de alteração do sistema de governo para o
parlamentarista.

Resolução da situação-problema
 Por não se tratar de cláusula pétrea, o sistema
presidencialista poderia ser alterado por EC
em favor do modelo parlamentarista, embora O sistema
configure drástica e profunda alteração do parlamentarista seria
status quo político.
 No entanto, como a CF/88 é RÍGIDA, sua
interessante para o
alteração implica na observância de Brasil?
procedimento bem mais complexo e de
quórum bastante qualificado.

Regras e princípios

As normas jurídicas podem ser


Princípios classificadas em REGRAS e PRINCÍPIOS,
segundo a doutrina:
fundamentais,
• PRINCÍPIOS: mandamentos nucleares de um sistema,
fundamentos e são abrangentes, e orientam a interpretação e
aplicação das regras que a eles se vinculam;
objetivos da • REGRAS: são objetivas, com menor espaço
República interpretativo, visando a conformação específica de
uma situação concreta ao modelo jurídico proposto.
Princípios fundamentais Princípios fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada FEDERAÇÃO: forma de estado, implica em:
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e • Autonomia (financeira/administrativa/política)
do Distrito Federal, constitui-se em Estado
• dos entes da federação: U, E, DF e M;
Democrático de Direito [...]
• Rígida repartição de competências;
• REPÚBLICA: forma de governo, implica em: • Possibilidade de intervenção federal como garantia de
• ▪ Democracia representativa (art. 1º, par. ún.); funcionamento do modelo federativo:
• ▪ Eletividade;
• ▪ Periodicidade (art. 60, § 4º, II);
• Inexistência de secessão;
• ▪ Responsabilidade • Nacionalidade unificada;
• (adm. Pública;). • Constituição singular.

Princípios fundamentais Separação de Poderes

ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: regime Art. 2º São poderes da União,


de governo adotado pelo Poder Constituinte
Originário, que pode ser compreendido como: independentes e harmônicos entre si,
o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
• Estado DEMOCRÁTICO: pressupõe a supremacia da
vontade e do poder do povo, como elemento de • “FREIOS E CONTRAPESOS” –
legitimação das decisões políticas;
• Cada esfera do Poder atua com autonomia, no
• Estado de DIREITO: “império das leis”, situando a
legislação democraticamente produzida, acima de toda exercício de funções típicas, mas também pode
e qualquer figura, cargo ou instituição. exercer funções atípicas, a fim de fiscalizar.

Separação de Poderes: funções típicas e atípicas Fundamentos da República


LEGISLATIVO: típica: legisla; atípicas: administra seu próprio • SOBERANIA: expressão máxima de poder no plano
orçamento e repartições, além de julgar o processo de interno, e independente no plano externo.
impeachment (presidente, ministros). • CIDADANIA: integração dos indivíduos e titularização
dos direitos e deveres previstos pela ordem
EXECUTIVO: típica: administra; atípicas: participa do processo constitucional.
legislativo (sanção ou veto e MP por ex.), julga seus próprios • DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: valor de
processos administrativos (exoneração de funcionários, etc.).
orientação na interpretação e aplicação normativa.
• VALORES SOCIAIS [...]: equilíbrio entre o trabalho e a
JUDICIÁRIO: típica: julga; atípicas: participa do processo
legislativo, edita suas próprias normas (portarias, resoluções) livre iniciativa.
e possui autonomia administrativa. • PLURALISMO POLÍTICO: modelo eclético e plural de
sociedade.
Objetivos da República
Não se trata de meta concreta a ser atingida em
curto prazo; constituem um “horizonte ético” a
guiar toda a atividade e postura estatal: Mutação
• I. Construir uma sociedade livre, justa e solidária; constitucional e
• II. Garantir o desenvolvimento nacional;
• III. Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as Estrutura da CF
desigualdades sociais e regionais;
• IV. Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.

Poder Constituinte Mutação constitucional

A Constituição é a base para toda a estruturação Nem sempre ocorre formalmente; pode-se manter
do Estado – inclusive serve de fundamento de o texto, mas, mudar a INTERPRETAÇÃO e,
legitimação para os poderes Legislativo, Executivo consequentemente, o SENTIDO extraível do texto;
e Judiciário – não poderia ser criada por um poder em certos casos, a mudança pode conferir sentido
por ela própria constituído. Disso, surge o: diametralmente oposto a um mesmo enunciado
normativo, em relação a interpretações passadas.
• PODER CONSTITUINTE, que é capaz de CRIAR a constituição
(bem como, a partir dela, a própria realidade política e jurídica • A este fenômeno, a doutrina convencionou chamar de
concernente ao Estado) e de ALTERAR o texto constitucional. MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL, observável em certas decisões
• Há, portanto, poder constituinte ORIGINÁRIO e DERIVADO. proferidas pelo Judiciário, notadamente pelo STF.

Mutação constitucional Mutação constitucional

Julgamento da ADI 4277 + ADPF 132 pelo STF: Julgamento da ADI 4277 + ADPF 132 pelo STF:
reconhecimento, por unanimidade, da união reconhecimento, por unanimidade, da união
homoafetiva como união estável válida para fins homoafetiva como união estável válida para fins
de reconhecimento jurídico pelo Estado, de reconhecimento jurídico pelo Estado,
ocasionando a MUTAÇÃO dos dispositivos ocasionando a MUTAÇÃO dos dispositivos
constitucionais atinentes ao tema: constitucionais atinentes ao tema:
• ▪ Art. 226, § 3º: Para efeito da proteção do Estado, é • ▪ Art. 226, § 3º: Para efeito da proteção do Estado, é
reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como
entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
casamento. casamento.
Estrutura da CF: preâmbulo Estrutura da CF: ADCT
A avaliação do preâmbulo da CF pode ser feita a O ADCT – Ato das Disposições Constitucionais
partir de diferentes teorias:
Transitórias (espécie de “anexo”) finalidade de
• TEORIA POLÍTICA: ou “teoria da irrelevância” prega que o atender situações decorrentes da transição
preâmbulo constitui mero discurso político sem caráter
vinculativo. É a teoria adotada pelo STF (ADI 2076, p. ex.).
entre a ordem constitucional anterior e a atual,
• TEORIA JURÍDICA: ou “teoria da plena eficácia”, entende que e disciplinar questões que eventualmente se
o preâmbulo, à semelhança do restante do texto perpetuassem ao longo do tempo.
constitucional, possui força normativa.
• TEORIA ESPECÍFICA: ou “teoria da relevância jurídica”, • É pacífico o entendimento de que, a ele, aplica-se a TEORIA
entende que o preâmbulo é fonte de princípios JURÍDICA, conferindo força normativa a todos os seus
interpretativos ao restante do texto. dispositivos.

Interpretação e hermenêutica
O ordenamento jurídico – e a CF – são compostos
por ENUNCIADOS NORMATIVOS (disposições
Métodos, limites, textuais) que precisam se submeter a um processo
princípios e regras de INTERPRETAÇÃO para que se extraia o SENTIDO
(a verdadeira NORMA JURÍDICA) a ser aplicado no
de interpretação caso concreto em análise.
constitucional • É possível afirmar que a construção das normas jurídicas depende
da interpretação.
• A HERMENÊUTICA JURÍDICA é a ciência que se dispõe a estudar
este processo de interpretação e construção.

Métodos de Interpretação Métodos de Interpretação


JURÍDICO (HERMENÊUTICA CLÁSSICA): CIENTÍFICO-ESPIRITUAL:
• o texto constitucional deve ser interpretado como • compreende o texto constitucional como ferramenta de
uma lei, estando o intérprete limitado ao texto, integração política e social; há valorização das questões
valendo-se de elementos literais, sistemáticos, sociais e demandas comunitárias, que norteiam a
interpretação dos enunciados normativos relevantes ao
históricos e teleológicos. caso.
TÓPICO-PROBLEMÁTICO: HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR:
• prioriza o estudo do caso sobre o do texto; • situa a norma acima do problema, pela valorização do
centralização do problema. elemento Subjetivo (pré-compreensão do intérprete).
Métodos de Interpretação Princípios de interpretação

NORMATIVO-ESTRUTURANTE: Podem ser compreendidos como distintas


“ferramentas” à disposição do intérprete,
• traça uma dissociação entre o texto para que seja capaz de realizar a
normativo e a figura da realidade interpretação de forma adequada e
concreta, que permanece oculta completa.
(domínio normativo); a interpretação • UNIDADE: texto constitucional é uno e indivisível; NÃO
deve considerar ambas as esferas pode haver inconstitucionalidade interna, nem mesmo
primazia ou submissão de um dispositivo const. sobre
(texto e realidade). outro.

Princípios de interpretação Princípios de interpretação


MÁXIMA EFETIVIDADE: Existem, ainda, diversos outros princípios
• dentre os diversos sentidos extraíveis de um mesmo elencados pela doutrina, valendo citar:
enunciado constitucional, o intérprete deve optar por
aquele que lhe confira maior abrangência e significado, • EFEITO INTEGRADOR;
observada a compatibilidade com o restante do texto da
Constituição. • JUSTEZA ou CORREÇÃO FUNCIONAL;
• HARMONIZAÇÃO;
FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO: • INTERPRETAÇÃO CONFORME (INTERNA E EXTERNA);
• todos os dispositivos constitucionais se revestem de força • PODERES IMPLÍCITOS;
normatizante a vincular a postura pública e privada, sendo
inclusive invocáveis, subjetiv. • SUPREMACIA CONSTITUCIONAL; ETC.

Apresentação da SP
No que se refere à estrutura textual da CF/1988,
sabemos que ela é composta de: texto principal, ADCT
Preâmbulo – Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, e do
próprio preâmbulo.
Nesse sentido, surgem as seguintes questões:
▪ O preâmbulo da Constituição possui força normativa?
Ele pode ser alterado por meio de EC?
Resolução da SP
• A análise do preâmbulo pode ocorrer a partir de
diferentes teoria. Se considerarmos a TEORIA
POLÍTICA, ou TEORIA DA IRRELEVÂNCIA, Qual a importância do
aplicada pelo STF, podemos afirmar que o princípio da separação dos
preâmbulo NÃO possui força normativa, poderes?
constituindo mero discurso político para registro
histórico.
• Por integrar o texto constitucional, NÃO existem
óbices formais à sua alteração por meio de EC
nos moldes previstos pelo art. 60.

Recapitulando

Recapitulando... • Classificação das Constituições


• Princípios, fundamentos e objetivos da República
• Mutação constitucional
• Interpretação constitucional

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