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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE

DO SUL - CAMPUS OSÓRIO


CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

RELATÓRIO DE PRÁTICA DE ENSINO SOBRE CURRÍCULO, PLANEJAMENTO E


AVALIAÇÃO
O documento curricular da E.S.F

Paulo Henrique Teixeira Moreira


Professora Dra Aline Dubal Machado

Osório
Novembro de 2023
CONTEXTUALIZAÇÃO

A prática de ensino foi realizada com base no Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola
Estadual de Educação Básica Sol na Fazendinha, com a turma do 6º e 7º ano do Ensino
Fundamental. É uma escola de pequeno porte situada na área rural do município de Santo Antônio
da Patrulha, com 60 anos de existência, não possui Ensino Médio, somente Ensino Fundamental,
seu quadro total são doze (12) funcionários , sendo dez (10)professores no seu corpo docente,
incluindo a diretora e supervisora educacional, a merendeira e a auxiliar de serviços gerais. Devido
ao baixo número de alunos matriculados as turmas são multisseriadas por não haver alunos
suficientes para uma única turma. Possui atualmente corpo discente de 50 alunos, divididos
conforme abaixo:
● 21 alunos nas séries iniciais, do 1º ao 5º ano, sendo 1 aluno com laudo de avaliação médica
Transtorno do Espectro Autista (TEA);
● 6 alunos no 6º ano; sendo 1 aluno com laudo transtorno do déficit de atenção com
hiperatividade (TDAH)
● 9 alunos no 7º ano; sendo 2 alunos com laudo transtorno do déficit de atenção com
hiperatividade (TDAH)
● 8 alunos no 8º ano; sendo 1 aluno com laudo transtorno do déficit de atenção com
hiperatividade (TDAH)
● 6 alunos no 9º ano.

A escola em sua infraestrutura possui:


● 4 salas de aula com quadro negro e giz
● 1 sala da direção (utilizada pela diretora e a supervisora educacional)
● 1 laboratório de informática ( com 2 computadores e 10 chromebooks para os alunos e um
data show)
● 1 sala de biblioteca com os livros didáticos de cada ano e um pequeno acervo
● 3 banheiros (sendo 2 para os alunos e 1 para os professores)
● 1 quadra de esportes sem cobertura
● 1 sala de cozinha
● 1 refeitório para 25 alunos
● 1 pátio sem cobertura para recreação
● 1 saguão coberto
● 2 dispensas (1 para alimentos e 1 para produtos de limpeza).
Segundo a solicitação de construção do relatório, ao me direcionar a escola, fui bem
recebido pela diretora, que previamente havia conversado via aplicativo de mensagens instantâneas,
que me encaminhou para a supervisora escolar que também foi muito solícita e prontamente me deu
acesso ao PPP da escola.

CURRÍCULO

A escola usa o Referencial Curricular Gaúcho (RCG) e a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) como estrutura para os conteúdos e competências. Cada turno possui 5 períodos com 45
minutos cada. Estão previstos para a disciplina de matemática 166 períodos para as turmas do 6º e
7º ano. O PPP da escola indica que seguem uma linha Vygotskyana, a partir dos conceitos de
mediação e interação pautados pelo professor, mas na prática o que presenciei nas duas visitas à
escola, assim como no acompanhamento das aulas e na conversa com a professora de matemática
foi uma prática do currículo tradicional, com muita ênfase na educação bancária, criticada por
Freire (1968). Assim, entende-se que, currículo não é algo neutro, universal ou imóvel, mas sim
gerador de conflito para preparar o educando para tomadas de decisões e com isso gerar opções para
que a escola possa exercer seu papel de orientar (não manipular ou induzir) o caminho deste(a)
aluno(a). Por que uma linha de Vygotsky se aplica no currículo crítico e pós crítico, pois buscam
resultados conforme Johnson (1967, p. 127-140) “é uma estrutura de resultados buscados na
aprendizagem”, também o que será desenvolvido com a ajuda da escola, conforme Kearney e Cook
(1969, p.5) “são todas as experiências que os estudantes desenvolvem sob a tutela da escola”, e
também desenvolver o exame crítico, conforme Stenhouse (1995, p.5) “é um intento de comunicar
os princípios essenciais de uma proposta educativa de tal forma que fique aberta ao exame crítico e
possa ser traduzida efetivamente para a prática”.
O que foi presenciado nas aulas de matemática foram alunos que passam para os anos
seguintes com dúvidas e não conseguindo assimilar os conteúdos dos anos anteriores, sem nenhuma
mediação da professora que também por estar dando aula para o 6º e 7º ano na mesma sala, não
consegue desenvolver seu conteúdo e ajustar os déficits de aprendizagem dos anos anteriores de
seus alunos. Neste momento, a escola se desvia de seu propósito do PPP e passa a praticar um
currículo tradicional, pois a docente não consegue dar conta de todo o conteúdo e começa depositar
a matéria nos alunos, que fingem estar aprendendo, na realidade somente recebendo o conteúdo sem
devida compreensão, conforme Freire (2000, p.101) “é puro treino, é pura transferência de
conteúdo, é quase adestramento, é puro exercício de adaptação ao mundo” e se o educando não
compreende a culpa não é do professor, mas sim do próprio aluno que não prestou atenção, sendo
mais fácil culpar o aluno a admitir que o professor não conseguiu alcançar aquele(s) aluno(s).

PLANEJAMENTO

O ano escolar é dividido em trimestre e para a disciplina de matemática são 15 períodos


semanais, com 45 minutos cada. Possui também o Círculo de Pais e Mestres (CPM). O
planejamento curricular é baseado no Referencial Curricular Gaúcho (RCG) e na BNCC. A escola
dispõe de uma docente itinerante para a educação inclusiva. No PPP da escola possui 20 páginas e
não constam informações muito detalhadas sobre o planejamento do sistema educacional e
curricular, além das supracitadas. A professora de matemática informou, que por ser uma escola
estadual não precisa apresentar plano de aula, somente seguir a RCG e a BNCC. Observei na
conversa com a docente que as funções pedagógicas e estratégicas ficam sob a responsabilidade da
Supervisora Educacional e as funções administrativas sob a responsabilidade da diretora. Não
consegui identificar nenhuma ação de planejamento realizada, somente a rotina de atividades da
escola sem planejamento prévio, pois de acordo com Libâneo (2005) “o planejamento escolar é uma
tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos de organização e
coordenação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do
processo de ensino”.

AVALIAÇÃO

As avaliações da escola são trimestrais, conforme o PPP cada disciplina possui mínimo de 3
avaliações e o aluno precisa ter média igual ou superior a 6 que é a média da Escola Sol na
Fazendinha e por assiduidade mínima de 75% conforme o Referencial Curricular Gaúcho, Portaria
nº 305/2022. A cada avaliação, caso o discente tenha nota inferior a 6, o mesmo tem direito a
recuperação paralela do conteúdo, sempre que precisar e substitui as notas no decorrer do trimestre,
caso seja maior que a nota abaixo da média. Segundo a professora de matemática, os alunos já
sabem que não podem ser reprovados, só em casos extremos, e por isso não se esforçam em estudar,
pois sabem que será aplicada a prova de recuperação. Neste relato da professora, que fala sobre ter
que passar alunos que não estão aptos, entendo o que Luckesi (2002) fala sobre os exames que
engessam a aprendizagem como uma avaliação tradicional (tal prática remete a seletividade e não a
geração de conhecimento), o que remete ao currículo tradicional (contrário ao que é declarado no
PPP da escola), percebo aqui que a falta de avaliação (diagnóstico) da escola em relação ao trabalho
da professora e também quanto a atuação da direção e supervisão de ensino da escola em perceber
que o currículo e o planejamento utilizado não estão seguindo para o objetivo proposto, por que
segundo Luckesi (2011, p.29) “a avaliação é o diagnóstico que mostra e identifica se o ensino não
está atingindo a qualidade esperado e que precisa ser revisto”.
Nas visitas percebi que o grande erro das escolas, em particular a Sol na Fazendinha, foi
esquecer que a avaliação não é somente para o aluno, mas para o corpo docente, supervisão e
direção de ensino, por que como saber nossos erros se não os conhecemos e isto deixa claro a
prática de um currículo tradicional, onde o professor é o dono do saber e o aluno, somente seu
aprendiz. Nisso percebo também que a avaliação mediadora tão defendida por Hoffmann (2014,
p.33)
“o perigo é que a escola venha perdendo gradativamente o sentido crítico
necessário à vida que enfrentamos hoje. A criança e o jovem frequentam as escolas,
mas não vivem a escola. As perguntas da escola não estão para serem respondidas
ou descobertas no seu dia a dia, ou para lhes auxiliar a enfrentá-lo, para eles a vida
é diferente da escola”.
Por ser uma escola de interior, multisseriada, com alta transferência de alunos para outras
escolas, devido aos professores estarem sobrecarregados e frustrados, os menos favorecidos
continuarão sendo privados de uma educação de qualidade.
CONCLUSÃO

Concluí ao final deste relatório a importância de um projeto político pedagógico bem


elaborado e com base na realidade da escola, tendo os eixos currículo, planejamento e avaliação
alinhados, pois assim é possível através da avaliação perceber qualquer desvio do seu planejamento
escolar através do diagnóstico da avaliação, conforme Luckesi(2009) e assim voltar ao seu objetivo
e currículo proposto no PPP e auxiliar os estudantes no seu desenvolvimento conforme Kearney e
Cook (1969, p.5) “são todas as experiências que os estudantes desenvolvem sob a tutela da escola”
e não somente uma transferência de conteúdo, como se fosse um adestramento, conforme Freire
(2000).
REFERÊNCIAS

CARMO, G. F. ; PASSOS, V. M. A. Avaliação Classificatória X Avaliação Mediadora: a busca por


uma avaliação que potencialize a construção da aprendizagem. Revista Humanidades e Inovação.
ISSN 2358-8322, Palmas, v.9, n.22.

HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-escola à


universidade. Porto Alegre: Mediação, 2014.

LOBATO, Teresa; GRECA, Ileana Maria. Análise da Inserção de Conteúdos de Teoria Quântica nos
Currículos de Física do Ensino Médio. Scielo.br. 2005. Disponível
em:https://www.scielo.br/j/ciedu/a/3hrtSLND6FkXZMBvVqSHv9x/?lang=pt&format=pdf. Acesso
em: 16/11/2023.

LUCKESI, Carlos Cipriano. Avaliação da Aprendizagem Escolar: estudos e proposições. São


Paulo: Cortez, 2013.

MOREIRA, A. F. B. A psicologia do resto: o currículo segundo César Coll. Cad. Pesq., Caxambu,
n.100, p.93-107, mar.1997.

RANGHETTI, Diva Spezia; GESSER, Verônica. Estruturas Curriculares: inter e


transdisciplinaridade. Indaial: Uniasselvi, 2009.E-book. Disponível
em:https://www.uniasselvi.com.br/extranet/layout/request/trilha/materiais/livro/livro.php?codigo=3
5950. Acesso em: 17/11/2023.

SACRISTÁN, J.G.(org.). Saberes e incertezas sobre o currículo. Porto Alegre: Penso, 2013, p.16
a 35.

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