Você está na página 1de 4

Medicina - UFAL - 5º período | Patologia Clínica

Abertura: 21/02/2024 | Fechamento: 28/02/2024


Grupo 3: Alycia Braga, Edna Tainara, Katiane Pinheiro, Marcelo Cesar, Sofia Amancio e Yúseff Enrique

CASO 1

1) Qual é o diagnóstico? 2) Quais os fatores de risco?


● Doença renal crônica. Os principais fatores de risco para as doenças
A doença renal crônica é resultado de renais crônicas são:
progressivas fibroses geradas por qualquer tipo de ● Pessoas com diabetes (tipo 1 ou tipo 2);
lesão renal. ● Pessoa hipertensa, definida como valores de
● No caso do paciente, pela hipertensão. pressão arterial acima de 140/90 mmHg em
duas medidas com um intervalo de 1 a 2
Alterações na função dos néfrons remanescentes semanas;
inicialmente intactos são progressivamente ● Idosos;
deletérias e podem causar fibroses posteriores. ● Portadores de obesidade (IMC > 30 Kg/m²);
Esses eventos resultam em estágio renal final, em ● Histórico de doença do aparelho circulatório
que os túbulos glomerulares, interstício e vasos (doença coronariana, acidente vascular
apresentam-se esclerosados, independentemente cerebral, doença vascular periférica,
do foco primário da lesão. Se a desordem não for insuficiência cardíaca);
tratada, com diálise ou transplante, pode ocorrer ● Histórico de Doença Renal Crônica na
morte por uremia. família;
● Tabagismo;
A DRC pode algumas vezes desenvolver-se ● Uso de agentes nefrotóxicos, principalmente
insidiosamente e ser descoberta somente em seu medicações que necessitam de ajustes em
curso final, após os primeiros sintomas da pacientes com alteração da função renal.
insuficiência renal. Mas, frequentemente, a doença
renal é primeiramente detectada nos exames A glomeruloesclerose diabética e a
médicos de rotina a partir de achados de nefroesclerose hipertensiva, decorrentes do
proteinúria, hipertensão ou azotemia. diabetes e da hipertensão, são as principais
● Paciente hipertenso há 15 anos, PA na etiologias de doença renal em fase terminal.
triagem de 160x105mmHg (mal controlada);
● Potássio 6 meq/L (elevado); No caso do paciente, ele apresenta fatores de risco
● Fósforo 5,5 meq/l (elevado); como idade acima de 60 anos e hipertensão há 15
● Cálcio 8 meq/L (baixo); anos (descompensada).
● Uréia 150 mg/dL (muito elevado) → uremia;
● Creatinina sérica 4 mg/dL (elevada); → 3) Qual é a fisiopatologia?
azotemia Inicialmente a TFG dos pacientes com nefropatia
● TFG 16 mL/min/1,73m² (muito baixa) hipertensiva pode aumentar, uma vez que os néfrons
restantes tentam compensar os néfrons ineficientes,
A doença renal crônica causa muitos problemas no levando a um quadro de hipersecreção,
corpo:
O mecanismo de progressão da hipertensão ainda é
● A capacidade dos rins de excretar os desconhecido, mas é sugerida a seguinte sequência:
ácidos normalmente produzidos pelo corpo
diminui e o sangue fica mais ácido → 1. O evento inicial é caracterizado por dano
acidose. vascular aos rins. Isso é a consequência
● A capacidade de excretar potássio mais comum da hipertensão em longo prazo,
diminui, levando a níveis elevados no com eventual lesão das paredes
sangue, um quadro clínico chamado arteriolares - os pequenos vasos que
hipercalemia. irrigam os rins.
● A produção de glóbulos vermelhos diminui,
causando anemia. 2. Ocorre, como resultado, um aumento da
● Altos níveis de resíduos metabólicos no permeabilidade dos pequenos vasos ao
sangue podem danificar as células fibrinogênio e outras proteínas plasmáticas,
nervosas no cérebro, tronco, braços e causando lesão endotelial e deposição de
pernas. Os níveis de ácido úrico podem plaquetas.
aumentar, algumas vezes causando gota.
1
Medicina - UFAL - 5º período | Patologia Clínica
Abertura: 21/02/2024 | Fechamento: 28/02/2024
Grupo 3: Alycia Braga, Edna Tainara, Katiane Pinheiro, Marcelo Cesar, Sofia Amancio e Yúseff Enrique

capacidade dos rins de filtrar o sangue e


3. Isso leva ao aparecimento de necrose regular os fluidos corporais.
fibrinóide das arteríolas, além de
trombose intravascular. Fatores 4) Explique a correlação entre os exames
plaquetários (como fatores de crescimento laboratoriais, quadro clínico e fisiopatologia.
derivados de plaquetas) e a hiperplasia da
íntima dos vasos resultam em Exames laboratoriais do paciente:
arterioloesclerose hiperplásica e em ● Hemoglobina: 9,2. Indica anemia, causada
posterior estreitamento do lúmen. pela perda de função endócrina dos rins,
uma vez que se vê comprometida a
4. Como resultado da lesão das arteríolas, secreção de eritropoietina. Geralmente a
ocorre redução do fluxo sanguíneo nos anemia é normo normo.
rins, levando à isquemia renal. A isquemia ● Sódio: 130. Se encontra baixo
compromete a capacidade dos rins de filtrar (hiponatremia), devido a que a hipervolemia
eficazmente o sangue e de regular a pressão dilui o Na no sangue.
arterial. ● Cálcio: 8. Levemente diminuído
(hipocalcemia). O fósforo é quelante do Ca,
5. Os rins apresentam marcada isquemia. Com unindo-se ao mesmo e se depositando no
envolvimento severo das arteríolas renais tecido.
aferentes, o sistema renina-angiotensina ● Potássio: 6. Elevado (hipercalemia).
recebe um estímulo poderoso. Devido a que a aldosterona não consegue
mais atuar no rim.
6. A isquemia renal desencadeia uma ● Fósforo: 5,5. Elevado (hiperfosfatemia).
resposta de compensação do sistema Devido à redução da depuração de fósforo
renina-angiotensina-aldosterona. pelo rim.
a. Isso leva à liberação de renina pelos ● Ureia: 50. Elevado. Devido à redução da
rins, que converte o depuração de excretas nitrogenadas pelo
angiotensinogênio em angiotensina rim.
I, que é subsequentemente ● Creatinina sérica: 4. Elevada. Pela
convertida em angiotensina II pela diminuição da TFG.
ECA. ● O acúmulo de ureia e creatinina é chamado
b. A angiotensina II causa de azotemia. A uremia provoca sintomas
vasoconstrição arteriolar, como fadiga, náuseas, perda de apetite e
aumentando ainda mais a confusão mental.
resistência vascular renal e As excretas nitrogenadas acumulam no:
contribuindo para a hipertensão. - Intestino: Náuseas, vómitos.
- SNC: Encefalopatia urêmica: alteração
7. A angiotensina II, além de seu efeito do estado mental.
vasoconstritor, também estimula o
crescimento celular e a produção de
● TFG: 16. Muito baixo. estadiamento G4.
colágeno e outras proteínas da matriz
Oligúria.
extracelular. Isso leva à hipertrofia das
● Relação Albumina/creatinina: 2500 mg/g.
células musculares lisas das arteríolas e
Elevada. É uma macroalbuminúria (> 300
à deposição de matriz extracelular,
mg/g) Estadiamento A2. Provoca edema,
resultando em fibrose e remodelação
devido à diminuição da proteína plasmática.
vascular nos rins.
5) Sobre avaliação laboratorial da TFG, qual é a
8. Com o tempo, o dano renal progressivo
diferença entre TFG estimada e TFG dosada?
causado pela hipertensão e pela ativação
Quais as indicações e limitações de cada caso?
crônica do SRAA leva à perda progressiva
TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR
da função renal. Isso pode eventualmente
resultar em insuficiência renal, com ● Fornece uma avaliação mais precisa da
comprometimento significativo da função renal.

2
Medicina - UFAL - 5º período | Patologia Clínica
Abertura: 21/02/2024 | Fechamento: 28/02/2024
Grupo 3: Alycia Braga, Edna Tainara, Katiane Pinheiro, Marcelo Cesar, Sofia Amancio e Yúseff Enrique

É a taxa de fluxo, em mililitros por minuto


(depuração) do plasma de substâncias que são
filtradas livremente pelas membranas de glomérulos
sem sofrer reabsorção ou secreção tubular renal.

TFG dosada (através do clearance de creatinina)


Apesar de parte da creatinina ser secretada, a
depuração (clearance) da creatinina, na urina de 24
horas, é um marcador conveniente e barato para
estimar a TFG, pois é medida no soro e na urina,
porém, é afetada pela idade, sexo, exercício
físico, massa muscular e dieta.

Além disso, é necessário garantir que a coleta de


urina seja realizada somente em 24 horas, uma
vez que as coletas mais ou menos prolongadas
resultam, respectivamente, em super ou
subestimação da TFG. Entretanto, considerando a
dificuldade, a demora e imprecisão da coleta de
urina de 24 horas por questões práticas, por Para estimar a TFG, o Ministério da Saúde
exemplo, as pessoas que passam longos períodos recomenda o uso da fórmula MDRD simplificada
fora de casa precisam levar consigo o frasco de (com 4 variáveis) ou da CKD-EPI. No entanto, o
coleta, a depuração da creatinina frequentemente KDIGO (do inglês Kidney Disease: Improving Global
não é solicitada na rotina clínica. Outcomes) recomenda o uso da equação CKD-EPI.

🚨Indicações de clearance de creatinina: Como os cálculos da eTFG incluem inúmeras


extremos de idade, dieta (ex. vegetariano restrito), variáveis, eles se tornam complexos para a rotina
exercícios físicos, fatores de podem alterar a do laboratório e requerem um relativo
creatinina estimada. conhecimento de matemática ou um programa de
computação capaz de realizá-lo, ou ainda acesso às
TFG estimada (através da fórmula) páginas eletrônicas ou aplicativos que disponibilizam
Tendo em vista as limitações mencionadas as fórmulas gratuitamente.
anteriormente para a medida da TFG, algumas ● Todas as equações são menos acuradas
equações foram derivadas para fornecer uma para pessoas com função renal normal ou
estimativa da TFG (eTFG) como marcador indireto função pouco alterada.
da função renal.
6) No presente caso clínico, qual é o exame
Equação da Taxa de Filtração Glomerular: indicado para o rastreamento de nefropatia?
DEPURAÇÃO DE CREATININA (mL/min/1,73 m2) = Com base no caso clínico apresentado, o exame
[CrU/CrS] x [volume de urina em 24 horas mais indicado para o rastreamento de nefropatia é a
(mL)/1440] x [1,73/ASC] análise de urina.

Cr: creatinina (mg/dL); U: urina; S: soro; ASC: Exames de urina recomendados:


área de superfície corporal =
[peso/(altura(m)2]. ● Albuminúria:
○ É um dos exames mais importantes
Para essa estimativa, toma-se como base em para o rastreamento de nefropatia,
diversos fatores clínicos e demográficos, incluindo pois detecta a presença de
idade, sexo, peso corpóreo e etnia (Tabela 1). albumina na urina, um indicador de
danos nos rins.
○ No caso apresentado, a relação
albumina/creatinina está elevada em

3
Medicina - UFAL - 5º período | Patologia Clínica
Abertura: 21/02/2024 | Fechamento: 28/02/2024
Grupo 3: Alycia Braga, Edna Tainara, Katiane Pinheiro, Marcelo Cesar, Sofia Amancio e Yúseff Enrique

2500mg/g, confirmando a presença Robbins, patologia básica / Vinay Kumar... [et al] ;
de albuminúria. [tradução de Claudia Coana... et al.]. - Rio de Janeiro
: Elsevier, 2013.
○ Nesse caso, por estar maior que 300
mg/g, o paciente apresenta um Ministério da Saúde. Doenças Renais Crônicas.
quadro de macroalbuminúria.
○ O valor ideal da relação BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo. Patologia Geral.
albumina/creatinina é inferior a 30 9ª edição. Editora Guanabara Koogan S.A., Rio de
mg/g. Janeiro, RJ, 2016.
● Creatinina:
KUMAR, Vinay; ASTER, Jon C.; ABBAS, Abul K..
○ A creatinina é um produto residual Robbins & Cotran Patologia: bases patológicas
da creatina muscular, que é filtrada das doenças. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
pelos rins. Koogan, 2021
○ Níveis elevados de creatinina na
urina podem indicar disfunção Apostila de Nefrologia do MedCurso, 2022.
renal.
MARTINELLO, F; LIMA, L.M; ANGHEBEM, M.I. A
○ No caso apresentado, a creatinina
importância da liberação da estimativa da taxa de
sérica está elevada em 4 mg/dL,
filtração glomerular junto do resultado da
confirmando a disfunção renal.
creatinina sérica nos laudos. Revista Brasileira de
Outros exames complementares: Análises Clínicas. DOI:
10.21877/2448-3877.202100020. Disponível
● Hemograma: em:https://www.rbac.org.br/artigos/importancia-da-lib
○ Avalia a presença de anemia, que é eracao-da-estimativa-da-taxa-de-filtracao-glomerular-
comum em pacientes com doença junto-do-resultado-da-creatinina-serica-nos-laudos/
renal crônica.
○ No caso apresentado, a
hemoglobina está baixa em 9,2g/dL,
confirmando a anemia.
● Dosagem de eletrólitos:
○ Avalia os níveis de sódio, potássio,
cálcio e fósforo no sangue.
○ Alterações nos níveis desses
eletrólitos podem ser encontradas
em pacientes com doença renal
crônica.
○ No caso apresentado, o paciente
apresenta hiponatremia (sódio
baixo), hipocalemia (potássio
elevado) e hiperfosfatemia (fósforo
elevado).

Ultrassom renal:

● Permite a visualização dos rins e avaliar sua


estrutura e tamanho.
● Pode identificar alterações como atrofia
renal, hidronefrose e presença de cálculos
renais.

REFERÊNCIAS

Você também pode gostar