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MARIANA JESUS REIS

DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

CASOS PRÁTICOS – ORGANIZAÇÃO


ADMINISRATIVA

CASO PRÁTICO 1
A câmara municipal de Coimbra, na sua reunião ordinária de 01.10.2011, deliberou
indeferir o pedido de licenciamento de uma operação de loteamento requerido por A
para um terreno de que é proprietário. Inconformado, este pretende impugnar aquela
deliberação alegando para o efeito que na referida reunião não estava presente o número
suficiente de membros para que aquele órgão se considerasse constituído.

A administração pública visa a gestão de um conjunto de bens escassos para a


realização de um conjunto de interesses (nomeadamente os classificados como
públicos).
A administração pública surge porque existe uma panóplia de interesses na sociedade
que se referem a um conjunto de pessoas indistintas – público – e cuja satisfação desses
mesmos interesses é de tal forma fundamental que dela resulta o próprio equilíbrio da
comunidade. Por conseguinte justifica-se que, dentro desta panóplia de interesses, os
órgãos da comunidade politicamente organizada avaliem e selecionem alguns –
nomeadamente os qualificados como «interesses públicos» - e confiem a sua satisfação
a serviços próprios do aparelho que dirige a vida em comunidade.
A administração pública é assim caracterizada por 2 vias: a prossecução de interesses
(fins) públicos e a subordinação política (prossecução de interesses públicos essenciais
não determinados pelos órgãos a quem está incumbida a sua satisfação, mais sim
definidos num plano superior político-legislativo).

O caso em apreço prende-se com a temática da organização administrativa e com a sua


vertente de aspetos funcionais (nomeadamente atribuições, competências e legitimação).
Temos por definição que a organização administrativa consiste no sistema de órgãos,
serviços e agentes do Estado, bem como das demais pessoas coletivas públicas, que
asseguram, em nome da coletividade, a satisfação regular e contínua de interesses
públicos secundários, isto é, desempenham a título principal, a função administrativa –
“máquina administrativa”.
Uma das vertentes desta organização administrativa prende-se com os aspetos
funcionais que lhe são inerentes – nomeadamente atribuições, competências e
legitimação.

Em termos breves:
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

o as atribuições consistem nos fins ou interesses que a lei incumbe as pessoas


coletivas públicas de prosseguir e realizar;

o as competências consistem no conjunto de poderes funcionais que a lei confere


aos órgãos para a prossecução das atribuições das pessoas coletivas públicas
(art.º 36.º e ss. CPA);

o a legitimação consiste na qualificação específica dos órgãos para exercer a sua


competência na situação concreta.

Todos estes elementos encontram uma relação intrínseca entre si, sendo as atribuições e
as competências 2 elementos que se limitam reciprocamente:
(1) Os órgãos não podem prosseguir as atribuições da pessoa coletiva a que pertence
por meio de competências que não sejam as suas;

(2) Os órgãos não podem fazer uso das suas competências fora das atribuições
inerentes à pessoa coletiva pública

No caso sub judice estamos perante um problema que se encaixa no elemento da


legitimação.
Os órgãos, para além de terem de atuar dentro do domínio das atribuições da pessoa
coletiva a que pertencem, e no âmbito das suas competências, também têm de ter
legitimação. Como vimos a legitimação consiste na qualificação específica dos órgãos
para exercer a sua competência na situação concreta.
A legitimação tem inerente alguns fatores de legitimação, que se desdobram em 2
modalidades:
o FATORES DE LEGITIMAÇÃO POSITIVA: O exercício pelos órgãos das suas
competências só é lícito quando estes fatores se verificarem;

o FATORES DE LEGITIMAÇÃO NEGATIVA: No caso destes fatores se


verificarem o órgão não pode atuar no âmbito da sua competência.

Existem 5 fatores: investidura do titular do órgão (fator de legitimação positiva), casos


de impedimento (fator de legitimação negativa), o quórum (fator de legitimação
positiva), decurso de um determinado lapso temporal (fator de delimitação misto –
depende da situação concreta), autorização pra agir (fator de legitimação positiva).

No caso em apreço estamos perante uma falta de quórum (fator de legitimação positiva).
O quórum (art.º 29.º CPA) consiste na fração mínima do número legal de membros do
órgão colegial cuja presença é necessária na reunião para que possam ser votadas as
deliberações. Esta fração mínima consiste, em regra, pela maioria, ou seja, por pelo
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menos metade do número de membros do órgão colegial. A falta de quórum determina a


falta de legitimação do órgão para decidir na situação concreta.
No caso sub judice, a câmara municipal de Coimbra deliberou indeferindo o pedido de
licenciamento de uma operação de loteamento requerido por A, proprietário do terreno.
A veio impugnar esta deliberação argumentando que na referida reunião não estava
presente o número suficiente de membros para que aquele órgão se considerasse
constituído.
Temos, pela descrição dos factos, e se a alegação de A for devidamente comprovada,
uma clara situação de falta de quórum que, como vimos, acarreta uma falta de
legitimação do órgão para decidir na situação concreta.

Aqui chegados, concluímos que a Câmara municipal de Coimbra deliberou, indeferindo


um pedido de licenciamento, numa situação em que não tinha presente, aquando da
deliberação, número suficiente de membros para que aquele órgão se considerasse
constituído.
Sendo o quórum um fator de legitimação positivo, a falta de quórum determina a falta
de legitimação do órgão para decidir na situação concreta. Assim sendo, a ilícita
deliberação proferida pela câmara municipal teria como efeitos a sua nulidade, por força
do art.º 161.º/2/h) do CPA.

CASO PRÁTICO 2
Na sequência de um procedimento disciplinar, o Presidente do Instituto do Emprego,
I.P. aplicou ao funcionário Alberto a pena de aposentação compulsiva, em virtude de
graves factos ilícitos praticados por este funcionário. Inconformado, Alberto pretende
reagir junto dos tribunais administrativos com fundamento em o Instituto do Emprego
não ter poderes para aplicar tal sanção uma vez que ela compete, nos termos da lei, ao
Ministro da Economia

No caso em apreço estamos perante as matérias de organização administrativa sobre a


vertente da estrutura orgânica da Administração Pública + da organização
administrativa sobre a vertente dos seus aspetos funcionais + o sistema de organização
administrativa.
Numa primeira análise, o caso em apreço prende-se com a estrutura orgânica da
Administração Pública.
Os elementos básicos dentro da organização administrativa são:

o ENTES PÚBLICOS OU PESSOAS COLETIVAS DE DIREITO


PÚBLICO – a quem é atribuído o encargo da satisfação de determinados
interesses públicos.
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DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

o ÓRGÃOS - que constituem as figuras capazes de emitir manifestações


de vontade imputáveis aos entes públicos.

o SERVIÇOS PÚBLICOS – Existem em cada ente público e funcionam


na dependência dos respetivos órgãos. São unidades funcionais
meramente internas.

As pessoas coletivas de Direito Público manifestam-se através dos seus órgãos


administrativos.
No caso sub judice, estamos diante de pessoas coletivas públicas distintas – IP e o
Estado – cada uma com correspondência ao seu respetivo órgão – respetivamente o
Presidente do Instituto do Emprego (órgão do IP) e o Ministro da Economia (órgão do
Estado).
O Estado pertence à Administração estadual direta sendo um órgão central; O IP
pertence à Administração estadual indireta sendo uma pessoa coletiva pública.

Numa segunda análise, o caso em apreço prende-se com a temática da organização


administrativa e com a sua vertente de aspetos funcionais (nomeadamente atribuições,
competências e legitimação).
Temos por definição que a organização administrativa consiste no sistema de órgãos,
serviços e agentes do Estado, bem como das demais pessoas coletivas públicas, que
asseguram, em nome da coletividade, a satisfação regular e contínua de interesses
públicos secundários, isto é, desempenham a título principal, a função administrativa –
“máquina administrativa”.
Uma das vertentes desta organização administrativa prende-se com os aspetos
funcionais que lhe são inerentes – nomeadamente atribuições, competências e
legitimação.

Em termos breves:
o as atribuições consistem nos fins ou interesses que a lei incumbe as pessoas
coletivas públicas de prosseguir e realizar;

o as competências consistem no conjunto de poderes funcionais que a lei confere


aos órgãos para a prossecução das atribuições das pessoas coletivas públicas
(art.º 36.º e ss. CPA);

o a legitimação consiste na qualificação específica dos órgãos para exercer a sua


competência na situação concreta.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Todos estes elementos encontram uma relação intrínseca entre si, sendo as atribuições e
as competências 2 elementos que se limitam reciprocamente:
(1) Os órgãos não podem prosseguir as atribuições da pessoa coletiva a que pertence
por meio de competências que não sejam as suas;

(2) Os órgãos não podem fazer uso das suas competências fora das atribuições
inerentes à pessoa coletiva pública

No caso sub judice poderíamos optar por 2 vias:


o FALTA DE ATRIBUIÇÕES – O Presidente do Instituto do Emprego (órgão
da pessoa coletiva pública «Instituto Público») não pode fazer uso das suas
competências fora das atribuições inerentes à pessoa coletiva pública em que
está inserido;

Vale reafirmar o que já foi dito anteriormente, estamos perante 2 pessoas


coletivas distintas – IP e Estado.

Temos por definição que «competências» são um conjunto de poderes


funcionais que a lei confere aos órgãos para a prossecução das atribuições das
pessoas coletivas públicas.

Por análise dos dados do caso sub judice a aplicação de tal sanção compete, nos
termos da lei, ao Ministro da Economia. O Ministro da Economia é um órgão
inerente à pessoa coletiva pública «Estado». Assim sendo, a atribuição é
incumbida à pessoa coletiva «Estado» e não à pessoa coletiva IP.

O órgão do IP, ao aplicar esta pena de aposentação compulsiva, está a atuar fora
das atribuições inerentes à pessoa coletiva pública em que está inserido.

o INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA – O IP não pode prosseguir as atribuições


da pessoa coletiva a que pertence por meio de competências que não sejam as
suas.

Vale a nota que, por força do art.º 36.º CPA, a competência não se presume, ou
seja, só há competência quando a lei inequivocamente a confere a um dado
órgão.

Deste modo, se a aplicação de tal sanção competia, nos termos da lei, ao


Ministro da Economia – estando perante um tipo de competência explícita,
definidas de forma expressa na lei - não poderia um IP, órgão distinto, invadir a
esfera de competências desse outro órgão – Ministro da Economia.
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Quanto aos efeitos, vejamos o art.º 161.º/2/b) do CPA. São designadamente nulos os
atos estranhos às atribuições dos ministérios, ou das pessoas coletivas referidas no n.º 2,
em que o seu autor se integre.

CASO PRÁTICO 3
A Câmara Municipal de Santa Maria da Feira autorizou a Sociedade “lixos menos
tóxicos” a instalar uma lixeira em Canedo. A Querqus, associação estritamente
incumbida da promoção do ambiente pretende reagir contra este licenciamento,
alegando que a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira não estava em condições de
praticar tal ato, uma vez que não tinha sido autorizada para o efeito pela Assembleia
Municipal, como a lei exige.

No caso sub judice estamos perante a matéria de organização administrativa sobre a


vertentes dos aspetos funcionais.
Temos por definição que a organização administrativa consiste no sistema de órgãos,
serviços e agentes do Estado, bem como das demais pessoas coletivas públicas, que
asseguram, em nome da coletividade, a satisfação regular e contínua de interesses
públicos secundários, isto é, desempenham a título principal, a função administrativa –
“máquina administrativa”.
Uma das vertentes desta organização administrativa prende-se com os aspetos
funcionais que lhe são inerentes – nomeadamente atribuições, competências e
legitimação.
Em termos breves:
o as atribuições consistem nos fins ou interesses que a lei incumbe as pessoas
coletivas públicas de prosseguir e realizar;

o as competências consistem no conjunto de poderes funcionais que a lei confere


aos órgãos para a prossecução das atribuições das pessoas coletivas públicas
(art.º 36.º e ss. CPA);

o a legitimação consiste na qualificação específica dos órgãos para exercer a sua


competência na situação concreta.

Todos estes elementos encontram uma relação intrínseca entre si, sendo as atribuições e
as competências 2 elementos que se limitam reciprocamente:
(1) Os órgãos não podem prosseguir as atribuições da pessoa coletiva a que pertence
por meio de competências que não sejam as suas;
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

(2) Os órgãos não podem fazer uso das suas competências fora das atribuições
inerentes à pessoa coletiva pública

Interessa-nos numa fase inicial classificar as partes que temos no caso em questão:
- Câmara Municipal de Sta. Maria da Feira como órgão administrativo;
- Sociedade “lixos menos tóxicos” como serviço público dependente do respetivo órgão;

No caso sub judice temos que analisar segundo a legitimação (ou falta desta) que a CM
de Sta Maria da Feira possui para praticar tal ato.
Já classificamos a CM como um órgão administrativo. Aos órgãos administrativos são
conferidos, por lei, um conjunto de poderes funcionais para a prossecução das
atribuições das PCP (denominadas competências).
Não obstante aos órgãos atuarem dentro do domínio das atribuições da PCP a que fazem
parte e no âmbito das suas competências, também têm de ter legitimação.
A legitimação consiste na qualificação específica dos órgãos para exercer a sua
competência na situação concreta.
A legitimação tem inerente alguns fatores de legitimação, que se desdobram em 2
modalidades:
o FATORES DE LEGITIMAÇÃO POSITIVA: O exercício pelos órgãos das suas
competências só é lícito quando estes fatores se verificarem;

o FATORES DE LEGITIMAÇÃO NEGATIVA: No caso destes fatores se


verificarem o órgão não pode atuar no âmbito da sua competência.

Existem 5 fatores: investidura do titular do órgão (fator de legitimação positiva), casos


de impedimento (fator de legitimação negativa), o quórum (fator de legitimação
positiva), decurso de um determinado lapso temporal (fator de delimitação misto –
depende da situação concreta), autorização pra agir (fator de legitimação positiva).

No caso em questão, é expressamente invocada no enunciado o fator de autorização


para agir, fator de legitimação positiva.
O fator de autorização para agir consiste em determinado órgão, apesar de ter
competência para a prática de certo ato, só poder exercer aquela sua competência depois
de ter obtido, de um outro órgão, uma autorização que visa fazer um controlo preventivo
sobre a legalidade ou o mérito do ato que vai ser praticado. Sem esta autorização o
órgão está privado de legitimação.
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Invocando Querqus que a CM não estava em condições de praticar tal ato, uma vez que
não tinha sido autorizada para o efeito pela Assembleia Municipal, como a lei exige,
estaríamos perante um problema de falta de legitimação por falta de autorização para
agir. Sem esta autorização o órgão está privado de legitimação.

CASO PRÁTICO 4
Na sequência de um concurso público para a celebração de um contrato de empreitada
de obra pública, a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia decidiu adjudicar a
construção de um novo mercado municipal à empresa “Pedregulho do Douro”, através
de um ato notificado às 5 empresas concorrentes. Inconformada com tal decisão, a
empresa “Pedrinha do Vouga, S.A.” pretende reagir, alegando que o ato em causa é pura
e simplesmente inexistente, uma vez que a construção de mercados municipais é da
competência do Ministro da Economia e Emprego, responsável pelo setor das Obras
Públicas, e não das Câmaras Municipais.
No caso em apreço estamos perante as matérias de organização administrativa sobre a
vertente da estrutura orgânica da Administração Pública + da organização
administrativa sobre a vertente dos seus aspetos funcionais + o sistema de organização
administrativa.
Temos por definição que a organização administrativa consiste no sistema de órgãos,
serviços e agentes do Estado, bem como das demais pessoas coletivas públicas, que
asseguram, em nome da coletividade, a satisfação regular e contínua de interesses
públicos secundários, isto é, desempenham a título principal, a função administrativa –
“máquina administrativa”.

Numa primeira análise, o caso em apreço prende-se com a estrutura orgânica da


Administração Pública.
Os elementos básicos dentro da organização administrativa são:

o ENTES PÚBLICOS OU PESSOAS COLETIVAS DE DIREITO


PÚBLICO – a quem é atribuído o encargo da satisfação de determinados
interesses públicos.

o ÓRGÃOS - que constituem as figuras capazes de emitir manifestações


de vontade imputáveis aos entes públicos.

o SERVIÇOS PÚBLICOS – Existem em cada ente público e funcionam


na dependência dos respetivos órgãos. São unidades funcionais
meramente internas.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

As pessoas coletivas de Direito Público manifestam-se através dos seus órgãos


administrativos.

Uma das vertentes desta organização administrativa prende-se com os aspetos


funcionais que lhe são inerentes – nomeadamente atribuições, competências e
legitimação.
Em termos breves:
o as atribuições consistem nos fins ou interesses que a lei incumbe as pessoas
coletivas públicas de prosseguir e realizar;

o as competências consistem no conjunto de poderes funcionais que a lei confere


aos órgãos para a prossecução das atribuições das pessoas coletivas públicas
(art.º 36.º e ss. CPA);

o a legitimação consiste na qualificação específica dos órgãos para exercer a sua


competência na situação concreta.

Todos estes elementos encontram uma relação intrínseca entre si, sendo as atribuições e
as competências 2 elementos que se limitam reciprocamente:
(1) Os órgãos não podem prosseguir as atribuições da pessoa coletiva a que pertence
por meio de competências que não sejam as suas;

(2) Os órgãos não podem fazer uso das suas competências fora das atribuições
inerentes à pessoa coletiva pública

No caso sub judice temos que, em primeiro lugar, proceder a uma qualificação dos entes
intervenientes:
o Ministro da Economia e Emprego como órgão da PCP «Estado»;
o Câmara Municipal de Vila Nova como órgão da PCP «Município»
Estamos perante 2 pessoas coletivas públicas distintas – Estado e Município.

Poderíamos prosseguir por 2 vias:


o FALTA DE ATRIBUIÇÕES – A Câmara Municipal de Vila Nova (órgão da
pessoa coletiva pública «Município») não pode fazer uso das suas competências
fora das atribuições inerentes à pessoa coletiva pública em que está inserido;

Vale reafirmar o que já foi dito anteriormente, estamos perante 2 pessoas


coletivas distintas – Estado e Município.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Temos por definição que «competências» são um conjunto de poderes


funcionais que a lei confere aos órgãos para a prossecução das atribuições das
pessoas coletivas públicas.

Por análise dos dados do caso sub judice a construção de mercados municipais
compete, nos termos da lei, ao Ministro da Economia e Emprego. O Ministro da
Economia e Emprego é um órgão inerente à pessoa coletiva pública «Estado».
Assim sendo, a atribuição é incumbida à pessoa coletiva «Estado» e não à
pessoa coletiva Município.

O órgão do Município, ao adjudicar a construção de um novo mercado


municipal à empresa “Pedregulho do Douro”, está a atuar fora das atribuições
inerentes à pessoa coletiva pública em que está inserido.

o INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA – A Câmara Municipal de Vila Nova de


Gaia não pode prosseguir as atribuições da pessoa coletiva a que pertence por
meio de competências que não sejam as suas.

Vale a nota que, por força do art.º 36.º CPA, a competência não se presume, ou
seja, só há competência quando a lei inequivocamente a confere a um dado
órgão.

Deste modo, se a decisão quanto à construção de mercados municipais compete,


nos termos da lei, ao Ministro da Economia e Emprego – estando perante um
tipo de competência explícita, definidas de forma expressa na lei - não poderia a
Câmara Municipal, órgão distinto, invadir a esfera de competências desse outro
órgão – Ministro da Economia e Emprego.

Quanto aos efeitos, vejamos o art.º 161.º/2/b) do CPA. São designadamente nulos os
atos estranhos às atribuições dos ministérios, ou das pessoas coletivas referidas no n.º 2,
em que o seu autor se integre.

CASO PRÁTICO 5
Em resposta a um pedido de licenciamento para a construção de uma moradia
unifamiliar formulado por A, o presidente da câmara municipal respetivo indeferiu-o
com o fundamento de que o projeto de arquitetura apresentado não corresponde às
exigências da estética local e a construção pretendida não se enquadra na envolvente. A
pretende reagir por entender que o indeferimento de uma licença de construção só pode,
nos termos da lei, ser proferida pela câmara municipal e nunca pelo seu presidente.
No caso em apreço estamos perante as matérias de organização administrativa sobre a
vertente da estrutura orgânica da Administração Pública + da organização
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administrativa sobre a vertente dos seus aspetos funcionais + o sistema de organização


administrativa.
Temos por definição que a organização administrativa consiste no sistema de órgãos,
serviços e agentes do Estado, bem como das demais pessoas coletivas públicas, que
asseguram, em nome da coletividade, a satisfação regular e contínua de interesses
públicos secundários, isto é, desempenham a título principal, a função administrativa –
“máquina administrativa”.

Numa primeira análise, o caso em apreço prende-se com a estrutura orgânica da


Administração Pública.
Os elementos básicos dentro da organização administrativa são:
o ENTES PÚBLICOS OU PESSOAS COLETIVAS DE DIREITO
PÚBLICO – a quem é atribuído o encargo da satisfação de determinados
interesses públicos.

o ÓRGÃOS - que constituem as figuras capazes de emitir manifestações


de vontade imputáveis aos entes públicos.

o SERVIÇOS PÚBLICOS – Existem em cada ente público e funcionam


na dependência dos respetivos órgãos. São unidades funcionais
meramente internas.

As pessoas coletivas de Direito Público manifestam-se através dos seus órgãos


administrativos.

Uma das vertentes desta organização administrativa prende-se com os aspetos


funcionais que lhe são inerentes – nomeadamente atribuições, competências e
legitimação.
Em termos breves:
o as atribuições consistem nos fins ou interesses que a lei incumbe as pessoas
coletivas públicas de prosseguir e realizar;

o as competências consistem no conjunto de poderes funcionais que a lei confere


aos órgãos para a prossecução das atribuições das pessoas coletivas públicas
(art.º 36.º e ss. CPA);

o a legitimação consiste na qualificação específica dos órgãos para exercer a sua


competência na situação concreta.
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DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Todos estes elementos encontram uma relação intrínseca entre si, sendo as atribuições e
as competências 2 elementos que se limitam reciprocamente:
(1) Os órgãos não podem prosseguir as atribuições da pessoa coletiva a que pertence
por meio de competências que não sejam as suas;

(2) Os órgãos não podem fazer uso das suas competências fora das atribuições
inerentes à pessoa coletiva pública

Temos que proceder, no caso sub judice, a uma classificação das entidades em causa:
o Presidente da CM é um órgão da PCP «Município»;
o CM como órgão da PCP «Município».
Dois órgãos diferentes da mesma PCP - Município.

Podemos prosseguir por 2 vias:


o FALTA DE COMPETÊNCIAS: Temos por definição que competências são os
poderes funcionais atribuídos por lei aos órgãos para a prossecução das
atribuições da pessoa coletiva pública a que pertencem (art.º 36.º CPA e ss.)

Por no caso em apreço estarmos perante órgãos diferentes, e por as


competências serem poderes funcionais conferidos por lei a órgãos específicos
para a prossecução das atribuições da PCP – cada órgão tem as suas
competências próprias e específicas -, podemos estar num caso de falta de
competências se a competência for explicitamente conferida por lei ao órgão
«CM».

Vale a nota que, por força do art.º 36.º CPA, a competência não se presume, ou
seja, só há competência quando a lei inequivocamente a confere a um dado
órgão.

Deste modo, se o indeferimento de uma licença de construção municipais


compete, nos termos da lei, à Câmara Municipal e nunca ao Presidente – estando
perante um tipo de competência explícita, definidas de forma expressa na lei -
não poderia o Presidente, órgão distinto, invadir a esfera de competências desse
outro órgão – Câmara Municipal – para prosseguir as atribuições da PCP a que
faz parte.

o INCOMPETÊNCIA RELATIVA: Regra geral a Câmara Municipal não pode


prosseguir as atribuições da pessoa coletiva a que pertence por meio de
competências que não sejam as suas.

Mas vale aqui a nota que, por estarmos perante 2 órgãos distintos pertencentes a
uma mesma pessoa coletiva, apesar das competências atribuídas a cada órgão
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serem específicas para o mesmo, a verdade é que ambos os órgãos atuam no


âmbito das suas competências próprias com vista à prossecução das mesmas
atribuições (as conferidas à pessoa coletiva a que ambos fazem parte).

Assim sendo, podemos falar de um tipo de incompetência relativa, face a ser


previsível que, para a prossecução das mesmas atribuições, as competências
próprias e específicas de cada órgão possam, de certa forma, convergir em
alguns pontos.

CASO 6
O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro
(CCDR-C) ordenou o encerramento de uma discoteca localizada na Figueira da Foz, por
entender que aquele estabelecimento não oferecia as condições de segurança para os
seus clientes ⎯ em virtude da deterioração das instalações ⎯ e por não estar garantida a
segurança dos clientes. O proprietário da discoteca impugnou tal decisão, alegando que
o presidente da CCDR-C não pode ordenar o encerramento de discotecas, pois uma lei
recente transferiu esse poder para os municípios.

Remissão para os casos 2 e 4 – resolução análoga


Falta de atribuições ou incompetência absoluta porque se trata de órgãos de pessoas
coletivas distintas (a CCDR é um órgão do Estado) - gera nulidade [artigo 161.º, n.º 2,
alínea b)]
CLASSIFICAÇÃO DOS ENTES EM CAUSA:
o CCDR-C é um órgão da pessoa coletiva «Estado»;
o Município é uma pessoa coletiva.

CASO PRÁTICO 7
O Vereador do Urbanismo do Município de Condeixa, ao abrigo de uma delegação de
poderes da respetiva Câmara Municipal, licenciou a construção de um edifício de
habitação multifamiliar requerido por António para um terreno de que é proprietário e
que fica no limite da fronteira com o Município de Coimbra. Bernardo, proprietário de
um prédio vizinho, pretende atacar o referido ato invocando para o efeito os seguintes
argumentos:

(1) O terreno em causa situa-se na área territorial do Município de Coimbra e não no


Município de Condeixa;
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No caso em apreço estamos perante as matérias de organização administrativa sobre a


vertente da estrutura orgânica da Administração Pública + da organização
administrativa sobre a vertente dos seus aspetos funcionais + o sistema de organização
administrativa.
Temos por definição que a organização administrativa consiste no sistema de órgãos,
serviços e agentes do Estado, bem como das demais pessoas coletivas públicas, que
asseguram, em nome da coletividade, a satisfação regular e contínua de interesses
públicos secundários, isto é, desempenham a título principal, a função administrativa –
“máquina administrativa”.

Numa primeira análise, o caso em apreço prende-se com a estrutura orgânica da


Administração Pública.
Os elementos básicos dentro da organização administrativa são:

o ENTES PÚBLICOS OU PESSOAS COLETIVAS DE DIREITO


PÚBLICO – a quem é atribuído o encargo da satisfação de determinados
interesses públicos.

o ÓRGÃOS - que constituem as figuras capazes de emitir manifestações


de vontade imputáveis aos entes públicos.

o SERVIÇOS PÚBLICOS – Existem em cada ente público e funcionam


na dependência dos respetivos órgãos. São unidades funcionais
meramente internas.

As pessoas coletivas de Direito Público manifestam-se através dos seus órgãos


administrativos.

Uma das vertentes desta organização administrativa prende-se com os aspetos


funcionais que lhe são inerentes – nomeadamente atribuições, competências e
legitimação.
Em termos breves:
o as atribuições consistem nos fins ou interesses que a lei incumbe as pessoas
coletivas públicas de prosseguir e realizar;

o as competências consistem no conjunto de poderes funcionais que a lei confere


aos órgãos para a prossecução das atribuições das pessoas coletivas públicas
(art.º 36.º e ss. CPA);

o a legitimação consiste na qualificação específica dos órgãos para exercer a sua


competência na situação concreta.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Todos estes elementos encontram uma relação intrínseca entre si, sendo as atribuições e
as competências 2 elementos que se limitam reciprocamente:
(1) Os órgãos não podem prosseguir as atribuições da pessoa coletiva a que
pertence por meio de competências que não sejam as suas;

(2) Os órgãos não podem fazer uso das suas competências fora das atribuições
inerentes à pessoa coletiva pública

No caso sub judice temos que, em primeiro lugar, proceder a uma qualificação dos entes
intervenientes:
o Vereador do Urbanismo como órgão da PCP «Município de Condeixa»;
o PCP «Município de Coimbra»
Estamos perante 2 pessoas coletivas públicas distintas – Municípios distintos – um
de Coimbra e outro de Condeixa.

Poderíamos prosseguir por 2 vias:


o FALTA DE ATRIBUIÇÕES – O Vereador do Urbanismo (órgão da pessoa
coletiva pública «Município de Condeixa») não pode fazer uso das suas
competências fora das atribuições inerentes à pessoa coletiva pública em que
está inserido;

Vale reafirmar o que já foi dito anteriormente, estamos perante 2 pessoas


coletivas distintas – Município de Condeixa e Município de Coimbra.

Temos por definição que «competências» são um conjunto de poderes


funcionais que a lei confere aos órgãos para a prossecução das atribuições das
pessoas coletivas públicas.

Por análise dos dados do caso sub judice o terreno situa-se na área territorial do
Município de Coimbra (e não de Condeixa). O Vereador do Urbanismo é um
órgão inerente à pessoa coletiva pública «Município de Condeixa». Assim
sendo, a atribuição é incumbida à pessoa coletiva «Município de Coimbra» e
não à pessoa coletiva «Município de Condeixa», tendo em consideração a
delimitação territorial em que o terreno se encontra inserido.

O órgão do Município de Condeixa, ao licenciar a construção de um edifício de


habitação multifamiliar sobre um terreno que não se encontra dentro das suas
limitações territoriais, está a atuar fora das atribuições inerentes à pessoa
coletiva pública em que está inserido.
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o INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA – O Vereador de Uranismo não pode


prosseguir as atribuições da pessoa coletiva a que pertence por meio de
competências que não sejam as suas.

A competência pode se distinguir segundo vários critérios, estando


inequivocamente aqui em causa o critério de repartição em razão de matéria
territorial.

É nos dito que o terreno em causa se situa na área territorial do Município de


Coimbra, pelo que, por força do critério de repartição em razão de matéria
territorial, seria da competência do Município de Coimbra as deliberações acerca
deste mesmo terreno, pois o mesmo situa-se dentro das suas limitações
territoriais.

Quanto aos efeitos, vejamos o art.º 161.º/2/b) do CPA. São designadamente nulos os
atos estranhos às atribuições dos ministérios, ou das pessoas coletivas referidas no n.º 2,
em que o seu autor se integre.

(2) Ainda que assim não fosse, na reunião da Câmara Municipal em que se
deliberou a aludida delegação de poderes não estava presente o número
suficiente de membros para que aquele órgão se considerasse constituído;

No caso sub judice estamos perante a matéria de organização administrativa sobre a


vertentes dos aspetos funcionais.
Uma das vertentes desta organização administrativa prende-se com os aspetos
funcionais que lhe são inerentes – nomeadamente atribuições, competências e
legitimação.
Em termos breves:
o as atribuições consistem nos fins ou interesses que a lei incumbe as pessoas
coletivas públicas de prosseguir e realizar;

o as competências consistem no conjunto de poderes funcionais que a lei confere


aos órgãos para a prossecução das atribuições das pessoas coletivas públicas
(art.º 36.º e ss. CPA);

o a legitimação consiste na qualificação específica dos órgãos para exercer a sua


competência na situação concreta.

Na alínea anterior já tínhamos procedido a uma qualificação dos entes intervenientes:


o Vereador do Urbanismo como órgão da PCP «Município de Condeixa»;
o PCP «Município de Coimbra»
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Estamos perante 2 pessoas coletivas públicas distintas – 2 Municípios distintos – um


de Coimbra e outro de Condeixa.

No caso sub judice temos que analisar segundo a legitimação (ou falta desta) que a CM
de Coimbra possui para praticar tal ato.
Já classificamos a CM como um órgão administrativo. Aos órgãos administrativos são
conferidos, por lei, um conjunto de poderes funcionais para a prossecução das
atribuições das PCP (denominadas competências).
Não obstante aos órgãos atuarem dentro do domínio das atribuições da PCP a que fazem
parte e no âmbito das suas competências, também têm de ter legitimação.
A legitimação consiste na qualificação específica dos órgãos para exercer a sua
competência na situação concreta.
A legitimação tem inerente alguns fatores de legitimação, que se desdobram em 2
modalidades:
o FATORES DE LEGITIMAÇÃO POSITIVA: O exercício pelos órgãos das suas
competências só é lícito quando estes fatores se verificarem;

o FATORES DE LEGITIMAÇÃO NEGATIVA: No caso destes fatores se


verificarem o órgão não pode atuar no âmbito da sua competência.

Existem 5 fatores: investidura do titular do órgão (fator de legitimação positiva), casos


de impedimento (fator de legitimação negativa), o quórum (fator de legitimação
positiva), decurso de um determinado lapso temporal (fator de delimitação misto –
depende da situação concreta), autorização pra agir (fator de legitimação positiva).

No caso em apreço estamos perante uma falta de quórum (fator de legitimação positiva).
O quórum (art.º 29.º CPA) consiste na fração mínima do número legal de membros do
órgão colegial cuja presença é necessária na reunião para que possam ser votadas as
deliberações. Esta fração mínima consiste, em regra, pela maioria, ou seja, por pelo
menos metade do número de membros do órgão colegial. A falta de quórum determina a
falta de legitimação do órgão para decidir na situação concreta.
No caso sub judice, a Câmara municipal de Coimbra licenciou a construção de um
edifício de habitação familiar requerido por António para um terreno que é proprietário
e que fica no limite da fronteira com o Município de Coimbra.
Bernardo, proprietário de um prédio vizinho, pretende atacar o referido ato invocando
para o efeito o seguinte argumento: Ainda que o terreno se situa-se na zona de
Condeixa, na reunião da Câmara Municipal em que se deliberou a aludida delegação de
poderes não estava presente o número suficiente de membros para que aquele órgão se
considerasse constituído;
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Temos, pela descrição dos factos, e se a o argumento de Bernardo for devidamente


comprovado, uma clara situação de falta de quórum que, como vimos, acarreta uma
falta de legitimação do órgão para decidir na situação concreta.
Aqui chegados, concluímos que a Câmara municipal de Coimbra licenciou a construção
de um edifício numa situação em que não tinha presente, aquando da deliberação,
número suficiente de membros para que aquele órgão se considerasse constituído.
Sendo o quórum um fator de legitimação positivo, a falta de quórum determina a falta
de legitimação do órgão para decidir na situação concreta. Assim sendo, a ilícita
deliberação proferida pela câmara municipal teria como efeitos a sua nulidade, por força
do art.º 161.º/2/h) do CPA.

(3) Acresce que a competência da Câmara Municipal para o licenciamento de obras


particulares apenas é delegável no Presidente da Câmara e não nos seus
vereadores;

No caso em apreço situamo-nos na matéria da organização administrativa quanto às


relações funcionais especiais de delegação de poderes.
Uma das vertentes desta organização administrativa prende-se com as relações
funcionais interorgânicas e intersubjetivas, sendo relações classificadas por tipos gerais
ou tipos especiais.
De forma muito breve temos o seguinte esquema de tipos de relações:
o RELAÇÕES FUNCIONAIS DE TIPO GERAIS (RELAÇÕES ABSTRATAS E
PERMANENTES) – hierarquia, superintendência e tutela;

o RELAÇÕES FUNCIONAIS DE TIPO ESPECIAL (EM REGRA


TEMPORÁRIAS E TRANSITÓRIAS) – Delegação de poderes e coordenação,
cooperação e concertação.

No caso sub judice estamos inequivocamente perante uma situação de relação funcional
de tipo especial, nomeadamente quando à delegação de poderes. Este tipo de relação
encontra-se regulada no CPA nos art.º s 44.º e ss.
A delegação de poderes consiste na prática de um ato pelo qual um órgão permite que
outro órgão exerça uma competência que continua a ser do primeiro órgão.
O art.º 44.º CPA diferencia entre delegação de competências dentro da mesma PCP –
delegação de competências – e delegação de competências entre 2 PC distintas –
delegação de atribuições.
O regime legal da delegação de poderes tem alguns requisitos:
(1) Habilitação legal expressa – art.º 44.º/1 CPA;
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

(2) Possibilidade de subdelegação segundo requisitos – art.º 46.º);


(3) Exigências dos atos de delegação e subdelegação – quanto ao conteúdo,
publicação e uso – ver art.º s 47.º, 48.º e 49.º CPA;
(4) Tipo de relação jurídica nova entre delegado e subdelegado e suas
consequências;
(5) Extinção, anulação, revogação e caducidade da delegação – art.º 49.º CPA;
(6) Efeitos da reação contenciosa – 199.º/2 CPA
A delegação carece, para ser operativa, de um ato de delegação de poderes – art.º 44.º/1.

Acontece que no caso da delegação de poderes do caso sub judice estamos perante uma
situação em que a competência da CM para o licenciamento de obras particulares é
apenas delegável ao Presidente da Câmara e não nos seus vereadores.
Estamos inequivocamente perante um caso de delegação de um poder indelegável – a
competência para o licenciamento de obras só seria delegável para o Presidente da
Câmara.
Estamos perante uma falta de habilitação legal que viola o art.º 44.º/1 do CPA – sem
uma habilitação legal, a delegação de poderes corresponderá a um caso de renúncia de
competências, regulado pelo art.º 36.º/2 CPA que reveste este ato como nulo aos olhos
da lei.
Se o ato é nulo aos olhos da lei, é como se não tivesse havido delegação. O ato nulo não
produz efeitos jurídicos, por estar revestido de nulidade.
Neste caso, o ato que venha a ser praticado ao abrigo da delegação – ou seja, o ato
praticado pelo Vereador da Câmara Municipal de Condeixa - sofrerá de um vício de
incompetência. A competência só seria válida se a delegação tivesse ocorrido a favor do
Presidente da Câmara.

(4) O que aconselharia a Bernardo caso este o questionasse sobre a


viabilidade de impugnar o ato de licenciamento junto da Ministra responsável
pelo Ordenamento do Território?
No caso sub judice estamos perante a matéria de organização administrativa quanto à
sua vertente de relações funcionais do tipo geral, mais especificamente quanto à tutela.
A tutela é uma relação intersubjetiva que consiste num conjunto de poderes de
intervenção de uma pessoa coletiva pública na gestão de outra pessoa coletiva pública, a
fim de assegurar a legalidade (administração indireta + administração autónoma) e o
mérito (administração indireta) da sua atuação.
Por força do art.º 199.º/d CRP temos que compete ao Governo, no exercício de funções
administrativas, dirigir os serviços e a atividade da administração direta do estado, civil
e militar, superintender na administração indireta e exercer a tutela sobre esta e sobre a
administração autónoma.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

No caso sub judice temos de classificar os entes intervenientes consoante o sistema


administrativo que lhe compete:
O Estado é uma pessoa coletiva pública da Administração estadual direta central.
O Município é uma pessoa coletiva pública da qual o território faz parte da definição do
substrato da respetiva instância. O Município, por princípio da tipicidade, encontra-se
inserido nas Autarquias locais, que, por sua vez, se encontra inserida na Administração
autónoma.

Por estarmos perante 2 pessoas coletivas públicas distintas, e por estarmos perante uma
pessoa coletiva pública da Administração autónoma, os poderes de Governo resumem-
se aos poderes de tutela, não havendo possibilidade de recurso hierárquico.
Há uma especificidade inerente ao facto de estarmos perante uma Autarquia Local. A
tutela que o Governo exerce sobre as autarquias locais é apenas uma tutela da legalidade
- art.º 242.º/1 CRP – devendo ser consideradas inconstitucionais as disposições legais
que alarguem os poderes de intervenção do Governo.

Permite, no entanto, o CPA recorrer a recurso administrativo especial para o órgão que
exerce tutela, que se encontra regulado no art.º 199.º/1/c), não tendo aplicação para o
caso sub judice o n.º 3 e 4 do preceito.
Assim sendo só há recurso para a Ministra nos casos expressamente previstos na lei
(art.º 199.º/1 CPA).

(5) Bernardo pretende impugnar o ato de licenciamento perante a Câmara


Municipal. Considerando a natureza jurídica da delegação, indique como o
poderia fazer e quais os poderes da Câmara Municipal.

A Delegação de poderes é o ato pelo qual um órgão permite que outro órgão exerça uma
competência que continua a ser do primeiro órgão.
A Delegação de poderes é uma relação funcional de tipo especial especialmente
regulada no CPA nos art.º s 44.º e ss.
Este tipo de regulação tem algumas exigências em termos de regime jurídico, sendo as
mesmas em termos muito breves as seguintes:
(1) Habilitação legal expressa – art.º 44.º/1 CPA;
(2) Possibilidade de subdelegação segundo requisitos – art.º 46.º);
(3) Exigências dos atos de delegação e subdelegação – quanto ao conteúdo,
publicação e uso – ver art.º s 47.º, 48.º e 49.º CPA;
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

(4) Tipo de relação jurídica nova entre delegado e subdelegado e suas


consequências;
(5) Extinção, anulação, revogação e caducidade da delegação – art.º 49.º CPA;
(6) Efeitos da reação contenciosa – 199.º/2 CPA

No caso sub judice é relevante a relação jurídica que se estabelece entre delegado e
subdelegado e a suas especificidades.
Por força do art.º 49.º o delegante tem o poder de avocar, bem como o de anular,
revogar ou substituir o ato praticado pelo delegado ou subdelegado ao abrigo da
delegação ou subdelegação.

No caso em apreço Bernardo pretende impugnar o ato de licenciamento perante a


Câmara Municipal. No enunciado temos expressamente identificado que o Vereador do
Urbanismo do Município de Condeixa, ao abrigo de uma delegação de poderes da
respetiva Câmara Municipal, licenciou a construção do edifício.
Temos aqui uma relação de delegação de poderes do delegante – Câmara Municipal –
para o delegado – Vereador do Urbanismo.
Assim sendo, como vimos por força do art.º 49.º CPA, pode o delegante avocar a si o
ato praticado pelo delegado e proceder à anulação, revogação ou substituição do ato
praticado se assim o entender. Assim o delegante pode decidir diretamente sobre
qualquer matéria, pode modicar, revogar ou anular o ato.
Podemos ainda invocar o art.º 199.º/2 CPA – que nos diz que só há recurso para o
delegante quando existir uma expressa disposição legal que preveja essa possibilidade.
Não obstante esta norma, grande parte da doutrina defende que é possível recorrer e que
o delegante tem os poderes referidos por força do art.º 47.º CPA, atuando o art.º 199.º/2
como forma corretiva.
Há aqui uma questão doutrinal conflituante: temos que ler o art.º 199.º/2 conforme e
estritamente pelo descrito na letra da lei ou temos que perspetivar este artigo como uma
forma corretiva defendida por alguma doutrina?

CASO PRÁTICO 8
Nos termos do artigo 20.º da Lei n.º 27/2008, de 30 de junho a competência para a
concessão do direito de asilo é do Diretor Nacional do Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras. Sabendo que o artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 252/2000, de 16 de outubro,
dispõe que “o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, abreviadamente designado por SEF,
é um serviço de segurança, organizado hierarquicamente na dependência do Ministro da
Administração Interna”, diga se, inconformado com uma decisão de recusa de asilo, A
pode recorrer para o Ministro da Administração Interna.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

No caso em apreço situamo-nos na matéria da organização administrativa quanto às


relações funcionais gerais, nomeadamente relativas à hierarquia.
Uma das vertentes desta organização administrativa prende-se com as relações
funcionais interorgânicas e intersubjetivas, sendo relações classificadas por tipos gerais
ou tipos especiais.
De forma muito breve temos o seguinte esquema de tipos de relações:
o RELAÇÕES FUNCIONAIS DE TIPO GERAIS (RELAÇÕES ABSTRATAS E
PERMANENTES) – hierarquia, superintendência e tutela;

o RELAÇÕES FUNCIONAIS DE TIPO ESPECIAL (EM REGRA


TEMPORÁRIAS E TRANSITÓRIAS) – Delegação de poderes e coordenação,
cooperação e concertação.

No caso sub judice estamos perante uma relação funcional de tipo geral de hierarquia.
Por definição a hierarquia consiste num modelo de organização vertical, constituído por
2 ou mais órgãos e agentes com atribuições comuns, ligados por um vínculo jurídico
que confere ao superior o poder de direção e ao subalterno o dever de obediência.
Dentro dos poderes do superior hierárquico podemos reduzir os mesmos a 6 categorias:

● Poder de direção;

● Poder de supervisão;

● Poder disciplinar;

● Poder de decidir recursos;

● Poder de inspeção;

● Poder de decidir conflitos.

No caso em apreço temos um superior hierárquico – Ministro da Administração Interna


– que tem na sua dependência um subalterno – nomeadamente o SEF. É nos dito que o
SEF é organizado hierarquicamente na dependência do Ministro da Administração
Interna – é explicitamente uma situação de hierarquia.
Dentro dos poderes explicitados acima do superior hierárquico, interessa-nos
nomeadamente o poder de decidir recursos. Este poder consiste no poder do superior
reapreciar os casos primeiramente apreciados pelo seu subalterno, podendo confirmá-lo,
revogá-lo ou eventualmente substituí-los.
No caso em apreço o subalterno – SEF – deliberou uma recusa de asilo a A e A,
inconformado com a decisão, pretende recorrer para o Ministro da Administração
Interna.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Como vimos o Ministro da Administração Interna é o superior hierárquico do


subalterno SEF pelo que pode exercer sobre este último o poder de decidir recursos,
reapreciando o caso primeiramente apreciado por ele e confirmá-lo, revoga-lo ou
substituí-lo se assim o pretender.
Aqui chegados concluímos que A pode sim recorrer para o Ministro da Administração
Interna.

E se a competência fosse ministerial e tivesse sido delegada no Diretor do SEF?


Apesar da relação hierárquica anteriormente existente, quando ocorre uma delegação de
poderes cria-se uma relação jurídica nova entre delegante e delegado, pelo que a relação
hierárquica anteriormente existente acaba por ser neutralizada.
Assim, é como se se “apagasse” a relação hierárquica que existia anteriormente.
Não obstante é de notar que mesmo neutralizada a relação hierárquica anteriormente
existente, possui ainda o delegante os poderes do 49.º CPA – o delegante pode emitir
diretivas ou instruções vinculativas para o delegado ou subdelegado sobre o modo como
devem ser exercidos os poderes delegados ou subdelegados, ou seja, pode pré-fixar
objetivos (sem nunca fixar o conteúdo, no entanto); O delegante pode ainda avocar, bem
como anular, revogar ou substituir o ato praticado pelo delegado ou subdelegado ao
abrigo da delegação ou subdelegação.

CASO 9
O Diretor Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural revogou, em 02.11.2012, o ato
por si praticado em 4.10.2011 pelo qual concedeu um subsídio a Artur ao abrigo de um
programa especial de apoio a jovens agricultores, com o fundamento de que a sua
candidatura não reunia, afinal, as condições necessárias para poder auferir daquele
benefício.
– Tendo em conta de que acordo com o disposto no Decreto-Lei n.º 7/2011, de 17 de
janeiro, que a Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural integra a
administração direta do Ministério da Agricultura e do Mar, poderia Artur recorrer para
a respetiva Ministra e, em caso afirmativo, o que poderia requerer-lhe?

No caso em apreço situamo-nos na matéria da organização administrativa quanto às


relações funcionais gerais, nomeadamente relativas à hierarquia.
Uma das vertentes desta organização administrativa prende-se com as relações
funcionais interorgânicas e intersubjetivas, sendo relações classificadas por tipos gerais
ou tipos especiais.
De forma muito breve temos o seguinte esquema de tipos de relações:
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

o RELAÇÕES FUNCIONAIS DE TIPO GERAIS (RELAÇÕES ABSTRATAS E


PERMANENTES) – hierarquia, superintendência e tutela;

o RELAÇÕES FUNCIONAIS DE TIPO ESPECIAL (EM REGRA


TEMPORÁRIAS E TRANSITÓRIAS) – Delegação de poderes e coordenação,
cooperação e concertação.

No caso sub judice estamos perante uma relação funcional de tipo geral de hierarquia.
Por definição a hierarquia consiste num modelo de organização vertical, constituído por
2 ou mais órgãos e agentes com atribuições comuns, ligados por um vínculo jurídico
que confere ao superior o poder de direção e ao subalterno o dever de obediência.
Dentro dos poderes do superior hierárquico podemos reduzir os mesmos a 6 categorias:

● Poder de direção;

● Poder de supervisão;

● Poder disciplinar;

● Poder de decidir recursos;

● Poder de inspeção;

● Poder de decidir conflitos.

No caso em apreço estamos perante uma relação de hierarquia entre superior


hierárquico – Ministra da Agricultura e do Mar – e subalterno – DG da Agricultura e do
Mar. É nos ainda dito que estamos inseridos na Administração Direta.
Na Administração Direta a relação habitual é a hierárquica, pelo que Artur poderia
recorrer para a Ministra, porque aqui é sempre possível recorrer para o superior
hierárquico (exceto quando a norma legal o proíba, veja-se o art.º 193.º CPA).
As decisões da Ministra encontram-se consagradas no 197.º CPA – esta pode anular ou
confirmar o ato (questões de legalidade) e pode ainda, se a competência do autor do ato
recorrido não for exclusiva, revogá-lo, modificá-lo ou substituí-lo (questões de mérito).

CASO PRÁTICO 10
O presidente do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, I.P. autorizou a
ocupação urbanística de um terreno integrado no Parque Natural de Sintra Cascais.
A Quercus, associação não governamental de proteção do ambiente, pretende impugnar
aquela decisão com fundamento de que a lei apenas permite a ocupação urbanística de
áreas protegidas “desde que se trate de projetos que não afetem manifestamente os
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

valores e recursos existente e criem uma evidente mais-valia, do ponto de vista da


sustentabilidade, para as populações aí residentes”.
Tendo em conta que, de acordo com a alínea a) do n.º 1 do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º
7/2011, de 17 de janeiro, Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, I.P.
prossegue as atribuições do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do
Ordenamento do Território, poderia a Quercus recorrer daquela decisão para a respetiva
Ministra e, em caso afirmativo, o que poderia requerer-lhe?

Temos que proceder, no caso sub judice, a uma classificação das entidades em causa:
Temos um Presidente que é um órgão da pessoa coletiva IP. Os IP’s enquadram-se no
âmbito da administração estadual indireta. Assim, insere-se nas entidades criadas para a
prossecução de interesse do estado, ou seja, realizada com vista à satisfação de fins do
estado, mas por outras entidades públicas, diferentes do estado, quer de natureza
pública, quer de natureza privada.
São então, criadas, extintas e orientadas pelo estado, mas este apenas pode tecer meras
orientações, não podendo ordenar nada. Contudo, têm personalidade jurídica própria,
património e pessoal próprio. Podem ainda emanar atos em nome próprio.
Os IP’s podem agrupar-se por 3 categorias: serviços personalizados, fundações públicas
e estabelecimentos públicos.

O Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento território é um


órgão da pessoa coletiva Estado.
A relação entre Estado (administração direta central) e IP (administração indireta) é uma
relação de tutela e de superintendência – por força do 199.º/d CRP.
Por tutela temos por definição «um conjunto de poderes de intervenção de uma PCP na
gestão de outra PCP, a fim de assegurar a legalidade (administração indireta +
administração autónoma) e o mérito (administração indireta) da sua atuação».
Por superintendência temos por definição «um poder conferido ao Estado ou a outra
PCP de fins múltiplos de definir os objetivos – fixando diretivas e recomendações, não
os meios; e guiar a atuação – orientar – das PC de fins singulares ou específicos
colocados por lei na sua dependência (ex: IP’s e EPE’s)». Ou seja, trata-se de um poder
de orientação.
De acordo com o art.º 199.º/d CRP o estado exerce uma tutela sobre a administração
indireta e, portanto, no caso sub judice, sobre o IP em causa.
Importa analisar o art.º 199.º/c, onde se enquadra o nosso caso, onde nos dizem que
«nos casos expressamente previstos na lei há lugar para recursos administrativos para
órgão de outra PC que exerça poderes de tutela ou de superintendência». Para o caso em
questão aplicar-se-ia também os n. º3 e 4 do preceito em análise.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

A tutela pode ainda, quanto ao seu conteúdo, ser classificada como uma tutela
revogatória, pelo que consiste no poder da entidade tutelante revogar e anular os atos
das entidades tuteladas.
Conjugando o 199.º/d CRP + 199.º/c CPA + modalidade de tutela revogatória, pode
então Quercus recorrer à Ministra, podendo esperar dela o exercício da sua tutela
revogatória, ou seja, revogar e anular os atos praticados pela entidade tutelada, que neste
caso é um IP.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

CASOS PRÁTICOS – A ADMINISTRAÇÃO E O


DIREITO

Aula 27 de novembro
CASOS DISCRICIONARIEDADE
o artigo 3.º, n.º 1, do CPTA: a intervenção dos tribunais processa-se no “respeito pelo
princípio da separação e interdependência de poderes”, - os tribunais não se
substituem à administração!
Não cabe aos tribunais pronunciarem-se sobre a conveniência ou a oportunidade da
atuação administrativa. - os tribunais não fiscalizam o mérito das decisões - se é uma
boa ou não decisão - mas sim se pretende que o juiz verifique se ela está de acordo
com o sistema legislativo.
Respeito, aquando do exercício de poderes de condenação por parte dos tribunais
administrativos, pelos “espaços de valoração próprios do exercício da função
administrativa”: o juiz verifica se foram respeitadas todas as vinculações jurídicas, mas
não se substitui ao decisor administrativo.
A discricionariedade administrativa é sempre entendida como um espaço de apreciação
e de decisão própria da Administração (da sua própria responsabilidade)

ESTRUTURA DA DECISÃO DISCRICIONÁRIA


Atividade material e funcionalmente jurídica.
Complementação concreta de uma previsão normativa aberta (fechar a norma para o
caso concreto).

INFO - EXAME ANTECIPADO DEZ 2O23!


Vai haver um caso prático com questões sobre discricionariedade – se a norma confere
ou não discricionariedade e como é que o tribunal a controla + as relações funcionais
entre órgãos (delegação de poderes ou relação hierárquica).
Ver as respostas tipo da mariana gil.

CASO PRÁTICO 1
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

De acordo com o nº 3 do artigo 24º do Decreto-Lei nº 555/99, de 16 de Dezembro, o


pedido de licenciamento de uma obra de edificação “pode (...) ser indeferido quando a
obra seja susceptível de manifestamente afectar a estética das povoações, a sua
adequada inserção no ambiente urbano ou a beleza das paisagens”.

1- Diga, justificando, se esta disposição concede competência discricionária à Câmara


Municipal quando tenha de decidir sobre um concreto pedido de licenciamento.
PONTOS OBRIGATÓRIOS A MENCIONAR:
(1) NOÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE DISCRICIONARIEDADE;

(2) MODOS DE ATRIBUIÇÃO DE DISCRICIONARIEDADE;

(3) IDENTIFICAÇÃO NO CASO SUB JUDICE DOS SEGMENTOS NORMATIVOS


SUSCETÍVEIS DE SEREM INTERPRETADOS COMO CONCEDENDO
DISCRICIONARIEDADE.

RESPOSTA MODELO
A administração pública prossegue fins heterônomos, já que os fins que lhes são
atribuídos para prosseguir não são definidos pelos próprios órgãos, quem os define é o
legislador, num plano superior político legislativo. Assim, a Administração encontra-se
vinculada à lei, no que diz respeitos aos fins e competências, sendo que não há nenhuma
atuação da administração que não esteja prevista na lei. Trata-se do princípio da
precedência da lei (no seu sentido positivo), uma vez que a administração, para atuar,
precisa de uma lei prévia do legislador.
Assim, os atos vinculados são aqueles cujo conteúdo se encontra legislativamente
definido, isto é, a lei determina não só os fins e competências mas também os meios a
prosseguir pela administração pública, pelo que esta desempenha uma função
meramente executiva. Nestes casos, há uma única solução possível, que resulta
diretamente da norma aplicável.
Pelo contrário, nos atos discricionários o legislador define o fim e os órgãos
competentes para o prosseguir, atribuindo deliberadamente à administração pública um
espaço de avaliação e decisão para determinar quais os meios mais adequados à sua
prossecução.
No entanto, não há atos absolutamente discricionários ou absolutamente vinculados. A
atividade administrativa está sempre vinculada quantos aos fins e às competências, e
pode ou não ser discricionária quanto ao conteúdo, ao procedimento, ao momento e à
oportunidade. Existe assim um continuum entre vinculação e discricionariedade.
O presente caso apresenta uma norma administrativa com uma estrutura condicional que
se divide em hipótese (tipifica a situação descrita, descrevendo os pressupostos da
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

atuação da administração pública) e a estatuição (compreende as consequências


jurídicas, isto é, o conteúdo do ato), cujo o elemento de ligação (operador deôntico) fixa
o sentido do dever que pode ser de 3 tipos: devido (“deve”); permitido/autorizado
(“pode”); ou proibido.
Deste modo, o curso defende um conceito unitário e amplo de discricionariedade, que
consiste num espaço de decisão deixado à administração como consequência de uma
indeterminação estrutural ou conceitual, e que compreende os efeitos e as condições de
decisão, traduzindo-se numa abertura normativa.
Atualmente, o poder discricionário é entendido como a concessão do legislador à
administração de um poder jurídico, já que é criador de Direito no caso concreto, no
contexto de poderes constitucionalmente separados. Deste modo, a discricionariedade
passou a ser vista de forma positiva pela sua importância na realização do interesse
público. As decisões administrativas são sempre tomadas em respeito pelos princípios
da juridicidade, isto é, orientadas pelo fim da norma, pelos princípios jurídicos e pelos
direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Como tal, a discricionariedade engloba as seguintes técnicas de concessão:
Em primeiro lugar, temos como técnica de concessão de discricionariedade as situações
de indeterminação estrutural, que engloba as faculdades diretas de ação e onde podemos
encontrar 2 tipos de normas: normas com estrutura condicional (se…então) e normas
com estrutura programática ou final.
Nas normas com estrutura condicional (se…então) temos uma norma com uma hipótese
e uma estatuição que se desdobra em 2 submodalidades de normas: normas autorizativas
ou permissivas - “deve”; normas com escolha em alternativa (pré determinadas e não
pré-determinadas) - “deve” ou “pode”, respetivamente.
Quanto às normas com estrutura programática ou final temos uma norma em que o
legislador apenas fixou os fins ou objetivos que a Administração deve prosseguir,
deixando-lhe a determinação dos meios mais adequados e idôneos à sua prossecução.
Em segundo lugar, temos como técnica de concessão de discricionariedade as situações
de indeterminação conceitual, que compreende os espaços de apreciação na aplicação
dos conceitos indeterminados, quer do lado da hipótese (discricionariedade de
apreciação), quer do lado da estatuição (discricionariedade de ação).
Além destas, existem ainda as situações mais amplas de liberdade de conformação na
administração constitutiva e planificadora, em que a norma é final, fixa os objetivos, e a
administração define as soluções e as prerrogativas de avaliação.

No caso sub judice, a norma apresentada confere poderes discricionários à


administração, quanto às determinações estruturais, uma vez que é uma norma do tipo
permissiva (veja-se o elemento de ligação “pode”), tratando-se de uma
discricionariedade de decisão, já que a administração pública pode ou não seguir a
medida prevista pela estatuição. Assim, permite atuar mas não obriga a atuar.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Relativamente às indeterminações conceituais, a norma administrativa compreende


conceitos imprecisos, em que o conteúdo não é determinado de antemão - “suscetível de
manifestamente”; “afetar a estética das povoações”; “adequada inserção”; “beleza das
paisagens”. Desta forma, estamos perante verdadeiros conceitos indeterminados que
requerem juízos de valor por parte da administração pública e, portanto, concedem
discricionariedade.

2- Diga, justificando, se é possível, em que termos e com que fundamento, o controlo


judicial dos atos praticados no âmbito dessa competência.
PONTOS OBRIGATÓRIOS A MENCIONAR:
(1) ÂMBITO DO CONTROLO DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA: O CONTROLO DA
LEGALIDADE/JURIDICIDADE DAS ATUAÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA;

(2) VINCULAÇÃO DO EXERCÍCIO DE PODERES DISCRICIONÁRIOS;

(3) METODOLOGIA DO CONTROLO JUDICIAL DAS DECISÕES DISCRICIONÁRIAS.

RESPOSTA MODELO
Apesar do que fora supra referido, a zona de discricionariedade da administração
pública encontra-se sujeita ao controlo do juiz, registando-se uma repartição de
competências entre ambos. À administração cabem a autoria dos atos e a
responsabilidade pelos mesmo e aos tribunais compete o controlo da compatibilidade
entre a atuação administrativa e as normas legais e os princípios jurídicos.
Contudo, o tribunal não controla o mérito das decisões da administração pública
(conveniência da sua atuação), controla apenas a juridicidade (se cumpre os princípios e
os critérios jurídicos), sendo que este não se substitui à administração, proibindo-se a
dupla administração.
Deste modo podemos distinguir 2 tipos de controlo:
Em primeiro lugar, o controlo externo, que se dirige aos aspetos vinculados,
nomeadamente aos fins e as competências previstas na norma legal.
Em segundo lugar, o controlo interno, onde se controla o próprio uso dos poderes
discricionários, sendo o critério de controlo os princípios jurídicos que orientam as
escolhas administrativas, analisando-se todo o processo que antecedeu o ato em causa,
bem como a fundamentação que o justificou.
Como tal, constituem vícios típicos de discricionariedade os seguintes:
Por banda do controlo externo, temos um vício de incompetência - quando o órgão que
atuou não era competente ou não dispunha de legitimação para agir, procedendo o
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

tribunal administrativo à anulação do ato; ou podemos ainda ter um desvio do poder


subjetivo, que pode consubstanciar-se numa utilização por parte da administração dos
seus poderes discricionários para prosseguir interesses distintos daqueles que a lei
estabeleceu.
Por banda do controlo intrínseco, temos um desvio de poder objetivo, sendo que são
anuláveis as decisões discricionárias administrativas que violem ostensivamente e
intoleravelmente os princípios jurídicos. Integram ainda nesta modalidade o erro de
facto, no caso da administração basear a sua decisão em factos inexistentes ou
falseados; e o erro manifesto de apreciação, ou seja, quando se torna evidente que a
administração pública avaliou mal a realidade, mesmo que tenha se baseado em factos
verdadeiros.
Ainda assim, no âmbito dos poderes discricionários, está em causa a fiscalização por
parte dos tribunais, mas não um reexame e, portanto, um controlo atenuado. Ainda
assim, o juiz tem o dever de reexame em determinadas situações, nomeadamente
perante a necessidade de uma proteção plena dos particulares e dos seus direitos.

Atendendo à presente situação, concluímos na questão anterior que a norma em questão


concedia competência discricionária à Câmara Municipal quanto tenha de decidir sobre
um concreto pedido de licenciamento, pelo que a falta de competências deste órgão
administrativo é algo que se encontra fora de questão no caso sub judice.
Quanto ao controlo externo, vimos que este se podia consubstanciar em 2 tipos de
vícios: vícios de incompetência ou desvio do poder subjetivo. Não estando a falta de
competências em questão no caso em apreço, também não estaríamos perante um desvio
do poder subjetivo, visto que o órgão em questão faz uso dos seus poderes
discricionários em conformidade com os fins que lhes são atribuídos por lei.
Quanto ao controlo externo, vimos que este se podia consubstanciar em 3 tipos de
vícios: desvio do poder objetivo, erro de facto e erro manifesto de apreciação.
Poderia aqui se colocar a questão dos erros de facto ou dos erros manifestos de
apreciação, já que estamos perante conceitos indeterminados que podem dar azo a
algum tipo de subjetividade aquando da sua apreciação. Não obstante, nada nos é dito
no caso prático, pelo que optamos por nos conformar com a lícita atuação da
administração.
Tendo o juiz o dever de reexame em determinadas situações, nomeadamente perante a
necessidade de uma proteção plena dos particulares e dos seus direitos, não me parece
que seja objeto do caso sub judice.
Em termos gerais é sempre possível um controlo (apesar de atenuado e sempre tendo em
vista a proibição de uma dupla administração) por parte dos tribunais da atuação da
administração pública quando faz uso dos poderes discricionários legalmente lhe
concedidos. Acresce-se reforçar que este controlo será sempre da legalidade e nunca do
mérito.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Assume assim o tribunal uma mera fiscalização à atuação administrativa, por um


controlo atenuado.

CASO PRÁTICO 2
De acordo com o disposto no nº 3 do artigo 36º Decreto-Lei nº 309/2009, de 23 de
outubro, os imóveis que tenham sido objeto de classificação patrimonial “devem
beneficiar de uma zona especial de protecção”, a qual, nos termos do artigo 43º do
mesmo diploma legal, “deve ter a extensão e as restrições adequadas em função da
valorização do bem imóvel classificado” (nº1) destinadas a assegurar “o enquadramento
paisagístico do bem imóvel e as perspectivas da sua contemplação” (nº2) e devendo
estabelecer zonamentos específicos e indicar “as restrições estritamente necessárias”.

1- Considera que a referida norma confere à entidade responsável pelo património


cultural poderes discricionários na delimitação de uma concreta zona especial de
protecção a um imóvel classificado como monumento nacional?

RESPOSTA MODELO
A administração pública prossegue fins heterônomos, já que os fins que lhes são
atribuídos para prosseguir não são definidos pelos próprios órgãos, quem os define é o
legislador, num plano superior político legislativo. Assim, a Administração encontra-se
vinculada à lei, no que diz respeitos aos fins e competências, sendo que não há nenhuma
atuação da administração que não esteja prevista na lei. Trata-se do princípio da
precedência da lei (no seu sentido positivo), uma vez que a administração, para atuar,
precisa de uma lei prévia do legislador.
Assim, os atos vinculados são aqueles cujo conteúdo se encontra legislativamente
definido, isto é, a lei determina não só os fins e competências mas também os meios a
prosseguir pela administração pública, pelo que esta desempenha uma função
meramente executiva. Nestes casos, há uma única solução possível, que resulta
diretamente da norma aplicável.
Pelo contrário, nos atos discricionários o legislador define o fim e os órgãos
competentes para o prosseguir, atribuindo deliberadamente à administração pública um
espaço de avaliação e decisão para determinar quais os meios mais adequados à sua
prossecução.
No entanto, não há atos absolutamente discricionários ou absolutamente vinculados. A
atividade administrativa está sempre vinculada quantos aos fins e às competências, e
pode ou não ser discricionária quanto ao conteúdo, ao procedimento, ao momento e à
oportunidade. Existe assim um continuum entre vinculação e discricionariedade.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

O presente caso apresenta uma norma administrativa com uma estrutura condicional que
se divide em hipótese (tipifica a situação descrita, descrevendo os pressupostos da
atuação da administração pública) e a estatuição (compreende as consequências
jurídicas, isto é, o conteúdo do ato), cujo o elemento de ligação (operador deôntico) fixa
o sentido do dever que pode ser de 3 tipos: devido (“deve”); permitido/autorizado
(“pode”); ou proibido.
Deste modo, o curso defende um conceito unitário e amplo de discricionariedade, que
consiste num espaço de decisão deixado à administração como consequência de uma
indeterminação estrutural ou conceitual, e que compreende os efeitos e as condições de
decisão, traduzindo-se numa abertura normativa.
Atualmente, o poder discricionário é entendido como a concessão do legislador à
administração de um poder jurídico, já que é criador de Direito no caso concreto, no
contexto de poderes constitucionalmente separados. Deste modo, a discricionariedade
passou a ser vista de forma positiva pela sua importância na realização do interesse
público. As decisões administrativas são sempre tomadas em respeito pelos princípios
da juridicidade, isto é, orientadas pelo fim da norma, pelos princípios jurídicos e pelos
direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Como tal, a discricionariedade engloba as seguintes técnicas de concessão:
Em primeiro lugar, temos como técnica de concessão de discricionariedade as situações
de indeterminação estrutural, que engloba as faculdades diretas de ação e onde podemos
encontrar 2 tipos de normas: normas com estrutura condicional (se…então) e normas
com estrutura programática ou final.
Nas normas com estrutura condicional (se…então) temos uma norma com uma hipótese
e uma estatuição que se desdobra em 2 submodalidades de normas: normas autorizativas
ou permissivas - “deve”; normas com escolha em alternativa (pré determinadas e não
pré-determinadas) - “deve” ou “pode”, respetivamente.
Quanto às normas com estrutura programática ou final temos uma norma em que o
legislador apenas fixou os fins ou objetivos que a Administração deve prosseguir,
deixando-lhe a determinação dos meios mais adequados e idôneos à sua prossecução.
Em segundo lugar, temos como técnica de concessão de discricionariedade as situações
de indeterminação conceitual, que compreende os espaços de apreciação na aplicação
dos conceitos indeterminados, quer do lado da hipótese (discricionariedade de
apreciação), quer do lado da estatuição (discricionariedade de ação).
Além destas, existem ainda as situações mais amplas de liberdade de conformação na
administração constitutiva e planificadora, em que a norma é final, fixa os objetivos, e a
administração define as soluções e as prerrogativas de avaliação.
Por conseguinte, a presente norma confere poderes discricionários, uma vez que
apresenta indeterminações estruturais, pois esta norma apresenta soluções em alternativa
(discricionariedade de escolha), estando presente o elemento de ligação deôntico -
“deve” -, mas que não estão pré-determinadas (havendo do lado da estatuição medidas
em alternativa), sendo que a administração pode adotar as medidas adequadas e
necessárias.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Temos ainda presente na norma indeterminações conceituais, uma vez que estão
presentes vários conceitos indeterminados, permitindo à administração pública definir
uma zona especial mais ou menos ampla, impondo mais ou menos restrições,
consequentemente.

2- O proprietário de um terreno integrado naquela zona especial de proteção pretende


reagir por considerar que a extensão territorial da mesma é manifestamente exagerada
não lhe permitindo alcançar os objectivos definidos na lei. O que diria do argumento
utilizado pela entidade responsável pelo património cultural de que “estas decisões não
são sindicáveis judicialmente, uma vez que são tomadas com base em critérios
científicos e técnicos próprios e por técnicos especialistas nesta matéria”?
RESPOSTA MODELO
Apesar do que fora supra referido, a zona de discricionariedade da administração
pública encontra-se sujeita ao controlo do juiz, registando-se uma repartição de
competências entre ambos. À administração cabem a autoria dos atos e a
responsabilidade pelos mesmo e aos tribunais compete o controlo da compatibilidade
entre a atuação administrativa e as normas legais e os princípios jurídicos.
Contudo, o tribunal não controla o mérito das decisões da administração pública
(conveniência da sua atuação), controla apenas a juridicidade (se cumpre os princípios e
os critérios jurídicos), sendo que este não se substitui à administração, proibindo-se a
dupla administração.
Deste modo podemos distinguir 2 tipos de controlo:
Em primeiro lugar, o controlo externo, que se dirige aos aspetos vinculados,
nomeadamente aos fins e as competências previstas na norma legal.
Em segundo lugar, o controlo interno, onde se controla o próprio uso dos poderes
discricionários, sendo o critério de controlo os princípios jurídicos que orientam as
escolhas administrativas, analisando-se todo o processo que antecedeu o ato em causa,
bem como a fundamentação que o justificou.
Como tal, constituem vícios típicos de discricionariedade os seguintes:
Por banda do controlo externo, temos um vício de incompetência - quando o órgão que
atuou não era competente ou não dispunha de legitimação para agir, procedendo o
tribunal administrativo à anulação do ato; ou podemos ainda ter um desvio do poder
subjetivo, que pode consubstanciar-se numa utilização por parte da administração dos
seus poderes discricionários para prosseguir interesses distintos daqueles que a lei
estabeleceu.
Por banda do controlo intrínseco, temos um desvio de poder objetivo, sendo que são
anuláveis as decisões discricionárias administrativas que violem ostensivamente e
intoleravelmente os princípios jurídicos. Integram ainda nesta modalidade o erro de
facto, no caso da administração basear a sua decisão em factos inexistentes ou
falseados; e o erro manifesto de apreciação, ou seja, quando se torna evidente que a
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

administração pública avaliou mal a realidade, mesmo que tenha se baseado em factos
verdadeiros.
Ainda assim, no âmbito dos poderes discricionários, está em causa a fiscalização por
parte dos tribunais, mas não um reexame e, portanto, um controlo atenuado. Ainda
assim, o juiz tem o dever de reexame em determinadas situações, nomeadamente
perante a necessidade de uma proteção plena dos particulares e dos seus direitos.

Atendendo ao caso prático em apreço, a decisão discricionária pode ser controlada pelo
tribunal, por força da vinculação dos atos da administração ao princípio da juridicidade,
e devendo sempre ter em atenção que o tribunal apenas controla a legalidade da atuação
e que se proibe uma dupla administração por parte deste.
Deste modo, está em causa um devio do poder objetivo, uma vez que está em causa uma
violação do princípio da proporcionalidade (adequação, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito).

CASO PRÁTICO 3

O artigo 3.º da Lei n.º 27/2008, de 30 de Junho, vem estabelecer, para efeitos de
concessão do direito de asilo, cuja competência assiste, nos termos do artigo 20.º do
mesmo diploma, ao Director Nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
(SEF), o seguinte:

“1 - É garantido o direito de asilo aos estrangeiros e aos apátridas perseguidos ou


gravemente ameaçados de perseguição, em consequência de actividade exercida no
Estado da sua nacionalidade ou da sua residência habitual em favor da democracia, da
libertação social e nacional, da paz entre os povos, da liberdade e dos direitos da pessoa
humana.

“2 - Têm ainda direito à concessão de asilo os estrangeiros e os apátrida que, receando


com fundamento ser perseguidos em virtude da sua raça, religião, nacionalidade,
opiniões políticas ou integração em certo grupo social, não possam ou, por esse receio,
não queiram voltar ao Estado da sua nacionalidade ou da sua residência habitual”.

1 - Diga, justificando, se estas disposições concedem competência discricionária ao


Director Nacional do SEF.
(RESPOSTA MODELO)
Indeterminações conceituais - presença de conceitos indeterminados no n.º 1 -
“gravemente ameaçados” - e no n.º 2 - “receando com fundamento ser perseguidos” -
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

pelo que os conceitos indeterminados em questão condicionam a decisão da


administração com um envolvimento a juízos de prognose.

2 - Diga, justificando, se é possível, em que termos e com que fundamento o controlo


judicial dos atos praticados no âmbito dessa competência.
(RESPOSTA MODELO)
Estamos perante um caso de poder de reexame do Tribunal por estar em causa a
salvaguarda de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

CASO PRÁTICO 4
De acordo com a Lei do Património Cultural “os serviços do património competentes
podem ordenar a demolição de prédios em estado grave de ruína situados em zonas de
protecção de bens classificados, desde que constituam uma ameaça séria para o
património cultural, histórico e artístico”

1 - Diga, justificando, se estas disposições concedem competência discricionária aos


serviços competentes.
(RESPOSTA MODELO)
No caso em apreço estamos perante uma norma permissiva - “podem” - em que há
discricionariedade de atuação (a lei permite atuar mas não obriga).
Temos ainda presente na norma conceitos indeterminados - “estado grave de ruína”;
“ameaça séria”. A utilização de conceitos indeterminados requerem juízos de valor por
parte da administração pública e, portanto, concedem discricionariedade.

2 - Diga, justificando, se é possível, em que termos e com que fundamento o controlo


judicial dos actos praticados no âmbito dessa competência.
(RESPOSTA MODELO)

Atendendo à presente situação, concluímos na questão anterior que a norma em questão


concedia competência aos serviços competentes, pelo que a falta de competências deste
órgão administrativo é algo que se encontra fora de questão no caso sub judice.
Quanto ao controlo externo, vimos que este se podia consubstanciar em 2 tipos de
vícios: vícios de incompetência ou desvio do poder subjetivo. Não estando a falta de
competências em questão no caso em apreço, também não estaríamos perante um desvio
do poder subjetivo, visto que o órgão em questão faz uso dos seus poderes
discricionários em conformidade com os fins que lhes são atribuídos por lei.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Quanto ao controlo externo, vimos que este se podia consubstanciar em 3 tipos de


vícios: desvio do poder objetivo, erro de facto e erro manifesto de apreciação.
Poderia aqui se colocar a questão dos erros de facto ou dos erros manifestos de
apreciação, já que estamos perante conceitos indeterminados que podem dar azo a
algum tipo de subjetividade aquando da sua apreciação. Não obstante, nada nos é dito
no caso prático, pelo que optamos por nos conformar com a lícita atuação da
administração.
Tendo o juiz o dever de reexame em determinadas situações, nomeadamente perante a
necessidade de uma proteção plena dos particulares e dos seus direitos, não me parece
que seja objeto do caso sub judice.
Em termos gerais é sempre possível um controlo (apesar de atenuado e sempre tendo em
vista a proibição de uma dupla administração) por parte dos tribunais da atuação da
administração pública quando faz uso dos poderes discricionários legalmente lhe
concedidos. Acresce-se reforçar que este controlo será sempre da legalidade e nunca do
mérito.
Assume assim o tribunal uma mera fiscalização à atuação administrativa, por um
controlo atenuado.

CASO PRÁTICO 5
Nos termos do artigo 18.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro (Lei de Bases do
Património Cultural), a classificação consiste no “acto final do procedimento
administrativo mediante o qual se determina que certo bem possui um inestimável valor
cultural”.
Os bens culturais podem ser objeto de classificação como bens de interesse nacional
“quando a respectiva protecção e valorização, no todo ou em parte, represente um valor
cultural de significado para a Nação”.

1 - Diga, justificando, se a classificação de um bem como bem cultural de interesse


nacional corresponde ao exercício de um poder discricionário.
(RESPOSTA TIPO)
“Bens de interesse nacional “ - conceito indeterminado (indeterminação conceitual).
Com a utilização de um conceito indeterminado na norma em questão requere-se juízos
de valor por parte da administração pública e, portanto, concedem discricionariedade.

2 - Imagine que A, proprietário de um solar, viu o seu imóvel classificado como bem de
interesse nacional, com os seguintes fundamentos: “o valor científico, patrimonial e
cultural do imóvel classificado articula-se segundo critérios como autenticidade,raridade
e singularidade, que se revelam expressivamente narelevância simbólica que adquiriram
como lugar da memória histórica e política, na medida em que aí passou a sua infância o
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Infante D. Henrique”. Descontente com a decisão (que o impede de utilizar livremente o


solar),
A pretende reagir nos tribunais administrativos. Para tanto invoca que, ao contrário do
que resulta do ato, naquele solar nunca viveu qualquer Infante de Portugal. Se fosse
juiz do processo, como se pronunciaria?

(RESPOSTA TIPO)
No caso em apreço poderíamos estar perante um controlo intrínseco com um vício
relativo a um erro de facto, isto é, a Administração baseou-se na sua decisão em factos
inexistentes ou falseados. Assim o tribunal deve invocar a anulação do ato
administrativo baseado em erro de facto.

CASO PRÁTICO 6
O Director Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural indeferiu o requerimento
para atribuição de um subsídio a Artur ao abrigo de um programa especial de apoio a
jovens agricultores, com o fundamento de que a sua candidatura não reunia as condições
necessárias para poder auferir daquele benefício.
Nos termos da lei, tal subsidio apenas deve ser concedido quando estejam em causa
“projectos altamente inovadores na área da agricultura e que potenciem de forma
significativa o desenvolvimento económico e social das respectivas populações”.

1 - Diga, justificando, se a disposição legal referida concede competência discricionária


ao director geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural.
(RESPOSTA TIPO)
“Projetos altamente inovadores“; “Potenciem de forma significativa” - conceitos
indeterminados (indeterminação conceitual). Com a utilização de conceitos
indeterminados na norma em questão requerem-se juízos de valor por parte da
administração pública e, portanto, concede-se discricionariedade.

2 - Diga, justificando, se é possível, em que termos e com que fundamento o tribunal


condenar a Administração à concessão do subsídio.
(RESPOSTA TIPO)

Atendendo à presente situação, concluímos na questão anterior que a norma em questão


concedia competência discricionária ao Diretor Geral de Agricultura e Desenvolvimento
Rural, pelo que a falta de competências deste órgão administrativo é algo que se
encontra fora de questão no caso sub judice.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Quanto ao controlo externo, vimos que este se podia consubstanciar em 2 tipos de


vícios: vícios de incompetência ou desvio do poder subjetivo. Não estando a falta de
competências em questão no caso em apreço, também não estaríamos perante um desvio
do poder subjetivo, visto que o órgão em questão faz uso dos seus poderes
discricionários em conformidade com os fins que lhes são atribuídos por lei.
Quanto ao controlo externo, vimos que este se podia consubstanciar em 3 tipos de
vícios: desvio do poder objetivo, erro de facto e erro manifesto de apreciação.
Poderia aqui se colocar a questão dos erros de facto ou dos erros manifestos de
apreciação, já que estamos perante conceitos indeterminados que podem dar azo a
algum tipo de subjetividade aquando da sua apreciação. Não obstante, nada nos é dito
no caso prático, pelo que optamos por nos conformar com a lícita atuação da
administração.
Tendo o juiz o dever de reexame em determinadas situações, nomeadamente perante a
necessidade de uma proteção plena dos particulares e dos seus direitos, não me parece
que seja objeto do caso sub judice.
Em termos gerais é sempre possível um controlo (apesar de atenuado e sempre tendo em
vista a proibição de uma dupla administração) por parte dos tribunais da atuação da
administração pública quando faz uso dos poderes discricionários legalmente lhe
concedidos. Acresce-se reforçar que este controlo será sempre da legalidade e nunca do
mérito.
Assume assim o tribunal uma mera fiscalização à atuação administrativa, por um
controlo atenuado.

CASO PRÁTICO 9
O presidente do instituto de conservação da natureza e florestas, IP, autorizou a
construção de um empreendimento de turismo de natureza num terreno integrado na
área de proteção complementar de tipo 1 (área de ocupação mais restrita, por ser
ambientalmente mais sensível) do parque natural da ria formosa.
A Quercus, Associação Não Governamental de Proteção do Ambiente, pretende
impugnar aquela decisão com fundamento no plano de ordenamento daquele parque
natural apenas permitir aquele tipo de empreendimentos turísticos “desde que para além
de não afetem manifestamente os valores e recursos naturais existentes, cria uma
evidente mais valia do ponto de vista da valorização desses mesmos valores”.

1- Diga justificando se a competência legal referida confere competência discricionária


ao presidente do instituto da conservação da natureza e florestas, IP.
RESPOSTA MODELO
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

A administração pública prossegue fins heterônomos, já que os fins que lhes são
atribuídos para prosseguir não são definidos pelos próprios órgãos, quem os define é o
legislador, num plano superior político legislativo. Assim, a Administração encontra-se
vinculada à lei, no que diz respeitos aos fins e competências, sendo que não há nenhuma
atuação da administração que não esteja prevista na lei. Trata-se do princípio da
precedência da lei (no seu sentido positivo), uma vez que a administração, para atuar,
precisa de uma lei prévia do legislador.
Assim, os atos vinculados são aqueles cujo conteúdo se encontra legislativamente
definido, isto é, a lei determina não só os fins e competências mas também os meios a
prosseguir pela administração pública, pelo que esta desempenha uma função
meramente executiva. Nestes casos, há uma única solução possível, que resulta
diretamente da norma aplicável.
Pelo contrário, nos atos discricionários o legislador define o fim e os órgãos
competentes para o prosseguir, atribuindo deliberadamente à administração pública um
espaço de avaliação e decisão para determinar quais os meios mais adequados à sua
prossecução.
No entanto, não há atos absolutamente discricionários ou absolutamente vinculados. A
atividade administrativa está sempre vinculada quantos aos fins e às competências, e
pode ou não ser discricionária quanto ao conteúdo, ao procedimento, ao momento e à
oportunidade. Existe assim um continuum entre vinculação e discricionariedade.
O presente caso apresenta uma norma administrativa com uma estrutura condicional que
se divide em hipótese (tipifica a situação descrita, descrevendo os pressupostos da
atuação da administração pública) e a estatuição (compreende as consequências
jurídicas, isto é, o conteúdo do ato), cujo o elemento de ligação (operador deôntico) fixa
o sentido do dever que pode ser de 3 tipos: devido (“deve”); permitido/autorizado
(“pode”); ou proibido.
Deste modo, o curso defende um conceito unitário e amplo de discricionariedade, que
consiste num espaço de decisão deixado à administração como consequência de uma
indeterminação estrutural ou conceitual, e que compreende os efeitos e as condições de
decisão, traduzindo-se numa abertura normativa.
Atualmente, o poder discricionário é entendido como a concessão do legislador à
administração de um poder jurídico, já que é criador de Direito no caso concreto, no
contexto de poderes constitucionalmente separados. Deste modo, a discricionariedade
passou a ser vista de forma positiva pela sua importância na realização do interesse
público. As decisões administrativas são sempre tomadas em respeito pelos princípios
da juridicidade, isto é, orientadas pelo fim da norma, pelos princípios jurídicos e pelos
direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Como tal, a discricionariedade engloba as seguintes técnicas de concessão:
Em primeiro lugar, temos como técnica de concessão de discricionariedade as situações
de indeterminação estrutural, que engloba as faculdades diretas de ação e onde podemos
encontrar 2 tipos de normas: normas com estrutura condicional (se…então) e normas
com estrutura programática ou final.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Nas normas com estrutura condicional (se…então) temos uma norma com uma hipótese
e uma estatuição que se desdobra em 2 submodalidades de normas: normas autorizativas
ou permissivas - “deve”; normas com escolha em alternativa (pré determinadas e não
pré-determinadas) - “deve” ou “pode”, respetivamente.
Quanto às normas com estrutura programática ou final temos uma norma em que o
legislador apenas fixou os fins ou objetivos que a Administração deve prosseguir,
deixando-lhe a determinação dos meios mais adequados e idôneos à sua prossecução.
Em segundo lugar, temos como técnica de concessão de discricionariedade as situações
de indeterminação conceitual, que compreende os espaços de apreciação na aplicação
dos conceitos indeterminados, quer do lado da hipótese (discricionariedade de
apreciação), quer do lado da estatuição (discricionariedade de ação).
Além destas, existem ainda as situações mais amplas de liberdade de conformação na
administração constitutiva e planificadora, em que a norma é final, fixa os objetivos, e a
administração define as soluções e as prerrogativas de avaliação.

No presente caso, a norma confere poderes discricionários por estarmos perante


indeterminações estruturais, sendo uma norma com escolha em alternativa cujo
conteúdo não estava pré-determinado.
Temos ainda na norma indeterminações conceituais, estando presente na norma
administrativa conceitos imprecisos. Desta forma, estamos perante verdadeiros
conceitos indeterminados que requerem juízos de valor por parte da administração
pública e, portanto, concedem discricionariedade. Assim, traduz-se em duas
indeterminações conceituais - “não afetem manifestamente” e “evidente mais valia”.

2- É possível, em que termos e com que fundamento, o controlo judicial da decisão


proferida pelo presidente do instituto da conservação da natureza e florestas, IP.
RESPOSTA MODELO
Apesar do que fora supra referido, a zona de discricionariedade da administração
pública encontra-se sujeita ao controlo do juiz, registando-se uma repartição de
competências entre ambos. À administração cabem a autoria dos atos e a
responsabilidade pelos mesmo e aos tribunais compete o controlo da compatibilidade
entre a atuação administrativa e as normas legais e os princípios jurídicos.
Contudo, o tribunal não controla o mérito das decisões da administração pública
(conveniência da sua atuação), controla apenas a juridicidade (se cumpre os princípios e
os critérios jurídicos), sendo que este não se substitui à administração, proibindo-se a
dupla administração.
Deste modo podemos distinguir 2 tipos de controlo:
Em primeiro lugar, o controlo externo, que se dirige aos aspetos vinculados,
nomeadamente aos fins e as competências previstas na norma legal.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Em segundo lugar, o controlo interno, onde se controla o próprio uso dos poderes
discricionários, sendo o critério de controlo os princípios jurídicos que orientam as
escolhas administrativas, analisando-se todo o processo que antecedeu o ato em causa,
bem como a fundamentação que o justificou.
Como tal, constituem vícios típicos de discricionariedade os seguintes:
Por banda do controlo externo, temos um vício de incompetência - quando o órgão que
atuou não era competente ou não dispunha de legitimação para agir, procedendo o
tribunal administrativo à anulação do ato; ou podemos ainda ter um desvio do poder
subjetivo, que pode consubstanciar-se numa utilização por parte da administração dos
seus poderes discricionários para prosseguir interesses distintos daqueles que a lei
estabeleceu.
Por banda do controlo intrínseco, temos um desvio de poder objetivo, sendo que são
anuláveis as decisões discricionárias administrativas que violem ostensivamente e
intoleravelmente os princípios jurídicos. Integram ainda nesta modalidade o erro de
facto, no caso da administração basear a sua decisão em factos inexistentes ou
falseados; e o erro manifesto de apreciação, ou seja, quando se torna evidente que a
administração pública avaliou mal a realidade, mesmo que tenha se baseado em factos
verdadeiros.
Ainda assim, no âmbito dos poderes discricionários, está em causa a fiscalização por
parte dos tribunais, mas não um reexame e, portanto, um controlo atenuado. Ainda
assim, o juiz tem o dever de reexame em determinadas situações, nomeadamente
perante a necessidade de uma proteção plena dos particulares e dos seus direitos.

Atendendo ao caso prático em apreço, a decisão discricionária pode ser controlada pelo
tribunal, por força da vinculação dos atos da administração ao princípio da juridicidade,
e devendo sempre ter em atenção que o tribunal apenas controla a legalidade da atuação
e que se proibe uma dupla administração por parte deste.
Deste modo, está em causa um desvio do poder objetivo, uma vez que está em causa
uma violação do princípio da proporcionalidade (adequação, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito).

3- Tendo em conta que nos termos do Decreto Lei 251A/2015, de 17 de dezembro, que
aprovou a lei orgânica do 21º governo constitucional, o Instituto de Conservação da
Natureza e das Florestas, IP, está sujeito nas matérias da respetiva atribuição, à
superintendência e a tutela do Ministro do Ambiente, conjuntamente com o Ministro da
Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural. Poderia a Quercus recorrer daquela
decisão para o Ministro do Ambiente? Em caso afirmativo, o que podia recorrer?
RESPOSTA MODELO
O IP integra a administração indireta do estado. Assim, insere-se nas entidades criadas
para a prossecução de interesses do estado, ou seja, realizada com vista à satisfação de
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

fins do estado mas por outras entidades públicas, diferentes do estado, quer de natureza
pública, quer de natureza privada.
São então criadas, extintas e orientadas pelo estado, mas este apenas pode tecer meras
orientaçõs, não podendo ordenar nada a esta. Contudo, as IP têm personalidade jurídica
própria, patrimônio e pessoal próprio. Podem ainda emanar atos em nome próprio.
Acresce que os IP são PC institucionais e de caráter não empresarial, distinguindo-se
deste modo das EPE, e que têm fins únicos.
Estes podem ser agrupados em 3 categorias: serviços personalizados, fundações
públicas e estabelecimentos públicos.
Acresce que o IP em questão está sujeito nas matérias da respetiva atribuição, à
superintendência e a tutela do Ministro do ambiente, conjuntamente com o Ministro da
Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.
Deste modo superintendência é o poder conferido ao Estado a outra PC de fins
múltiplos para definir os objetivos, fixando diretivas e recomendações, e orientar a
atuação das PC de fins específicos, neste caso dos IP. Trata-se de um poder de
orientação. Assim, a superintendência liga o Estado, enquanto Governo, à administração
estadual indireta, ou seja liga o IP ao Ministro do Ambiente, conjuntamente com o
Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.
Já a tutela, é o conjunto de poderes de intervenção de uma PCP na gestão de outra PCP,
a fim se assegurar a legalidade (cumprimento da lei) e o mérito (adoção de soluções
convenientes para a prossecução do interesse público) da sua atuação.
De acordo com o art.º 199.º/d CRP, o Governo exerce uma tutela sobre a administração
indireta, e portanto sobre o IP.
Por fim, a Quercus poderá recorrer ao Ministro do Ambiente, conjuntamente com o
Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, e estes poderão, através da
tutela revogatória, revogar e anular os atos praticados pela entidade tutelada, que neste
caso, é um IP (art.º 199.º/c CPA).
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

CASOS PRÁTICOS DOUTOR VASCO (PRÁTICAS)

CASO PRÁTICO 1
I - A Ministra da Cultura recusou a concessão de um subsídio de apoio a atividades
artísticas a uma companhia de teatro que a havia requerido ao abrigo de uma disposição
legal segundo a qual “o ministro responsável pela área da cultura pode atribuir
subsídios de apoio a companhias teatrais cujas peças se apresentem como
manifestamente relevantes para a divulgação da cultura portuguesa, designadamente
por divulgarem textos de autores de reconhecido mérito da literatura portuguesa”.
i) Diga, justificando, se esta disposição legal concede competência discricionária à
Ministra da Cultura.
ii) Diga, justificando, se é possível, em que termos e com que fundamento, o controlo
judicial da concreta atribuição ou da recusa de atribuição de um subsídio de apoio
efetuada ao abrigo desta norma.
iii) A Ministra decide conceder o referido subsídio a uma outra companhia de teatro,
que é dirigida por um seu irmão. Existe alguma invalidade nesta decisão?

I) (RESPOSTA MODELO)
INDETERMINAÇÕES ESTRUTURAIS - “podem” como norma com escolha em
alternativa não pré-determinada (permite a atuação da administração mas não obriga) -
discricionariedade de decisão ou de atuação;
INDETERMINAÇÕES CONCEITUAIS: conceitos indeterminados - “manifestamente
relevantes” e “reconhecido mérito” que exigem da administração juízos de valor

II) (RESPOSTA MODELO)

III) Conflito de interesses.


Temos de analisar o caso segundo 3 vertentes:
(1) COMPETÊNCIA - vimos na alínea a) que se conferia competência;
(2) LEGITIMAÇÃO: Temos um caso de impedimento (art.º 69.º CPA)
(3) IMPEDIMENTOS

Artigo 69.º - Casos de impedimento


MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

1 - Salvo o disposto no n.º 2, os titulares de órgãos da Administração Pública e os


respetivos agentes, bem como quaisquer outras entidades que, independentemente da
sua natureza, se encontrem no exercício de poderes públicos, não podem intervir em
procedimento administrativo ou em ato ou contrato de direito público ou privado da
Administração Pública, nos seguintes casos:

b) Quando, por si ou como representantes ou gestores de negócios de outra


pessoa, nele tenha interesse o seu cônjuge ou pessoa com quem viva em condições
análogas às dos cônjuges, algum parente ou afim em linha reta ou até ao segundo grau da
linha colateral, bem como qualquer pessoa com quem vivam em economia comum ou com
a qual tenham uma relação de adoção, tutela ou apadrinhamento civil;

Estando perante um caso de impedimento, a Ministra não teria legitimidade para agir.
Por consequência ao vício apresentado teremos, por força do art.º 161.º/2/e), que o ato
será nulo.

CASO PRÁTICO 2
Determina o artigo 33.º da Lei de Bases do Património Cultural Portugês que “Logo que
a Administração Pública tenha conhecimento de que algum bem classificado, ou em
vias de classificação, corra risco sério de destruição (…), deverá o órgão competente
da administração (…) municipal determinar as medidas provisórias ou as medidas
técnicas de salvaguarda indispensáveis e adequada.”
Com base nesta disposição legal o Presidente da Câmara de Coimbra, ao abrigo de uma
competência que lhe foi delegada pela Câmara Municipal, determinou a ocupação
administrativa imediata de um imóvel em vias de classificação situado na baixa da
cidade por o considerar em situação de abandono proibindo, ainda, a entrada no mesmo
de qualquer pessoa, incluindo o respetivo proprietário.

i) Diga, justificando, se a mencionada disposição legal concede competência


discricionária ao Presidente da Câmara.
(RESPOSTA MODELO)
INDETERMINAÇÕES ESTRUTURAIS - “deverá” como norma com escolha em
alternativa não pré determinada. Confere uma discricionariedade de escolha.
INDETERMINAÇÕES CONCEITUAIS - “risco sério de destruição”; “salvaguarda
indispensáveis e adequada”. Remete à administração para juízos de valor.
ii) Diga, justificando, se é possível, em que termos e com que fundamento o controlo
judicial dos atos praticados no âmbito dessa competência.
(RESPOSTA MODELO)
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

iii) Supondo que o proprietário do imóvel pretende impugnar o ato de licenciamento


perante a Câmara Municipal diga, considerando a natureza jurídica da delegação, como
o poderia fazer e quais os poderes da Câmara Municipal.
NOÇÃO DE DELEGAÇÃO DE PODERES: Ato pelo qual um órgão permite que outro
órgão exerça uma competência que continua a ser do primeiro órgão.
A delegação de poderes está prevista no art.º 44º e seguintes do CPA, onde para além da
delegação de poderes entre órgãos da mesma pessoa coletiva – delegação de
competências -, está prevista a delegação de competências de um órgão de uma pessoa
coletiva para um órgão de uma pessoa coletiva distinta – delegação de atribuições.
No caso em apreço estamos perante uma delegação de competências.
O regime jurídico da delegação de competências encontra-se consagrado nos art.º 44.º e
ss. CPA tendo as seguintes especificações:
(1) Habilitação legal expressa (art.º 44.º/1 CPA);
(2) Subdelegação de poderes (art.º 46.º CPA);
(3) Requisitos do ato de delegação (art.º 47.º CPA): quanto ao conteúdo, uso e
publicitação;
(4) Nova relação jurídica;
(5) Extinção da delegação (art.º 50.º CPA);
(6) Efeitos da reação contenciosa (art.º 199.º/2 CPA)

No caso sub judice é relevante a relação jurídica que se estabelece entre delegado e
subdelegado e a suas especificidades.
Por força do art.º 49.º o delegante tem o poder de avocar, bem como o de anular,
revogar ou substituir o ato praticado pelo delegado ou subdelegado ao abrigo da
delegação ou subdelegação.
No caso em apreço o proprietário pretende impugnar o ato de licenciamento perante a
Câmara Municipal. No enunciado temos expressamente identificado que o Presidente da
Câmara de Coimbra, ao abrigo de uma delegação de poderes da respetiva Câmara
Municipal, determinou a ocupação administrativa imediata do imóvel.
Temos aqui uma relação de delegação de poderes do delegante – Câmara Municipal –
para o delegado – Presidente.
Assim sendo, como vimos por força do art.º 49.º CPA, pode o delegante avocar a si o
ato praticado pelo delegado e proceder à anulação, revogação ou substituição do ato
praticado se assim o entender. Assim o delegante pode decidir diretamente sobre
qualquer matéria, pode modicar, revogar ou anular o ato.
Podemos ainda invocar o art.º 199.º/2 CPA – que nos diz que só há recurso para o
delegante quando existir uma expressa disposição legal que preveja essa possibilidade.
Não obstante esta norma, grande parte da doutrina defende que é possível recorrer e que
o delegante tem os poderes referidos por força do art.º 47.º CPA, atuando o art.º 199.º/2
como forma corretiva.
MARIANA JESUS REIS
DRA. FERNANDA PAULA OLIVEIRA

Há aqui uma questão doutrinal conflituante: temos que ler o art.º 199.º/2 conforme e
estritamente pelo descrito na letra da lei ou temos que perspetivar este artigo como uma
forma corretiva defendida por alguma doutrina?

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