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Doc-20230725-Wa0027 240222 135217
Doc-20230725-Wa0027 240222 135217
AVISO:
Estava nervosa.
Dessa vez cantaria sem ter meus pais por perto e mesmo
tendo Cameron e os Styles, ainda assim não era a mesma coisa
que estar com a minha família. Mas eu precisava me acostumar.
Sabia que teria sempre minha família por perto, meus amigos,
parentes e o meu amor, mas no fundo teria que lidar com a vida
sozinha, aprender sozinha. Ao mesmo tempo, tinha noção de que
sempre precisaria de alguém, mas não podia depender sempre
desse alguém.
— Está confortável com o vestido? É muito importante que
esteja — Antonella disse pela terceira vez.
— Sim, estou muito confortável — afirmei e ela sorriu.
— Ficou tão bem em você, aceitaria desfilar com ele em
novembro? O desfile será em Paris.
A olhei incrédula.
— Eu… é, não sei. Não gosto muito dos holofotes —
comentei um pouco tímida. — Esse vestido é lindo e acredito que
merece ser bem representado por uma profissional.
— Ah, entendo, mas hoje se importa de tirar algumas fotos?
— Questionou elegantemente e pareceu não ficar incomodada por
eu ter negado desfilar.
— Não, não me importo.
— Certo. Preciso ter seu direito de imagem, seus pais
assinaram, mas disseram que só seria permitido se você também
assinasse, afinal, serão fotos suas — iniciou. — É importante que
esteja ciente de que as fotos saíram em revistas e páginas da mídia,
se não quiser, entenderemos — explicou.
Eu entendia toda aquela burocracia, porque em todo jantar de
negócios que papai ia e minha mãe usava algum vestido de algum
estilista, ela assinava esses termos.
— Tudo bem, aceito tirar as fotos.
— Ah, que incrível! Marlon, traz o termo aqui por favor? Você
tem dez minutos, ok? Já vamos começar — avisou e, após me ver
concordar, saiu da sala.
Me olhei novamente no espelho, o vestido era lindo, lilás bem
claro e roxo no final. Carregado de pedrinhas brilhantes do começo
ao fim, aberto em uma das pernas, uma das mangas escorria em
meu braço, bem acinturado e aberto atrás. Um pouco pesado por
conta das pedrinhas, mas era perfeito.
Não gostava muito de usar coques, mas aquele estava bonito
e não deixava minha testa enorme, já que soltaram duas mexas que
caiam em meu rosto, não era um coque tão preso. A maquiagem
era leve, exceto pelo batom vinho. Me sentia bonita e ao mesmo
tempo desconfortável, não estava acostumada com tudo aquilo,
queria colocar meu pijama e me deitar para ler um livro.
Assinei o termo depois de Polly explicá-lo e fui avisada de
que precisaria entrar no palco agora mesmo.
Respirei fundo, era tudo tão chique e luxuoso que as vezes
me questionava se de fato nasci para uma vida de rico. Meus pais
me criaram na simplicidade, justamente para que eu não me
tornasse uma criança soberba — coisa que com os meus irmãos foi
diferente —, mas sempre soube que a família era rica.
As cortinas se abriram na medida em que começou a música
What A Wonderful World. A voz de Louis Armstrong era totalmente
diferente da minha, mas encontrei o tom perfeito para mim e a
música saiu incrivelmente satisfatória, na minha opinião.
Ainda não havia encontrado Cameron no meio de tantos
olhares.
A música At Last da Etta James se iniciou e no exato
momento o encontrei. Ele parecia fascinado me encarando e ergueu
a taça de champanhe na minha direção como cumprimento.
O sentimento que pairava dentro de mim era de euforia, mas
uma tão boa que me fazia sentir estar só eu e ele dentro desse
imenso salão. Cameron não parecia se incomodar com os olhares
indo em sua direção, por me verem cantando especialmente para
ele.
Finalizei a música e, como da outra vez, acordei de meus
pensamentos com a chuva de aplausos.
— Muito obrigada, senhorita Malik — ouvi a apresentadora do
evento agradecer.
Antes de cumprimentar os convidados, me direcionei ao
banheiro. Precisava ver se eu estava em ordem para falar com as
pessoas e felizmente estava. Lavei minhas mãos, dei uma última
olhada no espelho e sai do banheiro.
Quando passei pelo corredor, fui puxada pela cintura para
dentro de uma das salas vazias do local. Era enorme, porque seria a
casa para diversas crianças órfãs.
— Não — parei Cameron quando ele estava prestes a me
beijar.
— Só um beijinho? — Pediu me encostando na porta depois
de fechá-la.
— Vai borrar o batom — expliquei e ele pressionou o corpo
no meu.
— Depois você limpa — disse beijando meu pescoço
enquanto apertava minha cintura. — Nossa, você está tão linda
nesse vestido — sussurrou descendo mais os lábios e puxando
minha perna, onde era a abertura do vestido, até sua cintura.
— Amor… — Murmurei baixinho. — Não podemos ficar
aqui.
— Eu sei — disse deslizando a mão em minha coxa e
subindo os lábios em minha nuca. O empurrei quando meu corpo
todo se arrepiou e me afastei dele saindo de perto da porta.
— Não vou te beijar — avisei e ele sorriu se aproximando, me
virei de costas porque se o olhasse demais não resistiria, e observei
a enorme janela da sala.
— Você também disse que não namoraria comigo, que nunca
me beijaria e uma série de coisas, mas olha onde estamos — disse
me abraçando por trás e apertando minha cintura.
— Isso não vem ao caso… — Suspirei quando seus lábios
tocaram minhas costas e ele voltou a beijar minha nuca.
O senti sorrindo, mas não disse nada, sua mão subiu em meu
pescoço me fazendo encostar a cabeça em seu peitoral, quando me
apertou, puxei a respiração tentando me conter.
— Há coisas que eu poderia fazer sem nem precisar tirar
esse vestido — sussurrou me fazendo estremecer.
Apertei seu braço e ele mordeu levemente o lóbulo de minha
orelha.
— Chega! — Disse me soltando.
Sua mão desceu até o fecho de meu vestido quando me
afastei um pouco.
— Cameron, para de graça — pedi tentando empurrar sua
mão e ele riu.
— Tem que testar, amor, só um teste — disse segurando
minha mão para não o atrapalhar.
Quando seus dedos puxaram o fecho do vestido ouvi o
barulho de tecido se rasgando e meu corpo gelou.
— Me diz que você não fez isso…
— Eu não sabia que esse tecido era tão frágil — disse
quando me virei o olhando.
— Deve ser porque ele não é para ser puxado Cameron! —
Afirmei irritada, minha vontade era de socá-lo, principalmente
quando ele começou a rir passando a mão no rosto. — Como que
eu vou explicar para Antonella que você rasgou meu vestido?
— Falando a verdade, simples.
— Cameron. — Ele me olhou. — Eu te odeio! — Ele riu
mandando um beijo para mim e eu lhe dei três tapas. — Vá chamá-
la antes que eu te soque!
— Também vou poder te socar? — Questionou com malícia.
— Cameron! — Exclamei irritada e ele gargalhou.
— Nossa, calma, prometo que vou devagar para não te
machucar. — Dei outro tapa em seu braço o vendo rir.
Ele deu um selinho rápido em meus lábios e saiu da sala
rapidamente. Aquele garoto era totalmente sem explicação, acabei
rindo da situação.
Comecei a pensar no que falaria a Antonella sem morrer de
vergonha. O rasgo não era grande, acredito que tenha apenas
descosturado algo, mas o vestido era aberto demais para confiar em
sair assim.
A porta foi aberta mostrando Antonella e seu assistente, tudo
o que consegui fazer foi me desculpar.
— Tudo bem, querida — ela disse aos risos. — Não quero
nem saber como foi que isso aconteceu. Vou dar um jeito rápido,
porque vamos apresentar o vestido em minutos. Não se preocupe
— disse calmamente enquanto mexia no vestido.
Cameron ficou perto de uma parede com as mãos no bolso
da calça social e me olhando.
— A culpa é sua — disse sem som e ele me mandou um
beijo. — Idiota! — Mandou outro beijo. — Eu te odeio. — Ele
colocou a mão no coração e de expressão de apaixonado.
— Você está uma delícia — Cameron disse sem som.
— Pronto, vamos? — Antonella indagou e eu a olhei
impressionada.
— Mesmo?
— Sim, querida, trabalho com isso desde os meus quinze
anos. Cameron, acompanhe sua noiva até o palco por favor.
— Não sou noiva dele — disse rindo e caminhando até a
porta de saída após entrelaçar meu braço no de Cameron.
— Que estranho, Abigail me disse que vocês se casariam em
breve. — Eu e Cameron nos olhamos.
— Ainda não temos idade para nos casarmos — expliquei,
ela sorriu e nos olhou.
— Mesmo? — Questionou pensando um pouco. — Concordo
que sejam muito novos, mas, se bem me lembro, os pais de vocês
se casaram aos dezoito anos e estão até hoje. Não que vocês vão
fazer o mesmo que eles, mas fiquei curiosa com algo… Qual é a
idade para se casar quando se encontra a pessoa que ama? — Abri
a boca para falar, mas ela não me deu espaço. — Obrigada Marlon,
pode voltar ao jantar. Me sigam por gentileza — pediu cordialmente.
— E agora, vamos receber a anfitriã da noite — ouvi Bella, a
apresentadora, anunciar.
Uma chuva de aplausos rondou o salão e Antonella subiu no
palco com um belo sorriso no rosto, a mulher fez os agradecimentos
e então, pediu que eu subisse também.
— Soubemos que o vestido de Rebecca Malik é exclusivo de
sua nova coleção que será apresentada no desfile de novembro,
devo admitir que você nos surpreendeu com esse espetáculo —
disse a apresentadora admirada e me olhando.
— Ah, muito obrigada, Bella — Antonella agradeceu com
graciosidade.
Comecei a questionar quanto tempo precisaria ficar sorrindo,
Cameron estava aos risos com Nicholas e Andrew, por estar notório
que eu queria correr dali.
— … e confesso que o vestido caiu perfeitamente bem em
Rebecca, raramente um vestido meu se encontra bem em alguma
modelo e precisamos fazer diversos ajustes em todos os desfiles —
ouvi Antonella dizer.
— Devia seguir a carreira de modelo como sua mãe. Acredito
que seria a mais bela de todas — disse Bella e não me deu espaço
para uma resposta. — Se importa em dar uma voltinha para vermos
o vestido por inteiro?
Era desconcertante, mesmo assim me virei e foi o que bastou
para ouvir diversos elogios e assobios. Quando olhei os três
garotos, que antes riam, notei que seus sorrisos haviam sumido,
dando espaço a alerta máximo. Cameron tinha uma mistura de
irritação e incômodo em seu olhar.
Fiz um passeio rápido com os olhos por toda a extensão do
salão e quando encontrei aqueles olhos escuros e frios, meu sorriso
morreu.
As vozes de Antonella e Bella ficaram longes demais para
serem ouvidas, meu estômago doeu e eu não conseguia me
concentrar em mais nada. Bronwen ergueu a taça para mim e sorriu,
abaixei o olhar e mesmo sem entender direito o que Bella havia dito,
comecei a caminhar para sair do palco quando vi um homem
estendendo o braço para que eu descesse.
Me sentia zonza e fechar os olhos só me fazia lembrar de
tudo na noite do jantar em Londres, aquele, sem dúvidas, era meu
pior pesadelo.
— Amor! — ouvi Cameron dizer me trazendo a realidade e o
olhei — Vamos embora.
— Não posso, assinei um termo aceitando tirar algumas fotos
durante o jantar — expliquei e ele me olhou incrédulo.
— Que se dane o termo! — Disparou me puxando pela
cintura.
— Você está por dentro dos negócios, sabe que não é assim
— disse desanimada e controlando minha respiração. — Só me
deixe longe dele.
— Rebecca…
— Por favor, Cameron — pedi com firmeza e, mesmo
contrariado, ele concordou.
Cameron comeu pouco e tentava conversar com os meninos,
sem tirar o braço de minha cintura. Eu olhava a todo tempo para o
salão querendo ver se Bronwen estava longe de mim, se havia
alguma possibilidade dele se aproximar ou algo do tipo.
— Moranguinho, você quer ir embora? — Tio Ben questionou
com cautela.
— Assinei um termo aceitando tirar fotos com Antonella e não
quero problemas — eu disse.
Cameron me olhou ainda desacreditado e Nicholas, que
estava do meu outro lado, me encarou do mesmo jeito.
— Vou pedir que adiantem as fotos para você ir para a casa
então — afirmou e saiu antes que eu pudesse retrucar.
Cameron deu um beijo em minha testa, me puxando mais
para ele.
Não demorou para que tio Ben nos olhasse acenando,
pedindo uma aproximação em um lugar reservado para fotos.
— Querida, devia ter me falado que não estava se sentindo
muito bem, as fotos serão rápidas e você estará livre, consegue tirar
algumas? — Questionou calmamente.
— Consigo sim.
Tiramos diversas fotos. Percebi que Antonella e Tio Benjamin
se entreolharam de uma forma que me fez franzir o cenho. Observei
Antonella melhor, sentindo traços familiares em seu rosto, mas não
tinha psicológico para pensar demais naquilo.
— Iremos ficar até a hora do brinde — tio Arthur disse nos
olhando. — Mas Natalie quer ir embora e acho melhor levar
Nicholas, ele bebeu um pouco e está ao ponto de arrumar alguma
confusão.
— Certo — ouvi Cameron dizer.
— Você bebeu? — Questionou olhando o filho.
— Se eu tivesse bebido já teria atirado em Turner — disse
seriamente e tio Arthur riu com tio Ben.
— Gosto desse garoto — tio Ben disse orgulhoso e rindo.
Seguimos para a saída, Natalie estava do lado de fora com
Felicity, Nicholas e Elliot onde nos encontraríamos para irmos
embora.
— Cameron Styles — disse lentamente. A voz dele fez meu
coração disparar de ansiedade.
Cameron me colocou para trás dele e encarou Bronwen.
Abaixei a cabeça sentindo um barulho ensurdecedor em meus
ouvidos. Tudo parecia vir rápido demais me deixando perdida e
assustada.
— Rebecca Malik… — disse como se gostasse do jeito que
meu nome soava em sua voz e se curvou um pouco para o lado, na
tentativa de mostrar que queria me ver, — Quanto tempo não te
vejo.
Cameron se colocou ainda mais em minha frente, tapando
minha visão.
— Não ouse dirigir a palavra a ela, nem mesmo fale o nome
dela ou eu vou acabar com você aqui mesmo! — Ameaçou.
Os dois ficaram se encarando por um tempo, não tinha forças
para pedir que Cameron se afastasse e não precisei. Com o
mandato de que Bronwen precisava ficar longe de mim, não
demorou para que o delegado Grier se aproximasse com dois
seguranças.
— Leve-a para a casa, garoto. Hoje não é o dia em que você
vai bater nele — o delegado disse se posicionando entre Bronwen e
Cameron.
Cameron me puxou pela cintura e só então me dei conta de
que muitas pessoas do salão haviam presenciado aquela cena.
Sair daquele lugar foi o suficiente para que eu chorasse e ele
me abraçasse. Era uma sensação horrível, como se tudo voltasse
de uma vez, como se eu fosse tocada contra minha vontade
novamente. Os olhos dele me encarando eram como um pesadelo
impossível de esquecer.
Cameron praticamente me carregou até seu carro e me
ajudou a entrar.
Sentei-me no banco e limpei meu rosto imaginando que
estivesse com toda a maquiagem borrada, com tudo péssimo, tinha
estragado a noite.
Observei Cameron falando com Elliot e fazendo Nicholas
entregar a chave do carro a Elliot. Não demorou para que meu
primo desse duas leves batidas com os dedos no vidro da janela,
apertei o botão automático e o olhei.
— Estraguei a noite, não foi? — Questionei desanimada.
— Você não estragou nada, aquele merda que estragou! —
Disse tentando controlar a irritação e passou o polegar em minha
bochecha a limpando. — Mas agora vamos para a casa, precisamos
descansar.
Concordei balançando a cabeça.
— Se sente confortável indo apenas com Cameron? Se
quiser eu e Felicity vamos com vocês.
Sabia que sua preocupação era devido aos dias e noites
horríveis que passei após o acontecimento em Londres,
principalmente depois de eu ficar receosa com todos e
acidentalmente gritei quando Nicholas me acordou em uma noite
que dormiu lá em casa, foi desesperador. Nicholas ficou tão mal
achando que eu ficava incomodada com ele por perto que ficamos
dois meses sem nos abraçarmos, até que eu voltasse a me sentir
bem com o toque de outras pessoas.
— Está tudo bem, me sinto confortável com ele — expliquei
vendo Nicholas sorrir concordando.
Ele se afastou depois de dar um beijo em minha testa e
Cameron entrou no carro dando partida com rapidez. Entrelaçou
seus dedos nos meus e a todo instante beijava minha mão.
Viemos o caminho todo escutando algumas músicas calmas,
me sentia protegida com ele, mas ainda assim me sentia estranha,
às vezes um pouco perdida.
Ele abriu a porta do carro para eu sair e dei de cara com
Nicolly que correu e me abraçou.
— Prima! — Disse me abraçando ainda mais forte.
— Pode me ajudar a tirar essas coisas do meu cabelo? —
Pedi tentando disfarçar o quão exausta a situação me deixava e ela
concordou.
Subimos as escadas até meu quarto, ela me ajudou a tirar
tudo sem dizer uma só palavra e eu me mantive forte, mas quando
senti a água quente do chuveiro contra minha pele tensa, eu
desabei.
Não queria ficar calma agora, a sensação era horrível e me
fazia querer gritar. Era ficar frente a frente com o seu abusador.
Quando estava um pouco mais aliviada, me sequei, coloquei
uma roupa leve e sai do banheiro. Cameron, Nicolly e Nicholas
estavam conversando no quarto. Nicholas me olhou e mostrou a
caixa de pizza.
— Diabetes está boa? — Questionou esperançoso.
Abri um leve sorriso e balancei a cabeça concordando.
— Maravilha, qualquer coisa estamos lá embaixo, ok? —
Nicolly avisou me olhando.
— Obrigada, gente — agradeci e eles sorriram concordando,
mas logo saíram me deixando com Cameron que estava olhando
pela janela.
Me aproximei dele e beijei seu ombro, ele sorriu me
olhando.
— Tudo bem se eu te tocar? — Indagou receoso.
— Claro, amor. — Ele sorriu envolvendo o braço em meus
ombros e me abraçando forte. — Me desculpe acabar com o
jantar…
— Rebecca, não começa, por favor. — Ele me olhou e eu
senti meus olhos queimarem pelas lágrimas. — Você é muito mais
importante que qualquer outra coisa, me entendeu?
Limpei as lágrimas que brotaram em meus olhos e selei
nossos lábios com rapidez.
Nos sentamos no chão e começamos a comer.
— Quer conversar?
Suspirei.
— Quero, mas sobre qualquer outra coisa que não seja o
jantar ou sobre como me sinto agora, porque parece que está tudo
dolorido dentro de mim e continuar nesse assunto vai machucar
ainda mais — disparei e ele me olhou concordando, soltei a
respiração. — Não queria jogar tudo em você assim.
— O que jogou em mim? Pelo contrário, felizmente está me
falando o que quer de verdade e como está se sentindo. — Ele
sorriu apertando levemente minha bochecha após limpar as mãos.
— Tem algo que quero te mostrar, só me deixa achar.
Ele se levantou e saiu do quarto, deixando a porta aberta.
Permaneci sentada tomando um pouco de Coca. Papai me ligou
questionando como eu estava, quando Cameron voltou, foi o tempo
suficiente para acalmar meu pai, explicar que eu estava bem e que
ele não precisava voltar às pressas.
Desliguei a chamada e me sentei na cama depois de tirar as
coisas do chão. Cameron se sentou ao meu lado e eu fiquei de
frente para ele, ansiosa pelo que queria me contar.
— Natalie e eu estávamos conversando e devo admitir que
ela abriu meus olhos para algo que eu não tinha parado para
pensar. — Franzi o cenho quase pegando os documentos de sua
mão e os abrindo. — Fiz alguns exames para saber se… — ele
parecia todo perdido.
— O que, homem? Fala. Está me deixando nervosa — disse
o vendo rir.
— Para ver se eu não tinha nenhuma doença sexual que
pudesse te passar — falou rapidamente e suas bochechas
coraram.
O olhei surpresa, Natalie e Nicolly de fato tinham falado sobre
esse assunto e eu preferi não falar nada, mas era claro que a
conversa delas me fez pensar nessas coisas.
— Pensava em fazer antes do casamento, mas se eu tivesse
alguma doença, iria preferir que você soubesse antes de chegar ao
noivado — explicou e eu olhei os resultados do exame que
comprovavam que ele não tinha nenhuma doença.
O olhei sorrindo. Beijei seus lábios e o abracei pelos ombros.
Ele sorriu envolvendo os braços em minha cintura, me
abraçando com firmeza enquanto sua língua se movimentava
lentamente contra a minha.
Seus dentes agarraram meu lábio inferior enquanto me sentia
sendo ainda mais apertada por seus braços fortes, o olhei sorrindo e
lhe dei um selinho. Não sabia exatamente o momento em que parei
em seu colo, mas não me importava com aquilo.
— Confesso que nunca tinha pensado nisso até ouvir as
meninas falando, não queria acreditar que você tinha e poderia me
passar alguma doença, mas foi ignorância da minha parte, porque
se você transou com várias, estava sujeito a ter algo se não se
cuidasse.
Seu olhar mudou e com as mãos em minha cintura, Cameron
me impulsionou a sair de seu colo. Me sentei ao seu lado e ele
soltou a respiração.
— Não transei com tantas assim, como você diz — comentou
me olhando.
Pensei um pouco no que dizer.
— Foi o modo de dizer — disse entrelaçando nossos dedos e
ele negou balançando a cabeça.
— Todo mundo acha que eu transei com meio mundo, que eu
fui um sem noção, mas não fui — explicou soltando minha mão.
O olhei por instantes enquanto ele encarava um canto
aleatório da cama.
— Você quer que eu me desculpe por pensar assim? Quando
cheguei não sabia de nada sobre essa parte e se quer saber, ainda
não quero até que você queira. Porque essa área da sua vida é
particular e existem partes do seu passado que talvez você queira
guardar. Você decide até onde quer me contar, mas não me culpe
em pensar algo assim quando é tudo o que sei — disse o mais
calma possível.
— Tudo o que você sabe? Sério?
— Nessa parte? Sim. E outra coisa que sei é que algumas
tentaram sexo com você bêbado, o que é horrível, muito horrível!
Mas com todas foram assim? Eu nem sei de que todas estou
falando. — Ele ficou me olhando por instantes e soltou a
respiração.
E me disse os nomes: Alice, Melissa, Raquel, Gabbe, Felicity
e Lana eu tinha conhecimento de toda a situação, mesmo assim
meu estômago doeu. Na sequência, falou sobre quatro garotas de
uma faculdade, que não foi nada sério e que não passou de uma
festa. Meu estômago revirou e eu, de fato, não entendia o porquê
chegamos naquele assunto.
— E se quer saber, nenhuma delas foi com sentimento. Nem
todos transam porque amam ou têm algum vínculo com a pessoa,
eu só queria curtir e ter o prazer ali no momento.
— Sei disso. — Ele me olhou e eu tentei não demonstrar
muito desconforto. — Desculpa, esse não é um dos meus assuntos
favoritos e eu não estou sabendo lidar com tanta coisa… Mas não
estou brava, foi horrível o que algumas fizeram.
— Acho que teríamos que conversar sobre isso. Sim, é meu
passado, mas quero que saiba tudo de mim, sem espaço para
dúvidas — afirmou me puxando para um abraço.
O olhei e acariciei seu rosto.
— Amor, eu sei muito bem que uma pessoa pode só querer
sexo e prazer, até porque ninguém fez as mesmas escolhas que eu,
assim como eu não faço as mesmas escolhas que outra pessoa e
não te culpo por nada disso. É seu passado e isso não me deixa
menos interessada em você. Mas mesmo sendo necessário
falarmos sobre, é impossível não ficar incomodada — disse sentindo
seus dedos acariciando meus cabelos. — Se pudesse pegaria uma
borracha e passaria em tudo, dizendo que você não fez nada disso.
— Ele riu beijando minha testa. — E é inevitável não sentir
incômodo, ok? Não sei bem como explicar, mas também não é um
sentimento permanente ou que vá passar por cima do meu amor por
você.
— Eu sei. Se você tivesse sequer beijado algum outro cara
antes de mim eu também ficaria desconfortável com isso, mesmo
sem significado, mesmo confiando totalmente em você e sabendo
que é uma coisa que acontece.
— Ainda temos tanto o que amadurecer até não ficarmos
com ciúmes de coisas irrelevantes ou insignificantes. — Rimos
juntos. — Mas obrigada por ter sido sincero comigo, eu precisava
disso — afirmei o olhando e ele sorriu fraco. — Que tal vermos um
filme?
— Eu escolho? — Questionou com os olhos carregados de
esperança.
— Naruto de novo? — Fiz uma careta fingindo decepção.
— Sempre, minha Kunoichi mais gostosa desse mundo. —
Sorriu me deitando na cama e me beijando com calma.
Ouvimos duas batidas na porta que, sem esperar uma
resposta, foi aberta rapidamente mostrando Elliot.
— Jasper acabou de ligar, Josh e Calleb estão no hospital —
Cameron se levantou rapidamente. — Se arrumem, precisamos ir —
Elliot me olhou. — Você também, Becca, Calleb vai precisar…
Pensei em milhares de coisas e todas faziam sentido na
minha cabeça, quando encontramos Jasper, Peter, Lana e Andrew
conversando, tive ainda mais certeza e por impulso, corri até eles.
— Eles apanharam por causa de homofobia, viram eles
andando de mãos dadas na rua perto de onde eu moro e acabaram
com eles — Jasper explicou.
Carter, Nicholas e Elliot haviam se aproximado em um
momento em que não percebi.
— Você sabe quem foi? — Cameron questionou olhando
Jasper, que negou balançando a cabeça.
— Acompanhantes de Josh Evans e Calleb Johnson — uma
enfermeira chamou e a olhamos.
— Os pais deles ainda não chegaram, mas já os avisamos.
Podemos entrar até que eles cheguem? — Questionei antes que
qualquer outro falasse algo.
— Claro, apenas dois podem entrar em cada quarto para ver
os pacientes — a enfermeira avisou. — Calleb está no quarto
número 12 e Josh no número 13 — explicou me olhando e mostrou
os crachás com os números dos quartos, dois de cada.
Eu e Lana nos olhamos concordando e pegamos os crachás
com o número 12, na medida em que Peter e Cameron pegaram o
número 13.
— Esperem lá fora — Cameron pediu aos meninos.
Cameron beijou minha testa rapidamente antes de entrar no
quarto de Josh.
Não consegui evitar ficar espantada, triste, nervosa e mais
outros turbilhões de sentimentos quando vi Calleb todo machucado.
Lana não conseguiu segurar as lágrimas. Respirei fundo e me
aproximei o vendo abrir um sorriso que parecia doer.
— Estou tão ruim assim? — Questionou lentamente.
Seus olhos estavam roxos, seus lábios inchados e com
pequenos machucados sangrando, dois cortes em cada bochecha e
hematomas pelo braço. Acreditava que pelo corpo também haveria
mais.
— Está melhor que eu — brinquei e ele sorriu fraco. Peguei
em sua mão com cuidado e ele apertou a minha sem força. —
Vamos ver em que nível você está, ainda consegue dançar as
músicas da Ariana?
— Até de cadeira de rodas, meu amor — brincou de volta.
— Então você está em perfeito estado — afirmei.
Lana se aproximou do outro lado dele e pegou sua mão
desocupada.
— Vocês viram Josh? Como ele está? Preciso vê-lo, ele
apanhou muito mais para que eles não me batessem tanto. — Meu
coração doeu ouvindo suas palavras, os batimentos de seu coração
se aceleraram e seu aperto em minha mão ficou forte.
— Ele está bem, Cameron e Peter estão com ele — Lana
disse acariciando a mão de Calleb.
— Eu juro que nem um beijo demos, só estávamos de mãos
dadas e conversando quando eles chegaram e começaram a nos
bater. Josh conseguiu revidar quando vieram para cima de mim,
mas eram cinco. — As lágrimas começaram a rolar no rosto de
Calleb.
Antes que pudéssemos dizer algo, ouvimos duas batidas na
porta. Lana correu para abri-la e deixou que revelassem a maca
onde Josh estava, os meninos estavam o trazendo. Sorri vendo a
alegria no rosto de ambos e Josh estava realmente pior que Calleb.
A maca foi colocada ao lado da cama de Calleb, eles deram
as mãos e Josh o olhou por instantes.
— Vai ficar tudo bem, prometo — disse baixinho a Calleb.
— Eu sinto muito, você já estava machucado, não devia
ter…
— Calleb — Josh o calou. — Eu faria isso milhares de vezes,
só para amenizar sua dor — disse devagar e sonolento.
Foi o necessário para que Calleb chorasse e me olhasse.
— Pode cantar aquela música Oceans do Hillsong? — Pediu
me olhando.
Concordei e iniciei a música. Ele sempre me dizia que
gostava de louvores, que traziam muita paz, às vezes me pedia para
cantar algum que tinha ouvido recentemente.
— Você é incrível — Calleb disse quando terminei de cantar.
— E você é incrível — rebati o vendo sorrir e Josh deu um
sorrisinho fraco para mim quando apertei sua mão com cuidado. —
Vocês são incríveis.
— Crianças, vocês precisam sair, os pais dos meninos
chegaram — ouvi tio Ben dizer ao entrar no quarto e concordamos.
— Vou dar um jeito nisso — Cameron disse a Josh.
— Eu sei — Josh disse baixo e deu um toque de mão com
ele.
Quando passamos pela porta, tio Ben estava conversando
com os pais dos meninos, que entraram de imediato. Eu e Cameron
o olhamos.
— Eles vão ficar bem — tio Benjamin começou. — Não
tiveram machucados internos, mas Josh infelizmente não
conseguirá jogar na sexta-feira, sua recuperação será mais
demorada. Ele se sacrificou para que Calleb não apanhasse ainda
mais.
Percebi a tristeza e raiva no olhar de Cameron.
— Cameron — tio Benjamin chamou e seguimos para um
canto mais reservado do corredor. — Conseguiu o que queria?
— Sim.
— Carter está com vocês? — Olhei meu tio com o cenho
franzido.
— Não vou deixá-lo ir — Cameron afirmou e ele concordou.
— Sem armas, você não vai querer carregar morte alguma
nas costas — alertou em voz baixa. — Te vejo depois, Moranguinho
— avisou após me abraçar e beijar minha testa.
— O que você conseguiu? — Questionei.
— Descobri quem foram os caras que fizeram isso, consegui
tirar foto do retrato falado e vou mostrar a Jasper — explicou
calmamente.
O olhei por instantes, mas logo desviei.
— Cameron — ouvi a voz do delegado Grier, que estava com
Elliot e se aproximou de nós, chamar. — Você quem fez esse
retrato? — Indagou mostrando um rosto que eu nunca havia visto e
depois mais quatro.
— Sim, delegado — fingiu formalidade.
— Já pensou em trabalhar na polícia? — Brincou entregando
a um outro policial.
O delegado olhou Cameron e Elliot.
— Não quero vocês em confusão — replicou como se
conhecesse a alma dos dois.
— A confusão normalmente vem até mim — Elliot disse
apontando para Cameron. — Rebecca não sabe, mas beija a
própria confusão em pessoa — acabamos rindo.
— Falando em confusão, vamos? — Cameron indagou
Elliot.
— Vamos — Elliot aceitou de imediato.
— Iremos resolver tudo — prometeu. — Se encontrarmos
vocês no meio disso, vamos prende-los — o delegado avisou, mas
senti um tom de humor em sua voz.
— De novo? — Elliot brincou.
— De novo — o delegado disse.
— Cameron… — O chamei enquanto caminhávamos para a
saída do hospital. — Você não vai…
— Vou fazer uma coisa que você não vai gostar nenhum
pouco — admitiu soltando a respiração e Elliot continuou
caminhando em nossa frente quando paramos no estacionamento.
Fiquei o olhando por instantes.
— Fala alguma coisa — pediu me analisando.
— O que quer que eu diga? Vai com Deus? — Ele revirou os
olhos. — Nada do que eu falar vai mudar o que você quer fazer,
Cameron, então, faça o que achar melhor.
— Por que você está brava comigo? É certo eu deixar os
meninos machucados assim e não fazer nada?
— Em que momento disse isso? Eu simplesmente não acho
certo entrar em confusão agora, você já se machucou com Andrew
ontem e tem jogo na sexta-feira. Você é o jogador, sabe como isso
pode prejudicar o desenvolvimento do jogo e você pode muito bem
ir atrás desses caras amanhã, mas isso vai te impedir de fazer algo?
Não vai! O delegado disse que faria algo, e como são filhos de
amigos dele, eu acredito que vai fazer algo sim, mas isso vai te
impedir? Não, não vai. Então não venha pedir minha opinião para
algo que você já decidiu fazer!
— Rebecca…
— E não, não me peça para não ficar preocupada. Porque
você irá a um lugar que não sei onde é, se metendo com pessoas
que fizeram um estrago com os meninos e ainda tem a
probabilidade de eu acordar com a notícia de que está na delegacia
por agressão física, porque mesmo que esses agressores sejam
denunciados, eles também podem te denunciar. Eu não vou te
impedir de nada, mas não me peça para simplesmente aceitar toda
essa situação — afirmei.
Ele apenas abaixou o olhar, Cameron iria atrás de quem fez
aquilo de qualquer forma e eu simplesmente não fazia ideia do que
era certo falar no momento.
Caminhei até Lana e os meninos, Cameron fez o mesmo e
mostrou uma calma fingida. Ele, com certeza, estava carregado de
raiva com toda a situação e eu não ajudei em nada.
— Vamos? — Jasper questionou e Lana me abraçou de lado,
parecia tão confusa no que sentir nessa situação quanto eu.
— Vamos. Carter, leve as meninas em segurança para a casa
— Cameron exigiu.
— Não, eu vou com vocês. — Carter se impulsionou a entrar
no carro e Cameron se colocou em sua frente.
— Você tem uma mulher grávida em casa que não pode
passar nervoso. Você vai voltar para a casa e ficará com ela — disse
firme e o olhando nos olhos. — Me entendeu?
Eles ficaram se olhando por instantes, até o momento em que
Carter balançou a cabeça positivamente.
Nicholas caminhou em minha direção enquanto os meninos
se organizavam em seus carros. Ele me abraçou quando Lana se
afastou para falar com Peter e deu uma risadinha.
— Vou tomar conta dele, relaxa.
— Como relaxar se meu namorado e meu primo estão indo
fazer sabe se lá o quê? É inevitável não ficar preocupada —
expliquei.
— Nicholas, você vai comigo e Elliot — Cameron afirmou se
aproximando.
— Ok! — Nicholas me abraçou novamente. — Avise Felicity,
por favor?
Acabei rindo, ele sempre dizia que jamais daria satisfações a
alguma garota que estava ficando, mas apenas concordei o vendo
entrar no carro.
Eu e Cameron nos olhamos por segundos e, se pudesse, o
faria voltar para casa só para não o ver em mais confusões. Estava
com medo de que ele se machucasse ainda mais.
— Acho melhor você ir — afirmei abaixando o olhar.
Ele levantou meu rosto pelo queixo, beijou minha testa e
entrou no carro.
Até breve,
Stacye C.