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FARMACODINÂMICA

Farmacodinâmica

• Farmacodinâmica: é o ramo da Farmacologia


que se dedica ao estudo dos efeitos
bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e seus
mecanismos de acção.
Classificação dos fármacos segundo o
mecanismo de acção

1. Acção mediada por receptores.

• É o mecanismo mais importante de acção dos


fármacos.
• A maioria dos fármacos actua por meio da ligação
a receptores específicos celulares.

2. Acção não mediada por receptores


Receptores farmacológicos

• Receptores farmacológicos: são proteínas


específicas, geralmente localizadas na
superfície celular ou intracelularmente, às
quais os fármacos se ligam, mediando assim
suas acções farmacológicas.
O conceito de receptor nasceu das
experiências de Ehrlich (1845-
1915) e Langley (1852-1926)
Os fármacos que actuam por meio da
ocupação de receptores podem
demonstrar

a) Potência

b) Selectividade de acção

c) Especificidade estrutural

d) Estão sujeitos a competição


e) 0 seu efeito é despertado por quantidades muito pequenas
(miligramas)

Fármaco + Receptor→ Complexo fármaco-receptor→ Efeito


Ligação Fármaco - receptor
Ligação covalente

Ligação covalente - tem uma energia de 50 a


150 quilocalorias/molécula; são irreversíveis e
formam complexos estáveis durante longo
tempo.
Ex.
1. Reacção entre os anti-colinesterásicos
(malatião, paratião) e as colinesterases)

2. Reacções entre fármacos que se comportam como


agentes alquilantes (bussulfano, mostardas
nitrogenadas)
Ligação iónica
Ligação iónica - é formada pela atracção
electrostática entre iões com cargas opostas. A
força desta ligação é de 5 a 50
quilocalorias/molécula.

Ex. Uma molécula de acetilcolina com uma


molécula de colinesterase.
Ligação de hidrogénio
Ligação de hidrogénio - é um tipo especial de
ligação iónica. É uma ligação fraca tem uma
força de 2-5 quilocalorias/molécula.

Ex. Ligação na hélice do DNA


Forças de Van der Waals

Forças de Van der Waals - são forças muito


fracas (0.5 quilocalorias/molécula).
Contribuem para a fixação dos fármacos aos
receptores, determinam a especificidade das
interacções fármaco-receptor e condicionam
graus de afinidade diferente entre fármacos
de estrutura muito semelhante.
Teoria dos receptores
Teoria dos receptores: o fármaco combina-se
reversivelmente com o receptor. O receptor é
excitado e origina um processo reaccional que
vai produzir um efeito (contracção de um
músculo, aumento da secreção de uma
glândula, modificação da permeabilidade de
uma membrana, inibição de um enzima).
Estudo dos receptores

Estudo dos receptores: faz-se actualmente


através de radioligandos.
Radioligandos
Radioligandos: são fármacos radioactivos
com grande afinidade para uma estrutura
determinada que está sendo estudada. Podem
ser agonistas ou antagonistas. Permitem o
estudo directo da afinidade dos fármacos e o
número de receptores de um tecido.
A utilização de radioligandos permitiu concluir que os
receptores não são entidades estáticas, mas entidades que
variam não só no seu número mas também nas suas
propriedades em função de influências exercidas pela
presença de catecolaminas, progesterona, cortisona,
hormona tiroideia, etc.
Importância dos estudos SAR
(structure-activity-relationship)
Regulação dos receptores

Dessensibilização ou estado refractário - é


uma resposta diminuída ao fármaco, devido a
estimulação dos receptores pelo mesmo.
a) Dessensibilização rápida (taquifilaxia) - segue-se a uma
exposição aguda a altas concentrações.

b) Regulação para menos (down regulation ) - segue-se à


estimulação crónica e resulta na diminuição do número de
receptores. Ex. Resposta atenuada após utilização
repetida de agonistas β-adrenérgicos no tratamento da
asma.
c) Suprasensibilização ou hiperreactividade (up
regulation) - segue-se à estimulação crónica e
resulta no aumento do número de receptores ( este
aumento pode ser consequência da síntese de
receptores adicionais). Ex. Superestimulação
adrenérgica quando se suspende a terapia com
bloqueadores β- adrenérgicos, como o propranolol.
Cinética da ligação Fármaco-
Receptor
Afinidade

Afinidade - é a capacidade de um fármaco se


fixar sobre os receptores.
Eficácia ou Actividade intrínseca

Eficácia ou Actividade intrínseca - é a


capacidade de um fármaco produzir efeito
após a fixação sobre os receptores.
• Um fármaco que possua as duas capacidades
(afinidade e eficácia ) designa-se Agonista.

• Um fármaco que possua apenas a capacidade de se


fixar sobre os receptores, isto é, que possui apenas
afinidade é designado por Antagonista.
Interacção Fármaco-Receptor
Teoria da ocupação ( Clark, Gaddum e
Ariëns)

• Teoria da ocupação ( Clark, Gaddum e Ariëns)


A resposta a um fármaco é função da
ocupação dos receptores.
Teoria da velocidade

Teoria da velocidade - A resposta a um


fármaco é função da velocidade com que os
receptores são ocupados.
As reacções fármaco-receptor são regidas
pelas mesmas leis que regulam as reacções
enzima-substracto

1. A resposta é proporcional ao número de


complexos fármaco-receptor formados.
2. Uma molécula do fármaco reage apenas com um
receptor.

3. Só uma pequena fracção das moléculas do agonista


se fixa sobre os receptores.
Caracterização de um fármaco

É feita medindo-se a sua afinidade e a sua


actividade intrínseca, o que só poderá ser
feito estudando a sua acção sobre sistemas
biológicos.
Ex. Acetilcolina (fármaco) Intestino de cobaia(orgão)

• Adicionarmos acetilcolina ao meio, o intestino contrai-


se a cada adição até atingir a resposta máxima - efeito
do, tipo gradual.
Agonista parcial – produz um
efeito superior a zero, mas inferior a
100%. O agonista parcial ao ocupar
os receptores impede a acção de
um agonista total.
Ex. A acetilcolina se despertar num
orgão a resposta máxima que o orgão
é capaz de dar em consequência da
activação de um sistema de
receptores, então a actetilcolina tem
uma actividade intrínseca máxima.
Consequentemente a acetilcolina é um
Agonista total.
Curvas Dose-resposta

Graficamente, a curva dose-resposta


representa uma curva hiperbólica, semelhante
à que se obtem da cinética enzimática.
Contudo, os farmacologistas preferem estudar a
interacção fármaco-receptor num gráfico modificado,
gráfico semi-logaritmo. Nesta situação, a curva
resultante é simétrica e sigmoidal.
Parâmetros da curva dose-resposta:
posição, amplitude e inclinação

1. A posição sobre o eixo das abcissas (mais a


esquerda ou mais a direita) dá-nos a afinidade
do agonista e ela é tanto maior quanto mais a
esquerda estiver situada a curva dose-efeito.
Um fármaco tem maior afinidade que o outro se
produzir o mesmo efeito com doses mais pequenas.

2. Amplitude da curva dose-efeito informa-nos sobre


a actividade intrínseca do agonista
3. Em relação à inclinação, geralmente determinada
na parte média da curva devemos ter em conta dois
aspectos:
a) Quanto mais verticalizada for a curva, mais
rapidamente se passa do efeito mínimo ao máximo.
Ex. Barbitúricos: o intervalo entre a dose sedativa e a
letal é muito pequeno.
b) Uma duplicação de dose não corresponde
necessarimente, uma duplicação do efeito.

● Quando dois fármacos diferentes actuam sobre o


mesmo sistema de receptores, originam
habitualmente, curvas dose-efeito paralelas, se
forem agonistas totais.
Antagonismo competitivo
a) Antagonismo competitivo

A força que prende o fármaco aos receptores é


fraca, desfaz-se com facilidade e o agonista
pode removê-lo por competição, desde que
atinja a biofase em concentração suficiente.
Traduz-se graficamente por um desvio para a
direita da curva dose-efeito, mantendo-se
paralela ou com a mesma inclinação.
b) Antagonismo nao competitivo
(irreversível)

• As ligações que prendem o antagonista aos


receptores são do tipo covalente (prevalece a
acção do antagonista).

• Traduz-se graficamente por um desvio para a


direita, mas acompanhada por diminuição
progressiva da inclinação da curva.
Antagonismo fisiológico ou funcional

• Resulta de agonismos de sentido contrário e


que se pode designar como antagonismo
funcional, uma vez que- há oposição de
função .

Ex. A acção da acetilcolina e da adrenalina na


contracção do intestino.
Efeito farmacológico do tipo Quântico ou
"tudo ou nada"

• Ex. Ensaio de um raticida (o rato morre ou


não)

• Não podemos dizer que o rato morreu 10%,


20% ou 80%.

• Neste caso, diz-se que o efeito varia duma


maneira discreta ou quântica.
•Dose mínima letal (DML) - é a mais pequena dose
suficiente para matar o animal.

•Dose mínima eficaz (DME) - é a mais pequena dose


capaz de produzir efeito.

•DE50 - é a dose que produz efeito em 50% dos


animais.
Eficácia
Eficácia - é a resposta máxima produzida por
um fármaco, independentemente da dose.
Depende do número de complexos fármaco-
receptor formados e da eficiência com que o
receptor activado produz uma acção celular.
Potência

Potência - é uma medida da quantidade de


fármaco necessária para produzir um dado
efeito, em geral 50% do efeito máximo.
Quanto menor for a dose necessária para uma
dada resposta, mais potente é o fármaco.
•É expressa geralmente como a dose do fármaco
necessária para produzir 50% da dose máxima ED50.
Um fármaco com uma ED50 baixa é mais potente que
um fármaco com uma ED50 elevada.
Índice terapêutico
• Índice terapêutico - é a razão entre a dose
que produz toxicidade e a dose que produz a
resposta clínica desejada ou eficaz numa
população de indivíduos.
É uma medida de segurança do fármaco. Um
valor elevado significa que existe uma ampla
margem entre a dose eficaz e a dose tóxica.

Índice terapêutico = Dose tóxica / Dose eficaz


Acção medicamentosa não mediada por
receptores

1. Acção medicamentosa por modificação das


pressões osmótica e oncótica

Ex. Manitol, agar, dextran


2. Acção medicamentosa por combinação
química de solutos (Quelação)

Ex. EDTA - antídoto do chumbo. Dimercaprol -


antídoto do arsénio, mercúrio, ouro,
antimónio e bismuto. Penicilamina - usado na
doença de Wilson pelas suas propriedades
quelantes sobre o cobre. Interacção entre a
isoniazida e a vitamina B6.
3. Acção medicamentosa por função
ácido ou base

Ex. Alcalinização da urina (lactato de sódio,


citrato de sódio, bicarbonato de sódio) na
intoxicação por ácidos fracos (barbitúricos,
aspirina). Acidificação da urina. Antiácidos
(hidróxido de alumínio) no tratamento da
hiperacidez gástrica.
4. Acção medicamentosa por
incorporação fraudulenta

Ex. Substituição da timina por 5-bromo-


uracil, na síntese do ácido
desoxiribonucleico (DNA).
Ex. Substituição da DOPA pela
α – metildopa no tratamento da
hipertensão arterial
5. Acção medicamentosa por interferência
com os mecanismos de transporte da
membrana

Ex. Diuréticos

- Furosemida actua no ramo ascendente da ansa


de Henle inibindo o sistema de transporte
activo de Na+ / K+ / Cl-.
- Os tiazídicos actuam no túbulo contornado distal
inibindo transporte de Na+/Cl-.

Ex. Antagonistas do cálcio (verapamil, diltiazem,


nifedipina)

Actuam inibindo o transporte de cálcio, para o


interior da célula, através dos canais de cálcio.
Ex. Insulina
Provoca a entrada de K+ para dentro das células
porque estimula a ATPase Na+/K+.

Ex. Probenecid
Inibe o transporte de ácidos orgânicos através da
barreira epitelial (bloqueia a secreção activa da
penicilina no lúmen do túbulo renal e bloqueia a
reabsorção activa do ácido úrico.

Ex. Minoxidil e Hidralazina


- Abrem os canais de K+ na célula, e reduzem a
probabilidade de activação da célula.

Ex. Sulfonilureias

- Encerram os canais de K+ na célula, e aumentam


assim a libertação da insulina.
Ex. Anestésicos locais, esteroides, tranquilizantes

Acção medicamentosa por interferência nos


movimentos catiónicos passivos (estabilização da
membrana).
6. Acção medicamentosa por inibição
enzimática.

Ex. Neostigmina
Inibe reversivelmente a colinesterase
Ex. Alopurinol
Inibe a xantina oxidase
Ex. Inibidores da MAO

- Inibem o metabolismo das catecolaminas

FIM

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