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Evolução Histórica Processo Civil Moçambicano 2004
Evolução Histórica Processo Civil Moçambicano 2004
DELEGAÇÃO DE MAPUTO
LICENCIATURA EM DIREITO
Cadeira:
Turma:
Tema:
Discentes: Docente:
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Índice
Contéudos
I. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 3
V. REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 15
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I. INTRODUÇÃO
Por meio da análise da história do direito nota-se que este sempre esteve intimamente ligado
ao direito material. Não se distinguia o direito material lesado dos procedimentos usados para
repará-lo, mesmo entre os romanos, cujo direito é tido como o mais desenvolvido dentre os
povos da Antigüidade e Idade Média.
Mesmo tendo a maior parte da história do processo civil transcorrido sem que se dispusesse do
conhecimento da autonomia de seu estudo e de seu emprego, muitos aspectos do processo de
hoje foram herdados dos procedimentos passados, principalmente dos romanos. A seqüência
dos procedimentos, a livre análise da prova pelo juiz e o direito a recursos são alguns exemplos
dos elementos utilizados nos processos atuais.
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II. OBJECTIVOS
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III. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PROCESSO CIVIL MOÇAMBICANO
3.1.1. Direito
Segundo as Aulas do Dr. Pereira Gogo, para definir o Direito, existem doutrinalmente três (3)
sentidos da expressão “Direito”, sendo que este termo é mais comummente utilizado num
sentido objetivo ou num sentido subjetivo, e o Direito como ciência (estudo científico sobre o
direito objetivo e subjetivo).
Sentido Objectivo
É o sistema de normas jurídicas que regula um determinado sector de vida em sociedade, e
assistido de proteção coativa”, isto é, como o conjunto de comandos, regras ou normas.
Sentido Subjetivo
O conceito de “Direito” pode ainda ser utilizado com outros sentidos, mormente em Sentido
Subjetivo. É o caso, de por exemplo, dizer-nos que temos um direito de propriedade sobre a
nossa casa, que comprámos regularmente e não se encontra onerada.
O direito não é uma só ordem normativa, e não é a única ordem normativa. Existem outras
ordens normativas de cariz religioso, cariz moral, cariz natural, cariz criminoso, entre muitas
outras.
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Esses ciclos são o declínio do feudalismo e da igreja católica, o período que vai da Revolução
Francesa até o séc. XIX, tendo como característica o liberalismo económico; intervalo entre a
década de 30 e 50 com o capitalismo monopolista de política Kelsiana; e declínio do modelo
jurídico moderno com o período que inicia após a segunda guerra mundial, tendo como factores
as necessidades sociais, a integração de mercados, as privatizações, a reordenação do capital
mundial, entre outros.
Portanto, segundo o exposto, nos leva acomodar a ideia de que o positivismo jurídico e um
modelo considerado já saturado, pois escravizava os anseios e as demandas da sociedade,
havendo uma inversão de propósitos, pois devia ter em mente que o direito teria de caminhar a
serviço da sociedade e não o contrario.
Concluindo que se o direito não mais presta a atender seus propósitos, não mais serve para
satisfazer as necessidades para as quais foi originalmente concebido como acto da inteligência
humana.
Para Ana Patrício, a evolução do pluralismo jurídico conduziu a definição de determinadas
“subcategorias” dentro da própria designação de pluralismo jurídico, quer para classificar mais
especificamente os objectos de estudo (por exemplo sociedades colonizadas ou sociedade
industrializadas), quer para diferenciar as abordagens teóricas aos objectos de estudo (por
exemplo se as analises são elaboradas a partir da perspectiva jurídica ou das Ciências Sociais).
Outrossim, a literatura foi estabelecida por John Griffiths e entre “pluralismo jurídico fraco” e
“pluralismo jurídico forte”: o “pluralismo jurídico fraco”, fruto do trabalho de juristas, significa
que existem diferentes tipos de regras para diferentes grupos da população e que esta
coexistência de sistemas legais depende do reconhecimento estatal; o “pluralismo jurídico
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forte”, resultante do trabalho dos cientistas sociais, remete para a existência independente de
outras leis que não as leis sistemáticas e uniformes aplicadas pelo Estado e pelas suas
instituições.
Nesta expressão transporta consigo exemplos trágicos dos estados Coloniais e o Apartheid e o
exemplo claro desta realidade”161. Ainda Boaventura de Sousa Santos avança mais ao afirmar
que “Disjunção entre o controlo político e o controlo administrativo do território e das
populações; deficiente sedimentação de diferentes culturas político-jurídicas no interior do
Estado e do Direito oficial; grande turbulência política e institucional, feitas de múltiplas
rupturas sucedendo-se em sequencias rápidas; crise aguda do Estado, próxima da implosão”,
constituem como factores que levam a emergência do fenómeno da pluralidade das ordens
jurídicas dentro de um Estado.
Segundo Boaventura de Sousa Santos, esta disjunção nunca tornou-se uma das mais resistentes
heranças do Estado Colonial em África e esta longe de ter sido superada, muito em particular
nos PALOP’s.
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O sobredimensionamento do controlo político em relação ao controlo administrativo e hoje
evidente em Moçambique. Em termos administrativos, o Estado debate com o problema que
acompanhou desde sempre a criação dos Estados, o problema da penetração do Estado
enquanto administração pública e burocrática.
E nesta senda que em concordância com Boaventura de Sousa Santos, o Estado Moçambicano
e um exemplo de Estado de extrema heterogeneidade, caracterizando-se este por conter no seu
Direito Estatal “condições sócio-jurídicas que se auto-define como oficial, formal, moderna e
nacional, mas em cuja pratica jurídica se detecta alguns ou de todos polos das dicotomias, do
não-oficial, do informal, do tradicional, do local e do global.
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Maio (a Lei que regula o Funcionamento dos Tribunais Comunitários) e a Lei no 10/92, de 6
de Maio (a Lei da Organização Judiciaria).
Como escreve Maryse Raynal “os juristas e os governos optaram por um direito uniforme
temendo que os direitos costumeiros não colmatassem as clivagens étnicas que eles pretendiam
ultrapassar em nome de uma unidade nacional a forjar, recusando-se a encarar a realidade
evidente, a justiça moderna eternizava os seus erros mas sempre bem-vindo”.
Evidentemente, o pluralismo jurídico, nessa época, não foi visto como um assunto a tomar em
consideração no processo de desconstrução do sistema jurídico e judiciário colonial e
consequente erguer de um novo sistema, no contexto do Estado Revolucionário. Ademais, “o
conceito de pluralismo jurídico encontrava-se demasiado conotado cm os desígnios do Estado
colonial, ao defenderem soluções plurais, ou, melhor dizendo duais, sendo que de um lado o
direito estadual, dirigido aos cidadãos, e do outro lado, os direitos costumeiros, aplicáveis aos
nativos ou indígenas”.
E importante reter que a negação da diversidade jurídica que caracteriza e rege as relações entre
os membros das comunidades locais e entre estes para com o respectivo meio, na linha daquilo
que Moçambique fez após independência, não se revelou como uma solução adequadamente
realista, posto que os direitos costumeiros continuaram a ser seguidos, disputando o seu espaço
com o Direito estatal.
Hans Abrahamsson e Anders Nilson despertam-nos que o facto de haver condenação e
marginalização das Autoridades Tradicionais, bem como das praticas religiosas e tradicionais,
não se logrou alcançar grandes impactos juntos das comunidades locais, na medida em que
continuaram a ter uma forte presença e legitimidade durante os anos mais dificeis176.
Como escreve Henriques Henriques, o grau da coexistência, desenvolvimento e intensidade
das ordens e normas jurídicas dentro destes espaços jurídicos estaduais ditam o tipo de
pluralismo jurídico que pode ser forte, fraco ou médio. Esta classificação toma em conta as
margens ou o campo que a ordem jurídica estadual deixa ou permite para a coexistência das
várias ordens jurídicas entre elas e estas com aquela.
Concordamos com Henriques Henriques que na caracterização do pluralismo jurídico
moçambicano pós-independência e do período socialista, o Estado adoptou o modelo ou a ideia
do monismo forte, onde as ordens jurídicas intra-estatais foram abolidas. De acordo com esta
posição extrema do Estado socialista, a priori, não podia existir o pluralismo jurídico no espaço
jurídico estadual moçambicano.
O Direito Costumeiro ou Tradicional outrora reconhecido pelo Estado colonial, em
circunstâncias específicas e descritas atrás, deixou de ser reconhecido, ou seja, foi revogado,
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ao abrigo do artigo 71 da Constituição da República Popular de Moçambique de 1975. O
legislador de então passou a reconhecer um único regime de jurisdição. Este, de acordo com o
artigo 63o da Constituição de Moçambique de 1975 ao dispor que “o Tribunal Popular
Supremo promovera a aplicação uniforme da Lei para todos os tribunais ao serviço dos
interesses do povo moçambicano” e suprime todas as outras jurisdições coexistentes na
sociedade.
Quanto ao Direito Tradicional ou Costumeiro de facto, contrariamente ao que se podia esperar,
partindo do pressuposto de que o Direito Tradicional e Costumeiro deixaria de existir e de ter
valor jurídico perante o Estado. As suas instituições já não mais podiam ser reconhecidas como
instituições sociais pelo Estado. Estas, de facto, foram sempre seguidas clandestinamente de
jure a margem do Estado Socialista.
Esta realidade vem confirmar a posição de Griffiths quando denuncia o centralismo ou o
monismo jurídico dizendo que este e um mito porque assenta numa ideia errada. Para este autor
a validade normativa das instituições intra-estaduais não tem que estar subordinadas as leis e
instituições do Estado e as normas do Estado são as únicas leis ordenadoras da vida em
sociedade.
O pluralismo jurídico moçambicano no período pós-socialismo-Estado de Direito
Democrático-dada as aberturas e reconhecimento do Estado as autoridades tradicionais e aos
vários sistemas normativos e de resolução de conflitos, avaliado pela sua intensidade e o grau
de litigiosidade nela existente, e classificado como um pluralismo jurídico não fraco e nem
forte, mas tendencialmente forte.
A Constituição de 2004 estabelece princípios fundamentais que devem guiar o processo civil
em Moçambique. Isso inclui princípios como o Estado de Direito, a igualdade perante a lei, o
respeito pelos direitos humanos e a garantia do acesso à justiça. Esses princípios são essenciais
para garantir um processo civil justo e equitativo.
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A Constituição de Moçambique reconhece uma ampla gama de direitos fundamentais que têm
impacto direto no processo civil. Isso inclui o direito à tutela judicial efetiva, o direito à
privacidade, o direito à liberdade de expressão, entre outros. O processo civil deve ser
conduzido de acordo com esses direitos fundamentais, garantindo que todas as partes sejam
tratadas de forma justa e igual perante a lei.
A Constituição de 2004 reconhece o direito fundamental de acesso à justiça. Isso significa que
todas as pessoas têm o direito de recorrer aos tribunais para fazer valer seus direitos e resolver
seus conflitos. O processo civil deve ser acessível e eficaz para garantir que esse direito seja
efetivamente realizado.
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A Constituição garante uma ampla gama de direitos fundamentais, incluindo direitos civis e
políticos, direitos econômicos, sociais e culturais, direitos das mulheres, das crianças, dos
idosos, entre outros. Ela protege contra discriminação e estabelece a igualdade perante a lei.
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IV. CONCLUSÃO
A história do processo civil é marcada por um certo formalismo em suas diferentes fases. Tanto
os romanos quanto os germanos preocupavam-se com o cumprimento rigoroso da ordem dos
procedimentos para que a segurança do processo fosse garantida. Tal preocupação permanece
no processo civil atual, cujas formalidades devem ser obedecidas para que não haja
arbitrariedades.
O direito processual civil moçambicano tem como fonte principal o Código de Processo Civil
aprovado pelo Decreto- -Lei n° 44. 129, de 28 de. Dezembro de 1961, o qual constitui em si
mesmo uma revisão do Código de Processo Civil de 1939.
Desde a sua entrada em vigor, o actual Código já sofreu algumas alterações, nomeadamente,
as que foram impostas pela entrada em vigor do Código Civil de 1966, aprovado pelo Decreto-
Lei n° 47.690, de 11 de Maio de 1967, bem como pelo Decreto-Lei n° 323/ 70, de 11 de Julho,
pela Lei n° 8/92, de 6 de Maio, pelo Decreto n° 24/98, de 2 de Junho, pela Lei n° 11/ /99, de 8
de Julho, e pela Lei n° 10/2002, de 12 de Março.
O Código de Processo Civil está largamente desadaptado à actual realidade jurídica e social do
País. Do ponto de vista do interesse nacional, as suas regras não dão resposta adequada à
necessidade de celeridade e eficácia na resolução dos litígios de natureza económica ou social,
em especial neste momento de desenvolvimento de Moçambique e da sua integração em
espaços económicos multinacionais.
A história ensina que o direito pode assumir várias formas culturais. Quer o fenómeno da
recepção do direito romano na Europa a partir do Século XII, quer o direito codificado dos
Séculos XIX e XX são exemplos dessas formas.
Ambos são o fruto de uma longa evolução jurídica, filosófica, política, económica e social.
Ainda, é necessário ter presente que a própria técnica jurídica move-se sempre num espaço
habitado por conceitos e teorias que exprimem valores e perseguem interesses
irremediavelmente conexionados com os fenómenos sociais e culturais
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V. REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS
FACHINI. O oque é e para que serve o direito processual civil, acesso em 11 de março de 2024,
disponível em: https://www.projuris.com.br/blog/direito-processual-civil/.
JOSÉ CAETANO. Jurista português explica sobre origens do processo civil moçambicano,
acesso em 10 de março de 2024, disponível em: https://verdade.co.mz/jurista-portugues-
explica-sobre-origens-do-processo-civil-mocambicano/.
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. v. 1. 9. ed. São Paulo:
Saraiva, 1981.
Legislação
CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA DE MOÇAMBIQUE 1975
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