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Aula #4. - Norma Juridica
Aula #4. - Norma Juridica
Autor: Ernesto 1
Área: Línguas
I. NOÇÃO DA NORMA JURIDICA 2
A norma jurídica constitui o elemento fundamental do direito, na sua função de ordenar a convivência humana.
O sentido na Norma jurídica não tem sido unívoco, pois muitas vezes utiliza-se a denominação preceito, disposição, lei e
regra juridica, para tratar a mesma realidade.
A norma jurídica é geralmente definida como critério de conduta, ou seja, a regra pela qual se pautam as condutas
humanas.
Para Oliveira Ascensao a norma jurídica “ é um critério de qualificação e decisão de casos concretos”
De facto, o aspecto basilar da norma jurídica consiste no seu caracter de regra conduta, regra de dever ser, de regra que
perante uma situação factual típica, ordena como deve ser um determinado comportamento. Dai o principio “ dura lex sed
lex” que significa “ a lei é dura, mas é a lei”.
A função do Direito é normadora, determinando os termos em que as situações jurídicas se deverão constituir,
desenvolver, modificar e extinguir.
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A norma jurídica como elemento modular do Direito, enuncia condutas que são devidas pelo sujeito jurídico, os interesses
que nas situações concretas prevalecem e, nos conflitos de interesses juridicamente relevantes indica a quem pertence a razão
jurídica, a parte cujo interesse deve triunfar.
No entanto, embora efetivamente a maior parte das normas visem orientar os comportamentos das pessoas, em algumas delas
essa função está ausente, como por exemplo:
As normas do segundo grau – normas de identificação jurídica ( ex: os artigos 1º e 4º do CC), normas sancionatórias ( ex: as
normas que fixa coimas ou multas – art. 44º, 47º CP), normas sobre a vigência da lei ( ex. art. 5º do CC), normas sobre a
interpretação ( ex. art. 9º a 11º do CC) ou normas revogatórias ( sobre a revogação das outras normas ex. art. 7º do CC;
Deste modo, verifica-se que nem todas as normas regulam os comportamentos humanos, por isso, segundo Oliveira
Ascensão, para o Direito a regra é inevitavelmente um critério de decisão de casos concretos – “ a regra surge como
medianeira da solução jurídica de casos concretos. Dá ao intérprete o critério pelo qual ele pode julgar ou resolver.
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Todavia, para este autor, não são todos os critérios jurídicos de decisão que são regras jurídicas, pois estes podem ser:
Materiais : são critérios normativos, em que se procede uma valoração generalizadora das situações;
Formais: são critérios equitativos, em que se fixa uma orientação que permite, através de valoração próprias de cada caso, alcançar a sua
resolução. E a norma jurídica apenas se pode conduzir aos primeiros.
Nestes termos, a regra jurídica é um critério material de decisão de casos concretos.
I.1. ESTRUTURA DA NORMA JURIDICA 5
A norma jurídica prevê uma situação de facto, a que se fazem corresponder certos efeitos jurídicos.
Ex: Se alguém culposamente violar o direito alheio, fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos daí resultantes ( art.
483, nº 1 CC); quem interromper a gravidez de uma mulher sem o seu consentimento é punido com pena de prisão de 2 a
8 anos – art. 154º nº 1 do CP.
A norma é assim composta por dois elementos:
a previsão ou antecedente
a estatuição ou consequente
I.1.1.PREVISÃO OU ANTECEDENTE: 6
A previsão corresponde a uma certa situação de facto que se deve verificar para que a norma seja aplicada.
A previsão da norma é sempre uma previsão normativa, pois embora se refira a uma realidade empírica, a verdade é que a
determinação do seu sentido deve ser feita de modo jurídico, isto é, os factos da vida são jurisdicionalizados,
transformando-se os seus conceitos naturalistas em conceitos jurídicos, razão pela qual o seu significado deve ser aquele
que o Direito lhe atribui.
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Vejamos um exemplo elucidativo desta situação avançado por Marcelo Rebelo de Sousa/ Sofia Galvao: o que significa a
expressão “ quem matar outrem?
Após uma discussão, alguém dá um tiro a outrem de que resulta a sua morte;
Um médico desliga o aparelho a que se encontra ligado um doente com diagnóstico de morte cerebral;
Um pai não vigia adequadamente um filho de quatro anos que brincava à beira mar, resultando desse facto o seu afogamento
mortal.
A determinação do sentido da expressão tem de ser aferida juridicamente, e não facticamente, ou seja, nestas três situações
apenas se poderá dizer que um sujeito matou o outro, caso o Direito o entenda desse modo ou o preveja desse modo
I.1.2.ESTATUIÇÃO OU INJUNÇÃO 8
A estatuição ou injunção: é a determinação de certas consequências, que se irão verificar no caso da norma se aplicar.
Em outros termos, é a prescrição de efeitos jurídicos no caso de a situação prevista ( previsão) se verificar.
Dentro da estatuição é possível separar dois elementos:
O operador deôntico: isto é, o comando da norma, que pode ser uma permissão, uma proibição ou uma obrigação;
O objeto (do comando) – isto é, aquilo que é permitido, proibido ou obrigatório, e que pode corresponder a uma conduta,
a um poder ou a um efeito jurídico.
Tal como a previsão, a estatuição da norma também apresenta um caracter normativo, pois o seu sentido é igualmente
aferido de modo jurídico.
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Estamos perante uma estrutura-tipo ( previsão e estatuição) e , por isso, pode haver normas que a não apresentem. Por
outro lado, nem sempre é fácil determinar as suas partes. Como antecedente, é logico que a previsão precede s estatuição:
Ex: aquele que, com dlo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a
proteger interesses alheios” ( previsão) fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação
( estatuição).
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Todavia, podemos encontrar a estatuição antes da previsão ( Ex: a Assembleia Nacional pode rever a Constituição
( estatuição) decorridos cinco anos da sua entrada em vigor ou da ultima revisão ordinária ( previsão).
Sendo a previsão o antecedente e a estatuição o consequente, urge esclarecer a natureza do nexo que as une.
Diferentemente do que sucede com as leis naturais em que há uma relação necessária entre a causa e o efito, estamos no
mundo cultural dominado pela contigencia; nem sempre é possível aplicar os efeitos jurídicos quando os factos previstos
na norma se verificam. Há, aqui, uma valoração jurídica, uma criação do espirito humano e portanto, trata-se dum nexo
de imputabilidade.
I.2. CARACTERISTICAS DA NORMA JURIDICA 11
A norma jurídica é hipotética porque os seus efeitos jurídicos só se produzem se se verificarem as situações de facto
enunciadas na previsão, isto é, a aplicação da regra depende da hipótese da verificação de uma certa actuação ou prática de
um facto jurídico. Por isso, a lei proíbe e sanciona a condução sem cinto de segurança e só tem aplicação quando for
praticada esta conduta.
A hipoteticidade tem sido considerada pela doutrina como uma efectiva característica da norma jurídica.
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Heteronomia
O Direito é heterônomo no sentido de que advém de uma autoridade exterior a cada um de nós, o legislador;
Violabilidade
Esta característica da violabilidade marca a distinção entre as leis sociais e as leis da natureza. Estas ultimas são
invioláveis. As normas jurídicas, como leis sociais dirigem-se a seres livres que, no uso da sua liberdade, podem
desobedecer ao que a lei ordena. Contudo, a violação da norma jurídica não prejudica a sua verdade, a pretensão de
validade da norma jurídica não é molestada pela violação do seu comando.
Coercibilidade
Significa esta característica que, em caso de inobservância do Direito, se torna legitimo fazê-lo pela força. É a
coercibilidade que permite distinguir o Direito, mais precisamente, o Direito positivo, das outras normas de
conduta.
I.3. CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS JURIDICAS 14
As normas jurídicas são classificadas segundo critérios ou pontos de vista que possam responder a exigências praticas ou
necessidades sistemáticas.
Assim as normas jurídicas são classificas:
1. QUANTO À SUA RELAÇÃO COM A VONTADE DOS SEUS DESTINATÁRIOS.
Segundo esse critério as normas jurídicas podem ser:
a) Imperativas ( injuntivas ou congentes) : a sua aplicação não depende da vontade das pessoas. Impoe-se-lhe, exigindo um
comportamento que pode ser positivo ( facere) ou negativo ( non facere).
Assim, as normas imperativas por sua vez podem ser classificadas em:
1. preceptivas: impõem-nos uma conduta.
Sucede por exemplo com a norma que determina que os contratos devem ser pontualmente cumpridos ( art. 406º CC) ;
obriga a restituição do enriquecimento sem causa ( art. 473º CC); à indemnização dos danos resultantes da violação ilícita,
com dolo ou mera culpa, dum direito alheio ( art. 483º CC);
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b) interpretativa: determinam o alcance e o sentido de certas expressões ou declarações negociais susceptíveis de duvida.
Acontece, por exemplo com a norma que interpreta as expressões “ uso continuo¨, “ uso diário¨, “ uso nocturno¨, “ uso
semanal¨, ( art. 1402º do CC);
C) Supletivas : suprem a falta de manifestação da vontade das partes sobre determinados aspectos dum negocio jurídico
que carecem de regulamentação.
Sucede, por exemplo com a norma que determina que, na falta de estipulação ou disposição especial da lei, a prestação
deve ser efectudad no lugar do domicilio do devedor ( art. 772º do CC); que na falta de convenção antenupcial, o
casamento considera-se celebrado sob o regime de comunhão de adquiridos ( art. 49 nº 3 do CF); que não havendo
convenção em contrario, as despesas do contrato de compra e venda ficam a cargo do comprador ( art. 878º CC)
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b) remissão implícita: a norma jurídica não remete expressamente para outra norma, mas estabelece que o facto ou
situação a regular é ou se considera igual ao facto ou situação disciplinada por outra norma para a qual, implicitamente
remete: é o regime jurídico, que esta estabelece, que vem a aplicar-se.
São remissões implícita:
1. ficções legais: o legislador determina que um determinado facto ou situação é ou se considera como se fosse igual ao
facto ou situação prevista noutra lei. Por isso, assimilando ficticiamente o facto x ( a disciplinar) ao facto y ( já
disciplinado) , a nova norma jurídica vai permitir que outra norma ( que disciplina o facto y) tambem se aplique ao facto
x.
Sucede com a norma jurídica que finge feita a interpelação do devedor se a tiver impedido ( art. 805º, nº 2, al. c), do CC;
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2. Presunções legais: para afastar as dificuldades que, por vezes, a prova dum facto ou situação a regular suscita, o
legislador dispoe que, provada a existencia dum determinado facto, se considera também provada a existência do outro.
Na base das presunções está a relação entre os dois factos ( o que não se prova e o que se prova) que, ensina a
experiencia , normalmente quando um ocorre também o outro se verifica. Por isso, verificado e provado o facto x também
se tem por verificado o facto y e, sendo este presumido, a norma juridica ( que estabelece a presunção) remete
implicitamente para a norma que a disciplina.
Assim, sucede com a norma que determina a presunção de paternidade : provado que A tem por mãe B, presume-se que
seu pai é o marido de B. E ao pai ( presumido) aplicam-se as normas que estabelecem os efeitos da filiação,
nomeadamente as responsabilidades parentais.
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Outros exemplos são nos oferecidos , por exemplo, pela norma que presume ter carácter de sinal a quantia entregue
pelo promitente-comprador ao promitente-vendedor e, em consequencia, remete para a norma que obriga este a
restituir o dobro ou penaliza aquele coma perda da coisa entregue se a obrigação não for cumprida por causa que lhe
seja imputavel ( art. 441º, 442, nº 2 do CC).
As presunções, que escusam o beneficiado da prova do facto presumido ( art. 350º nº 1 do CC) e invertem o ónus da
prova ( art. 344º do CC), podem ser:
1. absolutas ( iuris et de iure): não admitem prova em contrário.
Sucede por exemplo com a presunção de que a posse adquirida por violência é de má fé ( art. 1260º nº 3 do CC). Estas
presunções são excepcionais ( art. 350º CC);
2. Relativas ( iuris tantum): podem ser ilididas mediante prova em contrário.
Sucede por exemplo, com a presunção da paternidade.
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3. Leges minus quam perfectae: não estabelecem a invalidade do acto contrário, mas determinam que não produzirá
todos os seus efeitos. É o caso por exemplo, do casamento dum menor, com mais de 16 anos de idade, sem a autorização
dos pais ou do tutor, quando suprida pelo Conservador do Registo Civil: o casamento é válido, mas o menor não deixa de
o ser quanto à administração dos bens que leve para o casal ou adquira posteriormente a titulo gratuito.
4. Leges imperfectae: não estabelecem nenhuma sanção.
Sucede por exemplo, com as normas constitucionais que consagram o direito à segurança social e, em consequencia,
atribuem ao Governo o dever de organizar, coordenar e subsidiar um sistema de segurança social; que reconhecem o
direito à protecção da saúde e estabelecem o dever de o Governo criar um serviço nacional de saúde universal e geral
tendencialmente gratuito.
MUITO OBRIGADO PELAATENÇÃO!
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Volenti Nihil Difficili - “A quem quer, nada é difícil”