Alguma dúvida costuma haver quanto à exata acepção e
pronúncia destes vocábulos, de uso corrente no meio forense; pelo que, não será fora de propósito aduzir ligeiras observações a tal respeito. Édito (palavra proparoxítona) significa edital, proclama; edito (palavra paroxítona) é o mesmo que decreto, sentença. Esta é a lição de graves autores. Napoleão Mendes de Almeida, insigne mestre da boa linguagem, ensinou em uma de suas conhecidas e reputadas obras: “Edito, édito. Não devem ser confundidas estas palavras. Edito, que também se grafa edicto, é a lei, o decreto, ou parte da lei, em que alguma coisa se preceitua: o edito de Nantes. O edito pode ser revogado. Édito é o edital, a simples publicação de um aviso, de uma ordem dimanada de câmara municipal, é o traslado de ordem oficial destinado ao conhecimento de todos e afixado em lugares públicos ou anunciados na imprensa periódica” (Dicionário de Questões Vernáculas, 1a. ed., 91). Tal distinção também consta do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (1a. ed.): edito – “qualquer preceito legal”; édito - “ordem de autoridade superior ou judicial que se divulga através de anúncios ditos editais, afixados em locais públicos ou publicados nos meios de comunicação de massa; edital” (cf. verbete édito). 2
Isto mesmo traz o Dicionário Contemporâneo da
Língua Portuguesa, (Caldas Aulete e Santos Valente, 2a. ed.): Edito – “decreto, ordem, mandado”; édito – “ordem, mandado da autoridade ou citação do juiz, que se afixa nos lugares públicos para que chegue à notícia de todos”. De igual parecer é De Plácido e Silva: “Edito. Exprimindo o preceito que é contido na lei ou no decreto, é aplicado no mesmo sentido de lei e decreto. Édito. É mais propriamente indicado para significar a ordem, o mandado, a citação, que se contém num edital” (Vocabulário Jurídico, 1973, vol. II, p. 575). Numa palavra, edito é sinônimo de decreto, sentença, decisão; ao passo que a voz édito inculca a ideia de edital, proclama (outrora: bando ou banho). Escreve-se edito nestes casos: I – “E aconteceu naqueles dias que saiu um edito - isto é, um decreto – emanado de César Augusto para que fosse alistado todo o mundo” (Lc 2,1; trad. Antônio Pereira de Figueiredo). II – O edito absolutório do réu – isto é, a sentença – vale por brasão de glória do ilustre magistrado que o subscreveu. III – O edito de pronúncia – isto é, a sentença, decisão ou despacho – remeteu o réu a julgamento pelo Tribunal do Júri. Empregar-se-á todavia édito na seguinte hipótese: 3
I – Como o réu estava em lugar não sabido, mandou-o
citar o juiz por édito (isto é, por edital). II - A lista geral dos jurados foi divulgada por éditos (isto é, por editais), afixados no átrio do edifício do fórum.
À derradeira, faz ao intento a advertência de Eliasar
Rosa, advogado e exímio cultor do vernáculo:
“Até agora, nossa profissão é essencialmente verbal e
tem por instrumento básico a linguagem. Advogado, se não fala, escreve. Isto significa que estará sempre em risco seu bom êxito na profissão, se ele não falar e escrever bem” (Glossário Forense,1a. ed., p. 8).