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ABDÓMEN AGUDO

B
by António Magarreiro Silva e David Aparício

ABDÓMEN AGUDO

Definido como dor abdominal aguda com pelo menos 1 sinal ou sintoma de irritação
peritoneal

ETIOLOGIA

CIRURGIA – CIRURGIA GERAL


A maioria das causas são cirúrgicas, mas existem também
• principais causas médicas: cetoacidose diabética, crise adrenal, urémia, crise
vasooclusiva (drepanocitose), colite pseudomembranosa (C. difficile), withdrawal de
opióides, febre familiar do mediterrâneo, porfiria aguda
• dor referida ao abdómen: enfarte agudo do miocárdio, pneumonia, embolia pulmonar
As causas podem-se organizar em quatro grupos fisiopatológicos [MD]
1. PERFURAÇÃO/ROTURA - início abrupto de dor muito intensa, irritação peritoneal franca
• Perfuração gastro-intestinal (p.ex. úlcera péptica)
• Rotura de aneurisma da aorta abdominal
• Rotura de gravidez ectópica ou quisto ovárico (♀)
2. OBSTRUÇÃO - dor tipo cólica, intermitente
• Obstrução intestinal baixa ou alta
• Volvo
• Cólica biliar, cólica ureteral
3. INFLAMAÇÃO – dor com evolução gradual, primeiro difusa e depois localizada
• Apendicite
• Colecistite
• Diverticulite
• Doença inflamatória pélvica (♀)
4. ISQUÉMIA – apresentação variável, consoante etiologia
• Isquémia mesentérica aguda
• Colite isquémica
• Hérnia estrangulada
• Torção de quisto ovárico (♀)
Localização e características da dor sugerem a etiologia
MD, D, T

1. Localização: consoante órgão afectado


• epigastro: perfuração de úlcera péptica, ...
• hipocôndrio direito: colecistite, colangite, hepatite, …
• região periumbilical: pancreatite, isquémia mesentérica, ruptura aneurismática, …
• flanco esquerdo / região inguinal esquerda: diverticulite, …
• flanco direito / região inguinal direita: apendicite, gravidez ectópica, ...
• dor referida: pancreatite → região lombar; colecistite → ombro direito; cólica ureteral →
região inguinal
2. Início abrupto: perfuração intestinal (p.ex. úlcera péptica), rotura aneurisma
3. Aumento da dor com refeições: obstrução intestinal, cólica biliar, pancreatite,
diverticulite

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DIAGNÓSTICO
No diagnóstico é de grande importância a clínica, particularmente exame objectivo [D]
abdominal (± pélvico e rectal)

MCDTs adequados consoante suspeita clínica


• Análises sanguíneas: hemograma, ionograma, função renal, enzimas hepáticas,

CIRURGIA – CIRURGIA GERAL


marcadores de colestase, proteína C reactiva, amilase/lipase, bHCG (♀), …
• RX abdómen em pé útil para pneumoperitoneu (p.ex. úlcera perfurada) – lâmina de ar
(hipertransparência) infradiafragmática calcificações (p.ex. urolitíase, colelitíase,
pancreatite crónica), obstrução intestinal – níveis hidro-aéreos, volvo – sinal em grão de
café, ...
• Acografia abdominal (± pélvica) útil para patologia biliar e ginecológica, bem como
apendicite aguda
• TC abdominal (± pélvica), possui alta rentabilidade diagnóstica excepto para colecistite
aguda → ecografia abdominal

Outros MCDTs usados em casos seleccionados: laparoscopia diagnóstica (p.ex. abdómen


agudo inexplicado), medição da pressão intra-abdominal (hipertensão abdominal), lavagem
peritoneal (p.ex. trauma)

TRATAMENTO

• Analgesia
[T]

• Medidas gerais (estabilização se instável, fluidoterapia, ± antibioterapia, …)


• Tratamento consoante causa médico/cirúrgico, urgente/emergente

OBSTRUÇÃO DO INTESTINO DELGADO


ETIOLOGIAS
• Aderências/bridas (cirurgias anteriores), hérnia encarcerada/estrangulada, estenoses por
doença de Crohn, cancro, ileus biliar, …

APRESENTAÇÃO
MD, D, T

• Dor tipo cólica, ± periumbilical


• Vómitos biliosos de grande volume, que progridem para obstipação (tardia)
• abdómen distendido, com aumento dos ruídos hidroaéreos (eventualmente
desaparecem)
• Complicações: isquémia/necrose (febre, leucocitose, acidose láctica), peritonite por
perfuração

DIAGNÓSTICO
• Clínica
[D]

• RX abdómen em pé com níveis hidroaéreos (predominantemente centrais)


• geralmente TC abdominal para determinar etiologia

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OBSTRUÇÃO DO INTESTINO DELGADO (continuação)

TRATAMENTO [T]

S e obstrução parcial ou completa sem sinais de isquémia ou deterioração clínica:


• Tratamento conservador – fluidoterapia, drenagem por sonda nasogástrica, dieta zero,

CIRURGIA – CIRURGIA GERAL


analgésicos e antieméticos ± teste diagnóstico com gastrografina
• Se não resolver em 24-48h → cirurgia
Se sinais de isquémia ou deterioração clínica:
• Laparotomia emergente

OBSTRUÇÃO DO CÓLON

Semelhante à do intestino delgado, com as seguintes diferenças:


• Etiologias: cancro colorectal, volvo, diverticulite, …
• Apresentação: obstipação precoce, que progride para vómitos entéricos/fecalóides
(tardios)
• Diagnóstico: RX abdominal com níveis hidroaéreos (predominantemente periféricos)

VOLVO

FISIOPATOLOGIA [MD]

• Rotação do cólon sobre si mesmo, em 80% no cólon sigmoideu

APRESENTAÇÃO
• Obstrução do cólon
• ± história de sintomas prévios que diminuem com “explosão” de fezes/gases sugerem
episódios prévios de volvo com destorção espontânea

DIAGNÓSTICO [D]
• RX abdominal com sinal de grão de café
• se dúvida, TC abdominal

TRATAMENTO [T]

MD, D, T

Destorção endoscópica
• Se sinais de isquémia transmural → cirurgia

ILEUS PARALÍTICO
Faz diagnóstico diferencial com obstrução intestinal

CAUSAS
• pós-cirúrgico (normal até 72h)
• outras: hipocaliémia, peritonite, fracturas pélvicas, parto, fármacos (opióides,
anticolinérgicos)

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ILEUS PARALÍTICO (continuação)


APRESENTAÇÃO
• Dor abdominal contínua
• Ausência de ruídos hidroaéreos
• ± náuseas/vómitos, distensão e timpanização abdominal

CIRURGIA – CIRURGIA GERAL


DIAGNÓSTICO [D]
• Clínico
• Se necessário, RX abdómen com distensão gasosa, com ar no recto (≠ obstrução), sem
ponto de transição visível (≠ obstrução)

TRATAMENTO [T]
• Conservador (fluidoterapia, sonda nasogástrica, dieta zero com progressão consoante
tolerância)
• Se não responder, neostigmina

APENDICITE AGUDA
FISIOPATOLOGIA [MD]

• Obstrução do lúmen por fecalito ou hipertrofia linfóide

APRESENTAÇÃO
• Mais comum entre os 10 e 30 anos
• Dor abdominal inicialmente difusa, que localiza para o ponto de McBurney (entre a crista
ilíaca direita e o umbigo)
• Sinais de irritação peritoneal
• Náuseas/vómitos, febre, anorexia - se vómitos, geralmente dor precede-os (≠ causas
médicas p.ex. gastroenterite)
• ± sinais de Blumberg, Rovsing, psoas, obturador
• ± diarreia em crianças pequenas
• Complicações: perfuração, abcesso, fleimão (maior risco <5 anos e >65 anos)

DIAGNÓSTICO
[D]
Diagnóstico é clínico (± análises sanguíneas)
• Pode-se usar score clínico de Alvarado, pouco usado na prática
MD, D, T

• Ecografia ou TC se dúvida no diagnóstico, obesidade ou mulheres em idade fértil


• Nas grávidas, fazer sempre ecografia ou RM para confirmar diagnóstico
• Análise sumária de urina se dúvida diagnóstica com ITU
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL [D]
• Crianças: adenite mesentérica aguda (história de infecção respiratória superior actual ou
recente), divertículo de Meckel
• Mulheres: doença inflamatória pélvica, torção de quisto ovárico, gravidez ectópica, rotura
de folículo, endometriose, dor ovulatória (Mittelschmerz)
• Idosos: cancro do cólon, diverticulite
• Imunodeprimidos: enterocolite neutropénica, infecções oportunistas

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APENDICITE AGUDA (continuação)

TRATAMENTO [T]
• Medidas gerais (ver acima), incluindo antibioterapia IV
• Apendicectomia urgente

CIRURGIA – CIRURGIA GERAL


REFERÊNCIAS

Schwartz's Principles of Surgery ; F. Charles Brunicardi, Dana K. Andersen, Timothy R. Billiar, David L. Dunn, Lillian
S. Kao, John G. Hunter, Jeffrey B. Matthews, Raphael E. Pollock

MD, D, T

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