O Tribunal de Justiça de São Paulo julgou procedente um recurso interposto pela Uber contra uma sentença que a condenou a indenizar uma cliente por um celular supostamente esquecido no carro. Segundo o Tribunal, não havia provas de que o motorista havia se apropriado do celular, e a responsabilidade pela perda recai sobre a própria cliente, que deixou o celular sem vigilância. Dessa forma, a sentença foi reformada e o pedido inicial julgado improcedente.
O Tribunal de Justiça de São Paulo julgou procedente um recurso interposto pela Uber contra uma sentença que a condenou a indenizar uma cliente por um celular supostamente esquecido no carro. Segundo o Tribunal, não havia provas de que o motorista havia se apropriado do celular, e a responsabilidade pela perda recai sobre a própria cliente, que deixou o celular sem vigilância. Dessa forma, a sentença foi reformada e o pedido inicial julgado improcedente.
O Tribunal de Justiça de São Paulo julgou procedente um recurso interposto pela Uber contra uma sentença que a condenou a indenizar uma cliente por um celular supostamente esquecido no carro. Segundo o Tribunal, não havia provas de que o motorista havia se apropriado do celular, e a responsabilidade pela perda recai sobre a própria cliente, que deixou o celular sem vigilância. Dessa forma, a sentença foi reformada e o pedido inicial julgado improcedente.
São Paulo-SP Processo nº: 0004941-08.2019.8.26.0008
Registro: 2021.0000019758
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Inominado Cível nº
0004941-08.2019.8.26.0008, da Comarca de São Paulo, em que é recorrente UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA, é recorrida ANDREA CAVALCANTI BRAOIO.
ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 4ª Turma Recursal Cível e Criminal
do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:Deram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Juizes CLAUDIA FELIX DE LIMA
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Colégio Recursal - Penha de França São Paulo-SP Processo nº: 0004941-08.2019.8.26.0008
0004941-08.2019.8.26.0008 - Fórum Regional de Tatuapé
RecorrenteUber do Brasil Tecnologia Ltda RecorridoAndrea Cavalcanti Braoio
Voto nº 000494108
Indenização por danos materiais Aplicativo de transporte
de passageiros Aparelho celular supostamente esquecido no interior do veículo Legitimidade ativa e passiva caracterizada Apropriação do celular pelo motorista não comprovada Boletim de ocorrência de perda/extravio Prova unilateral Falta de zelo da própria passageira quanto ao dever de guarda e vigilância do bem móvel pessoal Culpa exclusiva da vítima Responsabilidade civil elidida Sentença de procedência reformada Recurso provido.
Trata-se de recurso inominado interposto contra a
r. sentença que julgou procedente o pedido para condenar a ré ao pagamento de indenização por danos materiais, no valor de R$ 2.199,00, com os acréscimos legais.
A recorrente argui preliminares de ilegitimidade
ativa e passiva. No mérito, sustenta, em apertada síntese, a necessidade de reforma do julgado, com a consequente improcedência da ação.
É o relatório.
De início, rejeito a preliminar de ilegitimidade
ativa, haja vista que a nota fiscal de fls. 10 comprova que o aparelho celular que estava na posse da passageira Julia foi adquirido pela autora.
A preliminar de ilegitimidade passiva também não
prospera, porquanto, ao intermediar a contratação de transporte individual por meio de sua plataforma, a ré inequivocamente
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integra a cadeia de fornecimento, devendo responder
solidariamente, portanto, por eventuais danos causados por seus motoristas parceiros, nos termos dos arts. 7º, parágrafo único, 18 e 25, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor.
No mérito, respeitado o douto entendimento
expresso na r. sentença proferida nos autos, entendo a questão de modo diverso e voto pelo provimento do recurso, para o fim de julgar improcedente o pedido inicial.
Trata-se de ação de indenização por danos
materiais, aduzindo a autora que, em 04/05/2019, a sua filha Júlia de 15 anos foi transportada por veículo cadastrado na plataforma da ré, ocasião em que ela esqueceu no interior do automóvel o aparelho celular Iphone 6s.
Na espécie, não há qualquer evidência nos autos de
que o celular em questão foi apropriado pelo motorista prestador do serviço.
Registre-se que, ao ser comunicada pela autora
acerca do extravio do celular, supostamente esquecido no veículo do colaborador da ré, esta imediatamente contatou o motorista, que informou não ter localizado nenhum objeto perdido (fls. 64).
O fato de se tratar de relação de consumo não
exime a autora de comprovar os fatos constitutivos do seu direito, nos termos do art. 373, inciso I, do CPC.
Demais disso, não obstante pontuado na r. sentença
que, em razão da inversão do ônus da prova, “Caberia à parte requerida comprovar que o [celular] não foi deixado no interior do veículo” (fls. 98), não se pode olvidar que a ré não é obrigada a apresentar prova de fato negativo, a chamada prova diabólica, manifestamente de impossível realização.
Frise-se que o Boletim de Ocorrência de
“perda/extravio” do celular a fls. 7/8 constitui prova unilateral, uma vez que narra os fatos segundo a versão exclusiva apresentada pela parte interessada, não possuindo,
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isoladamente, validade probatória.
Há que se destacar, ademais, que o aparelho
celular estava sob a guarda e vigilância da própria passageira Júlia, filha da requerente, em momento algum tendo sido entregue ao prestador de serviço em depósito.
Logo, diante da impossibilidade fática da ré em
exercer qualquer controle sobre o bem móvel pessoal da passageira, resta elidido o nexo de causalidade e, por conseguinte, a responsabilidade civil, visto que a perda de objeto por falta de cuidado da parte autora caracteriza culpa exclusiva da vítima, nos termos do art. 14, § 3º, inciso II, do Código de Defesa do Consumidor.
Ante o exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso, para o
fim de julgar improcedente o pedido inicial.
Não há condenação ao pagamento de custas
processuais, ou de honorários advocatícios, nos termos do artigo 55, caput, da Lei nº 9.099/95.