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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2016.0000354460

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


0193204-25.2008.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante
BANESPREV FUNDO BANESPA DE SEGURIDADE SOCIAL, são apelados
JOSE LUIZ LANZELOTTI AMORIM, MILTON JOSE SARTORIO e LUIZ
CARLOS FRANÇA BARRETO.

ACORDAM, em 7ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso.
V. U. Sustentaram oralmente o Dr. Edson Edmir Velho (OAB 124530) e Dra. Iracy
Ferreira do Valle (OAB 81381).", de conformidade com o voto do Relator, que
integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LUIS


MARIO GALBETTI (Presidente sem voto), LUIZ ANTONIO COSTA E MIGUEL
BRANDI.

São Paulo, 18 de maio de 2016.

RÔMOLO RUSSO
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Voto n.º 16.366

Apelação n.º 0193204-25.2008.8.26.0100


Comarca: São Paulo (Foro Central Cível - 19ª Vara)
Ação: Indenizatória
Apelante: Banesprev Fundo Banespa de Seguridade Social
Apelada: José Luiz Lanzelotti Amorim e outros

Responsabilidade civil. Atos reputados lesivos,


praticados por administradores nos exercícios
financeiros de 1995 e 1996. Contas aprovadas em
assembleia. Ausência de impugnação ou
anulação. Regularidade das contas (art. 134, §3º,
da Lei n.º 6.404/76). Recurso desprovido.

Da r. sentença (fls. 1.046-1.052) que julga


improcedente a ação, apela a autora (fls. 1.270-1.290),
sustentado inexistir prescrição, ser inaplicável a legislação
pertinente às sociedades anônimas, bem como estar
demonstrada negligência, em relatório de auditoria interna.
Requer a anulação da sentença.

Recurso preparado (fls. 1.272-1.273) e


respondido (fls. 1.319-1.340, 1.342-1.353).

A apelação de fls. 1.180-1.199 foi


declarada deserta (fls. 1.312).

A apelante se opõe ao julgamento virtual


(fls. 1.361).

É o relatório.

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Os atos supostamente lesivos foram


praticados durante os exercícios financeiros de 1995 e 1996,
quando ainda não vigiam a Lei Complementar 109/01, o Decreto
nº 4.942/03 e a Resolução da CVM nº 3.792/2009.

Com efeito, em prol de integração


hermenêutica e sistemática, são aplicáveis ao caso os artigos
134, §3º, 153 e 286 da Lei no 6.404/76, sem prejuízo do alcance
do art. 1.011 do Código Civil.

Nesse sentido, doutrina FLÁVIO


MARTINS RODRIGUES, verbis:

“Considerando a relevância da atividade desempenhada pelos


gestores de fundos previdenciários e o elevado grau de fidúcia
demandado, é natural que lhes seja imputado padrão
correspondente de responsabilidade. Referimo-nos ao zelo
exigido na administração dos ativos referentes ao processo de
capitalização e no gerenciamento do denominado passivo
previdenciário. Destarte, dever-se-á buscar a fixação de um
conjunto de condutas esperadas desses gestores fiduciários, a
fim de fixar-lhes um padrão de culpa in abstracto” (A
responsabilidade civil dos gestores de fundos de pensão, Fundos
de pensão: temas jurídicos. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, pág.
232).

Aplicam-se, pois, os referidos textos


legais.

Indo ao mérito, marque-se que a


aprovação de contas em assembleia específica faz cessar a
responsabilidade civil dos administradores.

Nesse sentido, o art. 134, §3º, da Lei n.º


6.404/76 dispõe que “a aprovação, sem reserva, das
demonstrações financeiras e das contas, exonera de

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responsabilidade os administradores e fiscais, salvo erro, dolo,


fraude ou simulação”.

Segundo o art. 286 da Lei n.º 6.404/76,


porém, decai em dois anos o direito potestativo de ajuizar ação
que, sob estes fundamentos, vise a anular a deliberação.

Na espécie, em assembleia geral


ordinária realizada em 27.04.1996, dera-se, sem nenhuma
ressalva em sentido oposto, a aprovação das contas dos
administradores relativas aos exercícios financeiros de 1995 e
1996.

É da essência estrutural do ato que


chancela as contas dos administradores que se fixe
expressamente a ressalva negativa ou a deliberação que
clausura uma parte ou o todo das contas daqueles.

A rejeição das aludidas contas, portanto, é


premissa basal para que se venha a consagrar que a sociedade
tenha suportado, ao menos em tese, prejuízo material decorrente
da ação danosa, da manobra culposa ou dolosa dos respectivos
administradores.

Não é tecnicamente viável, pois, que a


sociedade venha reclamar o dever de reparar se, em conclave
próprio, homologa as contas dos teóricos agentes da operação
financeira questionada.

Outrossim, anote-se que a culpa


concorrente do Banespa e da Banesprev foi reconhecida pelo
juízo arbitral, o que, ao menos em tese, reforçava a expectativa
de que aquelas contas não devessem ser albergadas naquela
assembleia.

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Nesse sentido, face à aprovação das


contas em assembleia, e não se tendo obtido a anulação do ato
nos dois anos subsequentes à realização da assembleia, inexiste
o direito potestativo à sua impugnação e, portanto, tampouco
pretensão indenizatória.

Por esses fundamentos, meu voto nega


provimento ao recurso.

RÔMOLO RUSSO
Relator

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