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SUMÁRIO

1. Puberdade fisiológica................................................ 3
2. Puberdade precoce.................................................... 7
3. Puberdade precoce central.................................... 9
4. Puberdade precoce periférica..............................10
5. Puberdade precoce mista ....................................12
6. Diagnóstico.................................................................12
7. Tratamento..................................................................16
Referências bibliográficas..........................................19
PUBERDADE PRECOCE 3

1. PUBERDADE a hipófise fetal secreta LH e FSH (com


FISIOLÓGICA predomínio deste último). Durante os
6 primeiros meses de vida, a secreção
A puberdade compreende o período
de testosterona pelos testículos e de
entre a infância e a vida adulta, con-
estradiol pelos ovários se torna impor-
sistindo em uma fase de crescimento
tante. Após esse período, no entanto,
e desenvolvimento na qual há mo-
a secreção hormonal diminui, perma-
dificações físicas e psicológicas que
necendo baixa durante toda a infân-
levam à maturidade sexual e capa-
cia, até que retorne na puberdade.
cidade reprodutiva. É resultado da
associação de fatores genéticos e Existem dois eventos principais na
ambientais, porém os fatores que de- puberdade: a adrenarca e a gona-
terminam seu início ainda não são to- darca. A adrenarca ocorre pela es-
talmente conhecidos. timulação do eixo hipotálamo-hipó-
fise-suprarrenal, com crescimento
A puberdade está intimamente re-
da camada reticular da suprarrenal e
lacionada com o eixo hipotálamo-
aumento na produção de androgê-
-hipófise-gônada (HHG). O nú-
nios. Este evento é responsável pelo
cleo arqueado do hipotálamo e seus
aparecimento dos pelos púbicos e
neurônios liberam o GnRH, que é
axilares, caracterizado pelo aumento
transportado para a hipófise anterior
da dosagem de de-hidroepiandroste-
e estimula a liberação do hormônio
rona (DHEA) ou sua forma sulfatada
luteinizante (LH) e do folículo-esti-
(S-DHEA).
mulante (FSH). Estes últimos influen-
ciam as gônadas para a produção dos A gonadarca, por sua vez, leva à ati-
hormônios sexuais: nos meninos, o vação do eixo HHG, com o desenvol-
LH estimula a síntese de testostero- vimento das mamas nas meninas e
na, enquanto o FSH, a espermatogê- dos testículos nos meninos. Carac-
nese; já nas meninas, o LH e o FSH teriza-se pelo aumento dos níveis
estimulam a síntese de esteroides e a de LH e FSH, além da testosterona e
ovulação, respectivamente. estrogênio.
As mudanças hormonais da puber-
dade têm início na vida fetal, quando
PUBERDADE PRECOCE 4

MAPA MENTAL – ADRENARCA E GONADARCA

ADRENARCA GONADARCA

ESTIMULAÇÃO DO EIXO ATIVAÇÃO DO EIXO HIPOTÁLAMO-


HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-ADRENAL HIPÓFISE-GÔNADA

GONADOTROFINAS (LH E
ANDROGÊNIOS (DHEA E S-DHEA) FSH) E ESTEROIDES SEXUAIS
(TESTOSTERONA E ESTROGÊNIO)

APARECIMENTO DE PELOS DESENVOLVIMENTO DE


PÚBICOS E AXILARES MAMAS E GENITÁLIA

Como avaliar a normalidade do de- Nos meninos, G2 indica o início do


senvolvimento? Isso é feito de forma crescimento testicular (testículos com
objetiva pela observação das mudan- volume acima de 4mL); o P2 indica a
ças físicas, com seu início e o ritmo de presença de pelos lisos em base de
evolução, através da classificação de pênis, enquanto no P3 há pelos mais
Tanner. Essa classificação se refere grossos e encaracolados. Nas meni-
ao desenvolvimento de mamas (M) e nas, a menarca geralmente está rela-
pelos (P) nas meninas e genitália (G) cionada com o T4 no desenvolvimen-
e pelos (P) nos meninos. to das mamas, no qual há crescimento
das aréolas.
PUBERDADE PRECOCE 5

Figura 1. Classificação do estadio puberal de Tanner – em ambos os sexos.. Fonte: Tratado de Pediatria, SBP, 2017.

Nas meninas, os estrogênios levam Nos meninos, a testosterona aumen-


ao desenvolvimento das mamas, au- ta os testículos, o pênis, os pelos fa-
mento dos grandes e pequenos lá- ciais, a cartilagem cricoide (que leva
bios, aumento e redistribuição da gor- à mudança de voz), além de promo-
dura corporal (predomínio no quadril), ver modificações na distribuição da
crescimento do útero, estrogenização gordura corporal, aumento da massa
do epitélio vaginal (acidificação do muscular e aparecimento de acne.
pH e aparecimento de leucorreia). O O estirão puberal é consequência da
aparecimento de pelos púbicos, como ação conjunta dos esteroides sexuais,
dito anteriormente, têm sua origem na hormônio de crescimento e fatores de
produção de hormônio suprarrenal. crescimento (como o IGF-1). Os hor-
mônios sexuais influenciam de forma
PUBERDADE PRECOCE 6

importante a maturação óssea e o fe- variabilidades étnicas e regionais da


chamento das epífises de crescimen- época de início e ritmo de evolução.
to, assim como a aquisição de massa Nos meninos, o primeiro sinal pube-
óssea. ral é o aumento no volume dos testí-
Para identificar e analisar os distúr- culos, que ocorre entre 9 e 14 anos de
bios puerperais, é importante conhe- idade, acompanhado do aparecimen-
cer a cronologia normal dos eventos to dos pelos púbicos (pubarca). Em
puberais. Nas meninas, o primeiro alguns meninos pode ocorrer o de-
sinal é a aceleração do crescimento, senvolvimento transitório da glându-
porém o aspecto mais marcante é a la mamária na fase inicial do desen-
telarca (desenvolvimento das ma- volvimento testicular (ginecomastia).
mas); alguns meses depois, os pelos Após a pubarca, ocorre o desenvolvi-
púbicos começam a aparecer. A me- mento genital, seguido Da mudança
narca ocorre geralmente após 2 anos na voz. O estirão puberal é mais tar-
do início do desenvolvimento das ma- dio, iniciando-se nos estágios 3 ou 4
mas e, após esse momento, se inicia de Tanner (mais ou menos com 13-
a desaceleração do crescimento. A 14 anos). Os pelos faciais aparecem
puberdade nas meninas ocorre entre cerca de 3 anos após o início do sur-
8 e 13 anos de idade, porém existem gimento dos pelos púbicos.

MAPA MENTAL – CRONOLOGIA PUBERAL NORMAL

CRONOLOGIA NORMAL DOS CRONOLOGIA NORMAL DOS


EVENTOS PUBERAIS FEMININOS EVENTOS PUBERAIS MASCULINOS
(8-13 ANOS) (9-14 ANOS)

ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO AUMENTO DO VOLUME TESTICULAR

TELARCA PUBARCA

PUBARCA DESENVOLVIMENTO DO PÊNIS

MENARCA (APÓS 2 ANOS DA TELARCA) MUDANÇA NA VOZ

DESACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO ESTIRÃO PUBERAL (13 A 14 ANOS)


PUBERDADE PRECOCE 7

2. PUBERDADE PRECOCE Quanto à etiologia, a puberdade pre-


coce pode ser classificada de acordo
A puberdade precoce (PP) é defini-
com a atividade do eixo HHG em:
da como o aparecimento de caracte-
res sexuais secundários antes dos 8 • Central (GnRH-dependente)
anos nas meninas e antes dos 9 anos – secundária à ativação do eixo
nos meninos. No entanto, a idade não HHG, também chamada de PP
deve ser utilizada como critério iso- verdadeira.
lado: deve-se analisar a progressão • Periférica (GnRH-independen-
dos caracteres sexuais, a velocidade te) – secundária à produção autô-
de crescimento e ritmo de matura- noma de esteroides sexuais pelas
ção óssea. O desenvolvimento pre- suprarrenais ou gônadas, inde-
coce da puberdade causa problemas pendente do controle ou ativação
como estatura final inferior ao espe- do eixo HHG; chamada de pseu-
rado (para o padrão genético familiar), do-puberdade precoce.
além de inadequação psicossocial. • Combinada ou mista – compre-
Os caracteres sexuais secundários ende doenças com produção exa-
podem ser classificados em dois tipos: cerbada de esteroides sexuais, que
os heterossexuais e os isossexuais. induz ao amadurecimento precoce
Os heterossexuais são discordantes do eixo HHG.
com o sexo genético da criança, como
é o caso da feminilização nos meninos
SE LIGA! Algumas condições levam a
e virilização nas meninas. Os isosse- manifestações puberais isoladas, como
xuais, por sua vez, são concordantes o desenvolvimento isolado das ma-
com o sexo genético. mas, dos pelos púbicos ou da menarca,
chamadas respectivamente de telarca,
adrenarca e menarca isoladas. Essas
condições são chamadas de desenvol-
vimento prematuro benigno.
PUBERDADE PRECOCE 8

MAPA MENTAL – CLASSIFICAÇÃO DA PUBERDADE PRECOCE

PRODUÇÃO ATIVAÇÃO DO
AUTÔNOMA EIXO HIPOTÁLAMO-
DE ESTEROIDES HIPOFISE-GONADAL
SEXUAIS (HHG)

PERIFÉRICA (GnRH- PUBERDADE CENTRAL (GnRH-


INDEPENDENTE) PRECOCE DEPENDENTE)

MATURAÇÃO
MATURAÇÃO
SEXUAL
SEXUAL COMPLETA
INCOMPLETA
MISTA

Não obedece a
cronologia normal dos PRODUÇÃO
eventos puberais EXARCEBADA
DE ESTEROIDES
SEXUAIS

Leva à ativação
posterior do eixo HHG

Como é a fisiopatologia da puberda- do paciente, associado ao avanço da


de precoce? idade óssea (IO). Com isso, há o fe-
O aumento dos esteroides sexuais chamento precoce das epífises ós-
(seja por produção autônoma ou ati- seas e, consequentemente, o com-
vação do eixo HHG) leva a uma ace- prometimento da estatura final da
leração na velocidade de crescimento criança, geralmente resultando em
baixa estatura.

SAIBA MAIS!
O hipotireoidismo é uma causa de puberdade precoce que cursa também com baixa estatura,
porém apresenta atraso na idade óssea.
PUBERDADE PRECOCE 9

3. PUBERDADE Já a etiologia neurogênica é a mais


PRECOCE CENTRAL frequente em meninos e é consequ-
ência de doenças que acometem o
Nesse tipo de PP, que depende da ati-
Sistema Nervoso Central (SNC). Os
vação do eixo HHG (dependente de
tumores do SNC correspondem a
gonadotrofinas), o desenvolvimento
50% dos casos de PP central com
sexual ocorre na sequência da pu-
etiologia neurogênica. Outras causas
berdade fisiológica, com a maturação
de acometimento do SNC incluem
sexual completa, porém com início
hamartoma hipotalâmico, anomalias
precoce. Devido à produção normal
congênitas, cistos, lesões vasculares,
dos esteroides sexuais, os caracteres
infecções, entre outros.
sexuais são sempre isossexuais, ou
seja, concordantes com o sexo gené-
tico da criança.
Tem incidência de 1 caso a cada
5.000-10.000 crianças, é mais co-
mum no sexo feminino (3:1) e tem
três principais causas: idiopática, ge-
nética e neurogênica (Figura 2). A
causa idiopática é a mais comum nas
meninas, estando presente em mais
de 80% dos casos e é caracterizada
por ser uma PP sem causa orgânica
definida. A causa genética inclui mu-
tações em genes específicos, como
nos KISS-1 e KISS-1R e na proteína
GPR54.

Figura 2. Principais etiologias da PP central. Fonte:


Retirada de Tratado de Pediatria, SBP, 2017.
PUBERDADE PRECOCE 10

MAPA MENTAL – ETIOLOGIAS DA PUBERDADE PRECOCE CENTRAL

Incidência: 1 a cada Mais comum em


5.000-10.000 crianças meninas (3:1)

SEM CAUSAS
MAIS FREQUENTE
ORGÂNICAS
EM MENINOS
DEFINIDAS

PUBERDADE
NEUROGÊNICAS PRECOCE IDIOPÁTICAS
CENTRAL

TUMORES E LESÕES MAIS FREQUENTE


NO SNC EM MENINAS

GENÉTICAS
TUMORES DO SNC
REPRESENTAM 50%
DOS CASOS
MUTAÇÕES
ATIVADORAS OU
INATIVADORAS EM
GENES ESPECÍFICOS

KISS-1, KISS-1R E
PROTEÍNA GPR54

4. PUBERDADE podem apresentar caracteres sexuais


PRECOCE PERIFÉRICA secundários masculinos, diante de um
tumor da suprarrenal, por exemplo.
Nesse grupo de condições, o desen-
volvimento puberal ocorre de forma CENTRAL PERIFÉRICA

independente do controle do eixo Ativação


Produção autôno-
Fisiopatologia ma de esteroides
HHG, ou seja, há uma produção au- eixo HHG
sexuais
tônoma de esteroides sexuais. Dessa Maturação
Completa Incompleta
forma, estes casos não obedecem à sexual
cronologia dos eventos puberais nor- Sequência da
Habitual Não-habitual
mais e a maturação sexual é incom- puberdade

pleta. Outro aspecto importante é que Caracte-


Iso ou
res sexuais Isossexuais
os caracteres sexuais podem ser iso secundários
heterossexuais
ou heterossexuais. Ou seja, meninas Tabela 1. Comparação de PP central e periférica
PUBERDADE PRECOCE 11

Para identificar a causa da PP perifé- aromatase; tumor testicular ou adrenal


rica, deve-se avaliar inicialmente os feminizante; exposição a estrógenos.
caracteres sexuais (se são iso ou he- Para as meninas, são possíveis causas
terossexuais), para então direcionar a de PP periférica isossexual: hipotireoi-
procura por alguma etiologia possível. dismo primário não-tratado; cistos ova-
Para os meninos, são possíveis causas rianos foliculares (produtores de estró-
de PP periférica isossexual: testoto- genos); tumor de células granulosas;
xicose; tumor produtor de beta-HCG; síndrome de McCune-Albright; expo-
síndrome de McCune-Albright; mu- sição a esteroides sexuais ou interfe-
tação do gene DAX1; tumor testicular rentes endócrinos (substâncias que
ou adrenal virilizante; hipotireoidismo atuam como se fossem hormônios). Já
primário não-tratado; hiperplasia adre- as causas heterossexuais, ou seja, que
nal congênita; uso de andrógenos. Já levam à virilização das meninas, são:
as causas heterossexuais em meni- resistência periférica a glicocorticoides
nos, ou seja, que causam a feminili- (como a Síndrome dos Ovários Policís-
zação, são: aumento da atividade da ticos); tumor ovariano ou adrenal virili-
zante; exposição a andrógenos.

MAPA MENTAL - ETIOLOGIAS DE PUBERDADE PRECOCE PERIFÉRICA

MENINOS MENINAS

ISOSSEXUAIS ISOSSEXUAIS

• Testotoxicose;
• Tumor produtor de beta-HCG; • Cistos ovarianos foliculares;
• Síndrome de McCune-Albright; • Tumor de células granulosas;
• Mutação do gene DAX-1; • Síndrome de McCune-Albright;
• Tumor testicular ou adrenal virilizante; • Hipotireoidismo primário;
• Hipotireoidismo primário; • Exposição a esteroides sexuais ou
• Hiperplasia adrenal congênita; interferentes endócrinos.
• Uso de andrógenos

HETEROSSEXUAIS HETEROSSEXUAIS

• Aumento da atividade da aromatase; • Resistência periférica e glicocorticoides;


• Tumor testicular ou adrenal feminizante; • Tumor ovariano ou adrenal virilizante;
• Exposição a estrógenos. • Exposição a andrógenos.
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5. PUBERDADE com uma maturação sexual incom-


PRECOCE MISTA pleta, tornando-se posteriormente
completa e com a sequência cronoló-
Esse tipo de distúrbio se inicia como
gica normal, após a ativação do eixo
uma PP periférica, com a produção au-
HHG.
tônoma de esteroides sexuais, porém,
com o passar do tempo essa produ- As causas são as mesmas causas da
ção acaba ativando o eixo HHG. Des- PP periférica, que não tenham sido
sa forma, manifesta-se inicialmente tratadas ou que o tratamento tenha
sido inadequado.

MAPA MENTAL – PUBERDADE PRECOCE MISTA

PUBERDADE
PRECOCE
MISTA

PRODUÇÃO AUTÔNOMA DE MATURAÇÃO SEXUAL


ESTEROIDES SEXUAIS INCOMPLETA INICIALMENTE

AUSÊNCIA DE TRATAMENTO
OU TRATAMENTO INEFICAZ

MATURAÇÃO SEXUAL
ATIVAÇÃO DO EIXO HHG
COMPLETA

6. DIAGNÓSTICO • Aparecimento precoce e/ou evolu-


ção acelerada dos caracteres se-
Avaliação clínica
xuais secundários;
Na avaliação dos pacientes com dis-
• Sinais clínicos de virilização;
túrbios puberais deve-se atentar para
diferenciar as condições benignas da- • Estatura acima do padrão genético
quelas causadas por doenças, como familiar;
os tumores. Pacientes com as carac- • Velocidade de crescimento acima
terísticas a seguir devem ser avalia- do esperado para o sexo e idade.
dos para afastar um possível distúr-
bio puberal:
PUBERDADE PRECOCE 13

Deve-se investigar a história clínica, Nos meninos, o desenvolvimento


como as condições de nascimento, dos testículos indica a ativação do
antecedentes perinatais de infecções, eixo HHG, ou seja, a presença deste
uso de medicamentos e uso prévio de desenvolvimento antes dos 9 anos é
hormônios, antecedentes de doença indicativa de puberdade precoce cen-
neurológica, ritmo de evolução e ida- tral. Na puberdade precoce periférica,
de do aparecimento dos caracteres o crescimento do pênis ocorre sem o
sexuais, dados anteriores de cresci- desenvolvimento testicular, ou o ta-
mento, além da história familiar pu- manho testicular é desproporcional à
beral, como a menarca materna e o virilização da genitália. Sendo assim,
período da mudança de voz paterna. o aumento do volume dos testícu-
O exame físico deve incluir os dados los indica a produção endógena de
de estatura e peso, o estadiamento gonadotrofinas, enquanto apenas o
puberal, de acordo com a classificação aumento do pênis com presença de
de Tanner, verificando se há caracte- pelos púbicos é sugestivo da pro-
res heterossexuais associados, além dução de androgênios (de origem
do exame neurológico. No momento suprarrenal).
do exame físico das meninas, é im-
portante investigar possíveis altera- Avaliação laboratorial
ções decorrentes do estrogênio e dos
androgênios, expostas na tabela 2. A O diagnóstico é basicamente clínico,
presença de manifestações androgê- no entanto, a dosagem das gonado-
nicas deve orientar o profissional a ex- trofinas é importante para classificar
cluir a presença de alteração suprarre- a puberdade precoce, uma vez que
nal, sendo os diagnósticos diferenciais o tratamento varia entre a PP central
a adrenarca precoce, o tumor de su- e periférica. Deve-se realizar a dosa-
prarrenal e a hiperplasia congênita da gem de FSH e LH (para avaliar ati-
suprarrenal (forma tardia). vação do eixo), além dos esteroides
sexuais (estradiol e testosterona) e
ESTROGÊNIOS ANDROGÊNIOS
adrenais (DHEA e SDHEA). Se hou-
Desenvolvimento Acne
mamário
ver dúvida se há ou não participação
Crescimento de peque- Hirsutismo
do eixo, deve-se realizar o teste de
nos e grandes lábios estímulo com GnRH ou um análogo
Aumento da massa do GnRH para posterior dosagem
muscular das gonadotrofinas.
Hipertrofia do clitóris
Se a dosagem de LH basal for > 0,6
Tabela 2. Efeitos dos estrogênios e androgênios em
meninas. U/L, há ativação comprovada do eixo
HHG. Se o LH for normal, deve-se
PUBERDADE PRECOCE 14

realizar um teste de estímulo com meninos ou > 6,9 U/L em meninas, há


GnRH (administrar 100mcg, EV), evidência de ativação do eixo. Caso o
com nova dosagem do LH em 15, 30, estímulo seja feito com um análogo
45 e 60 minutos após a administra- do GnRH, a dosagem posterior de LH
ção. Se o pico de LH for > 9,6 U/L em deve ser feita em 30 e 120 minutos:
se LH > 10 U/L, há ativação do eixo.

FLUXOGRAMA – DOSAGEM DE LH

LH basal > SIM


ATIVAÇÃO DO EIXO HHG
0,6 U/L?

NÃO

ESTÍMULO COM GnRH SE NÃO DISPONÍVEL:


(administrar 100mcg, EV) ANÁLOGO DE GnRH

DOSAGEM DE LH COM DOSAGEM DE LH COM


15, 30, 45 E 60 MIN 15, 30 E 120 MIN

LH > 9,6 U/L EM MENINOS LH > 6,9 U/L EM MENINAS LH > 10 U/L

ATIVAÇÃO DO EIXO HHG ATIVAÇÃO DO EIXO HHG

Avaliação por imagem progressão dos efeitos hormonais, já


que os esteroides aceleram a matu-
Todas as crianças em avaliação dos
ração óssea. Considera-se uma idade
distúrbios puberais devem realizar
óssea normal 2 anos acima ou abaixo
uma radiografia de mão e punho
da idade cronológica do paciente.
para determinar a idade óssea (IO).
Este é um índice útil na avaliação da
PUBERDADE PRECOCE 15

SAIBA MAIS!
A determinação da idade óssea pode ser feita através de alguns métodos. O mais conhecido
e difundido é o método de Greulich-Pyle, que consiste em um Atlas com fotos de radiografias
da mão e punho, com o qual o médico compara a radiografia do paciente em questão, consi-
derando a imagem que mais se aproxima com a investigada (Figura 3).

Figura 3. Comparação de radiografia de mão e punho de uma menina de 10 anos com


o padrão correspondente no Atlas de Greulich e Pyle. Fonte: https://bit.ly/2UGKxbz

A ultrassonografia pélvica/abdomi- A RM de crânio e hipófise avalia anor-


nal permite avaliar as gônadas e su- malidades hipotalâmicas-hipofisárias
prarrenais, descartando a presença e deve ser sempre considerada nos
de tumores. Além disso, permite ava- casos de meninos com suspeita de
liar sinais da ação estrogênica, como puberdade precoce central. O hamar-
aumento do volume uterino e ovaria- toma hipotalâmico, por exemplo, con-
no para a idade, presença de cistos siste em uma imagem iso a hipointen-
foliculares (secundário à ativação do sa em T1 e iso a hiperintensa em T2;
eixo HHG) e presença de endométrio. não apresenta calcificações dentro da
lesão e não evidencia aumento do si-
nal após uso do contraste.
PUBERDADE PRECOCE 16

Figura 4. Hamartoma hipotalâmico visualizado em RM. Fonte: http://anatpat.unicamp.br/rpghamarthipot3.html

7. TRATAMENTO Quando houver causa anatômica


identificada (exemplo: tumores do
O tratamento da puberdade preco-
SNC), independente da classificação
ce possui alguns objetivos princi-
da PP (central, periférica ou mista), o
pais, que são: suprimir o eixo HHG,
caso deve ser manejado por especia-
a secreção de gonadotrofinas e de
lista da área. Nesses casos, o trata-
esteroides gonadais; regredir os ca-
mento pode consistir em remoção ci-
racteres sexuais secundários até a
rúrgica do tumor.
idade cronológica vigente, inclusive
menstruações; desacelerar o ritmo de O tratamento clínico da PP central,
avanço da maturação óssea; recupe- na qual há ativação das gonadotro-
rar a velocidade de crescimento nor- finas, baseia-se no uso de análogos
mal; e normalizar os problemas psi- do GnRH de ação prolongada, como
cossociais advindos desta condição. o acetato de leuprolide (3,75mg a
Apesar disso, o sucesso terapêutico cada 28 a 28 dias, via IM ou SC). Es-
depende da idade do diagnóstico e ses medicamentos competem com os
do início do tratamento: nos meninos, receptores de GnRH na hipófise, re-
os melhores prognósticos consistem alizando um feedback negativo para
em tratamentos em menores de 6 a secreção das gonadotrofinas (LH
anos de idade. e FSH), bloqueando o eixo. No geral
PUBERDADE PRECOCE 17

são usados até alcançar uma idade Já o tratamento da PP periférica con-


óssea de 12 a 13 anos. Em alguns siste basicamente no manejo da do-
casos, pode ser necessária a associa- ença de base. Pode ser feito um tra-
ção com o GH, quando a criança tem tamento clínico com o bloqueio da
baixa estatura devido à aceleração do síntese ou da ação dos esteroides se-
crescimento precoce. xuais, através de agentes progestá-
genos, moduladores dos receptores
SE LIGA! Algumas reações adversas de estrógenos (como o tamoxifeno),
dos análogos de GnRH devem ser co- espironolactona (antiandrogênico) ou
nhecidas e orientadas à família e ao pa- inibidores da aromatase.
ciente, como: cefaleia, vômitos, sangra-
mento vaginal, sintomas vasomotores e
abscesso no local de aplicação da medi-
cação. Existe, ainda, uma fraca associa-
ção de análogos de GnRH com obesida-
de e redução mineral óssea.

FLUXOGRAMA – TRATAMENTO DA PUBERDADE PRECOCE

PP
PP CENTRAL
PERIFÉRICA

ANÁLOGOS DO
CIRURGIA
GnRH DE AÇÃO TRATAMENTO DA
(REMOÇÃO DE
PROLONGADA, DOENÇA DE BASE
TUMORES)
ATÉ 12-13 ANOS

ACETATO
BLOQUEIO DA CIRURGIA
DE LEUPROLIDE
SÍNTESE DE (REMOÇÃO DE
3,75MG 28/28 DIAS
ESTEROIDES TUMORES)
(IM OU SC)

AGENTES
PROGESTÁGENOS,
MODULADORES
DOS RECEPTORES
DE ESTRÓGENOS,
ESPIRONOLACTONA,
INIBIDORES DA
AROMATASE
PUBERDADE PRECOCE 18

FLUXOGRAMA GERAL – PUBERDADE PRECOCE

PUBERDADE
PRECOCE

CENTRAL PERIFÉRICA MISTA

PRODUÇÃO ANÔMALA PRODUÇÃO ANÔMALA


PARTICIPAÇÃO DO EIXO HHG PERIFÉRICA SEM PERIFÉRICA COM ATIVAÇÃO
PARTICIPAÇÃO DO EIXO HHG SECUNDÁDIA DO EIXO HHG

MESMAS CAUSAS
IDIOPÁTICA NEUROGÊNICA PRINCIPAIS CAUSAS:
DA PP PERIFÉRICA –
(MENINAS) (MENINOS) SUPRRARENAL E GONADAL
SEM TRATAMENTO

ANÁLOGOS DO GnRH DE
AGENTES PROGESTÁGENOS, ESPIRONOLACTONA,
AÇÃO PROLONGADA (ATÉ
INIBIDORES DA AROMATASE; CIRURGIA
12-13 ANOS); CIRURGIA
PUBERDADE PRECOCE 19

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Endocrinologia na prática pediátrica/ coordenador Durval Damiani. 3ª edição. Manole,
2016 – (Coleção Pediatria. Instituto da Criança HC-FMUSP / editores: Benita G. Soares Sch-
vartsman, Paul Taufi Maluf Jr.)
Nelson Tratado de Pediatria, 18ª edição, 2009.
Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria / (organizadores Dennis Alexan-
der Rabelo Burns et al) – 4ª edição; Barueri, SP: Manole, 2017.
Carvalho et al. Hamartomas hipotalâmicos: correlação clínico-imaginológica numa série
pediátrica. Acta Pediatr Port 2017; 48: 326-32.
www.fleury.com.br/medicos/edicação-medica/manuais/manual-de-provas-funcionais/pa-
ges/apendice-valores-de-referencia-e-fatores-de-conversao.aspx (para Valores de referên-
cia laboratoriais)
PUBERDADE PRECOCE 20

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