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A Companhia do Niassa foi formada por alvará régio de 1890, com poderes para

administrar as actuais províncias de Cabo Delgado e Niassa, desde o rio Rovuma


ao rio Lúrio e do Oceano Índico ao Lago Niassa, numa extensão de mais de 160
mil km2.
Os termos da concessão antecipavam os da Companhia de Moçambique (1891),
com excepção do prazo que era apenas de 35 anos. No entanto, o grupo
português não tinha capacidade financeira para a operação da Companhia e, em
1892-93, um consórcio de capitais franceses e britânicos comprou a concessão,
mudando a sua sede para Londres. Uma vez que o território não tinha ainda sido
ocupado militarmente pela potência colonial, este consórcio tentou obter mais
fundos para a sua operação.
Entre 1897 e 1908, três grupos financeiros controlaram sucessivamente a
Companhia. O primeiro foi o “Ibo Syndicate” que conseguiu fundos suficientes para
organizar a sua administração na vila do Ibo. Em 1897, a Companhia projectou
uma expedição contra o Chefe Mataca do Niassa, mas abandonou-o por prever
uma grande resistência daquele chefe.
O projecto teve êxito dois anos mais tarde, com a Companhia já sob a
administração do “Ibo Investment Trust”, quando o chefe tinha abandonado a sua
sede. Com o apoio dum pequeno exército fornecido pela administração colonial,
formado por 300 “soldados regulares” (leia-se portugueses) e 2800 “sipaios”
(indígenas recrutados noutras regiões de Moçambique), a Companhia assegurou
ainda uma posição militar em Metarica. Em 1900 e 1902,
tomou Messumba e Metangula, nas margens do Lago Niassa. Nessa altura, o
consórcio dissolveu-se alegadamente por ter chegado à conclusão que
o lucro possível não justificava o esforço.
Nessa altura, foram elaborados os primeiros contratos de fornecimento de mão-de-
obra local para a WENELA, recrutadora “oficial” de moçambicanos para
as minas da África do Sul. Este projecto foi levado a cabo pela Companhia que, a
partir de 1908, foi dominada pela “Nyassa Consolidated”, com forte particicipação
de capital mineiro sul-africano.
Em 1913-14, um consórcio bancário alemão comprou a maioria das acções da
Companhia, na mira de uma partilha de Moçambique entre aquele país e a Grã-
Bretanha. Com o início da Primeira Guerra Mundial, o governo britânico confiscou
as acções alemãs e entregou-as a um grupo financeiro inglês.
Durante a guerra, o território da Companhia foi palco de várias operações de
resistência por parte dos chefes locais e invadido pelos alemães (ver Triângulo de
Quionga). Para resistir a essa invasão, foi aberta uma estrada de mais de 300 km,
entre Mocímboa do Rovuma e Porto Amélia (actual Pemba), o que significou a
ocupação efectiva do planalto de Mueda; no entanto, só em 1920 a Companhia
conseguiu assegurar essa ocupação, depois de várias operações militares contra
os macondes, fortemente armados. Como se verá mais tarde, esta tribo foi um dos
primeiros e principais suportes da Luta Armada de Libertação Nacional.
Apesar das estruturas administrativas, na forma de circunscrições e regulados,
asseguradas por agentes do Estado, já terem sido implantadas em grande parte
do território, os administradores da Companhia do Niassa desinteressam-se pelo
seu desenvolvimento e, em 1929, a Companhia extingue-se, passando o território
para a administração directa do governo colonial.
A partir do século XIX, a base da economia ajaua passa a ser o comércio de
escravos. O tráfico de escravos para além de ter garantido a continuidade do
acesso aos produtos importados introduziu
muitos elementos novos no sistema da organização política e social.

Entre os século XVI a século XIX, os Ajaua estabeleceram contactos comerciais


com Quíloa e
com Zanzibar, com Ibo e com Ilha de Moçambique, e, para o interior, com a
margem ocidental do
Lago Niassa, com Zumbo e com Cazembe da Zâmbia.
Nas viagens à costa do Índico, os Ajaua trocavam tabaco, artefactos de ferro,
peles e marfim por
sal, tecido e missangas. Uma parte destas mercadorias era utilizada para adquirir
gado nas terras a
sul do Lago Niassa. Mas, essencialmente, as mercadorias serviam para consolidar
o poder dos
chefes caravaneiros dentro das respectivas linhagens.

O desenvolvimento do comércio de marfim no século XVIII e de escravos no


século XIX
contribuiu bastante para a formação dos Estados Ajaua. Como consequência dos
factores de
formação dos Estados Ajaua, observa-se que, na transição do comércio de marfim
para o tráfico de
escravos verifica-se a formação e dominação de linhagens fortes sobre as mais fracas,
bem como, a
necessidade de caça ao homem leva à formação de aparelhos militares
apetrechados que também
visavam a defesa dos Estados.

3.6.5. Influência da Penetração do Capital Mercantil Estrangeira


A penetração do capital mercantil, principalmente ligado ao comércio do marfim
no s éculo XVIII,
e mais tarde ao de escravos, no século XIX, influenciou profundamente as
formações sociais
Ajaua. Enquanto o passado a caça visava a obtenção de proteínas de origem
animal, com o
comércio do marfim esta actividade passou a constituir um elemento fundamental
no processo de
consolidação do poder político e económico dos chefes, tal como o ouro para as
aristocracias do
império shona.

Os Ajaua se converteram em importantes fornecedores de marfim aos


estabelecimentos comerciais
portugueses da costa, tendo chegado a monopolizar parcialmente esta actividade:
70% do marfim
adquirido pelos portugueses era trazido pelos Ajaua. Dessa actividade tinham
acesso aos bens
importados tais como missangas, tecidos de seda, etc. que na sociedade Ajaua
ascendiam à
categoria de bens de prestígio.

3.6.6. Aparato Ideológico


No plano ideológico, a realização de cerimónias mágico-religiosas e a
distribuição de amuletos, por ocasião da realização de actividades consideradas
perigosas, eram mecanismos que produziam atitudes e comportamentos favoráveis
à manutenção e reprodução das classes dominantes. Para as operações de caça ao
elefante e para os raids e captura de escravos nas formações políticas vizinhas e
mesmo distantes, estas cerimónias eram consideras imprescindíveis para a
obtenção de bons resultados. Nas viagens de condução dos escravos para a costa,
onde se encontravam estabelecidos os compradores, aconteciam situações cuja
explicação só é concebível se se tomar em consideração o medo que causava a
violência das prescrições dos oficiantes dos cultos: em caso de ataque durante a
viagem para a costa, os cativos, conduzidos por um grupo reduzido de ajauas
livres, defendiam-se e nunca tentavam tirar vantagens dessas situações.

Para além das cerimónias mágico-religiosas locais, a crescente islamização das


classes dominantes ajaua, por exemplo do Mataka e Mtalica, reforçou e consolidou
o poder teocrático dos chefes. Para evidenciar o grau considerável de islamização
das classes aristocráticas torna-se importante referir que os chefes dos dois Estados
atrás mencionados eram designados por Xeique, posição elevada na hierarquia
religiosa islâmica.

Na sua condição de “dono do território”, o soberano exercia poderes rituais


relativos ao culto dos antepassados e às práticas mágicas. Antes das caravanas
partirem, todos os homens devia confessar pública e livremente os crimes cometidos
sob pena de graves consequências para o desfecho da
Exercícios
1. Localize no tempo e no espaço a formação destas unidades políticas dispersas.
2. Quais são os Estados que constituem os Estados Ajaua?
3. Como é que viviam os Ajaua antes da penetração mercantil?
4. Quais eram as suas actividades económicas?
5. O poder económico das classes dominantes dos Estados Ajaua não assentava
na
cobrança de tributos. Justifica.
6. Quais são os factores de formação dos Estados Ajaua?
7. Quais as consequências dos factores de formação dos Estados Ajaua?
8. Que formas de conquista e submissão territorial foram adoptadas pelos Ajaua?
9. Como caracteriza o aparato ideológico dos Ajaua?
10. Refere-se ao papel da religião nos Estados Ajaua.
11. Quais foram as causas do declínio dos Estados Ajaua?
expedição.

3.6.7. Decadência

Para a decadência dos Estados Ajaua, contribuíram, entre outros, os seguintes factores:
• As lutas pelo controlo das rotas dos escravos entre os Macuas e os Ajaua;
• As invasões Nguni;
• As campanhas de pacificação levadas a cabo por portugueses (destacando o
papel exercido
pela Companhia do Niassa), Britânicos e Alemães

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