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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região

Ação Trabalhista - Rito Ordinário


0100127-44.2022.5.01.0511

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 18/02/2022


Valor da causa: R$ 88.119,90

Partes:
RECLAMANTE: JOSE SANCHES MATELA
ADVOGADO: DEISE MARA RODRIGUES OLIVEIRA
RECLAMADO: LOUBACK FERNANDES INDUSTRIA E COMERCIO LTDA - ME
ADVOGADO: MARLON LACERDA ORNELLAS
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO
1ª Vara do Trabalho de Nova Friburgo
ATOrd 0100127-44.2022.5.01.0511
RECLAMANTE: JOSE SANCHES MATELA
RECLAMADO: LOUBACK FERNANDES INDUSTRIA E COMERCIO LTDA - ME

I. RELATÓRIO:

JOSE SANCHES MATELA ajuíza reclamação trabalhista em face de


LOUBACK FERNANDES INDUSTRIA E COMERCIO LTDA – ME, na data de 18/02/2022,
pelas razões indicadas na petição de emenda substitutiva à inicial de id a4c6bf5,
protocolada com documentos.

Frustrada a primeira proposta conciliatória.

A reclamada apresentou contestação escrita, com documentos,


bem como reconvenção.

Manifestação da parte autora acerca da defesa e reconvenção.

Colhidos depoimentos pessoais recíprocos e ouvidas três


testemunhas, sendo suas do autor e uma da ré.

Sem outras provas, foi encerrada a instrução processual.

Razões finais escritas pelas partes.

Rejeitada a última proposta conciliatória.

É o relatório.

II. FUNDAMENTAÇÃO:

DA JORNADA DE TRABALHO

O reclamante foi admitido em 01/09/2017, sempre exercendo as


funções de motorista, recebendo como último salário a importância de R$ 1.440,65.

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Laborava de segunda a sexta-feira, das 08:00 às 18:00 horas,


sendo que em dois dias da semana laborava, em média, de 08:00 às 20:00/21:00 horas,
sempre com intervalo de 1 hora para refeição e descanso.

Postula o pagamento de horas extraordinárias e reflexos.

A reclamada contesta o pedido aduzindo que o autor trabalhava


externamente, não estava sujeito ao controle de jornada, inserido na exceção do artigo
62, I, da CLT, bem como possui menos de 20 empregados. Impugna a jornada indicada.

O § 2º do art. 74 da CLT prevê a obrigatoriedade de que, nos


estabelecimentos com mais de 20 trabalhadores, o empregador anote os horários de
início e término do labor. A previsão legal permite o controle e a fiscalização do
cumprimento das normas que estabelecem limites à jornada de trabalho, as quais
protegem, em sua essência, a saúde e a segurança dos empregados durante o pacto
laboral.

No caso dos autos, porém, restou comprovado que o


estabelecimento no qual o autor laborava possuía menos de 20 empregados
contratados. Nesse sentido, por não haver qualquer obrigação de controle de jornada
pela ré, caberia ao reclamante o ônus de comprovar a jornada alegada.

A seu turno, as hipóteses previstas no art. 62 da CLT, por


excepcionais em relação à regra geral constitucional de limitação do controle de
jornada, devem ter sua configuração demonstrada pelo empregador. Destaque-se que
o labor externo, com impossibilidade de controle de jornada, é fato impeditivo do
direito do reclamante, nos termos dos artigos 373 do CPC e 818 da CLT.

Analiso.

As testemunhas indicadas pelo autor confirmaram que o autor


trabalhava externamente, mas ia na empresa todos os dias, razão pela qual se infere
que a reclamada controlava a jornada do obreiro.

De mesmo modo, as testemunhas confirmaram a existência de


um controle informal da jornada de trabalho e ratificaram a jornada do reclamante
indicada na inicial.

A 1ª testemunha afirmou que acredita que a média de trabalho


do reclamante era das 8:00 às 20:00 horas, e que via o reclamante retornando de
viagem em 2 dias dos três dias em que o depoente trabalhava na empresa. Já a 2ª
testemunha afirmou que “trabalhava de segunda a sexta, de 8 às 18 horas, com uma
hora de almoço; que o reclamante entrava no mesmo horário, mas quando viajava saía
mais tarde; que o reclamante ia todos os dias e era quem levava o café da manhã; que

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no final do ano eram mais vezes, mas normalmente o reclamante viajava 2 ou 3 vezes
na semana”, corroborando a narrativa da inicial.

Além disso, as testemunhas do reclamante comprovaram o


labor durante o período de suspensão do contrato de trabalho na pandemia.

Por outro lado, a testemunha indicada pelo reclamado, sobre o


tema, declarou que “trabalhava de segunda a sexta, assim como o reclamante; que
chegava às 8 horas e saía às 18 horas; que o reclamante chegava entre 8 e 10 horas,
não estando mais na empresa quando ele retornava; que o reclamante tinha a chave
do local;”, mas não soube dizer quantas vezes por semana ele viajava e disse que “na
pandemia a empresa ficou 6-7 meses parada; que a depoente não trabalhou nesse
período; que não sabe dizer se outros funcionários trabalharam;”.

Assim, tenho que os depoimentos das testemunhas do obreiro


foram mais convincentes e assertivos, ao passo que a testemunha da ré sabia menos
sobre os fatos.

Dessa forma, julgo procedente o pedido, para condenar a


reclamada ao pagamento de horas extraordinárias excedentes à 8ª diária, respeitado
ainda o limite de 44 horas semanais e reflexos, com adicional de 50%.

A fim de se determinar os valores devidos, em regular execução


de sentença, fixo a jornada de trabalho de segunda a sexta-feira, das 08:00 às 18:00
horas (em 3 dias da semana) e das 08:00 às 20:00 horas (em dois dias da semana), com
regular intervalo intrajornada. Deverão ser observados os parâmetros a seguir
elencados:

- consideração como extraordinárias, das horas laboradas além


da 8ª diária, bem como daquelas que ultrapassem as 44 horas ordinárias semanais;

- observância, na apuração em comento, dos dias efetivamente


laborados (desconsideração dos dias em que não houve prestação de serviços);

- desconsideração, para efeitos da apuração da efetiva jornada,


do lapso destinado ao usufruto do intervalo intrajornada (parágrafo 2º. do artigo 71 da
CLT);

- cálculo do salário-hora no que pertine à remuneração fixa, mês


a mês, já com as devidas integrações cabíveis, observando a evolução salarial do
empregado e com a utilização do divisor de 220;

- acréscimo de remuneração sobre o salário-hora para o


trabalho em sobrejornada (adicional de horas extras), à falta de instrumentos

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normativos, com o emprego do adicional de 50%, conforme artigo 7º, XVI da


Constituição Federal;

- apuração dos reflexos nos décimos terceiros salários, com a


utilização da média mensal das horas prestadas em cada ano da prestação de serviços,
proporcionalmente aos meses trabalhados;

- apuração dos reflexos nas férias acrescidas do terço


constitucional, com a utilização da média mensal das horas prestadas em cada período
aquisitivo, ou proporcionalmente aos meses trabalhados em caso de período aquisitivo
incompleto;

- apuração dos reflexos nos descansos semanais remunerados


(artigo 7º, alínea ‘a’ da Lei 605/49), apurados mês a mês, com a utilização da média
diária das horas prestadas nos dias úteis laborados;

- reflexos em FGTS;

- apuração dos valores devidos, a fim de que não haja


enriquecimento sem causa, subtraindo-se do montante bruto calculado, a importância
já adimplida pela parte reclamada por iguais títulos, constantes nos recibos de
pagamento, sendo que eventual pagamento a maior em determinado mês será
deduzido no mês superveniente, a fim de sepultar qualquer discussão a respeito do
exato período de apuração das parcelas (OJ 415 da SDI-1).

DAS FÉRIAS VENCIDAS

Postula o reclamante o pagamento de férias durante todo o


contrato de trabalho.

O recibo juntado pelo reclamante de id 58064a3 comprova o


pagamento de férias do período aquisitivo 2017/2018, inexistindo qualquer prova
capaz de desconstitui-lo. Improcede o pedido da inicial.

Improcede ainda o pedido de restituição de 17 dias das férias


2019/2020, porque não comprovado o alegado desconto indevido.

Por outro lado, a reclamada não demonstra a quitação das


férias relativas aos demais períodos aquisitivos. Assim, procedem os pedidos de
pagamento de férias 2018/2019 (em dobro) e 2020/2021 (integral), ambas acrescidas
de 1/3.

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DA MODALIDADE DE DISPENSA

Alega o reclamante que a reclamada não efetuou o pagamento


das verbas contratuais, tais como férias e horas extras e não efetuou os recolhimentos
de INSS e FGTS com regularidade.

Assim, diante das irregularidades denunciadas, postula o


reconhecimento da rescisão indireta do contrato de trabalho, conforme artigo 483,
alínea “d”, da CLT, e postula o pagamento das verbas rescisórias pertinentes. Informa
que o último dia trabalhado foi 27/01/2022 e que em 21/02/2021 enviou comunicado
de rescisão indireta para reclamada, conforme id 220048d.

Na defesa, a empregadora afirma que o empregado faltou


imotivadamente ao serviço, desde dezembro/2021, sendo caracterizado o abandono
de emprego, conforme alínea “i”, do artigo 482, da CLT. Assevera ainda que o obreiro
praticou ato de improbidade, transferindo uma moto de propriedade da sócia da ré
para o seu nome, sem consentimento, abusando da confiança do empregador,
caracterizada a alínea “a” do mesmo dispositivo legal.

Da rescisão indireta do contrato de trabalho

Para que seja declarada a rescisão indireta do contrato de


trabalho é imprescindível averiguar se, de fato, o empregador praticou a falta alegada;
se ela foi grave o suficiente para tornar insuportável a manutenção do pacto laboral e
se houve imediatidade na reação do empregado.

Somente se admite tal figura jurídica na ocorrência de situações


que inviabilizem, por completo, a continuidade do pacto laboral, o que não se
vislumbra no caso em tela.

O áudio apresentado pela reclamada comprova que foi do


empregado a iniciativa de romper o pacto laboral, por motivos alheios ao narrado na
inicial e sem imediatidade ao fato, uma vez que afirma que foi difamado em outubro e
continuou a trabalhar na ré até o final do ano.

De toda sorte, a reclamada apresenta o certificado de


regularidade do FGTS e o reclamante não comprova o efetivo envio do documento de
id 220048d.

Do abandono de emprego

Para que reste caracterizada a justa causa, segundo o critério


taxativo adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro, é necessário o enquadramento

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da conduta do empregado em uma das hipóteses previstas de forma explícita na


legislação trabalhista. Nesse sentido, as causas gerais para rompimento do pacto
laboral por justo motivo se encontram no art. 482 da CLT.

Ademais, cumpre destacar que, nos termos dos artigos 818 da


CLT e 373 do CPC, e tendo em vista o princípio da continuidade da relação de emprego,
é ônus do empregador a prova dos fatos ensejadores da dispensa por justa causa. Esse
é, inclusive, o entendimento pacificado no âmbito do C. TST, por meio da Súmula 212.

No caso dos autos, verifico que a reclamada não comprovou os


motivos ensejadores da dispensa por abandono, tendo em vista que o autor postulou o
reconhecimento da rescisão indireta do contrato de trabalho em razão das
irregularidades narradas na inicial, inexistindo em tese o ânimo de abandono do posto
de trabalho.

Da justa causa por improbidade

Por outro lado, a transcrição dos áudios apresentados pelo réu


comprova que o autor, de fato, “pegou” a moto, sem consentimento, ao argumento de
que seria uma compensação por danos morais. O autor confessa em depoimento
pessoal que a voz do áudio é sua.

Ainda que o autor tenha sofrido eventual exposição


constrangedora, com ofensa a sua intimidade, o que será objeto de análise em tópico
próprio desta decisão, não há justificativa para, em total abuso da confiança do
empregador, realizar a transferência de uma moto de posse da ré para o seu nome.

A conduta do reclamante se mostra grave, fazendo com que se


perca a confiança no empregado, tornando inviável a manutenção do contrato de
trabalho.

Destaque-se que não há que se falar, no caso, em ausência de


imediatidade, tendo em vista que a ciência do reclamado acerca da transferência do
veículo se deu em data muito posterior ao fato.

Note-se, ademais, que o autor reconhece no áudio que agiu sem


consentimento do empregador e as testemunhas tiveram conhecimento da situação
no ambiente de trabalho, mas não souberam informar os detalhes.

Assim, reconheço a justa causa praticada pelo obreiro, sendo


procedente a reconvenção.

Considero que o contrato de trabalho foi rescindido em 23/12


/2021, data em que a testemunha do autor afirmou que a empresa entrou em recesso,

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o que se coaduna com o áudio do autor, no qual afirma que trabalhou até o final do
ano.

Diante da justa causa reconhecida, improcedem os pedidos de


pagamento de: aviso prévio indenizado, férias proporcionais acrescidas de 1/3, 13º
salário proporcional, multa indenizatória de 40% do FGTS, entrega de guias de FGTS e
seguro-desemprego e indenização substitutiva do benefício.

A reclamada afirma que realizou acordo de parcelamento com a


CAIXA e apresenta certificado de regularidade do FGTS, conforme id 0f84056. Contudo,
restou comprovado que o obreiro laborou durante o período do acordo de suspensão
do contrato de trabalho, razão pela qual é devido o recolhimento fundiário.

Assim, procede o pedido de recolhimento do FGTS em aberto,


durante todo o pacto laboral, que deverá ser depositado na conta vinculada do obreiro.

Improcede a aplicação da multa do artigo 477 da CLT, uma vez


que não há verba estritamente rescisória devida. Aplica-se a súmula 54 deste Regional.

Improcede o pedido de pagamento do acréscimo previsto no


art. 467 da CLT, aplicável somente sobre as verbas decorrentes da extinção contratual
que restem incontroversas, o que não ocorre nos autos.

Improcede o pedido de retificação da função desempenhada


pelo autor em sua CTPS, uma vez que não demonstrado efetivamente a alteração de
função.

Condeno a reclamada em obrigação de fazer consistente em


proceder a baixa na CTPS do autor com a data de 23/12/2021. Em caso de inércia da
parte, fica autorizada a secretaria da Vara a realizar a anotação.

DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

A exposição constrangedora da intimidade do empregado no


ambiente de trabalho atinge a dignidade da pessoa humana do trabalhador. É
obrigação empresária proporcionar um ambiente laboral sadio, livre de qualquer
conduta abusiva praticada por seus representantes ou prepostos e, assim não agindo,
evidencia-se a presença dos elementos caracterizadores do ato ilícito.

No caso em tela, as testemunhas do reclamante corroboraram


as alegações do obreiro, uma vez que declararam que presenciaram o sócio fazendo
comentários desrespeitosos sobre a vida conjugal do autor.

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A seu turno, a testemunha da ré declarou que nunca viu


ninguém da empresa falando mal do reclamante, contudo, isso não significa que não
ocorreu, até porque, a própria depoente presenciou uma briga entre o autor e o sócio,
em relação a esse boato.

Nessa linha de raciocínio, patente a presença dos elementos


ensejadores da responsabilidade civil, a saber: (a) o dano moral in re ipsa,
caracterizado pela ofensa a direitos da personalidade da parte autora; (b) a conduta
causadora do dano, representada pelo descumprimento da legislação trabalhista; (c) o
nexo de causalidade, diante da relação de causa e efeito entre a conduta e o dano; e (d)
a culpa da reclamada.

Destarte, julgo procedente o pedido de pagamento de


indenização compensatória pelos danos morais sofridos pela parte autora. Em relação
ao quantum compensatório, considerando os critérios estabelecidos pelo art. 223-G da
CLT, fixo-o em R$ 3.000,00 (três mil reais).

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

O reclamante preenche o requisito objetivo do art. 790, 3º da


CLT razão pela qual concedo o benefício da gratuidade de justiça.

DOS HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS

Condeno a reclamada ao pagamento de honorários advocatícios


sucumbenciais em 10% sobre o valor que resultar da liquidação de sentença,
conforme, o art. 791-A, da CLT.

Diante da sucumbência recíproca, condeno o reclamante ao


pagamento de honorários advocatícios de 10% para os pedidos julgados
improcedentes, a título de honorários sucumbenciais em favor do advogado do réu
(CLT, art. 791-A, §3º). Contudo, o débito fica sob condição suspensiva de exigibilidade e
somente poderá ser executado se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado
da decisão desta decisão, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de
insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se,
passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário (CLT, art. 791-A, §4º, da CLT),
conforme julgado pelo STF, nos autos da ADI 5766/DF, cujo acórdão foi publicado em 03
/05/2022.

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DA EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOS

Indefiro o requerimento de expedição de ofícios, porquanto a


própria parte poderá encaminhar eventuais denúncias diretamente aos órgãos
fiscalizadores, sempre que constatar irregularidades.

CRITÉRIOS DE CÁLCULO

Das Deduções:

Na apuração do “quantum debeatur”, concernente às parcelas


deferidas nesta fundamentação, deverão ser deduzidas as quantias efetivamente
pagas por iguais títulos, durante todo o período de apuração, com o objetivo de tornar
defeso o eventual enriquecimento sem causa da parte reclamante, razão pela qual, de
igual sorte, eventual pagamento a maior em determinado mês será deduzido no mês
superveniente. Para esse fim, em regular execução de sentença, serão considerados
tão somente os valores constantes nos recibos existentes nos autos, haja vista a
ocorrência da preclusão da faculdade de apresentação de novos documentos.

Da Correção Monetária e dos Juros de Mora dos Créditos


Trabalhistas:

O valor da condenação, parcela a parcela, deverá ser corrigido


monetariamente desde a data do inadimplemento de cada verba até a data do efetivo
pagamento dos valores devidos, independente da data em que a reclamada
eventualmente venha a efetuar o depósito da condenação.

Sendo assim, para efeito da correção monetária, regra geral, fixa-


se o termo “a quo” na data do vencimento de cada obrigação, ou seja, a partir do
momento em que cada prestação se torna exigível, mesmo porque só incorre em mora
o devedor ao não efetuar o pagamento no tempo devido (artigo 397 do Código Civil e
Súmula 381 do C. TST).

Excetuam-se da regra geral as eventuais indenizações deferidas


por danos morais, eis que não dizem respeito à obrigação contratual stricto sensu.
Assim, como a respectiva apuração dos danos indica valores já fixados em expressão
monetária atual, devem ser corrigidas a partir da data da prolação desta decisão.

Quanto aos índices aplicáveis, a decisão do STF nas ADCs 58 e 59


prevê, quanto aos créditos trabalhistas, a incidência do IPCA-E na fase pré-judicial e, a
partir do ajuizamento da ação, a incidência da taxa SELIC (art. 406 do Código Civil),
excluindo-se o cabimento dos juros moratórios previstos na Lei 8.177/91.

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Determino, portanto, a incidência do IPCA-E a partir do primeiro


dia útil do mês subsequente à prestação de serviços (TST, Súmula 381), até a data do
ajuizamento. A partir da data de ajuizamento da reclamação trabalhista, incidirá
apenas a taxa SELIC como índice conglobante de correção monetária e juros de mora.

DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS INCIDENTES

Nos termos do artigo 43 da Lei 8.212/91, deverá a parte


reclamada recolher as contribuições previdenciárias devidas à Seguridade Social,
englobando as contribuições devidas diretamente pelo empregador (artigo 22, I e II da
Lei de Custeio e as referentes aos terceiros) e as contribuições a cargo do empregado
(artigo 20 da referida Lei), sendo que o montante destas será recolhido às expensas do
réu, mediante desconto sobre o valor da condenação conforme obriga o artigo 30, I, ‘a’
da Lei 8.212/91.

A apuração do crédito previdenciário será levada a cabo através


do regime de competência (cálculo mês a mês dos montantes devidos), observadas as
alíquotas e, exclusivamente para as contribuições a cargo do empregado, o limite
máximo do salário de contribuição, ambos vigentes em cada mês de apuração, bem
como a exclusão da base de cálculo do salário-contribuição das parcelas elencadas no
parágrafo 9º do artigo 28 da Lei de Custeio.

A atualização do crédito previdenciário, consoante regra contida


no parágrafo 4o. do artigo 879 da CLT, observará a legislação previdenciária, ou seja,
atualização a partir do dia vinte do mês seguinte ao da competência (alínea ‘b’ do inciso
I do artigo 30 da Lei 8.212/91), sujeitas aos juros equivalentes à taxa referencial SELIC e
pertinentes multas de mora, ex vi dos artigos 30 e 35 da Lei de Custeio. Assim, para a
obtenção do valor líquido do crédito trabalhista, o desconto do valor da contribuição
previdenciária a cargo do empregado será também efetuado mês a mês, antes das
atualizações dos referidos créditos trabalhistas.

Após o trânsito em julgado e respectiva liquidação do crédito


previdenciário, caso não haja o recolhimento voluntário das contribuições pertinentes,
seguir-se-á a execução direta da quantia equivalente, em conformidade com o inciso
VIII do artigo 114 da Constituição Federal.

Findos os recolhimentos, expeça-se ofício ao INSS, a fim de que


este retifique e atualize os dados constantes do Cadastro Nacional de Informações
Sociais - CNIS, com vinculação dos valores recolhidos à conta da reclamante, de modo
que estes possam repercutir nos benefícios previdenciários porventura devidos à parte
autora.

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DO IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE

O montante da condenação, objeto de pagamento em pecúnia,


deverá sofrer a retenção a título de imposto de renda na fonte com observância do
regime de caixa, ou seja, retenção na fonte no momento em que, por qualquer forma,
o rendimento se torne disponível para o beneficiário e por ocasião de cada pagamento
(parágrafo 1o. do artigo 7o. da Lei 7.713/88 e artigo 46 da Lei 8.541/92).

Para tanto, a base de cálculo do imposto de renda retido na


fonte será determinada obedecendo-se os seguintes parâmetros: exclusão das
parcelas elencadas no artigo 39 do Decreto no. 3.000/99; dedução da contribuição
previdenciária a cargo do empregado e demais abatimentos previstos no artigo 4º da
Lei 9.250/95; bem como exclusão dos juros de mora incidentes sobre as parcelas
objeto da presente condenação (independente da natureza jurídica dessas verbas),
ante o cunho indenizatório conferido pelo artigo 404 do Código Civil (OJ 400 da SDI-1
do C. TST).

Os créditos correspondentes aos anos-calendários anteriores ao


ano do recebimento devem sofrer tributação de forma exclusiva na fonte e em
separado dos demais rendimentos eventualmente auferidos no mês, na forma da
regra consignada no artigo 12-A da Lei 7.713/88, com a aplicação da tabela progressiva
resultante das regras estabelecidas na Instrução Normativa RFB 1.127/2011. Já os
eventuais créditos correspondentes ao ano-calendário do recebimento, ou mesmo os
anteriores que tenham sido objeto de opção irretratável do contribuinte para posterior
ajuste na declaração anual, devem sofrer tributação do imposto de renda na fonte
relativo a férias (nestas incluídos os abonos previstos no artigo 7º, inciso XVII, da
Constituição e no artigo 143 da Consolidação das Leis do Trabalho) e décimos terceiros
salários, efetuados individualmente e separadamente dos demais rendimentos pagos
ao beneficiário no mês, sendo que cada desconto será calculado com base na aplicação
de forma não cumulativa da tabela progressiva (respectivamente artigos 620 e 638, I do
Decreto no. 3.000/99).

O recolhimento do imposto de renda retido na fonte será


efetuado até o último dia útil do segundo decêndio do mês subsequente ao mês da
disponibilização do pagamento (artigo 70, inciso I, alínea 'd' da Lei 11.196/2005). Por
derradeiro, deverão ser comprovados nos autos os recolhimentos do imposto de renda
retido na fonte, no prazo de 10 (dez) dias após o respectivo recolhimento, sob pena de
expedição de ofício à Secretaria da Receita Federal para a tomada das providências
cabíveis.

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III. DISPOSITIVO:

ISSO POSTO, julgo PROCEDENTE O PEDIDO da reconvenção e


PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO da reclamação trabalhista , condenando a
reclamada ao pagamento dos seguintes títulos:

(a) horas extraordinárias e reflexos;

(b) férias 2018/2019 (em dobro) e 2020/2021 (integral), ambas


acrescidas de 1/3;

(c) FGTS não depositado, cujo valor deverá ser recolhido na


conta vinculada do autor;

(d) indenização por danos morais ora arbitrado em R$ 3.000,00.

Condeno a reclamada em obrigação de fazer consistente em


proceder a baixa na CTPS do autor com a data de 23/12/2021. Em caso de inércia da
parte, fica autorizada a secretaria da Vara a realizar a anotação.

Tudo conforme critérios indicados na fundamentação, que


integra este dispositivo para todos os fins legais.

Defere-se à parte autora o benefício da gratuidade de justiça.

Honorários sucumbenciais, critérios de cálculo, inclusive quanto


às contribuições previdenciárias e ao imposto de renda, na forma da fundamentação.

Custas da reclamação trabalhista de R$ 1.492,60, pela


reclamada, calculadas sobre R$ 59.703,84, valor provisoriamente arbitrado à
condenação, na forma da lei, conforme planilha de cálculo elaborada pela contadoria.

Custas da reconvenção no importe de R$ 100,00, pelo


reconvindo, valor provisoriamente arbitrado à condenação, das quais fica dispensado.

Intimem-se as partes.

NOVA FRIBURGO/RJ, 19 de outubro de 2023.

JOANA DE MATTOS COLARES


Juíza do Trabalho Substituta
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https://pje.trt1.jus.br/pjekz/validacao/23101715013910100000186793331?instancia=1
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