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Núcleo de Educação a Distância

PEDAGOGIA
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Núcleo de Educação a Distância

Créditos e Copyright
BREJO, Janayna Alves

O Lúdico e a Brincadeira na Educação Infantil e Prática.


Janayna Alves Brejo. Núcleo de Educação a Distância da
UNIMES. Santos, 2008, 156p. (Material didático. Curso de
Licenciatura em Pedagogia).

Modo de acesso: www.unimes.br

1. Pedagogia 2. Educação Infantil 3.O Lúdico e a


Brincadeira na Educação Infantil e Prática

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qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos.
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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

PEDAGOGIA
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PLANO DE ENSINO

CURSO: Licenciatura em Pedagogia

COMPONENTE CURRICULAR: O Lúdico e a Brincadeira na Educação Infantil e


Prática

SEMESTRE: 4º

CARGA HORÁRIA TOTAL: 120

EMENTA

O Lúdico e a Educação: abordagem teórica e prática. Jogo, desenvolvimento e


Aprendizagem Infantil. Criando um espaço de brincar: o jogo, o brinquedo e a
brincadeira - significado, características, classificação. Panorama teórico sobre o
Brincar. A atividade lúdica e as implicações pedagógicas no cotidiano das
instituições de Educação e Ensino Fundamental.

OBJETIVO GERAL

Compreender a importância do jogo no desenvolvimento e na aprendizagem infantil


sob o viés teórico e o prático.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Unidade I: O Lúdico e a Educação: abordagem teórica e prática

Proporcionar esclarecimentos e orientações sobre a importância de trabalhar o


lúdico na Educação Infantil, a partir de teorias e práticas que contribuam para o
desenvolvimento integral da criança.

Unidade II: Jogo, desenvolvimento e aprendizagem infantil.

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Compreender as relações existentes entre o jogo, o desenvolvimento e a


aprendizagem infantil, verificando as estruturas e enfoques que norteiam o jogo.
Identificar os estágios de desenvolvimento cognitivo e sua influência na
aprendizagem das crianças.

Unidade III: Panorama teórico sobre o brincar

Desenvolver de maneira coerente e responsável o uso do brincar na prática


pedagógica, observando-o como um importante instrumento de aprendizagem.

Unidade IV: Criando um espaço de Brincar: O jogo, o brinquedo e a brincadeira


– significados, características, classificação.

Conhecer, compreender e refletir acerca dos diversos significados, características e


formas de classificação dos jogos, brinquedos e brincadeiras infantis a partir de
conhecimentos teóricos e práticos. Estabelecer relações entre: espaço e tempo,
criança e grupo, família e escola.

UNIDADE V: A atividade lúdica e as implicações pedagógicas no cotidiano das


instituições de Educação Infantil

Analisar o papel e as implicações pedagógicas da atividade lúdica nas instituições


de educação infantil. Perceber as contribuições do lúdico para o desenvolvimento da
criança pequena, bem como a função da Educação Infantil.

UNIDADE VI: O jogo e a brincadeira como processos de crescimento, interação


social e inclusão

Mostrar de que maneira os jogos e as brincadeiras podem contribuir para o processo


de crescimento infantil, bem como para a interação social e inclusão das crianças.
Reconhecer os jogos cooperativos como um importante instrumento pedagógico.

Bibliografia Básica

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KAMII, Constance. Jogos em grupo na educação infantil: implicações da teoria


de Piaget. Ed. Artmed, 2009.
LUCENA, Regina Ferreira de. Jogos e brincadeiras na educação infantil. Ed.
Papirus, 2007.
VERONESE, Maria Adriana Veríssimo. Só brincar?: o papel do brincar na
educação infantil. Ed. Artmed, 1998.

Bibliografia Complementar:

ALMEIDA, Marcos Teodorico Pinheiro de. Jogos cooperativos nos diferentes


contextos. Ed. Fontoura, 2011.
CÓRIA-SABINI, MARIA APARECIDA . Jogos e brincadeiras na educação
infantil . Ed. Papirus, 2007.
CUNHA, Nylse Helena Silva. Brinquedo, linguagem e alfabetização. Clickbooks,
2004
________. Brinquedo, desafio e descoberta. Clickbooks, 2005.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. Ed.


Cortez, 2009.

METODOLOGIA

As aulas serão desenvolvidas por meio de recursos como: videoaulas, fóruns,


atividades individuais, atividades em grupo. O desenvolvimento do conteúdo
programático se dará por leitura de textos, indicação e exploração de sites,
atividades individuais, colaborativas e reflexivas entre os alunos e os professores.

AVALIAÇÃO

A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e


apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como
forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte
teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos

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específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações à distância e Presencial, de


acordo com a Portaria da Reitoria UNIMES 04/2014.

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Sumário

Aula 01: O lúdico e a criança de zero a cinco anos...............................................................................10


Aula 02_Movimento na primeira infância: o lúdico e o corpo.............................................................13
Aula 03: O lugar do lúdico nas linhas pedagógicas...............................................................................16
Aula 04: Cuidar e educar: funções indissociáveis.................................................................................18
Aula 05: Trabalhando o lúdico com crianças de zero a 3 anos.............................................................20
Aula 06: Trabalhando o lúdico com crianças de 4 e 5 anos..................................................................24
Aula 07: O lúdico no espaço da sala de aula.........................................................................................26
Aula 08: O lúdico no universo infantil..................................................................................................28
Aula 09: A essência do jogo..................................................................................................................31
Aula 10: O jogo infantil: diversas considerações..................................................................................33
Resumo Unidade I................................................................................................................................35
Aula 11: Os jogos tradicionais..............................................................................................................39
Aula 12: Jogo: entre a tradição e a transformação...............................................................................42
Aula 13: O jogo e o desenvolvimento infantil.......................................................................................44
Aula 14: O jogo e a aprendizagem infantil............................................................................................47
Aula 15: A criança, o jogo e o outro no universo das interações sociais..............................................49
Aula 16: O jogo e o papel do educador................................................................................................51
Resumo - Unidade II.............................................................................................................................54
Aula 17: O que é, o que é brincar?.......................................................................................................57
Aula 18: O papel do brincar..................................................................................................................59
Aula 19: O brincar e o faz-de-conta......................................................................................................61
Aula 20_Analisando as situações do brincar........................................................................................63
Aula 21_O brincar e a aprendizagem...................................................................................................65
Aula 22_O brincar na perspectiva da “recreação”................................................................................67
Aula 23_Brincar e aprender com parlendas.........................................................................................69
Aula 24_Brincar e aprender com cantigas............................................................................................71
Aula 25_O jogo, o brinquedo e a brincadeira: seus vários significados................................................73
Aula 26_Caracterizando o jogo, o brinquedo e a brincadeira..............................................................75
Resumo - Unidade III............................................................................................................................77

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Aula 27_Classificação: jogos e brincadeiras?........................................................................................80


Aula 28_Espaço e tempo para brincar..................................................................................................82
Aula 29_Em foco: a atividade em grupo...............................................................................................84
Aula 30_Brincando em grupos.............................................................................................................86
Aula 31_Educador também brinca.......................................................................................................88
Aula 32_Brincando com a família.........................................................................................................90
Resumo - Unidade IV............................................................................................................................92
Aula 33_Processos de interação...........................................................................................................95
Aula 34_O papel do lúdico no desenvolvimento da linguagem............................................................98
Aula 35_O papel do lúdico no desenvolvimento afetivo....................................................................100
Aula 36_O papel do lúdico no desenvolvimento físico.......................................................................102
Aula 37_O papel do lúdico no desenvolvimento moral......................................................................104
Aula 38_Atividade lúdica - condições e implicações...........................................................................107
Aula 39_Projetos - um caminho ao lúdico..........................................................................................109
Aula 40_Ludicidade e Educação Infantil.............................................................................................114
Resumo - Unidade V...........................................................................................................................116
Aula 41_O jogo e a brincadeira como processos de crescimento......................................................118
Aula 42_Interação social e atitude cooperativa.................................................................................121
Aula 43_Jogos cooperativos: solução de conflitos?............................................................................123
Aula 44_Cooperar: princípios sócio-educativos.................................................................................125
Aula 45_Brincando de convivência.....................................................................................................127
Aula 46_Práticas inclusivas.................................................................................................................129
Aula 47_Crescer: competindo ou cooperando?.................................................................................131
Aula 48_Concluindo: o jogo e a brincadeira - crescimento, interação social e inclusão.....................133
Resumo - Unidade VI..........................................................................................................................135

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Aula 01: O lúdico e a criança de zero a cinco anos

Iniciando a nossa primeira aula, que tal nos reportarmos a algumas lembranças de
infância? Do que você mais gostava de brincar? Que brincadeiras e brinquedos
estão mais vivos em sua memória? Tais brincadeiras aconteciam em casa, na rua
ou na escola?

Voltar no tempo pode ser um bom exercício para que comecemos a entender a
importância do lúdico no ambiente escolar, sobretudo quando pensamos em
crianças pequenas, de tenra idade (de zero a cinco anos), que estão na Educação
Infantil.

Já que estamos falando sobre a criança, faz-se necessário conversarmos a respeito


da concepção de criança presente atualmente em nossa sociedade. É importante,
porém, ressaltar que a própria visão de infância foi paulatinamente construída, uma
vez que a criança, atualmente, já não é mais vista como um adulto em miniatura,
como ocorreu no passado, mas como um ser humano em fase de crescimento,
dotado de inteligência, capacidades, limites e que, principalmente, possui suas
especificidades particulares. Assim, a criança é um ser singular, social e histórico,
que sofre influências do meio social em que vive, mas que também o influencia.

A legislação vigente propõe o desenvolvimento integral da criança como uma meta a


ser alcançada pela educação, e, se priorizamos realmente uma educação que seja
capaz de despertar as potencialidades do educando, não podemos deixar de lado o
lúdico, o qual precisa estar presente nas práticas pedagógicas dentro e fora da sala
de aula.

Para que isso ocorra, primeiramente é preciso que tenhamos claro o conceito do
termo lúdico.

Conforme o Novo Dicionário Eletrônico Aurélio (século XXI), lúdico é “referente a,


ou que tem o caráter de jogos, brinquedos e divertimentos”.

Vale ainda destacarmos uma outra definição do termo que se refere à “qualidade
daquilo que estimula por meio da fantasia, do divertimento ou da brincadeira”

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(Fontes para a educação infantil: Brasília: UNESCO; São Paulo: Cortez; São Paulo:
Fundação Orsa, 2003).

Sabemos que este conceito é muito utilizado dentro da Educação Infantil, uma vez
que vários educadores como Friedrich Fröebel2 , Jean Piaget3 , Maria Montessori4,
entre outros, enfatizaram a importância do lúdico na educação. Fato que,
atualmente, parece uma conformidade entre os teóricos educacionais, pois o lúdico
se configura como um fator determinante e necessário para a aprendizagem da
criança.

A utilização de meios lúdicos torna-se um grande estímulo para o desenvolvimento


integral da criança na medida em que o processo de construção de conhecimento
ocorre de uma maneira mais atraente e gratificante, pois a criança brinca,
movimenta-se e tem a oportunidade de criar e recriar a partir de suas próprias
experiências e vivências, interagindo com o ambiente e com o outro. Então,
observamos a incrível abrangência dos comportamentos requisitados durante as
brincadeiras entre as crianças pequenas, uma vez que estas são capazes de reunir
atividades físicas e mentais que corroboram para o seu pleno desenvolvimento.

Para concluir nossa primeira aula, gostaria de que refletíssemos um pouco...

Em geral, como você observa as práticas pedagógicas?

• Destinam maior parte do tempo às atividades intelectuais ligadas à aquisição de


números e letras sem relação com a ludicidade?

• Privilegiam também os jogos e as brincadeiras?

• As brincadeiras se restringem ao recreio?

• Onde o lúdico realmente aparece? Somente no discurso?

Respostas coerentes para estas questões você, certamente, descobrirá ao longo


dessa disciplina... Então, até a próxima aula!

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Para saber mais, visite o site:

http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2003/jbdd/tetxt1.htm acessado em
30/11/2207.

1
A LEI Nº 11.274, DE 6 DE FEVEREIRO DE 2006 que dispõe sobre a duração de 9 (nove)
anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de
idade, altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Sendo assim, a
Educação Infantil adotará a seguinte nomenclatura, conforme a RESOLUÇÃO Nº 3 de 3 de
agosto de 2005: Educação Infantil até 5 anos de idade (Creche até 3 anos de idade e Pré-
escola para crianças com 4 e 5 anos de idade). (Fonte: www.mec.gov.br).

2
Friedrich Fröebel (Alemanha, 1782-1852), criador do jardim de infância, defendia o uso
pedagógico de jogos e brinquedos organizados e sutilmente dirigidos pelo professor.
Durante as décadas subseqüentes, vários educadores alertaram para a importância do
lúdico na educação. (Fontes para a educação infantil. Brasília: UNESCO; São Paulo: Cortez;
São Paulo: Fundação Orsa, 2003).

3
Jean Piaget (Suíça, 1896-1980) foi o nome mais influente no campo da educação durante a
segunda metade do século XX, a ponto de quase se tornar sinônimo de pedagogia. Não
existe, entretanto, um método Piaget, conforme ele mesmo gostava de frisar.

Ele nunca atuou como pedagogo. Foi biólogo e dedicou a vida a submeter à observação
científica rigorosa o processo de aquisição de conhecimento pelo ser humano,
particularmente a criança. (Revista Nova Escola – A Revista do Professor. Edição Especial:
Os Pensadores. Editora Abril, 2004).

3
Maria Montessori (Itália, 1870-1952) foi pioneira no campo pedagógico ao dar mais ênfase
à auto-educação do aluno do que ao professor como fonte de conhecimento.

“Ela acreditava que a educação é uma conquista da criança”. (Revista Nova Escola – A
Revista do Professor. Edição Especial: Os Pensadores. Editora Abril, 2004).

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Aula 02_Movimento na primeira infância: o lúdico e o corpo

Na aula anterior vimos a importância da existência do lúdico dentro da educação


infantil, uma vez que pode contribuir para uma aprendizagem mais instigante e
capaz de proporcionar o pleno desenvolvimento do educando. Discutimos também a
concepção de criança e/ou infância que se faz presente em nosso cotidiano. Dando
continuidade às discussões, na aula de hoje falaremos a respeito do corpo e sua
união com o lúdico. Afinal, não podemos sequer pensar em desenvolvimento integral
da criança sem abranger o corpo e seus movimentos.

Mesmo que a criança não tenha consciência, o seu próprio corpo é, de uma maneira
ou de outra, o seu primeiro brinquedo, principalmente porque o utiliza na
representação de brincadeiras por meio de movimentos corporais. Crianças, desde a
mais tenra idade, já movem os dedinhos brincando, bem como acariciam os próprios
pés, depois se arrastam, engatinham, andam, pulam, fantasiam e fazem coisas que,
algumas vezes, nem nós adultos conseguimos entender.

Então, como pode essas crianças (tão ativas, brincalhonas e felizes) serem muitas
vezes tolhidas, na Educação Infantil, de brincar com seu corpo, sendo submetidas à
imobilidade dentro do ambiente escolar?

Imaginemos, então, o que representa para uma criança, acostumada a movimentar-


se livremente em casa, ser obrigada a manter-se quieta e sentada, ao entrar na
escola, durante quase todo o período de aula...

Veja um exemplo comparativo que ilustra bem esta situação, conforme Freire:

Seria o mesmo que pegar um professor idoso, que há muito deixou


de praticar atividades físicas, a não ser as mais triviais, e obrigá-lo a
correr alguns quilômetros em ritmo acelerado. (FREIRE, 1992, p. 12)

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Não temos aqui a intenção de dizer que, dentro da sala de aula, as crianças teriam
uma liberdade incondicional de se movimentarem, pois, para organizar tudo isso,
existem os chamados “combinados”, em que educador e educando estabelecem as
normas que devem ser respeitadas.

O problema consiste em não permitir que a criança se movimente esquecendo, que


a aquisição da consciência dos limites do próprio corpo colabora para a
diferenciação do eu e do outro, ou seja, da construção da própria identidade que se
encontra intimamente atrelada ao desenvolvimento da autonomia.

Contudo, você deve estar se perguntando: como trabalhar o corpo por meio de
movimentos corporais de maneira lúdica?

Em primeiro lugar, não podemos esquecer que “o corpo carrega a dimensão de


integrar emoções, contatos sociais e relações cognitivas” (WALLON, 1996 apud
KISHIMOTO, 2003, p. 406). Portanto, no cotidiano de nossas práticas pedagógicas
não pode existir dicotomia entre o corpo e essas dimensões, sendo necessário
explorá-las com o auxilio da imaginação e da criatividade da criança.

Afinal, como diz o ditado popular: se uma pessoa não tem corpo sadio, como terá
mente sadia? É o que explica a importância de trabalhar corpo e mente nas
atividades junto aos educandos.

A sugestão de atividade descrita abaixo é capaz de demonstrar a importância em


trabalhar os movimentos corporais de forma lúdica dentro do ambiente escolar?
Leia, reflita e responda você mesmo. Até a próxima aula!!!

Sensações corporais1

A professora pediu às crianças que andassem livremente pela sala ocupando todo o
espaço. Ela alterava as ordens para que andassem: lentamente; rapidamente;
correndo; andando para trás; para um lado; para o outro lado; na ponta dos pés; nos
calcanhares; com os pés virados para dentro; com os pés virados para fora; em linha
reta; em curva; em círculo; em zigue-zague; de forma desengonçada, em chão
encerado, em chão normal; em chão pedregoso; andar na chuva; na neve; contra o

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vento, entre outros. Em seguida, sugeriu que uma criança por vez imaginasse uma
forma de andar e comandasse o grupo.
1
Esta atividade foi retirada da Coleção A Hora da Escola: Jogos e atividades pedagógicas
para aprender brincando. Volume I – Teatro na sala de aula (p. 21-22) de Marielise Ferreira.
Edelbra editora. É importante ressaltar que algumas adaptações foram realizadas pela
Professora Janayna Alves Brejo, a fim de que a atividade pudesse atingir os objetivos da
presente aula.

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Aula 03: O lugar do lúdico nas linhas pedagógicas

Na aula passada, trabalhamos a questão da integração entre o corpo, o movimento


e a ludicidade. Esta união é fundamental para construção da identidade e autonomia
da criança pequena, bem como para o desenvolvimento de suas
potencialidades. Sem desmerecer os demais níveis de ensino, pois todos têm seu
papel essencial na vida de qualquer estudante, entendemos que a Educação Infantil
configura-se como a base de formação de todo o ser humano, uma vez que diversos
estudos científicos mostram que o período que compreende desde a gestação até
os seis anos de vida caracteriza-se como o mais importante para a construção de
competências e habilidades no decorrer de toda a vida humana. Diante desses
apontamentos, é necessário que pensemos um pouco acerca das linhas
pedagógicas desenvolvidas pelos educadores nas escolas, isto é, o modo como tem
sido instituído o trabalho pedagógico e se tem contemplado aspectos lúdicos. De
acordo como os estudos realizados pela UNESCO (Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura) e pela Fundação Orsa observamos uma
preocupação constante por parte dos sistemas de ensino no que se refere às linhas
pedagógicas desenvolvidas junto aos educandos, principalmente na Educação
Infantil. Tais estudos nos apontam três vias de prática pedagógica desenvolvidas
nas instituições: Uma primeira via de ação subestima a criança, ou seja, não a
considera capaz, pois simplifica os conteúdos trabalhados e os transmite de forma
lenta, gradual, infantilizada, sem levar em conta o saber que os pequenos trazem
consigo e desconsiderando também a cultura em que estão inseridos. Desta
maneira, essa prática é realizada de forma mecânica, pois seu objetivo é pautado
somente na compreensão de cálculos e na conquista da alfabetização. Assim, o
lúdico é deixado de lado e ignora-se, de modo geral, o que a criança traz consigo, a
vontade de aprender coisas novas, isto é, o impulso pela descoberta por meio da
curiosidade. Uma segunda via de ação coloca a criança como aquela que tudo pode
e sabe, em outras palavras, como a “personagem principal de uma peça teatral”.
Assim, o educador não interfere no processo de aprendizagem, pois não trabalha os
conteúdos necessários para essa faixa etária, contribuindo muito pouco para a

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construção de novos conhecimentos. Observamos que esta prática é bastante


limitada e que o lúdico muitas vezes se faz presente, mas de maneira espontânea e
isolada, já que não são trabalhadas as potencialidades do educando.

E, por fim, uma terceira via de ação pedagógica, a qual considera a criança como
um ser histórico e social, dotado de conhecimentos, inserido numa cultura e,
principalmente, um “pequeno” cidadão de direitos. O trabalho do educador é pautado
nas necessidades básicas da criança tanto no que se refere à higiene, alimentação,
saúde e proteção quanto à construção do conhecimento. Planeja suas atividades a
partir do lúdico, respeitando o que a criança já sabe, mas buscando ampliar essas
vivências desenvolvendo as “múltiplas linguagens”, como corporal, plástica, oral,
escrita, musical, entre outras, considerando importante a alfabetização na tenra
idade, porém sem privilegiar esse trabalho, uma vez que isso acontece
naturalmente, quando a criança é estimulada, incentivada e respeitada.

Agora reflita com bastante atenção:

Com qual dessas linhas pedagógicas você se identifica?

Consegue observar o lugar do lúdico em cada uma delas?

Qual delas estaria realmente pensando no desenvolvimento integral da criança?

Qual das três linhas pedagógicas privilegia a importância das funções de “cuidar e
educar”, fatores essenciais na vida da criança?

Certamente, descobriremos juntos as respostas para tais indagações na próxima


aula. Até lá!!!

1
Fontes para a educação infantil. Brasília: UNESCO; São Paulo: Cortez; São Paulo:
Fundação Orsa, 2003.

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Aula 04: Cuidar e educar: funções indissociáveis

Nesta aula, procuraremos respostas às indagações propostas na aula anterior,


principalmente com relação à linha pedagógica que privilegia as funções de “cuidar e
educar”, fatores essenciais na vida de qualquer criança.

Desde o nosso primeiro encontro, temos conversado sobre a importância do lúdico


na educação da criança pequena, em especial, porque auxilia bastante no
desenvolvimento integral do educando. Então, pergunto novamente a você, de
acordo com o que estudamos até aqui: qual linha pedagógica realmente estaria
preocupada com desenvolvimento das potencialidades infantis?

Podemos dizer que esta resposta está clara, uma vez que a terceira via pedagógica
considera a criança um ser social e histórico, um cidadão de direitos, e podemos
assim dizer que, ao levar em conta esses fatores, as funções de cuidar e educar
devem estar presentes de maneira indissociável.

Qual a relação existente entre as funções de cuidar e educar com o lúdico e a


educação (tema dessa unidade)?

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – Volume


1:

[...] Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados,


brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que
possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis
de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude
de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos
conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural (Brasília:
MEC/SEF, 1998, p. 23).

Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O


cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das
crianças [...] Os procedimentos de cuidado também precisam seguir

PEDAGOGIA 17
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os princípios de promoção à saúde. (Brasília: MEC/SEF, 1998, p.24-


25).

Desta forma, observamos que a integração do cuidar e do educar deve estar


presente nas práticas pedagógicas, uma vez a Educação Infantil tem como função
trabalhar esses conceitos de maneira indissociável e complementar junto às
crianças de zero a cinco anos. Se pensarmos assim, com certeza o lúdico sempre
fará parte dessa realidade, pois o “brincar e a fantasia” estão na vida de qualquer
criança. Assim,

[...] Um trabalho pedagógico em que cuidar e educar são aspectos


integrados é realizado pela criação de um ambiente em que a criança
sinta-se segura e acolhida em sua maneira de ser, em que ela possa
trabalhar adequadamente suas emoções, construir hipóteses sobre o
mundo e elaborar sua identidade. (OLIVEIRA, 2003, p. 8)

Para ilustrar melhor essas funções de cuidar e educar assista ao filme francês
Quando tudo Começa, cujo roteiro surgiu a partir de histórias reais contadas por
professores das séries iniciais. O mesmo retrata emocionante luta de um educador
buscando exercer seu papel de ensinar.

PEDAGOGIA 18
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Aula 05: Trabalhando o lúdico com crianças de zero a 3 anos

Na aula anterior falamos a respeito das funções de cuidar e educar, uma vez que
precisam ser trabalhadas de forma integrada pelo educador junto às crianças.
Teoricamente, tais procedimentos podem nos parecer bem claros e até mesmo
óbvios, não é mesmo? Mas como fazer isso na prática? Como estabelecer uma
“conexão” entre cuidar e educar de maneira lúdica?

Hoje, além de abordamos esses aspectos, também vamos pensar na prática e, para
isso, você verá algumas dicas de atividades para serem aplicadas com as crianças
de zero a três anos.

Para Freire (1992, p. 147): “[...] Ser humano é mais que movimentar-se, repito: é
estabelecer relações com o mundo de tal maneira que se passe do instintivo ao
cultural, da necessidade à liberdade, do fazer ao compreender, do sensível à
consciência”.

Portanto, a criança, desde que nasce, já está em interação com o mundo e, ao


observamos um bebê, podemos perceber o quanto ele explora o próprio corpo, pois
movimenta-se, descobre-se, mexe as mãos, pega os pés, observa, escuta,
balbucia...

Como trabalhar com crianças tão pequenas?

Uma dica é utilizar brincadeiras que envolvam o corpo e a música, o que permite
que as crianças se movimentem.

Para as crianças menores, as atividades mais indicadas são: a massagem (em


especial com os bebês), o canto e o uso do espelho, pois permitem ao educando
conhecer e brincar com o próprio corpo.

Vejamos então alguns exemplos:

PEDAGOGIA 19
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A massagem1

A massagem pode configurar-se em uma importante atividade que permite a


interação entre educador e educando, ou seja, uma via de comunicação. Ela pode
ser realizada, quando o bebê já tem cerca de um mês de vida. Para isso, é preciso
que as crianças estejam calmas, serenas e alimentadas. É também essencial que
seja massageado um bebê de cada vez, enquanto os outros estejam dormindo ou
descansando. Ao término de cada massagem pode-se dar um banho ou colocá-lo
para descansar.

Imaginemos então, vamos lá?

Coloque o bebê em um lugar confortável, pode ser um colchonete ou mesmo o


trocador. Aplique um óleo ou creme apropriado nas mãos e, não es-queça: procure
olhar, cantar e conversar com o bebê durante a massagem. Você pode massagear o
peito, os braços, as mãos, a barriga, as pernas e os pés do bebê. Sempre com muito
carinho e suavidade, pois eles são sensíveis.

O canto

As crianças em roda cantam a música: “Vamos passear no bosque, enquanto seu


lobo não vem...”

Uma criança é escolhida para ser o lobo e responder às perguntas.

Durante a brincadeira fazem perguntas, utilizam gestos e expressam assim a


mobilidade do próprio corpo...

P: Seu lobo está?

R: Estou tomando banho.

PEDAGOGIA 20
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As crianças da roda fingem que estão tomando banho. Depois, voltam a rodar
cantando e fazem novamente a pergunta:

P: Seu lobo está?

R: Estou me enxugando... Vestindo a cueca (ou calcinha)... O short... A camiseta...


As meias... Os sapatos... Penteando os cabelos... Escovando os dentes.

Após cada resposta, as crianças voltam a imitar o que o lobo está fazendo e depois
voltam a rodar e cantar... Assim deve acontecer, sucessivamente, quando o lobo for
substituído por outra criança.

O espelho

Com as crianças sentadas em círculo, o educador (a) mostra uma caixa. Dentro
dela deve haver um espelho, mas as crianças não sabem.

Peça para que cada um olhe dentro da caixa, mas que não diga aos colegas o que
viram.
Após todos terem visto o que havia dentro da caixa, a roda da conversa está aberta
e o grupo declara que tinha visto um espelho, ou melhor, o seu próprio reflexo nele.

A partir dessas e muitas outras atividades é possível trabalhar o lúdico com crianças
de zero a 3 anos, sem esquecer que as funções de cuidar e educar estão presentes
em cada ação do educador. É importante ressaltar a necessidade da formação
específica dos profissionais que atuam na Educação Infantil, pois, embora essas
brincadeiras possam nos parecer fáceis e corriqueiras, o educador precisa ter
embasamento teórico e prático para ser capaz de observar a singularidade dessa
faixa etária, suas emoções, seus anseios, suas expressões, enfim, as várias
situações expressas pela criança.

Na nossa próxima aula, falaremos do trabalho lúdico com crianças de 4 a 5 anos.


Até mais!!!

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1
As atividades propostas: a massagem, o canto e o espelho são bastante conhecidas,
podendo estar contidas em muitos livros, de forma semelhante. Para escrevê-las, não
consultei livros, apenas utilizei minhas experiências como professora na educação infantil,
de acordo com a proposta da aula e, consequentemente, da disciplina.

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Aula 06: Trabalhando o lúdico com crianças de 4 e 5 anos

Na aula passada pensamos no desenvolvimento do trabalho lúdico com as crianças


de zero a três anos. Hoje, nossa conversa estará direcionada para as crianças de
quatro e cinco anos. As cantigas de roda, por exemplo, podem ser um recurso
valioso, uma vez que promovem identificação cultural com as crianças, ao mesmo
tempo em que permitem trabalhar dramatizações, diálogos, entre outros, a partir
delas.

Quem de nós, quando criança, não brincou com as cantigas de roda? Tais
experiências foram importantes, não é mesmo?

Quem nunca ouviu o ditado popular “quem canta seus males espanta”?

Sendo assim, com o auxílio de nossa formação acadêmica e de nossas


experiências, de quando éramos crianças, torna-se possível estabelecer relações
entre o lúdico, o cuidar e o educar, como bem demonstra a brincadeira abaixo:

Atividade: A canoa virou1

As crianças formam uma roda com o rosto voltado para o centro e iniciam a canção.
Uma criança é escolhida pelo grupo para ser o peixinho e fica “nadando” no centro
da roda. Na primeira parte da música, quando for citado o nome de um dos alunos,
este deverá inverter sua posição, voltando as costas para o centro da roda, mas
mantendo seu lugar de mãos dadas com os colegas. Na segunda parte da música, o
peixinho salva a criança que está de costas, retirando-a da roda. A criança que

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estava de costas toma o lugar do peixinho, que volta para a roda. A canção
continua, citando o nome de uma outra criança para ser salva pelo peixinho. Todas
as crianças deverão ter o nome citado para que participem.

Esta atividade foi retirada da Coleção A Hora da Escola: Jogos e atividades


pedagógicas para aprender brincando. Volume II – Cantigas de Roda (p. 10-11) de
Marielise Ferreira. Edelbra editora (ressaltando, ainda, que algumas adaptações
foram realizadas pela Professora Janayna Alves Brejo, a fim de que a atividade
atingisse os objetivos da presente aula.A partir desta brincadeira, a criança aprende
a seguir os combinados, aguardando sua vez de movimentar-se. Ela também
favorece a apresentação das crianças entre si, sendo capaz de promover um bom
relacionamento entre o grupo.
Tudo isso deve acontecer de forma lúdica e divertida, e, por que não dizer, utilizando
uma prática pedagógica que envolve o cuidar e o educar à medida que proporciona
à criança oportunidade de crescimento, ampliando as suas possibilidades e visões
do mundo da qual é parte integrante.

Ficamos por aqui. Até a próxima aula!!!

1
Esta atividade foi retirada da Coleção A Hora da Escola: Jogos e atividades pedagógicas
para aprender brincando. Volume II – Cantigas de Roda (p. 10-11) de Marielise Ferreira.
Edelbra editora (ressaltando, ainda, que algumas adaptações foram realizadas pela
Professora Janayna Alves Brejo, a fim de que a atividade atingisse os objetivos da presente
aula.

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Aula 07: O lúdico no espaço da sala de aula

Durante a nossa última aula, discutimos acerca do trabalho lúdico junto às crianças
de quatro a seis anos. Mas como podemos falar em ludicidade sem pensarmos
também nos espaços escolares, ou seja, nos espaços onde o conhecimento é
construído pela criança?

Será que esses espaços são atraentes?

A sala de aula é capaz de propiciar ações que manifestem o jeito próprio da criança?
Ela é capaz de acolher e fazer com que se sinta à vontade?

Se o ambiente não agrada, será que a criança conseguirá entrar no mundo do “faz
de conta?”

Na maioria das vezes, o espaço da sala de aula já está determinado, pois é parte de
uma escola que foi projetada/planejada. Mas cabe ao educador transformar ou não
esse espaço em algo acolhedor.

Pensemos, então, na nossa própria casa: mesmo tendo um espaço amplo ou


restrito, não procuramos torná-la o mais atraente possível para que nós mesmos nos
sintamos bem dentro dela?

O mesmo deve acontecer com a sala de aula. Temos de torná-la aconchegante,


planejando a forma de organizar o mobiliário e de decorá-la, respeitando as
necessidades da criança pequena.

Conforme Ferraz e Flores, (1999, p.34)

[...] É muito importante refletirmos sobre essas “idéias” e os


critérios que nos levam a arrumar uma sala de aula de determinada
maneira, com a intenção de podermos entender quais os impactos
que essa organização exerce sobre as ações tanto da criança quanto
do professor.

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De acordo com as mesmas autoras, a organização do espaço demonstra as “[...]


concepções do professor sobre a educação, a criança, sua própria prática, os
processos de ensino aprendizagem, entre outros”. Por isso, devemos planejar
espaços que permitam a interação entre as crianças a todo o momento e não
somente quando as convidamos, por exemplo, para ouvir uma história. Não
podemos, é claro, desmerecer esse tipo de interação, porém devemos planejar o
espaço da sala de aula de modo que seja capaz de permitir que tal interação ocorra
também de maneira espontânea e natural. Uma boa sugestão seria a divisão da sala
em cantos, com divisórias baixas que permitam a visão geral da sala por parte da
criança, os educandos se dividiriam em pequenos grupos, o que favorece as trocas
entre eles.

A partir da organização do espaço da sala de aula, que possibilite a interação, as


crianças terão a oportunidade de desenvolver sua própria identidade e autonomia na
medida em que esse espaço ofereça brinquedos, como bonecas, carrinhos,
telefones, ou seja, uma série de materiais que façam parte de seu dia a dia, de
modo em que estes estejam realmente ao seu alcance. Assim, gradativamente, o
educando vai ampliando a visão a respeito de si mesmo e do outro e adquirindo
autoconfiança, já que se sente em um ambiente acolhedor e seguro, onde pode
fazer escolhas.

É importante ressaltar que o espaço não deve se limitar à sala de aula, afinal o pátio,
o parque, a pracinha próxima à escola, um passeio ou uma excursão podem
também contribuir para o aprendizado infantil.

Um outro fator a se pensar é se o ambiente permite uma boa locomoção, de modo


que a criança possa “tirar proveito” dos espaços existentes. Tomando esses
devidos cuidados ao organizar o espaço da sala de aula, poderemos dar lugar ao
lúdico e, principalmente, cumprir nosso papel enquanto educadores à medida que
possibilitamos o desenvolvimento dos aspectos físicos, emocionais, intelectuais e
sociais da criança pequena. O que você pensa sobre isso? Reflita! Até a próxima
aula!

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Aula 08: O lúdico no universo infantil

Com esta aula chegamos ao final da primeira unidade, cuja preocupação esteve
centrada em abordar de maneira teórica e prática o lúdico dentro da educação.
Como você acompanhou as aulas, com certeza já sabe da importância desse tema
na Educação Infantil. No nosso último encontro vimos que é preciso planejar os
espaços em sala de aula para que possamos atender às necessidades das crianças.
Lembra-se? Hoje falaremos sobre a presença do lúdico no universo infantil, pois, se
entendemos a ludicidade como algo que estimula o educando por meio da fantasia,
do divertimento ou da brincadeira, não há dúvidas de que esta deve fazer parte do
ambiente infantil. Então, pensemos juntos: ao trabalharmos as diversas disciplinas
e/ou conteúdos, se assim podemos dizer, que fazem parte do planejamento deste
nível de ensino, tudo deve ter um caráter lúdico, uma vez que estamos lidando com
crianças e que sabemos que é infinitamente possível e saudável “ensinar e
aprender” brincando. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil,
documento elaborado pelo Ministério da Educação, pode ser entendido como um
guia de reflexão, pois propõe aos sistemas educacionais que tenham como
norteadores dos trabalhos junto às crianças de zero a seis anos os eixos: Identidade
e Autonomia, Movimento, Música, Matemática, Natureza e Sociedade, Linguagem
Oral e Escrita e Artes Visuais. Embora o Referencial tenha se configurado como
uma proposta não obrigatória para a Educação Infantil, este tem sido, em sua
maioria, adotado pelas escolas que acabaram por tomá-lo como diretriz, uma vez
que o documento foi amplamente divulgado e distribuído pelo Governo Federal. Se
tomarmos, então, esses eixos como subsídios orientadores para o trabalho
educativo, poderemos dizer que em todos eles a ludicidade precisa se fazer
presente, não é mesmo? Principalmente porque contemplam o universo infantil
dentro do ambiente escolar.

Vejamos, assim, alguns exemplos de como é possível desenvolver nossa prática


educativa, a partir do lúdico, em cada eixo de trabalho:

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Movimento

Utilizando movimentos realizados e feitos pelas próprias crianças no dia-a-dia, tais


como: andar, pular, correr, girar, entre outros, para trabalhar coordenação e
equilíbrio. Esse movimento poderá transformar-se, então, na brincadeira Macaco
disse, em que uma criança é escolhida pelo grupo para representar o macaco, chefe
da floresta, que dirá o que as outras crianças devem fazer: agachar, levantar, parar,
inclinar o corpo...

Música

Propor às crianças que cantem as músicas de que mais gostam a fim de explorar
diversas produções musicais. A partir disso, o grupo escolherá algumas dessas
cantigas para que sejam dramatizadas. Digamos que entre elas surgisse a canção O
cravo e a rosa, esta poderia ser encenada pela classe: uma menina representaria a
rosa, um menino representaria o cravo e todos cantariam a música.

Matemática

Apresentar os numerais para as crianças a partir de cantigas de roda, a fim de que


os reconheçam e compreendam sua utilidade em nosso cotidiano. Por exemplo:
para trabalhar o numeral 1 (um), pode-se utilizar a cantiga Se eu fosse 1 (um)
peixinho; para trabalhar o numeral 3 (três), pode-se utilizar a parlenda Chapéu de
três pontas.

Natureza e Sociedade

Realização do Dia da Fruta. É possível mostrar sua importância para que tenhamos
alimentação saudável. Propor que as crianças tragam para a escola a fruta que mais
gostam de comer. Cada criança falará para os amigos o porquê de gostarem mais
daquela fruta, bem como descrevê-la etc.

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Linguagem Oral e Escrita

É possível utilizar histórias de livros infantis, como: O elefantinho malcriado, de Ana


Maria Machado (Editora Moderna), na busca de ampliar as possibilidades de
expressão e comunicação das crianças. O educador deverá realizar a narrativa da
história, mas a interpretação oral da sequência dos fatos e personagens deve ser
tarefa dos educandos. É preciso discutir o que é ser, ou não, malcriado e, ao mesmo
tempo, levantar opiniões e questões junto ao grupo sobre atitudes e valores que
podem ser “bons” ou “ruins”.

Artes Visuais

Sugira que as crianças escolham um lápis que tenha a cor de que mais gostam,
buscando desenvolver a concentração e a criatividade. Peça para que, depois,
fechem os olhos e rabisquem um papel por alguns segundos. Em seguida, peça
para que abram os olhos, observem seus traços e criem um desenho a partir deles.

Identidade e Autonomia

Entendendo que uma ação educativa só é capaz de promover o desenvolvimento


integral da criança, se todos os conteúdos e atividades trabalhadas possibilitarem a
construção de novos conhecimentos de maneira autônoma, os pequenos poderão
fazer escolhas e serão respeitados como seres únicos e dotados de inúmeras
potencialidades.

Podemos, assim, perceber que não basta boa vontade para trabalhar o lúdico no
universo infantil, pois é preciso desvelar as necessidades, os anseios e as
curiosidades das crianças, levando em consideração o que elas pensam, sentem e
falam.

Para saber mais, consulte:

http://www.cdof.com.br/recrea22.htm

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Aula 09: A essência do jogo

A partir desta aula, daremos início à nossa segunda unidade. Desta vez, falaremos a
respeito das contribuições do jogo para o desenvolvimento e para a aprendizagem
infantil. Madalena Freire (2000, p.35), ao escrever sobre o jogo, afirma que “[...] É
através do jogo que a criança pensa, reflete a realidade. É através do jogo que ela
pensa o outro e a si própria”.

Sabemos que o jogo fascina crianças e que, muitas vezes, elas aprendem um jogo
facilmente.

No entanto, você deve estar pensando que não é somente criança que gosta de
jogar, pois os jogos fazem parte da realidade dos adultos também. Tem razão! Não
existe idade para esta atividade. Atividade? Então, o que é o jogo afinal? Se
consultarmos o Novo Dicionário Eletrônico Aurélio (século XXI), veremos que
existem mais de vinte significados para esta palavra, e um deles nos diz que o jogo
é uma “atividade física ou mental organizada por um sistema de regras que definem
a perda ou o ganho”.

Já Friedmann (1996, p.12) ressalta que não existe uma definição única, assim como
não há uma teoria universalmente aceita sobre o jogo. O que existe são vários
estudos importantes. E, com relação ao jogo infantil, afirma que este “[...] é
compreendido como uma brincadeira que envolve regras”.

A mesma autora, para analisar tais jogos, utiliza os seguintes enfoques:

Sociológico: a influência do contexto social no qual os diferentes grupos de crianças


brincam; educacional: a contribuição do jogo para a educação; desenvolvimento
e/ou aprendizagem da criança; psicológico: o jogo como meio para compreender
melhor o funcionamento da psique, das emoções e da personalidade dos indivíduos;

PEDAGOGIA 31
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[...] antropológico: a maneira como o jogo reflete, em cada


sociedade, os costumes e a história das diferentes culturas;
folclórico: analisando o jogo como expressão da cultura infantil
através das diversas gerações, bem como as tradições e costumes
através dos tempos nele refletidos. (idem p.11-12).

Sendo nossa proposta aqui estudar o jogo infantil, daremos ênfase ao enfoque
Educacional, embora o sociológico e o folclórico o permeiem, uma vez que, se
pretendemos que o jogo auxilie no desenvolvimento da criança, este deverá
acontecer numa relação de interação com o outro, ou seja, no meio social, ao
mesmo tempo em que diversos jogos que utilizamos em sala de aula pertencem ao
nosso folclore.

Contudo, cabe-nos perguntar: quantas vezes escutamos que os jogos ajudam as


crianças a se desenvolverem e que, assim, elas aprendem brincando? De que
maneira isso acontece?

Bem, essa é uma resposta que descobriremos no decorrer de nossas aulas. Até a
próxima!!!

PEDAGOGIA 32
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Aula 10: O jogo infantil: diversas considerações

Na aula passada iniciamos nossa conversa a respeito jogo no desenvolvimento e na


aprendizagem infantil, buscando compreender primeiramente o significado da
palavra jogo, bem como os diferentes enfoques pelos quais pode ser analisado.

Freire (1992), assim como Friedmann (1996), citada na aula anterior, admite que
existam várias confusões no que se refere ao termo jogo, à medida que, muitas
vezes, sua definição pouco se diferencia dos termos brinquedo e brincadeira. Em
seus estudos a respeito do jogo, Freire (1992) relata o desenvolvimento da
inteligência e a gênese do conhecimento, com base em Piaget, o qual observou que
os jogos ou brinquedos podem dividir-se em três tipos: de exercícios (engloba a fase
desde o nascimento até a manifestação da linguagem), quando o bebê levanta um
braço, uma perna, por puro prazer de vê-los funcionar, ou seja, por divertimento,
pois ainda não se encontram “estruturadas as representações mentais que
caracterizam o pensamento” (p.116); de símbolo ou simbólico (engloba a fase desde
a manifestação da linguagem até cerca de 6-7 anos), quando a criança, por
exemplo, imita um gato ou diz que sua boneca está chorando, reservando um
espaço em sua imaginação para realizar o que não foi praticado em situações não-
lúdicas, ou seja, “pode-se fazer de conta aquilo que na realidade não foi possível”
(p.117) e o de regras (engloba a fase desde os 6-7 anos em diante) que acontece já
de maneira estruturada, e a criança compreende as normas pelas quais as pessoas
se sujeitam para viver em sociedade, ou seja, quando o educando, por exemplo,
brinca de “jogo da memória”, entende as regras e sabe que cometerá uma falta se
não respeitá-las.

Estas três estruturas de jogos que permeiam o universo infantil, teorizadas por
Piaget, fornecem subsídios para que saibamos que a criança, desde a tenra idade,
incorpora o lúdico em suas ações, pois possui o desejo pela descoberta. Por isso, ao
trabalharmos jogos, precisamos estar cientes de que estes fazem parte de seu
mundo e de sua realidade e que, a partir disso, podemos desenvolvê-los também

PEDAGOGIA 33
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com objetivos pedagógicos, a fim de tornar a aprendizagem prazerosa, interessante


e mais “próxima” dos educandos.

Afinal, tais aprendizagens com certeza vão além dos conteúdos propostos durante o
jogo, o que propicia as interações sociais e o desenvolvimento da criança no campo
cognitivo, moral e afetivo. Você não acha?

Para saber mais, consulte:

http://www.centrorefeducacional.com.br/ludicoeinf.htm acessado em 03/12/2007.

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Resumo Unidade I

Chegamos ao final da nossa primeira unidade.

Durante esse percurso estivemos preocupados em demonstrar a importância de


trabalhar o lúdico na educação infantil a partir de teorias e práticas que possam
contribuir para o desenvolvimento integral da criança.

Vimos que a utilização de meios lúdicos colaboram para que o processo de


construção de conhecimento ocorra de uma maneira mais atraente e gratificante,
uma vez que a criança brinca, movimenta-se e tem a oportunidade de criar e recriar
a partir de suas próprias experiências e vivências, interagindo com o ambiente e
com o outro.

Trabalhamos a questão da integração entre o corpo, o movimento e a ludicidade.


Esta união é fundamental para a construção da identidade e a autonomia da criança
pequena.

Refletimos acerca das linhas pedagógicas desenvolvidas pelos educadores nas


escolas, privilegiando a via de ação que planeja suas atividades a partir do lúdico e
que considera a criança um ser histórico e social, inserido numa cultura e,
principalmente, um “pequeno” cidadão de direitos. O trabalho do educador é pautado
nas necessidades básicas do educando tanto no que se refere à higiene,
alimentação, saúde e proteção, quanto à construção do conhecimento, pois respeita
aquilo que a criança já sabe e busca ampliar essas vivências.

Observamos também que a integração do cuidar e do educar deve estar presente


nessas práticas pedagógicas, uma vez a Educação Infantil tem como função
trabalhar esses conceitos de maneira indissociável. Ao pensarmos assim, o lúdico
ganha lugar nessa realidade, pois o “brincar e a fantasia” estão na vida de qualquer
criança.

PEDAGOGIA 35
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Refletimos sobre o desenvolvimento do trabalho lúdico junto às crianças de zero a


três anos, propondo atividades para essa faixa etária. Em seguida, direcionamos
nossa atenção para as crianças de quatro e cinco.

Percebemos, com isso, que é preciso planejar os espaços em sala de aula para que
possamos atender às necessidades dos educandos, bem como propiciar a interação
entre eles para que tenham a oportunidade de desenvolver sua própria identidade e
autonomia na medida em que esse espaço ofereça brinquedos, como bonecas,
carrinhos, telefones, ou seja, uma série de materiais que façam parte de seu dia a
dia, desde que estes estejam realmente ao seu alcance.

Por fim, conversamos sobre a presença do lúdico no universo infantil, pois, ao


entendermos a ludicidade como algo que estimula a criança pequena por meio da
fantasia, do divertimento ou da brincadeira, não há dúvidas de que esta deve fazer
parte do ambiente infantil.

Espero que você tenha aproveitado nossas aulas e que esteja pronto e disposto a
iniciar uma nova unidade! Até lá!

Tendo concluído esta unidade, reflita sobre as seguintes questões:

1) Que concepção de criança está presente em nossa sociedade? Qual é a sua


concepção de criança?

2) Qual a importância da brincadeira para a criança pequena? Que impor-tância


damos para as atividades lúdicas em sala de aula?

3) Que linha pedagógica tem subsidiado nossos trabalhos? Qual o lugar do lúdico
dentro dela?

4) Na prática, é possível trabalhar os aspectos do cuidar e educar de ma-neira lúdica


e indissociável?

5) Que tipo de educador construímos dentro de nós mesmos a cada dia? Nós nos
preocupamos realmente com a nossa formação profissional?

PEDAGOGIA 36
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6) Como organizamos os espaços em nossas salas de aula? Pensamos nos


espaços para brincar? Eles são atraentes para as crianças?

Referências Bibliográficas

BRASIL. “Lei nº 9394/1996, de 20 de dezembro de 1996, estabelece as

Diretrizes e Bases da Educação Nacional”. Diário Oficial da União, Ano

CXXXIV, n.248, 23/12/1996, p.27.833-27.841.

________. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Volu-me I:


Introdução; Volume II: Formação Pessoal e Social; Volume III: Conhe-cimento de
Mundo (Vol. 3). Brasília: MEC/SEF, 1998.

FERRAZ, Beatriz; FLORES, Fernanda. Espaço atraente: espelho de valo-res.


Revista Criança do Professor de Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF: N. 33, p. 34-
39, dezembro 1999.

FERREIRA, Marielise. A Hora da Escola: jogos e atividades pedagógicas para


aprender brincando. Rio Grande do Sul: Edelbra Editora, 1997.

Fontes para a educação infantil. Brasília: UNESCO; São Paulo: Cortez; São

Paulo: Fundação Orsa, 2003.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar, crescer e aprender - o resgate do jogo infantil. São


Paulo: Moderna, 1996.

FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Edu-cação


Física. 3. ed. São Paulo: Scipione, 1992.

KISHIMOTO, Tizuko M. Contextos integrados de educação infantil: uma for-ma de


desenvolver a qualidade. In: BARBOSA, Raquel Lazzari Leite [Org.].

Formação de Educadores, desafios e perspectivas. São Paulo: Editora

UNESP, 2003.

PEDAGOGIA 37
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LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor do nascimento até 6 anos.


Tradução e prefácio de Ana Guardiola Brizolara. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.

OLIVEIRA, Zilma Moraes Ramos de. Diretrizes para a formação de pro-fessores


de educação infantil. Revista Pátio Educação Infantil. Porto Ale-gre: Artmed
Editora: Ano I, n. 2, p.6-9, agosto/novembro 2003.

Revista Nova Escola – A Revista do Professor. Edição Especial: Os Pensa-dores.


São Paulo: Editora Abril, 2004.

PEDAGOGIA 38
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Aula 11: Os jogos tradicionais

Em nossa última aula, conversamos sobre as três estruturas de jogos que permeiam
o universo infantil teorizadas por Piaget: os jogos de exercícios, os simbólicos e os
de regras, você se lembra? Vimos, também, que todos eles nos fornecem subsídios
para que saibamos que a criança, desde a mais tenra idade, incorpora o lúdico em
suas ações, pois possui o desejo pela descoberta.

Hoje, no decorrer dessa aula, faremos uma viagem no tempo, recordando os jogos
que fizeram parte da nossa infância, da infância de nossos pais, avós, bisavós, e
assim por diante.

De quais jogos você se lembra? Amarelinha, corre-cutia, passa-anel, pega-pega...


Quantas e quantas lembranças vêm à nossa cabeça, não é mesmo?

Esses jogos são classificados como tradicionais, ou seja, são aqueles que
ganhamos como herança, pois passam de pai para filho e que, na maioria das
vezes, não são aprendidos nos ambientes escolares, mas em casa ou na rua de
forma livre e natural. Assim,

[...] O jogo tradicional faz parte do patrimônio lúdico-cultural infantil e


traduz valores, costumes, formas de pensamento e ensinamentos.
Seu valor é inestimável e constitui para cada indivíduo, cada grupo,
cada geração, parte fundamental da história de vida (FRIED-MANN,
1996, p. 43).

Ao contrário do que alguns pensam, os jogos tradicionais não devem ser vistos
como algo ultrapassado, embora estejamos na era da informática, pois fazem parte
dos traços culturais de nossa sociedade. Em consequência disso, não podem ser
jamais esquecidos, principalmente na sala de aula, uma vez que os educadores
devem trabalhar e respeitar a cultura infantil que é “[...] constituída de elementos
folclóricos aprendidos na rua e que provém da cultura do adulto” (idem, p.41). Dentro

PEDAGOGIA 39
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deste contexto, de que maneira você trabalharia um jogo tradicional no ambiente


escolar? Quer uma dica?

Então, vamos lá:

Esconde-esconde :

Trata-se de um jogo bastante conhecido e que provavelmente a maioria das


crianças já brincou. Elas escolhem alguém para ser o “pegador”, que vai
permanecer, sem olhar, contando até um número determinado (de 0 a 10, por
exemplo), enquanto se escondem. Após contar, essa criança vai à procura das
demais. Enquanto isso, elas tentam chegar até o local onde o “pegador” contava no
início, batem as mãos e se salvam, o que ocorre somente se as crianças
conseguirem chegar antes do “pegador”.

Tal atividade contribui imensamente para o desenvolvimento da imagem corporal da


criança, na medida em que toma consciência de seu próprio corpo, passando a
considerar também o do outro. De acordo com a idade da criança, o esconde-
esconde possibilita ao educador perceber como vem se desenvolvendo a imagem
de si própria, bem como de que forma ela explora e interage com o meio.

Você poderá perceber isso, principalmente quando lidamos com as crianças


menores que, geralmente, escondem apenas o rosto e acreditam que assim o
“pegador” não as encontrará.

Bem, a partir desse exemplo de jogo tradicional, podemos notar a importância de


trabalhar esse tipo de jogo junto aos educandos.

Vale lembrar que cada educador pode propor variações nesse jogo. Um exemplo
seria colocar obstáculos durante a brincadeira para que pulem, passem por cima,
por baixo, entre outros, de acordo com sua proposta pedagógica.

E, já que estamos falando em variações, na próxima aula abordaremos as


transformações dos jogos no decorrer dos anos.

Por hoje é só! Até lá!

PEDAGOGIA 40
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Esta atividade fundamenta-se nos estudos de Freire (1992 p-51-53),

PEDAGOGIA 41
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Aula 12: Jogo: entre a tradição e a transformação

Conforme combinamos, nesta aula abordaremos as transformações dos jogos no


decorrer dos anos e daremos prosseguimento ao nosso encontro anterior em que
demonstramos a importância dos jogos tradicionais.

Segundo Friedmann (1996), o jogo tem mudado bastante com o passar dos anos e
são vários os fatores que ocasionaram essas transformações, entre eles estão: a
diminuição do espaço físico devido ao crescimento urbano e à ausência de
segurança; a diminuição do espaço temporal tanto na escola que, em geral,
desconsidera o jogo, quanto na família que, com a entrada da mulher no mercado de
trabalho, ao lado do espaço ocupado pela televisão, também o deixou em último
plano; o aumento das fábricas de brinquedos que diariamente criam objetos mais
atraentes e, por fim, a influência da mídia na vida infantil que cada vez mais
incentiva a entrada de brinquedos industrializados.

Diante destas considerações podemos entender o porquê de os jogos estarem se


modificando ao longo dos anos, uma vez que, em consequência da modernidade,
alteram-se os tipos e a maneira de brincar.

Assim, os jogos tradicionais cedem lugar para os brinquedos eletrônicos, a família


deixa de valorizá-los por diferentes causas, seja por falta de tempo de brincar com
os filhos, por receio de deixá-los brincar na rua devido ao aumento da violência, por
ser mais cômodo o fato de as crianças ficarem diante da televisão ou do
computador, enquanto a escola prioriza a alfabetização e o desenvolvimento
intelectual, destinando pouco tempo às atividades lúdicas.

Enquanto educadores, o que faremos para tentar modificar esse quadro? Estas
aulas não têm o objetivo de encarar a modernização como um fator negativo, pois
sabemos quantos avanços a sociedade conquistou a partir dela, principalmente no
que se refere às contribuições tecnológicas. Porém, é preciso que tenhamos cuidado
para não permitir que a atividade lúdica seja esquecida em nossas escolas,

PEDAGOGIA 42
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principalmente porque, como já falamos em outras aulas, ela possibilita o


desenvolvimento dos aspectos afetivos, cognitivos, físicos e sociais.

Entretanto, precisamos encontrar respostas para a seguinte questão: o que


podemos fazer?

ANTIL E PRÁTICAS

Pensemos juntos: o que muitas escolas e seus educadores têm feito? Um trabalho
de resgate aos jogos tradicionais. Mas isso está sendo feito de que maneira?

Buscando ampliar nossos conhecimentos acerca desses jogos;

 desenvolvendo um trabalho conjunto entre escola, alunos, professores, pais e


comunidade, a fim de pesquisar os jogos e brincadeiras tradicionais que fazem
parte da cultura dessas pessoas;

 valorizando os jogos tradicionais sem desconsiderar os atuais, realizando


variações, se assim forem necessárias;

 reconhecendo o valor e a importância do lúdico em nossa ação pedagógica, não


permitindo que o jogo seja trabalhado de forma mecânica e descontextualizada,
mas, ao contrário, de acordo com a realidade e com a necessidade das crianças.

Essas são apenas algumas das muitas possibilidades. O que você pensa sobre
isso?

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Aula 13: O jogo e o desenvolvimento infantil

Em nosso último encontro, refletimos sobre as constantes mudanças sofridas pelos


jogos com o passar dos anos e também sobre a necessidade de resgatarmos os
jogos tradicionais para o nosso cotidiano, devido às contribuições que podem
proporcionar para o desenvolvimento infantil.

Já que falamos em desenvolvimento infantil, você já deve ter percebido que este é o
tema da aula de hoje.

Nesta aula vamos caminhar juntos, procurando perceber a relação intrínseca


existente entre o jogo e o desenvolvimento da criança pequena, uma vez que, desde
a mais tenra idade, como já comentamos, a criança já pratica ações lúdicas. Basta
lembrar de quando falamos dos bebês que fazem vários gestos por puro prazer, ou
seja, realizando o que Piaget chama de jogos de exercício. A escola deve
possibilitar aos educandos um desenvolvimento integral, que dificilmente irá
acontecer se ela não favorecer um ensino dinâmico e abrangente, em que o jogo
seja um grande “aliado”. Precisa, para isso, integrar os conteúdos a serem
trabalhados de modo a permitir que a interação entre o meio físico e o social
aconteça, pois, assim, o conhecimento e o senso moral da criança serão
desenvolvidos.

Com relação ao conhecimento, sabemos que a melhor forma de auxiliar a criança


nessa construção é tomar como ponto de partida os saberes que ela traz consigo,
suas necessidades e sua realidade, buscando ampliar esses conceitos e desafiando
sua inteligência. Já o senso moral configura-se numa construção que acontece de
maneira autônoma no íntimo de cada criança à medida que vai construindo seus
próprios valores morais dentro do meio social em que está inserida, influenciada
pela família, pela escola, pela comunidade e por todos aqueles que a cercam.

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É importante ressaltar que, quando falamos em desenvolvimento infantil, estamos


nos referindo aos processos de formação das funções humanas, tais como
linguagem, raciocínio, atenção, memória, entre outras.De acordo com os estudos de
Friedmann:

“[...] O desenvolvimento é responsável pela formação dos


conhecimentos: ele sempre resulta de uma interação entre o sujeito,
principal fonte de desenvolvimento e o meio. A aquisição de
conhecimentos depende do desenvolvimento: a assimilação de
determinadas informações é possível em certos níveis de
desenvolvimento”. (FRIEDMANN, 1996, p. 57)

Woolfolk (2000), em seu livro Psicologia da Educação, explica os quatro estágios de


desenvolvimento teorizados por Piaget. São eles:

Sensório motor – fase da percepção, dos sentidos e dos reflexos, que vai de zero
aos 2 anos, aproximadamente, quando o bebê começa a fazer uso da memória, da
imitação e do pensamento e reconhece que os objetos não deixam de existir quando
eles não estão vendo. Paulatinamente, a criança passa das práticas reflexas para
centrar-se em atividades voltadas aos objetos.

Pré-operacional – fase em que ainda predomina o egocentrismo, pois a criança tem


dificuldade de enxergar o ponto de vista do outro. Esta fase vai dos 2 aos 7 anos,
aproximadamente. O educando desenvolve o uso da linguagem e a capacidade de
pensar de forma simbólica, ou seja, dá vida aos seres (sua boneca está dormindo).
Não domina ainda as operações mentais, mas está próximo disso.

Operacional Concreto – fase que vai dos 7 aos 11 anos, aproximadamente. É


marcada pela lógica e pelo envolvimento da razão (ex.: o coelho não bota ovo de
páscoa); é capaz de resolver problemas concretos, classificar, seriar e compreender
as leis de conservação e reversibilidade.

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Operacional Formal – fase que vai dos 11 anos, aproximadamente, em diante.


Quando a criança começa a compreender os conceitos abstratos; o pensar torna-se
mais científico; é capaz de solucionar problemas de maneira lógica.

Qual é a relação entre os jogos e os estágios de desenvolvimento cognitivo de


Piaget?

Em primeiro lugar, enquanto educadores, precisamos entender como o


desenvolvimento infantil se processa, concorda? Em segundo lugar, sabemos que o
jogo é capaz de auxiliar positivamente esse desenvolvimento.

Lembre-se: como nossa proposta é trabalhar com a educação infantil, devemos nos
ater principalmente aos dois primeiros estágios, o Sensório Motor e o Pré-
operacional, fases que englobam a primeira infância.

Sendo assim, nós nos encontraremos na próxima aula!

Até lá!

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Aula 14: O jogo e a aprendizagem infantil

Na aula passada falamos sobre a influência do jogo no desenvolvimento infantil e


apresentamos os estágios do desenvolvimento cognitivo de Piaget.

Na aula de hoje, nossa preocupação estará voltada para as questões que envolvem
o jogo e a aprendizagem infantil.

Você já deve ter percebido que, nesta unidade, temos trabalhado bastante com a
autora Friedmann. Isto ocorre pelo fato de ela ter realizado um estudo aprofundado
acerca dos jogos infantis, tema que vem envolvendo nossas aulas.

Então, novamente Friedmann (1996) vem nos auxiliar por meio dos estudos que
realizou sobre as concepções construtivistas de Piaget, quando afirma que a
aprendizagem configura-se como um processo de “aquisição em função da
experiência (a atuação do sujeito sobre o meio). Aprender é assimilar o objeto a
esquemas mentais” (p. 62).

Por isso, a aprendizagem encontra-se intimamente ligada ao desenvolvimento,


sendo a primeira dependente do segundo, ou seja, as crianças conhecem conforme
o estágio de desenvolvimento em que se encontram, pois é por meio das diferentes
maneiras de aquisição de conhecimentos (aqui entra o jogo) que a aprendizagem
ocorre.

Para que tudo isso, dito na teoria, fique mais claro para você, vejamos como se dá
na prática:

Imaginemos que trabalhamos na educação infantil com crianças de 5


anos. Sabemos que estas se encontram no estágio de
desenvolvimento cognitivo Pré-operacional (de 2 a 7 anos) e que, se
utilizarmos jogos que estimulem a fantasia, mais facilmente
alcançarão os objetivos que pretendemos, pois estamos
“provocando”, incentivando a aprendizagem.

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O jogo o Gato e o Rato é um exemplo disso, pois tem como proposta valorizar as
conquistas corporais das crianças, trabalhando o equilíbrio, a coordenação e a
cooperação. Neste jogo um círculo é formado pelas crianças que ficam de mãos
dadas e pernas afastadas. Escolhem então duas delas: uma para representar o
gato, e a outra representará o rato. Gato e rato entram no centro da roda; o gato
tenta pegar o rato, passando por entre as pernas das crianças; quando o rato é pego
pelo gato, trocam-se os personagens para que todas tenham a chance de participar.

Sendo assim, o jogo proporciona grandes contribuições para o desenvolvimento da


aprendizagem infantil à medida que enriquece os pensamentos, sentimentos e
ações. Afinal, é por meio dele que a criança “reflete, pensa esse mundo, ao mesmo
tempo em que vai sendo inserida nele”. (Freire, 2000, p.35)

Para saber mais, consulte:

http://www.sistemauno.com.br/index.asp?page=institucional/noticia_busca&id=30

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Aula 15: A criança, o jogo e o outro no universo das interações


sociais

Na aula anterior nossa preocupação esteve voltada para as questões que envolvem
o jogo e a aprendizagem infantil.

Hoje, nosso encontro será com o teórico Lev Semenovich Vigotski , sob a vi-são das
autoras Rossetti-Ferreira (1997) e Friedmann (1996), e abordaremos o tema: a
criança, o jogo e o outro no universo das interações sociais.

Segundo Friedmann (1996, p. 65) “[...] Vigotski , que se aprofundou no estudo do


papel das experiências sociais e culturais a partir da análise do jogo infantil, afirma
que no jogo a criança transforma, pela imaginação, os objetos produzidos
socialmente”.

Assim, os conhecimentos vão sendo construídos pelos educandos dentro desse


processo, bem como a individualidade de cada criança que participa dessa
interação, que o própriojogo propicia.

Tais interações configuram-se nos momentos em que a criança tem oportunidade


(no nosso caso, dentro do ambiente escolar) de estar com seus pares,
demonstrando o seu modo de pensar, sentir, comunicar, expressar e descobrir,
compartilhando seus caminhos individuais dentro do grupo, influenciando as demais
crianças e sendo por elas também influenciada.

[...] Essa criança e, mais tarde, esse adulto, inserido nos mais
diferentes ambientes, através da interação com parceiros diversos,
vai ter um mundo à sua volta organizado por regras e códigos
simbólicos, diretamente ligados a um determinado momento e
contexto sócio-histórico e aos recursos de que dispõe. Torna-se
assim uma pessoa que reflete a época histórica e o grupo social em
que vive, embora nesse processo construa também suas

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características individuais e únicas (ROSSETTI-FERREIRA, 1997, p.


33).

Lev Semenovich Vigotski (Rússia, 1896-1934), a parte mais conhecida de sua


extensa obra, em seu curto espaço de vida converge para o tema da criação da
cultura. Aos educadores interessa em particular os estudos sobre desenvolvimento
intelectual. Vigotski atribuía um papel preponderante às relações sociais nesse
processo, tanto que a corrente pedagógica que se originou de seu pensamento é o
chamado socioconstrutivismo ou sóciointeracionismo. (Revista Nova Escola – A
Revista do Professor. Edição Especial: Os Pensadores. Editora Abril, 2004).

Portanto, o meio social oferece experiências e trocas de experiências únicas entre


os pequenos, proporcionando a construção de novos conhecimentos, que se dá,
sobretudo, pela interação social.

Para concluir, gostaria de que você refletisse acerca dos tipos de jogos que têm
como objetivo trabalhar a interação entre as pessoas, mas isso é assunto para um
outro momento.

Até logo!!!

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Aula 16: O jogo e o papel do educador

No nosso último encontro abordamos o tema: a criança, o jogo e o outro no universo


das interações sociais e constatamos, a partir dos estudos de Vigotski, que o meio
social

oferece experiências e trocas de experiências únicas ,entre as crianças, que


propiciam a construção de novos conhecimentos.

Sendo esta a última aula de nossa segunda unidade, falaremos sobre o papel do
professor na promoção das atividades lúdicas em sala de aula.

Antes disso, vamos refletir sobre o que foi estudado nessa unidade, a fim de
responder mentalmente às seguintes questões:

 Em que o professor deve pensar antes de iniciar o trabalho com jogos?


 Como saber os tipos de jogos mais adequados para os alunos?
 O que ele pode fazer para incentivá-los?
 Quais conhecimentos são necessários para que o professor desenvolva uma
prática comprometida com o desenvolvimento da criança?

Podemos dizer, em primeiro lugar, que não basta bom senso e, muito menos, gostar
de criança para desenvolver um trabalho com qualidade. É preciso muito mais que
isso, ou seja, que haja formação específica em educação infantil para efetivar uma
prática pedagógica pautada nos princípios de cuidar e educar, conhecendo a grande
responsabilidade de sua função como um educador.

Facci (2004), ao falar sobre as Ideias vigotskianas , afirma que o ensino possui um
papel muito importante na vida da criança, cabendo ao docente contribuir para a
humanização dos indivíduos. E, segundo a autora, a escola tem a função de
possibilitar aos alunos a apropriação do conhecimento produzido historicamente,
levando em consideração que todo o conhecimento produzido na prática social

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necessita ser novamente produ-zido em cada indivíduo singular. O professor precisa


desenvolver métodos

Referentes aos estudos de Lev SemenovichVigotski que levem ao conhecimento


vinculado à prática social. Ele deve auxiliar a criança a expressar e a desenvolver
por si mesma o que ainda não é capaz de realizar, provocando o seu
desenvolvimento intelectual, físico e afetivo que culminará no desenvolvimento
máximo de suas capacidades. Sendo assim, a ação educativa precisa englobar as
objetivações produzidas ao longo da história e também a humanização das pessoas,
pois o último fato faz com que este trabalho se diferencie de outras formas de
educação.

Diante disso, antes de iniciar o trabalho com os jogos, o educador deve planejar
tanto o espaço de tempo, ou seja, definir o tempo diário que destinará aos jogos,
quanto o espaço físico, isto é, se terá de desenvolver tais atividades na classe, no
pátio, no parque ou em outros locais. Deverá selecionar, também, os materiais e/ou
brinquedos que serão necessários para utilização durante os jogos.

Contudo, a fim de identificar os jogos mais adequados para trabalhar com nossos
alunos, é importante que observemos o comportamento deles enquanto brincam,
procurando perceber o grau de interesse e motivação de cada um, bem como o seu
desenvolvimento vem acontecendo.

Após observar tudo o que foi sugerido, ainda não devemos partir para o jogo.
Estabelecer combinados com as crianças é o próximo passo. Impor regras não é o
melhor caminho, pois devemos democratizar as escolhas, pois juntos decidiremos o
que pode ou não ser feito. Assim, possibilitaremos um espaço de interação com
troca de ideias, vivências e experiências, atitudes que também contribuem para o
desenvolvimento do raciocínio lógico.

Se agirmos dessa forma, já estaremos dando um grande passo para despertar na


criança o interesse em participar dos jogos que serão propostos, uma vez que tudo
foi decidido junto com ela.

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Por fim, ainda é importante frisar que: um educador que dispõe de uma boa
formação para lidar com a criança pequena, com certeza não irá esquecer que os
jogos podem ser propostos por ele, mas nunca impostos. Os educandos devem
participar da escolha para que tenham a oportunidade de expressar suas opiniões e
para que possam desenvolver, assim, a iniciativa, a criatividade e a tão desejada
autonomia, pois a criança não somente aceita as regras, mas as questiona.

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Resumo - Unidade II

Chegamos ao final da nossa segunda unidade, cuja proposta foi realizar um estudo
acerca do jogo no desenvolvimento e na aprendizagem infantil, buscando analisar
suas contribuições, principalmente no campo educacional.

Vimos que não existe uma definição única, bem como não há uma teoria
universalmente aceita sobre o jogo, mas existem vários estudos importantes.

Concentramos nossos estudos nas três estruturas de jogos que permeiam o


universo infantil teorizadas por Piaget. Os jogos de exercícios, os simbólicos e os de
regras, nos quais conseguimos perceber que todos eles comprovam que a criança,
desde a mais tenra idade, incorpora o lúdico em suas ações possuindo o desejo pela
descoberta.

Em seguida, trabalhamos com os jogos tradicionais, destacando sua importância,


uma vez que fazem parte dos traços culturais de nossa sociedade. Por isso, não
devem ser vistos como algo ultrapassado ou esquecido, principalmente na sala de
aula, pois os educadores devem trabalhar e respeitar a cultura infantil.

Por outro lado, observamos que o jogo mudou bastante com o passar dos anos e
são vários os fatores que ocasionaram essas transformações, tais como: a
diminuição do espaço físico; a diminuição do espaço temporal; o aumento das
fábricas de brinquedos e a influência da mídia na vida infantil. É o que explica a
necessidade de resgatarmos os jogos tradicionais para o nosso cotidiano devido às
contribuições que podem proporcionar para o desenvolvimento da criança pequena.

Constatamos, também, com base nos estágios do desenvolvimento cognitivo de


Piaget, a influência do jogo no desenvolvimento infantil. Nós nos preocupamos,
inclusive, com as questões que envolvem o jogo e a aprendizagem. Em
conseqüência disso, percebemos que o desenvolvimento encontra-se intimamente
ligado à aprendizagem, pois as crianças conhecem conforme o estágio de
desenvolvimento em que se encontram, uma vez que é por meio das diferentes

PEDAGOGIA 54
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maneiras de aquisição de conhecimentos (aqui entra o jogo) que a aprendizagem


ocorre.

Refletimos sobre a criança, o jogo e o outro no universo das interações sociais e


constatamos, a partir dos estudos de Vygotsky, que o meio social oferece
experiências e trocas de experiências únicas entre os pequenos, o que proporciona
a construção de novos conhecimentos que ocorrem, sobretudo, pela interação
social.

Para concluir, falamos acerca do papel do professor na promoção das atividades


lúdicas em sala de aula, sobretudo os jogos, e ressaltamos que não basta bom
senso e, muito menos, gostar de criança para desenvolver um trabalho com
qualidade. É preciso que haja formação específica em educação infantil para efetivar
uma prática pedagógica pautada nos princípios de cuidar e educar, conhecendo a
grande responsabilidade de sua função como um educador.

Como você pode ver, mais uma unidade ficou para trás.

Agora, respire fundo e prepare-se, porque a terceira unidade está ainda mais
interessante. Vamos lá?

Referências Bibliográficas

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Volume I:


Introdução; Volume II: Formação Pessoal e Social; Volume III: Conhecimento de
Mundo (Vol. 3). Brasília: MEC/SEF, 1998.

FACCI, Marilda Gonçalves Dias. Valorização ou esvaziamento do trabalho do


professor? Um estudo críticocomparativo da teoria do professor reflexivo, do
construtivismo e da psicologia vigotskiana. Campinas: Autores Associados, 2004.

FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação


física. 3. ed. São Paulo: Scipione, 1992.

FREIRE, Madalena. Jogo e pensamento (I). Revista Infância na Ciranda da

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Educação. Belo Horizonte: Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da

Educação: n. 4, p. 35-36, fev. 2000.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar, crescer e aprender - o resgate do jogo infantil. São


Paulo: Moderna, 1996.

ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde. Tornar-se humano. Revista Infância na


Ciranda da Educação. Belo Horizonte: Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais
da Educação: n. 3, p. 29-33, nov. 1997.

WOOLFOLK, Anita E. Psicologia da educação. Tradução: Maria Cristina

Monteiro. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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Aula 17: O que é, o que é brincar?

Neste momento, estamos iniciando nossa terceira unidade, cuja proposta é


apresentar um panorama teórico sobre o brincar, mas como faremos isso?

Começaremos pelo significado das palavras, obviamente!

Ao nos referirmos a um panorama, significa que pretendemos proporcionar uma


visão ampla e teórica sobre o assunto, porque buscaremos de maneira racional
conhecimentos não ingênuos acerca do brincar. Parece complicado? Mas não é!

Para que você entenda melhor, explicaremos de outra forma: nosso intuito é mostrar
que o brincar deve ser levado a sério, ou seja, deve ter um espaço permanente nas
escolas de Educação Infantil.

Na aula de hoje falaremos sobre essa palavra simples: brincar. Trata-se de uma
palavra aparentemente simples, mas que, ao ser praticada, ganha uma dimensão
significativa enorme.

Afinal, o que é brincar?

O Novo Dicionário Eletrônico Aurélio (século XXI) apresenta várias definições para
esta palavra. Vejamos três delas: “ [...] 1.Divertir-se infantilmente; entreter-se em
jogos de crianças; 2. Agitar-se alegremente; foliar, saltar, pular, dançar; 3.Dizer ou
fazer algo por brincadeira; zombar, gracejar.” Você pode perceber que o brincar está
intimamente ligado à ludicidade, à alegria, à espontaneidade e, principalmente, às
crianças (apesar de sabermos que não só as crianças brincam). Nosso papel,
enquanto educadores, é redescobrir as possibilidades da brincadeira no cotidiano
escolar, identificando o brincar como instrumento de aprendizagem e, sobretudo,
como um grande “parceiro” na construção da autonomia das crianças.

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De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

– Volume 1:

[...] No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos, os espaços


valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar
as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhes deram
origem, sabendo que estão brincando (Brasília: MEC/SEF, 1998,
p.27).

Podemos perceber, assim, que, por meio da brincadeira, a criança se desenvolve,


pois investiga, descobre e compreende o mundo que a cerca, agindo sobre ele.

[...] Por fim, o brincar deveria estar sendo posto constantemente em


questão e prática em nossas instituições, principalmente aquelas que
lidam com crianças, pois no brincar, não se aprendem somente
conteúdos escolares, aprende-se algo sobre a vida e a constante
peleja que nela travamos. (Pereira, 2002, p.7).

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Aula 18: O papel do brincar

Na aula passada falamos sobre o significado da palavra brincar, e suas dimensões,


com o intuito de mostrar que o brincar deve ser levado a sério, ou seja, deve ter um
espaço permanente nas escolas de Educação Infantil. Na aula de hoje veremos o
papel do brincar na vida da criança pequena, bem como as contribuições que esta
atividade é capaz de trazer para o desenvolvimento das potencialidades infantis.

É brincando que a criança se apropria do mundo à sua volta, constrói sua própria
realidade, e dá a ela um significado. Esta atividade configura-se como uma das
muitas formas de construção dos saberes infantis, permite a interação com o outro e
o desenvolvimento dos aspectos afetivos, cognitivos, emocionais e físicos a partir da
“dramatização” de diferentes papéis.

O ato de brincar é tão antigo que não sabemos quem brincou primeiro, não é
mesmo?

Desde o primeiro jardim de infância1 inaugurado no Brasil em 1875, segundo


Kishimoto (1988), já se pensava na importância de se trabalhar o lúdico, uma vez
que utilizar a brincadeira como parte da proposta educativa surgiu com Friedrich
Froebel em 1840.

Froebel criou, na Alemanha, a modalidade infantil nomeada jardim de infância ou


Kindergarten, que priorizava o uso pedagógico de jogos e brinquedos, atribuindo à
“professora”, à escola e à família, em conjunto, a função de propiciar o
desenvolvimento moral, intelectual, emocional e físico da criança.

Naquela época, o Kindergarten froebeliano, que era frequentado por crianças com
idade entre 3 e 7 anos, já pretendia (por meio de sua proposta curricular que estava
pautada no contato com a natureza, no cuidado com o corpo, na formação religiosa,

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no trabalho com o canto, poesias, exercícios manuais, desenhos e passeios)


estimular o desenvolvimento integral da criança pequena com base em atividades
lúdicas e de cunho educativo.

Como podemos perceber, a ideia de inserir o lúdico nas instituições infantis não é
recente, assim como a prática pedagógica que parte da realidade da criança para
ampliar-se, a fim de trabalhar as potencialidades dos educandos. Froebel pensou e
implantou essas ideias. A partir dele vários educadores começaram a perceber a
importância do brincar e passaram a acreditar e a incentivar o trabalho com o lúdico
dentro dos ambientes escolares.

É difícil elencar todas as contribuições que o brincar pode trazer para a criança,
porém, algumas são impossíveis de esquecer, como o favorecimento da autoestima
e da interação junto às outras crianças e o desenvolvimento da autonomia a partir da
iniciativa que exercita todas as vezes em que a criança entra em contato com o
lúdico.

Para saber mais, consulte:

http://www.fe.usp.br/laboratorios/labrimp/escola.htm acessado em 03/12/2007.

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1
Criado pelo médico/educador Menezes Vieira e instalado na cidade do Rio de Janeiro, o
Jardim de Crianças do Colégio Menezes Vieira, tinha como objetivo atender as crianças da
elite carioca, sendo de responsabilidade da iniciativa privada.

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Aula 19: O brincar e o faz-de-conta

Durante o nosso último encontro discutimos acerca do papel do brincar na vida da


criança pequena, bem como as contribuições que esta atividade é capaz de trazer
para o desenvolvimento das potencialidades infantis.

Hoje, falaremos um pouco sobre a relação entre o brincar e o faz-de-conta.

De acordo com Pereira:

[...] As brincadeiras alimentam o espírito imaginativo, exploratório e


inventivo do faz-de-conta e a isso chamamos de lúdico. Brincar tem o
sabor de desconhecer o que se conhece, pois cada brincadeira é um
universo a ser sempre (re) descoberto, (re) vivido, (re) aprendido.
(PEREIRA, 2002, p. 07)

Assim, o faz-de-conta possui uma importância e um significado muito grande para a


criança e para os adultos que a cercam e se preocupam com ela, pois é capaz
expressar seus sentimentos por meio desta atividade, afinal, “não se faz-de-conta
que se faz-de-conta, e brincar não é uma mentira, é uma atitude em que tudo de si
está presente (idem, p.07)”.

Brincar permite à criança não somente demonstrar alegrias e coisas que a fazem
bem; permite também que venham à tona os seus anseios, angústias, conflitos e
tristezas, ou seja, as coisas que lhe incomodam, pois muitas vezes, durante essas
situações lúdicas, ela expressa o que sente e/ou sofre passivamente.

Enquanto brincam, os educandos estruturam o seu próprio mundo, recordam os


acontecimentos que vivenciaram ativamente e dão a eles uma resposta, um

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significado. Finalmente, por meio do jogo simbólico, eles aprendem a atuar, a


possuir iniciativa, pois têm a curiosidade e as atividades autônomas estimuladas.

Então, vejamos:

A brincadeira é permeada por coisas que surgem da imaginação da criança, e,


apesar de não ser verdadeira, também não é uma mentira. No entanto, ao mesmo
tempo, podem expressar verdadeiramente situações boas ou ruins que vivenciam
em seu cotidiano, uma vez que tais pensamentos e atitudes vieram do mundo real e
foram para o universo do “faz-de-conta”. Isso é muito interessante.

Isso lhe parece complicado? Basta observar uma criança brincando para que você
possa descobrir que tudo isso é, de fato, muito simples, pois será possível ver na
prática como tudo acontece. Experimente.

Até a próxima aula!!!

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Aula 20_Analisando as situações do brincar

Na aula anterior constatamos que o faz-de-conta possui uma importância e um


significado enorme para a criança e para os adultos que a cercam, pois, por meio
desta atividade, ela expressa seus sentimentos de maneira saudável e lúdica.

Nesta aula veremos como são observadas as situações do brincar de acordo os


estudos apresentados na Psicologia, na Sociologia, na Antropologia e na Arte. Cada
uma dessas áreas procura, segundo Pereira (2002), respostas para entender o que
está por trás do “fenômeno” brincar, apontando diversos caminhos e diferentes
modos de compreender e interpretar a brincadeira. A Psicologia observa os
significados que a brincadeira representa na vida da criança, em especial, porque é
uma ciência que estuda os fenômenos psíquicos e o comportamento. Todos os
movimentos e reações são vistos atentamente e indicam vários traços de quem está
brincando, ou seja, são expressões de como a criança vê o mundo e como deseja
que ele seja.

Assim, ela representa e demonstra sua realidade brincando de casinha, de


escolinha, entre outros.

A Sociologia, por estudar principalmente as relações que se estabelecem entre


pessoas dentro de uma sociedade, e a Antropologia, por refletir acer-ca do ser
humano e do que lhe é específico, observam o que está contido numa brincadeira e
são capazes de mostrar como se organiza uma cultura, uma vez que a criança, ao
brincar, expõe acontecimentos e seres imaginários que simbolizam aspectos da vida
humana e representam fatos ou personagens.

A Arte, por ser uma atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de
espírito de caráter estético e carregados de vivência pessoal, observa o brincar
como algo parecido com o fazer artístico, pois é por meio dele que a criança cria
uma música, faz um desenho, pinta, escreve um conto, entre outros.

Você deve estar se perguntando... E quanto à educação?

PEDAGOGIA 64
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Como observa o brincar?

Na educação, o brincar tem sido foco de diversos estudos, os quais têm revelado
que a brincadeira começa a ser vista como um importante instrumento pedagógico.

No entanto, os educadores devem refletir como e em que momento podem usar o


brincar como um instrumento de aprendizagem.Sei que muitas vezes pensamos: o
brincar pode envolver qualquer atividade em sala de aula? A resposta seria: sim e
não. Sim, à medida que o conteúdo a ser trabalhado possibilite que a criança
desenvolva suas habilidades ao descobrir, imaginar e participar da brincadeira. Não,
quando a criança é “obrigada” e limitada a fazer aquilo que o educador espera que
ela faça, sem que possa utilizar o faz-de-conta, a imaginação e tenha como função
apenas encontrar soluções para perguntas e questionamentos do conteúdo
proposto.

Ficamos, então, por aqui. Até a próxima aula!

PEDAGOGIA 65
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Aula 21_O brincar e a aprendizagem

Na aula anterior verificamos como são observadas as situações do brincar de


acordo os estudos apresentados na Psicologia, na Sociologia, na Antropologia e na
Arte. Vimos também que, na educação, a brincadeira tem sido vista como
importante instrumento pedagógico. Hoje, daremos prosseguimento ao que falamos
na aula anterior, quando começamos a questionar sobre como e em que momento é
possível usar o brincar como um instrumento de aprendizagem.

Já falamos, anteriormente, sobre a importância da formação do educador para lidar


com crianças pequenas, e também já dissemos que não basta bom senso, ou
possuir “dotes” maternais para trabalhar com elas. É preciso, ainda, ir além da
formação inicial, buscando um desenvolvimento profissional 1, pois é dessa maneira
que se “constrói” um profissional capaz de realizar seu papel. Não podemos
esquecer, é claro, de que cada um de nós deposita na ação pedagógica não
somente os conhecimentos construídos, mas também nossa subjetividade, algo que
faz com que nos tornemos únicos e que tenhamos uma prática única.

Assim, o educador, que utiliza sua prática tendo como real finalidade auxiliar no
desenvolvimento pleno da criança, consegue trabalhar o brincar como um
instrumento pedagógico de maneira coerente e responsável. Consegue, também, ao
planejar sua aula, colocar-se no lugar das crianças antes de propor determinada
brincadeira, avaliando se esta é realmente adequada ou não.

Portanto, o brincar e a aprendizagem, principalmente na Educação Infantil, podem


caminhar juntos, porque, de um lado, as brincadeiras configuram-se como
instrumentos valiosos que desafiam a criança a descobrir e a compreender a
realidade em que está inserida; por outro lado, a aprendi-zagem acontece de
maneira mais agradável e significativa à medida que o lúdico se faz presente e lhe
proporciona situações que instigam suas capacidades cognitivas.

Por fim, um fator que nunca deve ser esquecido:

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O educador precisa ter sensibilidade para respeitar e perceber as iniciativas dos


educandos, bem como sempre tomar cuidado para não dirigir, nem interferir na
atividade, a não ser que se faça realmente necessário.

1
O desenvolvimento profissional abarca a ideia de olhar para o professor como sujeito de
sua própria identidade, considerando-o um sujeito reflexivo que olha para sua prática com
criticidade e como objeto de pesquisa. Surge, então, um novo paradigma denominado
desenvolvimento profissional, pois é aquele que entende que o professor está em constante
aprendizado e, consequentemente, em constante evolução, sem, no entanto, desconsiderar
a sua identidade profissional. (SILVA, Juliana Motta da. Sugestões para a Constituição de

PEDAGOGIA 67
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um Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Profissional de Professores da Educação do


Município de Hortolândia , tese em nível de Pós-Graduação Stricto Sensu).

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Aula 22_O brincar na perspectiva da “recreação”

Na nossa última aula discutimos a importância do brincar na aprendizagem,


chegando à conclusão de que ambos podem caminhar juntos, principalmente na
Educação Infantil, pois as brincadeiras configuram-se como instrumentos valiosos
que desafiam a criança a descobrir e a compreender a realidade em que está
inserida, e, assim, a aprendizagem acontece de maneira mais agradável e
significativa à medida que o lúdico se faz presente e lhe proporciona situações que
instigam suas capacidades cognitivas.

Nesta aula veremos o inverso, pois falaremos a respeito do brincar sem propósito,
ou seja, do brincar por brincar, sem que este seja aplicado na aprendizagem da
criança. Para isso, teremos como base os estudos de Lima (2005, p. 175), onde
argumenta que: “[...] Brincar, nesse contexto, é concebido como ‘recreação’, lugar
para a criança gastar energia excedente ou, ainda, um meio para tapar ‘buracos’ que
surgem no processo de organização da rotina escolar.”

Alguns educadores, muitas vezes, não utilizam o brincar em sua prática pedagógica
por não possuírem conhecimentos teórico-práticos para fazê-lo. Por isso, acabam
usando a brincadeira somente como uma forma de levar a criança para gastar
energia, para passar o tempo ou simplesmente para relaxar.

Existem também aqueles que fazem uso do brincar unicamente para atrair a atenção
dos educandos ao conteúdo. Neste caso, a brincadeira configura-se como um meio
para diversificar o trabalho pedagógico em que o professor determina tudo o que
será realizado e a criança apenas executa os passos sugeridos, trazendo o
resultado. Tal atividade não pode assim configurar-se como uma brincadeira, uma
vez que não foi dada a oportunidade ao educando para escolher os caminhos a
serem trilhados e explorados.

Desta forma, as contribuições que a brincadeira poderia proporcionar para o


desenvolvimento das “capacidades humanas da criança” (idem, p. 158), não são
consideradas e muito menos aproveitadas, uma vez que não houve liberdade de agir

PEDAGOGIA 69
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sobre ela. Por isso, nós nos reportamos novamente a Lima (2005), quando afirma
que é essencial que o educador:

[...] Conceba a criança como um ser interativo, imaginativo, ativo e


lúdico; descubra o potencial de desenvolvimento e aprendizagem
que está por trás das brincadeiras e exerça o seu papel, isto é, ajude
a estruturar o espaço, o tempo, os conteúdos e os argumentos da
atividade lúdica (p.177).

Sendo assim, não basta apenas inserir o brincar em nossa prática pedagógica, pois
é preciso que estejamos preparados e seguros para utilizá-lo de maneira adequada,
ou seja, permitindo que este desempenhe o seu papel auxiliando no
desenvolvimento da criança e preparando-a para viver em sociedade de maneira
autônoma e participativa.

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Aula 23_Brincar e aprender com parlendas

Na aula anterior falamos a respeito do brincar na perspectiva da “recreação”, ou


seja, do brincar por brincar, sem que haja intenções de aplicar esses momentos na
aprendizagem da criança. Verificamos também que, desta forma, as contribuições
que a brincadeira poderia proporcionar ao desenvolvimento das “capacidades
humanas da criança” não são consideradas, muito menos aproveitadas.

Hoje priorizaremos o campo prático, propondo algumas atividades que podem nos
auxiliar no trabalho lúdico com as crianças, embora seja necessário que observemos
o momento certo para colocá-las em ação.

Trabalharemos com as parlendas. Você sabe o que é isso? Se não sabe, com
certeza já ouviu. Veja só:

Jacaré passeando na lagoa

Viu um peixinho

Abriu a boquinha

Nhoct, nhoct, nhoct

Você se lembrou dessa?

As parlendas são rimas infantis, em versos de cinco ou seis sílabas, cujo objetivo é
divertir, ajudar a memorizar ou escolher quem fará tal ou qual brinquedo.

Sabemos que muitas são as formas de brincar, e uma de suas funções é


proporcionar a interação entre a criança e o outro com seus pares. Assim, as
parlendas permitem que a criança se veja integrada ao grupo, bem como tenha
“noção” de sua importância dentro dele. A linguagem melódica, ao ser pronunciada,
expressa os sentimentos individuais e coletivos. A criança precisa do outro para
dizer uma parlenda, uma vez que pronunciá-la sozinha, “não tem graça”, afinal o que

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dá vida à brincadeira é a entonação das palavras. Portanto, ao incluir parlendas em


nossas aulas, estaremos incluindo também sentimentos, emoções e conhecimentos
no processo de aprendizagem.

Vejamos1:

Como podemos trabalhar as parlendas propostas?

Uma forma seria compor uma roda da conversa, ou seja, sentar em círculo com as
crianças a fim de discutir um assunto, neste caso, uma conversa sobre parlendas.
Pergunte a elas se sabem o que é uma parlenda, se conhecem as citadas acima, se
já ouviram outras e de que maneira gostariam de brincar utilizando-as. Desta forma,
será trabalhada, além dos aspectos lúdicos, a linguagem oral, bem como será
possível contribuir para a construção de novos conhecimentos. Conforme a atividade
decidida pelo grupo, os aspectos trabalhados podem variar...

Ficamos por aqui! Até a próxima aula!

______

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1
Tais parlendas foram retiradas do livro: Quem canta seus males espanta: mais músicas,
parlendas, adivinhas e trava-línguas. Volume 2. Editora Caramelo, 2000. Coordenado por
Theodora Maria Mendes de Almeida.

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Aula 24_Brincar e aprender com cantigas

Estamos chegando ao final de mais uma unidade. Espero que você tenha
aproveitado nossas aulas e que tenha conseguido ampliar seus conceitos a respeito
brincar. Na aula passada vimos algumas possibilidades de trabalhar o brincar junto
às crianças a partir das parlendas. Daremos continuidade a esta proposta na aula de
hoje, porém utilizando as cantigas de roda.

Antes de começarmos, gostaria de que você procurasse lembrar:

Você brincava por meio de cantigas de roda? Qual cantiga você mais gostava? Se
tivesse oportunidade, ainda saberia brincar?

Com certeza alguma cantiga de roda marcou a nossa infância.

As cantigas estimulam, sobretudo, a criatividade, a interação e a atenção, pois


trabalham os aspectos físicos por meio do movimento, os psicológicos por meio das
emoções, o intelectual por meio da memorização, da atenção e do desafio e os
sociais na medida em que, para ser realizada, necessita do envolvimento do grupo.
Ao contrário do que muitos pensam, as cantigas de roda não estão ultrapassadas,
pois possuem em seu bojo o folclore popular e as tradições regionais, isto é, nunca
saem da moda! Ao participar de uma brincadeira desse tipo, a criança entra em
contato com as diferentes culturas, expressando espontaneamente sua música e
letra, bem como suas emoções.

A cantiga de roda que aqui iremos propor é bastante conhecida, porém


apresentaremos também uma variação da mesma, cuja letra pode ser discutida em
roda da conversa com as crianças.

Atirei o pau no gato1

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A cantiga de roda proposta é bastante conhecida e pode estar contida em muitos


livros infantis. Para escrevê-la não consultei livros, apenas utilizei minhas
experiências como professora na educação infantil, de acordo com a proposta da
aula e consequentemente, da disciplina. Quanto à variação da cantiga, aprendi no
cotidiano escolar, ou seja, com os demais professores e alunos.

Convidar as crianças para fazer uma roda de mãos dadas. Girar enquanto todos
cantam música e, ao falarem Miau, todos se agacham juntos.

Já que falamos bastante a respeito do brincar, nada mais apropriado do que


terminarmos mais uma unidade com essa brincadeira, não é mesmo? Até a próxima!

Para saber mais, consulte:

http://efartigos.atspace.org/efescolar/artigo39.html acessado em 03/12/2007.

1
A cantiga de roda proposta é bastante conhecida e pode estar contida em muitos livros
infantis. Para escrevê-la não consultei livros, apenas utilizei minhas experiências como
professora na educação infantil, de acordo com a proposta da aula e consequentemente, da
disciplina. Quanto à variação da cantiga, aprendi no cotidiano escolar, ou seja, com os
demais professores e alunos.

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Aula 25_O jogo, o brinquedo e a brincadeira: seus vários


significados

A partir desta aula iniciamos nossa quarta unidade, que tem como tema: criando um
espaço de brincar: o jogo, o brinquedo e a brincadeira – significados, características,
classificação. Privilegiaremos esse espaço para brincar dentro de uma abordagem
educacional.

Para começarmos, nós nos basearemos, nesta aula, nos estudos de Friedmann
(1996) para tentar conceituar e caracterizar o jogo, o brinquedo e a brincadeira.
Vamos lá?

Como já mencionei em aulas anteriores, existem muitos debates e confusões com


relação às noções de jogo, brinca-deira, brinquedo e atividade lúdica, uma vez que
não há uma explicação universalmente aceita para esses termos. Por isso, no
decorrer de nossos estudos não temos visto apenas um significado para os
mesmos, de modo a ampliar nossos conceitos e possibilidades.

Segundo Friedmann:

[...] Brincadeira refere-se, basicamente, à ação de brincar, ao


comportamento espontâneo que resulta de uma atividade não
estruturada; Jogo é compreendido como uma brincadeira que
envolve regras; Brinquedo é utilizado para designar o sentido do
objeto brincar; atividade lúdica abrange, de forma mais ampla
osconceitos anteriores. (FRIEDMANN, 1996, p. 12)

Tendo em vista que na Unidade I falamos sobre o lúdico, na Unidade II falamos


sobre os jogos e na Unidade III sobre o brincar, além de termos trabalhado suas
definições, nós nos deteremos, neste momento, aos conceitos de brincadeira
e brinquedo.

PEDAGOGIA 76
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Então, vejamos:

Friedmann (1996) entende que a brincadeira é o brincar realizado na


prática, a qual ocorre de forma natural e não organizada, enquanto
brinquedo é um objeto que dá sentido ao brincar.

Já no Novo Dicionário Eletrônico Aurélio (século XXI), encontramos as seguintes


definições para esses termos:

[...] Brincadeira: entendida como o ato ou efeito de brincar;


divertimento, sobretudo entre crianças; brinquedo, jogo; passatempo,
entretenimento; gracejo, pilhéria.

Brinquedo: objeto que serve para as crianças brincarem; jogo de crianças;


brincadeira.

Provavelmente, você deve estar percebendo as controvérsias que se fazem


presentes nas definições dessas palavras, mas não se desespere, pois o que
acontece é que cada uma delas está intimamente ligada à outra, variando conforme
o contexto onde são empregadas.

Para contribuir a esta discussão, consulte o texto sobre jogos e brincadeiras no


contexto escolar. No nosso ambiente virtual de aprendizagem indicamos um link
sobre o assunto na tela desta aula. Veja e colabore com a sua opinião!

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Aula 26_Caracterizando o jogo, o brinquedo e a brincadeira

Na aula passada conversamos sobre o significado das palavras: jogo, brinquedo,


brincadeira e atividade lúdica. Porém, nós nos preocupamos em conceituar de uma
maneira mais ampla os termos brincadeira e brinquedo, à medida que os demais já
haviam sido enfocados nas unidades anteriores. O objetivo da aula de hoje é
caracterizar o jogo, o brinquedo e a brincadeira. Porém, antes de tentarmos alcançar
esse objetivo, é importante destacar que, sendo confusas as definições desses
termos ora vistos como sinônimos, ora como opostos, ora como consequência um
do outro, ou ainda, como se possuíssem uma relação de interdependência, ao
procurarmos caracterizá-los, tal tarefa não é tão simples. Você irá perceber que, ao
falarmos sobre o jogo, estará presente a brincadeira e o brinquedo, e vice-versa,
como se um dependesse do outro, como se estivessem inseridos, interligados.

Os estudos de Kishimoto (1999) demonstram claramente essas dificuldades de


conceituação acerca do jogo, do brinquedo e da brincadeira e, por esse motivo,
busca essas definições em diversos autores de diferentes épocas da história e
regiões geográficas. Aceita um desafio? Partindo do princípio de que estamos em
contato com o jogo, o brinquedo e a brincadeira no ambiente escolar como meio
educacional, então, esses devem acontecer de acordo com a realidade, levando em
consideração o meio ambiente, os objetos físicos e sociais. De acordo com as ideias
de Freire (1992):

[...] Num contexto de educação escolar, o jogo proposto como forma


de ensinar conteúdos às crianças aproxima-se muito do trabalho, não
se trata de um jogo qualquer, mas sim de um jogo transformado em
instrumento pedagógico, em meio de ensino.

É preciso tomar muito cuidado para que este não perca seu caráter
lúdico. Friedmann (1996, p. 78) realizou uma pesquisa em que formulou as

PEDAGOGIA 78
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características dos jogos tradicionais. Então, utilizaremos como base parte desses
estudos, buscando caracterizar o jogo, o brinquedo e a brincadeira dentro do
contexto escolar. Assim: estão organizados em um conjunto de regras; acontecem
em um determinado espaço de tempo; são, na maioria, coletivos, embora apareçam
alguns de caráter individual; são jogos (brincadeiras) que prescindem, em geral, do
uso de objetos ou brinquedos.

Podemos perceber que todas essas características são adequadas às brincadeiras e


jogos em geral, principalmente porque esses três conceitos encontram-se
intimamente relacionados. Agora, cabe a você refletir se é preciso ou não que exista
distinção conceitual entre os termos jogo, brinquedo e brincadeira. Afinal, se os
grandes teóricos possuem ideias divergentes, nós também temos esse direito, não é
mesmo? Pense.

Até a próxima aula!!!

PEDAGOGIA 79
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Resumo - Unidade III

Chegamos ao final da nossa terceira unidade cuja proposta foi apresentar um


panorama teórico sobre o brincar, de modo a proporcionar uma visão ampla do
assunto, assim como foram buscados, de maneira racional, conhecimentos não
ingênuos acerca do brincar e mostrando que este deve ser levado a sério, a fim de
que haja um espaço privilegiado e permanente nas escolas de Educação Infantil.

Conversamos sobre o papel do brincar na vida da criança pequena, bem como as


contribuições que esta atividade é capaz de trazer para o desenvolvimento das
potencialidades infantis.

Descobrimos que a ideia de inserir o lúdico na prática pedagógica das instituições


infantis não é recente, pois Fröebel pensou e implantou essas ideias. A partir dele,
vários educadores começaram a perceber a importância do brincar, passando a
incentivar o trabalho com o lúdico dentro dos ambientes escolares.

Vimos que o faz de conta possui uma importância e um significado muito grande
para a criança e para os adultos que a cercam, pois, por meio desta atividade, ela
expressa seus sentimentos de maneira saudável e lúdica.

Verificamos como são observadas as situações do brincar de acordo com os


estudos apresentados: na Psicologia, que observa os significados que a brincadeira
representa na vida da criança; na Sociologia e na Antropologia, que observam o que
está contido numa brincadeira, uma vez que a criança ao brincar expõe
acontecimentos e seres imaginários que simbolizam aspectos da vida humana e
representam fatos ou personagens; na Arte, que observa o brincar como algo
parecido com o fazer artístico, pois é por meio dele que a criança cria uma música,
faz um desenho, pinta, escreve um conto, entre outros, e que, na educação, a
brincadeira tem sido vista como importante instrumento pedagógico.

Discutimos também a importância do brincar na aprendizagem, chegando à


conclusão de que ambos podem caminhar juntos, principalmente na Educação
Infantil, pois as brincadeiras configuram-se como instrumentos valiosos que

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desafiam a criança a descobrir e a compreender a realidade em que está inserida.


Assim, a aprendizagem acontece de maneira mais agradável e significativa à
medida que o lúdico se faz presente e lhe proporciona situações que instigam suas
capacidades cognitivas.

Falamos, ainda, a respeito do brincar na perspectiva da “recreação”, ou seja, do


brincar por brincar, sem que este seja aplicado na aprendizagem da criança.
Verificamos também que, desta forma, as contribuições que a brincadeira poderia
proporcionar para o desenvolvimento das “capacidades humanas da criança” não
são consideradas, muito menos aproveitadas.

Por fim, priorizamos o campo prático, propondo algumas atividades que podem nos
auxiliar no trabalho lúdico com as crianças, como as parlendas e as cantigas de
roda, embora devamos observar o momento certo para colocá-las em ação.

Metade do nosso curso já ficou para trás. Você percebeu como foi rápido e fácil?

Vamos, então, dar início à quarta unidade?

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Theodora Maria Mendes de. Quem canta seus males espanta: mais
músicas, parlendas, adivinhas e trava-línguas. Volume 2. São Paulo: Caramelo,
2000.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Vo-lume I:


Introdução; Volume II: Formação Pessoal e Social; Volume III: Co-nhecimento de
Mundo (Vol. 3). Brasília: MEC/SEF, 1998.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar, crescer e aprender - o resgate do jogo infantil. São


Paulo: Moderna, 1996.

FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da edu-cação


física. 3. ed. São Paulo: Scipione, 1992.

PEDAGOGIA 81
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KISHIMOTO, Tizuko M. (1988). Os jardins de infância e as escolas ma-ternais de


São Paulo no início da República. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n. 64, p. 57-
60, 1988.

LIMA, José Milton. A brincadeira na teoria histórico-cultural: de prescin-dível a


exigência na educação infantil. In: GUIMARÃES, Célia Maria (org).

Perspectivas para a Educação Infantil. Araraquara: Junqueira & Marin editores,


2005.

PEREIRA, Eugênio Tadeu. Brinquedos e Infância. Revista Criança do Pro-fessor


de Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF: N. 37, p.7-9, nov. 2002.

PEDAGOGIA 82
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Aula 27_Classificação: jogos e brincadeiras?

A aula anterior teve como objetivo caracterizar o jogo, o brinquedo e a brincadeira


como meio educacional, demonstrando que tal tarefa não é tão simples, na medida
que existem variadas e diferentes interpretações dos termos em questão.

Nesta aula nossa preocupação está centrada em classificar os jogos e brincadeiras1

Muitas são as possibilidades para classificar os jogos e as brincadeiras na educação


infantil, uma vez que tais classificações variam de acordo com os autores.

Piaget, conforme vimos em aulas anteriores, classificou os jogos nos diferentes


estágios de desenvolvimento da criança. Os jogos de exercícios, os simbólicos e os
de regras2, lembra?

Optaremos, então, por utilizar uma classificação que abranja os jogos e brincadeiras
mais focadas por diversos estudiosos e, novamente, teremos por base os estudos
de Friedmann (1996), uma vez que, conforme ela mesma ressalta, “há quase tantas
classificações diferentes quanto autores que tratam do assunto [...]. A lista é grande
e não seria possível citar todos aqui.” (p. 78)

PEDAGOGIA 83
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____
1
Como o foco desta disciplina é a Educação Infantil, optei por classificar os jogos e as
brincadeiras num bloco único, como geralmente acontece em nossas instituições de ensino.
Vale ainda ressaltar que o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil utiliza o
tema jogos e brincadeiras como um único eixo de trabalho.

2
Cabe aqui comentar os jogos de construção que, conforme Piaget apud Friedmann (1996,
p.27), “constituem a transição entre os três tipos e as condutas adaptadas”. Eles não
caracterizam uma fase entre as outras; assinalam uma transformação interna na noção de
símbolo. Ocupam no segundo e no terceiro níveis uma posição entre o jogo e o trabalho
inteligente ou entre o jogo e a imitação.

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Aula 28_Espaço e tempo para brincar

Na última aula nossa preocupação esteve centrada em classificar os jogos e


brincadeiras infantis. Na aula de hoje pensaremos no tempo e nos espaços para
brincar.

Que espaço é tido como adequado nas instituições de Educação Infantil para que as
crianças brinquem, joguem e se divirtam de maneira confortável e adequada?

O tempo das atividades desenvolvidas é planejado de acordo com as necessidades


da criança?

Quantas vezes já ouvimos educadores falando que os conteúdos extensos e as


rotinas obrigatórias impedem que exista tempo para brincar?

Estas questões nos levam a entender o quanto é importante a organização do tempo


e do espaço no ambiente escolar, principalmente porque na Educação Infantil é
essencial que o brincar preencha grande parte desse tempo, aproveitando todos os
espaços disponíveis.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - Volume I propõe que a


organização do tempo seja agrupada em três grandes modalidades, assim divididas:

 Atividades permanentes: cujo tempo é direcionado às atividades lúdicas e de


necessidades básicas de cuidados, tais como brincadeiras livres nos espaços
internos e externos, rodas de conversas e/ou histórias, oficinas de músicas e
desenhos, cuidados com o corpo, entre outras.
 Sequências de atividades: cujo tempo é direcionado a atividades que têm
como proposta promover uma aprendizagem específica, ou seja, trabalhando
de acordo com os conteúdos sugeridos em cada eixo de trabalho proposto no
Referencial. Ex.: eixo→matemática→conteúdo→numerais
 Projetos de trabalho: cujo tempo é direcionado à realização de um projeto
pedagógico que deve ter suas etapas planejadas em conjunto com as

PEDAGOGIA 85
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crianças e um tema relacionado a um dos eixos de trabalho. Ex.: projeto


sobre animais de estimação: eixo→natureza e sociedade.

Essa forma de organização do tempo sugerida pelo Referencial é uma maneira de


administrá-lo dentro do ambiente escolar. Desta forma, o educador poderá garantir
um tempo específico para a criança brincar. Porém, não podemos nos esquecer de
que é possível inserir o lúdico em todas as atividades na Educação Infantil, mes-mo
naquelas direcionadas a conteúdos específicos, desde que tomemos cuidado para
que a brincadeira não perca seu objetivo, tornandose mecânica e imposta, afinal,
você já sabe que o jogo, o brinquedo e a brincadeira devem ser sempre vistos como
grandes “parceiros” na construção de novos conhecimentos de nossas crianças.

PEDAGOGIA 86
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Aula 29_Em foco: a atividade em grupo

Na aula anterior discutimos a importância da organização do tempo e do espaço no


ambiente escolar, uma vez que na Educação Infantil é essencial que o brincar
preencha grande parte do tempo, aproveitando todos os espaços disponíveis.

Nesta aula falaremos sobre a necessidade de realizarmos atividades em grupo com


a criança pequena, pois estas proporcionam, além da interação e da troca de
vivências e experiências, a oportunidade de construir conhecimentos e compartilhá-
los.

O trabalho em grupo permite que as crianças, desde a mais tenra idade, aprendam a
dividir tarefas, unindo-se por meio da ajuda e da organização para resolver os
problemas, desenvolvendo, assim, atitudes cooperativas. Muitas vezes, estas
atividades não acontecem na educação infantil, particularmente porque, em geral, os
conteúdos e as aulas já foram planejados e a criança se torna apenas uma
executora daquilo que lhe é proposto. Não estamos dizendo que esses conteúdos e
aulas não devam ser planejados, ao contrário, mas os educandos devem ser
convidados a participar desse planejamento, isto é, durante as rodas da conversa, é
preciso que sejam convidados a participar desse processo a fim de que tenham
oportunidade para expressar suas opiniões e ideias.

Neste caso, a atividade em um grupo se faz bastante necessária já que, se partimos


da roda da conversa para tomarmos as decisões juntamente com todo o grupo
classe, o mais recomendável depois disso seria dividi-los em pequenos grupos para
que tenham a oportunidade de discussão entre eles. Feita a referida discussão,
todos voltariam à roda para expor suas conclusões.Claro que esta prática de divisão
em grupos para discussão deve respeitar a maturidade da criança! Geralmente,
podemos adotar tal procedimento com crianças entre quatro e cinco anos, não
utilizando muito tempo para que conversem nos pequenos grupos, para que a
atividade não se disperse nem se torne cansativa.

PEDAGOGIA 87
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Precisamos também ter cuidado com a divisão dos grupos; devemos deixar que a
criança escolha com quem irá se juntar. Nosso papel é coordenar a atividade,
interferindo somente se for necessário. As discussões em grupos permitem que os
educandos se tornem autônomos na medida em que são motivados pelo professor a
expressarem suas opiniões, a falarem sobre seus interesses, enfim, a tomarem
decisões conjuntas. Assim, a criança se sentirá capaz e consequentemente
demonstrará mais interesse pelas atividades.

Contudo, você deve estar se perguntando: quando as crianças devem trabalhar em


grupo?

Sempre que possível! Claro que o trabalho individual é importante, mas é


principalmente durante as atividades em grupo que as crianças descobrem suas
habilidades, visualizam suas funções e responsabilidades, aprendem a dividir tarefas
com os outros, enfim, desenvolvem o “espírito” de colaboração.

Onde entram o jogo, o brinquedo e a brincadeira nas atividades em grupo?

Com certeza, a resposta para essa pergunta você já sabe, porém, falaremos a
respeito na próxima aula. Até lá!!!

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Aula 30_Brincando em grupos

Na nossa última aula falamos sobre a necessidade de realizarmos atividades em


grupo com a criança pequena, pois estas proporcionam, além da interação, da troca
de vivências e experiências, a oportunidade de construir conhecimentos e
compartilhá-los.

Dando continuidade a esse assunto, veremos a importância de brincar em grupo


utilizando jogos, brinquedos e brincadeiras, uma vez que tal procedimento permite
que as crianças entendam as regras de convivência, respeitem o outro, colaborem
umas com as outras, construindo, assim, novos saberes e experiências.

As crianças desde pequeninas já podem ser incentivadas a brincar em grupo pelo


educador, principalmente se este disponibiliza a sala de aula em cantos, por
exemplo, cantinho do brinquedo, cantinho da história, entre outros. Desta forma, a
criança tem oportunidade de escolha e começa a brincar em grupo de maneira
natural, aprendendo a dividir brinquedos, a tomar decisões, a esperar a sua vez.

Sabemos que não é tão fácil para elas entenderem e se adaptarem às chamadas
regras de convivência.

Muitas vezes, uma criança quer um brinquedo e a outra não quer lhe emprestar,
particularmente porque se encontram numa fase em que o egocentrismo predomina.
Porém, são essas situações que permitem que a criança “aprenda” a resolver
problemas e a socializar materiais com o outro. Isto é o que explica a importância de
se construir os combinados com os educandos, uma vez que eles mesmos saberão
como agir diante das adversidades cotidianas, com o auxílio do educador, é claro!

Em geral, os jogos e as brincadeiras que propomos no ambiente escolar, ou seja,


dentro e fora da sala de aula, já privilegiam as atividades em grupo. Por isso, ao
utilizarmos essa atividade voltada para uma aprendizagem mais específica, que
demande mais atenção e responsabilidade, devemos partir das experiências vividas
durante as brincadeiras para que alcancemos nossos objetivos. Quer um exemplo?

PEDAGOGIA 89
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Se tivermos como proposta pedagógica trabalhar como tema a questão do trânsito e


pedirmos às crianças que dramatizem uma situação formando grupos, o que você
acha que pode acontecer?

Podemos direcionar a brincadeira, sugerindo que não utilizem nenhum material,


mas que representem uma situação de trânsito a partir da brincadeira simbólica. Ou
seja, elas próprias simularão carros, bicicletas, caminhões, pedestres, semáforos,
entre outros.

Provavelmente, as crianças decidirão o que cada grupo irá representar.

Deste modo, a dramatização será realizada por todos, configurando-se uma


brincadeira que, para ser efetivada com certeza, elas buscarão aquilo que já tinham
vivenciado durante os jogos, isto é, a função de cada um, o momento de executá-la,
as estratégias para desenvolvê-las, entre outros.

PEDAGOGIA 90
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Aula 31_Educador também brinca

Na aula passada, vimos a importância de brincar em grupo utilizando jogos,


brinquedos e brincadeiras, uma vez que tal procedimento permite que as crianças
entendam as regras de convivência, respeitem o outro e colaborem umas com as
outras, construindo, assim, novos saberes e experiências.

Hoje, nossa proposta é mostrar que o educador também pode brincar...

Brincar com as crianças.

Conforme o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – Volume 1:

[...] É o adulto, na figura do professor, portanto, que na instituição


infantil ajuda a estruturar o campo de brincadeiras na vida das
crianças. Consequentemente, é ele quem organiza sua base
estrutural por meio da oferta de determinados objetos, fantasias,
brinquedos ou jogos, da delimitação e arranjo dos espaços e do
tempo para brincar. (Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 28).

Como vimos, se o educador é o responsável pela organização das brincadeiras e


dos materiais, se é ele quem deve pensar no espaço e no tempo a ser reservado
para essas atividades, sua participação também se faz necessária.

Por meio da brincadeira sabemos que as crianças interagem, elaboram suas


emoções, sentimentos e conhecimentos e desenvolvem também a criatividade. Se o
educador propicia, a partir de sua prática, esses momentos para os educandos, sua
presença nas brincadeiras fará com que se sintam mais seguros, valorizados e
também amados. A participação do professor na brincadeira infantil aumenta seu
vínculo com a criança, além de permitir que ambos troquem experiências e
aprendam um com o outro. Desta forma, a criança se sentirá mais “à vontade” para

PEDAGOGIA 91
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expressar opiniões e sentimentos, ou seja, suas vontades, suas ale-grias, angústias,


tristezas.

Você deve estar pensando: de que forma ele pode brincar com os educandos? Em
que momento?

- Contando histórias: dramatizando e brincando com fantoches;

- Cantando músicas e parlendas;

- Falando trava-línguas e adivinhas junto com o grupo-classe;

- Participando das brincadeiras de roda;

- Pulando amarelinha, corda;

- Brincando de jogos de montar, entre outros.

Muitas são as formas de brincar com os nossos alunos - basta usarmos nossos
conhecimentos e, neste caso, um pouco de criatividade e bom senso. Afinal,
podemos brincar com as crianças, mas não “agir como crianças”, uma vez que
nossa postura enquanto educadores as influencia diretamente.

Por fim, não somente observando as crianças brincarem, mas também brincando
com elas, permite que as conheçamos mais amplamente, entendendo melhor sua
forma de ver o mundo, bem como suas atitudes, seu modo de ser e interagir com os
outros.

PEDAGOGIA 92
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Aula 32_Brincando com a família

Na aula anterior nossa conversa esteve voltada à participação do educador na


brincadeira infantil, uma vez que tal procedimento aumenta seu vínculo com a
criança, além de permitir que ambos troquem experiências e aprendam um com o
outro.

Na aula de hoje falaremos ainda sobre participação, mas, desta vez, sobre a
participação da família no ambiente escolar.

Se o educador brinca com as crianças, os familiares também podem. , não é


verdade?

O que em geral acontece é que os pais e familiares das crianças somente são
chamados à escola para participarem de reuniões, de festas que envolvam as datas
comemorativas (dia das mães, dia dos pais, festas juninas), de exposições dos
trabalhos infantis (meio ambiente, folclore, primavera) ou por motivos específicos
(comportamento da criança, faltas excessivas, necessidade de acompanhamento
psicológico).

Não faz muito tempo, as escolas começaram a convidar as famílias a paticiparem do


universo escolar em momentos diferentes dos já citados. Tal procedimento vem
sendo adotado recentemente pelas instituições, porque se percebeu que a
colaboração dos familiares é indispensável para o desenvolvimento integral da
criança.

Porém, para que a relação família-escola aconteça, é importante que os pais se


sintam acolhidos no ambiente escolar e recebam o apoio de seus profissionais. Para
que a instituição estabeleça esse vínculo, é preciso que a mesma demonstre a
importância do papel da família quanto ao cuidado e à educação dos filhos e que
ambos, família e escola, favoreçam a construção da autonomia das crianças
pautada em valores morais, éticos e sociais.

Desta maneira, a escola e/ou educador podem criar possibilidades para que a
família se faça presente, como convidar um pai que goste de histórias infantis para

PEDAGOGIA 93
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contá-las às crianças, uma mãe que goste de cozinhar para ensinar uma receita,
escolher um dia e horário durante a semana para que alguns familiares venham
participar de brincadeiras, como jogar bola, pular corda, brincar de roda, entre
outros.

Essas iniciativas permitirão que o relacionamento entre a família e a escola se


fortaleça e que ambos compartilhem as responsabilidades da educação da criança.
Mas, para isso, é necessário que estas relações estejam permeadas de princípios e
valores, como o diálogo, a autonomia, o respeito, a afetividade e, sobretudo, a
democracia.

Somente assim essas relações realmente se consolidarão, e com esta aula


chegamos ao final de nossa quarta unidade, espero que você tenha gostado e
ampliado seus conhecimentos.

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Resumo - Unidade IV

Chegamos ao final da nossa quarta unidade. Criando um espaço de brincar: o jogo,


o brinquedo e a brincadeira – significados, características, classificação, foi o tema
trabalhado nesta unidade, discutido segundo uma abordagem educacional.

Recordamos que existem muitos debates e confusões com relação às noções de


jogo, brincadeira, brinquedo e atividade lúdica, uma vez que não há uma explicação
universalmente aceita para esses termos. A partir disso, vimos alguns significados
das palavras brincadeira e brinquedo, tendo em vista que já havíamos discutido os
conceitos de jogo e atividade lúdica nas unidades anteriores.

Em seguida, procuramos caracterizar o jogo, o brinquedo e a brincadeira como meio


educacional, demonstrando que tal tarefa não é tão simples, já que existem variadas
e diferentes interpretações dos termos em questão. Para isso, utilizamos como base
parte dos estudos de Friedmann (1996, p. 78) que assim os caracterizou:

• Estão organizados em um conjunto de regras;

• Acontecem em um determinado espaço de tempo;

• São, na maioria, coletivos, embora apareçam alguns de caráter individual;

• São jogos (brincadeiras) que prescindem, em geral, do uso de objetos ou


brinquedos.

Falamos também das possibilidades para classificar os jogos e as brincadeiras na


educação infantil e que tais classificações variam de acordo com os autores. Piaget
classificou os jogos, como: de exercícios, os simbólicos e os de regras nos
diferentes estágios de desenvolvimento da criança. Friedmann (1996) utilizou uma
classificação que abrange os jogos e brincadeiras mais focadas por diversos

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estudiosos, dividindo-os em doze tipos: 1- Fórmulas de escolha; 2- Jogos de


perseguir, procurar e pegar; 3-Jogos de correr e pular; 4- Jogos de atirar; 5- Jogo de
agilidade, destreza e força; 6- Brincadeiras de roda; 7- Jogo de adivinhar e pegas; 8-
Prendas; 9- Jogos de representação; 10- Jogos de faz de conta; 11-Jogos com
brinquedos construídos; 12- Jogos de salão.

Discutimos, ainda, a importância da organização do tempo e do espaço no ambiente


escolar, pois, na Educação Infantil, é essencial que o brincar preencha grande parte
do tempo, aproveitando todos os espaços disponíveis.

Falamos sobre a necessidade de realizarmos atividades em grupo com a criança


pequena, pois estas proporcionam, além da interação e da troca de vivências e
experiências, a oportunidade de construir conhecimentos e compartilhá-los.

Dando continuidade a esse assunto, constatamos a importância de as crianças


brincarem em grupo, utilizando jogos, brinquedos e brincadeiras, já que tal
procedimento permite que as crianças entendam as regras de convivência,
respeitem o outro, colaborem umas com as outras e construiam, assim, novos
saberes e experiências.

Por fim, enfocamos a participação do educador na brincadeira infantil, uma vez que
essa ação aumenta seu vínculo com a criança, além de permitir que troquem
experiências e aprendam um com o outro. Em seguida, falamos também sobre a
necessidade da participação da família no ambiente escolar à medida que tal
relacionamento entre a família e a escola permite que ambos compartilhem as
responsabilidades da educação da criança.

Nossa quarta unidade termina aqui. Até a próxima unidade!

Referências Bibliográficas

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Volume I:


Introdução; Volume II: Formação Pessoal e Social; Volume III: Conhecimento de
Mundo (Vol. 3). Brasília: MEC/SEF, 1998.

PEDAGOGIA 96
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DUTOIT, Rosana A. Interação de Crianças de idades diferentes como conteúdo


da Educação Infantil. Revista Criança do Professor de Educação Infantil. Brasília:
MEC/SEF: n. 32, p.38-43, junho 1999.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar, crescer e aprender - o resgate do jogo infantil. São


Paulo: Moderna, 1996.

FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e pratica da educação


física. 3.ed. São Paulo : Scipione, 1992.

KISHIMOTO, Tizuko M. [org.]. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São


Paulo: Cortez, 1996.

MEDEIROS, Tereza Régia Araújo de. Rumo a uma aprendizagem participativa


entre iguais. Revista Pátio Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed Editora: Ano II,
n. 5, p.42-44, agosto/novembro 2004.

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Aula 33_Processos de interação

Estamos agora iniciando nossa quinta unidade, e nossos trabalhos estarão voltados
para a atividade lúdica e suas implicações pedagógicas no cotidiano das instituições
de Educação Infantil. Isso significa pensar no lúdico como um meio educacional
capaz de estimular o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos: físico,
psicológico, intelectual e social.

Nesta aula veremos como a atividade lúdica pode colaborar para o processo de
interação das crianças pequenas.

Vários fatores podem contribuir para que a criança desenvolva sua capacidade de
se relacionar. Entre eles está o brincar, pois, por meio de brinquedos e brincadeiras,
elas desenvolvem a autoestima e interagem com os outros.

Desta forma, o educador precisa realizar atividades lúdicas com as crianças, porque
contribuirá para que construam sua própria identidade à medida que passarem a
diferenciar o eu do outro, bem como começarem a desenvolver atitudes como
respeito, cooperação, solidariedade.

As crianças de zero a 2 anos podem ser incentivadas a interagir dentro da sala de


aula, por exemplo, se puderem se locomover livremente sem que haja obstáculos,
ou seja, onde elas possam caminhar ao encontro dos colegas.

Nesta faixa etária, devem-se deixar brinquedos disponíveis, pois o contato com
diferentes objetos permite que os educandos se comuniquem, observem, imitem,
entre outros. Contar histórias, trabalhando com o faz-de-conta, e brincar com as
cantigas de roda também são atitudes que contribuem para a interação.

As atividades lúdicas podem ser mais elaboradas quando utilizadas junto às


crianças um pouco maiores, com idades entre 3 e 5 anos, principalmente, porque já
possuem o domínio da fala.

Veja um exemplo:

PEDAGOGIA 98
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Esta cantiga de roda permite trabalhar com o nome das crianças, fazendo com que
se conheçam melhor, bem como percebam e respeitem as dife-renças entre elas.
Contribui também para o desenvolvimento da expressão verbal e corporal, da
memorização, do ritmo e principalmente da interação, nosso maior objetivo no
momento.

Como brincar?

Formar um círculo com as crianças em pé e de mãos dadas. Uma criança será


escolhida pelo grupo para ficar em pé no centro do círculo. Todos giram e cantam a
primeira parte da música, falando o nome da criança que está no centro da roda. Em
seguida, a criança que está no centro canta sozinha a segunda parte da música,
falando o nome de outra que a substituirá. Ambas, então, trocam de lugar. A
brincadeira continua até que todos tenham sido convidados a entrar no centro da
roda. Por fim, se o educador, em sua prática educacional, tem como objetivo

PEDAGOGIA 99
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desenvolver a interação das crianças por meio de atividades lúdicas, este procura
direcionar todas as suas ações com responsabilidade e criatividade, a fim de
estimular as potencialidades infantis. O que você pensa a respeito disso?

PEDAGOGIA 100
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Aula 34_O papel do lúdico no desenvolvimento da linguagem

Na aula passada foi possível observar como a atividade lúdica pode colaborar no
processo de interação das crianças pequenas, pois, por meio de brinquedos e
brincadeiras, elas desenvolvem a autoestima, a autonomia e interagem com os
outros.

Na aula de hoje falaremos sobre o papel do lúdico no desenvolvimento da linguagem


das crianças pequenas.

Porém, antes vamos conversar a respeito do significado da palavra


desenvolvimento, em especial, pelo fato de ela sempre aparecer em nossas aulas e
por estar muito presente nos estudos relativos às crianças.

Vamos lá?

O Novo Dicionário Eletrônico Aurélio (século XXI) define a pala-vra desenvolvimento


como um “[...] ato ou efeito de desenvol-ver(-se); adiantamento, crescimento,
aumento, progresso”.

Já para Woolfolk:

O termo desenvolvimento, em seu sentido psicológico mais amplo,


refere-se a certas mudanças que ocorrem nos seres humanos (ou
animais) entre a concepção e a morte. O termo não se aplica a todas
as mudanças, mas sim àquelas que aparecem de maneira ordenada
e que se mantêm por um período razoavelmente longo.
(WOOLFOLK, 2000, p. 36)

PEDAGOGIA 101
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A partir destas definições, podemos perceber porque a palavra desenvolvimento é


tão utilizada na Educação Infantil, uma vez que a finalidade desse nível de ensino é
proporcionar o desenvolvimento da criança em seus aspectos físico, psicológico,
intelectual e social, de maneira integral.

Diante disso, como a atividade lúdica pode contribuir para o desenvolvimento da


linguagem das crianças?

A partir da linguagem, o educando aumenta suas possibilidades de interagir no meio


social em que vive, pois, por meio dela, ele pode se comunicar e se expressar.
Falando, lendo e escrevendo, o ser humano tem acesso aos conhecimentos
historicamente construídos pela sociedade.

As atividades lúdicas que colaboram para o desenvolvimento da linguagem são,


principalmente, aquelas que envolvem memorização, criatividade e imaginação.

Veja alguns exemplos:

Memorização: parlendas, advinhas, trava-línguas, cantigas de roda, entre outros.

Criatividade: ler ou ouvir uma história e dramatizá-la.

Imaginação: brincadeiras que envolvem o faz-de-conta.

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Aula 35_O papel do lúdico no desenvolvimento afetivo

Na aula anterior, trabalhamos o significado da palavra desenvolvimento e, em


seguida, falamos sobre o papel do lúdico no desenvolvimento da linguagem das
crianças pequenas.

Para a aula de hoje, nossa proposta é mostrar as contribuições que as atividades


lúdicas podem proporcionar ao desenvolvimento afetivo dos educandos.

Em seus estudos, Friedmann aponta a importância do lúdico para o


desenvolvimento afetivo, afirmando que:

[...] O jogo espelha e melhora o progresso da criança na pré-escola,


através da afirmação do eu e na idade escolar, ajudando na tarefa de
consolidação do eu. No jogo pode ser comprovada a importância dos
intercâmbios afetivos das crianças entre elas ou com adultos
significativos (os pais e professores). O jogo é uma ‘janela’ da vida
emocional das crianças. (FRIE-DMANN, 1996, p.66)

Deste modo, podemos entender que o jogo auxilia o desenvolvimento afetivo à


medida que leva a criança, ao se relacionar com os outros, a descobrir seu próprio
eu, ou seja, a construir sua identidade a partir das relações e dos afetos despertados
durante essas interações.

Quais sentimentos podem ser despertados durante um jogo ou uma brincadeira?

Sentimentos que podem vir acompanhados da impressão de dor ou prazer, de


satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza.

Por isso, o educador deve estar preparado não somente para estimular as
brincadeiras, mas também para trabalhar com as questões de afetividade que irão
surgir.

PEDAGOGIA 103
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A criança, por exemplo, pode sentir-se insatisfeita quando tiver de dividir um


brinquedo ou ficar triste ao perder um jogo. Assim, o educador deverá lhe mostrar a
importância de compartilhar, deverá argumentar que tal situação faz parte do
processo e que haverá novas chances. Um outro fator que colabora imensamente
para o desenvolvimento da afetividade durante as atividades lúdicas é o incentivo.
Por isso, o educador precisa proporcionar um ambiente motivador para que as
crianças sintam vontade de participar. Quando o incentivo é grande, o educando,
consequentemente, esforça-se mais.

Como você pode observar, não basta propor uma atividade lúdica, de qualquer
natureza, como correr, pular, ir ao parque, dramatizar ou brincar de roda. Para que
os afetos sejam, estimulados é preciso ainda que as crianças estejam motivadas.
Para isso, além de muita animação e criatividade por parte do professor, bem como
um ambiente favorável e adequado, é necessário que os educandos tenham
oportunidade de escolher a brincadeira ou brinquedo (carrinhos, bonecas, baldes de
areia, jogos de montar, entre outros) e saibam como participar.

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Aula 36_O papel do lúdico no desenvolvimento físico

A proposta da nossa última aula foi mostrar as contribuições que as atividades


lúdicas podem proporcionar ao desenvolvimento afetivo das crianças, pois o
educador deve estar preparado não somente para estimular as brincadeiras, mas
também para trabalhar com as questões de afetividade que irão surgir.

Na aula de hoje enfocaremos o papel do lúdico no desenvolvimento físico da


criança. Os jogos e brincadeiras são essenciais nesse processo.

Conforme Le Boulch (1982),

[...] A educação psicomotora1 concerne uma formação de base


indispensável a toda criança [...]. Responde a uma dupla finalidade:
assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta
possibilidades da criança e ajudar a expandir-se e a equilibrar-se
através do intercâmbio com o ambiente humano. (p.13)

O autor nos fala sobre as contribuições de uma “educação psicomotora” para o


desenvolvimento infantil, bem como afirma que isso acontece a partir da interação
com o meio.

Portanto, o educador tem como função auxiliar a criança em seu desenvolvimento


físico, pois esse trabalho contribui para que ela reconheça os elementos de seu
corpo, experimente diferentes posturas corporais, amplie suas possibilidades de
deslocar-se, conhecendo e controlando seus movimentos e o próprio corpo, bem
como aperfeiçoe habilidades manuais.

Por isso, utilizar atividades lúdicas configura-se como a maneira ideal para trabalhar
com movimentos físicos.

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Veja agora algumas brincadeiras e jogos e o modo como estes podem colaborar
para o desenvolvimento físico infantil:

Atividades com cordas (ex.: pular corda) → equilíbrio e coordenação.

Atividades com bolas (ex.: passes com as mãos em brincadeira de


roda) → equilíbrio, coordenação, velocidade de deslocamento.

Atividades com arcos (ex.: girar o arco (bambolê) em vários sentidos) →


coordenação espacial, velocidade de deslocamento, agilidade.

Atividades com latas (ex.: escravos de Jó) →ritmo e coordenação.

Espero que, com esta aula, você tenha conseguido perceber a importância da
utilização de atividades lúdicas para o desenvolvimento físico da criança.

Vale ainda ressaltar o papel fundamental dos jogos e das brincadeiras ao


proporcionar que as crianças construam novos conhecimentos, compartilhando
espaços, objetos, brinquedos, enfim, socializando-se.

_________

1
Relativo aos movimentos corporais determinados diretamente pela mente ou à atividade
mental (neurológica) que controla e coordena os movimentos corporais. Psicomotricidade:
capacidade de determinar e coordenar mentalmente os movimentoscorporais; a atividade ou
conjunto de funções psicomotoras. Motricidade: Capacidade que têm certas células
nervosas de determinar a contração muscular; capacidade de realizar movimento. (Fonte:
Novo Dicionário Eletrônico Aurélio - (século XXI)).

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Aula 37_O papel do lúdico no desenvolvimento moral

Enfocamos, na aula passada, o papel do lúdico no desenvolvimento físico da


criança, onde os jogos e brincadeiras são essenciais nesse processo.

Desta vez, falaremos das contribuições da atividade lúdica para o desenvolvimento


moral da criança pequena. Sabemos que todos os jogos e que muitas das
brincadeiras possuem regras, não é verdade? Tais regras são apreendidas pelas
crianças paulatinamente, de acordo com seu estágio de desenvolvimento cognitivo.
Lembra-se de que conversamos sobre isso em aulas anteriores? Da mesma forma
acontece com o desenvolvimento moral, que se configura em um processo de
construção interior. Assim, a criança aceita as regras exteriores, particularmente
quando estas não são impostas.

Trabalhar atividades lúdicas, em grupo, com os educandos é o melhor caminho para


que as crianças desenvolvam seus princípios morais, pois, brincando juntos,
vivenciam regras que são acordadas por consenso, normalmente decididas por
todos, durante as rodas da conversa. Assim, podem adquirir capacidade para “abrir
mão” de benefícios próprios e imediatos, em favor do grupo.Se o professor
desenvolver as atividades num clima de respeito e confiança, estimulará também a
cooperação, aspecto que está intimamente relacionado à conquista da autonomia
por parte da criança. A brincadeira Dança da Serpente, por exemplo, é uma
maneira de administrar regras e também trabalhar em grupo, explorando o
movimento, estimulando a atenção, a concentração e a socialização.

Veja como aplicá-la:

A brincadeira proposta é bastante conhecida e pode estar contida em muitos livros


infantis. Para escrevê-la, não consultei livros, apenas utilizei minhas experiências
como professora na educação infantil, de acordo com a proposta da aula e,
consequentemente, da disciplina.

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 As crianças ficam sentadas uma ao lado da outra no pátio, sendo uma delas a
cabeça da serpente (aquela que o grupo escolhe).
 Ela (a cabeça) andará com as pernas abertas ao som da música cantada por
todos:

 Essa é a dança da serpente que desceu do morro para procurar um pedaço do


seu rabo..

 Em seguida a “cabeça” canta, apontando para um colega: “Você também, você


também, faz parte do meu rabão ão-ão-ão”...
 Este colega se levanta e passa por baixo das pernas da “cabeça” segurando em
sua cintura.

 A música novamente é cantada e uma outra criança é chamada para formar o


rabo da serpente.

 Isso acontece repetidas vezes até que todos entrem e formem uma grande
serpente.

A brincadeira citada estimula a cooperação, pois, sem a participação intensiva do


grupo, seria impossível brincar, na medida em que os papéis são interdependentes e
que cada um depende do que o outro irá fazer para que a atividade dê certo. Desta
forma, as crianças percebem sua importância dentro do grupo e esperam sua vez
tranquilamente, adotando as regras.

Podemos verificar também que essa relação de confiança e de cooperação entre as


crianças permite o desenvolvimento da autonomia, uma vez que respeita as regras e
pode, inclusive, questioná-las.

E, segundo Friedmann (1996) “[...] Nessa linha de pensamento, Piaget constata que
a forma mais interessante para promover a cooperação, fator essencial do progresso
intelectual, é o trabalho em grupo”. (p.67)

PEDAGOGIA 108
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Por fim, essa visão interacionista de Piaget, em que o sujeito conhece e se


desenvolve num ciclo repetitivo e, assim sendo, sua inteligência não é herdada, mas
se constrói a partir de sua interação com o meio, ajuda-nos a perceber a
responsabilidade social que o educador possui, pois as crianças precisam ser
estimuladas para que seu desenvolvimento moral ocorra de maneira consciente e
saudável, sendo as atividades lúdicas um instrumento essencial.

Ficamos, então, por aqui. Até a próxima aula!!!

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Aula 38_Atividade lúdica - condições e implicações

Durante a aula passada falamos a respeito das contribuições da atividade lúdica


para o desenvolvimento moral da criança pequena.

Na aula de hoje veremos quais são as condições essenciais para o desenvolvimento


de um trabalho lúdico na escola de Educação Infantil, bem como suas implicações
na prática pedagógica.

Atividades lúdicas, como brincar ao ar livre, em contato com a natureza, com a terra,
com a água e o banho de sol, devem ser proporcionadas não somente pelo
professor, mas também pela instituição. O educador precisa levar as crianças ao
encontro do lúdico de maneiras diversificadas, mas também a instituição de
educação infantil deve oferecer espaços adequados para que o trabalho aconteça, o
que colabora para o desenvolvimento integral de seus educandos.

Cabe à escola organizar os espaços e os tempos de modo que as crianças tenham


acesso ao mundo físico e social que as envolve para que seja possível ampliar o seu
conhecimento de mundo. Para isso, é necessário um pátio, um parque de areia,
brinquedos disponíveis dentro e fora da sala de aula, bem como oportunidades de
passeios diversificados a locais próximos ou afastados da instituição. Atender às
necessidades do brincar é uma questão com a qual a instituição precisa se
preocupar, uma vez que um trabalho educativo pautado no lúdico é capaz de
estimular as crianças a construirem conhecimentos de modo prazeroso
individualmente e, sobretudo, em grupo. A partir do momento em que a escola
organiza uma rotina com base nas necessidades e interesses das crianças, bem
como pensando em seu bem-estar no que se refere a espaço físico, tempo,
alimentação, higiene e interação com outras pessoas diferentes da família e do meio
escolar, ela fornece subsídios ao professor para que trabalhe em sala de aula de
forma flexível, motivadora e dinâmica, respeitando o ritmo de cada aluno.

Um ambiente de trabalho onde as pessoas se respeitem e cooperem umas com as


outras também colabora para que as crianças se sintam amadas, tranquilas e

PEDAGOGIA 110
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seguras, bem como dispostas a atuarem naquele espaço, interagindo e explorando


na busca de novas descobertas e saberes. Diante desses apontamentos,
observamos ainda que, em nosso meio, muitas escolas de educação infantil não
conseguem proporcionar aos educandos um ambiente que possibilite uma
diversidade de ações e práticas pedagógicas, limitando, assim, o trabalho lúdico.

Desta forma, caberá ao professor criar alternativas, buscando novos materiais,


ideias, jogos, brincadeiras, brinquedos e lugares que sejam capazes de motivar a
criança a “aprender” e a brincar.

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Aula 39_Projetos - um caminho ao lúdico

Falamos na aula passada sobre as condições essenciais para o desenvolvimento de


um trabalho lúdico na escola de Educação Infantil, bem como suas implicações na
prática pedagógica. Hoje vamos tratar da elaboração de projetos, tendo como
principal objetivo o desenvolvimento de atividades lúdicas, visando um trabalho
integrado com outras áreas de conhecimento.

Nossa intenção, neste momento, não é construir um projeto político pedagógico que
se configura como um projeto global de toda uma escola e que implica no
engajamento democrático de todos. Pretendemos apresentar aqui o projeto
educativo, aquele desenvolvido e elaborado dentro da sala de aula com os alunos,
de acordo com suas necessidades e que, é claro, deve estar inserido no projeto
maior da instituição. Entendendo-o como um recurso para o desenvolvimento de
atividades lúdicas, bem como para a construção de conhecimentos específicos e
elaborados historicamente pela humanidade, como diria Vygotsky, citado por Facci
(2004), que acreditava que os objetivos da educação estavam intimamente
vinculados ao desenvolvimento histórico e, consequentemente, às necessidades
colocadas pelos homens.

Veja, então, o exemplo de um projeto educativo que trabalha diferentes áreas a


partir de uma atividade lúdica:

Título: Aprendendo e brincando com a Caixa Surpresa.

Público-alvo: crianças de 4 e 5 anos.

Duração: Dois meses.

Justificativa:

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Observando que a criança pequena é capaz de construir conhecimentos a partir do


contato com diversas formas de linguagem, jogos, brincadeiras e interações
cotidianas com o outro, e que ela traz consigo suas próprias

Apresentação e desenvolvimento:

A Caixa Surpresa: com ela iremos nos divertir, aprender e entrar no mundo da
imaginação. Vamos começar?!

Utilizaremos a caixa surpresa para aprendermos as letras do alfabeto.

A caixa surpresa será levada pelo aluno para casa e deverá trazê-la para a escola
no dia seguinte com um objeto que comece com a letra solicitada pela professora
em sala de aula.

Começaremos pela letra A e assim por diante: B, C, D, E, F, G, H, I, J, L, M, N, O, P,


Q, R, S, T, U, V, X e Z.

A cada dia aprenderemos uma nova letra, por meio de um objeto trazido por um
amiguinho.

Tudo isso será levado para as rodas da conversa e dialogado com o grupo-classe.

O objeto que o aluno trouxer dentro da caixa será devolvido no mesmo dia em que
o levar para a escola no horário da saída.

Um adulto responsável pela criança deverá escrever no caderno que acompanha a


Caixa Surpresa o nome do objeto que foi escolhido para ser colocado na caixa, por
que escolheu este objeto, como ele é etc. Tudo isto deverá ter a participação
contínua da criança. Ela poderá também escrever algumas palavras ou até mesmo
copiá-las com o auxílio do adulto.

Em seguida, a criança deverá desenhar, no caderno, o objeto que colocou dentro da


caixa e assinar seu nome.

PEDAGOGIA 113
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Agora, é só levar a caixa para casa e depois vir à escola, para que possamos
começar a brincadeira!!!

Objetivos:

 trabalhar as letras do alfabeto de maneira lúdica e acessível;

 estimular a exploração dos recursos disponíveis no meio ambiente com atitude


de criatividade por meio da imaginação;

 propiciar condições favoráveis à criança para que entre em contato com as


letras, permitindo que faça escolhas;

 sensibilizar os familiares no sentido da importância da participação e auxílio à


criança durante a escolha do objeto cujo nome inicia com a letra do alfabeto
estipulada, bem como ao registro no caderno de anotações da caixa de surpresa;

 mostrar a importância da participação dos familiares junto aos educandos;

 valorizar os saberes trazidos pelos alunos, como forma de construção de


conhecimento;

 proporcionar o aprendizado completo do alfabeto, tanto no que se refere ao


reconhecimento das letras quanto a realização da grafia das mesmas.

Eixos de trabalho e conteúdos:

Formação pessoal e social / identidade e autonomia: convívio social (interação


com os colegas, em brincadeiras, rodas da conversa, na sala de aula, entre outros);
valorização e respeito à cultura e à opinião dos amiguinhos; expressão e
comunicação (que perpassa as questões de escolhas, preferências, vontades e
necessidades, a importância da criança tomar “decisões” próprias, independentes);
regras de convivência (participação, relação com os colegas, cooperação).

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Movimento e música: jogos e brincadeiras (durante as rodas da


conversa: movimentos corporais, gestos para tentar descobrir o que tem na caixa;
adivinhações por meio de músicas, perguntas e respostas levantadas pelo aluno
para tentar descobrir o objeto).

Matemática: classificação e comparação oral (de objetos trazidos dentro da caixa);


registro de dados (em cartazes, com o nome (palavra) dos obje-tos trazidos pelos
alunos); registro de quantidades (número de letras do alfabeto, número de letras do
nome do objeto encontrado na caixa); observação, manuseio e represen-tação por
meio de desenho (no caderno que acompanha a caixa) do objeto escolhido.

Natureza e sociedade: desenvolvimento de atitudes que priorizem o respeito ao


meio ambiente durante a escolha do objeto a ser colocado na caixa.

Linguagem oral e escrita: utilização da linguagem oral nas diferentes situações,


sobretudo nas rodas da conversa; saber ouvir com atenção; participar de situações
que compreendam descrições, questionamentos, narração, explicações;
reconhecimento e escrita do alfabeto e de palavras (respeitando o ritmo da classe);
produção de pequenos textos coletivos com o auxílio da professora.

Artes visuais: respeito e cuidado (com os objetos trazidos de casa e com a própria
caixa de surpresa que é de uso coletivo); valorização das próprias produções e dos
colegas (desenhos feitos no caderno que acompanha a caixa); exploração de
diferentes materiais para a realização dos desenhos.

Recursos utilizados: Caixa-baú de plástico e caderno brochura.

Avaliação:

Será realizada diariamente por meio dos relatos de experiência dos alunos, das
atividades orais e escritas, observando as anotações no caderno que acompanha a
Caixa Surpresa.

Portanto, o trabalho com projetos educativos permite utilizar o lúdico como um meio
educacional, estimulando, assim, o desenvolvimento cognitivo, afetivo, físico, moral,
linguístico e social da criança, sem que se perca a criatividade e a fantasia que a
brincadeira é capaz de proporcionar.

PEDAGOGIA 115
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Núcleo de Educação a Distância

_____

1
O projeto educacional proposto é de minha autoria. Porém, não o objeto (caixa surpresa)
cuja ideia pode estar contida em muitos livros de cunho pedagógico.

vivências, optou-se por iniciar o trabalho com o alfabeto por meio do lúdico, ou seja,
utilizando uma simples brincadeira (Caixa Surpresa) pela qual seria possível estimular o
aprendizado das letras de forma criativa, divertida e espontânea.

PEDAGOGIA 116
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Aula 40_Ludicidade e Educação Infantil

Na aula passada conversamos acerca da elaboração de projetos, tendo como


principal objetivo o desenvolvimento de atividades lúdicas. Para isso, visamos um
trabalho integrado com outras áreas de conhecimento. Na aula de hoje falaremos
sobre o papel fundamental que a Educação Infantil possui em proporcionar
atividades lúdicas no contexto escolar, na medida em que lida com crianças, sendo
o brincar parte da vida de cada uma delas.

Sabendo da importância da educação infantil e da atividade lúdica para o


desenvolvimento das potencialidades da criança, torna-se claro que ambas devem
caminhar juntas. Ou seja, não se pode pensar neste nível de ensino sem que os
princípios educativos estejam vinculados à brincadeira ou, dizendo de outra forma, a
conhecimentos construídos sempre com base na ludicidade.

A educação infantil deve ser um ambiente propício para a construção de novos


saberes a partir da exploração lúdica, dando oportunidade para que as crianças
descubram coisas novas, vençam desafios, brinquem livremente, tomem decisões e
desenvolvam os aspectos físicos, cognitivos, psicológicos e sociais.

A instituição que valoriza uma prática pedagógica a partir do lúdico organiza os


espaços físicos de acordo com as ne-cessidades das crianças, dispõe brinquedos
que propiciam a expressão livre para que se façam presentes as brincadeiras de faz-
de-conta que tanto contribuem para o desenvolvimento da linguagem, da
personalidade e para a interação social.

Terminamos, com esta aula, a nossa quinta unidade. Quantos saberes

construímos, quantas vivências compartilhamos...

Iniciaremos a sexta e última unidade, mas, antes disso, gostaria de que você
relacionasse a importância da presença do trabalho lúdico nas instituições de
Educação Infantil com o que escreve Madalena Freire:

PEDAGOGIA 117
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[...] É através do jogo que a criança entra em contato com seus


desejos. É através do jogo, mediado pela função simbólica, que ela
os representa. É através do jogo, que o mundo do desejo é
simbolizado. (FREIRE, 2000, p. 35)

Enfim, a educação infantil pode proporcionar um mundo de oportunidades lúdicas. O


que você pensa sobre isso?

PEDAGOGIA 118
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Resumo - Unidade V

Chegamos ao final da nossa quinta unidade.

Nossos estudos estiveram voltados para a atividade lúdica e suas implicações


pedagógicas no cotidiano das instituições de Educação Infantil, o que significou
pensar no lúdico como um meio educacional capaz de estimular o desenvolvimento
integral da criança em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social.

Assim, observamos como a atividade lúdica pode colaborar no processo de


interação das crianças pequenas, pois, por meio de brinquedos e brincadeiras, elas
desenvolvem a auto-estima e a autonomia, interagindo com os outros.

Falamos sobre o papel do lúdico no desenvolvimento da linguagem, trabalhando


inclusive o significado da palavra desenvolvimento.

Foram mostradas as contribuições que as atividades lúdicas podem proporcionar ao


desenvolvimento afetivo das crianças, pois o educador deve estar preparado não
somente para estimular as brincadeiras, mas também para trabalhar com as
questões de afetividade que irão surgir.

Enfocamos o papel do lúdico no desenvolvimento físico do educando, sendo os


jogos e brincadeiras essenciais nesse processo.

Conversamos, ainda, sobre as contribuições da atividade lúdica para o


desenvolvimento moral da criança pequena, verificando que realizar tarefas em
grupo com os educandos é o melhor caminho para que desenvolvam seus princípios
morais, pois, brincando juntos, vivenciam regras que são acarretadas por consenso,
normalmente decididas por todos, durante as rodas da conversa.

Vimos as condições essenciais para o desenvolvimento de um trabalho lúdico na


escola de Educação Infantil, bem como suas implicações na prática pedagógica.

Discutimos a respeito da elaboração de projetos tendo como principal objetivo, o


desenvolvimento de atividades lúdicas, contudo, visando ações integradas com
outras áreas de conhecimento.

PEDAGOGIA 119
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Núcleo de Educação a Distância

Por fim, conversamos sobre o papel fundamental da Educação Infantil em


proporcionar atividades lúdicas no contexto escolar, na medida em que lida com
crianças, sendo que o brincar faz parte da vida de cada uma delas.

Parece que foi ontem que começamos nossa primeira unidade, não é mesmo?
Nossa! Já estamos indo para última... Vamos lá?

Referências Bibliográficas

DUTOIT, Rosana A. Interação de crianças de idades diferentes como conteúdo


da Educação Infantil. Revista Criança do Professor de Educação Infantil. Brasília:
MEC/ SEF: n. 32, p.38-43, junho 1999.

FACCI, Marilda Gonçalves Dias. Valorização ou esvaziamento do trabalho do


professor? Um estudo crítico-comparativo da teoria do professor reflexivo, do
construtivismo e da psicologia vigotskiana. Campinas: Auto-res Associados, 2004.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar, crescer e aprender - o resgate do jogo infantil. São


Paulo: Moderna, 1996.

FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e pratica da educação


física. 3. ed. São Paulo: Scipione, 1992.

FREIRE, Madalena. Jogo e pensamento (I). Revista Infância na Ciranda da

Educação. Belo Horizonte: Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da

Educação: n. 4, p. 35-36, fev. 2000.

LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento até 6 anos.


Tradução e prefácio de Ana Guardiola Brizolara. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.

MEDEIROS, Tereza Régia Araújo de. Rumo a uma aprendizagem participativa


entre iguais. Revista Pátio Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed Editora: Ano II,
n. 5, p. 42-44, agosto/novembro 2004.

WOOLFOLK, Anita E. Psicologia da educação. Tradução: Maria Cristina

Monteiro. Porto Alegre: Artmed, 2000.

PEDAGOGIA 120
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância

Aula 41_O jogo e a brincadeira como processos de crescimento

Iniciamos, neste momento, a primeira aula de nossa sexta e última unidade. Acredito
que muitos conhecimentos já foram construídos e compartilhados até o momento e
espero que, ao término desta disciplina, tenhamos atingido os objetivos
estabelecidos, bem como sejamos capazes de realmente colocá-los em prática.

Vamos, então, à aula de hoje?

Bem, a finalidade desta aula é mostrar a maneira como os jogos e as brincadeiras


podem contribuir para o processo de crescimento infantil, obser-vando essas
crianças enquanto indivíduos, enquanto pessoas, enquanto seres humanos.

Muitas vezes, falamos que as atividades lúdicas colaboram para o desenvolvimento


integral da criança em seus aspectos físicos, cognitivos, psi-cológicos e sociais, não
é mesmo?

Agora, daremos ênfase aos dois últimos aspectos, já que falaremos sobre a
importância da cooperação e suas contribuições para o “crescimento” infantil. Esse
crescimento passa pela formação dos princípios e valores morais que a criança
constrói em seu meio social.

Assim, ao trabalharmos os jogos e as brincadeiras no ambiente escolar, devemos e


podemos priorizar ações que visem desenvolver a cooperação entre as crianças.

Diante disso, é importante que saibamos, claramente, a diferença entre cooperação


e competição para que, depois, seja possível propor um trabalho lúdico dentro de
uma consciência cooperativa.

Brotto (1997) define, de maneira bem humorada, os dois termos em questão e sua
relação com o:

PEDAGOGIA 121
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[...] Jogar – e viver- é uma oportunidade criativa para encontrar:

• Com a gente mesmo.

• Com os outros.

• Com o todo.

A partir daí, o ”jogo” passa a ser consequência de nossas visões,


ações e relações. Existem dois “estilos” básicos de jogos:

1º) Jogar COM O OUTRO – COOPERAÇÃO.

2º) Jogar CONTRA O OUTRO – COMPETIÇÃO. (p. 35)

Assim, ao trabalharmos os jogos e as brincadeiras com as crianças pequenas, é


importante que utilizemos aqueles que envolvam a cooperação para que elas
joguem “COM O OUTRO” e não “CONTRA O OUTRO”.

O mesmo autor, procurando esclarecer ainda mais os termos, argumenta que:

[...] Cooperação: é um processo onde os objetivos são comuns, as


ações são compartilhadas e os resultados são benéficos para todos.

Competição: é um processo onde os objetivos são mutuamente exclusivos, as ações


são individuais e somente alguns se beneficiam dos resultados. (BROTTO, 2001, p.
27)

Pensemos juntos então:

PEDAGOGIA 122
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Devemos trabalhar com os jogos e as brincadeiras que estimulam a cooperação ou


a competição?

Qual postura gostaríamos de que nossos alunos tivessem durante o jogo?

Aquela que privilegia a si próprio ou aquela que beneficia a todos?

É provável que você já tenha as respostas para estas questões. Entretanto, no


decorrer da unidade falaremos mais sobre o assunto. Até lá!

PEDAGOGIA 123
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Aula 42_Interação social e atitude cooperativa

A finalidade da aula passada foi mostrar de que maneira os jogos e brincadeiras


podem contribuir para o processo de “crescimento” infantil. Esse crescimento passa
pela formação dos princípios e valores morais que a criança constrói em seu meio
social. Por isso, ao trabalharmos com atividades lúdicas no ambiente escolar,
devemos priorizar ações que visem desenvolver a cooperação entre as crianças.

Hoje, nosso intuito é dar continuidade a estas questões, demonstrando que os jogos
e as brincadeiras podem contribuir para a interação social, principalmente se
estiverem pautados em atitudes cooperativas.

Sabemos que a criança, ao realizar atividades lúdicas, tem a oportunidade de


conversar, de se expressar, de trocar experiências e vivências com seus pares e
que tais relações promovem a interação social.

Sabemos também que, durante essas interações, conflitos e desentendimentos


podem ocorrer. Isso explica a importância de realizar jogos e brincadeiras que
incentivem o respeito ao outro, a ajuda ao próximo, a amizade e a afetividade.

Tais atividades podem ser chamadas de jogos cooperativos, ou seja,” [...] São jogos
com uma estrutura alternativa onde os participantes jogam uns com os outros ao
invés de uns contra os outros. (DEACOVE apud BROTTO, 2001, p. 54)

Desta maneira, todas as crianças se divertem e têm a oportunidade de ganhar,


desenvolvendo, assim, sentimentos de confiança e união, pois o desafio está
realmente no jogo e não se tem a preocupação de alcançar a vitória ou sofrer uma
derrota, pois o objetivo é participar por puro divertimento e prazer.

Veja agora um exemplo de jogo cooperativo:

PEDAGOGIA 124
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Observamos que, neste jogo, as pessoas precisam se unir e cooperar uns com os
outros. Caso contrário, não conseguiriam realizá-lo.

Quando utilizado com a criança, o mesmo acontece, pois permite que ela vivencie e
construa seus princípios morais a partir do meio externo, já que está socializando
seus próprios sentimentos com o grupo e este com ela numa relação de
interdependência e confiança.

Vale ressaltar, ainda, que não temos aqui a intenção de menosprezar os jogos que
envolvem a competição, uma vez que eles também contribuem para o
desenvolvimento infantil. Afinal, se o educador “prepara para a vida”, a criança
precisa saber administrar suas conquistas e perdas.

A diferença é: por meio dos jogos cooperativs, o educando experimenta somente


sentimentos bons e agradáveis tão necessários para o mundo atual, que se encontra
extremamente marcado pela violência.

Enfim, a partir do momento em que a criança experimenta o amor, a alegria, o


companheirismo, a união, o respeito e a solidariedade, ela tende a praticá-los.

______

1
Fonte: BROTTO, Fabio Otuzi. Jogos cooperativos: se o importante é competir, o funda-
mental é cooperar. Santos: Projeto Cooperação, 1997. (p.121-122).

PEDAGOGIA 125
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Aula 43_Jogos cooperativos: solução de conflitos?

Na aula passada verificamos que os jogos e as brincadeiras podem contribuir para a


interação social, em especial, quando estão pautados em atitudes cooperativas.
Com base nisso, vimos nos jogos cooperativos a possibilidade de resolver
desentendimentos e conflitos, lembra-se?

Dando continuidade ao assunto, gostaríamos que você imaginasse a seguinte


situação:

Diante disso, podemos imaginar como se sentem as crianças que perdem esse
jogo? Para algumas tal acontecimento não implica em tristeza ou rivalidade, pois
entendem que nos jogos e brincadeiras cada um tem a sua vez de ganhar e perder.
Porém, certamente, outras ficarão muito chateadas por não terem conseguido a
vitória; algumas se sentirão derrotadas e desanimadas. Podem até sentir raiva do
vencedor, o que provoca a desunião e gera conflitos.

Por esses motivos é que podemos dizer que os jogos cooperativos são capazes de
auxiliar na resolução de conflitos, uma vez que se desenvolvem dentro de um clima
participativo, solidário e humano, em que todos se unem em busca de um mesmo
objetivo.

Veja agora e compare:

PEDAGOGIA 126
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Neste caso, ao invés de causar tristeza, desentendimentos e sensações de


impotência entre os participantes que perdem, como ocorreu na escola de Educação
Infantil A, na escola de Educação Infantil B todos tiveram um desafio comum,
trabalharam em equipe, persistiram para alcançar e todos ganharam. Assim, a
escola de Educação Infantil A evitaria conflitos e desconforto entre seus alunos, se
tivesse desenvolvido um jogo cooperativo.

Portanto:

[...] É importante ajudar a criar um ambiente de cooperação,


solidariedade e comunicação. Assim poderemos superar as atitudes
de confronto e do ganha/perde nas situações de conflito. Muitas
vezes, o conflito é percebido como uma situação de ‘ganhar/perder’ e
com jogo cooperativo, podemos inverter a situação para que se
perceba que é possível buscar soluções ’ganha/ganha’. (BROWN,
2001, p.5)

_______

1
Competição, em geral entre equipes motorizadas: leva-se em conta não apenas a rapidez
com que os concorrentes cumprem as tarefas predeterminadas, mas também a habilidade
com que o fazem. Fonte: Novo Dicionário Eletrônico Aurélio (século XXI).

2
daptação do jogo criado por Roberto Gonçalves Martini e Cláudia da Silva Miranda. Fonte:
Revista Jogos Cooperativos. Ano I, n. 2, p. 11, setembro 2001

PEDAGOGIA 127
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Aula 44_Cooperar: princípios sócio-educativos

Por meio da discussão da aula passada concluímos que os jogos cooperativos são
capazes de auxiliar a resolução de conflitos, uma vez que se desenvolvem dentro de
um clima participativo, solidário e humano em que todos se unem em busca de um
mesmo objetivo.

Hoje, nosso propósito é apresentar a dinâmica de ensino-aprendizagem dos jogos


cooperativos, conforme Brotto:

Convivência: ter vivência compartilhada como o contexto


fundamental para a aprendizagem. É preciso experimentar para
poder reconhecer a si e aos outros. Consciência: Criando um clima
de cumplicidade entre os participantes, incentivando-os a refletir
sobre a vivência do jogo e sobre as possibilidades de modificar
comportamentos, relacionamentos e até o próprio jogo, na
perspectiva de melhorar a participação, o prazer e a aprendizagem
de todos. Transcendência: Ajudando a sustentar a disposição para
dialogar, decidir em consenso, experimentar as mudanças propostas
e integrar no jogo e na vida, as transformações desejadas.

A pedagogia proposta pelo Jogo Cooperativo apoia-se na


interdependência dessas três dimensões, enquanto nexos de um
processo mais amplo de manifestação da Consciência Pessoal e
Grupal. (BROTTO, 2001, p. 63)

Assim, para utilizar os jogos cooperativos, é preciso conhecer e relacionar as três


dimensões apresentadas pelo autor, principalmente porque, se o educador pretende
estimular a construção de princípios morais das crianças, como a união, a
colaboração, a ajuda, o respeito e a solidariedade, ele precisa saber compartilhar e
ter condições de proporcionar um ambiente pautado na cumplicidade entre os
alunos, de modo a integrar o jogo com a vida. O uso dos jogos cooperativos na vida

PEDAGOGIA 128
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da criança pequena certamente contribuirá para o seu desenvolvimento integral, pois


desde a mais tenra idade exercita o trabalho em grupo que, neste caso, envolve a
troca, a cumplicidade, o companheirismo, a harmonia, a parceria, a confiança e o
sucesso compartilhado. O objetivo só é alcançado com a união de todos e o
educando percebe que individualmente não conseguiria atingi-lo. Assim, ele
paulatinamente vai adquirindo habilidades de relacionamento.

Com o jogo Salve-se com um Abraço, por exemplo, a criança irá perceber que os
demais participantes são seus parceiros, e não seus rivais, na medida em que todos
precisam se ajudar. Observe:

Por fim, quando o educador exercita com as crianças, em particular e durante as


rodas da conversa, o diálogo, a decisão por consenso, a comunicação sincera, a
importância dos trabalhos em grupo, da cumplicidade e da união, ou seja, os
princípios em que estão pautados os jogos cooperativos, estará contribuindo para o
crescimento dos educandos em seus aspetos: físico (trabalhando o corpo),
psicológico (trabalhando a afetividade), cognitivo (trabalhando o raciocínio por meio
de desafios coletivos) e social (trabalhando a convivência em grupo e a interação
social).

PEDAGOGIA 129
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Ficamos, então, por aqui. Até a próxima aula!!!

PEDAGOGIA 130
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Aula 45_Brincando de convivência

“Cooperação e Convivência são princípios do Jogo de


Interdependência, no qual tudo e todos estão envolvidos. Praticar a
Convivência e a Cooperação é um exercício para o cotidiano. Como
tal é necessário que seja aprendido, aperfeiçoado, incluído como
uma experiência interior, compartilhado com o mundo exterior, então
reaprendido... num ciclo permanente de ensinagem”.

A citação acima revela que cooperar e conviver são aprendizados que acontecem ao
longo de nossas vidas e precisam ser aprimorados, trabalhados e vivenciados.
Sabemos que a criança pequena não possui, ainda, maturidade para compreender o
fluxo da vida, mas sabemos também que ela constrói os seus valores morais
interiormente e que, na maioria das vezes, aceita as regras externas, se essas não
forem impostas, lembra-se?

É por esse motivo que os jogos e, podemos dizer ainda, as brincadeiras


cooperativas podem auxiliar imensamente o desenvolvimento integral da criança à
medida que ela constrói seus valores pautados em atitudes vivenciadas no grupo,
principalmente quando se unem para jogar, compartilhando as experiências e
confiando uns nos outros. Para que o educando incorpore os sentimentos que são
despertados pelos jogos cooperativos, é preciso que os experimente de uma forma
natural, não imposta, porque assim será possível absorvendo os valores do meio
exterior para o seu interior, construindo seus próprios princípios morais.

Todavia, o educador tem um papel fundamental quanto ao estímulo desse


desenvolvimento moral e, uma vez que utiliza em sua prática pedagógica o jogo
cooperativo, este precisa entender, ampliar e aprimorar seus conhecimentos em
relação aos caminhos que precisará traçar para a realização pessoal e coletiva de
seus alunos, trabalhando consigo mesmo os seguintes propósitos essenciais desse
jogo:

PEDAGOGIA 131
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Tocar-Despertar-Tocar-Reencontrar nossa habilidade de viver uns


COM os outros.

Tocar aquele que está além da aparência e dos diferentes papéis sociais
que representamos, tocar o Ser humano por trás da camisa,
especialmente, aquele por trás da camisa do “outro time”;

Despertar com os outros a lembrança de nosso estado de


Interdependência e Cooperação essencial, presente em todas as coisas;

Trocar nossas possibilidades de realização do (im) possível, quando


operamos juntos os desafios do cotidiano;

Reencontrar quem Eu Sou e quem Somos Nós. E qual nosso papel


neste vasto e permanente Jogo da Vida. (BROTTO, 2001, p.107)

Sendo assim, ao internalizar esses propósitos que envolvem a consciência e a


convivência cooperativa, o educador terá subsídios para trabalhar os jogos
cooperativos junto às crianças como um meio estimulador para o crescimento, a
interação e a inclusão infantil, afinal: “[...] Podemos vitalizar a Convivência e a
Cooperação de uma forma simples, complexa, desafiadora, divertida e,
fundamentalmente, inclusiva”. (idem, p. 96)

PEDAGOGIA 132
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Aula 46_Práticas inclusivas

Nas aulas anteriores conversamos sobre a importância da convivência e da


cooperação no processo de crescimento e interação social das crianças pequenas,
em especial, na Educação Infantil, em que os jogos cooperativos podem contribuir
imensamente.

Dentro desse contexto, um outro aspecto a ser observado é a questão da inclusão.

Os jogos e as brincadeiras, quando entendidos como veículo de colaboração, união


e respeito ao outro, possibilitam a inclusão, uma vez que todos exercitam a
participação sem que ninguém seja excluído. O jogo cooperativo, quando
desenvolvido dentro desses princípios, nunca exclui alguma criança, seja por
diferenças de movimento, de ritmo, de conhecimento, entre outros, pois proporciona
a todas a igualdade de oportunidades. Em sua dinâmica, todos contribuem,
colaboram e são importantes.

O educador, em sua própria sala de aula, observa que as crianças são únicas e
diferentes umas das outras e, por isso, elas se desenvolvem em ritmos diferentes,
não é mesmo? Assim, ao trabalhar com o lúdico de maneira consciente e
comprometida, utilizará os jogos e as brincadeiras, respeitando essas diferenças e
valorizando a todos, pois as atividades lúdicas permitem a participação, uma vez
que visam principalmente o divertimento, a descontração e a alegria.

Como isso acontece na prática?

Acontece, segundo Brotto (2001, p. 62), porque “[...] Aprendendo a jogar


cooperativamente descobrimos que podemos criar inúmeras possibilidades de
participação e inclusão através da modificação gradativa das regras e estruturas
básicas do jogo”.

PEDAGOGIA 133
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Podemos verificar claramente que, mudando as estruturas e regras do jogo,


conforme diz o autor, será possível desenvolver uma prática inclusiva.

Veja, então, um exemplo de como essas práticas ocorrem por meio de uma
brincadeira que não exclui, pois tem o objetivo de incluir:

Dança das cadeiras cooperativas

Essa brincadeira é uma transformação da convencional dança das cadeiras. No jogo


tradicional apenas um componente do grupo sai como vitorioso, predominando o
interesse individual e a competição.

Conseguiu observar como a inclusão acontece?

Espero que sim. Então, até a próxima aula!

PEDAGOGIA 134
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Aula 47_Crescer: competindo ou cooperando?

No decorrer de nossas aulas, temos visto a importância do trabalho com o lúdico na


Educação Infantil, uma vez que uma prática pedagógica pautada no brincar como
um meio educacional contribui intensamente para o desenvolvimento das
potencialidades infantis.

Uma série de jogos, brinquedos e brincadeiras podem ser propostas às crianças,


levando em conta a ludicidade. Porém, antes de serem trabalhadas, devem ser
planejadas e pensadas à medida que é preciso que saibamos o que queremos
alcançar, a partir de uma ou outra brincadeira e, principalmente, que tipo de crianças
queremos formar.

O que devemos priorizar: a competição ou a cooperação ao propormos as atividades


lúdicas?

A criança precisa estar preparada para as adversidades. Então, por que não
trabalhar atividades competitivas? O mundo está cada vez mais marcado pela
violência, até mesmo entre as crianças. Então, devemos trabalhar atividades
cooperativas? O que devemos fazer diante dessas questões?

A competição faz com que as crianças se distanciem afetivamente umas das outras.
Consequentemente, tornam-se desunidas. O adversário pode até ser considerado
um inimigo, pois o objetivo de cada um é, somente, vencer.

A cooperação aproxima as crianças, principalmente, porque elas devem se unir para


realizar o jogo. O intuito não é derrotar o “inimigo”, mas ganhar junto com o “amigo”.

Diante dessas considerações, o educador deve refletir acerca dos jogos e


brincadeiras capazes de contribuir de maneira mais positiva no crescimento da
criança de modo que valores humanos, como o amor, o respeito, a compreensão, e
a paz, sejam estimulados no cotidiano escolar. Dificilmente tais valores serão

PEDAGOGIA 135
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cultivados se a competição estiver presente. Portanto, se pretendemos desenvolver


uma prática pedagógica que proporcione a interação social, a inclusão, enfim, o
crescimento infantil, temos um grande e importante recurso: os jogos cooperativos
que:

Possibilitam um maior nível de aceitação entre as pessoas que


passam a valorizar mais os diferentes tipos de relacionamento que
têm na vida, responsabi-lizando-se mais por seus comportamentos e
escolhas com maturidade e um posicionamento mais compromissado
com as relações. É desejável que possamos estar conscientes deste
processo (...) Talvez, jogando, jogando, jogando... possamos
aprender (PERON, 2001, p.10).

PEDAGOGIA 136
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Aula 48_Concluindo: o jogo e a brincadeira - crescimento, interação


social e inclusão

Com essa aula chegamos ao final de nossa última unidade e encerramos, também,
nossa disciplina. Espero que você tenha conseguido aprimorar seus conhecimentos,
construindo novos. Para concluirmos, nossa proposta é ressaltar que o jogo e a
brincadeira contribuem favoravelmente para os processos de crescimento, interação
social e inclusão dos educandos, uma vez que:

 brincando, a criança apropria-se da realidade e constrói novos saberes que


colaboram para o seu crescimento;

 brincando, a criança interage com os outros por meio de gestos, movimentos,


palavras e representações que contribuem para a sua interação social;

 brincando, a criança compartilha sentimentos, vivências e experiências em grupo


que possibilitam a inclusão.

Portanto, a Educação Infantil:

 tem a responsabilidade de proporcionar tempo e ambientes que priorizem o


brincar, respeitando o potencial infantil e as diferenças entre as crianças;

 deve prestar atendimento adequado, observando os princípios do cuidar e


educar, acolhendo as iniciativas infantis;

 ter uma equipe de professores que veja o educando como centro do seu
trabalho, valorizando as discussões pedagógicas;

PEDAGOGIA 137
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 acima de tudo, deve-se atender aos direitos e interesses das crianças,


favorecendo a construção de novos conhecimentos, a autoestima, a autonomia
e, principalmente, o seu desenvolvimento integral e de suas inúmeras
potencialidades.

Enfim, para construir novos conhecimentos, a Educação Infantil deve priorizar o


brincar, o brincar e o brincar.

“Pois qualidade que não seja meio para a felicidade é como panela
importada que faz angu encaroçado. É melhor parar de importar
panelas. É preciso desenvolver antes a capacidade de sentir prazer.
Mas, para isso, as escolas teriam de ser diferentes, as cabeças dos
pais teriam de ser diferentes, as cabeças dos professores teriam de
ser diferentes: menos saber e mais sabor...” Rubem Alves

PEDAGOGIA 138
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Resumo - Unidade VI

Chegamos ao final da sexta e última unidade.

Nossa proposta foi mostrar a maneira como os jogos e brincadeiras podem contribuir
para o processo de “crescimento” infantil, bem como para a interação social e
inclusão.

Vimos que o crescimento passa pela formação dos princípios e valores morais que a
criança constrói em seu meio social. Portanto, percebe-se a necessidade do trabalho
lúdico no ambiente escolar, priorizando ações capazes de desenvolver a cooperação
entre os educandos.

Demonstramos que os jogos e as brincadeiras podem contribuir para a interação


social, principalmente se estiverem pautados em atitudes cooperativas, pois, a partir
do momento em que a criança experimenta o amor, a alegria, o companheirismo, a
união, o respeito e a solidariedade, tende a praticá-los.

Enfocamos, também, que os jogos cooperativos são capazes de auxiliar a resolução


de conflitos, uma vez que se desenvolvem dentro de um clima participativo, solidário
e humano, em que todos se unem na busca do mesmo objetivo.

Apresentamos a dinâmica de ensino-aprendizagem dos jogos cooperativos,


proposta por Brotto (2001); enfatizamos que para utilizá-los é preciso conhecer e
relacionar três dimensões: a Convivência, a Consciência e a Transcendência,
principalmente porque, se o educador pretende estimular a construção de princípios
morais das crianças, como a união, a colaboração, a ajuda, o respeito e a
solidariedade, ele precisa saber compartilhar e ter condições de proporcionar um
ambiente pautado na cumplicidade entre os alunos de modo a integrar o jogo com a
vida.

Falamos, ainda, sobre a importância em internalizar os propósitos que envolvem a


consciência e a convivência cooperativa por parte do educador, pois, desta forma,
ele terá subsídios para trabalhar os jogos cooperativos junto às crianças, como um
meio estimulador para o crescimento, a interação e a inclusão infantil.

PEDAGOGIA 139
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Núcleo de Educação a Distância

Diante dessas considerações, propomos que o educador reflita acerca dos jogos e
brincadeiras capazes de contribuir de maneira mais positiva no crescimento da
criança, de modo que valores humanos, como o amor, o respeito, a compreensão e
a paz, sejam estimulados no cotidiano escolar. Dificilmente tais valores serão
cultivados, se a competição estiver presente.

Nossa disciplina termina aqui, mas lembre-se de que o nosso desenvolvimento


profissional não deve terminar nunca. É preciso que busquemos, sempre, aprimorar
e construir conhecimentos.

Referências Bibliográficas

BROTTO, Fábio Otuzi. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício


de convivência. Santos: Projeto Cooperação, 2001.

________. Jogos cooperativos: se o importante é competir, o fundamen-tal é


cooperar. Santos: Projeto Cooperação, 1997.

BROWN, Guillermo. Jogos cooperativos como auxiliar na resolução


de conflitos. Revista Jogos Cooperativos. Barueri: Lannes Consulting S/C: Ano I, n.
2, p.5-6, setembro 2001.

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PEDAGOGIA 140

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