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Módulo de Medicina
INTRODUÇÃO
Competências a dominar
Mecanismos da doença (MD)
Diagnóstico (D)
Terapêutica (T)
Gestão do doente (GD)
Enquadramento
INTRODUÇÃO
• Problema global
Prevalência
• Prevalência: 0,5-1%
Incidência
• Incidência anual: 0,03%
Fatores Fatores
genéticos ambientais
Tabagismo (fator de risco ambiental mais importante, associado a doença mais severa).
• Representa um FR para AR ACPA+ e não para AR ACPA-. Risco potenciado pelo SE.
Ambientais Outros fatores de risco:
• Exposição a sílica, óleos minerais e solventes orgânicos, Periodontite, Obesidade.
Patogénese
Mecanismos
Perda de tolerância
Produção de autoanticorpos
Inflamação sinovial
Destruição do osso e cartilagem
Inflamação sistémica
Patogénese – Perda da tolerância
Patogénese – Perda da tolerância
Sensibilidade 70-80%
Especificidade elevada (> 95%)
ACPA (anticorpos
Detetado em cerca de 10-15% de doentes com AR FR-
anti-CCP)
Podem ser detetados anos antes da AR clínica (mesmo antes do FR)
Associado a AR mais severa, com progressão radiográfica e pior prognóstico
Anti-CarP…. Anti-MAA….
Patogénese – Inflamação sinovial
Sinovial normal
Inflamação sinovial
Hiperplasia da mucosa
Aumento da atividade metabólica dos FLSs
Infiltrado inflamatório da submucosa (linfócitos T e B, plasmócitos e macrófagos)
Predominância de neutrófilos no fluido sinovial
Neoangiogênese
Pannus sinovial
Pescoço de cisne ou “swan neck” > Hiperextensão das IFP com flexão das IFD
Botoeira ou “boutonnière” > Hiperextensão das IFD com flexão das IFP
Polegar em Z ou “Z-shaped” > Flexão da MCF com hiperextensão da IF a 90ºgraus
Manifestações clínicas – Envolvimento articular
Boutonnière Polegar em Z Swam-neck Ruptura do tendão dos Desvio cubital das MCF e
flexores desvio radial do punho
Manifestações clínicas – Envolvimento articular
Envolvimento comum
Sinal típico: Sinovite com derrame articular
Perda mais precoce da extensão total do joelho, assumindo uma posição fletida
Joelho
Formação de cisto de Baker pela acumulação de líquido inflamatório, com risco de rutura
(diagnóstico diferencial com TVP/celulite)
Deformação em valgo (VS em varo, mais comum na OA)
Cisto de Baker
Manifestações clínicas – Envolvimento articular
Coluna torácica e Ao contrário das espondiloartropatias, tipicamente não afeta a coluna torácica e lombar.
lombar
Pode ser acompanhada de sintomas constitucionais (fadiga, febrícula, perda de peso e mialgias)
Manifestações clínicas – Nódulos reumatóides
Granulomas, formam-se em locais de pressão (cotovelo, occipital, palma das mãos e tendão
aquiliano). Pode surgir noutros locais (pleura, pericárdio, esclera, pulmão, coração).
Nódulos
Diagnóstico diferencial com tofos gotosos (Gota crónica)
reumatóides
Praticamente exclusivos de AR seropositiva, ocorrendo mais tardiamente na doença e
geralmente em associação a outras manifestações extra-articulares
Manifestações clínicas – Risco infecioso e neoplásico
Manifestações infrequentes
Outras
Episclerite – clínica aguda de olho vermelho, sem corrimento. Sem risco de perda de visão
manifestações
Esclerite – dor ocular intensa com descoloração com vermelho escuro e risco de perda de
oculares
visão associado
Manifestações clínicas – Envolvimento pulmonar
Incomum
Mais frequente em doentes com nódulos reumatoides subcutâneos e com altos níveis de FR
Parênquima –
Geralmente assintomáticos e com bom prognóstico
Doença pulmonar
Diagnostico diferencial com neoplasias ou infeções (principalmente nos casos de nódulo
nodular
solitário)
Síndrome de Caplan (nódulos pulmonares em doentes com pneumoconiose)
Doença pulmonar
Metotrexato; anti-TNF; leflunomida; rituximab; sulfassalazina e tocilizumab
iatrogénica
Tosse + dispneia
medicamentosa
Risco aumentado de doença coronária mesmo após controlo dos FRCV tradicionais
Arteriosclerose Aterosclerose correlacionada com atividade inflamatória sistémica
Terapêutica DMARD reduz risco cardiovascular pelo controlo da atividade inflamatória
Manifestações clínicas – Envolvimento hematológico e vasculite
Anemia normocítica normocrómica ligeira (maioria dos doentes, com correlação com
atividade da doença e elevação dos reagentes de fase aguda)
Alterações Trombocitose (frequente e com correlação com atividade da doença)
hematológicas Síndrome de Felty (hiperesplenismo com consequente pancitopenia). Complicação séria,
associada a infeções bacterianas recorrentes, úlceras cronicas nos membros inferiores e
mortalidade aumentada
Erosão não visível em Erosão não visível em RMN Erosão visível em RMN com Edema da medula
radiografia convencional sem contraste contraste óssea
Artrocentese
Pode ser útil para excluir infeção ou artropatia microcristalina nos casos monoartircular.
A análise do fluido sinovial não é especifica, mas indica inflamação.
Diagnóstico diferencial
Diagnóstico diferencial
Artrite vírica Serologia parvovirus B19; EBV; rubéola; HBV; HCV; HIV
Artrite psoriática Psoríase, entesite, dactilite, afeção das IFD, sinais radiográficos de
proliferação óssea
Osteoartrite Dor mecânica, sem elevação dos RFA, afeção das IFD; 1ºCMC (poupando MCF)
Artropatias microcristalinas Artrocentese com evidência de cristais, padrão mais oligo ou monoarticular
Critérios ACR/EULAR 2010 não são critérios de diagnóstico, mas sim de classificação
Critérios 2010 permitem diagnóstico e tratamento mais precoce, com vista a prevenir
progressão da doença
Diagnóstico – Avaliação da atividade da doença
Tratamento
Sem cura para a AR, no entanto remissão pode ser atingida e mantida numa porção de
doentes.
Objetivos do Tratamento
Perda de peso
MTX teratogénico
Tratamento – Leflunomida (LFN) csDMARD
Efeitos adversos: aumento das enzimas hepáticas, diarreia, alopécia, aumento da TA, rash
Efeitos adversos e e leucopenia. Casos raros de pneumonite e neuropatia periférica sensório-motora
contra-indicações Contra-indicações: Gravidez; doença hepática e renal crónica; imunodeficiência grave e
tratamento com rifampicina.
LFN demora 2 anos a desaparecer do organismo, mas com o uso de colestiramina ou carvão
ativado podemos reduzir esse tempo para 6 meses
Tratamento – Sulfassalazina (SSZ) csDMARD
Efeitos adversos : gastrointestinais, cefaleias, tonturas, rash. A maioria nos 1ºs meses
Efeitos adversos e Casos raros de dermatoses bolhosas ou síndrome DRESS. Oligospermia reversível.
contra-indicações Contra-indicações: hipersensibilidade a salicilatos ou sulfa-derivados; deficiência da G6PD
Cor alaranjada da urina, lagrimas e pele
Um dos poucos DMARDs (juntamente com HCQ e GCT de baixa dose) seguros na gravidez
Tratamento – Hidroxicloroquina (HCQ) csDMARD
Anticorpos
monoclonais (Ab)
Tratamento – Introdução aos biológicos bDMARD
Antagonistas
Proteínas de fusão
recombinantes
Tratamento – Biológicos Anti-TNF bDMARD
IV SC SC SC SC
Anticorpo quimérico anti- Proteína de fusão CTLA4-Ig Anticorpo humanizado Antagonista recombinante
CD20 anti-IL6r IL-1
IV IV/SC IV/SC SC
Risco relativo de linfomas não está mais aumentado nos doentes sob bDMARDs
A única exceção parece ser as neoplasias cutâneas não-melanoma (2x mais risco)
Tratamento – Inibidores JAK tsDMARD
Tratamento com DMARD (disease-modifying anti-rheumatic drug) deve ser iniciado logo
após o diagnóstico de AR (importância do diagnóstico precoce)
Corticoterapia em baixa dose deve ser considerada como parte inicial do tratamento (em
combinação com cDMARDs) por 6 meses e com redução da dose sempre que possível.
“Bridging therapy”
Tratamento
Nos casos de falência de objetivo podemos alterar para outro csDMARD ou bDMARD (nos
casos de doença mais severa – altos títulos de FR e ACPA, dano articular radiográfico)
Se falência de um bDMARD ou tsDMARD pode ser tentado tratamento com outro bDMARD (a
falência de um anti-TNF não é contra-indicação para o tratamento com outro anti-TNF)
Tratamento – EULAR Guidelines
Tratamento – EULAR Guidelines
Gestão do doente
AR, bem com o uso de glicocorticóides é um fator de risco para osteoporose, pelo que
medidas preventivas devem ser instituídas em todos os doentes (vitD+cálcio)
Medidas pré-cirúrgicas devem ser instituídas para prevenir subluxação C1-C2 e compressão
medular durante a anestesia (Rx coluna cervical previamente)
Erosões ósseas ocorrem nos primeiros 2 anos de doença pelo que o início da terapêutica
DMARD é essencial
15% dos doentes atingem remissão drug-free, contudo 50% dos doentes com AR não estão a
trabalhar 10 anos após o diagnóstico.
Casos clínicos Step-by-step
Artrite Reumatóide
Módulo de Medicina
Sexo feminino, 46 anos de idade, recorre à sua consulta de seguimento de Artrite Reumatoide. O diagnóstico de AR
foi efetuado há 2 anos atrás e inicialmente foi tratada com prednisona e metotrexato.
Apresentou uma boa resposta inicial ao tratamento, e como tal procedeu-se a uma redução progressiva da dose de
corticoide oral. No entanto nos últimos meses apresentou um agravamento progressivo dos sintomas, apesar do
aumento da dose de metotrexato.
A doente continua a ter rigidez e dor nas mãos todas as manhãs com duração de 2-3 horas, e artralgias crescentes ao
nível dos joelhos e tornozelos. Admite tomar frequentemente acetaminofeno e ibuprofeno mas os sintomas mesmo
assim limitam significativamente a atividade diária.
Não apresenta antecedentes médicos de relevo. Não fuma, não bebe álcool, nem consome drogas ilícitas. Ao exame
físico apresenta tumefação e dor simétrica das IFP, MCP, punho e joelho.
Do estudo analítico apresenta anemia normocitica, normocrómica com contagem leucocitária e plaquetária normal.
VS 55 mm/hr. Raio-x das mãos revela osteopenia periarticular e erosões articulares ligeiras.
Casos clínico-1
Sexo feminino, 46 anos de idade, recorre à sua consulta de seguimento de Artrite Reumatoide. O diagnóstico de AR
foi efetuado há 2 anos atrás e inicialmente foi tratada com prednisona e metotrexato.
Apresentou uma boa resposta inicial ao tratamento, e como tal procedeu-se a uma redução progressiva da dose de
corticoide oral. No entanto nos últimos meses apresentou um agravamento progressivo dos sintomas, apesar do
aumento da dose de metotrexato.
A doente continua a ter rigidez e dor nas mãos todas as manhãs com duração de 2-3 horas, e artralgias crescentes ao
nível dos joelhos e tornozelos. Admite tomar frequentemente acetaminofeno e ibuprofeno mas os sintomas mesmo
assim limitam significativamente a atividade diária.
Não apresenta antecedentes médicos de relevo. Não fuma, não bebe álcool, nem consome drogas ilícitas. Ao exame
físico apresenta tumefação e dor simétrica das IFP, MCP, punho e joelho.
Do estudo analítico apresenta anemia normocitica, normocrómica com contagem leucocitária e plaquetas normal. VS
55 mm/hr.
Raio-x das mãos revela osteopenia periarticular e erosões articulares ligeiras.
Casos clínico-1
Após discussão das opções terapêuticas, fica planeado iniciar tratamento biológico com anti-TNF.
Qual dos seguintes testes é o mais apropriado antes de iniciar o tratamento?
A) Densitometria óssea (DXA)
B) Ecocardiograma
Após discussão das opções terapêuticas, fica planeado iniciar tratamento biológico com anti-TNF.
Qual dos seguintes testes é o mais apropriado antes de iniciar o tratamento?
C) IGRA (Interferon-gamma release assay)
O objetivo terapêutico principal na artrite reumatoide consiste no controlo da sinovite aguda e em atrasar ou parar a
progressão crónica da destruição articular. Um número de agentes anti reumatoides modificadores de doença (DMARD’s)
têm mostrado atrasar a progressão da doença, mas nenhum regime terapêutico isolado é ideal para todos os doentes. A
escolha do tratamento depende de fatores específicos do doente e da potencial toxicidade dos diferentes fármacos.
Metotrexato é comumente escolhido para terapêutica inicial e pode ser combinado com um curso limitado de
corticoides orais (por exemplo, prednisona) para um alívio rápido dos sintomas. Para aqueles doentes que apresentam
sintomas recorrentes e persistentes apesar da terapêutica com metotrexato, os agentes biológicos são
frequentemente considerados.
Contudo, estes fármacos, como por exemplo os anti-TNF, estão associados a um risco aumentado de infeções
oportunistas, especialmente reativação da tuberculose. Por isso mesmo, os doentes devem fazer um rastreio de
tuberculose latente com a prova cutânea de tuberculina (derivado de proteína purificada) ou IGRA (interferon-gamam
release assay) antes de iniciar o tratamento.
Casos clínico-1
Após discussão das opções terapêuticas, fica planeado iniciar tratamento biológico com anti-TNF.
Qual dos seguintes testes é o mais apropriado antes de iniciar o tratamento?
A) Densitometria óssea (DXA)
A terapêutica com corticoides a longo prazo está associada a uma perda de massa óssea acelerada. Apesar do tratamento
inicial deste doente apresentar corticoides sistémicos e por isso necessitar de uma avaliação da densidade mineral óssea,
tal não seria necessário previamente a iniciar a terapêutica com anti-TNF.
B) Ecocardiograma
Anti-TNF tem sido reportados como causa de agravamento da insuficiência cardíaca e apresentam contraindicação
relativa em doentes com insuficiência cardíaca sintomática de base. No entanto, não existe evidência clara do aumento
da incidência de insuficiência cardíaca e como tal, ecocardiograma pré-tratamento não é necessário.
Casos clínico-1
Após discussão das opções terapêuticas, fica planeado iniciar tratamento biológico com anti-TNF.
Qual dos seguintes testes é o mais apropriado antes de iniciar o tratamento?
D)Titulação do fator reumatoide (FR)
Altos níveis de fator reumatoide estão associados a uma doença mais agressiva e a um maior risco de manifestações
extra-articulares (por exemplo, doença pulmonar). No entanto, os níveis de FR não se correlacionam com a atividade da
doença e não são necessários para determinar uma opção terapêutica.
Elevados níveis de imunoglobulina sérica podem dever-se a uma ativação imunológica monoclonal (por exemplo, mieloma
múltiplo) ou policlonal. A hipergamaglobulinemia policlonal é comum na AR, mas o seu doseamento não é comumente
requerido como rotina na sua abordagem.
Casos clínico-2
Sexo feminino, 45 anos de idade, recorre à sua consulta por rigidez progressiva, dor e tumefação das
articulações das mãos e punho com 3 meses de duração. Os sintomas são piores quando acorda e
apresentam uma melhoria gradual após várias horas. A doente queixa-se igualmente de fadiga, mas nega
rash cutâneo, lesões orais ou febre.
Recentemente iniciou clorotalidona para o tratamento da hipertensão, não tendo mais nenhuma
medicação habitual. Trabalha num centro de dia, admite ingerir bebidas alcoólicas ocasionalmente mas
nega hábitos tabágicos ou consumo de drogas ilícitas.
Refere que a sua mãe teve “artrite” já em idade avançada e que a sua irmã tem lúpus eritematoso
sistémico (LES).
Apresenta-se com temperatura e sinais vitais dentro do normal. Ao exame físico apresenta tumefação,
dor e calor da 2ªe 3ª IFP (interfalângicas proximal), das MCF (metacarpofalângicas) e punhos,
bilateralmente. O restante exame físico não demonstrou alterações de relevo.
Casos clínico-2
Sexo feminino, 45 anos de idade, recorre à sua consulta por rigidez progressiva, dor e tumefação das
articulações das mãos e punho com 3 meses de duração. Os sintomas são piores quando acorda e
apresentam uma melhoria gradual após várias horas. A doente queixa-se igualmente de fadiga, mas nega
rash cutâneo, lesões orais ou febre.
Recentemente iniciou clorotalidona para o tratamento da hipertensão, não tendo mais nenhuma
medicação habitual. Trabalha num centro de dia, admite ingerir bebidas alcoólicas ocasionalmente mas
nega hábitos tabágicos ou consumo de drogas ilícitas.
Refere que a sua mãe teve “artrite” já em idade avançada e que a sua irmã tem lúpus eritematoso
sistémico (LES).
Apresenta-se com temperatura e sinais vitais dentro do normal. Ao exame físico apresenta tumefação,
dor e calor da 2ªe 3ª IFP (interfalângicas proximal), das MCF (metacarpofalângicas) e punhos,
bilateralmente. O restante exame físico não demonstrou alterações de relevo.
Casos clínico-2
2.1 Qual dos seguintes passos é o mais apropriado na abordagem desta doente?
A) Pedir serologia da doença de Lyme (Borrelia Burgdorferi) e iniciar doxiciclina
B) Pedir anticorpos parvovirus e iniciar acetaminofeno
C) Pedir níveis de ácido úrico e iniciar colchicina
D) Pedir anti-dsDNA e iniciar naproxeno
E) Pedir FR e iniciar ibuprofeno
Casos clínico-2
2.1 Qual dos seguintes passos é o mais apropriado na abordagem desta doente?
E) Pedir FR e iniciar ibuprofeno
Características clínicas da Artrite Reumatoide
Apresentação clínica Dor, tumefação e rigidez matinal em múltiplas articulações
Pequenas articulações (IFP, MCF, MTF). Poupa IFD
Sintomas sistémicos (febre, perda de peso, anemia)
Envolvimento coluna cervical: subluxação, compressão medular
Alterações laboratoriais Fator reumatoide e anticorpos anti-CCP positivos
PCR e VS com correlação com atividade da doença
/imagiológicas Raio x: tumefação tecidos moles, diminuição espaço articular, erosões ósseas
Esta doente apresenta uma poliartrite simétrica, crónica associada a rigidez matinal prolongada nas mãos e punhos,
consistente com Artrite Reumatoide (AR). AR é diagnosticada primariamente com base em alterações clinicas, mas
estudos serológicos como o Fator Reumatoide (valor preditivo limitado na população geral) e anti-CCPA
(especificidade>90%), podem ajudar a clarificar o diagnostico. Os resultados são positivos na maioria dos doentes num
determinado ponto do curso da doença mas podem ser negativos em 50% dos doentes na altura da apresentação inicial.
Os marcadores inflamatórios de fase aguda, como por exemplo VS e PCR, são não-específicos mas devem ser
igualmente requeridos, visto que se encontram geralmente elevados na fase ativa da doença e podem ser usados para o
seguimento da mesma. Esta doente deve igualmente iniciar um AINE (por exemplo, ibuprofeno ou naproxeno), que
pode aliviar os sintomas enquanto a avaliação diagnostica está a ser completada.
Casos clínico-2
2.1 Qual dos seguintes passos é o mais apropriado na abordagem desta doente?
A) Pedir serologia da doença de Lyme (Borrelia Burgdorferi) e iniciar doxiciclina
A doença de Lyme pode ocasionalmente apresentar-se com artrite das pequenas articulações. No entanto, os sintomas são
tipicamente intermitentes, assimétricos e migratórios, ao invés do que se verifica nesta doente (crónica, progressiva e
simétrica). Para além disso, a maioria dos doentes apresenta um rash característico antes do início de sintomas
musculosqueléticos.
Parvovirus B19 pode causar uma poliartrite simétrica das mãos, punhos e pés que se assemelha à AR. No entanto, sinovite
palpável é menos proeminente na artrite por parvovirus e a maioria dos doentes apresenta uma melhoria passado 3-6
semanas, pelo menos parcial.
Casos clínico-2
2.1 Qual dos seguintes passos é o mais apropriado na abordagem desta doente?
C) Pedir níveis de ácido úrico e iniciar colchicina
Gota tipicamente apresenta-se como monoartrite aguda na 1ª metatarsofalângica (MTF) ou joelho. Sintomas crónicos e
poliarticulares são mais consistentes com AR.
A abordagem do LES inicia com os anticorpos antinucleares (ANA’s), que apresentam maior sensibilidade, e se positivo,
deve ser seguido por doseamento dos anticorpos anti-dsDNA (elevada especificidade). No entanto, a artrite do LES é
tipicamente transitória, migratória e associada apenas a rigidez matinal curta.
Casos clínico-2
2.2 Uma semana após, a doente regressa à sua consulta e afirma que os seus sintomas
melhoraram com o tratamento prescrito. Os resultados laboratoriais entretanto demonstraram:
ANA negativo; FR negativo; anti-CCP negativo; PCR 5,5 mg/dL. A radiografia das mãos revelou
osteopenia periarticular ligeira com erosões precoces nas IFP e MCF. Qual das seguintes
abordagens é a mais indicada nesta doente?
A) Adicionar corticoide oral de baixa dose
B) Continuar apenas com AINE
C) Iniciar metotrexato (MTX)
D) Sem nenhuma intervenção adicional necessária
E) Iniciar terapêutica anti-TNF
Casos clínico-2
2.2 Uma semana após, a doente regressa à sua consulta e afirma que os seus sintomas
melhoraram com o tratamento prescrito. Os resultados laboratoriais entretanto demonstraram:
ANA negativo; FR negativo; anti-CCP negativo; PCR 5,5 mg/dL. A radiografia das mãos revelou
osteopenia periarticular ligeira com erosões precoces nas IFP e MCF. Qual das seguintes
abordagens é a mais indicada nesta doente?
C) Iniciar metotrexato (MTX)
Esta doente tem uma apresentação clinica consistente com AR, apesar dos marcadores imunológicos serem negativos
(FR e anti-CCPA). Os doentes FR ou CCPA positivos estão associados a um curso com destruição articular acelerada,
enquanto os doentes com AR seronegativa (FR e CCPA negativos) geralmente apresentam um curso menos agressivo. No
entanto, esta doente apresenta uma elevação significativa da PCR e já apresenta evidências precoces de destruição
articular visíveis no raio x, sugerindo pelo menos uma doença com gravidade moderada.
Doentes com AR ativa devem iniciar um agente modificador da doença (DMARD), visto que estes fármacos provaram
serem capazes de reduzir a progressão das erosões ósseas e a perda de cartilagem. Os DMARD’s comumente usados são
metotrexato, hidroxicloroquina, sulfassalazina, leflunomida e azatioprina. Metotrexato é a escolha inicial para a
maioria dos doentes, mas se a resposta não for adequada, outros DMARD’s podem ser usados.
C
Casos clínico-2
2.2 Uma semana após, a doente regressa à sua consulta e afirma que os seus sintomas
melhoraram com o tratamento prescrito. Os resultados laboratoriais entretanto demonstraram:
ANA negativo; FR negativo; anti-CCP negativo; PCR 5,5 mg/dL. A radiografia das mãos revelou
osteopenia periarticular ligeira com erosões precoces nas IFP e MCF. Qual das seguintes
abordagens é a mais indicada nesta doente?
A) Adicionar corticoide oral de baixa dose
B) Continuar apenas com AINE
AINE’s são uteis para o controlo dos sintomas da AR durante a apresentação inicial e para alívio de exacerbações
(flares) agudas, mas não foram capazes de demonstrar capacidade de prevenção da destruição articular. Os corticoides
sistémicos são usados inicialmente para alívio sintomático, ou em baixas does, para doentes com sintomas residuais
com terapêutica DMARD apropriada. No entanto, os corticoides tem efeitos adversos a longo prazo significativos e
portanto não devem ser usados ao invés da terapêutica DMARD.
Casos clínico-2
2.2 Uma semana após, a doente regressa à sua consulta e afirma que os seus sintomas
melhoraram com o tratamento prescrito. Os resultados laboratoriais entretanto demonstraram:
ANA negativo; FR negativo; anti-CCP negativo; PCR 5,5 mg/dL. A radiografia das mãos revelou
osteopenia periarticular ligeira com erosões precoces nas IFP e MCF. Qual das seguintes
abordagens é a mais indicada nesta doente?
E) Iniciar terapêutica anti-TNF
Anti-TNF (inibidores TNF, como por exemplo, etanercept ou infliximab) são agentes biológicos altamente eficazes na
abordagem da AR. No entanto, são fármacos caros e com efeitos adversos significativos, pelo qual são usados em
doentes que falham terapêutica de primeira linha. Portanto não devem ser usados ao invés da terapêutica DMARD.
Casos clínico-2
A suplementação com ácido fólico é recomendada para todos os doentes sob tratamento com MTX, visto que reduz os
efeitos adversos sem perda de eficácia. A maioria dos efeitos adversos do MTX são reversíveis com a descontinuação da
medicação, mas os doentes devem ser observados regularmente, visto que a sua descontinuação pode precipitar uma
exacerbação da AR.
Casos clínico-2
A miopatia induzida por fármacos com elevada CK associada, é vista em alguns DMARD’s (por exemplo hidroxicloroquina,
anti-TNF) mas não é uma complicação comum do MTX.
MTX pode ocasionalmente causar pneumonite inflamatória e fibrose pulmonar. Alguns especialistas recomendam um raio
x do tórax previamente a iniciar o tratamento, mas avaliação da função pulmonar de base, não é necessária.
Casos clínico-2
Altas doses de MTX pode causar mielosupressão. No entanto, as doses baixas usadas na AR, não estão associadas a um
risco significativo de infeções oportunistas, pelo que antibioterapia profilática não esta indicada. Mais ainda, TMP-SMX
pode inibir o metabolismo do folato e portanto deve ser evitado nos doentes sob MTX.
Piridoxina (Vitamina B6) é indicada para a prevenção da neuropatia associada ao tratamento com isoniazida. A
neuropatia não é um efeito adverso comum com o MTX.
Espondiloartropatias
Módulo de Medicina
INTRODUÇÃO
Competências a dominar
Diagnóstico (D)
Espondiloartropatias, classificação clássica
Artrite enteropática
Espondiloartrite juvenil
Espondiloartropatia deve ser suspeitada em doentes jovens (<40 anos), com quadro
insidioso de dor lombar (com ou sem irradiação para o glúteo) associada a rigidez matinal
prolongada e aliviado pelo exercício (ritmo inflamatório)
• “Dedo em salsicha”
• Não é comum na EA, mas mais típico da ReA e APso
• Tumefação fusiforme de um dedo (mão ou pé) - tumefação não confinada a uma
Dactilite
articulação ao contrário da sinovite
• Resulta de uma combinação de sinovite, entesite, tenossinovite e edema de tecidos
moles
Manifestações clínicas gerais
Entesite consiste na inflamação dolorosa dos locais de inserção dos tendões, ligamentos,
fáscias ou cápsulas articulares no osso (enteses)
Outras manifestações
• Esclerite, episclerite e conjuntivite menos frequentes
oculares
Manifestações clínicas gerais
• Insidioso
Fibrose pulmonar
• Mais comum nos segmentos apicais (lobos superiores)
Compressão • Compressão da medula óssea por subluxação atlantoaxial, síndrome da cauda equina
medular ou fraturas vertebrais
Espondilite anquilosante (EA)
Artrite periférica asséptica que ocorre semanas após uma infeção (genitourinária –
Chlamydia ou gastrointestinal – Shigella, Salmonella, Yersinia, Campylobacter)
Heterogénea, pode ter envolvimento axial e/ou periférico, mas distingue-se padrões:
Ocorrência de artrite inflamatória em doentes com colite ulcerosa (CU) ou doença de Chron
• Sacroileíte radiográfica “Hallmark” da EA, mas demora vários anos a tornar-se visível
Radiografia das no Rx
sacroilíacas • Graduação de acordo com critérios de Nova Iorque
• Alterações radiográficas geralmente simétricas
• Squaring – resultante das erosões do bordo superior e inferior dos corpos vertebrais
Radiografia da
• Sindesmófitos – ossificação do ligamento anular
coluna
• Coluna em bamboo – unificação dos sindesmófitos
Espondiloartropatias
Módulo de Medicina
Sexo feminino, 23 anos de idade, recorre à sua consulta por dor lombar progressiva e rigidez. Refere que
quadro se arrasta nos últimos anos e tem agravado nas semanas mais recentes. Descreve alívio com
atividade física e ibuprofeno. Associadamente descreve rigidez matinal que dura geralmente uma hora.
Nega rash, sintomas oculares, urinários ou diarreia. Apresenta como antecedentes uma apendicectomia
aos 11 anos de idade. Sob anticontraceptivo oral há 2 anos e é sexualmente ativa com um parceiro. Ao
exame físico apresenta-se apirética, com peso e altura dentro dos parâmetros normais. Apresenta
redução da flexão da coluna lombar e dor à palpação sob a região lombossagrada. O restante exame
físico é normal.
Casos clínico-1
Sexo feminino, 23 anos de idade, recorre à sua consulta por dor lombar progressiva e rigidez. Refere que
quadro se arrasta nos últimos anos e tem agravado nas semanas mais recentes. Descreve alívio com
atividade física e ibuprofeno. Associadamente descreve rigidez matinal que dura geralmente uma hora.
Nega rash, sintomas oculares, urinários ou diarreia. Apresenta como antecedentes uma apendicectomia
aos 11 anos de idade. Sob anticontraceptivo oral há 2 anos e é sexualmente ativa com um parceiro. Ao
exame físico apresenta-se apirética, com peso e altura dentro dos parâmetros normais. Apresenta
redução da flexão da coluna lombar e dor à palpação sob a região lombossagrada. O restante exame
físico é normal.
Casos clínico-1
Qual dos seguintes testes será mais útil para estabelecer o diagnóstico da doente?
A) Anticorpos antinucleares (ANA)
B) Velocidade de sedimentação eritrocitária (VS)
C) Raio-x das articulações sacroilíacas
D) DEXA (Densitometria óssea)
E) Prova terapêutica com prednisona
Casos clínico-1
Qual dos seguintes testes será mais útil para estabelecer o diagnóstico da doente?
C) Raio-x das articulações sacroilíacas
Qual dos seguintes testes será mais útil para estabelecer o diagnóstico da doente?
C) Raio-x das articulações sacroilíacas
Este doente apresenta características típicas de espondilite anquilosante (EA), nomeadamente dor lombar crónica e
progressiva e rigidez; alívio da dor com atividade; dor à palpação lombossagrada; limitação da mobilidade da coluna
vertebral. O pico de incidência afeta indivíduos com 20-30 anos. Apesar do ratio H:M de 2:1, deve ser considerada em
qualquer paciente jovem com dor lombar progressiva e rigidez associada.
Em doentes jovens com dor lombar inflamatória característica, a radiografia da pélvis evidenciando sacroileíte pode
confirmar o diagnóstico de EA. No entanto, em estadios iniciais o raio-x pode ser negativo, sendo que nesses casos a
RMN pode confirmar sacroileíte. A fusão dos corpos vertebrais com ossificação dos discos intervertebrais (coluna em
bamboo) também sugere o diagnóstico.
Casos clínico-1
Qual dos seguintes testes será mais útil para estabelecer o diagnóstico da doente?
A) Anticorpos antinucleares (ANA)
Anticorpos antinucleares estão caracteristicamente elevados no LES, e FR encontra-se geralmente elevado na AR. Ambos
podem se encontrar elevados numa inúmera variedade de doenças reumatológicas, mas nenhum está particularmente
associado à EA. AR também frequentemente não envolve a coluna vertebral, com exceção da região cervical.
Marcadores de fase aguda (PCR, VS) encontram-se geralmente elevados na EA. No entanto, estes testes têm baixa
especificidade para estabelecer o diagnóstico.
Casos clínico-1
Qual dos seguintes testes será mais útil para estabelecer o diagnóstico da doente?
D) DEXA (Densitometria óssea)
Densitometria óssea não é recomendada para o diagnóstico de EA. Seria especialmente útil para identificar osteomielite,
fraturas suspeitas ou neoplasmas.
PMR (Polimialgia Reumática) é caracterizada por dor intensa nas cinturas escapulares e pélvicas associada a elevação dos
marcadores de fase aguda. Uma prova terapêutica com corticoides pode ajudar a estabelecer o diagnóstico, visto que na
PMR é de esperar um rápido alívio dos sintomas. No entanto, a PMR não é observada antes dos 50 anos de idade e não
afeta a mobilidade da coluna.
Gota e outras artropatias
microcristalinas
Módulo de Medicina
INTRODUÇÃO
Competências a dominar
Mecanismos da doença (MD)
Diagnóstico (D)
Prevenção (P)
Terapêutica (T)
Gestão do doente (GD)
Enquadramento
Progressão para artrite crónica, deformativa e debilitante que pode afetar qualquer
articulação periférica
Acima desta concentração, o urato pode formar cristais de ácido úrico em condições
fisiológicas
Epidemiologia
INTRODUÇÃO
• Prevalência: 1-2% adultos (7% homens com > 65 anos)
Prevalência
• Incidência e prevalência crescente (idade, diuréticos, co-morbilidades como
Incidência
obesidade, hipertensão, doença renal, cardiovascular e síndrome metabólico)
É um ácido fraco que no pH fisiológico, 98% se encontra na sua forma ionizada de urato.
Devido às altas concentrações do sódio no compartimento extracelular, a maioria
Formação dos
apresenta-se como MSU (urato monosódico) com um baixo limiar de solubilidade de 380
cristais de ácido
umol/L (6,0 mg/dL)
úrico
Quando concentrações de urato excedem esse limite, o risco de formação de cristais de
MSU e sua precipitação aumenta
Patofisiologia
INTRODUÇÃO
Patofisiologia
INTRODUÇÃO
Síntese de purinas principalmente realizada a nível hepático.
Defeitos Durante a sua degradação existe múltiplas vias de salvação, que permitem a reutilização
metabolismo de diversos nucleotídios (pex. HGRT) – deficiência total : Doença Lesch-Nyhan
Estes defeitos genéticos correspondem a uma minoria dos casos de gota
INTRODUÇÃO
Causa mais comum de gota (90%) (filtração de urato diminuida)
A incapacidade de aumentar a uricosuria quando os níveis de uricemia aumentam, o que
Excreção renal caracteriza a maior parte dos doentes hiperuricémicos, provavelmente reflete
diminuida polimorfismos de genes envolvidos no transporte tubular de urato
Alguns medicamentos como ciclosporina, AAS em baixa-dose e diuréticos reduzem a
excreção renal de urato conduzindo a hiperuricemia
Patofisiologia
INTRODUÇÃO
O principal fator influenciador da formação de cristais de MSU é a concentração local de urato.
No entanto a sua solubilidade pode ainda ser afetada pela hidratação articular, temperatura, pH,
concentração de catiões, protelogicanos, colagénio e sulfato de condroitina
INTRODUÇÃO
Mas o que desencadeia a inflamação na crise de gota ?
A inflamação desencadeada pelos cristais de MSU pode ativar o inflamassoma-NLRP3, com estimulação da IL-1
(vias similares aos síndromes autoinflamatórios)
Patofisiologia
INTRODUÇÃO
O que justifica a sua natureza auto-limitada ?
Dos aspetos menos claros da sua patofisiologia, uma das possibilidades pode estar
Auto-limitado relacionada com a diferenciação dos monócitos em macrófagos e mudança da produção de
citocinas pró-inflamatórias para anti-inflamatórias (TGF-1)
Clínica
INTRODUÇÃO
A história natural da gota é composta classicamente de 3 fases
INTRODUÇÃO
Início agudo de dor intensa, tumefação, com eritema e dor ao toque, que atinge o pico
Gota aguda – máximo nas primeiras 6-12h e que frequente// se inicia de noite ou no inicio da manhã
Quadro de Mais frequentemente apresenta-se como monoartrite aguda (10% como oligoartrite)
apresentação Poliartrite rara, mas pode surgir nos idosos, mulheres e transplantados
Pode ser acompanhada de febre quando afeta grandes articulações ou poliartrite
Episódica, com alternância entre ataques agudos de gota e períodos longos intercriticos,
Evolução
durante os quais o doente encontra-se assintomático
Clínica
INTRODUÇÃO
Com a progressão da doença e sem tratamento, os ataques de gota tendem a ser mais frequentes, afetar
articulações adicionais e tornar-se mais poliarticular e persistente, conduzindo a gota crónica
Artropatia úrica Artropatia destrutiva, devido à infiltração do urato, responsável por dor mecânica e dano
crónica permanente, interespaçada por períodos de inflamação aguda/subaguda
Clínica
INTRODUÇÃO
Tofo na bursa
Crise aguda no tarso Cristais de MSU Gota tofácea
olecraniana
Diagnóstico - artrocentese
INTRODUÇÃO
A identificação de cristais de MSU no fluido sinovial obtido por artrocentese de articulações com crise
aguda ou de tofos gotosos permite um diagnóstico definitivo inequívoco
Quando uma artrite infeciosa ocorre numa articulação com cristais de MSU ou CPP , os cristais serão
identificados na amostra de liquido sinovial, pelo que sempre que o diagnóstico de artrite infeciosa for
plausível, a presença de cristais não deve impedir o exame cultural do liquido sinovial.
INTRODUÇÃO
Sob microscopia polarizada compensada, os cristais de MSU apresentam-se como intracelulares,
birrefringentes fortemente negativos e em forma de agulha
A hiperuricemia por si só não faz o diagnóstico de gota, até porque na maioria dos casos
é assintomática.
Hiperuricemia Por outro lado os níveis séricos de ácido úrico tendem a diminuir durante as crises agudas,
podendo ser mesmo normal durante a crise.
Os tofos devem ser diferenciados de outras lesões nodulares, pelo que a sua
Tofos gotosos instrumentação e consequente pesquisa de cristais sob microscopia polarizada deve ser
realizada.
Diagnóstico
INTRODUÇÃO
Durante uma crise aguda geralmente apenas com edema dos tecidos moles
Na fase crónica, já com erosões justa-articulares em “saca-bocados” ou “punched out”,
Alterações
com osteófitos. Preservação do espaço articular até fases tardias da doença
radiográficas
Massas de tecidos moles nos doentes com tofos gotosos
Sem osteopenia periarticular
Cristais de MSU podem ser detetados por ecografia (deposição ao longo da superfície da
Alterações
cartilagem articular, mas também no tecido sinovial e tendões)
ecográficas
Promissor, mas ainda sem estudos a determinar sensibilidade/especificidade
Alterações
Leucocitose e marcadores inflamatórios elevados (VS e PCR) mas inespecíficos
analíticas
Diagnóstico
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
Diagnóstico diferencial
Artrite séptica
INTRODUÇÃO
Sem causa identificável de hiperuricemia
Gota primária Frequentemente acompanhada de outras condições como obesidade, alcoolismo,
hipertensão, diabetes mellitus tipo 2, apneia obstrutiva do sono e hipertrigliceridemia
Gota secundária Consequência de fármacos: diuréticos, ciclosporina e tacrolimus ou aspirina em baixa dose
Nefropatia é frequentemente encontrada em associação com gota (10-40%), com um risco 2x superior
Doentes com hiperuricemia e/ou gota devem ser avaliados para a presença de síndrome metabólico (60-
70%), explicando de facto o aumento do risco cardiovascular nestes doentes
Tratamento da crise aguda
INTRODUÇÃO
Tratamento dirigido à redução da inflamação (ao invés de eliminar os cristais) e rápido controlo
da dor
INTRODUÇÃO
Altamente eficaz quando usado precocemente (primeiras 24-48h)
Geralmente necessário tratamento 1-2 semanas durante a crise, e por vários meses se for
iniciado o tratamento hipouricemiante de forma a prevenir crises agudas.
Pode ser usada em combinação com outros anti-inflamatórios
Colquicina oral
Efeitos adversos comuns: gastrointestinais (diarreia, vómitos), rapidamente reversíveis
Mielotoxicidade e miotoxiciade incomum
Interações com claritromicina, eritroimicina, ciclosporina e disulfiram
Via endovenosa com risco inaceitável de supressão da medula óssea
Tratamento da crise aguda
INTRODUÇÃO
Eficazes no tratamento das crises agudas, em doses máximas exceto se contraindicações
Escolha do AINE específico variável (preferência por indometacina com base empírica).
AINE’s
Inibidores COX-2 se doentes com contraindicações gastrointestinais.
Limitações: efeitos gastrointestinais, cardiovasculares e renais, doentes hipocoagulados
Se sob tratamento hipouricemiante, este não deve ser interrompido durante as crises agudas
Tratamento hipouricemiante
INTRODUÇÃO
Objetivo primário do tratamento hipouricemiante é manter a concentração de urato
Quanto ? abaixo do ponto de saturação (<6,0 mg/dl)
Na presença de gota tofácea grave, recomenda-se <5,0 mg/dL
A menos que mudanças de dieta e estilos de vida sejam suficientes para reduzir os níveis
Até ?
séricos de ácido úrico, o tratamento com fármacos hipouricemiantes deve ser contínuo.
Tratamento hipouricemiante
INTRODUÇÃO
Uricostático Uricosúrico Uricolítico
Febuxostat Rasburicase
Não existe indicação para tratamento de hiperuricemia assintomática (exceto prevenção e tratamento do
SLT-Síndrome de Lise Tumoral)
Redução dos níveis séricos de ácido úrico conduzem a melhorias da função renal em doentes gotosos e não-
gotosos com insuficiência renal
Tratamento hipouricemiante
INTRODUÇÃO
Primeira-linha do tratamento hipouricemiante
Análogo purínico que inibe a xantina oxidase, reduzindo o total de ácido úrico formado.
Iniciar em doses baixas (100mg/dia) para evitar ou reduzir a incidência de crises agudas
com a iniciação do tratamento
Alopurinol Aumentar progressivamente (300-600mg) até atingir objetivo terapêutico.
Intolerância cutânea ocorre precocemente (primeiros 3 meses) e deve ser CI – síndrome de
hipersensibilidade ao alopurinol (risco aumentado se uso concomitante de tiazidas)
Ajustar à função renal e evicção de AINE’s quando TFG <50ml/min
Risco de supressão medular com co-administração com azatioprina
INTRODUÇÃO
Aumentam a filtração renal de urato (maioria dos doentes com redução da filtração renal)
Probenecid, sulfinpirazona e benzbromarona.
Fármacos Úteis como terapêutica de 2ª linha ou em associação ao alopurinol em casos refratários
uricosúricos Ineficazes se TFG <50ml/min
Aumentam o risco de urolitíase, pelo que contra-indicados em doentes com historia prévia
Deve ser promovida ingestão hídrica abundante e mantido pH urinário > 6
Losartan, BCC, estatinas e fibratos com potencial uricosúrico (redução dos níveis de ácido úrico
INTRODUÇÃO
A redução dos níveis de urato induz a mobilização dos cristais de ácido úrico, podendo resultar
em crises agudas quando o tratamento é iniciado
INTRODUÇÃO
Doentes com hiperuricemia e/ou gota devem ser avaliados para a presença de síndrome metabólico (60-
70%), explicando de facto o aumento do risco cardiovascular nestes doentes
Dieta hipocalórica diminui níveis séricos de ácido úrico pelo aumento da filtração de urato
INTRODUÇÃO
Clinicamente heterogénea, caracteriza-se pela presença de cristais de CPP intra-articulares
INTRODUÇÃO
Deposição de cristais de CPP na cartilagem articular deve-se a um nível excessivo de Ca x
PP local.
Deposição na cartilagem, matriz pericelular não mineralizada e fibrocartilagem
Maior predisposição em doentes com hipofosfofatemia, hipomagnesemia,
hiperparatiroidismo primário, hipercalcemia hipocalciúrica familiar e hemocromatose
Patofisiologia
Dano prévio da cartilagem favorece deposição de cristais de CPP, explicando associação
com trauma prévio da articulação envolvida.
Cristais de CPP induzem inflamação aguda, ativando via intracelular do inflamassoma
NALP3.Interação com fibroblastos sinoviais e consequente libertação de metaloproteinases
responsáveis pela destruição articular
Doença de deposição de cristais de pirofosfato de cálcio (CPPD)
INTRODUÇÃO
CPPD assintomática
• Condrocalcinose radiográfica em idosos assintomáticos
Pseudo-osteoartrite
• Manifestação clínica mais comum (>50%)
• Artrite não inflamatória, envolvendo articulações raramente afetadas na OA (punho,
joelho, tornozelo e MCF)
Apresentação
Artrite aguda por CPP (pseudo-gota)
clínica
• Causa comum de monoartrite aguda no idoso, início abrupto e curso auto-limitado
• Afeta mais frequentemente joelho (também punho, tornozelo e ombro)
• Triggers: trauma, doença grave, cirurgia, infusão de bifosfonato, paratiroidectomia,
viscosuplementação e lavado articular
• Pode ser acompanhado de febre e elevação de RFA (diagnóstico diferencial com artrite
infeciosa)
Doença de deposição de cristais de pirofosfato de cálcio (CPPD)
INTRODUÇÃO
Artrite crónica por CPP
• Poliartrite simétrica crónica, mimetizando artrite reumatoide
• Radiografia sem erosões marginais, com condrocalcinose, esclerose óssea subcondral,
Apresentação geodes epifisários e osteofitose.
clínica • Afeção da articulação trapezioescafóide fortemente associada com CPPD, sendo que
frequentemente poupa a 1ª CMC
• Envolvimento proximal pode mimetizar polimialgia reumática
• Hemartrose é uma característica clássica da CPPD, podendo ser recorrente
Doença de deposição de cristais de pirofosfato de cálcio (CPPD)
INTRODUÇÃO
Envolvimento da coluna
• Depósitos assintomáticos nos discos intervertebrais, contudo podem desencadear
inflamação e alterações destrutivas sugestivas de discite infeciosa (sem abcessos em
estudos de imagem)
Apresentação • Envolvimento das articulações interapofisárias com erosões e instabilidade
clínica • Síndrome “crowned dens” -> depósitos de cálcio na apófise odontoide, responsáveis por
dor aguda na coluna cervical superior e occipital
Tenossinovite
• Calcificações lineares finas nos tendões (ao contrário de opacidade arredondadas nos
depósitos de BCF.
Condrocalcinose
Doença de deposição de cristais de pirofosfato de cálcio (CPPD)
INTRODUÇÃO
Identificação do cristais de CPP pela análise do fluído sinovial permite o diagnóstico definitivo
Doentes jovens (<55 anos) devem ser avaliados para hiperparatiroidismo primário (cálcio sérico e PTH),
hemocromatose (ferritina), hipomagnesemia (magnésio) e hipofosfatemia (FA)
Doença de deposição de cristais de pirofosfato de cálcio (CPPD)
INTRODUÇÃO
Puramente sintomático (nenhum medicamento com influencia na deposição de CPP)
Medidas não-farmacológicas: descanso e aplicação de gelo tópico
Infiltrações de glicocorticóides intra-articulares
Tratamento AINE’s (limitados pela toxicidade na população idosa)
Glicocorticoides sistémicos (curto curso) nas crises poliarticulares severas
Colquicina em doentes com ataques frequentes de pseudogota
CPPD assintomática sem necessidade de tratamento
Doença de deposição de cristais de fosfato de cálcio básico (apatite)
INTRODUÇÃO
Acumulação anormal de apatite pode surgir em estados hipercalcémicos ou outras doenças
Cristais de BCP ao contrário dos cristais de MSU ou CPP não são identificados por
Patofisiologia
microscopia polarizada, podendo apenas ser visíveis em microscopia por electrões.
A forma mais comum consiste numa periartrite calficada, tipicamente no ombro.
DISH (Diffuse
idiopathic skeletal Ossificações ao longo do aspeto anterolateral da coluna vertebral
hyperostosis
Doença de deposição de cristais de fosfato de cálcio básico (apatite)
INTRODUÇÃO
Ataques agudos de artrite e bursite podem ser auto-limitados, mas infiltrações intra-
Tratamento articulares ou peri-articulares de glicocorticóides ou uso de AINE’s podem diminuir a
duração e intensidade dos sintomas
Doença de deposição de cristais de oxalato de cálcio (oxalose)
INTRODUÇÃO
Deposição de cristais de oxalato nos tecidos
Oxalose primária – doença metabólica hereditária, com nefrocalcinose, insuficiência renal
e mortalidade precoce
Oxalose secundária – complicação da hemodiálise de longa duração e diálise peritoneal,
Oxalose
com deposição de de cristais no osso, cartilagem, sinovial e tecido periarticular
Artrite inflamatória com envolvimento de articulações periféricas
Cristais fortemente birrefringentes bipiramidais sob microscopia polarizada
Tratamento com AINE’s, glicocorticoides intra-articulares e colquicina
Casos clínicos Step-by-step
Sexo masculino, caucasiano, 61 anos de idade, recorre ao Serviço de Urgencia por dor intensa no joelho direito, com
início há 12 horas. Apresenta igualmente queixas de mal-estar generalizado e febre de baixo grau. Nega qualquer
história de trauma.
Reporta como antecedentes médicos: doença ulcerosa péptica (DUP), diabetes mellitus tipo 2 (DM tipo 2),
hipertensão artéria e insuficiência renal crónica. Teve um internamento há 1 ano por hemorragia gastrointestinal
superior com necessidade de transfusão sanguínea. Admite fumar 1 maço de cigarros diariamente desde há 40 anos.
Hematócrito
No que concerne ao alcoolismo admite ser “alcoólico 40%
pesado”. Creatinina: 3,9 mg/dL
Leucócitos: 15.200/mm3 Ureia (BUN): 47 mg/dL
Deu entrada no serviço de urgência com Tº 37,9ºC, TA: 152/87mmHg
Plaquetas: 190.000/mm3 e FC:96 bpm.
ÁcidoAo exame
úrico: físico apresentava
9,1 mg/dL
joelho direito doloroso, quente e tumefacto.
Do estudo analítico salienta-se:
Foi realizado artrocentese do joelho, sendo que o aspirado intra-articular apresentava à observação por microscopia
de luz, polarizada e compensada, cristais intra-celulares birrefringentes negativos e em forma de agulha. A coloração
Gram do líquido sinovial não evidenciou nenhum crescimento bacteriano.
Casos clínico-1
Sexo masculino, caucasiano, 61 anos de idade, recorre ao Serviço de Urgencia por dor intensa no joelho direito, com
início há 12 horas. Apresenta igualmente queixas de mal-estar generalizado e febre de baixo grau. Nega qualquer
história de trauma.
Reporta como antecedentes médicos: doença ulcerosa péptica (DUP), diabetes mellitus tipo 2 (DM tipo 2),
hipertensão arterial e insuficiência renal crónica. Teve um internamento há 1 ano por hemorragia gastrointestinal
superior com necessidade de transfusão sanguínea. Admite fumar 1 maço de cigarros diariamente desde há 40 anos.
No que concerne ao alcoolismo admite ser “alcoólico pesado”.
Deu entrada no serviço de urgência com Tº 37,9ºC, TA: 152/87mmHg e FC:96 bpm. Ao exame físico apresentava
joelho direito doloroso, quente e tumefacto. Hematócrito 40% Creatinina: 3,9 mg/dL
Leucócitos: 15.200/mm3 Ureia (BUN): 47 mg/dL
Do estudo analítico salienta-se:
Plaquetas: 190.000/mm3 Ácido úrico: 9,1 mg/dL
Foi realizado artrocentese do joelho, sendo que o aspirado intra-articular apresentava à observação por microscopia
de luz, polarizada e compensada, cristais intra-celulares birrefringentes negativos e em forma de agulha. A
coloração Gram do líquido sinovial não evidenciou nenhum crescimento bacteriano.
Casos clínico-1
A apresentação do doente é mais consistente com uma crise de gota aguda. A gota geralmente tem como
apresentação uma monoartrite das extremidades inferiores (mais comumente na primeira metatarsofalângica mas
também no joelho). O alcoolismo geralmente pode precipitar uma crise gotosa. Este doente apresenta níveis de ácido
úrico sérico moderadamente elevado, apesar de poder ser um achado incidental e não ser poder confirmar o
diagnóstico por si só. A febre de baixo grau e elevada contagem leucocitária podem ser encontradas na gota, apesar do
diagnóstico de artrite séptica ser sempre um motivo de alarme e como tal a artrocentese deve ser realizada para
diferenciar as duas identidades. A presença de cristais, birrefringentes negativos, em forma de agulha no aspirado
articular confirma o diagnóstico de gota.
Anti-inflamatórios não esteroides (AINE’s) como a indometacina são a primeira linha de tratamento nos doentes com
crise de gota aguda. No entanto, a doença renal crónica e a história de hemorragia gastrointestinal são
contraindicações para o uso de AINE’s. A colchicina deve ser evitada nos doentes com insuficiência renal avançada.
Tendo em conta as contraindicações acima mencionadas, os corticoides intra-articulares são a melhor opção para o
tratamento deste doente.
Casos clínico-1
Alopurinol é um fármaco que diminui a produção de ácido úrico. É usado na prevenção de crises de gota, no entanto pode
mesmo agravar os sintomas se for dado durante o período de crise gotosa aguda.
B) Colquicina
Prednisona oral seria o tratamento de escolha se o doente apresentasse envolvimento poliarticular. Com o doente
apresenta monoartrite a corticoterapia pode ser facilmente usada por via intra-articular na articulação envolvida. Tendo
em conta os antecedentes de hemorragia gastrointestinal e diabetes mellitus tipo 2, a corticoterapia sistémica deve ser
evitada se possível.
D) Indometacina
Indometacina é um AINE que geralmente é a primeira linha de escolha para o tratamento da crise gotosa aguda mas está
contraindicado em doentes com insuficiência renal crónica.
Casos clínico-2
Sexo masculino, 36 anos de idade, recorre ao Serviço de Urgência devido a dor aguda no seu pé esquerdo. Refere que
andava sem queixas nos últimos tempos, mas que acordou subitamente com dor intensa na base do hállux.
Tem como antecedentes médicos diabetes mellitus tipo 1 e secundariamente, neuropatia sensorial periférica e
retinopatia proliferativa. Encontra-se também em insuficiência renal terminal devido à nefropatia diabética, tendo
sido transplantado (transplante renal cadavérico) há 18 meses atrás.
O tratamento da sua diabetes é feito recorrendo a uma bomba de insulina. Tem ainda como medicação habitual:
lisinopril, amlodipina, ciclosporina, micofenolato de mofetil e prednisona (5mg/dia).
Deu entrada no S.U. com 37,3ºC, TA: 126/84 mmHg e FC: 88 bpm. Ao exame físico apresentava 1ª metatarsofalângica
esquerda tumefacta, dolorosa, quente e eritematosa. A avaliação da mobilidade é limitada pela dor intensa.
Apresenta 3º dedo com deformidade compatível com “dedo em martelo”, mas sem calosidades anormais. Os pulsos
tibiais posteriores e dorsais do pé são facilmente palpáveis. Glicemia capilar é 184 mg/Dl.
Casos clínico-2
Sexo masculino, 36 anos de idade, recorre ao Serviço de Urgência devido a dor aguda no seu pé esquerdo. Refere que
andava sem queixas nos últimos tempos, mas que acordou subitamente com dor intensa na base do hállux.
Tem como antecedentes médicos diabetes mellitus tipo 1 e secundariamente, neuropatia sensorial periférica e
retinopatia proliferativa. Encontra-se também em insuficiência renal terminal devido à nefropatia diabética, tendo
sido transplantado (transplante renal cadavérico) há 18 meses atrás.
O tratamento da sua diabetes é feito recorrendo a uma bomba de insulina. Tem ainda como medicação habitual:
lisinopril, amlodipina, ciclosporina, micofenolato de mofetil e prednisona (5mg/dia).
Deu entrada no S.U. com 37,3ºC, TA: 126/84 mmHg e FC: 88 bpm. Ao exame físico apresentava 1ª metatarsofalângica
esquerda tumefacta, dolorosa, quente e eritematosa. A avaliação da mobilidade é limitada pela dor intensa.
Apresenta 3º dedo com deformidade compatível com “dedo em martelo”, mas sem calosidades anormais. Os pulsos
tibiais posteriores e dorsais do pé são facilmente palpáveis. Glicemia capilar é 184 mg/Dl.
Casos clínico-2.1
Este doente apresenta uma monoartrite aguda com envolvimento da 1ª metatarsofalângica, consistente com crise de
gota aguda. Estas crises tipicamente desenvolvem-se abruptamente, com início frequente durante a noite ou cedo de
manhã, com intensidade máxima nas primeiras 12-24 horas. A primeira metatarsofalângica é a articulação mais
comumente afetada. O risco de gota encontra-se aumentado em doentes com doença renal crónica, apesar de o
mesmo poder estar diminuído em doentes sob dialise e em doentes com doença renal terminal. Paralelamente o risco
encontra-se aumentado igualmente nos casos após transplante de órgão (neste caso – rim) em doentes sob
ciclosporina, que diminui a excreção de ácido úrico.
O diagnóstico pode ser confirmado por análise do líquido sinovial que evidencia um padrão altamente inflamatório
(2.000-100.000/mm3 de predomínio neutrofilico) e birrefringência negativa, com cristais de urato de monossódio em
forma de agulha. Os níveis de ácido úrico podem se encontrar diminuídos numa crise de gota aguda e portanto não
devem ser usados para fim diagnóstico durante a fase aguda da doença.
Casos clínico-2.1
Artrite micobacteriana (tuberculosa ou não-tuberculosa) pode ser encontrada em doentes sob terapêutica
imunossupressora. No entanto, os sintomas tipicamente têm um início mais insidioso. Tumefação pode estar presente,
mas eritema e edema é pouco comum.
Infeção disseminada por Neisseria gonorrhoeae geralmente se apresenta com uma poliartrite migratória, tenossinovite e
rash, apesar de monoartrite séptica aguda também poder ser encontrada. Staphylococcus também podem causar artrite
séptica, e o risco está aumentado em doentes sob terapêutica imunossupressora. No entanto, a artrite séptica
geralmente afeta mais as grandes articulações (por exemplo: joelho) do que as pequenas articulações das mãos e dos
pés. Geralmente apresenta uma evolução durante alguns dias ao invés do quadro abrupto apresentado por este doente.
Casos clínico-2.1
Cristais birrefringentes, em forma romboide são encontrados na doença de deposição de pirofosfato de cálcio, também
conhecida como pseudogota. Esta doença geralmente apresenta-se como monoartrite aguda, mas os joelhos são mais
frequentemente envolvidos do que as metatarsofalângica.
Casos clínico-2.2
A abordagem da crise de gota aguda monoartircular é desafiante num doente com insuficiência renal ou naqueles que
foram recentemente submetidos a um transplante renal. As opções terapêuticas apropriadas são o recurso a corticoides
intra-articulares ou o aumento da dose de corticoide sistémico se o doente estiver em regime de dose baixa. Como
muitos doentes de facto, recebem terapêutica com corticoides durante o período pós-transplante, podem evidenciar
resposta a um aumento da dose destes. No entanto, a maior desvantagem com os corticoides sistémicos reside nos seus
efeitos adversos sistémicos. Por esta razão, a maioria dos reumatologistas prefere recorrer ao uso de corticoides intra-
articulares para o tratamento da crise de gota aguda nos doentes com insuficiência renal e/ou pós-transplante.
Casos clínico-2.2
B) Alopurinol
Alopurinol não deve ser usado no tratamento de uma crise de gota aguda. Pode ser usado, sim, como agente profilático
para prevenir ataques recorrentes de artrite gotosa. No entanto, assim que iniciado o tratamento com alopurinol, a dose
de azatioprina deve ser reduzida em 50-70% para prevenir toxicidade. O alopurinol diminui a atividade da enzima xantina
oxidase que é responsável pelo metabolismo da azatioprina.
E) Colquicina
Colchicina pode ser usada no tratamento da crise gotosa aguda. No entanto, o seu uso concomitante com a azatioprina
está associado a uma leucopenia significativa.
Casos clínico-3
Sexo masculino, 55 anos de idade, recorre à sua consulta devido a dor intensa e tumefação no seu hállux direito.
Apresenta como antecedentes médicos: hipertensão, osteoartrite, intolerância à glicose controlada com dieta e
recentemente doença ulcerosa péptica. Não se encontra medicado para a sua hipertensão.
Ao exame físico apresentava-se com tumefação difusa da 1ª metatarsofalangica e eritema cutâneo ao redor da
articulação. A articulação encontra-se francamente dolorosa à palpação e apresenta limitação significativa da sua
mobilidade.
A aspiração do liquido sinovial revelou uma efusão infamatória com múltiplos cristais birrefringentes negativos, em
forma de agulha com polimorfonucleares.
O doente foi tratado com colchicina e revelou boa resposta à terapêutica.
Duas semanas depois, voltou para consulta de follow-up. Apresentava-se com TA: 152/93 mmHg e FC: 78 bpm, IMC 36
kg/m2. Do estudo analítico: ácido úrico 8,2 mg/Dl, Potássio 4,1 mEq/L, creatinina 1,2 mg/dL e testes de função renal
dentro dos limites normais.
Casos clínico-3
Quais dos seguintes se apresenta como melhor terapêutica adicional neste doente?
A) Clonidina
B) Furosemida
C) Hidroclorotiazida
D) Losartan
E) Aspirina de baixa dose
Casos clínico-3
Quais dos seguintes se apresenta como melhor terapêutica adicional neste doente?
D) Losartan
O doente apresenta sintomas típicos de gota aguda. Esta condição geralmente é tratada com AINE’s orais (por exemplo
indometacina), no entanto colquicina é uma opção terapêutica apropriada para aqueles que apresentam
contraindicações aos AINE’s como por exemplo doença ulcerosa péptica. Um agente hipouricémico, por exemplo
alopurinol, seria igualmente recomendado para aqueles doentes que apresentam episódios recorrentes ou tofos
gotosos. Os valores de ácido úrico podem se encontrar normais nas crises agudas e não devem ser usados para guiar a
abordagem de uma crise gotosa aguda.
Este doente apresenta igualmente hipertensão não controlada, a qual deve ser abordada cuidadosamente nos doentes
com gota. A maioria dos diuréticos (por exemplo: hidroclorotiazida e furosemida) diminuem a excreção fracionada de
urato e devem por isso mesmo serem evitadas quando possível (B e C). Pelo contrário, os antagonistas dos recetores
da angiotensina (ARA’s), como por exemplo o losartan, apresentam um efeito uricosúrico moderado e são por isso
eficazes como agente de primeira linha no tratamento de doentes com hipertensão e gota. IECA’s e ARA’s são
igualmente os agentes preferidos para o tratamento de hipertensão em doentes com doença renal crónica,
independentemente do valor de creatinina basal, visto que podem melhorar a proteinuria e diminuir a progressão da
doença renal. No entanto a função renal deve ser monitorizada regularmente visto que estes fármacos podem causar
hipercaliemia e uma diminuição aguda da taxa de filtração glomerular.
Casos clínico-3
Quais dos seguintes se apresenta como melhor terapêutica adicional neste doente?
A) Clonidina
Clonidina é eficaz no tratamento da hipertensão em doentes com gota. No entanto é uma agente com pouca
tolerabilidade (efeitos adversos como xerostomia, obstipação, sedação, etc.) e por isso não é recomendado como agente
de primeira linha
Aspirina de baixa dose tem sido recomendada como agente profilático de eventos cardiovasculares em doentes de alto
risco com diabetes. No entanto, não está claro, o beneficio em doentes de baixo risco ou em doentes com intolerância à
glicose (mas sem verdadeira diabetes mellitus). Ainda para mais, a aspirina diminui a excreção renal de urato e portanto
não está recomendada em doentes com gota.