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HELICOBACTER

→ H. pylori (mais relevante nos seres humanos, que atuam como reservatórios primários da
bactéria)
→ 2 grupos que causam infecções: os estomacais/ gástricos e extra-gástricos (intestinos e fígado
– causando infecções em imunossuprimidos)

1. Citologia e Fisiologia
• Bacilos gram-negativos espiralados (culturas recentes), pleomórficos (dependendo do
estado de cultivo)
• Motilidade ↑ = 5-6 flagelos
• Catalase e oxidase (+) e não fermentadores de açúcares.
• Fermentadores de aminoácidos
• Microaerófilo (↓O2 e ↑ CO2)
• Crescimento 3-6 dias{lento}(37ºC) – colônias translúcidas em meios complexos (pH 6 – 7
devido a produção da urease, visto que após a adesão inicial na mucosa gástrica, ocorre a
produção da urease, em que converte ureia em amônia e bicarbonato, que vai neutralizar o
PH, criando uma zona tamponante, que permite a reprodução bem sucedida da bactéria e
começa a afetar a integridade do epitélio)
• LPS com ↓ atividade de endotoxina e antigenicamente similar aos antígenos sanguíneos
de Lewis (ancorados na superfície das células sanguíneas, o que garante evasão do SI,
em que os anticorpos não atuam de frente a esse LPS)
• Proteção do sistema imune (mimetismo molecular)
2. Transmissão
• Humanos como único reservatórios
• Transmissão pessoa-pessoa ? (clusters na mesma família)
- Oral-oral: detecção em lavados gástricos, colonização temporária da cavidade oral
- Fecal-oral: países em desenvolvimento (condições sanitárias precárias)
• Aquisição ainda no início da infância à colonização persistente durante a vida
- Proteção ao refluxo gastroesofagiano e ao adenocarcinoma do esôfago inferior e da
cárdia gástrica (fatores que contribuem para colonização)
- Complexa relação entre H. pylori e a microbiota gástrica do hospedeiro humano
(questionamentos sobre uma possível disbiose, em que afetam a microbiota gástrica
normal, mudando as características do organismo → doenças)
3. Virulência e Patogênese
• Habilidade de colonização a longo prazo da mucosa estomacal → sobrevivência em
ambiente ácido
• Urease: enzima localizada na superfície da célula ou até mesmo liberada, que é
encarregada da neutralização do pH ácido do suco gástrico pela formação de NH4+
(amônia) a partir da ureia
- Quimioatracão e ativação de fagócitos e células inflamatórias no sítio de infecção
• Flagelos: motilidade possibilita a passagem pelo suco gástrico em direção ao epitélio e vai
até a camada mucosa (muco), em que inicia sua adesão (relação com epitélio estomacal)
• Adesinas externas: adesão a superfície do epitélio estomacal
- BabA: liga-se ao antígeno A de Lewis do sistema ABO - Quebra de DNA de fita dupla
nas células do hospedeiro à mutações gênicas associadas a câncer (carcinoma) e outras
neoplasias derivadas da agressão (gastrite e úlceras) causadas pela bactéria
- SabA: liga-se aos receptores siálicos de Lewis X
- OipA: proteína da membrana externa que age como uma adesina e está associada à
carcinogênese
• Mucinase, fosfolipase, proteína ativadora de neutrófilos, proteína de choque tóxico 60:
toxinas liberadas na mucosa gástrica e estão envolvidos em danos diretos as células
→ CagA (citotoxina derivada do gene cagA): toxina translocada por H. pylori para o interior
da celula do epitélio gástrico por um sistema de secreção do tipo IV, com capacidade de
interferência direta no citoesqueleto celular, causando uma remodelação do citoesqueleto
de actina da célula hospedeira e induz a produção e secreção de IL-8 (pró-inflamatória) →
recrutamento de neutrófilos para o sítio de infecção → INFLAMAÇÃO
- Diretamente associada com gastrite e desenvolvimento de úlcera e carcinoma gástricos
→ VacA (citotoxina A vacuolante): afeta o balanço entre a morte celular e proliferação e
também ativa a inflamação aguda mediada pela IL-8
- Formação de grandes vacúolos nas células hospedeiras à estruturas semelhantes a
poros → inchaço osmótico
- Disfunção da atividade da mitocôndria, apoptose, quebra da barreira da célula epitelial →
melhora da capacidade de colonização de H. pylori no epitélio gástrico
→ As toxinas são importantes para a sobrevivência no muco da mucosa gástrica e destrua as
células dessa mucosa, em que continua se multiplicando ativamente e produzindo mais urease
para garantir a sobrevida da bactéria. Aos poucos, essas toxinas microbianas e o dano
inflamatório as células epiteliais vai se intensificar, em que ocorre a diminuição da produção de
muco e o ácido estomacal começa a lesionar a mucosa, em que o tecido estomacal é exposto,
levando a formação de úlceras e, em último nível, a circulação sanguínea.
4. Manifestações clínicas
→ Gastrite
• Infiltração de neutrófilos e células mononucleares na mucosa gástrica causada pela
colonização da bactéria
• Fase aguda: sensação de plenitude, náuseas, vômito e hipocloridria (diminuição da
produção de ácido no estômago)
- 1 semana à até 2 semanas
• Fase crônica: doença confinada ao antro gástrico (↓ células parietais secretoras de ácido
presentes) em indivíduos com secreção ácida normal, ou em todo o estômago
(pangastrite), se a secreção de ácidos é suprimida
• 10-15% à evolução para úlcera péptica
→ Úlceras
• Desenvolvimento em locais de intensa inflamação, comumente envolvendo a junção entre
o corpo e o antro gástrico (úlcera gástrica), com total perda do epitélio da muscosa
gástrica, ou o duodeno proximal (úlcera duodenal)
- H. pylori responsável por 85% das úlceras gástricas e 95% das úlceras duodenais
• Dor de intensidade leve a moderada na região abdominal na úlcera gástrica e sem padrão
específico na úlcera duodenal (dificulta diagnóstico)
• Colonização persistente por H. pylori
- 50-80% dos indivíduos com úlcera péptica
- 90% dos indivíduos com úlcera duodenal
• Desenvolvimento de metaplasia intestinal e gastrite atópica à fator de risco para
adenocarcinoma gástrico
- ↑ proliferação do epitélio gástrico (erros na replicação do DNA promovem a maior
probabilidade de neoplasias) e liberação exacerbada de citocinas
- Infiltração de tecidos linfoides na mucosa gástrica à ↑ subpopulação de células
• B produtoras de anticorpos levando à linfomas MALT
5. Diagnóstico
• Espécimes:
- Biópsias gástricas à exames histológicos ou cultura, sangue à sorologia (detecção de
anticorpos), fezes à sorologia (detecção de antígenos)
• Histopatologia: principal método de detecção ⭐
-+ sensível que a cultura, mas a gastroscopia necessária
- Coloração de hematoxilina-eosina de Giemsa, prata ou imuno-histoquímica
• Cultura:
- Aderência a mucosa gástrica à impossibilidade de cultivo direto das fezes
- Pacientes não responsivos ao tratamento
• Sorologia: confirmação de exposição prévia ao patógeno (IgG)
- Fins epidemiológicos
• Outros métodos: teste da urease (respiratório e direto de amostras)
6. Tratamento
• Combinação de um inibidor da bomba de prótons (ex., omeprazol), um macrolídeo (ex.,
claritromicina) e um betalactâmico (ex., amoxicilina),
- Administração oral inicialmente por 7 a 10 dias
• Ineficácia do tratamento triplo à resistência a claritromicina
- Metronidazol também pode ser usado no tratamento combinado, mas a resistência é
comum
- Importância do conhecimento do perfil de suscetibilidade aos antimicrobianos
• Tratamento combinado com múltiplas medicações entre 4 a 6 semanas para supressão da
produção de ácido gástrico associado com terapia antimicrobiana inicial à cura + rápida da
úlcera
• Vacinas experimentais em desenvolvimento: aproveitamento de antígenos envolvidos no
estímulo da resposta inflamatória por células TH1

CAMPYLOBACTER

→ C. Jejuni (causa gastroenterite e outras síndromes em seres humanos)


→ Infecções associadas ao consumo de alimentos e produtos láticos e água contaminadas
→ Podem estar em reservatórios animais, principalmente, bovinos, suínos e caprinos
→ Bactérias com perfil zoonótico

1. Citologia e Fisiologia
• Bacilos gram-negativos curtos, pequenos em forma de S ou espiralada pleomórficos), não-
formadores de esporos
• Potencial passagem por filtros de 0.45 μm
• Motilidade por flagelo polar único ou nos dois polos celulares
• Crescimento ótimo entre 35ºC e 42ºC (melhor – temperatura de isolamento)
- Aproveitamento no isolamento seletivo
- Multiplicação + lenta quando comparado aos demais bacilos gram-negativos
• Microaerófilo (5-7% O2 e 5-10% CO2), não oxidantes ou fermentadores de glicose
• Catalase-positivo e oxidase-positivo
• Presença de cápsula polissacarídica
• Lipoligossacarídeo (LOS)
2. Transmissão
• Consumo de água e alimento contaminado; contato direto com animais(reservatórios);
transmissão pessoa-pessoa (fecal-oral)
• Manifestações clínicas intestinais (gastrite, diarreia aquosa aguda e persistente) e extra-
intestinais (quando a bactéria se dissemina e atinge outros sítios orgânicos, pode ter
bacteremia, septicemia, endocardite, infecção óssea, síndrome de Guillain-Barré e artrite
reativa, essas duas últimas podem ocorrer após a infecção, ocorre devido ao mimetismo
molecular dessa bactéria com alguns antígenos comuns do nosso próprio corpo)
3. Virulência e Patogênese
• LOS → atividade de endotoxina
• Adesinas, citotoxinas extracelulares e enterotoxinas
- Papel ainda não completamente elucidado na patogênese em humanos (mas importante
para adesão após colonização inicial da mucosa intestinal, proteases e invasinas, para
migração para dentro da célula e ficar no interior de vacúolos ou ficar migrando entre as
células nas junções intercelulares). Pode causar hiperativação de macrófagos, neutrófilos
pelo próprio LOS e, até, uma explosão de citocinas, que vão contribuir para apoptose,
ulcerações, má absorção, defeitos na barreira epitelial, invasão de neutrófilos e derreia
potencialmente sanguinolenta
• Exposição ao ácido gástrico → destruição bacteriana (efeito protetor)
- 104 para causar doença
• Áreas endêmicas à níveis detectáveis de anticorpos específicos séricos e secretórios à
doença menos grave
• Lesão histológica nas superfícies mucosa do jejuno:
- Mucosa ulcerada, edemaciada e sanguinolenta (perda da integridade epitelial), com
abscessos nas criptas das glândulas epiteliais e infiltração da lâmina própria com
neutrófilos, células mononucleares e eosinófilos
- Processo inflamatório consistente com invasão dos organismos no tecido intestinal -
Fezes sanguinolentas → diarreia sanguinolenta
• Síndrome de Guillain-Barré
- Doença autoimune do sistema nervoso periférico, caracterizada pelo desenvolvimento de
fraqueza simétrica nos membros por vários dias, necessitando de meses ou mais para
recuperação
- Complicação rara da doença por Campylobacter (≈ 1 em 1.000 infecções diagnosticadas)
- Associada a sorotipos específicos (principalmente o sorotipo O:19 de C. jejuni)
- Reatividade antigênica cruzada entre LOSs de superfície de algumas cepas de
Campylobacter e gangliosídios de nervos periféricos → ativa a resposta do sistema
complemento, em que ocorre a migração de macrófagos e pode ocorrer a perda da
integridade dos neurônios a nível da mielina
• Artrite reativa
- Condição caracterizada por inchaços dolorosos nas articulações das mãos, cotovelos, e
joelhos, que podem durar de uma semana a vários meses
- Após doença diarreica (não diretamente associada com ela)
• Febre entérica ocasional em alguns casos de bacteremia
- C. jejuni e C. Fetus
4. Manifestações Clínicas
→ Gastroenterite
• C. jejuni e C. coli
• Aguda no início à dores abdominais, dor de cabeça, indisposição, diarreia profusa
(potencialmente sanguinolenta)
• Autolimitada → resolução em 5 a 8 dias
• Infecções entéricas crônicas com mais frequência em imunocomprometidos
→ Síndrome de Guillain-Barré
• Fraqueza inicial nas mãos com progressão para os braços
• Paralisia flácida aguda, caracterizada por fraqueza simétrica dos membros, e hiporreflexia
ou arreflexia (perda dos reflexos nervosos), que atinge a gravidade máxima em 4 semanas
• Parestesia (formigamento) ou dormência distal à padrão simétrico – dificulta movimentação
5. Diagnóstico
• Espécimes:
- Fezes diarreicas e swabs retais à cultura e isolamento, sangue à potencias bacteremias e
pacientes imunocomprometidos
• Microscopia:
- Coloração de Gram das amostras de fezes: bacilos finos em forma de S
- Microscopia de fase escura ou de contraste de fase à motilidade “disparada”
• Cultura: principal método de detecção ⭐
- Crescimento + lento em relação as enterobactérias (> 48 h)
- Cultura em meios seletivos e em jarras de anaerobiose - Adição de sangue ou carvão
para remoção de radicais tóxicos de oxigênio antimicrobianos para inibição do o
crescimento de organismos contaminantes
• Sorologia: confirmação de exposição prévia ao patógeno (IgM e IgG)
- Fins epidemiológicos
6. Tratamento
• Gastroenterite → tipicamente autolimitada controlada pela reposição dos líquidos e
eletrólitos
• Infecções graves ou septicemia à antibioticoterapia
- 1a linha: eritromicina ou azitromicina
- 2a linha: tetraciclinas ou fluorquinolonas
- ↑ resistência a fluorquinolonas
- Amoxicilina/ácido clavulânico = crianças pequenas
- Infecções sistêmicas à aminoglicosídeos, cloranfenicol e imipenem
7. Prevenção e Controle
• Preparo adequado dos alimentos(particularmente aves)
- Abate dos animais e armazenamento (mercados)
• Evitar consumo de produtos lácteos não pasteurizados
• Medidas para prevenção da contaminação da água potável

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