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BACTÉRIAS ANAERÓBICAS

→ Classificação de acordo com a tolerância ao O2


• Aeróbio estritos • Anaeróbios estrito • Anaeróbio facultativo • Microaerófilo • Anaeróbios aerotolerantes

Por que O2 pode ser tóxico para algumas bactérias?


• Subprodutos do metabolismo do O2 podem ser tóxicos para procariotos e eucariotos : oxidação de proteínas
(inativação enzimática), lipídeos (lise da membrana citoplasmática) e danos ao DNA
• O2 - (ânion superóxido)
• OH (hidroxila)
• H2O2 (peróxido de hidrogênio)
• NO (óxido nítrico)
Como as bactérias aeróbias toleram ?
• Enzimas detoxificantes (catalase, superóxido dismutase)
- Anaeróbios estritos não possuem mecanismos para se livrar destes radicais livres de O2 !!!!!
Bactérias anaeróbias de importância clínica
• Cocos : Peptococcus, Peptostreptococcus, Veilonella (microbiota cavidade oral)
• Bacilos gram-positivos: Actinomyces e Propionibacterium
• Bacilos gram-positivos formadores de esporos: Clostridium, Clostridioides
• Bacilos gram-negativos: Bacteroides, Prevotella, Fusobacterium , Porphyromonas (microbiota TGI e cavidade
oral)

Infecções endógenas (microbiota) x Exógenas

Infecções por Bactérias Anaeróbias


• Maioria de origem endógena
• Em geral infecção mista
• Fatores de risco
- Traumas
- Cirurgia
- Insuficiência vascular nos tecidos (isquemia, necrose)
- Infecção prévia por outras bactérias
- Mordeduras de animais ou humanos
- Obstrução (TRS, TGI)
- Corpos estranhos
• Abscessos em diversos tecidos (cerebrais, intra-abdominais, pélvicos, ovarianos,vulvares
• Infecções de orofaringe
• Infecções pleurais e pulmonares
• Pele e tecidos moles
• Endocardite
• Bacteremia
• Infecções vasculares (gangrena gasosa)
Suspeita clínica
• Odor fétido
• Necrose tecidual intensa
• Produção de gás em abscessos, tecidos moles
• Coloração negra em secreções com sangue
• Infecção próxima à superfície de mucosas
• Infecções após mordeduras
• Infecção associada a tumores malignos ou pós cirurgias (ginecológicas, abdominais)
• Endocardite com hemocultura negativa
• Bactérias evidenciadas ao microscópio, porém sem crescimentos em meios de cultura convencionais

CLOSTRIDIUM SPP.

Gênero Clostridium > 300 espécies


❖ Família Clostridiaceae
❖ Gênero Clostridium
❖ Bacilos gram-positivos
❖ Formadores de endósporos
❖ Anaeróbios obrigatórios (ou aerotolerantes)
❖ Reservatório: solo, ambientes aquático e intestino de animais
❖ Espécies de importância clínica
➢ C. botulinum - botulismo
➢ C. perfringens – mionecrose (gangrena gasosa), toxinfecção alimentar e enterite necrotizante
➢ C. difficile - diarreia associada a antibióticos e colite pseudomembranosa
➢ C. tetani – tétano

Clostridium botulinum → Botulismo

❖ Ação da toxina botulínica (neurotoxina)


➢ Atua na porção nas junções neuromusculares dos nervos
➢ Impede a liberação de acetilcolina
➢ Relaxamento muscular → PARALISIA FLÁCIDA
Botulismo clássico
❖ Período de incubação : 2 h-5 dias (12-36 h)
❖ Paralisia simétrica flácida descendente
➢ Dificuldade de deglutição
➢ Visão dupla
➢ Vômitos
❖ Risco de morte (5-15%) paralisia respiratória (3-5 dias)
❖ Pode ocorrer sintomas gastrintestinais (náuseas, emese e diarreia não acarretados pela neurotoxina)
❖ Conservas e enlatados
• Ingestão de toxinas pré-formadas → Intestino delgado → corrente sanguínea → sinapses colinérgicas → impede
liberação de acetilcolina → paralisia flácida
Botulismo infantil
❖ Crianças < 1 ano
❖ Mel contaminado com esporos de C. botulinum
❖ Falta de microbiota competidora (intestino imaturo)
❖ Rápida absorção da toxina
❖ Letargia, fraca sucção e choro, e até mesmo a apneia
• Ingestão de esporos → germinação e produção de toxina no intestino grosso → corrente sanguínea → sinapses
colinérgicas periféricas → impede liberação de acetilcolina → paralisia flácida
Controle e tratamento
❖ Notificação à vigilância epidemiológica (SINAN)
❖ Não utilizar mel nos alimentos de crianças < 1 ano
❖ Observar a higiene e estado de conservação de produtos enlatados
❖ Esterilização (121°C) e irradiação dos alimentos (destruição de esporos)
❖ Refrigeração, congelamento e pH (controle do desenvolvimento bacteriano)
➢ pH ácido em conservas: impede o desenvolvimento de C. botulinum
➢ Utilização de nitrito como inibidor em salsichas, mortadelas, etc..
❖ Destruição da toxina
➢ Inativada pelo calor (80°C/30’ ou 100°C/10’)
➢ Antitoxinas
➢ Tratamento: soro antibotulínico, debridamento cirúrgico e antibioticoterapia (penicilina/ metronizadol –
botulismo feridas)

Clostridium perfringens
Reservatório: solo, intestino de animais/humanos
❖ 15 toxinas proteicas
➢ Alfa, beta, ...toxina: 5 tipos sorológicos (A-E)
➢ Enterotoxina (CPE)
❖ Manifestações clínicas
➢ Mionecrose (gangrena gasosa) : tipo A – alfa toxina, perfingolisina
•Caracterizada por extensa necrose tecidual e produção de gás (espontânea ou pós trauma)
•Período de incubação : 6-8h
➢ Toxinfecção alimentar (muito comum)
- Período de incubação : 8-12h;
-Diarreia aquosa, espasmos abdominais, náusea, febre e, raramente, vômito
-Auto-limitante: 1-3 dias
➢ Enterite necrotizante (esporádica) → Dor abdominal, diarreia sanguinolenta e necrose intestinal, algumas vezes
vômito (50% de mortalidade).
Patogenia da gangrena gasosa
• Entrada de esporos (solo) em feridas → germinação, multiplicação e espelhamento de bactérias (destruição do
tecido adjacente ao sítio de infecção) → produção de toxinas: CPA e perfingolisina (responsáveis pelas
características das lesões e pela intensa presença de leucócitos, necrose e presença de gás)

Controle e tratamento
❖ Mionecrose (gangrena gasosa)
• Antibioticoterapia
• Amputação
❖ Toxinfecção alimentar
• Terapia de suporte
• Refrigeração imediata do alimento processado
• Reaquecimento (> 75°C no interior descarnes)
❖ Enterite necrotizante ➢ Terapia de suporte e ressecação de seguimento necrosado

Clostridioides difficile
❖ Reservatório: solo,rios,lagos e vegetais
❖ Fatores de risco: idosos (acima 65 anos), hospitalização prolongada e uso de antimicrobianos
❖ Adultos assintomáticos hospitalizados: contaminação do ambiente e de profissionais de saúde (IRAS)
❖ Manifestações clínicas
➢ Colite pseudomembranosa
➢ Diarreia associada ao uso de antimicrobianos
➢ 4-9 dias após início do uso da droga
➢ Regride após retirada da droga (25%)
➢ Fezes com muco, febre e leucocitose
Controle e tratamento
❖ Suspensão do antimicrobiano indutor
❖ Reposição de líquidos e eletrólitos
❖ Antibioticoterapia se o paciente continuar a diarreia após a suspensão do antibiótico
(metroinidazol/vancomicina > raramente induzem colite pseudomebranosa)
❖ Medidas de controle de infecção hospitalar

Clostridium tetani
❖ BGP com forma de “palito de fósforo” ou “raquete” : agente causador do tétano
❖ Transmissão: cortes, arranhaduras e mordidas de animais
❖ Reservatório: intestino de animais/humanos, solo, objetos enferrujados
❖ Período de incubação: 5 a 10 dias
❖ Toxinas
➢ Tetanolisina: hemolisina oxigênio-lábil
➢ Tetanoespasmina: neurotoxina termolábil > responsável pelas manifestações clínicas
Sintomas
❖ Irritabilidade, cefaleia, febre e dificuldade de deglutição
❖ A toxina atua principalmente no SNC
❖ Espasmos musculares: primeiramente os músculos do pescoço e da mastigação, causando rigidez progressiva,
até atingir os músculos respiratórios
Tratamento
❖ Cuidados gerais para não estimular o paciente, mantendo-o na penumbra e com pouco ruído
❖ Uso de antibióticos, sedativos e relaxantes musculares
❖ Limpeza dos ferimentos
❖ Aplicação de soro anti-tetânico e, em sua falta, imunoglobulina antitetânica
❖ Aplicação do esquema vacinal (doença não produz imunidade)
❖ Quando possível, observação em UTI
Profilaxia
❖ Vacinação (dT): a cada 10 anos
❖ Não andar descalço (risco de objetos contaminados perfurarem o pé)
❖ Evitar manuseio/contato de objetos enferrujados
❖ Limpeza de feridas
Diagnóstico das infecções por anaeróbios
❖ Coleta inadequada
❖ Espécimes clínicos preferenciais: aspiração profunda de feridas, punção de traquéia ou pulmonar e sangue para
hemocultura (sistemas específicos para anaeróbios).
• Amostras devem ser coletadas sem contato com O2 : amostras de feridas ou abscessos devem ser coletadas com
seringa
• Nunca utilizar swab para evitar contaminação com microbiota
• Transporte na própria seringa, o mais rápido possível ou inoculado com a seringa em meio tioglicolato com agar
contendo resarzurina , indicador da presença de O2 (em frasco vedado – “tipo penicilina”) – pode encaminhar em
até 24h
❖ Dificuldade na realização: meios e atmosferas de incubação inadequadas (laboratórios sem infra-estrutura e
pessoal capacitado)
❖ Processamento laboratorial direcionado após suspeita clinica: BGP com esporos na Coloração de Gram são
sugestivos
Diagnóstico do botulismo
❖ Amostras bromatológicas encaminhadas para o LACEN
❖ Detecção do microrganismo e da toxina

Atmosfera de incubação para isolamento de anaeróbios

• Câmaras anaeróbias (glove box), nas quais o manipulador introduz somente as mãos, sendo o ar eliminado,
colocando- se uma mistura de gazes (H2, CO2, N2); nestas câmaras existem todos os elementos necessários para o
trabalho bacteriológico, incluindo estufas de incubação
• Sistema mais empregado é o sistema das jarras de anaerobiose com geradores químicos que permitem obter uma
atmosfera adequada para a multiplicação destas bactérias. Existem diversos tipos de geradores. Os mais utilizados
são os que provocam um consumo do oxigênio com substâncias redutoras como ferro reduzido ou ácido
ascórbico.

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