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FÍGADO
AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA FUNÇÃO
O fígado é a maior glândula do corpo humano, pesando HEPÁTICA
aproximadamente 1500g e tem a capacidade de se No caso de suspeita de doença hepática,podem ser
regenerar. Ele é suprido com sangue vindo da artéria utilizados marcadores bioquímicos como:
hepática (1/3 do total) + o vindo da aorta e veia porta, que
supre os outros 2/3 e leva para o fígado o sangue escoado Níveis séricos de bilirrubina: quando aumentados,
do TGI. podem indicar produção excessiva ou captação
Apesar de somente 10 a 20% de fígado funcional serem hepática prejudicada
necessários para manutenção da vida, a sua remoção
completa causa óbito em 24h. Isto demonstra claramente o Fosfatase alcalina: níveis aumentados sugerem
papel metabólico chave desempenhado pelo fígado, cujas colestase, mas também podem aumentar com
principais funções são mostradas na tabela abaixo. distúrbios ósseos, gravidez e alguns tipos de câncer, já
que não é uma enzima produzida apenas pelo fígado.
Principais funções do fígado
SUBSTÂNCIA FUNÇÃO HEPÁTICA Gama GT (GGT): Sua elevação possui boa correlação
transforma em glicose os produtos da com colestase e consumo alcoólico.
digestão de carboidratos
armazena glicose na forma de Dica clínica: Na esteatose hepática pode ocorrer
glicogênio (glicogênese) elevação da GGT, que costuma normalizar após
Carboidratos disponibiliza glicose dos estoques de melhora do quadro. Quando já existe cirrose, ela não
glicogênio (glicogenólise) quando é normaliza!
necessário (p. ex. em hipoglicemia)
sintetiza glicose a partir de precursores Enzimas hepáticas: elevação dos níveis séricos de
não glicídicos (ácido lático, AA, ácido aspartato aminotransferase (AST/TGO), uma enzima
tricarboxílico), processo denominado mitocondrial e alanina aminotransferase (ALT/TGP),
gliconeogênese uma enzima citoplasmática, denota dano ao hepatócito.
6. alterações neurológicas: dependendo da gravidade, 1. História clínica: deve-se considerar o início, duração, e
podem impossibilitar uma ingestão por via oral segura. etiologia da doença hepática, bem como a presença de
comorbidades (nefropatia, DM, cardiopatia)
A desnutrição é mais acentuada na hepatipatia alcoólica,
mostrando participação direta do álcool na desnutrição. 2. exame físico: observar edema, ascite e sinais de
deficiências nutricionais (dermatites por carência de
zinco ou de ácidos graxos essenciais; pelagra por
Método de triagem da desnutrição no hepatopata deficiência de niacina e queilose ou queilite por
deficiência de complexo B)
O Free Hospital –Nutritional prioritizing tool (RFH-NPT
score) foi uma ferramenta de triagem que foi validada 3. Avaliação subjetiva global: Embora sofra críticas por
especificamente para hepatopatas e é considerada a melhor parte de alguns autores, devido à possibilidade de super
ferramenta disponível. ou subestimação da desnutrição, tem sido usada com
sucesso na prática clínica ao comparar
Segue abaixo a ferramenta: sequencialmente os resultados.
4. indicadores bioquímicos:
- índice creatinina/altura
Há uma tendência no entendimento de que pode
ser usado para estimar massa magra uma vez que
é mais afetado por doença renal do que hepática,
além de ser o que menos sofre interferência do
acúmulo de líquidos no terceiro espaço. Contudo,
há críticas a esta conduta, justificada pelo fato de
que a creatina (que dá origem à creatinina) é
sintetizada pelo fígado.
5. Antropometria
- é usada utilizando-se os mesmos parâmetros que se utiliza
para qualquer indivíduo.
Minerais
TERAPIA NUTRICIONAL NO CIRRÓTICO
ferro – pode estar diminuído (hemorragia digestiva) ou
Medidas gerais aumentado (hemocromatose)
cobre e manganês nas hepatopatias colestáticas
introdução de 5 – 6 refeições/dia (CBP e CEP), já que são excretados principalmente na
evitar longos períodos de jejum (o paciente cirrótico faz bile.
hipoglicemia mais precocemente devido à menor Zinco e magnésio principalmente pelo alcoolismo e
capacidade de armazenar glicogênio) em parte pela terapia diurética freqüentemente utilizada
alimentos de fácil digestibilidade e alta densidade para redução de ascite e edema
calórica Suplementação com Zinco favorece a disponibilidade
da Glicose, melhora a evolução clínica da cirrose, da
encefalopatia hepática e sinais neurológicos da
Energia desnutrição. A recomendação é até 40mg de Zn
elementar para pacientes com zinco plasmático
os percentuais devem ser distribuídos normalmente reduzido.
entre os macronutrientes cálcio pode estar pela esteatorréia, pode ser
necessária suplementação com cálcio efervescente ou
Os pacientes hepatopatas tendem a ser carbonato de cálcio.
hipermetabólicos e desnutridos restrição de sódio é necessária apenas se houver
retenção hídrica
Recomendação ESPEN 2019: 30 a 35 kcal/kg/dia
FITOTERAPIA NA CIRROSE
Sem Ascite: Usar peso atual
Com Ascite: Usar peso adequado (teórico) ou Apesar de populares na doença hepática, o cardo mariano
seco. (antifibrótico) e a S-adenosil-L-metionina (SAMe), que
participa da síntese de glutationa, não se mostraram
benéficos em pacientes com cirrose de etiologia alcoólica.
Carboidratos
Podem compor de 50 a 60% do VET
Preferencialmente carboidratos complexos, mas os
simples podem ser usados desde que a glicemia esteja
TERAPIA NUTRICIONAL NA PRESENÇA DE amônia na corrente sanguínea que irá causar toxicidade
COMPLICAÇÕES DA CIRROSE ao SNC.
Osteopenia
Encefalopatia Hepática
Patogenia
A patogenese da EHNA é complexa, mas sabe-se que
aumento de adiposidade visceral associado à maior
liberação de ácidos graxos livres, representam o passo
inicial para perpetuação da esteatose hepática. Os eventos
adicionais, que contribuem para gênese e evolução da
doença, incluem estresse oxidativo e peroxidação lipídica,
redução das defesas antioxidantes, disfunção mitocondrial,
acúmulo de ferro, desbalanço das adipocinas gerando um
status pró-inflamatório crônico e disbiose intestinal. Mais
recentemente, foram identificados polimorfismos genéticos
que podem aumentar o risco de EHNA
Apesar de não estar ainda totalmente elucidada, sabe-
se que a resistência à insulina e elevada produção de
citocinas pró-inflamatórias são os mecanismos chave da
esteatose hepática e, provavelmente, também o da
esteatohepatite. Outros autores sugerem que o dano
oxidativo é necessário para ativar a sequência de esteatose
hepática para cirrose hepática, um claro fator de risco para
hepatocarcinoma.
Na EHNA, ocorre excessivo acúmulo hepático de
Probióticos São Indicados no tratamento da EH. Nos triglicerídeos, provenientes principalmente do tecido adiposo
cirróticos, os probióticos podem melhorar alguns sintomas e lipogênese de novo no fígado. A combinação de
de disfunção GI e reduzir conteúdo de amônia no sangue obesidade, acúmulo visceral de tecido adiposo branco,
portal. resistência periférica à insulina e liberação aumentada de
citocinas inflamatórias, estão associados com aumento de
Fibras: atingir 30g! Ajudam na função intestinal, evitando gliconeogenêse e de lipólise periférica com liberação de
constipação com consequente aumento da formação e ácidos graxos livres da gordura visceral, que levarão ao
absorção de amônia intestinal. aumento da captação hepática de ácidos graxos livres com
aumentada síntese hepática de triglicerídeos e consequente
acúmulo. Outro fator chave na gênese da EHNA é a
difunção mitocondrial hepática. As mitocôndrias do paciente
DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO portador de EHNA apresentam anormalidades
ultraestruturais, peroxidação de suas membranas
ALCOOLICA – DHGNA plasmáticas, com redução da respiração celular e
capacidade de gerar ATP, além de redução do número de
Definição cópias de DNA. Estudos demonstram que a inibição por
droga (4,4-diethylaminoethoxyhexestrol) da cadeia
A doença hepática gordurosa não alcoólica respiratória e da B-oxidação resultou em maior formação de
(DHGNA), primeiramente descrita em 1980, trata-se de uma radicais livres de oxigênio e peroxidação lipídica em ratos.
entidade histopatológica semelhante às alterações Estas alterações em conjunto, favorecem o surgimento das
encontradas na doença hepática alcoólica, entretanto, megamitocôndrias com conseqüente morte celular. É
acomete indivíduos sem consumo alcoólico significativo ou importante ressaltar que tais alterações mitocondriais não
mesmo ausência dele. É caracterizada pelo acúmulo de são observadas nos pacientes que apresentam somente
gordura nos hepatócitos, que pode variar de uma esteatose esteatose hepática simples, sugerindo que para o
simples, sem associação com inflamação ou fibrose, até desenvolvimento da EHNA, é necessária a associação de
uma esteatose com componente necroinflamatório resistência à insulina com disfunção mitocondrial.
A resistência à insulina é também responsável pela veia porta chegam ao fígado e são capazes de iniciar a
troca do substrato preferencial da glicose para beta- esteatose hepática, mesmo em indivíduos sem consumo
oxidação dos ácidos graxos. Entretanto, o influxo de ácidos significativo de etanol. Um estudo realizado em ratos
graxos livres na mitocôndria com uma capacidade oxidativa geneticamente obesos demonstrou que eles apresentavam
defeituosa, gera maior liberação de radicais livres de tanto aumento da permeabilidade intestinal, quanto
oxigênio contribuindo com injúria e fibrose hepática, devido à endotoxemia portal. No mesmo contexto, um recente
essa condição estimular os fibroblastos. Apesar da maior trabalho em humanos portadores de EHNA demonstrou
produção de radicais livres de oxigênio observada nos níveis elevados de IGg contra endotoxina bacteriana, que
pacientes portadores de EHNA, observa-se a depleção de aumentavam progressivamente com o agravamento da
enzimas antioxidantes, especialmente a glutationa, além de inflamação. Diante destas novas evidências da possível
depleção de vitaminas antioxidantes como E e C. relação da EHNA com a microbiota intestinal e
Outro fator ligado à EHNA é o aumento da permeabilidade intestinal alterada nos obesos, tem sido
permeabilidade intestinal e/ou supercrescimento bacteriano. utilizados probióticos no tratamento da EHNA.
A microflora bacteriana é capaz de produzir quantidade
considerável de ambos, etanol e acetaldeído, que através da
O complexo cenário envolvendo o início e progressão da esteatose hepática encontra-se ilustrado na figura.
Classificação
investigação com familiares. (Consenso da SBH)
1. DHGNA primária: observados em pacientes
obesos, diabéticos, hiperlipidemicos o Inferior a 290g etanol/sem para Homens e 196g/sem
2. DHGNA secundária:doenças familiares, agentes para Mulheres (Guia AASLD 2018)
ambientais, hipotireoidismo e medicamentos
ATENÇÃO: Ela só será classificada em primária ou No exame físico: Apesar de ser possível o exame
secundaria após exclusão de Hepatite C ou alcoólica físico não apresentar alterações, a presença de
que são as principais causas de esteatose. desconforto em quadrante superior direito e
hepatomegalia podem estar presentes.
Aspectos Diagnósticos
Ultrassom: representa o método mais prático e
Na anamnese: Fundamental investigar ingestão simples para esse diagnóstico, especialmente quando
calórica, consumo de gordura saturada, colesterol, a esteatose excede 30%. Para esteatoses menos
gordura monoinsaturada, consumo de fibras e vits intensas (5 a 30%) a ressonância magnética é um
antioxidantes (especialmente E e C). Além disso, é método mais sensível.
imperativo comprovação de ausência ou consumo não
significativo de álcool:
Àcido Ursodeoxicólico (AUDC): Há vários anos existe - estudos mostram que o baixo consumo de vit antioxidantes
grande interesse pela utilização do ácido ursodesoxicólico (A, C e principalmente E) contribui para gênese da DHGNA,
(AUDC) na EHNA. Trata-se de um ácido biliar hidrofílico, portanto deve-se estimular o consumo de fontes
natural, que habitualmente constitui cerca de 3% da bile alimentares.
humana. São variados os potenciais efeitos benéficos do
AUDC, incluindo efeito imunomodulador, efeito - estimula consumo de fontes de Zinco e selênio (castanha,
antiapoptótico e efeito de redução da citocinas pró- nozes, brócolis, cebola, alho, cereais integrais, fígado,
inflamatórias como o TNF-a. O conjunto de resultados dos peixes e frutos do mar) por serem potentes antioxidantes ,
últimos trabalhos sugere que o AUDC em monoterapia e na reduzindo assim a incidência de hepatite.
dose standard parece não demonstrar eficácia no tratamento
da EHNA. No entanto, a sua utilização em combinação com
a vitamina E poderá ser útil. Embora usado na prática Vitamina E: Os mecanismos pelos quais a vitamina E
clínica, foi desaconselhado pelo Guia da AASLD (2018) por exerce efeito na EHNA não são totalmente elucidados,
falta de evidência de benefício. porém, sabe-se que ela é capaz de inibir a expressão gênica
de TGF-B1 e, consequentemente, atenuar a estimulação de
células estreladas, protegendo o figado da fibrose. O TGF-
B1 é um peptideo multifuncional, que controla proliferação,
Tratamento Nutricional tradicional diferenciação e outras funções em diversas células. A
relação entre fibrose hepática e TGF-B1 é reportada na
A única medida consensual de tratamento é a modificação literatura e considerada como tendo papel central na
de estilo de vida (MEV), ou seja prática de atividade física fibrogênese e apoptose hepáticas.
+ hábitos alimentares adequados.
Em estudos randomizados, duplo cego, reduziu a atividade
inflamatória e em 30% dos casos houve regressão de
esteato-hepatite.
Probióticos: