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GENÉTICA DO CÂNCER

E TERAPIA
PERSONALIZADA
Profa Fabiana Andrade
Disciplina Genética Médica
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Câncer
• Etiologia poligênica multifatorial
• De origem genética por ser desencadeado por uma série de alterações no
DNA da célula.

▫ Esporádico – alterações de origem somática - não foram herdadas –


~90% - alterações genéticas não são transmitidas

▫ Hereditário– alterações de origem germinativas – herdadas –


~10% - diretamente associadas à predisposição familiar
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Mutações

Cânceres com origem em mutações somáticas


= mais comuns que mutações germinativas
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Fatores de risco Câncer do trato


digestivo, respiratório
e fígado

Vírus
oncogênicos

Principal carcinógeno - câncer


de pulmão, vias aéreas
superiores, esôfago, bexiga Gordura saturada e baixa
e pâncreas ingestão de fibras - colon

Radiação ionizante (raios x, raios


gama) - câncer da tiróide
Radiação ultravioleta - câncer
de pele
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O que é Câncer?
• Conjunto de mais de 100 doenças
• Se caracteriza pela perda do controle da divisão celular e pela capacidade de
invadir outras estruturas orgânicas.
• Resulta de alterações estruturais e/ou funcionais em genes cuja função é
controlar o crescimento normal e a diferenciação das células.

Alterações no ciclo
celular fazem com que a
célula se divida de forma
descontrolada
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O que é Câncer?
• A proliferação anormal das células origina um tumor (neoplasia):
▫ Benigno
▫ Maligno CÂNCER

-Benigno: crescimento geralmente de forma organizada, geralmente lento e


apresenta limites bem nítidos. Apesar de não invadirem os tecidos
vizinhos, podem comprimir os órgãos e tecidos adjacentes
Ex. pólipos intestinais, fibromas de mama, de órgãos ginecológicos e de próstata.
– Em geral pode ser retirado de forma cirurgica
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O que é Câncer?

• A proliferação anormal das células origina um tumor (neoplasia):


▫ Benigno
▫ Maligno CÂNCER

-Malignos: multiplicam-se de maneira desordenada e descontrolada,


manifestam um maior grau de autonomia e são capazes de invadir tecidos
vizinhos e provocar metástases.
Ex. mama, colo uterino, pulmão e próstata
-quimioterapia, radioterapia, procedimento cirúrgico, terapia personalizada
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Que fatores determinam se um tumor


tem potencial para ser maligno ou
benigno?
• Mecanismos não são completamente conhecidos - envolvem o
grau de perturbação que mutações genéticas promovem no
ambiente celular.

• Alterações genéticas de menor impacto = benignos


• Alterações genéticas de maior impacto = maligno
Genes que atuam nos mecanismos de proliferação celular
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Que fatores contribuem para


desenvolvimento de metástases?
• Para que uma célula neoplásica obtenha sucesso na metastização ela
deve inicialmente se destacar do tumor primário

-Alterações nas proteínas que


promovem adesão intercelular - menor
adesão entre as células - facilitam o
desprendimento do tumor primário

-Mutações que alteram expressão


gênica - gene que codifica E-caderina
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Que fatores determinam o local de


desenvolvimento de metástases?

• Localização anatômica do tumor primário


• Outros mecanismos:
1. Células tumorais podem expressar moléculas de adesão que ligam
preferencialmente às células de órgão alvo – fatores genéticos
2. O órgão alvo pode não ser favorável para a proliferação de certas
células tumorais.

-câncer de próstata: metástase óssea, renal, fígado


-câncer de mama: linfonodos axilares, ossos, pulmão e fígado
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Genes relacionados ao desenvolvimento


do câncer
• Proto-oncogenes
• Genes supressores de tumor

Controlam a proliferação,
diferenciação, morte celular e
integridade genômica!

A maioria das mutações de genes supressores de tumor e proto-


oncogenes é adquirida, não herdada.
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Proto-oncogenes
• Genomas de mamíferos e aves contêm um grupo de proto-oncogenes
que atuam na proliferação e diferenciação normal das células.

• Produtos ligados direta ou indiretamente à promoção da proliferação


celular.
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Ativação de proto-oncogenes
Transformação de um proto-oncogene em oncogene, ocorre como
resultado de:
a) mutação de ponto;
b) amplificação gênica;
c) rearranjo cromossômico.

A presença de um único alelo mutante é suficiente para mudar o


fenótipo celular: mutação com carater dominante.
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Proto-oncogenes
• Ativação dos proto-oncogenes:
▫ a) Mutações de ponto

Mutação de ponto resultando em troca


de aminoácido – mutação não sinônima
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Proto-oncogenes
Exemplo

• Família de proteínas RAS: uma das mais bem descritas e estudadas


• É codificada pelos genes H-, K- e N-RAS (11p15.5, 12p12.1 e 1p13.2)

• Genes K-RAS tem sido o mais estudado, por apresentar mutações


mais frequentes e presentes em tumores mais agressivos - menor
sobrevida dos pacientes.
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-Codifica um transdutor de sinal: transmite informações da membrana ao


núcleo - regulação da proliferação e diferenciação celular
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Estimula Ras à dissociar-se de


GDP e ligar-se ao GTP = formação
do estado GTP-ligante ativo.
Inativam Ras pela
indução de hidrólise do
GTP ligante = GDP Difosfato de guanidina

Trifosfato de guanidina

Ras com mutação apresenta menor interação Fonte: Weinberg (2008)

com GAPs = ligação permanente/facilitada ao


GTP.
GEF - guanine nucleotide exchange factor
GAP - GTPase activating protein
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Proto-oncogenes
Exemplo

• Oncogene K-RAS ativado por mutação de ponto codifica para a


oncoproteína k-ras
▫ Sinal contínuo para proliferação celular
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Proto-oncogenes
b) Amplificação gênica – aumento do número de cópias de um
gene

-“Normal” 2 cópias

-Expressão proteica relacionada ao número de cópias do um


gene

▫ Causam expressão elevada


▫ Ex: Gene HER2 em câncer de mama
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Proto-oncogenes

• Amplificação gênica do gene HER2 (Human Epidermal growth factor Receptor-type


2)

▫ O proto-oncogene HER2 codifica um receptor transmembranar de factor de


crescimento = em condições normais, regulam o crescimento, proliferação e a
sobrevida cellular – especialmente tecido mamário
- 20 a 30% dos carcinomas de mama apresentam superexpressão do gene HER2.

▫ Aumento no número de cópias do


gene e aumento da expressão da
proteína - célula se divide e cresce a
uma velocidade superior à das
células normais
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c)Rearranjos gênicos
Leucemia Mielóide Crônica

• Cromossomo Filadélfia
▫ Descoberto em 1960
▫ Primeira doença maligna claramente relacionada a uma anormalidade
genética – cancer adquirido
▫ Originado de uma translocação entre os cromossomos 9 e 22 nas células
mieloides – na medula óssea (leucócitos, plaquetas e hemácias)
▫ A translocação ativa a proteína Bcr-Abl (por fusão dos genes bcr e abl) que
acelera a divisão cellular – células leucêmicas aculam na medula - função
comprometida
▫ A proteína Bcr-Abl é a causa da Leucemia Mielóide Crônica
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Genes supressores de tumor


• Reguladores negativos da proliferação celular (sentinelas)

▫ Atuam por meio da indução da apoptose (morte celular programada);


retardo do ciclo celular (suprimindo a proliferação) ou por reparos a
danos ao DNA

▫ A perda da função só ocorre quando ambos os alelos são inativados -


Mutação de carater recessivo
▫ -Esporádico: inativação depende de dois eventos na mesma célula
▫ -Hereditário: herança + um evento pós natal em qualquer célula
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Genes supressores de tumor


• Genes protetores (gatekeepers) – regulam diretamente o ciclo celular

▫ Gene TP53: proteína p53 – liga-se ao DNA atuando como fator de transcrição
▫ Ao se detectar erro no DNA, a p53 ativa genes que desencadeiam diferentes
respostas de supressão: interrupção do ciclo celular (permitindo reparo),
apoptose

• proteína p53 quando mutada permite


que o ciclo celular prossiga mesmo com
o DNA contendo graves lesões.
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Genes supressores de tumor


• Genes de manutenção (caretakers)
▫ Atuam reparando danos no DNA, mantendo a integridade genômica
▫ Sozinhos não induzem a formação de neoplasia, mas facilitam a
ocorrência de mutações em outros genes

●Exemplos de genes de manutenção: BRCA1 e BRCA2 (relacionados com


cânceres de mama e ovário hereditários)
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Marcadores Moleculares no Câncer


Aplicações Clínicas

• O conhecimento das mudanças genéticas na células neoplásicas contribuiu para o


diagnóstico do câncer e seu tratamento
▫ Para as leucemias, diagnósticos citogenéticos já são realizados há anos

▫ Já foram descritos alterações genéticas associados a vários tipos de câncer: mama,


próstata, pulmão, ovário, cólon, entre outros.
▫ Podem determinar o risco do desenvolvimento de certos tipos de cânceres hereditários,
além de serem úteis no diagnóstico e diferenciação da doença.
▫ Direcionamento do tratamento ***
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Marcadores Moleculares no Câncer


Aplicações Clínicas

• Câncer hereditário – mutações germinativas


▫ Predisposição -aconselhamento genético - diminuir morbi-
mortalidade e proporcionar melhoria em sua qualidade de vida.

• Câncer Esporádico – mutações somáticas (marcadores tumorais)


▫ Diagnóstico
▫ Terapia Alvo - Medicina Personalizada
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Cânceres hereditários

• Testesgenéticos para verificar causa ou risco aumentado de


desenvolver certos tipos de cânceres
▫ Mutações germinativas
•Já teve câncer – genes envolvidos/se
hereditário
•Não tem câncer – maior chance?
É realizado aconselhamento genético
para tentar direcionar o teste quando
existem muitos casos na família.
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Câncer de Mama e Ovário Hereditários

• Direcionamento do teste genético

1. BRCA1 e BRCA2
2. Painel multigenes

-Convênio: BRCA1 e 2 quando


preenche alguns requisitos

Amostras: sangue
Câncer de Mama feminino até os 70 anos

● Risco ao se carregar 1 alelo


mutado
● Acompanhamento periódico
exame físico, mamografia,
ressonância magnética, ultrassom
transvaginal, exames de sangue.
Opção de medicamentos
preventivos, cirurgia preventiva
(quando risco elevado).
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Classificação de Variantes
Classificação baseada em critérios

-ACMG (American College of Medical


Genetics)
• Vários critérios
-Bancos de dados popopulacionais
-Estudos funcionais proteína
-In silico
• Classificação pode mudar

Laudo em geral: reportadas no laudo


-Liberado para o médico
-Se paciente solicitar tem acesso

Responsabilidade do laboratório atualizar o laudo quando a classificação é alterada.


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Painel Multigênico

BRCA1 c.211A>G (p.R71G) exon 5 Heterozigose 0,000004% rs80357382


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Pesquisa Pontual de Mutação

• Verificar em outros membros da família uma mutação


identificada no probando

Mutação
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Marcadores Tumorais

• Relacionados a terapia alvo - medicina personalizada


-Identificação de mutações para direcionar tratamento
• Drogas visam inibir determinada via que está ativada devido a
presença da mutação
• Vários genes
▫ HER2, KRAS, NRAS, BRAF, BRCA1/2, EGFR…
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Pesquisa da Amplificação do gene HER2


Hibridação Fluorescente In Situ (Fish):
marca o gene HER2 - Amplificação
gênica do gene HER2.

A) Negativo – sinal vermelho HER2 equivalente ao


sinal verde CEP17 B) Positivo – número elevado de
sinais vermelhos.

-Diagnóstico do status HER2 - terapias alvo para o câncer de


mama HER2+.
▫ Terapia alvo – trastuzumabe - anticorpo monoclonal
▫ aplicado a cada 21 dias nas pacientes - custar entre R$
7.000 e R$ 8.000 - SUS
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Pesquisa do Perfil de Receptores ER e PR

-Tumores ER+ e PR+ = hormônioterapia


(reduzem os níveis ou bloqueiam os receptores)

-Tumores triplo positivo: HER2+, ER+ e PR+ =


hormônio terapia e terapia alvo para HER2

-Tumores de mama triplo-negativos: não respondem à hormonioterapia e


terapia alvo – cirurgia/quimioterapia
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Via Ras e Câncer colorretal

• Família proto-oncogênica RAS


é formada pelos genes HRAS,
NRAS e KRAS
▫ A via é ativada pela ligação no
receptor EGFR - receptor do fator
de crescimento epidermal

Condições
fisiológicas
Fonte: Losso, GM (2018)
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Via Ras e Câncer colorretal


• Os
genes da Via Ras estão mutados em cerca de 50% dos CCR -
mutação ‘driver’

40% 17%
mutações mutações
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Identificação importante para definir


Tratamento
• Pacientes com CCR sem mutações em genes
da família Ras são passíveis de resposta ao
tratamento com drogas anti-EGFR

▫ Cetuximabe - 34% de material de camundongos


▫ Panitumumabe - 100% humano

Geralmente utilizado em conjunto com a quimioterapia =


aumenta a chance de sucesso do tratamento tradicional -
ganho de sobrevida.

Fonte: Losso, GM (2018)


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EGFR e Câncer de Pulmão

• EGFR – receptor do fator de crescimento epidermal


• Mesma via dos genes da Via Ras

• Cerca de 30 a 40% dos pacientes com CPNPC possuem mutação


ativadora em EGFR
▫ Ativa a via constitutivamente – independe de ligante
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EGFR e Câncer de Pulmão


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EGFR e Câncer de Pulmão

• Sítio TK mutado: ATP ligado – ativação contitutiva


• TKIs: inibidores de tirosina-quinase - atuam
intracelularmente
• Competem pelo sítio de ligação do ATP
Fonte: Imai (2006)
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EGFR e Câncer de Pulmão

Drogas aprovadas para mutações ativadoras do


EGFR

Gefitinib, Erlotinib, Afatinib – aprovados ANVISA

Fonte: Yang (2018)


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EGFR e biópsia líquida


• Mutações do EGFR podem ser detectadas a partir de biópsia
líquida
• Detecção de DNA tumoral circulante - sangue periférico (~8ml)
• Útil principalmente para detecção da T790M (resistência aos
tratamentos TKIs) – terapia direcionada

●Metodologia sensível - detecta a partir de 1% de DNA


tumoral
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BRCA1/2 e Câncer de Ovário e Mama

• Pacientes com mutações patogênicas germinativas ou


tumorais em BRCA1/2 —> inibidores de PARP

• Droga
atua na via de reparo de DNA para induzir
apoptose das células tumorais
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• ca. de ovário: Olaparibe - inibidor


de PARP aprovado pela ANVISA

• ca. mama avançado Olaparibe e


Talazoparibe:
- HER2 negative
- Receptor hormonal - inadequados
para terapia hormonal

• Redução do risco de progressão


da doença ou morte
GENÉTICA DO CÂNCER
E TERAPIA
PERSONALIZADA
Profa Fabiana Andrade
Disciplina Genética Médica

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