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PRINCÍPIOS BÁSICOS DA AC PARA A

DEPENDÊNCIA QUÍMICA
CONDICIONAMENTO RESPONDENTE
CONDICIONAMENTO RESPONDENTE
Condicionamento clássico, reflexo ou pavloviano
Contingência: Estímulo → Resposta

Campainha
NS

Comida Salivação
US UR

Campainha
Salivação
CS
CR
CONDICIONAMENTO RESPONDENTE
Experiência do Pequeno Albert – John B. Watson

Rato branco
NS

Barulho Susto, medo, ansiedade


US UR

Rato branco
Susto, medo, ansiedade
CS
CR
CONDICIONAMENTO RESPONDENTE
Extinção respondente

Retardamento do desenvolvimento

Gradiente de generalização de estímulos


CONDICIONAMENTO OPERANTE
CONDICIONAMENTO OPERANTE
B. F. Skinner

Contingência: Resposta → Consequência

O foco são as consequências que se seguem à emissão do comportamento.

Tais consequências aumentarão ou diminuirão a classe de comportamentos


CONDICIONAMENTO OPERANTE
Selecionismo: o comportamento é selecionado pelas consequências que ele produz no
ambiente

Comportamentos operantes são aqueles que operam no ambiente para gerar


consequências e são, por sua vez, influenciados por essas consequências
CONDICIONAMENTO OPERANTE
Unidade de Análise: contingência de três termos ou tríplice contingência:

Contexto Resposta Consequência


CONDICIONAMENTO OPERANTE
Reforçamento positivo e negativo
Extinção
Punição positiva e negativa

Contexto Resposta Consequência

 Análise Funcional

 Quais são as consequências deste comportamento?


REFORÇAMENTO POSITIVO
REFORÇAMENTO POSITIVO
Definição: processo através do qual a probabilidade de determinados
comportamentos aumentam quando seguidos da adição de determinados estímulos

Reforçador positivo: (Sr+)


 Estímulo que quando apresentado de modo contingente a um comportamento aumenta a
probabilidade do comportamento ocorrer novamente

Quanto mais próximo temporalmente ocorre após a emissão do comportamento alvo,


maior é a probabilidade de exercer controle sobre o comportamento
Contexto antecedente Comportamento Sr+

Na sala de aula em frente a Palestrar Atenção dos alunos


alunos

Em grupo de tratamento para Falar do prazer de beber e olhar Colegas sorrirem


alcoolistas para os colegas

Domingo de manhã Preparar um café da manhã para Esposa sorrir, beijar, abraçar,
a esposa agradecer

Paciente descrever que conseguiu Terapeuta sorrir e perguntar


Durante a terapia se aproximar de meninas interessado sobre como ele se
sentiu
REFORÇAMENTO POSITIVO
Reforços variam entre:
 Consumíveis: comidas e bebidas
 Atividades: hobbies, esportes, passeios
 Manipuláveis: jogos, pertences
 Privilégios: entrar primeiro no cinema, roupas de grife
 Sociais: abraços, elogios, acenos, sorrisos, olhar, atenção
REFORÇAMENTO POSITIVO
Reforçadores incondicionados e condicionados
REFORÇAMENTO POSITIVO
Reforçadores condicionados generalizados x simples

São generalizados por servirem de ocasião para a emissão de várias respostas


diferentes
REFORÇAMENTO POSITIVO
Saciação e privação (operações motivacionais) interferem no valor reforçador dos
estímulos

A saciação não afeta tanto nos reforçadores generalizados!


REFORÇAMENTO POSITIVO
Reforços naturais e artificiais
REFORÇAMENTO POSITIVO
O reforçador positivo é idiossincrático!
REFORÇAMENTO POSITIVO
Variações nos parâmetros do reforçador:
 Magnitude
 Latência
 Custo de resposta
REFORÇAMENTO NEGATIVO
REFORÇAMENTO NEGATIVO
Definição: processo através do qual a probabilidade de determinados
comportamentos aumentam quando seguidos da remoção de determinados
estímulos

Condicionamento por fuga/esquiva

Reforçador negativo: (Sr-)


 Estímulo que quando removido de modo contingente a um comportamento aumenta a probabilidade
do comportamento ocorrer novamente
Contexto antecedente Comportamento Sr-

Esposa termina o casamento Marido pára de beber e fumar Esposa aceita retomar o casamento

Próximo do prazo de entrega de um Trabalhar até tarde da noite Evita perder o prazo, ser rotulado,
trabalho descreditado

Tendo recebido a notícia do fim dos Dorme e afasta-se da preocupação


concursos públicos Toma medicação hipnótica de ficar desempregada por mais
tempo

Próximo do dia da terapia Paciente liga desmarcando a sessão Evita ir a terapia e contar sobre ter
novamente traído a esposa
REFORÇAMENTO NEGATIVO
Fuga: quando a resposta emitida remove o estímulo aversivo presente

Esquiva: quando o comportamento emitido evita a ocorrência do estímulo aversivo


diante de algum estímulo sinalizador
Contexto Comportamento Sr-
antecedente

Esposa termina o Marido pára de beber e Esposa aceita retomar o


casamento fumar casamento
Fuga

Próximo do prazo de Trabalhar até tarde da Evita perder o prazo, ser


entrega de um trabalho noite rotulado, descreditado
Esquiva

Tendo recebido a notícia Dorme e afasta-se da


do fim dos concursos Toma medicação hipnótica preocupação de ficar
públicos desempregada por mais
tempo

Paciente liga desmarcando Evita ir a terapia e contar


Próximo do dia da terapia a sessão sobre ter novamente traído
a esposa
REFORÇAMENTO NEGATIVO

(Moreira e Medeiros, 2007, p. 92)


ANÁLISE FUNCIONAL
ANÁLISE FUNCIONAL DO USO DE DROGAS
Adição de
estímulos

Reforçamento
positivo
Excesso
Abuso de
comportamental
drogas
Reforçamento
negativo
Remoção de
estímulos
ANÁLISE FUNCIONAL DO USO DE DROGAS

Contexto Resposta Consequência

Análise Funcional
 Em que contexto o uso da droga é mais provável?
 Quais são as consequências deste comportamento?
CONTROLE DE ESTÍMULOS
CONTROLE DE ESTÍMULOS
Contingência de reforçamento operante
R→C

O comportamento não ocorre no vácuo


CONTROLE DE ESTÍMULOS
O contexto onde o comportamento ocorre também exerce controle sobre ele, daí o
termo controle de estímulos

Os estímulos presentes no contexto onde a resposta é reforçada sinalizam a


probabilidade do reforço
CONTROLE DE ESTÍMULOS
“Conheci uma menina que veio do sul
Pra dançar o tchan e a dança do...”
(Jamaica & Washington, 1996)
CONTROLE DE ESTÍMULOS
Estímulos discriminativos
Discriminam a presença ou ausência do reforço

Assim, aumentam ou diminuem a probabilidade do comportamento ocorrer


CONTROLE DE ESTÍMULOS
Sd
Sinaliza a disponibilidade do reforço, ou que a resposta será reforçada

SD
Sinaliza a indisponibilidade do reforço, ou que a resposta não será reforçada
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO: PESQUISA, INTERVENÇÃO E CLÍNICA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA - UFMG

Passamos por vários treinos discriminativos ao longo da vida


CONTROLE DE ESTÍMULOS
Ter atenção é comportar-se sob determinado controle de estímulos

Depende da nossa história de reforçamento e punição

Estímulos que sinalizaram consequências importantes no passado têm uma


probabilidade maior de exercerem o controle sobre nosso comportamento
ANÁLISE FUNCIONAL
ANÁLISE FUNCIONAL DO USO DE DROGAS

Contexto Resposta Consequência

Análise Funcional
 Em que contexto o uso da droga é mais provável?
 Quais são as consequências deste comportamento?
QUE CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS CONTROLAM?
Reforçadores positivos
 Efeitos intrínsecos às drogas (euforizante, sedativo, hipnótico, alucinógenos, analgésico, etc)
 Acesso a outros reforçadores:
 Reforçadores sociais (reconhecimento, status, afeto)
 Reforçadores sexuais

Reforçadores negativos
 Efeitos intrínsecos às drogas (sedativo, analgésico, etc)
 Sintomas de abstinência (respostas condicionadas – CR)
 Estímulos aversivos de variados tipos
QUE CONSEQUÊNCIAS ATRASADAS OCORREM?
Estímulos aversivos e perda de reforçadores variados
 Perdas sociais:
 Queixas, discussões, críticas, acusações, ofensas, discriminação, perda de confiança, afastamento e abandono no ambiente
familiar, conjugal, de trabalho e “social”
 Alterações no sono, apetite e libido
 Endividamento, perdas financeiras ou de moradia
QUE CONSEQUÊNCIAS ATRASADAS OCORREM?
 Estados físicos e doenças
 Ressaca, síndrome de abstinência, dor física, incapacidades motoras, perdas cognitivas, hepatites, cirrose hepática, HIV, baixa
imunológica, problemas respiratórios, etc
 Acidentes com ou sem perdas físicas e materiais
 Restrição de liberdade
 Clínicas, cadeia, etc
 Envolvimento criminal
 Roubo, assalto, assassinato, tráfico, prostituição
 Ameaças de morte, humilhação, agressões físicas e sexuais
POR QUE ESTAS PESSOAS Momento enquete
CONTINUAM USANDO?
POR QUE ESTAS PESSOAS CONTINUAM USANDO?
1.Burrice
2.Falta de vergonha na cara
3.Falta de Deus
4.Masoquismo
5.Conflito na fase oral
6.Todas as alternativas
7.Nenhuma das alternativas
POR QUE ESTAS PESSOAS CONTINUAM USANDO?
Reforçadores imediatos exercem maior controle do que reforçadores tardios ou
punições atrasadas
POR QUE ESTAS PESSOAS CONTINUAM USANDO?
Dependendo das propriedades do reforço atrasado, o organismo pode escolher
pela contingência de compromisso com o reforçador atrasado, mas isso irá depender
dos parâmetros do reforçador como latência, magnitude, entre outros em
contraposição à contingência concorrente

Magnitude X Latência
Magnitude X Custo da resposta
Magnitude X Consequência aversiva
POR QUE ESTAS PESSOAS CONTINUAM USANDO?
Além de tudo isso, como os eventos aversivos são introduzidos paulatinamente ocorre
um efeito de habituação a estes

Sem contar que alguns destes eventos aversivos temos uma comunidade verbal que
reforça a descrição deles, neste caso, a comunidade dos próprios usuários
O QUE PODEMOS OBSERVAR?
A contingência apresenta duas consequências para uma mesma resposta:
1) reforçamento
2) punição atrasada

Consequências
Resposta 1) Euforia, desinibição, valorização
social entre amigos, etc
Abuso de álcool
2) Ressaca, brigas e discussões
familiares, etc
O QUE PODEMOS OBSERVAR?
Comportamento impulsivo: consequências imediatas controlam mais o
comportamento que as consequências atrasadas

Comportamento autocontrolado: comportamento controlado pelas consequências


atrasadas

Comportamento de abuso de drogas é um comportamento impulsivo


O QUE PODEMOS OBSERVAR?
Comportamentos concorrentes são reduzidos em frequência em razão do
comportamento de abuso

Consequências
Resposta 1) Euforia, desinibição, valorização social
Abuso de álcool entre amigos, etc
Comportamento 2) Ressaca, brigas e discussões familiares, etc
concorrente

Consequências
Resposta 1) Satisfação, valorização dos filhos e da esposa,
etc
Ficar com a esposa e os filhos
2) Afastamento dos amigos do bar e abandono da
bebida
ONDE MAIS VEMOS IMPULSIVIDADE?

Consequências
Resposta 1) Satisfação , “melhora da ansiedade”
Comer muito chocolate 2) Engordar, perder peças de roupa, ter menos
chance de paquerar

1) Matar a curiosidade sobre a vida dos


Ficar muito tempo no Whatzapp e outros, adiar um trabalho chato
Facebook 2) Trabalho sair mal feito, virar noite para
terminar o trabalho

1) Roupas novas, elogio e camaradagem das


vendedoras, etc
Comprar muitas roupas em loja de grife
2) Dificuldade financeira, dívidas, discussão com
cônjuge pelos gastos
AUTOCONTROLE
Autocontrole costuma ser referido como característica inata dos indivíduos, força de
vontade, força interior em nossa cultura
AUTOCONTROLE
Apesar disso, essa visão ignora que uma mesma pessoa pode apresentar graus
diferentes de autocontrole em situações diferentes e mostrar graus de autocontrole
diferenciado em situações semelhantes, mas em momentos distintos da vida
AUTOCONTROLE
O estabelecimento de propriedades aversivas para o comportamento impulsivo,
pode fortalecer respostas que reduzem a probabilidade deste comportamento
(reforçamento negativo)

A resposta controlada será entendido como tal, enquanto aqueles que reduzem sua
probabilidade de ocorrência serão compreendidos como respostas controladoras
Reforçamento positivo e punição atrasada

Consequências
1) Euforia, desinibição,
Contexto Antecedente Resposta valorização social
No bar, com os amigos entre amigos, etc
aos finais de tarde Consumo de álcool
2) Ressaca, brigas e
discussões familiares,
etc

Consequências
Resposta
Contexto Antecedente a) Evitar de ir ao bar
Aos finais de tarde b) Ir direto para casa
c) Noticiar a esposa para
esperá-lo sempre às 18h 2) Evita ressaca, brigas e
discussões familiares, etc

Reforçamento negativo
Resposta
Controlada
Consequências
Contexto Antecedente 1) Euforia, desinibição,
Resposta valorização social
Ir ao bar encontrar entre amigos, etc
com os amigos aos Consumo de álcool
finais de tarde 2) Ressaca, brigas e
discussões familiares,
etc

Resposta
Consequências
a) Evitar de ir ao bar
Contexto Antecedente b) Ir direto para casa
Aos finais de tarde 2) Evita ressaca,
c) Noticiar a esposa brigas e discussões
para esperá-lo sempre familiares, etc
às 18h
Resposta
Controladora
AUTOCONTROLE
Autocontrole, na realidade, refere-se a certas formas de controle ambiental do
comportamento

As respostas controladoras podem:


 reduzir/aumentar a intensidade de estímulos eliciadores ou aversivos;
 produzir/retirar estímulos discriminativos;
 modificar a motivação através da criação de operações estabelecedoras (emoção, drogas);
 tornar reforçadores/punidores altamente prováveis ou improváveis;
 desenvolver alternativas comportamentais que não impliquem em punição
AUTOCONTROLE
Um outro fator que pode aumentar escolhas de autocontrole refere-se a atividades
desenvolvidas durante o período de espera (Mischel et al., 1972; Patterson e
Mischel, 1975).

Mischel e colaboradores (1972) observaram que as crianças esperavam mais pelo


reforçamento de maior magnitude quando tinham a possibilidade de brincar durante
o período de espera.
AUTOCONTROLE
A inclusão desses outros reforçadores durante o período de espera aumenta o valor
relativo da alternativa de autocontrole possivelmente porque esses reforços se
somam aos relacionados ao comportamento de autocontrole ou porque podem ter a
função de reduzir o desconto que o atraso produziria se a alternativa adicional não
estivesse presente
ESTRATÉGIA DE MANEJO DE
CONTINGÊNCIAS
MANEJO DE CONTINGÊNCIAS
Estudo randomizado com 65 indivíduos usuários de crack atendidos em ambulatório em São
Paulo durante 12 semanas

Standard Treatment Alone (STA):


32 participantes
Sessões de grupo semanais de 90 min
Terapia ocupacional de 90 min
Uma sessão semanal com psicólogo de acima de 40 min
Uma consulta com psiquiatra ao mês
 Testagem positiva: encorajamento
 Testagem negativa: congratulações
MANEJO DE CONTINGÊNCIAS
Standard Treatment Plus Contigency Management (STCM):
33 participantes
Receberam o mesmo tratamento de STA + sistema de vouchers
Sistemas de vouchers:
 Testagem negativa crack: vouchers de R$5,00
 Testagem negativa consecutiva crack: mais vouchers R$2,00 a cada testes consecutivos chegando ao máximo
de R$15,00 totais
 Testagem negativa na semana crack: mais voucher de R$20,00
 Testagem negativa bafômetro, se negativo crack: mais R$2,00
 Testagem negativa THC e álcool na semana, se negativo crack: mais R10,00

 Testagem positiva: ausência de ganho e retorno aos vouchers de R$5,00 iniciais


 Troca de vouchers por produtos imediata ou tardia, acompanhada por profissionais
 R$942,00 era o máximo a ser conseguido ao longo de 36 avaliações no curso de 12 semanas.
MANEJO DE CONTINGÊNCIAS
Resultados:
Número de sessões realizadas: STCM média de 19.5 (SD = 14.9) versus 3.7 (SD =
5.9) (t = 5.57; p < 0.01).

Retenção no tratamento em semanas: STCM média de of 7.7 (SD = 5.2) semanas


em comparação com 3.0 (SD = 4.0) semanas no grupo STA (t= 4.06; p< 0.01).

Abstinência de crack: a média de urina consecutivas negativas 13.1 (SD= 13.3)


para o grupo STCM e 2.4 (SD= 5.3) para o grupo STA, resultando numa média de
4.4 e 0.8 semanas de abstinência, respectivamente (t = 4.16; p< 0.01).
MANEJO DE CONTINGÊNCIAS
“A noção de que diminuir o atraso até o recebimento do reforçador atrasado pode
promover a abstinência ajuda a explicar a eficácia de um tratamento
comportamental importante baseado em evidências para o vício: manejo de
contingência (CM)”. (Kurti & Dallery, 2012)

Além de ser uma contingência concorrente e incompatível com o comportamento de


uso
DEPENDÊNCIA QUÍMICA E
PREVENÇÃO DE RECAÍDA
ANTES DE TUDO...
O QUE É PREVENÇÃO DE RECAÍDA
1985 - Relapse Prevention: Maintenance Strategies in the Treatment of Addictive
Behaviors

G. Alan Marlatt e Judith Gordon

2005 - Relapse Prevention: Maintenance Strategies in the Treatment of Addictive


Behaviors (2ª edição)

G. Alan Marlatt, Dennis M. Donovan e cols


O QUE É PREVENÇÃO DE RECAÍDA
Modelo explicativo sobre o comportamento adictivo e de sua recidiva após períodos
variáveis de abstinência

Programa de autocontrole equipado de um arsenal de estratégias cognitivo-


comportamentais cujo objetivo é ensinar e auxiliar o paciente a prevenir ou limitar
eventuais episódios de recaída
O QUE É PREVENÇÃO DE RECAÍDA
Definição cognitivo-comportamental das adicções em contraposição às definições
morais e de doença
 Adicção como comportamento impulsivo: controlado mais pelas consequências reforçadoras imediatas
do que as aversivas tardias
MODELO MORAL
Compreensão do comportamento adictivo: é entendido como uma falta de “fibra
moral” ou “força de vontade” ao adicto para resistir à tentação e exercer controle
sobre si mesmo
“CORREÇÃO: NÃO É DOENÇA; É ESTUPIDEZ!!! Centenas de colunas de jornais
e milhões de dólares têm sido usados na exposição e combate ao ‘abuso de drogas’
e ao ‘alcoolismo’ (...) ‘abuso de drogas’ e ‘alcoolismo’ não é doença, mas o resultado
do exercício voluntário da estupidez. O registro oficial de Deus acrescenta estes
fatos: ‘Você sabe que o indigno não herdará o Reino de Deus? Não se engane; nem
fornicadores, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem aqueles que
abusam de si mesmos, nem ladrões, nem mentirosos, nem avarentos, nem beberrões,
nem caluniadores, nem usurários, herdarão o Reino de Deus’ é chegada a hora do
arrependimento!” (in Marlatt; Gordon, 1985)
MODELO MORAL
Terapêutica: conversão, expiação dos pecados relacionados à substância de abuso,
estratégias confrontativas e coercitivas
MODELO MORAL
Compreensão do lapso: comprovação da falha moral e do defeito de caráter
intrínseco ao adicto
MODELO DE DOENÇA
Compreensão do comportamento adictivo: é compreendido como sintoma de uma
doença de causas fisiológicas subjacentes e geneticamente herdada
MODELO DE DOENÇA
Terapêutica: abstinência total e submissão aos procedimentos médicos para alcançar
a “cura” (ex.: terapia de aversão, hipnose, psicocirurgia, entre outras)
MODELO DE DOENÇA
Compreensão do lapso: início de uma série de alterações fisiológicas, as quais
conduzirão fatalmente ao consumo compulsivo e irrefreado da substância
MODELO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
Compreensão do comportamento adictivo: é compreendido como um comportamento
aprendido, mantido e modificado por processos de aprendizagem

“Hábitos hiperaprendidos que podem ser analisados e modificados do mesmo modo


que outros hábitos” (Marlatt; Gordon, 1985)

“Hábito compulsivo, no qual o indivíduo busca um estado de gratificação imediata” (Marlatt;


Gordon, 1985)

“(...) figuram-se como ‘mecanismos de enfrentamento mal-adaptativos’ geralmente


realizados antes ou durante situações percebidas como estressantes ou desagradáveis”
(Oliveira, 2010)
MODELO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
Terapêutica: um processo de aprendizado de um padrão de comportamento novo e
mais adequado, ao passo que o indivíduo “desaprende” um padrão de
comportamento mal-adaptativo

“o adicto juntamente com o terapeuta concentrar-se-ão sobre o estudo dos


determinantes de seus hábitos, compreendendo ‘antecedentes situacionais e
ambientais, crenças e expectativas, história familiar e individual e experiências de
aprendizado anteriores com a substância psicoativa ou atividade’ (Oliveira, 2010)
MODELO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
Compreensão do lapso: erros ao longo do processo de aprendizado

“(...) quando os indivíduos tentam mudar um comportamento-problema, o


lapso (um breve momento de retorno ao comportamento anterior) é altamente
provável. Um resultado possível, seguindo o revés inicial, é o retorno ao padrão do
comportamento-problema anterior (recaída)” (Marlatt; Witkiewitz, in Marlatt;
Donovan, 2005)
MODELO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL DA
PREVENÇÃO DE RECAÍDA
Definição cognitivo-comportamental das adicções em contraposição às definições
morais e de doença

Crítica ao modelo de doença:


 o enfoque em fatores causais incontroláveis como, por exemplo, alterações fisiológicas subjacentes,
poderia diminuir a motivação ou persistência para a mudança
 visão dicotômica de que a pessoa ou está bem ou está doente, desconsiderando a natureza instável e
descontinua de qualquer processo de mudança
MODELO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL DA
PREVENÇÃO DE RECAÍDA
Crítica ao modelo moral:
 “(...) as pessoas não são consideradas responsáveis pelo desenvolvimento dos problemas (por
exemplo, ter-se envolvido em um padrão de hábito adictivo), mas são capazes de compensar suas
dificuldades, assumindo responsabilidade pela mudança no comportamento – mesmo em face de
revezes ou ‘recaídas’ aparentes” (Marlatt; Gordon, 1985)
PREVENÇÃO DE RECAÍDA
Objetivo da Prevenção de Recaída:
 Garantir a manutenção do processo de mudança de hábito em face de eventuais reveses
 Evitar um retorno à linha de base do comportamento-alvo

Desenvolvimento de repertório de autocontrole


 Estabelecimento de respostas que eliminem ou altere variáveis relacionadas ao comportamento
impulsivo
 Respostas controladoras X Respostas controladas
PREVENÇÃO DE RECAÍDA
Uso de três principais estratégias:
 1) aquisição de habilidades de enfrentamento adaptativas como alternativa aos comportamentos
adictivos;
 2) apoio a novas cognições (atitudes, atribuições e expectativas) envolvendo tanto a natureza da
mudança de hábitos quanto a própria capacidade de controlar a própria vida e;
 3) desenvolvimento de um estilo de vida diário que inclua atividades positivas de cuidados consigo
mesmo e modos não-destrutivos de atingir a satisfação e a gratificação pessoais
1º MODELO DA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
Marlatt em 1978

Pesquisa envolvendo 70 homens alcoolistas crônicos

Informações qualitativas detalhadas das situações primárias de retorno ao consumo


durante os primeiros 90 dias após sua alta de uma instituição de tratamento em
regime fechado de abstinência
1º MODELO DA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
Elaboração de taxonomia detalhada de situações de alto risco

Primeiro modelo cognitivo-comportamental do processo de recaída


MODELO DA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
Compulsões ou
fissuras
impulsionadas
pela lembrança
ou expectativa
dos efeitos
da droga

Desequilíbrio no
Desejo por Situação de
estilo de vida
Indulgência Alto Risco
(deveres x desejos)

•Racionalização
•Negação
•Decisões
Determinantes Aparentemente
encobertos Irrelevantes
RACIONALIZAÇÃO E NEGAÇÃO
Racionalização: desculpa logicamente aceita para engajamento no comportamento
adictivo
 “Vou somente comprar uma Coca-cola!”
 “Estou com saudades do JP! Ele é meu amigo, poxa!”

Negação: recusa em reconhecer o risco envolvido em determinada situação


 “Não vai ter problema nenhum eu ir nessa festa”
 “Não tenho mais problema com drogas”
DECISÕES APARENTEMENTE IRRELEVANTES
Decisões aparentemente irrelevantes: sequência de decisões que compartilham
algum grau de “inconsciência” para o indivíduo, mas que aumentam as chances dele
engajar no comportamento problema

“Decisões compartilham algum grau de inconsciência”


Deixar de tomar a medicação prescrita sem consentimento médico

Sair de casa sem a real necessidade disso para finalidades questionáveis (ex. comprar cigarro tendo maços)

Ser exageradamente prestativo a terceiros, não sendo isso um hábito

Pegar caminhos alternativos estando ou não de carro

Insistir para a redução de monitoria de familiares

Manter latinhas de cerveja na geladeira ou bares dentro de casa

Manter esconderijos antigos em segredo para que outras pessoas não o verifiquem

Manter consigo um volume de dinheiro maior que o necessário

Manter parafernália de uso

Manter números de telefone ou contato com pessoas usuárias


Probabilidade
Resposta de Auto-eficácia
diminuída de
enfrentamento aumentada
recaída

Situação de Determinantes
Alto Risco imediatos

Auto-eficácia
Nenhuma diminuída Efeito de Probabilidade
Uso inicial da
resposta de Expectativas de violação da aumentada de
substância
enfrentamento resultados abstinência recaída
positivos
SITUAÇÃO DE RISCO
Situações de risco colocam o senso de auto-eficácia em xeque caso o indivíduo não
consiga emitir uma resposta de enfrentamento alternativa

Situações nas quais o indivíduo adicto manifestou extenso uso da droga ou


comportamento-problema como um meio de tentar lidar com elas no passado

(...) quando a ingestão alcoólica excessiva, tabagismo, excesso alimentar ou


outros comportamentos de indulgência foram executados habitualmente nessas
situações, a maioria dos indivíduos terá desenvolvidos fortes expectativas positivas
acerca da droga ou atividade como uma estratégia de enfrentamento (Marlatt;
Gordon, 1985).
SITUAÇÃO DE RISCO
Situações de risco (determinantes intrapessoais):
 Estados emocionais negativos
 Estados físicos negativos
 Estados emocionais positivos
 Teste do controle pessoal
 Desejos e tentações

Situações de risco (determinantes interpessoais):


 Conflito interpessoal
 Pressão social
 Estados emocionais positivos
SITUAÇÕES DE RISCO
ESTADOS EMOCIONAIS NEGATIVOS - INTRAPESSOAL
SITUAÇÕES DE RISCO
ESTADOS FÍSICOS NEGATIVOS
SITUAÇÕES DE RISCO
ESTADOS EMOCIONAIS POSITIVOS - INTRAPESSOAL
SITUAÇÕES DE RISCO
TESTE DO CONTROLE PESSOAL
SITUAÇÕES DE RISCO
DESEJOS E TENTAÇÕES
SITUAÇÃO DE RISCO
ESTADOS EMOCIONAIS NEGATIVOS - INTERPESSOAL
SITUAÇÃO DE RISCO
PRESSÃO SOCIAL
SITUAÇÕES DE ALTO RISCO
ESTADOS EMOCIONAIS POSITIVOS - INTERPESSOAL
Probabilidade
Resposta de Auto-eficácia
diminuída de
enfrentamento aumentada
recaída

Situação de
Alto Risco

Auto-eficácia
Nenhuma diminuída Efeito de Probabilidade
Uso inicial da
resposta de Expectativas de violação da aumentada de
substância
enfrentamento resultados abstinência recaída
positivos
ENFRENTAMENTO
Comportamento de consumo de substâncias como estratégia de enfrentamento
(coping) diante das situações de risco

Comportamento de consumo de uma substância tem funções variadas


Probabilidade
Resposta de Auto-eficácia
diminuída de
enfrentamento aumentada
recaída

Situação de
Alto Risco

Auto-eficácia
Nenhuma diminuída Efeito de Probabilidade
Uso inicial da
resposta de Expectativas de violação da aumentada de
substância
enfrentamento resultados abstinência recaída
positivos
AUTO-EFICÁCIA
Conceito fundamental na Prevenção de Recaída

Auto-eficácia consiste em:


“julgamentos acerca de quão bem o indivíduo pode organizar e executar
cursos de ação necessários para lidar com situações prospectivas que contêm muitos
elementos ambíguos, imprevisíveis e, freqüentemente, estressantes” (Bandura, in
Marlatt; Gordon, 1985)
AUTO-EFICÁCIA
Segundo Bandura, a exposição a determinadas situações e o esforço despendido
para superação destas varia de acordo com os julgamentos de auto-eficácia
mantidos pelo indivíduo

Os julgamentos de auto-eficácia baseiam-se em quatro fontes de informações para


Bandura:
 as próprias conquistas em termos de desempenho;
 observação do desempenho de outros;
 influência da persuasão externa e influência social;
 estados de excitação emocional
AUTO-EFICÁCIA
Guilhardi (2002) aponta três procedimentos que contribuem para o desenvolvimento
de auto-eficácia no indivíduo:
 1) criar condições para que o comportamento sejam consequenciados e não apresentar o
reforço quando o comportamento não é emitido, evitando o reforço não-contingente;
 2) compatibilizar o nível de exigência sobre determinado comportamento ao repertório atual
do indivíduo;
 3) permitir ao indivíduo explorar seu ambiente de maneira relativamente autônoma, lidando
com eventuais reveses sem superdimensioná-los
Probabilidade
Resposta de Auto-eficácia
diminuída de
enfrentamento aumentada
recaída

Situação de
Alto Risco

Auto-eficácia
Nenhuma diminuída Efeito de Probabilidade
Uso inicial da
resposta de Expectativas de violação da aumentada de
substância
enfrentamento resultados abstinência recaída
positivos
EFEITO DE VIOLAÇÃO DA ABSTINÊNCIA
Reações cognitivas à transgressão da regra da abstinência explicadas pelo processo
de:
 Dissonância cognitiva (conflito e culpa)
 Percepção imprópria das causas do lapso (culpar a si mesmo como causa da recaída)
EFEITO DE VIOLAÇÃO DA ABSTINÊNCIA
Dissonância cognitiva (Festinger, 1964): diferença entre as crenças do indivíduo
sobre si mesmo e a ocorrência de um comportamento diretamente incongruente com
estas crenças sobre si

Reações possíveis para diminuição da dissonância:


 Culpa e enfrentamento por meio dos mecanismos habituais
 Redefinição de si como alguém adicto
EFEITO DE VIOLAÇÃO DA ABSTINÊNCIA
Percepção imprópria das causas do lapso ou auto-atribuição

Componente baseado na Teoria de Atribuição de Weiner:


 “menciona que o indivíduo experimenta afeto positivo ou negativo aumentado quando as
atribuições causais são dadas a fatores internos, sendo que a atribuição externa diminui o grau de
impacto emocional” (Oliveira, 2010)

 “o indivíduo que atribui causa da ocorrência do lapso inicial à falta de força de vontade ou à
fraqueza pessoal em face à tentação, ao invés de atribuir a fatores situacionais ou ambientais
externos, tende a não manter expectativas de controle sobre o comportamento no futuro” (Oliveira,
2010)
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
O tratamento consistirá no processo de “desaprendizagem” dos antigos hábitos e
aprendizado de um novo padrão de comportamento mais adequado ao indivíduo

“Desaprendizagem”: diminuição da frequência dos comportamentos adictivos

“Aprendizagem”: aumento e aquisição de novos repertórios funcionais


INTERVENÇÕES PROPOSTAS PELA Alguns respostas controladoras
das resposta impulsiva
PREVENÇÃO DE RECAÍDA DE MARLATT (controlada)
INTERVENÇÕES
ANTECEDENTES ENCOBERTOS
Indulgências Uso da imaginação Matriz de
Estilo de Vida Substitutas (“desejos” para o enfrentamento Decisões Mapas rodoviários da
Equilibrado adaptativos: atividades e técnicas de controle Revisada recaída e ensaio de
recreacionais, do estímulo recaída
massagem)

Compulsões ou
Desejo por fissuras mediadas
Desequilíbrio no
indulgência ou por expectativas Racionalização, Situação de
estilo de vida
gratificação de efeitos negação e DAIs Alto Risco
(deveres x desejos)
imediata imediatos da
substância

Adicções Positivas (ex. Classificar decisões


Classificação e aparentemente Estratégias de
caminhar, meditação, Distanciamento
“tempo para o corpo”) irrelevantes como Evitação
sinais de alerta
INTERVENÇÕES
DETERMINANTES IMEDIATOS
Treinamento de
Automonitoramento Contrato para limitar o
Relaxamento , manejo
+ a extensão do uso
do estresse + uso da
Avaliação +
imaginação para
comportamental (teste Cartão-lembrete ( o
aumento da eficácia
de competência que fazer quando você
situacional) comete um lapso)

Auto-eficácia
Nenhuma diminuída Efeito de
Situação de Uso inicial da
resposta de violação da
Alto Risco Expectativas de substância
enfrentamento abstinência
resultados
positivos

Fantasias de Recaída Treinamento de Educação sobre Reestruturação


+ Habilidades efeitos imediatos X cognitiva (deslize =
Descrições de + retardados das erro, atribuição à
Recaídas Passadas Ensaio da recaída substâncias; matriz de situação X si mesmo)
decisão
PSICOEDUCAÇÃO SOBRE
PREVENÇÃO DE RECAÍDA

Gatilhos Vontade / Fissura Consumo


1) Sexta-feira às 21:00
18:30
Externos Internos
Pessoas / Turmas 2) 100 reaisem
10 reais
Sentimentos emdinheiro
dinheiro
Locais
3) Em casado trabalho, ainda na rua
Saindo
Situações
4) Alguém
Ninguémem casa
esperando em casa

5) Convite de amigo para beber um chopp

6) Frustrado com baixa produtividade no trabalho


ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS
 Monitoramento da fissura e do consumo da droga
ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS
Estratégias de enfrentamento da fissura
 Comer ou beber algo incompatível
 Lembrar das consequências negativas
 Lembrar das consequências positivas do não uso
 Cartões de enfrentamento
 Ajuda profissional
 Buscar apoio
 Ambiente protegido
 Medicação de urgência
 Atividade de distração
 Aceitar a fissura
 Conversar consigo mesmo
ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS
 Estratégias de enfrentamento da fissura:
AUTOBIOGRAFIA EM 5 CAPÍTULOS
Ando pela rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Eu caio...
Estou perdido... Sem esperança.
Não é culpa minha.
Leva uma eternidade para encontrar a saída.
AUTOBIOGRAFIA EM 5 CAPÍTULOS
Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Mas finjo não vê-lo.
Caio nele de novo.
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar.
Mas não é culpa minha.
Ainda assim leva um tempão para sair.
AUTOBIOGRAFIA EM 5 CAPÍTULOS
Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Vejo que ele ali está.
Ainda assim caio... É um hábito.
Meus olhos se abrem.
Sei onde estou.
É minha culpa.
Saio imediatamente.
AUTOBIOGRAFIA EM 5 CAPÍTULOS
Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Dou a volta.
AUTOBIOGRAFIA EM 5 CAPÍTULOS
Ando por outra rua.

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