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Perseguida Pelo Mafioso - Mafia - Isadora Almeida
Perseguida Pelo Mafioso - Mafia - Isadora Almeida
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Kai Lucian
O novo Subchefe da Máfia Bianchi, carrega consigo um passado
doloroso. Atormentado pelo pai abusivo, Kai foi forjado em dor e sofrimento,
aprendeu a se defender usando uma máscara, exibindo o seu pior lado para o
mundo. Dotado de uma péssima reputação com as damas da Máfia Bianchi,
cafajeste, sarcástico e malvado. Mas escondendo os seus verdadeiros
sentimentos para proteger quem ele ama.
Daisha Griffin
Ela cresceu em um lar difícil, desde criança era repreendida pela mãe
e não conseguia expressar o que sentia. Nunca se sentiu amada ou querida
por sua família e se fechou em uma concha para se proteger do mundo da
Máfia, ela odeia a sua família, a sua vida e anseia, mais do que tudo, ser
capaz de fugir.
Por anos, Kai Lucian foi um dos responsáveis por fazer Daisha odiar a
si mesma.
Aos 7 anos
O som da porta batendo me assusta, largo o lápis em cima do caderno,
deixo o quarto com cuidado para não chamar a atenção dos meus pais. Eu
deveria estudar para o teste de sexta. Os gritos da mamãe me impedem de
focar, queria poder ajudar ela. Meu pai é um homem enorme e forte, ele me
segura no ar só com uma mão e quando machuca a mamãe eu nunca consigo
a defender.
Subo os degraus com cuidado, vejo a governanta se escondendo em
um dos quartos do terceiro andar, assustada. Devia estar junto da mamãe no
início da agressão. Apoio as mãos no penúltimo degrau espiando com
cuidado o corredor, não tem ninguém. Um som abafado seguido de um grito
me faz tremer, tampo os ouvidos, o coração batendo com força o suficiente
para sair da minha boca.
Se eu for pego vou ser castigado, meu pai não gosta de meninos
desobedientes, a cara dele ao me encarar com raiva faz tremer minhas pernas.
Inspiro fundo, subo o último degrau e me arrasto, talvez se eu souber o
motivo da briga eu possa impedir a mamãe de o irritar novamente. Ela não
gosta quando eu peço que pare de provocar o papai, sempre bate na minha
boca como castigo, mas não consigo evitar, não quero a ver sofrer.
— Eu te disse que não queria outro filho! — a voz grave do meu pai
estoura como um trovão.
— Não foi minha culpa! — mamãe fala chorando.
Espio pela porta aberta, mamãe de joelhos com as mãos na cabeça
chorando enquanto meu pai segura seus cabelos batendo em seu rosto com a
mão fechada. O punho dele desce feroz contra o rosto dela, assustado me
encolho contra a soleira da porta, aperto as pernas contra o peito tampando a
boca, ele não pode saber que estou aqui.
— E de quem foi a culpa? Eu te mandei fazer uma laqueadura, sua
vagabunda! — O som do punho dele se chocando contra a cabeça dela
embrulha meu estômago.
— O doutor não quis fazer, ele diz que sou muito nova — ela soluça
— e como a esposa do subchefe tenho de te dar muitos filhos.
— Eu não quero filhos — grita — já basta o bosta do Kai para roubar
o meu lugar como subchefe, se eu pudesse o manteria trancado até o dia da
minha morte. Outros filhos só servirão para roubar o que me pertence!
Principalmente os homens!
Horror percorre meu pequeno corpo ao saber que meu pai quer me
manter trancado. Ele precisa saber que eu não quero o cargo dele. Não posso
ser punido por um crime que nunca cometi. É diferente de quando ele me
bate por ser um menino levado e não fazer minhas obrigações, o pai pouco
fica em casa comigo e a mamãe cuida de mim com rigidez.
— Se eu abortar, o Chefe vai me punir — mamãe chora, estico a
cabeça a vendo com o rosto colado ao chão, o pé pesado do meu pai sobre
sua cabeça — por favor, Louis.
— Andrew não precisa saber de nada do que acontece na minha casa.
Sou eu quem manda aqui, ele tortura a esposa todos os dias na frente dos
filhos, não ligaria para o que faço com você, sua puta barata.
— Por favor, amor, a criança não será uma ameaça para você.
— Todos são — ele se cala.
Encolho sabendo que ele notou a minha presença.
Mamãe se cala, os passos pesados ressoam pelo piso de madeira.
Prendo a respiração, fecho os olhos com medo do segundo em que ele vai me
pegar. Meu pescoço dói ao ser envolto pela mão do meu pai, ele me suspende
no ar, abro os olhos encarando a fúria em seu rosto. Não ouso segurar seu
pulso, sei que será pior para mim tentar me defender, apenas fico suspenso
esperando pelo castigo.
— Eu te mandei ficar estudando.
— Louis! — Minha mãe rasteja, o rosto vermelho pelo sangue. — Ele
não fez por mal, deixa o Kai ir embora.
Mordo a bochecha controlando o choro, um homem não chora,
independente da dor que sentir. As palavras do meu pai ressoam na minha
cabeça.
— Por que está aqui, Kai? — Pergunta, as feições duras e
assustadoras.
Quero falar, mas sou impedindo pelo medo. Não consigo pronunciar
uma sílaba. O ar começa a faltar, abro a boca inspirando estrangulado. Meu
pai rosna me jogando no chão, deslizo batendo contra a parede. Não ouso
deixar um único som escapar para não o irritar.
— Responda! — Seu pé desce contra minhas costas. Travo os dentes
impedindo o grito de dor de escapar, reproduzindo um pequeno chiado.
Eu não deveria ter saído do quarto, o que estava pensando que poderia
ter feito? Ele é mais forte, alto e malvado, meu pai nunca me perdoaria por
espiar uma de suas conversas com a mamãe. Tremendo me ponho ajoelhado
encarando seus sapatos. Abro a boca para responder.
— Eu ouvi os gritos — cochicho — e pensei que a mamãe precisava
de ajuda — conto uma meia verdade, algo que aprendi a fazer.
Se eu mentir sou punido, mas se mesclar a verdade com a mentira ele
me deixa em paz por saber que sou incapaz de ocultar minhas intenções dele.
Louis rir, bate palmas e gargalha como um maluco. Encolho os ombros
sabendo o que vem em seguida. Os gritos do meu pai significam uma surra.
A risada é sinônimo de um castigo pior.
— Você ouviu Eleanor? Ele só tem 7 anos e já pensa que pode me
desafiar.
— Ele não quis dizer isso — Ela intervem, não tenho coragem para
encarar meus pais.
— Um menino já quer roubar a minha posição, outro faria o mesmo
— aperta meu pescoço me erguendo contra a parede — sua mãe nunca terá
outra criança e você vai aprender a se colocar no seu lugar, debaixo do meu
pé. Seu verme inútil.
Ele me puxa para a frente, empurra contra a parede. A pancada me faz
arfar ao perder o ar e a vista escurecer.
Desperto com dor de cabeça, encolho de frio, bato as pernas em algo.
Tento enxergar e não consigo, o escuro ao meu redor consome tudo. Ergo as
mãos batendo em algo, parece uma tampa, estico para os lados encontrando a
mesma superfície.
Junto as pernas, alisando os braços tentando aquecer o corpo, estou
pelado. A pele da bunda e costas doendo por estarem em contato com a
superfície gelada.
— Mamãe! — Grito por ela. — Pai! — Chamo por ele.
Ninguém me responde, a sensação de sufocamento aumenta conforme
os minutos se passam. Bato nas paredes tentando encontrar uma saída,
qualquer coisa que faça o ar voltar aos meus pulmões. Ajoelhado com a
cabeça batendo no teto, eu tento empurrar a tampa pesada. Preciso sair daqui,
as paredes se encolhem ao meu redor, desesperado chuto o que consigo, não
enxergar aumenta o terror.
Um som de algo rastejando preenche o ambiente, me desespero
tentando escapar, é barulho de cobra. Grito assombrado, começo a me
debater sem saber para onde escapar, o som aumenta gradativamente. O
coração explode dentro do meu peito, o ar não entra em meus pulmões, tenho
vertigem. Faço xixi nas pernas sem conseguir segurar a bexiga.
— Papai, por favor, me tira daqui — imploro, chorando, desesperado,
para sair do inferno. — Eu prometo que não vou roubar sua posição, por
favor. Mamãe! — Grito por ela. — ALGUÉM ME AJUDA — berro o
máximo que posso com a minha voz de criança.
O catarro escorre por meu nariz penetrando minha boca, o cheiro de
mijo causando náuseas, o frio aumenta. Fungo sem saber como sair, vou
morrer se continuar preso. Aperto as paredes com os braços tentando impedir
que se fechem ao meu redor. O corpo pende para a frente, não consigo mais
respirar, levo as mãos ao pescoço buscando pelo ar que não vem. A tontura
toma de conta, apago em meio a escuridão.
Desperto ouvindo um som agudo que fere meus ouvidos. Pressiono as
mãos tentando abafar o som, grito para sobrepujar o zumbido. Estou ficando
louco preso na escuridão, o frio dando lugar ao ambiente escaldante, o
zumbido aumenta. Berro até a garganta começar a doer e minha voz sumir,
me debato com medo de ser esmagado pelas paredes.
Choro com a barriga roncando de fome e a sede me torturando.
Começo a alucinar que estou no inferno, demônios vem puxar minhas pernas,
gargalhando. Chuto, uma dor forte atinge minha perna seguida pelo som do
osso estralando.
— PAI ME AJUDA — Berro — EU VOU PERDER A PERNA.
Em resposta, o zumbido se torna mais alto, a minha cabeça explode,
baba escorre por minha boca. Perco os sentidos dos meus braços e pernas,
caio largado no chão sem conseguir me mover, entrando em estado de
latência, dominado pelo som horripilante. As horas passam lentamente sem
que eu consiga escapar, me arrependendo por intervir, eu nunca deveria ter
saído do quarto.
Não sei quantas horas ou dias se passaram. Estou definhando em
fome, sem conseguir dormir, bebendo meu mijo para conseguir sobreviver.
Como um cachorro largado, maltratado e sujo. Perdi as esperanças, aceitei
meu lugar de morte. Lambo a última gota de urina no chão, os lábios
rachados e sangrando. Bato a cabeça desabando contra o piso, não existe ar
para ser inalado.
Um som de tranca, a luz entra me cegando e o rosto do meu pai é a
primeira coisa que eu vejo.
— Vá direto se limpar e me encontre no escritório.
— Sim — um punhado de areia na garganta torna minha voz quase
inaudível — senhor.
Louis vai embora. Estico os braços tremendo, ansioso para sair do
inferno e com medo dele me jogar aqui novamente caso eu seja um mau
garoto. Caio, ao ficar em pé, forço o tronco, as pernas oscilando, reúno as
forças que me restam para sair de dentro do que agora sei que era o freezer da
dispensa. Desabo no chão como um saco de batatas.
Ouço um suspiro alto, encontro minha mãe me encarando da porta,
escondida. Ela verifica por cima do ombro antes de vir a mim. Alisa meu
rosto com os olhos irritados, o lábio cortado e um roxo em seu maxilar.
Queria ter forças para a tocar de volta, mal consigo manter o tronco erguido.
— Preste atenção, não temos muito tempo — a voz severa — nunca
mais faça o que você fez, não importa o quanto o Louis esteja me
machucando, eu te proíbo de vir a mim, entendeu?
Pisco concordando, os demônios continuam rastejando sobre a minha
pele, o zumbido fixo na minha mente, temo fazer qualquer coisa que possa
irritar o Louis e ele me castigue novamente com o freezer.
— A partir de hoje você não vai mais me chamar de mãe, somente de
Eleanor, a convivência que temos vai mudar Kai. Endureça seu coração como
farei com o meu, não nascemos para sermos felizes ou amados, é besteira
querer o que não podemos ter. Agora, vá encontrar seu pai, peça desculpas e
jure lealdade.
Pisco novamente, a deixo sem resposta. Meu pai costuma me castigar
quando sou um garoto malvado, eram somente tapas ou me erguer pelo
pescoço. Essa foi a primeira vez que ele conseguiu mexer com a minha
cabeça e me fazer desejar morrer. Não posso o desapontar novamente, não
quero voltar ao inferno com os bichos rastejando na minha pele e o maldito
zumbido.
É difícil ir para meu quarto. Arrasto o corpo pesado, cansado, faminto
e com sede para o banheiro, ligo o chuveiro e deito no chão deixando a água
lavar a pele. Abro a boca bebendo o que consigo até engasgar. Não posso
demorar, sem saber como encontro forças, levanto passando sabão, visto um
terno. Subo as escadas com dificuldade devido à perna machucada, um
degrau por vez até o escritório do meu pai, bato na porta, ele fala que posso
entrar.
Não ouso encarar meu pai, de cabeça baixa, fico de frente a sua
enorme mesa. Ele se mantêm calado, a caneta rabiscando é o único som
produzido no ambiente. O estômago ronca pela fome, aperto os olhos com
medo dê o irritar pelo som. Ele para de escrever, ouço o uísque sendo aberto
e despejado no copo. O medo dele me mandar de volta para o freezer me
mantém imóvel.
— Você sabe o motivo de ter sido castigado? — pergunta, a voz
grave, aperto as mãos para evitar os tremores.
— Sim — respondo, mesmo que ao fazer isso sinta a garganta sendo
cortada por pequenas agulhas — eu não podia o desafiar. Deveria ter ficado
quieto no meu quarto.
— Entenda uma coisa, Kai, só tive você porque meu pai me obrigou.
Preciso de um sucessor homem para herdar a posição e o nome dos Lucian na
Máfia Bianchi. Você vai crescer forte, um homem de honra sem nunca
esquecer que eu sou mais forte que você, poderoso e você nunca ousara me
contrariar, entendeu?
— Sim senhor.
Atualmente
Ouvi aquela frase por longos anos enquanto o Louis me torturava com
choques, espancamentos, queimaduras, a internalizando nos meus
pensamentos até me impossibilitar de conseguir respirar sem saber que eu sou
forte, mas não mais do que ele. Louis domina a minha mente e corpo com a
palma de sua mão, sinto uma corrente envolta do meu pescoço sendo puxada
sempre que ele deseja me controlar.
Os únicos momentos em que tive paz foi quando as meninas
nasceram, me trancar com elas no quarto e aproveitar minhas irmãs me deu a
esperança de um futuro melhor. Eu lutei para elas poderem existir, assumi um
alto risco, só não imaginei que pagaria o preço de uma forma assombrosa.
Josephine e Rebeca se odeiam, não consigo evitar que briguem
ferozmente uma com a outra. Não sei como me aproximar da Josephine e
após um tempo eu desisti. A irmã pela qual lutei por seu nascimento, amei e
dei carinho me odeia e se tornou a fonte do meu maior sofrimento. A outra é
meu único ponto de calmaria, mas somente quando não está brigando com a
Josephine. Eu não sei onde errei ou como consertar.
Minha vida se transformou em um verdadeiro inferno, maior que os
dias presos no freezer, sendo devorado por demônios e ouvindo o maldito
som agudo. Não tenho esperanças de que um dia encontrarei paz, estou
destinado a casar com Daisha Griffin, uma mulher fria e com sentimentos
negativos por mim. Se o casamento não der certo e o inferno continuar, não
vão mais existir razões para continuar existindo.
Casar com Daisha será a minha última aposta por uma vida em paz.
CAPÍTULO 1 DAISHA
Cólica?
Foi esse o maldito motivo que me fez ser arrastado pelas escadas da
mansão dos Bianchi e levar uma surra do Louis como punição por não
conseguir fazer minha prometida dançar comigo.
Daisha só pode estar brincando com a minha cara. Inferno!
A vontade que eu tenho é de envolver as mãos em seu altivo pescoço
branco e apertar até o meu ódio passar. Ela achar uma cólica o fim do mundo,
é por não conhecer a tortura de ter os pulmões chutados como um maldito
animal e ser obrigado a não transparecer nada. Cada passo dado durante a
dança significa uma pressão diferente me impedindo de respirar.
Estou com tanta raiva dela que mal consigo raciocinar. A música
acaba e a deixo ir. Sento ao lado do Louis sendo atingido pelas ondas de ódio
emanando dele. Em casa a punição vai continuar, não posso permitir que a
Daisha permaneça me desafiando. Já bastam os castigos causados devido à
Josephine.
— Kai — Rebeca me chama, encaro minha irmã mais nova, ela tem a
testa franzida e os lábios pressionados, preocupada — tudo bem?
— Não — suspiro, não preciso esconder as agressões da Rebeca, ela
sabe o inferno que vivo desde os meus 29 anos.
— Sinto muito — aperta minha mão, escorando a cabeça no meu
braço em um pequeno carinho.
Suspiro cansado da merda da minha vida, punições, tensões e brigas
constantes. Os únicos segundos em que tenho paz são quando estou na arena
lutando até a morte, fodendo uma boceta quente ou sentindo que ao menos a
Rebeca me ama. Tenho aguentado o inferno por causa dela, sem a Rebeca ao
meu lado eu teria desistido da vida há muito tempo.
Hoje não é dia de luta e não conseguirei foder ninguém com as
costelas em chamas, só me resta a Rebeca para me fazer esquecer o maldito
mundo e rezar para que o Louis pegue leve na punição.
Eu me odeio por não conseguir o enfrentar, o desgraçado enraizou
suas garras no fundo da minha mente, causando paralisia nos meus músculos
ao estar em sua presença. Eu não temo nada, exceto Louis Lucian, meu
maldito pai.
Michael Bianchi é o homem que eu mais admiro, ele sofreu nas mãos
do Andrew desde que pequeno, passou por atrocidades e teve de assistir aos
irmãos e a mãe sendo torturados sem poder fazer nada. Michael não se
acovardou, após o ano sombrio obedecendo ao Andrew como um cachorro
ele acordou. Voltou mais forte e letal, revidando na mesma moeda.
Eu queria ser como o Michael, ter a coragem necessária para enfrentar
o Louis, erguer a mão me defendendo e não entrar no quarto de tortura com
minhas próprias pernas sabendo o que me aguarda. Eu sou um covarde de
merda, a vergonha por não conseguir me libertar ou revidar me impede de
pedir ajuda aos meus amigos, compartilhar as dores que me aflige como eles
fazem.
Se não fosse pela Rebeca, eu não teria ninguém.
Os anos em que tive as duas, Rebeca e Josephine, foram os melhores.
Apesar das torturas, eu conseguia sorrir devido a elas. Ambas pequenas,
correndo para mim, rindo, brincando no quarto de jogos, com bonecas e tudo
o que elas queriam. Eu fui feliz até ambas atingirem a adolescência e as
disputas começarem.
Não consigo esquecer o dia em que a Josephine cortou o braço da
Rebeca comigo na cozinha. Eu passei uma semana sendo machucado como
punição, ao sair Rebeca veio a mim trazendo conforto, e Josephine me
expulsou da sua vida quando a procurei para entender o motivo da briga. Dói
como o inferno relembrar aquele dia.
Eu não sou um santo, depois de um tempo com a situação se
agravando eu desisti de lutar por ela. Josephine é uma tempestade
incontrolável, o amor se transformou em mágoa, o carinho uma mera
lembrança. Hoje anseio mais do que nunca que ela case e vá embora,
almejando ter paz.
Não sei se será possível com Daisha Griffin como minha esposa.
A garota sempre foi calma e contida, mas tinha de escolher justo hoje
para se rebelar devido a uma maldita cólica. Sentada ao lado da família, ela
me ignora, encarando o prato. Daisha é linda, apesar de querer a esganar
anseio na mesma intensidade me enfiar entre suas pernas e sentir o calor da
sua boceta.
Os olhos azuis, quase transparentes, as bochechas redondas em
perfeita harmonia com o rosto delicado. O nariz afilado e a boca rosada
pequena como a testa coberta por uma leve camada do cabelo preto amarrado
na lateral atrás da orelha fina e vermelha. Daisha sempre teve o rosto de uma
boneca, linda, uma tentação para qualquer homem.
Só passei a reparar na Daisha nos seus 18 anos, os peitos cresceram, a
cintura afilou e a bunda arrebitada implorava pela minha atenção. Eu queria
ser respeitoso com a irmã do Daniel, por isso, nunca demonstrei como a
pequena boneca me atinge com seus olhos transparentes e inocentes.
Ela ficaria linda se perdendo na luxúria do sexo, o rosto vermelho, a
boca aberta gemendo enquanto a fodo com força. Fantasias com a Daisha me
deixa de pau duro, nem a raiva pela punição que sofri consegue aplacar a
vontade que tenho de a fazer minha. Precisei de muito esforço ao longo dos
anos para que ninguém notasse como eu a quero. Tenho medo do Louis
perceber e a tirar de mim. Daisha é meu pequeno segredo.
Eu tinha planos de provar da Daisha essa noite, a levar para um dos
corredores e ceder a tentação de devorar sua boca. Mas a desgraçada tinha de
estragar tudo com sua maldita rebeldia. Sempre admirei como ela é quieta e
contida, me enlouquecendo de vontade de deflorar sua inocência.
Não suportarei outra Josephine em meus dias e Daisha aprenderá a se
comportar e me respeitar antes de casarmos.
A festa chega ao fim e gradualmente os convidados vão embora.
Busco pela Josephine que conversa com o Black, meu amigo tenta
demonstrar interesse, mas percebo a ansiedade dele pelo fim da conversa.
Levanto disposto a chamar minha irmã, sou impedido por uma mão agarrada
na minha.
— Deixa ela — Rebeca fala — você sabe que ela gosta do Black, se
ele desenvolver sentimentos por ela poderão casar e ela nos deixará em paz.
Sento, é estranho ver a Rebeca intervindo pela Josephine.
— Aconteceu alguma coisa?
— Nada de mais — suspira — só não aguento mais as brigas com a
Josephine — encara o antebraço com uma pequena cicatriz devido ao
incidente com o abajur — se ela for para Las Vegas você será somente meu
— sorri, o rosto se iluminando — e as brigas sessarão, assim como as
punições — sussurra a última parte.
Seguro seu antebraço alisando a cicatriz. Há uns meses, estava em
uma obra da construtora da minha família, recebi a ligação da Rebeca
chorando falando que foi atacada pela Josephine. Cheguei a tempo de ver a
Hope indo embora, na sala a Rebeca era atendida pelo médico. Abracei
minha irmã escutando sobre a briga com a Josephine e o descontrole da mais
velha ao arremessar o abajur na Rebeca.
Coloquei a Rebeca na cama e fui para a sala das câmeras, precisava
ter certeza do que aconteceu. A discussão inicia com Josephine agitada
mostrando o celular a Rebeca que dá de ombros ignorando a Josephine. Essa
ergue a mão batendo na mesa, Rebeca não dá atenção e Josephine continua
aos gritos.
Na sala ambas passaram a berrar uma com a outra e a avançarem para
brigar. Até Josephine pegar o abajur e jogar na Rebeca, que usou os braços
para se defender. Ela cai no chão por cima do braço, levanta com o corte
aberto e o abajur em pedaços. Eleanor chega intervindo e levando a Josephine
para o quarto onde foi punida enquanto Rebeca esperava o médico na sala.
Hope aparece, não consegui ouvir, somente ver o jeito como ela
manda nos meus pais. Antes que eu chegasse na Josephine, Louis me parou
no corredor, na sala de tortura me contou o que aconteceu enquanto queimava
a minha perna da panturrilha a coxa por descumprir minha promessa de
manter as meninas controladas e ele ter sido obrigado a escutar ordens da
Hope.
O castigo durou duas horas, ele não podia me ferir muito devido ao
convite que a Hope fez para jantarmos em sua casa. Se ela percebesse a
Josephine machucada o Michael interveria, acho que o Louis pensou que o
mesmo se aplicava a mim.
No dia seguinte caminhava mancando para meu quarto, encontrei a
Josephine no corredor. Ela me encarava com ódio e eu só tinha vontade de
gritar com ela. A pele queimada nublava meus pensamentos enquanto
discutíamos. Se ela não tivesse atacado a Rebeca, a Hope nunca interveria
dando ordens aos meus pais e eu não teria sido queimado durante a noite.
— Andem — Louis branda me tirando dos pensamentos.
Levanto segurando a Rebeca pelo braço, com um sinal de cabeça para
o Black ele manda minha irmã vir conosco. Josephine me encara com
desprezo e sai na frente. Nos carros meus pais vão em um, vou no outro com
as meninas. Sento entre elas para evitar confusões.
— Kai — Josephine me chama.
— Sim?
— Por que você arrastou a Daisha? Não precisava a tratar daquela
forma.
— Daisha desafiou o filho do subchefe na frente da famiglia e
associados. Não tive outra alternativa.
— Você podia ao menos ter perguntado o motivo dela recusar. Daisha
não é de agir com rebeldia.
— Ela estava com cólica — aperto os punhos — um motivo
insignificante.
— Você é homem — cruza os braços — nunca entenderia como uma
mulher com cólica sofre.
— Besteira — Rebeca se pronuncia — ela podia ter tomado um
remédio, nenhuma cólica é forte o bastante para impedir de dançar.
— Cala a boca vadia — Josephine rebate.
— Pare, agora — peço encarando o rosto debochado da mais velha.
— Você que deveria parar de ser um escroto. Se tratar a Daisha como
um homem das cavernas, ela só vai te odiar. Seu babaca.
— E você não deveria se jogar para o Black como uma vadia
desesperada.
Nos encaramos em chamas, prontos para arrancar a cabeça um do
outro. Josephine rosna antes de virar o rosto para a janela.
— Kai — Rebeca chama apertando minha mão — deixa ela.
— Cala a boca sua duas caras. — Josephine branda.
— Vai se foder, sua idiota — Rebeca retruca.
— Parem vocês duas — grito. Exausto da maldita noite — não estou a
fim de aguentar outra discussão.
Elas se calam, chegamos a residência dos Lucian e Josephine não
perde tempo indo se trancar em seu quarto. Rebeca tenta me convencer a
assistir filme com ela, mas recuso sabendo o inferno que me espera. Se eu
não for para a sala de tortura, Louis virá atrás de mim e será pior.
Caminho como um condenado descendo as escadas para o porão. Bato
na enorme porta de chumbo, ela abre, Louis me encara irritado, aponta o
gancho pendurado no teto e as correntes no chão. Retiro as roupas preparando
minha mente para o que virá. Pelado prendo as algemas nos pulsos e pulo
prendendo a corrente no gancho, ficando suspenso no ar.
— Sabe a coisa que eu mais odeio, Kai? — Louis pega um cano de
metal com pregos na ponta.
— Desobediência — respondo suando frio.
— Nos tínhamos um acordo, Kai, por anos você vem descumprindo
deixando as meninas fazerem o que quiserem. Mas o que aconteceu hoje é
inadmissível — aperta o cano, engulo em seco prendendo a respiração me
preparando para o golpe — estou sofrendo pressão para deixar meu cargo
para você e na primeira oportunidade me humilha sendo incapaz de dançar
com uma mulher, a maldita da sua prometida.
— Eu sinto muito — peço baixinho.
— Qual é a coisa que você nunca deve esquecer?
Estremeço pelo som do vento sendo cortado, os pregos entrando na
minha pele, a carne ardendo ao ser rasgada, os pregos saindo e voltando com
mais força.
— Você é o meu dono — arfo apertando os punhos e os dedos dos pés
controlando a dor. Tento relaxar os músculos do abdômen, a tensão só piora
ao receber os golpes.
— Você — golpeia o outro lado, pendo a cabeça para trás sufocando
um grito.
Louis pode me forçar a responder suas perguntas de merda, mas nunca
deixo escapar um único gemido. Os anos de espancamento me ensinaram a
aguentar calado, a não dar ao Louis o gosto de me ouvir sofrer.
— É um maldito cachorro fraco que não merece o meu cargo.
A cada palavra o cano me acerta em lugares diferentes. Os braços
ficam dormentes queimando por segurar meu corpo se movendo no ar ao ser
lançado de uma ponta a outra pelo impacto. Trinco os dentes com tanta força
ao ponto de doer a mandíbula e causar vibrações nos meus tímpanos ao ser
atingido na cara.
O cheiro do meu sangue escorrendo, pingando no chão, o rosto odioso
do Louis enquanto esbraveja ao me acertar cada vez com mais força. Ele
golpeia minha costela no mesmo lugar sete vezes seguida. Estou a um
segundo de desmaiar, me forço a ficar acordado, se perder os sentidos serei
trancado no freezer. Eu faço de tudo para não ser prezo naquele lugar de
novo.
— Lembre-se Kai — apoia o cano no chão limpando o rosto suado. O
sangue escorre do canto da minha boca enquanto tento ficar acordado —
você pode ser forte, mas nunca será mais do que eu.
Sou um covarde que vem com o rabo entre as pernas para ser
torturado, incapaz de controlar as irmãs e com uma noiva que me detesta.
Aperto os punhos, conforme as horas vão passando e o cansaço me
dominando. Sinto a costela rachando, perfurando meu pulmão. Acho que
perco os sentidos em algum momento, não apago, continuo consciente com o
mundo paralisado.
— Não quero te ver pelos próximos dias, seu bosta.
Louis, banhado pelo meu sangue, cospe no chão antes de ir embora.
Vim até aqui com as minhas pernas e devo sair com elas. Sozinho as
malditas lágrimas descem, faço força com os braços, agarro o ferro que
sustenta o gancho, erguendo o corpo o suficiente para soltar a corrente.
Desabo no chão gemendo pelo impacto. Não consigo respirar, puxo o ar em
um gemido pela boca, o sangue saindo por meus lábios.
Os braços tremem ao me colocar ajoelhado, pego a chave da algema
soltando os pulsos enquanto tento respirar. Devo ser rápido, se em 10
minutos eu não rastejar para fora vou ser trancado no freezer. As paredes se
fecham ao meu redor, pisco tremendo ao vestir minhas roupas.
Enxergo somente com um olho, o outro latejando em dor, pronto para
explodir a qualquer segundo. O maxilar dolorido, o corpo em chamas.
Cambaleando, bato contra a porta de chumbo, o espaço cada vez menor,
tornando sufocante ficar aqui dentro. Puxo a fechadura saindo da sala,
engatinho pelas escadas desesperado para conseguir respirar novamente.
Vou para a garagem, pego a chave da moto um modelo BMW S 1000
RR preta com dourado e subo apoiando o peito no tanque. A vista fica turva
ao ligar, aperto o botão abrindo o portão e saio pelas ruas do complexo.
Quase bato em um poste, angustiado pelos machucados em todos os cantos.
Cuspindo sangue ao entrar nas ruas de Nova Iorque sem saber para onde ir.
Preciso de um lugar calmo para cuidar dos ferimentos.
Tenho vertigens e sou obrigado a parar várias vezes vomitando sangue
pelas calçadas. É um milagre eu conseguir chegar a construtora sem
desmaiar. Arrasto meu corpo para a minha sala, tem um kit de primeiros
socorros aqui, deito no sofá lutando para conseguir respirar, não enxergo
nada na minha frente.
Porra, estou morrendo.
Constatar que esses são os últimos momentos da minha vida aciona o
desespero na minha mente. Puxo o celular do bolso da calça, as mãos
vermelhas, a tela manchada e a vista quase não enxergando. Clico nos
contatos de emergência, quem poderia me ajudar agora?
O aparelho cai antes que eu decida para quem ligar, tusso percebendo
o quão patética tem sido a minha vida. A aflição assola meu peito, mágoa por
não conseguir ter mais um relacionamento com minhas irmãs,
arrependimento por gastar meus anos brigando com a Josephine, medo por
deixar a Rebeca sozinha com a minha morte.
Remorso por tratar a Daisha como o Louis faz comigo, não me dando
opção e fazendo pouco caso do que sinto. Eu sou um maldito desgraçado que
merece a morte, chega de causar sofrimento para a minhas irmãs. Não vou
condenar uma garota inocente a viver ao meu lado.
Aceito a morte como o fim da minha jornada de merda.
Eu não quero continuar sozinho, é meu último desejo egoísta. Minha
mão cai batendo no chão, agarro o celular discando o número do Daniel.
— Oi — Daniel atende, engulo em seco para conseguir responder.
— Eu to morrendo — tusso.
— Onde você está? — pergunta ansioso
— Na construtura — a costela acerta meu pulmão, engasgo me
encolhendo em desespero — não chama ninguém, só venha para cá.
Se o Louis descobrir onde estou, não vai permitir que eu morra em
paz. Quero desaparecer ao lado de um amigo. Estive sozinho por anos,
sufocando todas as merdas dentro de mim. Ao menos no meu leito de morte
quero que seja do meu jeito.
— Como não? Você está morrendo, porra. Estou chegando.
— Por favor, Daniel, não traga ninguém com você.
Não escuto sua resposta, a mente nubla me jogando no esquecimento.
Não acredito que depois de tudo morrerei sozinho.
Se eu sobreviver a essa merda, juro que farei as coisas diferentes. Vou
lutar para ser feliz.
CAPÍTULO 3 KAI
A vaca da Rebeca vai dizer ao Kai que a Hope não a deixou segurar o
Ethan por minha causa. Ela me acusou de envenenar a Hope contra ela.
Michael escutou e a expulsou da mansão, vou ficar uns dias com os Bianchi,
até o Kai voltar.
Aos 9 anos
Sentada com minhas primas observo a interação das senhoras no
salão do clube. Ivete tem 13 anos, a mais velha de nós, eu sou a mais nova
com 9 anos. Clarisse me ensinou a ser uma boa menina e me comportar
como a Ivete, uma dama, mas acho que ela não sabe que sem a presença de
um adulto minhas primas são malvadas comigo.
Clarisse senta com Hannah, mãe da Emily e nossa líder, com
Eleanor, mãe da Josephine e da Rebeca, a primeira e eu temos a mesma
idade, ela é legal, às vezes brincamos juntas. A Rebeca ainda é muito nova,
passa mais tempo com as outras crianças de sua idade. Emily sempre
carrega um sorriso no rosto do lado de sua mãe, ela parece um anjo.
A Kennedy e Hope deveriam ter comparecido, mais uma vez elas
recusaram um convite para uma festa do chá. Não conheço a Hope, já ouvi
que ela é da minha idade e parece uma princesa de tão linda. Balanço as
pernas na cadeira encolhida, Ivete não para de falar sobre o quanto ela
demorou se arrumando.
— Mudinha — Ivete me chama, a encaro, magoada pelo apelido.
Eu tenho 9 anos e não consigo me comunicar bem com as pessoas. A
voz da Clarisse ressoa na minha mente, mandando eu ficar calada ao invés
de falar baboseiras. Minhas primas são malvadas comigo calada, se eu
falasse na presença delas seria outro motivo para a implicância.
— Você nunca vai arranjar um marido se continuar muda — Yasmin,
irmã de Ivete, ri amarga.
— Querem ver uma coisa? — Ivete pergunta maldosa, encolho as
mãos entre as pernas querendo sair daqui.
Sacudo a cabeça em negativa sabendo suas intenções maldosas.
— A Daisha não fala mesmo se for machucada — Ivete puxa minha
cadeira para o seu lado — não é priminha?
Tremo com medo.
Sua mão se enfia por debaixo da minha saia, os dedos envolvem
minha carne ao puxar em um beliscão. As unhas penetrando, machucando.
Franzo o nariz, fecho os olhos com força querendo desaparecer. A dor
irradia se espalhando. A última vez em que gritei por ser machucada pela
Ivete, minha mãe me colocou de castigo sem ouvir o que aconteceu. Não
quero ficar de castigo trancada sozinha de novo.
Aperto os punhos rezando para a tortura chegar ao fim. As meninas
riem, o choro entala na garganta, engulo, fungo, aperto as mãos com tanta
força que elas começam a doer.
— Se você chorar eu paro — Ivete fala — ou se falar, sua muda feia!
— Um patinho — Yasmin puxa meu braço — olha como é magra,
parece um palito de fósforo.
— Vocês não têm medo da tia Clarisse descobrir? — Olivia pergunta.
— Ela só vai saber se a Daisha contar — Ivete aperta o beliscão,
sinto o sangue escorrendo do machucado.
— A mudinha não teria coragem — Yasmin aperta meu braço, gemo,
não conseguindo mais suportar a dor. Eu quero desaparecer.
— Parem com isso! — Uma voz fina ressoa atrás da gente.
Minhas primas pulam recolhendo as mãos. Ivete gira a cabeça para
trás e bufa de raiva ao ver quem é. Timidamente, giro o tronco encontrando
a Josephine com as mãos na cintura e a Emily ao seu lado. Josephine tem
fogo nos olhos.
— Eu vi o que vocês estavam fazendo! — Josephine acusa.
— Vou contar para a mamãe — Rebeca rosna, saindo de trás da
Josephine, ela só tem 7 anos e possui mais coragem do que eu.
— Não se metam! — Ivete levanta ficando de frente para as meninas.
— Eu meto a mão na sua cara — Josephine fala alto demais, atraindo
a atenção das pessoas para a pequena briga.
— Josephine se controle — Emily pede baixinho — ela só está
brincando — sorrir para as senhoras que ignoram as crianças.
— Daisha venha para cá — Josephine estica a mão.
Clarisse não gosta que eu brinque com a Josephine, ela a considera
uma dama mal-educada e má influência. A dor latejante na coxa fala mais
alto que o medo da minha mãe brigar comigo. Levanto, caminho para elas
tentando não demonstrar que fui machucada.
— Você está bem? — Rebeca pergunta segurando minha mão na sua.
Aceno em positivo, a vontade de chorar não passou.
— Se eu ver vocês machucando a Daisha de novo, vou enfiar a mão
na cara de cada uma! — Josephine ameaça.
— Você só tem 9 anos, sua pirralha! — Ivete retruca, empurrando a
Josephine.
— E meu irmão tem 24 anos, ele não vai deixar você mexer com a
gente!
— Vocês são umas covardes que se escondem atrás dos irmãos —
Ivete cruza os braços recuando.
Nossos irmãos são os herdeiros, temidos e respeitados. Ninguém ousa
mexer com a Josephine e Rebeca por causa do Kai. A Emily é protegida pelo
Michael e Matthew. Eu tenho 3 irmãos mais velhos, Daniel, Dylan e Dante,
mas não tenho coragem de contar para eles o que as minhas primas fazem.
Mal nos falamos e se eles brigarem comigo como a Clarisse faz?
— Vamos embora — Emily puxa Josephine pelo punho.
— O Kai vai ficar sabendo disso — Rebeca ameaça.
Josephine segura minha mão me levando com ela.
Nos sentamos juntas na mesma mesa, as meninas puxam assunto,
respondo como consigo. É difícil, para mim, expressar o que penso, em casa
não costumo conversar muito e no clube sou reclusa a mesa das minhas
primas malvadas.
— Conte ao Daniel o que a Ivete fez — Josephine fala — ele vai te
proteger como o Kai faz com a gente.
— Nosso irmão é legal — Rebeca diz — podemos pedir a ele para
arrancar um braço delas.
— Às vezes você me assusta — Josephine encara a irmã desconfiada,
ela dá de ombros não se importando com o comentário.
— Tudo bem — falo baixinho.
Hannah chama a atenção, iniciando seu discurso. O chá passa sem
mais nenhum problema, retorno para casa com a Clarisse. Ela não falou
uma palavra desde que entramos no carro e isso me assusta.
Em casa subo para meu quarto com minha mãe atrás de mim. Entro,
ela segura meu braço me fazendo a encarar, encolho com medo.
— Eu não te quero perto da Josephine! Aquela menina sempre
arruma confusão com as outras damas, você está proibida de ficar perto
dela, entendeu? — branda severa.
Abro a boca para falar o que aconteceu, talvez ela entenda e não me
deixe continuar com as minhas primas.
— Mamãe — sussurro.
— Não! Quando eu falar você escuta e não diz nada. Está de castigo
pelo resto da semana. Ficará no quarto sozinha.
Ela sai trancando a porta. Sento no chão, encaro as paredes frias, o
ambiente sem brinquedos, choro encolhendo as pernas contra o corpo.
Eu só queria que ela me escutasse.
Eu: Satisfeita?
Josephine: Não acredito que ela está dormindo colada em você, eca.
Eu: Minha namorada me adora, diferente de você.
Eu: Vou tomar outro viagra para poder comer a Daisha, tchau
irmãzinha.
Josephine: Eca.
Josephine: Você é um escroto.
Meu nariz coça, uma risada contida atinge meus ouvidos enviando
descargas de felicidade. Finjo continuar dormindo para a Daisha permanecer
cutucando meu nariz com uma pétala de rosa, só para me ver fazer careta sem
perceber ser uma travessura dela.
— Acorda anjo adormecido — sopra baixinho deslizando a pétala no
meu rosto.
Enfia novamente no meu nariz, não aguento, a vontade de espirrar
vem forte. Giro espirrando longe dela, fungo e volto a posição a puxando
para meus braços, prendendo sua perna com a minha.
— Levanta Kai — ela ri, nego com a cabeça esfregando contra seu
rosto cheiroso.
— Mais cinco minutinhos — respondo apertando seus ombros, a pele
macia em contato com a minha, não quero levantar nunca mais da cama.
— Já se passaram 30 — a voz suavemente fala ao pé do meu ouvido
— e eu to com muita vontade de dar para o meu marido.
Abro as pálpebras, o coração batucando no peito ao ouvi-la me
chamar de “marido” pela primeira vez. Os olhos cristalinos me encaram
sorrindo, as bochechas rubras, o sorriso mais lindo em seus lábios de mel.
— Repete — peço.
— Kai Lucian — ergue o queixo — você quer casar comigo? — a voz
suave sopra alegria no meu corpo.
— Sim. — Coço a garganta contendo o pequeno bolo de emoção, eu
planejava depois de um tempo a pedir em casamento e fazermos uma
cerimônia intima. Nunca pensei que seria a Daisha a fazer o pedido. —
Daisha Lucian, aceita ser minha esposa? — pergunto.
— Sim — ela responde, aproximando o rosto do meu — eu nos
declaro casados. Agora vamos consumar o casamento
Gargalho pelo seu jeito fofo de falar. Agarro sua cintura a puxando
para cima de mim. Daisha apoia as mãos no meu peito e seu olhar fixa na
tatuagem do Cérbero.
— Porque você fez uma tatuagem? — pergunta descendo o quadril
sentando em cima do meu cacete duro, remexendo, esfregando o mel entre
suas pernas na minha extensão.
— É costume os lutadores da arena fazerem uma tatuagem
representando seu nome de guerra. A minha é de henna, refaço antes das
lutas. Depois de uns dias ela desaparece.
Prendo seus peitos com as mãos massageando a carne macia entre
meus dedos. Mordo o lábio contendo a vontade de os enfiar por inteiro na
boca. Ergo o tronco beijando seu queixo. Daisha agarra meus ombros me
forçando contra a cama. Bato a cabeça no travesseiro sorrindo sacana por sua
atitude dominante.
— E por que não é real? — agarra meu pau e eu esqueço que ela fez
uma pergunta ao ser guiado para o calor do seu interior macio.
— Tatuagens são uma marca que servem como sinais — gemo
batendo no fundo da boceta quente. Agarro seu quadril com uma mão, a outra
pressiono seu pescoço trazendo seu rostinho para mim. Sopro em seus lábios
— os membros de alto escalão dos Bianchi não precisam de tatuagens para
saberem a nossa posição ou quem somos. Os anéis são o suficiente.
Agarro o lábio rosado em uma mordida, vejo a carne ficando branca,
sentindo as unhas dela cravando em meus ombros, os ruídos saindo como
música de sua boquinha gostosa. Ergo a mão de seu quadril batendo na bunda
com força o som espalhando no quarto, repito mais três vezes até ver
lágrimas se formando nos olhos da Daisha enquanto os revira, presa a mim
pela boca e boceta.
Solto seus lábios, aperto ao redor de seu pescoço, ergo o quadril
socando forte na bocetinha encharcada, facilitando meu acesso. Daisha revira
os olhos exibindo o branco do globo ocular, gemendo feito louca, rebolando
com vontade no meu cacete enfiado até o talo nela. Agarro sua bunda de
jeito, enfiando meus dedos no buraquinho rosado e proibido, salivo de
vontade de provar seu cuzinho.
— Caralho — ela grita alta, batendo os cílios de boneca, a testa
franzida, o pescoço vermelho, crescendo em chamas. A ferocidade para a
tomar cresce no meu interior selvagem.
— Quer mais forte, amor? — pergunto afundando até as bolas
baterem em sua bunda, ela perde o ar, completamente preenchida.
— Você me mata — responde entrecortado. Leva as mãos aos
cabelos, ebulindo de prazer ao remexer o quadril.
Eu observo o corpo de boneca, os peitos enormes, a cintura fina, a
boceta depilada roçando na minha pele, o clítoris completamente esmagado e
meu cacete enfiado até o talo nela. Solto seu pescoço, rosno como um animal
por perceber que ela aguenta pegar pesado. Seguro sua cintura com firmeza,
ergo o tronco batendo ao seu, Daisha me encara perdida no prazer.
Beijo seu pescoço, em um movimento a deito na cama. Coloco os pés
no chão, seguro suas coxas a virando de costas, a bunda branca arrebitada na
minha cara. Puxo seu quadril a pondo de quatro, posiciono meu pé na cama, o
outro firme no chão, seguro o pau duro pela base empurrando na entrada
rosada.
— Engole meu cacete na sua boceta, porra! — Rosno socando forte.
Agarro sua coxa por dentro, resvalando os dedos na carne sensível das
suas dobras, com a outra agarro seus cabelos a puxando, deixando seu tronco
suspenso, as mãos quase não tocando o colchão. Puxo o quadril saindo
lentamente, ao visualizar a cabeça robusta do meu pau quase de fora, soco
nela bruto. A carne batendo uma na outra trazendo os mais belos sons.
Rosno rouco, enlouquecendo, me perdendo no prazer de dominar a
Daisha, puxando seus cabelos, quase a partindo ao meio. Meu corpo
incendeia como larvas de vulcão corroendo minha pele, o coração batendo
tão alto quanto o som dos nossos corpos, o cacete entrando e saindo, as bolas
resvalando os pequenos lábios inchados.
— Maldição, Daisha — rosno tentando respirar pela boca, pelo nariz
se mostrou impossível — eu vou te partir em duas se continuar engolindo
meu cacete como uma maldita gulosa!
— Me come amor — ela pede manhosa — mete com força na minha
vagina.
— Vagina um caralho! — rosno, solto seu cabelo a prendendo pelo
pescoço, colo sua coluna ao meu peito — pede para eu comer sua boceta!
Fala bem sacana para mim.
— Amor — delira revirando os malditos olhinhos, tem algo quando
ela faz isso que bate fundo no meu deleite e eu só a quero comer com mais
força.
Enfio os dedos em sua boca puxando a lateral a fazendo sufocar com
seus gemidos. A pélvis batendo forte contra sua bunda, minhas bolas
apertam, um fio ligando meu cacete, as bolas querendo explodir começa a
exigir meu autocontrole para não gozar antes de a fazer implorar que eu coma
sua boceta.
— Eu vou parar de socar na sua bocetinha quente se você não pedir
direito. — Rosno no seu ouvido, lembrando como respirar.
Inferno, não vou durar muito tempo, Daisha começa a se tremer,
indícios do orgasmo rastejando por seu corpo.
— Por favor, não — agarra meu pulso, a palavra saindo embolada por
meus dedos em sua boca quente.
— Pede! — Meto sentindo a cabeça do pau encostar no seu útero,
Daisha grita quase pulando contra mim.
— Come minha boceta, Kai! — choraminga.
— Gosto de mulher obediente! — Estapeio sua bunda prendendo sua
cabeça contra o colchão.
Como um maldito cavalo, eu monto em cima dela, prendendo a
cintura com uma mão, a outra em sua cabeça, a cama balança pelo
movimento das estocadas e eu soco no seu canal sem piedade. Entrando e
saindo cada vez mais rápido, o suor escorrendo, minha mão deslizando na sua
cintura, quase não conseguindo a segurar.
Finco as unhas na pele branca a vendo ficar rubra. O tesão sobe
nublando minha cabeça, gemo rouco, controlando meu maldito pau para não
gozar antes dela.
— Eu vou… — ela tenta falar, mas se perde nos burburinhos
deixando seus lábios.
— Goza no meu pau, minha gata! — Ordeno bruto.
Daisha aperta meu cacete no seu interior, o calor inundando com os
líquidos transformando o deslizar em um maldito vício sem fim. Eu a vejo
tremendo, de olhos fechados, boca aberta gritando seu prazer aos quatro
ventos. Empurro uma última vez sentindo a porra do esperma deslizando para
dentro dela. Estremeço aproveitando o deleite arrebatador dominando meu
corpo.
Com as pernas tremulas, eu puxo para fora. Daisha baixa o quadril
sem forças, com a cara de prazer mais erótica que eu já vi. A língua de fora
lambendo os lábios, os olhos semi-abertos, a bochecha esmagada no lençol.
Os braços largados ao redor do corpo, a bunda para cima apoiada nos
calcanhares. Beijo sua coluna e deito a puxando para mim.
— Você está bem? — pergunto rouco.
— Muito — ela responde erguendo o rosto, esticando o pescoço para
me beijar — bom dia, marido.
— Bom dia, esposa — rio nos seus lábios girando ficando por cima
dela.
Ficamos de namorico na cama mais um pouco, aliso suas costas
preguiçoso. Ela ergue o tronco e a vejo procurando algo nos lençóis, seus
olhos me encaram em dúvida.
— Acho que fizemos sexo errado — murmura.
— Não tem como fazermos sexo errado, boneca — me ergo beijando
seu ombro, a marca roxa no pescoço atraindo minha atenção.
— Tem, sim, não tem sangue nos lençóis, somente as pétalas.
Franzo a testa, vasculho os lençóis e edredom buscando pelo sangue e
não encontro nada. A encaro, Daisha tem uma expressão de incredulidade e
um pouco de medo.
— Boneca, é normal algumas mulheres não sangrarem — repito o que
uma vez ouvi nas aulas de biologia.
— Acho que sim — coça a cabeça na dúvida — se isso tivesse
acontecido na noite de núpcias você iria acabar sangrando no lençol, de todo
jeito. Você que é a dama virgem da relação.
Gargalho a puxando para um abraço.
— E essa dama precisa de um banho antes de ir para a reunião.
— Passa o dia comigo — pede rodeando meu pescoço com os braços
— podemos continuar sujando os lençóis com seu sangue — fala
provocadora.
— É o que eu mais quero — a puxa para fora da cama, a carregando
para o banheiro — mas temos assuntos importantes para resolver.
— Algo perigoso? — pergunta entrando no box.
— Decidir o que fazer com o Louis.
— Faça o maldito pagar por todas às vezes em que te machucou. —
Agarra meu pescoço, gosto do cainho selvagem banhando seu rosto.
— O farei sofrer — beijo seus lábios — por mim, minhas irmãs e por
você — roço o nariz no dela — e talvez eu demore, ainda tenho uma reunião
sobre os texanos querendo se meter no nosso território.
— Mostra para eles quem manda — ela rosna colando a boca na
minha.
— Você — respondo sem vergonha.
Ela se ilumina sorrindo feliz.
Após uma segunda rodada de sexo descemos para tomar café, não a
deixo sair do meu colo. Daisha avisa que irá visitar as amigas enquanto estou
em reunião. Nos despedimos, subo na moto e sigo para o escritório do
Michael no complexo.
Entro percebendo uma movimentação maior no prédio, vejo os
membros de baixo escalão, soldados, e associados esperando na recepção.
Não é costume todas essas pessoas se reunirem no escritório oficial do Chefe,
alguma coisa aconteceu e meu instinto avisa ser obra do Louis.
Bato na porta da sala de reuniões anunciando minha presença e entro.
Michael e Daniel conversam, o Chefe na ponta da mesa e o Consigliere a sua
direta, sento a esquerda. Os pilares centrais da Máfia Bianchi reunidos,
Michael avisa a sua secretária para mandar os Capos entrarem com os
herdeiros. Bonnarro e Black assumem seus lugares ao lado do Daniel, Belarc
e Tyron ao meu lado.
— Bom dia, cavalheiros — Michael cumprimenta.
— Bom dia, Chefe — respondemos em uníssono.
— Hoje deveríamos tratar da guerra com os texanos pelas drogas
vindas do México, Bonnarro tem feito um bom trabalho impedindo o avanço
deles e contendo as tropas inimigas. Contudo, devido aos acontecimentos da
madrugada, vamos precisar mudar a pauta da reunião.
— Senhor — Bartolomeu Bonnarro ergue a mão — os texanos
entraram em comunicação ha menos de três minutos, eles pedem por uma
aliança após termos pulverizado e queimado as plantações deles.
— Não aguentaram três dias sendo esmagados — eu indago — e
querem se unir a gente? Fracotes.
— Achava que os texanos eram mais duros na queda — Belarc diz. —
Só foi preciso cortar os pontos de distribuição da droga. O Matthew e o Steve
agiram rápido lembrando ao Gael a quem deve vender, o mexicano nunca
mais pensará em nos trair.
— Qual acordo eles pediram? — Michael questiona.
— Apesar deles não serem uma máfia — Black toma a liderança —
estão dispostos a seguirem nossos costumes. Eles querem se associarem
conosco com uma aliança de casamento e garantia de que pararemos de os
atacar, apesar de estarem resistindo eles não possuem tantos soldados, em
uma semana atacamos diversos pontos de distribuição e laboratórios de
drogas. Pedem uma divisão de 40% das drogas do México para eles
venderem em seu território e 60% para a gente. Com pagamento mensal de
10 milhões de dólares.
— Não vejo vantagem — Daniel expõem sua opinião — já temos o
lucro total da droga produzida pelos mexicanos, a cocaína deles é pura e de
alta qualidade. Se repartirmos o lucro com os texanos estaremos em
desvantagem.
— Podemos usar os texanos — eu digo — como nosso laranja. Apesar
de termos nossos contatos na polícia e membros infiltrados no Governo, não
sabemos quando uma investigação pode estourar na nossa cara. Se usarmos
os texanos para receber as drogas, trazer para a gente e pagarem os
mexicanos, seriam eles os responsáveis pelo tráfico. A distribuição
continuaria o mesmo.
— Atualmente — Daniel aponta — as drogas dos mexicanos entram
pelo Colorado e vão para Las Vegas, onde os Bonnarro fazem a distribuição
entre os territórios. Seria mais fácil entrar pelo Texas por ser fronteira com o
México.
— Não gosto dessa ideia — Bonnarro se pronuncia — os texanos
podem pensar que são poderosos ao deterem o controle da cocaína. Nos meus
cassinos os clientes confiam na qualidade da droga, se eles mudarem algo
saberemos, mas não teríamos tempo de produzir uma nova. Já estamos
ocupados com as novas drogas em desenvolvimento.
— Eles não seriam os donos — rebato — mas nossos cachorros.
Aqueles que os federais iriam seguir e prender, caso algo desse errado. Do
Texas com a proteção e as rotas corretas podemos fazer ela circular entre os
territórios com mais facilidade.
— Esperem — Michael ergue um dedo — a situação com os texanos é
rendição total da parte deles, não vou aceitar uma aliança, não confio em
quem tenta primeiro atacar meu domínio e depois pedir um acordo por
estarem sendo esmagados. O Kai e o Daniel possuem razão, a droga entrando
pelo Texas por terra é menos ariscado do que os navios que usamos.
Continuaremos esmagando os texanos e não o aceitaremos como associados,
mas soldados, vamos incorporar o Texas ao nosso território.
— A cocaína não chega a ser nem 40% da nossa fonte de lucro. —
Constato — podemos fazer um bom negócio, vamos escolher um dos nossos
como líder deles como o responsável pelas encomendas e transportes, se
forem bons soldados pensamos em uma recompensa.
— Se formos fazer — Bonnarro fala orgulhoso — quero o Black a
frente de toda a negociação. Não confio nos texanos, eles precisarão serem
domesticados e aprenderem como fazemos negócios antes de serem
integrados aos Bianchi com uma aliança de casamento, nossas meninas são
preciosas para serem entregues.
Eu percebo a real intenção do Bonnarro, encaro o Michael e Daniel,
eles também notaram. Com o Black responsável pelo Texas, o território do
Bonnarro vai ser expandido de Nevada para o Texas, mais poder para a
família de um Capo. Sei que podemos confiar no Black, mas a distribuição
terá de ser feita para não causar um desequilíbrio no poder das famílias.
Os Bianchi dominam Manhattan e Massachusetts, além de ser a
família a nos liderar. Os Griffin possuem o Queens e Nova Jersey como seu
território. Minha família, os Lucian somos os responsáveis pelo Brooklyn e
sul da Flórida.
Os Belarc possuem The Bronx e Staten Island, uma areá menor em
comparação as outras, por isso foram presentados com Connecticut ao
assumirem o comando do treinamento dos soldados e as lutas clandestinas.
Os Bonnarro comandam todo o Estado de Nevada, uma grande região e
importante para nossas atividades.
Não é de estranhar o Bonnarro querer o Texas, contudo precisamos
ser cautelosos.
— Um casamento está fora de cogitação — Michael declara — nossas
mulheres não serão mais usadas para selamento de acordos instáveis. Se eles
querem ser integrados aos Bianchi, não será uma aliança de igualdade, terão
de merecer. Envie a mensagem, os termos são rendição total e trabalharem
para a gente ou extermínio.
— Sim, Chefe — Bonnarro sorri, aposto que torce internamente para
os texanos não aceitarem e ele pode gerar uma guerra tomando conta do
Texas.
— Black você fica a frente — Michael fala — será o líder dos texanos
e cuidará das novas rotas. Infelizmente isso poderá atrasar seu casamento em
alguns meses, é um problema para você?
— Não, senhor, prefiro resolver as pendências com os texanos, antes
de casar — ele não hesita.
— Ótimo, iniciaremos a pauta principal da reunião — Michael me
encara — os senhores sabem que a troca de cargo muitas vezes pode ser
conturbada — encara o Bonnarro e Belarc — em gerações passadas a
sucessão causou conflitos sangrentos nas famílias — foca no Daniel e depois
no Tyron — dessa vez tivemos um incidente com a sucessão do cargo de
subchefe.
— Eu sabia que o maldito daria trabalho — Bonnarro encara o Belarc.
— O Louis nunca foi muito a favor da troca de posição antes da morte
— Belarc foca no Michael — qual a punição dele?
— Ele ousou se reunir com os associados para iniciar um pequeno
motim — Michael aperta o anel de chefe entre os dedos — nessa madrugada
ele foi pego tentando influências os associados a pedirem a substituição do
Kai como subchefe para ele retornar, alegando fraqueza. Louis será
condenado a isolamento, trancafiado dentro de sua casa sem poder para nada
na organização. Perderá o direito sobre as filhas e esposa, e será humilhado
na frente de todos. Estejam prontos para uma Demonstração, senhores.
Nos Bianchi, uma Demonstração é uma tradição usada quando uma
tortura não teria o efeito esperado. Somos homens treinados para resistir aos
piores tipos de castigo físicos. Em alguns casos, para homens orgulhosos
como o Louis, uma Demonstração é a melhor punição. Ele será humilhado na
frente de toda a organização, seu espirito quebrado e depois preso. Perderá
tudo aquilo que ele preza.
— Podemos fazer o que quisermos? — Daniel pergunta animado.
— Sim — Michael responde — iremos depois do Kai.
Aperto a mandíbula tentando controlar a excitação por saber que
liderarei a Demonstração. Nos levantamos e seguimos o Michael pelo
corredor, entramos em uma sala pegando nossas armas. A Demonstração é
sobre humilhação e subjugar, não sobre tortura física em si, embora se
quisermos fazer uma podemos. Aperto a corrente com pregos entre os dedos,
ansiando pelo momento de a usar.
Deixo a sala seguindo para o salão. Sou o primeiro a entrar. Sentados
em fileira, os membros dos Bianchi observam o Louis exposto no palco,
soldados e associados atentos ao que acontecerá aqui. Caminho ficando de
frente para o Louis. Ele está pelado, completamente exposto, amarrado em
uma cruz. Uma mordaça ao redor da sua boca. Ergo para ele a corrente,
arqueio uma sobrancelha me deliciando com a fúria em seus olhos.
— Meus dias de ter medo de você acabaram — eu digo próximo de
seu rosto — hoje você será o meu cão. — Sorrio diabólico. — Senhores —
viro de frente para o público. — Vocês estão prestes a presenciarem uma
Demonstração, deem o seu melhor em participarem com suas reações. Louis
Lucian esqueceu o seu lugar na organização e tentou tramar um motim
infundado contra mim, o seu subchefe. Hoje, tanto ele quanto vocês serão
lembrados das regras dos Bianchi. Um líder nunca pode ser desafiado ou
questionado por quem está abaixo dele.
Aperto a corrente, abrindo a tranca.
— Louis será submetido a esse castigo pelo respeito que os Bianchi
possuem as suas contribuições como subchefe. Ele sempre foi leal e uma
peça importante para a consolidação da Máfia. Por isso seremos
misericordiosos, compreendendo que o motim não passou de uma alucinação,
um desespero de uma mente perturbada incapaz de aceitar não ser mais
importante.
Giro no calcanhar indo a ele. Envolvo a corrente ao redor do seu
pescoço, retiro a mordaça e antes que ele possa dizer algo, enfio outra parte
da corrente em sua boca, dando a volta no seu rosto. O sangue jorra pelos
pregos perfurando a pele. Solto as amarras de suas mãos e pés, chuto a parte
interna do seu joelho o fazendo ficar de quatro.
— Vem totó — puxo a corrente o forçando a andar agachado. — Cada
um de vocês, quando eu passar com meu cachorro, vai bater nele, lembrando
que cães desobedientes precisam ser castigados. Formem uma fila!
Começando pelo Chefe e Consigliere eu passo por eles que não
perdem a chance de bater forte no Louis. Black acerta a mandíbula dele
fazendo um dos pregos perfurar completamente a bochecha. Insultos são
ouvidos aos berros pelas pessoas presentes.
Louis sempre se orgulhou de como podia me controlar como um
cachorro, de exibir a sua força, hoje eu o humilho o subjugando a minha
vontade, fazendo outras pessoas, inferiores a ele, o baterem, xingarem,
cuspir. Destruindo seu orgulho, mostrando a minha força e o quanto sou
superior a ele. Porra, adoro a sensação do poder e da vingança corroendo
minhas veias, exigindo por mais. Vou quebrá-lo em milhões de pedaços.
Ao final do caminho seus olhos expelem lágrimas de ódio misturado
ao sangue. Ele mal consegue se arrastar. O prendo novamente a cruz
satisfeito por ser capaz de destruir seu orgulho precioso.
— Você é o meu cão, nunca se esqueça — bato em sua cara antes de
remover a corrente — e agora te darei de brinquedo a outros.
Michael é o próximo, ele joga um balde de sangue de porco no Louis
e o faz rolar no chão se lambuzando no sangue enquanto reproduz os sons do
animal. Eu conheço o verme o suficiente para saber o quanto ele se odeia, se
culpa e deseja ser capaz de revidar a humilhação que sofre.
Ele obriga seu corpo a ser exposto, ouvindo os diversos insultos, não
podendo recusar ou acabará morto. Um dia Louis governou a todos presente
no salão com soberba, hoje ele não passa de um brinquedo em nossas mãos.
Daniel pega uma bola, o fazendo correr atrás dela e deixar em sua
mão, Black obriga o Louis a limpar o chão com a língua. Os mais
desagradáveis e humilhantes castigos são impostos ao homem que se achava
um rei.
— Por favor — Louis vem aos meus pés, a cabeça encostada no meu
sapato completamente rendido após o Belarc o bater com pênis de borracha o
chamando de bicha e outros nomes depreciativos.
— O que o cachorro quer? — pergunto me divertindo.
— A sua misericórdia. Por favor, senhor.
— A quem você pertence? — as várias vezes em que fui obrigado a
dizer que ele era meu dono batem na minha cabeça.
— A você, senhor Kai Lucian — responde sem me encarar.
— Olho nos meus — eu rosno. — Quem é seu dono?
— Você, senhor — me encara, o negro das pupilas repleto de
desespero.
— Quem é mais forte do que você?
— O senhor — murmura quase sem voz.
— Nunca se esqueça, eu sou mais forte que você e o seu dono.
Saboreio o prazer perverso de saber ser o responsável por quebrar o
Louis. No final, eu sobrevivi e triunfei, enquanto ele será levado a loucura.
Louis precisa ser carregado para casa. A Demonstração cumpre seu
dever e eu me sinto extremamente vingado, muito mais do que se tivesse o
espancado descontando a fúria. É muito mais prazeroso quebrar o espirito de
um homem como o Louis do que destruir seu corpo. O olhar sem esperança,
acabado, completamente rendido, não existe prêmio mais gratificante.
A tarde mal iniciou, e já anseio voltar para casa e compartilhar com a
minha esposa o que aconteceu aqui.
Acabou, ele nunca mais poderá me tocar.
Eu venci.
— Senhor — Robert me encontra na saída do prédio — tenho
informações sobre o ataque nas ilhas gregas.
— Descobriu o mandante? — paro pegando o tablet de suas mãos.
— Sim, foi o Louis. Após uma análise minuciosa sobre os membros
que sabiam onde o senhor estava, chegamos ao Louis como principal
suspeito. Simon aproveitou a captura do Louis para invadir o escritório dele
achando provas no computador da transação com os mercenários controlando
os drones.
— Bom trabalho — bato em seu ombro — ele não será mais um
problema, deixaremos entre nós essa informação.
— Tem certeza, senhor? — Robert sabe que o ato do Louis contratar
mercenários para me matar seria punido com a execução dele e sua família.
— Sim, não me importo com a Eleanor morrendo, mas Rebeca e
Josephine não podem pagar por um crime não cometido por elas. Não vou
manchar o sangue das minhas irmãs. O Louis ficará preso, vou atormentá-lo
até seu último dia de vida. É o suficiente para mim.
— Os guardas da casa Lucian relataram que a Rebeca tem estado
instável — ele toma cuidado com a palavra.
— E a Josephine? — subo na minha moto.
— Ela parece bem, estranhamente após o seu casamento as brigas
entre as meninas acabaram.
— Isso é estranho, elas se matavam só de estarem no mesmo comodo.
— Concordo, senhor — entrego o tablet a ele — tenho ficado de olho
nas filmagens da casa como o senhor pediu e não notei nenhuma nova
discussão ou briga. Qualquer alteração eu te aviso.
— Vamos para a construtora, hoje é dia de fiscalização da obra —
ligo a moto, coloco o capacete saindo do estacionamento.
Ainda tenho um longo dia no meu trabalho normal. Depois vou me
encontrar com os italianos para mostrar a eles como tem ficado a construção
do cofre secreto no subsolo do prédio que será um comércio local para
disfarçar a legalidade do imóvel.
E durante o dia Daisha não sai da minha mente, em breve ela
começará suas aulas na faculdade, quero aproveitar minha esposa o quanto eu
puder. Em casa conversamos sobre o que fiz com o Louis, é satisfatório ver a
Daisha me apoiando e gostando da minha atitude. Fazemos amor pelo resto
da noite.
Ela é a calmaria para a minha alma.
CAPÍTULO 21 DAISHA
Kai: Caralho, Daisha estou esporrando nas calças com suas fotos.
Kai: Como diabos vou me concentrar na maldita reunião com sua
imagem na minha mente?
Kai: Você enfiou um vibrador no seu cu?
Kai: Porra, gata. Eu preciso muito te comer. Tira uma foto de pernas
abertas para mim, abre bem gostoso esse cuzinho para eu ver o vibrador.
Faz três dias que o Kai saiu para uma missão no Texas e mal temos
conseguidos nos falar. Daniel garante que meu marido está bem e a falta de
comunicação é devido às necessidades da operação. Tenho vontade de enfiar
uma marreta na cabeça do Daniel sempre que ele me responde isso.
Estou na sala mexendo no celular quando vejo o Dante entrando, ele
sorri cansado ao se jogar no sofá. Gosto quando o Dante aparece do nada, ele
tem feito bastante desde que iniciei as aulas.
— Me dê uns segundos de paz — pede colocando minhas pernas em
cima da dele.
— O que houve?
— Michael quer me enviar para uma missão no México, mas não
quero ir. A irmã do Gael é uma pegajosa que não supera a noite de sexo que
tivemos anos atrás.
— Você gosta dela?
— Nem um pouco, a maluca quase me mata por me ver flertando com
outra.
— Como ela fez isso?
— Ele me viu tomando insulina e recheou um salgado com chocolate,
quando mordi que senti o açúcar vomitei para não morrer.
— Espera — sento espantada com a informação — por que você
estava tomando insulina?
— Merda, esqueci que você não sabe — bate na testa. Dante me
encara, os olhos idênticos aos meus tristes — o pai da nossa mãe morreu por
causa do diabete, ele tinha o tipo 2. A Clarisse controla o açúcar como louca
para evitar desenvolver a doença, mas como o diabete possui fator hereditário
eu fui o sorteado a herdar do nosso avô. A minha é o tipo 1, era mais forte
quando eu era criança, mas com os anos consegui controlar.
— Por que eu não sabia disso? — me espanto a nova informação.
— Nossa mãe não queria te ver assustada como ela por causa da
diabete, e como você nasceu sem a doença ela decidiu que iria controlar sua
alimentação e a de todos na casa para mais ninguém desenvolver a doença —
suspira — sinceramente é uma merda. Sinto que tenho uma bomba relógio
prestes a explodir no meu corpo por causa da minha alimentação. Uma vez o
Dylan me entregou um chocolate quando eu era criança, lembro de salivar
antes de provar o doce — sorri triste — fui parar no hospital com uma crise
de insulina, a mamãe chorou tanto que prometi nunca mais fazer aquilo.
— Quem mais sabe da sua doença? — aperto sua mão.
— Somente nossa família, se um inimigo quiser me abater de forma
silenciosa me envenenar com doces seria a forma mais fácil.
Mudo de posição deitando a cabeça no ombro do Dante. Eu pensava
que a obsessão da Clarisse em me manter longe dos doces era por questão de
estética, mas hoje percebo que ela só queria me proteger e não podia me
contar a verdade. Se eu soubesse e falasse sem querer para alguém colocaria a
vida do Dante em risco. Meu peito aperta em vontade de pedir desculpas a
minha mãe e a escutar.
— O que acha de um jantar em família? — pergunto a ele.
— Uma ótima ideia — beija minha cabeça — eles estão se esforçando
para serem pais melhores. Nos últimos meses tenho conversado muito com o
Bellamy, compreendendo seus motivos. Vivemos em um mundo difícil para
amar.
— Muito — lembro da situação do meu marido e sua família
destruída. Eu não quero acabar como eles, sofrendo, separados, desejando o
ódio para aqueles que deveriam ser nossos maiores protetores.
Casar obrigada com o Kai não foi um inferno, eu encontrei no meu
casamento amor, proteção, carinho e acima de tudo a liberdade que eu sempre
ansiei. O motivo dos meus pais para me casarem foi errado, por causa de uma
aliança, mas se o Bellamy sabia que o Kai não seria ruim para mim, talvez
não existisse maldade em suas ações.
Pego o celular ligando para a minha mãe a convidando para o jantar.
Ela fica feliz, é a primeira vez que a chamo para a minha casa. Conto a
Josephine sobre o jantar e pergunto se ela quer participar, minha amiga nega
com um sorriso entendendo ser um momento precioso para os Griffins. Meus
pais chegam junto do Daniel.
— E a Emily? — pergunto.
— Em casa tomando sorvete — ele beija minha testa — ela decidiu
que passaria a noite conversando com a Josephine.
— Ainda não consigo acreditar em como a menina Lucian mudou —
Clarisse fala ao meu lado — ela era uma tempestade incontrolável quando eu
liderava as damas, mas com a Hope a Josephine é uma dama.
— Você nunca a tratou com o carinho que a Hope tem por ela — eu
digo, não por maldade, mas expressando uma verdade.
— Acho que eu nunca soube como tratar qualquer uma de vocês com
carinho — Clarisse encara o chão — obrigada pelo convite, filha.
— Estamos felizes por estarmos aqui — Bellamy fala.
Imagens da nossa briga e do tapa que ele me deu povoam minha
memória. Engulo em seco afastando a tristeza. Eu quero uma família unida,
amorosa e que meus pais tenham a chance de se explicarem. Viver presa ao
passado não trará nenhum benefício. Hoje descobri algo que eu não sabia,
mal posso imaginar quais segredos estão por trás da criação rígida que eles
nos deram.
— Vamos para a sala de jantar — vou na frente mostrando o caminho.
Sento na ponta, é estranho não ter o Kai segurando minha cintura e
beijando meu pescoço durante as refeições. A saudade dele aperta cada vez
mais, quero meu marido de volta. Teresa serve a mesa, meus pais sentam a
esquerda e meus irmãos a direita. Bebo o vinho em busca de coragem, será
uma noite difícil.
— Eu tenho aprendido a importância de ouvir — começo após engolir
um pedaço do cordeiro, sentindo a carne bater forte no meu estômago. —
Entender as ações que guiaram a construção da nossa relação no passado. Por
anos me senti abandonada e sozinha — Daniel aperta minha mão —
incapacitada de ouvir a minha voz com medo de ser repreendida pela minha
mãe — pisco contendo o nó na garganta — até o Daniel passar a me enxergar
— sorrio para ele — você foi o meu único amigo, obrigada por sempre estar
ao meu lado.
— Eu sempre vou te amar — ele beija o dorso da minha mão — não
tenha dúvidas de que pode contar comigo para tudo.
— Eu sei — sussurro, encaro o Dante com o olhar concentrado no
prato — Dante, você e o Dylan eram uma dupla, encontraram um no outro o
apoio para crescerem. Não se sinta mal pelas vezes que me ignorou — pisco,
é árduo admitir — eu também tenho culpa, nunca tentei conversar com você
e me apoiei no Daniel, alguém que você e o Dylan viam como inimigo. —
Pigarreio, é difícil me abrir.
— Não se culpe — Dante pede, os olhos marejados — se eu pudesse
mudaria todo o nosso passado, mas infelizmente não posso. Desculpe por ser
um péssimo irmão, Daisha.
— Você não foi tão ruim — enxugo o canto do olho — irmãos que
cometeram maldades piores um com o outro estão aprendendo a se perdoar,
acredito que podemos fazer isso também.
— Se você me der a chance, eu prometo que vou ser um irmão melhor
— vem a mim abraçando meu tronco.
— Você já é — aliso o pé do seu cabelo. O Dante nunca foi ruim
comigo, não me tratava com rispidez como o Dylan. Ele era apenas quieto no
seu canto seguindo o Dylan como uma sombra. Eu também não queria me
aproximar dele, tinha medo da rejeição, ambos somos responsáveis pelo
rumo da nossa relação.
— Vou continuar te perturbando todos os dias — beija o topo da
minha cabeça.
— Eu sei que vai, apareça para o chá da tarde — brinco.
Ele volta para seu lugar na mesa. De coração pesado encaro nossos
pais.
— Eu entendo que a máfia é um lugar cruel — digo a eles —
demonstrar piedade é algo perigoso, hoje eu percebo que não somos a única
família que passou por momentos difíceis. Algumas não têm como comparar
a situação de tão perversas. Mas eu preciso entender, o motivo de vocês
terem sido tão rígidos, separado seus filhos, me fazendo — engulo as
lágrimas — sentir rejeitada, indesejada e completamente abandonada por
vocês — falo a última frase baixinho, magoada.
— Eu tenho dois irmãos — Bellamy começa — vocês só conhecem
um. O outro foi apagado da história dos Bianchi por cometer traição. Ele se
apaixonou por uma russa, tentou uma aliança de casamento, mas o Anthony,
pai do Andrew e Chefe na época não permitiu. Meu irmão fugiu com a russa,
foi capturado e nosso pai obrigado a matar ambos. Como castigo tivemos de
esquecer a existência dele.
— Por isso você era contra minha ideia de fugir? — pergunto
começando a compreender.
— Sim, a morte é a única coisa que aguarda os que fogem. Meu pai
continua vivo, se ele ao menos sonhasse com sua ideia de fuga a mataria
antes de trazer desgraça aos Griffins novamente.
Meu pai aperta minha mão e deixo, ele não podia me ajudar ou
concordar com a minha ideia.
— A Clarisse, teve sua irmã jogada nos bordéis da Itália por se
apaixonar por um soldado e tentar uma vida com ele. Ambos sabemos como
o amor pode machucar as pessoas queridas e importantes para a gente.
Seus olhos focam na mesa, Clarisse aperta os dedos dele, me encara
tristemente. Tantas tragédias os rodeando por causa do amor. Um sentimento
capaz de curar todas as feridas, mas que para eles só significa perdas.
— A Melissa era uma grande irmã, foi horrível ver a forma como ela
foi tratada pela nossa família. Ela nem chegou a transar com o soldado e teve
sua virgindade transformada em um evento. — Clarisse pisca, lágrimas
grossas escorrendo por seu rosto. — Eu decidi que nunca me apaixonaria,
não sofreria o mesmo destino que o dela.
— Nos conhecemos em um baile da famiglia — Bellamy continua —
eu fiquei obcecado pela Clarisse, mas ela não me queria. Forcei uma união de
casamento e acho que brigávamos mais do que você e o Kai — rio triste
lembrando do meu amado marido. — Quando nos entendemos passamos por
outra desgraça na família por causa do amor — ele aperta o garfo em sua mão
— eu assumi como consigliere e meu irmão, ainda abalado pela morte do
Basilio, não percebeu o que a esposa estava prestes a fazer.
— Meu tio teve um primeiro casamento? — Dante pergunta confuso.
— Sim, Bertoldo casou com uma mulher apaixonada por outro
homem. Ela não suportou saber que estava grávida do Bertoldo e se matou
antes da criança nascer.
— O quê? — Levo a mão a boca assustada, eu nunca soube disso.
— O tio Bertoldo sempre se manteve mais afastado, foi por isso? —
Daniel pergunta.
— Sim, Bertoldo não está bem da cabeça, ele se tornou minha
responsabilidade, por ordem do Andrew. Foi obrigado a casar novamente
para gerar filhos.
Daniel levanta furioso ao ouvir o nome do sogro. Sempre existiram
boatos sobre como o Andrew tratava os filhos e a esposa. Imagino o ódio que
meu irmão deve sentir por causa do desgraçado.
— O Andrew decidiu que iria punir os Griffins após tantas tragedias
— Clarisse diz — seu avô foi exilado por não saber criar os filhos, Bertoldo
seria uma obrigação constante do Bellamy. Ele nos ameaçou. Se um de
nossos filhos demonstrasse qualquer comportamento parecido com o
Bertoldo que nunca lutou de verdade pelo cargo de consigliere ou fossem
desobedientes todos seriam punidos.
— Meu pai me criou disputando o cargo de consigliere com meus
irmãos, mas nenhum deles realmente tinha intenção de vencer a disputa. Eu
sabia que precisava ser rígido com vocês ou o mesmo erro se repetiria. —
Aperta os olhos com os dedos — estava convencido de que era o caminho
correto.
— E eu tive medo do amor destruir nossa família — Clarisse me
encara, o rosto molhado e arrependido. — Você precisava ser uma dama
perfeita e nunca chamar a atenção daquele maldito demônio. Eu fiz o que
pude para garantir que isso acontecesse e não percebi como estava judiando
de você. Eu nunca me perdoaria se você se apaixonasse pela pessoa errada e
tivesse o destino da minha irmã — soluça — eu não podia ariscar. O amor é
perigoso no nosso mundo.
— E vocês não podiam ser fracos — Bellamy diz encarando os
meninos — estimular o ódio era a única saída que eu via. Mas a desgraça
chegou a nossa família novamente. Por nossa culpa — aperta a mão da minha
mãe — o Dylan morreu, o Dante e Daniel mal se falavam e eu fui horrível
com você quando me pediu para cancelar o noivado.
Me encara, de todas as possibilidades que imaginei para o
comportamento dos meus pais. Nunca pude pensar que seria motivado pela
necessidade de impedir uma tragédia. Soluço com a mão na boca tentando
controlar o choro. Dante e Daniel caminham magoados, escutando calados.
Meus pais enxergaram o amor como seu inimigo. Nunca conseguiriam
demonstrar afeto com os corações repletos de mágoa, medo e traumas. Ao
contrário do Louis e da Eleanor que sentiam prazer em machucar os filhos,
Bellamy e Clarisse estavam desesperados para não seguirmos os caminhos
dolorosos enfrentado por eles, sem perceberem que caminhavam para um
precipício diferente.
— Eu nunca deveria ter batido em você. Naquele segundo eu te vi
seguindo os caminhos da sua tia e só soube usar o medo para tentar te
controlar. Perdão por te magoado, minha filha. Eu precisava retirar da sua
cabeça a ideia maluca de fugir ou você seria jogada nos bordéis para ser
estraçalhada pelos piores tipos de homens. Se retirássemos seus rastreadores
para você fugir seriamos detectados no mesmo instante, ou usariam os
rastreadores para te encontrar e punir.
— Rastreadores? — pergunto confusa.
— Ela não sabe — Clarisse limpa o rosto — Michael ordenou, após o
sequestro da Hope, que todas as moças tivessem implantado 3 rastreadores.
Eu sabia como você se sentia presa e sem liberdade, por isso a coloquei para
dormir quando colocaram os rastreadores, não te queria se sentindo mais
aprisionada.
Perco o ar com a informação, agora faz sentido como o Kai sempre
consegue me encontrar. O safado deve me rastrear para onde quer que eu vá.
Ele não faz ideia de que eu não sabia que os tinha no corpo. Encaro a Clarisse
compreendendo seus motivos. Eu teria dado um jeito de arrancar os
rastreadores sozinha. E se não fosse por eles talvez o Kai não tivesse me
achado na caverna e eu estaria morta agora.
— Compreendo seus motivos — me limito a responder, não vou
permitir que a raiva me domine. Hoje é para ser uma noite de cura e novos
caminhos, sem brigas.
Bellamy levanta e Clarisse o segue. Eles se encaram e dão dois passos
para trás ficando de joelhos com as mãos no chão.
— Fomos pais horríveis e o que fizemos não tem como ser
compensado — Clarisse fala em meio ao choro de partir meu coração —
perder o Dylan e nunca ser capaz de mostrar o quanto amamos vocês foi a
tragédia causada por nossa culpa. Não existe tempo de vida o suficiente para
curar a ferida aberta.
— Se vocês puderem, mesmo que pouco — Bellamy diz, pela
primeira vez vejo meu pai chorar — nos dar uma pequena chance de termos
um futuro diferente em que poderemos conversar sem nos magoarmos, ouvir,
abraçar e beijar nossos filhos, prometemos que nunca mais causaremos
sofrimento a vocês.
— O passado — eu digo me pondo de pé, encaro meus irmãos vendo
neles o mesmo que habita meu coração: a vontade de amar e ser amada por
nossos pais — é um lugar doloroso. Eu decidi com meu marido e irmãos que
não viveríamos presos a ele — fico na frente deles, de joelhos, seguro o
ombro de cada um — vamos romper as correntes do sofrimento e nunca mais
acorrentar o amor que sentimos uns pelos outros. Podemos começar do zero
— abraço meus pais, pela primeira vez na vida, sentindo amor — eu quero
muito vocês presente na minha vida.
— E nós queremos estar nela — Bellamy beija meus cabelos. — Eu
demorei 20 anos para poder te abraçar de verdade, passarei o resto do tempo
de vida que tenho compensando — beija minha bochecha onde outrora me
deu um tapa.
Assim como incentivo o Kai e a Josephine a conversarem sobre os
traumas e serem capazes de se abrir um com o outro, vou seguir meu próprio
conselho. As memórias ruins sempre vão existir, mas elas podem ser supridas
com novas lembranças.
— Eu amo muito vocês — Clarisse abre o abraço chamando pelos
filhos.
Dante fica de joelhos abraçando nossa mãe e Daniel aperta a mim e o
Bellamy em seus braços.
— Você nunca me deixou morrer pelo diabete — Dante fala — e não
me fazia passar vontade vendo meus irmãos comendo doces, acho que foi seu
jeito de me proteger e eu reconheço isso, mãe.
— Eu também — falo soluçando — apesar de sofrer pela criação
rígida e odiar a máfia, fui uma dama que nunca trouxe desonra a nossa
família, graças a sua criação.
— Você é perfeita minha filha — encosta a testa na minha — me
perdoe, eu quero muito ser capaz de te ouvir.
— Coloquemos uma barreira entre o passado e o presente — Daniel
diz — o amor não é uma fraqueza, é o laço que irá nos unir novamente.
— Sim — respondemos.
Seja no meu casamento ou na minha família. Jamais deixarei faltar
amor. Ele nunca foi o problema, mas a solução. Poder escutar meus pais,
compreender um pouco os seus traumas e entender que, no fundo eles sempre
quiseram nos proteger alivia meu coração. Jogando para longe a dor rascante
por causa da minha criação.
Teremos o nosso recomeço e nunca mais nos machucarmos. Essas
malditas correntes foram completamente rompidas.
CAPÍTULO 27 DAISHA
FIM
Agradeço a Deus por ter me permitido escrever esse livro e viver
todas as emoções que a Série Máfia Bianchi trouxe para a minha vida, pela
guinada que meu destino tomou ao conseguir estar vivendo o meu sonho,
trabalhando com a escrita.
Escrever Perseguida pelo Mafioso não foi fácil, tive uma crise de
tendinite horrível que me fez pausar a escrita e adiar o dia que eu planejava
lançar. Estava desesperada e sem saber o que fazer, foi quando o Senhor me
agraciou com um caminho para a cura. Através das mãos da Fada do Corpo,
Lucélia e do método Haguihara consegui encontrar uma cura para as dores e
pude continuar a escrita e finalizar essa história tão especial para mim.
Obrigada Lulu pelo tratamento, obrigada minha amiga Haglayne pela
mãe que você tem e o carinho que sua família sempre me recebeu. Obrigada a
minha mãe, Luzia e irmãos Isabelly, Priscila e Kauã por me acompanharem
nas sessões e ouvirem sobre minhas dores e preocupações sempre trazendo
conforto. Obrigada a meus pais, Vanderlan e Luzia por sempre vibrarem
comigo pelas conquistas dos meus livros, pelas minhas amigas maravilhosas
Jennifer e Iris por serem meu apoio especial.
Agradeço pela equipe maravilhosa que trabalha comigo,
principalmente a minha assessora Hylanna que me proporciona focar na
escrita enquanto você cuida de todo o resto para mim. Sou abençoada por ter
vocês e principalmente pelo meu grupo de leitoras.
O Isaverso é meu lugarzinho especial que sempre apareço para
recarregar minhas energias com a emoção das leitoras. Eu amo as teorias de
vocês, as sugestões e principalmente toda a bagunça que fazemos e já estou
preparada para fugir para uma ilha deserta após esse livro. Eu sei que vocês
vão me enlouquecer por Josephine e Black e espero ansiosa entregar eles a
vocês.
Até o próximo livro, um beijo enorme.
Chegou o momento de Josephine Lucian contar a sua história e de
Black Bonnarro mostrar quem ele é de verdade.
Black e Josephine - O 4 livro da Máfia Bianchi.
EM BREVE!
Intocável para o Mafioso
Primeiro Livro da Máfia Bianchi
Beijos,
Isadora Almeida