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Capa: Layce Design

Revisão de Textos: Beatriz Klem


Diagramação E-book: Hylanna Lima - @amorliterario5
Assessoria Literária: HL Assessoria – @hlassessorialiteraria

Copyright © – 2023 por Isadora Almeida

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por


qualquer meio, sem a autorização expressa da autora que possui os direitos
exclusivos sobre a versão da obra.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98,


punido pelo artigo 184 do Código Penal.

______________________________________________________

Esta é uma obra de ficção, seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação
da autora. Quaisquer semelhanças com nomes, datas e acontecimentos reais
são meras coincidência.

1ª Edição - Criado no Brasil


Sumário
Nota de Revisão
Sinopse
Nota da Autora
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Epílogo
Agradecimentos
Próximo Lançamento
Outras Obras da Autora
Mensagem da Beta
Sobre a Autora
Avaliação
O texto aqui apresentado foi corrigido conforme o novo acordo
ortográfico da norma culta, porém por se tratar de uma história fictícia, o
texto apresenta em determinados trechos a linguagem informal.
SINOPSE

ENEMIES TO LOVERS — Ele odeia a todos, menos ela — Ela


fará de tudo para fugir dele — Casamento forçado — Romance na
máfia — Age Gap — Hot de milhões

Kai Lucian
O novo Subchefe da Máfia Bianchi, carrega consigo um passado
doloroso. Atormentado pelo pai abusivo, Kai foi forjado em dor e sofrimento,
aprendeu a se defender usando uma máscara, exibindo o seu pior lado para o
mundo. Dotado de uma péssima reputação com as damas da Máfia Bianchi,
cafajeste, sarcástico e malvado. Mas escondendo os seus verdadeiros
sentimentos para proteger quem ele ama.

Daisha Griffin
Ela cresceu em um lar difícil, desde criança era repreendida pela mãe
e não conseguia expressar o que sentia. Nunca se sentiu amada ou querida
por sua família e se fechou em uma concha para se proteger do mundo da
Máfia, ela odeia a sua família, a sua vida e anseia, mais do que tudo, ser
capaz de fugir.
Por anos, Kai Lucian foi um dos responsáveis por fazer Daisha odiar a
si mesma.

Entre revelações, descobertas, sofrimento e muita sedução entre duas


almas que, no fundo, só querem ser amadas e livres. A construção de um
amor é ameaçada pelos demônios ocultos tramando a destruição do casal, Kai
verá o seu mundo ruir diante de seus olhos e Daisha será a única capaz de
fazê-lo continuar vivendo, mas somente se ela for capaz de aceitá-lo.

ATENÇÃO: Esse é o terceiro livro da Série Máfia Bianchi. Você


pode escolher ler ele separado dos dois primeiros livros ou fazer a leitura dos
livros anteriores. A experiência de leitura não será afetada se optar por ler
Perseguida Pelo Mafioso primeiro. Gatilhos estão avisados na nota da autora.
Livro para maiores de 18 anos.

Série Máfia Bianchi


Intocável para o Mafioso (Livro 1)
O romance do Chefe
Michael e Hope

Apaixonada pelo Mafioso (Livro 2)


O romance do Consigliere
Daniel e Emily
NOTA DA AUTORA

Escrever Kai e Daisha foi uma experiência completamente diferente


de Hope e Michael, Daniel e Emily. Eu me vi completamente imersa no Kai e
na Daisha, vivendo, sentindo, amando e perdoando com eles. Para você que
chegou após ler Intocável para o Mafioso e Apaixonada pelo Mafioso espero
que aceitem o Kai de coração aberto e consigam entender quem ele realmente
é.
Para a nova leitora que chegou aqui sem ler os dois primeiros livros da
série, se prepare para uma história completamente arrebatadora de um
homem que fez tudo pelo amor, foi enganado, manipulado e se feriu
profundamente enquanto perdia quem era importante para ele.
Desejo a cada uma de vocês uma leitura tão imersiva quanto foi para
eu escrever Perseguida pelo Mafioso. Se envolvam, se apaixonem e amem
intensamente cada um dos personagens da Máfia Bianchi.
AVISO DE GATILHOS: Violência extrema, violência infantil,
violência familiar, abandono parental e assassinato. O livro contém: Uso de
linguagem imprópria para menores de 18 anos e cenas eróticas.
Aviso que nenhuma das organizações escritas aqui existem na
realidade e qualquer semelhança é mera coincidência de uma autora que usou
da licença poética para criar um novo mundo. O Estado de Nova Iorque e
Texas foram usados meramente com buscas feitas no MAPS, nada do que
está escrito no livro realmente existe, pessoas e lugares foram todos frutos da
minha mente.
Nenhum trecho dessa obra pode ser reproduzido sem a minha
autorização expressa por escrito e registrada em cartório.
Um beijo sombrio,
Isadora Almeida.
PRÓLOGO KAI

Aos 7 anos
O som da porta batendo me assusta, largo o lápis em cima do caderno,
deixo o quarto com cuidado para não chamar a atenção dos meus pais. Eu
deveria estudar para o teste de sexta. Os gritos da mamãe me impedem de
focar, queria poder ajudar ela. Meu pai é um homem enorme e forte, ele me
segura no ar só com uma mão e quando machuca a mamãe eu nunca consigo
a defender.
Subo os degraus com cuidado, vejo a governanta se escondendo em
um dos quartos do terceiro andar, assustada. Devia estar junto da mamãe no
início da agressão. Apoio as mãos no penúltimo degrau espiando com
cuidado o corredor, não tem ninguém. Um som abafado seguido de um grito
me faz tremer, tampo os ouvidos, o coração batendo com força o suficiente
para sair da minha boca.
Se eu for pego vou ser castigado, meu pai não gosta de meninos
desobedientes, a cara dele ao me encarar com raiva faz tremer minhas pernas.
Inspiro fundo, subo o último degrau e me arrasto, talvez se eu souber o
motivo da briga eu possa impedir a mamãe de o irritar novamente. Ela não
gosta quando eu peço que pare de provocar o papai, sempre bate na minha
boca como castigo, mas não consigo evitar, não quero a ver sofrer.
— Eu te disse que não queria outro filho! — a voz grave do meu pai
estoura como um trovão.
— Não foi minha culpa! — mamãe fala chorando.
Espio pela porta aberta, mamãe de joelhos com as mãos na cabeça
chorando enquanto meu pai segura seus cabelos batendo em seu rosto com a
mão fechada. O punho dele desce feroz contra o rosto dela, assustado me
encolho contra a soleira da porta, aperto as pernas contra o peito tampando a
boca, ele não pode saber que estou aqui.
— E de quem foi a culpa? Eu te mandei fazer uma laqueadura, sua
vagabunda! — O som do punho dele se chocando contra a cabeça dela
embrulha meu estômago.
— O doutor não quis fazer, ele diz que sou muito nova — ela soluça
— e como a esposa do subchefe tenho de te dar muitos filhos.
— Eu não quero filhos — grita — já basta o bosta do Kai para roubar
o meu lugar como subchefe, se eu pudesse o manteria trancado até o dia da
minha morte. Outros filhos só servirão para roubar o que me pertence!
Principalmente os homens!
Horror percorre meu pequeno corpo ao saber que meu pai quer me
manter trancado. Ele precisa saber que eu não quero o cargo dele. Não posso
ser punido por um crime que nunca cometi. É diferente de quando ele me
bate por ser um menino levado e não fazer minhas obrigações, o pai pouco
fica em casa comigo e a mamãe cuida de mim com rigidez.
— Se eu abortar, o Chefe vai me punir — mamãe chora, estico a
cabeça a vendo com o rosto colado ao chão, o pé pesado do meu pai sobre
sua cabeça — por favor, Louis.
— Andrew não precisa saber de nada do que acontece na minha casa.
Sou eu quem manda aqui, ele tortura a esposa todos os dias na frente dos
filhos, não ligaria para o que faço com você, sua puta barata.
— Por favor, amor, a criança não será uma ameaça para você.
— Todos são — ele se cala.
Encolho sabendo que ele notou a minha presença.
Mamãe se cala, os passos pesados ressoam pelo piso de madeira.
Prendo a respiração, fecho os olhos com medo do segundo em que ele vai me
pegar. Meu pescoço dói ao ser envolto pela mão do meu pai, ele me suspende
no ar, abro os olhos encarando a fúria em seu rosto. Não ouso segurar seu
pulso, sei que será pior para mim tentar me defender, apenas fico suspenso
esperando pelo castigo.
— Eu te mandei ficar estudando.
— Louis! — Minha mãe rasteja, o rosto vermelho pelo sangue. — Ele
não fez por mal, deixa o Kai ir embora.
Mordo a bochecha controlando o choro, um homem não chora,
independente da dor que sentir. As palavras do meu pai ressoam na minha
cabeça.
— Por que está aqui, Kai? — Pergunta, as feições duras e
assustadoras.
Quero falar, mas sou impedindo pelo medo. Não consigo pronunciar
uma sílaba. O ar começa a faltar, abro a boca inspirando estrangulado. Meu
pai rosna me jogando no chão, deslizo batendo contra a parede. Não ouso
deixar um único som escapar para não o irritar.
— Responda! — Seu pé desce contra minhas costas. Travo os dentes
impedindo o grito de dor de escapar, reproduzindo um pequeno chiado.
Eu não deveria ter saído do quarto, o que estava pensando que poderia
ter feito? Ele é mais forte, alto e malvado, meu pai nunca me perdoaria por
espiar uma de suas conversas com a mamãe. Tremendo me ponho ajoelhado
encarando seus sapatos. Abro a boca para responder.
— Eu ouvi os gritos — cochicho — e pensei que a mamãe precisava
de ajuda — conto uma meia verdade, algo que aprendi a fazer.
Se eu mentir sou punido, mas se mesclar a verdade com a mentira ele
me deixa em paz por saber que sou incapaz de ocultar minhas intenções dele.
Louis rir, bate palmas e gargalha como um maluco. Encolho os ombros
sabendo o que vem em seguida. Os gritos do meu pai significam uma surra.
A risada é sinônimo de um castigo pior.
— Você ouviu Eleanor? Ele só tem 7 anos e já pensa que pode me
desafiar.
— Ele não quis dizer isso — Ela intervem, não tenho coragem para
encarar meus pais.
— Um menino já quer roubar a minha posição, outro faria o mesmo
— aperta meu pescoço me erguendo contra a parede — sua mãe nunca terá
outra criança e você vai aprender a se colocar no seu lugar, debaixo do meu
pé. Seu verme inútil.
Ele me puxa para a frente, empurra contra a parede. A pancada me faz
arfar ao perder o ar e a vista escurecer.
Desperto com dor de cabeça, encolho de frio, bato as pernas em algo.
Tento enxergar e não consigo, o escuro ao meu redor consome tudo. Ergo as
mãos batendo em algo, parece uma tampa, estico para os lados encontrando a
mesma superfície.
Junto as pernas, alisando os braços tentando aquecer o corpo, estou
pelado. A pele da bunda e costas doendo por estarem em contato com a
superfície gelada.
— Mamãe! — Grito por ela. — Pai! — Chamo por ele.
Ninguém me responde, a sensação de sufocamento aumenta conforme
os minutos se passam. Bato nas paredes tentando encontrar uma saída,
qualquer coisa que faça o ar voltar aos meus pulmões. Ajoelhado com a
cabeça batendo no teto, eu tento empurrar a tampa pesada. Preciso sair daqui,
as paredes se encolhem ao meu redor, desesperado chuto o que consigo, não
enxergar aumenta o terror.
Um som de algo rastejando preenche o ambiente, me desespero
tentando escapar, é barulho de cobra. Grito assombrado, começo a me
debater sem saber para onde escapar, o som aumenta gradativamente. O
coração explode dentro do meu peito, o ar não entra em meus pulmões, tenho
vertigem. Faço xixi nas pernas sem conseguir segurar a bexiga.
— Papai, por favor, me tira daqui — imploro, chorando, desesperado,
para sair do inferno. — Eu prometo que não vou roubar sua posição, por
favor. Mamãe! — Grito por ela. — ALGUÉM ME AJUDA — berro o
máximo que posso com a minha voz de criança.
O catarro escorre por meu nariz penetrando minha boca, o cheiro de
mijo causando náuseas, o frio aumenta. Fungo sem saber como sair, vou
morrer se continuar preso. Aperto as paredes com os braços tentando impedir
que se fechem ao meu redor. O corpo pende para a frente, não consigo mais
respirar, levo as mãos ao pescoço buscando pelo ar que não vem. A tontura
toma de conta, apago em meio a escuridão.
Desperto ouvindo um som agudo que fere meus ouvidos. Pressiono as
mãos tentando abafar o som, grito para sobrepujar o zumbido. Estou ficando
louco preso na escuridão, o frio dando lugar ao ambiente escaldante, o
zumbido aumenta. Berro até a garganta começar a doer e minha voz sumir,
me debato com medo de ser esmagado pelas paredes.
Choro com a barriga roncando de fome e a sede me torturando.
Começo a alucinar que estou no inferno, demônios vem puxar minhas pernas,
gargalhando. Chuto, uma dor forte atinge minha perna seguida pelo som do
osso estralando.
— PAI ME AJUDA — Berro — EU VOU PERDER A PERNA.
Em resposta, o zumbido se torna mais alto, a minha cabeça explode,
baba escorre por minha boca. Perco os sentidos dos meus braços e pernas,
caio largado no chão sem conseguir me mover, entrando em estado de
latência, dominado pelo som horripilante. As horas passam lentamente sem
que eu consiga escapar, me arrependendo por intervir, eu nunca deveria ter
saído do quarto.
Não sei quantas horas ou dias se passaram. Estou definhando em
fome, sem conseguir dormir, bebendo meu mijo para conseguir sobreviver.
Como um cachorro largado, maltratado e sujo. Perdi as esperanças, aceitei
meu lugar de morte. Lambo a última gota de urina no chão, os lábios
rachados e sangrando. Bato a cabeça desabando contra o piso, não existe ar
para ser inalado.
Um som de tranca, a luz entra me cegando e o rosto do meu pai é a
primeira coisa que eu vejo.
— Vá direto se limpar e me encontre no escritório.
— Sim — um punhado de areia na garganta torna minha voz quase
inaudível — senhor.
Louis vai embora. Estico os braços tremendo, ansioso para sair do
inferno e com medo dele me jogar aqui novamente caso eu seja um mau
garoto. Caio, ao ficar em pé, forço o tronco, as pernas oscilando, reúno as
forças que me restam para sair de dentro do que agora sei que era o freezer da
dispensa. Desabo no chão como um saco de batatas.
Ouço um suspiro alto, encontro minha mãe me encarando da porta,
escondida. Ela verifica por cima do ombro antes de vir a mim. Alisa meu
rosto com os olhos irritados, o lábio cortado e um roxo em seu maxilar.
Queria ter forças para a tocar de volta, mal consigo manter o tronco erguido.
— Preste atenção, não temos muito tempo — a voz severa — nunca
mais faça o que você fez, não importa o quanto o Louis esteja me
machucando, eu te proíbo de vir a mim, entendeu?
Pisco concordando, os demônios continuam rastejando sobre a minha
pele, o zumbido fixo na minha mente, temo fazer qualquer coisa que possa
irritar o Louis e ele me castigue novamente com o freezer.
— A partir de hoje você não vai mais me chamar de mãe, somente de
Eleanor, a convivência que temos vai mudar Kai. Endureça seu coração como
farei com o meu, não nascemos para sermos felizes ou amados, é besteira
querer o que não podemos ter. Agora, vá encontrar seu pai, peça desculpas e
jure lealdade.
Pisco novamente, a deixo sem resposta. Meu pai costuma me castigar
quando sou um garoto malvado, eram somente tapas ou me erguer pelo
pescoço. Essa foi a primeira vez que ele conseguiu mexer com a minha
cabeça e me fazer desejar morrer. Não posso o desapontar novamente, não
quero voltar ao inferno com os bichos rastejando na minha pele e o maldito
zumbido.
É difícil ir para meu quarto. Arrasto o corpo pesado, cansado, faminto
e com sede para o banheiro, ligo o chuveiro e deito no chão deixando a água
lavar a pele. Abro a boca bebendo o que consigo até engasgar. Não posso
demorar, sem saber como encontro forças, levanto passando sabão, visto um
terno. Subo as escadas com dificuldade devido à perna machucada, um
degrau por vez até o escritório do meu pai, bato na porta, ele fala que posso
entrar.
Não ouso encarar meu pai, de cabeça baixa, fico de frente a sua
enorme mesa. Ele se mantêm calado, a caneta rabiscando é o único som
produzido no ambiente. O estômago ronca pela fome, aperto os olhos com
medo dê o irritar pelo som. Ele para de escrever, ouço o uísque sendo aberto
e despejado no copo. O medo dele me mandar de volta para o freezer me
mantém imóvel.
— Você sabe o motivo de ter sido castigado? — pergunta, a voz
grave, aperto as mãos para evitar os tremores.
— Sim — respondo, mesmo que ao fazer isso sinta a garganta sendo
cortada por pequenas agulhas — eu não podia o desafiar. Deveria ter ficado
quieto no meu quarto.
— Entenda uma coisa, Kai, só tive você porque meu pai me obrigou.
Preciso de um sucessor homem para herdar a posição e o nome dos Lucian na
Máfia Bianchi. Você vai crescer forte, um homem de honra sem nunca
esquecer que eu sou mais forte que você, poderoso e você nunca ousara me
contrariar, entendeu?
— Sim senhor.

Atualmente
Ouvi aquela frase por longos anos enquanto o Louis me torturava com
choques, espancamentos, queimaduras, a internalizando nos meus
pensamentos até me impossibilitar de conseguir respirar sem saber que eu sou
forte, mas não mais do que ele. Louis domina a minha mente e corpo com a
palma de sua mão, sinto uma corrente envolta do meu pescoço sendo puxada
sempre que ele deseja me controlar.
Os únicos momentos em que tive paz foi quando as meninas
nasceram, me trancar com elas no quarto e aproveitar minhas irmãs me deu a
esperança de um futuro melhor. Eu lutei para elas poderem existir, assumi um
alto risco, só não imaginei que pagaria o preço de uma forma assombrosa.
Josephine e Rebeca se odeiam, não consigo evitar que briguem
ferozmente uma com a outra. Não sei como me aproximar da Josephine e
após um tempo eu desisti. A irmã pela qual lutei por seu nascimento, amei e
dei carinho me odeia e se tornou a fonte do meu maior sofrimento. A outra é
meu único ponto de calmaria, mas somente quando não está brigando com a
Josephine. Eu não sei onde errei ou como consertar.
Minha vida se transformou em um verdadeiro inferno, maior que os
dias presos no freezer, sendo devorado por demônios e ouvindo o maldito
som agudo. Não tenho esperanças de que um dia encontrarei paz, estou
destinado a casar com Daisha Griffin, uma mulher fria e com sentimentos
negativos por mim. Se o casamento não der certo e o inferno continuar, não
vão mais existir razões para continuar existindo.
Casar com Daisha será a minha última aposta por uma vida em paz.
CAPÍTULO 1 DAISHA

Encaro meu corpo no espelho, o vestido azul-escuro com pequenas


pedrinhas de brilhante. O cabelo preso em um coque lateral abaixo da orelha,
a presilha de diamante brilhando. O brinco discreto, uma pulseira
completando o conjunto. Meus seios prestes a pular para fora do vestido me
deixa constrangida. Eu odeio que eles sejam enormes e chamem a atenção
dos homens.
Puxo o tecido do decote em V tentando cobrir a pele exposta. Hoje é a
festa de noivado da Emily com o Daniel. Eu queria poder ficar em casa,
sofrendo em paz com a cólica miserável atormentando o meu dia. As costas
doendo, as pernas latejando e o útero espancando meu ventre a cada
respiração. Tenho terríveis problemas de cólica devido à síndrome dos
ovários policísticos, o tratamento é feito com anticoncepcional, mas meu pai
não me deixa tomar.
Bellamy fala que anticoncepcional poderá me prejudicar a ter filhos.
Como se eu quisesse uma criança sendo gerada no meu ventre para viver no
inferno que é a Máfia. Se for uma menina será condenada ao meu estilo de
vida, impossibilitada de ouvir a própria voz, uma dama não tem vontade, só
precisa obedecer ao pai e marido. É a frase preferida da minha mãe.
Um garoto seria criado como os meus irmãos, cães de guerra prontos
para arrancar a cabeça um do outro a qualquer oportunidade. Dylan e Dante
ainda possuem um nível de amizade, baseada na obediência cega do Dante ao
Dylan ou ele sofre punições do mais velho. Eles vivem tramando para
derrubar o Daniel, o único que eu converso e gostamos um do outro.
Meus irmãos se odeiam e não se importam comigo. Minha mãe é
rígida e disciplinada, a dama perfeita a quem eu devo seguir. Meu pai o
importante consigliere da Máfia Bianchi. E eu sou a garota apagada, sem
grassa e de peitos grandes, obrigada a sentir cólicas horríveis devido a um
herdeiro inexistente.
A primeira pessoa a me enxergar foi a Hope, após seu casamento com
o Chefe Michael Bianchi ela se tornou a líder da Sociedade das Damas,
durante a primeira reunião das damas, minha mãe tentou me tornar o braço
direito da Hope na sociedade, a escolhida foi a Emily, sua amiga querida.
Porém, no dia seguinte ela me surpreendeu com um convite para um chá.
Só nós duas no lindo jardim da mansão, não conversamos sobre nada
em especial, apenas como a sociedade das damas funcionava. Ao ir embora
pensei que nunca mais receberia outro convite, acreditei que ela me achou
chata, mas minha surpresa veio com um novo chamado para outro chá da
tarde.
Emily, irmã do Chefe, e Josephine, filha do atual Subchefe,
participaram. As reuniões continuaram, eu assisti Hope se apaixonando pelo
Michael durante o casamento. Existia algo sombrio e triste rondando a Hope
quando ela chegou, de certa forma lembrava a mim ao encarar seus olhos
solitários. Aos poucos a paixão foi preenchendo sua alma, os risos dela se
tornaram mais suaves e alegres, suas falas cheias de vida.
E eu me vi envolvida por amigas que desejavam a minha presença e
ouvir o que eu pensava. Encontrei nelas um lugar seguro no mundo. Pela
primeira vez em 20 anos eu me senti querida. Foi difícil me envolver e
confidenciar meus segredos, mas aos poucos tenho melhorado e conseguido
me expressar mais. É árduo me abrir tendo sido criada para nunca dizer o que
sinto ou penso.
Josephine foi a minha maior surpresa entre as meninas. Minha mãe
sempre proibiu nosso contato depois do incidente com a Máfia Siciliana.
Josephine foi afastada da sociedade de damas, só retornou com o apoio da
Hope. Os boatos ainda são ouvidos pelos cochichos das senhoras que
desprezam a Josephine, mas eu sempre a admirei.
A coragem que ela teve me deu um pouco de esperança de que
podemos quebrar as correntes em nossos pulsos e sermos quem quisermos
nesse mundo de merda. Enquanto todos a rejeitavam, em segredo eu a
admirava, torcendo para que um dia pudéssemos conversar. Hoje somos
amigas e minha admiração só cresce. Enquanto Emily foca em casar com
meu irmão, a Josephine tenta ser livre ficando com o homem que ela ama.
Não quero me casar com Kai Lucian, o filho do Subchefe e meu
prometido.
Não quero ter filhos para serem criados nesse mundo de merda.
Eu quero ser livre, fugir para onde nunca poderão me encontrar, fazer
o que eu quiser.
Eu anseio viver!
— Daisha — a porta do quarto abre, pelo espelho encaro meu pai —
precisamos conversar.
— Sim? — não me viro para o encarar.
Bellamy me incomoda, estar na sua presença é ficar sem ar, como um
pássaro se debatendo em uma gaiola, louca para fugir. Ele entra no quarto
andando calmamente até mim. Em suas mãos vejo uma caixa preta de veludo,
ele ergue os lábios em uma imitação de sorriso ao abrir a tampa me
mostrando um colar delicado com um pingente de diamante triangular.
— Pensei em você quando o vi — pega o colocar pondo em meu
pescoço. Pareço um pinheiro de natal enfeitada.
— Obrigada — respondo neutra.
— Hoje você deve dançar com Kai Lucian. É um dia importante o
noivado do seu irmão Daniel com a Emily e em breve espero realizar o seu
com o Kai. Se aquele maldito velho do Louis Lucian colaborar, ele pensa que
pode ficar no cargo até a morte — rosna.
Fecho as pálpebras inspirando fundo.
Eu odeio o Kai Lucian, preferia me casar com um velho àquele
escroto de merda. Eu sempre odiei como os homens me tratam como um
pedaço de carne, mas detesto ainda mais a indiferença do Kai comigo. Para
ele eu não existo, nunca me dedica mais do que dois segundo da sua atenção,
eu ficaria aliviada se ele fosse um qualquer e não o meu prometido desde os
meus 4 anos.
Ele tinha a obrigação de ser diferente. Ao menos trocar palavras
amenas comigo. Kai faz eu me sentir insuficiente, insignificante e pequena.
Uma lembrança constante de como sou tratada nessa casa. Um objeto com
um útero para ter filhos, alguém sem vontade, força ou fala. Casar com o Kai
é uma extensão da minha prisão.
Ele é horrível com a Josephine, não duvido que me trataria da mesma
forma ao perceber que detesto a Rebeca e seus sorrisos falsos de boa moça,
ela nunca me enganou. Convivendo com a Josephine eu pude perceber que
sempre tive razão quanto aos irmãos. Dois malditos tratando mal uma
inocente.
Posso não receber castigos físicos, mas eu sei como é a dor de ser
invisível, abandonada e silenciada. Se o Kai ao menos me fizesse o detestar
por perceber que ele tem interesse em mim, mas nem isso, pois para ele eu
não existo. Estou sufocando cada vez mais nas paredes dessa casa e com o
destino que me aguarda nas mãos de um homem que não me quer.
— Posso tomar um remédio para cólica? Estou com dor. — Peço
recuperando a voz após os infinitos segundos presa em meus pensamentos.
— Peça a sua mãe, ela deve ter — beija meu cabelo — você está
linda.
— Obrigada.
Bellamy deve achar que eu gosto de ser presenteada com joias e de
seus elogios. Não significam nada para mim. A lembrança mais antiga que
tenho do meu pai é de quando eu pedi colo a ele por estar com medo dos
trovões e ele me mandou ir para o quarto, que uma menina da famiglia não
podia ter medo de algo insignificante como um trovão. Para mim, o céu
parecia cair. Nunca superei o medo de tempestade.
— Vamos — ele puxa minha mão como uma boneca.
— Sim, senhor — respondo sem vontade.
Na sala encontramos minha mãe Clarisse e meus irmãos Daniel,
Dylan e Dante. Não consigo chegar a minha mãe, sou puxada pelo meu pai
para o carro. Sento ao lado do Dante e Dylan, os outros vão no carro da
frente. Me encolho sentindo vertigens pela forte dor.
— Sente calor? — Dante pergunta — sua testa não para de suar.
Pego o lenço que ele me entrega limpando a gota de suor. Estou em
chamas com cada pedaço da minha pele dolorida, tremeliques atacam minhas
pernas e braços, os pressiono para que os outros não percebam meu tormento.
Travo o maxilar focando na respiração, meditando para esquecer a angústia.
— Diminua o ar-condicionado — Dante ordena.
— Obrigada — respondo baixinho.
Rezo para que Kai Lucian não queira dançar comigo hoje. Que ele
seja o escroto de sempre e me evite. Somente hoje eu preciso ficar invisível.
Sentar na mesa da minha família e não me mover pelas próximas horas
enquanto meu útero espanca meu corpo como punição por nascer mulher.
Chegamos a mansão dos Bianchi. Cada um segue seu rumo, eu fico
perto das escadas com a Hope e Josephine esperando a Emily descer. Dou o
meu melhor sorriso para disfarçar a tortura. Elogio as meninas e quando
Emily desce as escadas a abraço desejando felicidades para ela em sua união
com meu irmão mais velho.
Sigo com as mulheres para o salão de festas na mansão. Sem fazer
muito alarde me sento ao lado da minha mãe. Bebo um copo de água
tentando me distrair com algo. Meus olhos o capturam no segundo em que
ele passa pela porta do salão acompanhado do meu irmão.
Kai Lucian tem a barba negra rala, os lábios inchados contornados por
fios negros. O maxilar quadrado, o rosto retangular, os olhos escuros como a
noite, cílios mais longos que os meus. Sobrancelhas alinhadas e cabelo preto
arrumado pelo gel puxados para trás fazendo um pequeno topete.
Ombros largos e alto, todos os quatro membros do quarteto monstro
são enormes, um esquadrão de elite formado pelo Daniel, o Michael, o Kai e
o Black. Mas o Kai consegue se destacar devido aos braços fortes apertando
o terno, quase rompendo o tecido. Kai Lucian é como um demônio, bonito,
tentador e sedutor com um olhar dominante.
Seus olhos varrem o salão, o vejo piscando para a Patricia, uma prima
da Emily de 20 anos e casada. Antigamente existiam boatos de que o Kai e
ela tinham um caso, nada provado, mas o suficiente para fazer o pai dela
arrumar um casamento com um italiano mandando a filha para longe.
Ele encara cada uma das pessoas no salão, exceto a mim!
Eu sou a prometida dele!
Mesmo o Black que foge de casar com a Josephine a cumprimenta
com um aceno de cabeça. Michael só consegue encarar a esposa e alisar sua
barriga de grávida, completamente apaixonado. Meu irmão não sai de perto
da Emily marcando território, mesmo negando que a ama, ele não consegue
ficar longe.
E eu continuo excluída, ignorada para todos, até mesmo pelo homem
que deveria me querer. Escondo os dedos debaixo da mesa, encarando meu
prato. Mordo os lábios com uma nova pontada de cólica atravessando como
uma agulha meu interior. Pressiono a ponta das unhas criando outro ponto de
dor tentando me distrair da tortura causada por meu corpo.
Por que eu sou invisível?
Ouço o Michael falando alguma coisa, não presto atenção a nada
acontecendo ao meu redor. Uma salva de palmas e percebo que o Daniel
pediu a Emily em casamento. Ele a segura nos braços a puxando para uma
dança. As pessoas levantam para cumprimentar o casal com o fim da valsa,
minha mãe tenta me levar consigo, recuso ficando sentada.
Uma nova música começa e os casais começam a se reunir. Terei de ir
para a pista com o Kai. Levo a mão a testa enxugando o suor com o lenço
dado pelo Dante. Giro o tronco quase morrendo de aflição, as pernas
tremendo como vara verde. O maldito vem na minha direção com tédio nas
expressões.
Se ele não quer me tirar para dançar, deveria ir procurar outra e me
deixar em paz sofrendo no meu canto. Desgraçado escroto!
— Boa noite, Daisha — ele me cumprimenta estendendo a mão —
vamos dançar.
Não é uma pergunta, ele sabe que não tenho escolha.
Reviro os olhos pela pontada na coluna, apoio a mão na mesa me
apoiando para ficar em pé. As pessoas devem imaginar que reluto em dançar
com ele, a verdade é que estou quase desmaiando de dor. Sem ter como dar
um passo nego com a cabeça, não consigo.
— Desculpe, mas não posso — respondo. Aperto as mãos ao redor do
corpo.
Sinto os olhares das pessoas focando em mim, é desconfortável ser o
centro das atenções. Todos vão falar que fui indisciplinada ou rebelde, que
me corrompi ao andar com a Josephine. Nenhum deles faz ideia da dor que
estou sentindo e o quanto quero ir embora. Envergonhada por ser tratada
como um animal pronto para o abate.
— Daisha, é somente uma dança — ele estende novamente a mão, o
rosto impassível, não o afeta a minha recusa. — Venha comigo — se estica
agarrando a minha mão. A puxo perdendo a força nas pernas caindo na
cadeira.
— Desculpa, eu não vou.
— Daisha querida — minha mãe surge pondo a mão no meu ombro
— o que você está fazendo? Chamando a atenção desnecessariamente, vá
agora dançar com o filho do subchefe.
— Não consigo — sussurro.
— Querida — Bellamy sorri envergonhado para os convidados —
está tudo bem?
— Não — tento soar sincera, a voz treme — lembra o que te pedi
antes de sairmos? Preciso de um…
Ele franze a testa estranhando as palavras ditas por mim. Suspiro com
vontade de chorar, um bolo preso na garganta me sufocando. Eu quero sumir
e nunca mais aparecer diante dessas pessoas. Kai desaparece com o pai entre
os convidados, aperto o tecido entre os dedos, fecho as pálpebras controlando
as lágrimas formadas pela tristeza do meu pai ter esquecido o pedido que fiz,
de que a minha dor não significa nada para ele.
— Daisha Griffin — a voz chameja do meu pai tremendo meu corpo
frágil — eu não te criei para ser uma dama insolente! Pare de fazer sua
família passar vergonha, se recomponha e dance com seu prometido!
Mordo os lábios, o tremor nas pernas aumenta. A vontade de
desaparecer triplica ao ser repreendida na frente dos membros da famiglia e
convidados. Estou em um maldito inferno sem ter como acorda. Inspiro
fundo fazendo esforço para controlar meus membros, diminuir os calafrios e
a dor latejante nas pernas.
O sermão continua por longos minutos até ele se sentar. Ignoro todas
as suas palavras, ouvir a decepção do meu pai torna pior o sentimento de ser
indesejada e uma decepção para a minha família. As pessoas balbuciam sobre
o meu comportamento. Emily e Daniel retornam sentando na mesa do Chefe,
ela me encara com pesar.
As portas do salão são abertas e Kai caminha furioso na minha
direção. Não vou ter escapatória, para ele ou nenhum dessas pessoas importa
o que estou sentindo. Eles pensam que sou uma rebelde ingrata desafiando os
pais, ninguém se preocupa com o meu bem-estar. Todos só sabem brigar
impondo suas vontades.
Kai para na minha frente sem dizer uma única palavra, agarra meu
braço com força, a pele sensível lateja pela brutalidade. Gemo ao ser erguida
com rapidez e arrastada como um saco de batatas para o centro do salão. Ele
rodeia uma mão no meu quadril dolorido e a outra aperta firme a minha
palma. Um incêndio em seus olhos negros.
Foco a visão em sua gravata, mordendo os lábios para conseguir
acompanhar os passos de dança. Tenho medo de ter sujado a roupa de
sangue, as bochechas assumem um tom vermelho enquanto o corpo crepita
com calafrios horríveis.
— Nunca mais repita o que fez hoje — ele rosna em meia voz.
— Estou com dor Kai — confesso baixinho, por um triz de chorar —
não o recusei por maldade.
Talvez se ele me entender, sua raiva possa diminuir e ele seja mais
gentil em seus movimentos.
— Alguém te bateu? — Puxa meu corpo colando nossos troncos me
forçando a o encarar, as feições duras enraivecidas.
— Não. É cólica…
— Deixe de ser mimada. — Ele corta a minha fala. — Você não sabe
o que é dor de verdade, se deixar abater por uma idiotice dessas e armar uma
cena. Porra, Daisha, você não tem noção da merda que fez.
Meu coração aperta percebendo não existir esperanças para o meu
futuro. Meu prometido é um completo babaca, nunca entenderá a dor que me
assola ou o meu desejo em ser livre. Kai será como o meu pai, nunca me verá
de verdade para além do proposito de ter filhos.
A mágoa assolando meu peito é mais forte do que a dor percorrendo
meu corpo. Não pronuncio uma única palavra pelo resto da noite. Sofro
quieta no meu canto. Ao chegar em casa me tranco no meu quarto deslizando
contra a porta liberando as comportas do choro travado.
Não posso continuar essa vida. Pressiono o ventre encolhida no chão,
chorando em silêncio. Vou me recompor, ficar forte e fugir. Nem que eu
morra no processo ao cometer traição por escapar, não permitirei que
continuem me tratando como um nada.
CAPÍTULO 2 KAI

Cólica?
Foi esse o maldito motivo que me fez ser arrastado pelas escadas da
mansão dos Bianchi e levar uma surra do Louis como punição por não
conseguir fazer minha prometida dançar comigo.
Daisha só pode estar brincando com a minha cara. Inferno!
A vontade que eu tenho é de envolver as mãos em seu altivo pescoço
branco e apertar até o meu ódio passar. Ela achar uma cólica o fim do mundo,
é por não conhecer a tortura de ter os pulmões chutados como um maldito
animal e ser obrigado a não transparecer nada. Cada passo dado durante a
dança significa uma pressão diferente me impedindo de respirar.
Estou com tanta raiva dela que mal consigo raciocinar. A música
acaba e a deixo ir. Sento ao lado do Louis sendo atingido pelas ondas de ódio
emanando dele. Em casa a punição vai continuar, não posso permitir que a
Daisha permaneça me desafiando. Já bastam os castigos causados devido à
Josephine.
— Kai — Rebeca me chama, encaro minha irmã mais nova, ela tem a
testa franzida e os lábios pressionados, preocupada — tudo bem?
— Não — suspiro, não preciso esconder as agressões da Rebeca, ela
sabe o inferno que vivo desde os meus 29 anos.
— Sinto muito — aperta minha mão, escorando a cabeça no meu
braço em um pequeno carinho.
Suspiro cansado da merda da minha vida, punições, tensões e brigas
constantes. Os únicos segundos em que tenho paz são quando estou na arena
lutando até a morte, fodendo uma boceta quente ou sentindo que ao menos a
Rebeca me ama. Tenho aguentado o inferno por causa dela, sem a Rebeca ao
meu lado eu teria desistido da vida há muito tempo.
Hoje não é dia de luta e não conseguirei foder ninguém com as
costelas em chamas, só me resta a Rebeca para me fazer esquecer o maldito
mundo e rezar para que o Louis pegue leve na punição.
Eu me odeio por não conseguir o enfrentar, o desgraçado enraizou
suas garras no fundo da minha mente, causando paralisia nos meus músculos
ao estar em sua presença. Eu não temo nada, exceto Louis Lucian, meu
maldito pai.
Michael Bianchi é o homem que eu mais admiro, ele sofreu nas mãos
do Andrew desde que pequeno, passou por atrocidades e teve de assistir aos
irmãos e a mãe sendo torturados sem poder fazer nada. Michael não se
acovardou, após o ano sombrio obedecendo ao Andrew como um cachorro
ele acordou. Voltou mais forte e letal, revidando na mesma moeda.
Eu queria ser como o Michael, ter a coragem necessária para enfrentar
o Louis, erguer a mão me defendendo e não entrar no quarto de tortura com
minhas próprias pernas sabendo o que me aguarda. Eu sou um covarde de
merda, a vergonha por não conseguir me libertar ou revidar me impede de
pedir ajuda aos meus amigos, compartilhar as dores que me aflige como eles
fazem.
Se não fosse pela Rebeca, eu não teria ninguém.
Os anos em que tive as duas, Rebeca e Josephine, foram os melhores.
Apesar das torturas, eu conseguia sorrir devido a elas. Ambas pequenas,
correndo para mim, rindo, brincando no quarto de jogos, com bonecas e tudo
o que elas queriam. Eu fui feliz até ambas atingirem a adolescência e as
disputas começarem.
Não consigo esquecer o dia em que a Josephine cortou o braço da
Rebeca comigo na cozinha. Eu passei uma semana sendo machucado como
punição, ao sair Rebeca veio a mim trazendo conforto, e Josephine me
expulsou da sua vida quando a procurei para entender o motivo da briga. Dói
como o inferno relembrar aquele dia.
Eu não sou um santo, depois de um tempo com a situação se
agravando eu desisti de lutar por ela. Josephine é uma tempestade
incontrolável, o amor se transformou em mágoa, o carinho uma mera
lembrança. Hoje anseio mais do que nunca que ela case e vá embora,
almejando ter paz.
Não sei se será possível com Daisha Griffin como minha esposa.
A garota sempre foi calma e contida, mas tinha de escolher justo hoje
para se rebelar devido a uma maldita cólica. Sentada ao lado da família, ela
me ignora, encarando o prato. Daisha é linda, apesar de querer a esganar
anseio na mesma intensidade me enfiar entre suas pernas e sentir o calor da
sua boceta.
Os olhos azuis, quase transparentes, as bochechas redondas em
perfeita harmonia com o rosto delicado. O nariz afilado e a boca rosada
pequena como a testa coberta por uma leve camada do cabelo preto amarrado
na lateral atrás da orelha fina e vermelha. Daisha sempre teve o rosto de uma
boneca, linda, uma tentação para qualquer homem.
Só passei a reparar na Daisha nos seus 18 anos, os peitos cresceram, a
cintura afilou e a bunda arrebitada implorava pela minha atenção. Eu queria
ser respeitoso com a irmã do Daniel, por isso, nunca demonstrei como a
pequena boneca me atinge com seus olhos transparentes e inocentes.
Ela ficaria linda se perdendo na luxúria do sexo, o rosto vermelho, a
boca aberta gemendo enquanto a fodo com força. Fantasias com a Daisha me
deixa de pau duro, nem a raiva pela punição que sofri consegue aplacar a
vontade que tenho de a fazer minha. Precisei de muito esforço ao longo dos
anos para que ninguém notasse como eu a quero. Tenho medo do Louis
perceber e a tirar de mim. Daisha é meu pequeno segredo.
Eu tinha planos de provar da Daisha essa noite, a levar para um dos
corredores e ceder a tentação de devorar sua boca. Mas a desgraçada tinha de
estragar tudo com sua maldita rebeldia. Sempre admirei como ela é quieta e
contida, me enlouquecendo de vontade de deflorar sua inocência.
Não suportarei outra Josephine em meus dias e Daisha aprenderá a se
comportar e me respeitar antes de casarmos.
A festa chega ao fim e gradualmente os convidados vão embora.
Busco pela Josephine que conversa com o Black, meu amigo tenta
demonstrar interesse, mas percebo a ansiedade dele pelo fim da conversa.
Levanto disposto a chamar minha irmã, sou impedido por uma mão agarrada
na minha.
— Deixa ela — Rebeca fala — você sabe que ela gosta do Black, se
ele desenvolver sentimentos por ela poderão casar e ela nos deixará em paz.
Sento, é estranho ver a Rebeca intervindo pela Josephine.
— Aconteceu alguma coisa?
— Nada de mais — suspira — só não aguento mais as brigas com a
Josephine — encara o antebraço com uma pequena cicatriz devido ao
incidente com o abajur — se ela for para Las Vegas você será somente meu
— sorri, o rosto se iluminando — e as brigas sessarão, assim como as
punições — sussurra a última parte.
Seguro seu antebraço alisando a cicatriz. Há uns meses, estava em
uma obra da construtora da minha família, recebi a ligação da Rebeca
chorando falando que foi atacada pela Josephine. Cheguei a tempo de ver a
Hope indo embora, na sala a Rebeca era atendida pelo médico. Abracei
minha irmã escutando sobre a briga com a Josephine e o descontrole da mais
velha ao arremessar o abajur na Rebeca.
Coloquei a Rebeca na cama e fui para a sala das câmeras, precisava
ter certeza do que aconteceu. A discussão inicia com Josephine agitada
mostrando o celular a Rebeca que dá de ombros ignorando a Josephine. Essa
ergue a mão batendo na mesa, Rebeca não dá atenção e Josephine continua
aos gritos.
Na sala ambas passaram a berrar uma com a outra e a avançarem para
brigar. Até Josephine pegar o abajur e jogar na Rebeca, que usou os braços
para se defender. Ela cai no chão por cima do braço, levanta com o corte
aberto e o abajur em pedaços. Eleanor chega intervindo e levando a Josephine
para o quarto onde foi punida enquanto Rebeca esperava o médico na sala.
Hope aparece, não consegui ouvir, somente ver o jeito como ela
manda nos meus pais. Antes que eu chegasse na Josephine, Louis me parou
no corredor, na sala de tortura me contou o que aconteceu enquanto queimava
a minha perna da panturrilha a coxa por descumprir minha promessa de
manter as meninas controladas e ele ter sido obrigado a escutar ordens da
Hope.
O castigo durou duas horas, ele não podia me ferir muito devido ao
convite que a Hope fez para jantarmos em sua casa. Se ela percebesse a
Josephine machucada o Michael interveria, acho que o Louis pensou que o
mesmo se aplicava a mim.
No dia seguinte caminhava mancando para meu quarto, encontrei a
Josephine no corredor. Ela me encarava com ódio e eu só tinha vontade de
gritar com ela. A pele queimada nublava meus pensamentos enquanto
discutíamos. Se ela não tivesse atacado a Rebeca, a Hope nunca interveria
dando ordens aos meus pais e eu não teria sido queimado durante a noite.
— Andem — Louis branda me tirando dos pensamentos.
Levanto segurando a Rebeca pelo braço, com um sinal de cabeça para
o Black ele manda minha irmã vir conosco. Josephine me encara com
desprezo e sai na frente. Nos carros meus pais vão em um, vou no outro com
as meninas. Sento entre elas para evitar confusões.
— Kai — Josephine me chama.
— Sim?
— Por que você arrastou a Daisha? Não precisava a tratar daquela
forma.
— Daisha desafiou o filho do subchefe na frente da famiglia e
associados. Não tive outra alternativa.
— Você podia ao menos ter perguntado o motivo dela recusar. Daisha
não é de agir com rebeldia.
— Ela estava com cólica — aperto os punhos — um motivo
insignificante.
— Você é homem — cruza os braços — nunca entenderia como uma
mulher com cólica sofre.
— Besteira — Rebeca se pronuncia — ela podia ter tomado um
remédio, nenhuma cólica é forte o bastante para impedir de dançar.
— Cala a boca vadia — Josephine rebate.
— Pare, agora — peço encarando o rosto debochado da mais velha.
— Você que deveria parar de ser um escroto. Se tratar a Daisha como
um homem das cavernas, ela só vai te odiar. Seu babaca.
— E você não deveria se jogar para o Black como uma vadia
desesperada.
Nos encaramos em chamas, prontos para arrancar a cabeça um do
outro. Josephine rosna antes de virar o rosto para a janela.
— Kai — Rebeca chama apertando minha mão — deixa ela.
— Cala a boca sua duas caras. — Josephine branda.
— Vai se foder, sua idiota — Rebeca retruca.
— Parem vocês duas — grito. Exausto da maldita noite — não estou a
fim de aguentar outra discussão.
Elas se calam, chegamos a residência dos Lucian e Josephine não
perde tempo indo se trancar em seu quarto. Rebeca tenta me convencer a
assistir filme com ela, mas recuso sabendo o inferno que me espera. Se eu
não for para a sala de tortura, Louis virá atrás de mim e será pior.
Caminho como um condenado descendo as escadas para o porão. Bato
na enorme porta de chumbo, ela abre, Louis me encara irritado, aponta o
gancho pendurado no teto e as correntes no chão. Retiro as roupas preparando
minha mente para o que virá. Pelado prendo as algemas nos pulsos e pulo
prendendo a corrente no gancho, ficando suspenso no ar.
— Sabe a coisa que eu mais odeio, Kai? — Louis pega um cano de
metal com pregos na ponta.
— Desobediência — respondo suando frio.
— Nos tínhamos um acordo, Kai, por anos você vem descumprindo
deixando as meninas fazerem o que quiserem. Mas o que aconteceu hoje é
inadmissível — aperta o cano, engulo em seco prendendo a respiração me
preparando para o golpe — estou sofrendo pressão para deixar meu cargo
para você e na primeira oportunidade me humilha sendo incapaz de dançar
com uma mulher, a maldita da sua prometida.
— Eu sinto muito — peço baixinho.
— Qual é a coisa que você nunca deve esquecer?
Estremeço pelo som do vento sendo cortado, os pregos entrando na
minha pele, a carne ardendo ao ser rasgada, os pregos saindo e voltando com
mais força.
— Você é o meu dono — arfo apertando os punhos e os dedos dos pés
controlando a dor. Tento relaxar os músculos do abdômen, a tensão só piora
ao receber os golpes.
— Você — golpeia o outro lado, pendo a cabeça para trás sufocando
um grito.
Louis pode me forçar a responder suas perguntas de merda, mas nunca
deixo escapar um único gemido. Os anos de espancamento me ensinaram a
aguentar calado, a não dar ao Louis o gosto de me ouvir sofrer.
— É um maldito cachorro fraco que não merece o meu cargo.
A cada palavra o cano me acerta em lugares diferentes. Os braços
ficam dormentes queimando por segurar meu corpo se movendo no ar ao ser
lançado de uma ponta a outra pelo impacto. Trinco os dentes com tanta força
ao ponto de doer a mandíbula e causar vibrações nos meus tímpanos ao ser
atingido na cara.
O cheiro do meu sangue escorrendo, pingando no chão, o rosto odioso
do Louis enquanto esbraveja ao me acertar cada vez com mais força. Ele
golpeia minha costela no mesmo lugar sete vezes seguida. Estou a um
segundo de desmaiar, me forço a ficar acordado, se perder os sentidos serei
trancado no freezer. Eu faço de tudo para não ser prezo naquele lugar de
novo.
— Lembre-se Kai — apoia o cano no chão limpando o rosto suado. O
sangue escorre do canto da minha boca enquanto tento ficar acordado —
você pode ser forte, mas nunca será mais do que eu.
Sou um covarde que vem com o rabo entre as pernas para ser
torturado, incapaz de controlar as irmãs e com uma noiva que me detesta.
Aperto os punhos, conforme as horas vão passando e o cansaço me
dominando. Sinto a costela rachando, perfurando meu pulmão. Acho que
perco os sentidos em algum momento, não apago, continuo consciente com o
mundo paralisado.
— Não quero te ver pelos próximos dias, seu bosta.
Louis, banhado pelo meu sangue, cospe no chão antes de ir embora.
Vim até aqui com as minhas pernas e devo sair com elas. Sozinho as
malditas lágrimas descem, faço força com os braços, agarro o ferro que
sustenta o gancho, erguendo o corpo o suficiente para soltar a corrente.
Desabo no chão gemendo pelo impacto. Não consigo respirar, puxo o ar em
um gemido pela boca, o sangue saindo por meus lábios.
Os braços tremem ao me colocar ajoelhado, pego a chave da algema
soltando os pulsos enquanto tento respirar. Devo ser rápido, se em 10
minutos eu não rastejar para fora vou ser trancado no freezer. As paredes se
fecham ao meu redor, pisco tremendo ao vestir minhas roupas.
Enxergo somente com um olho, o outro latejando em dor, pronto para
explodir a qualquer segundo. O maxilar dolorido, o corpo em chamas.
Cambaleando, bato contra a porta de chumbo, o espaço cada vez menor,
tornando sufocante ficar aqui dentro. Puxo a fechadura saindo da sala,
engatinho pelas escadas desesperado para conseguir respirar novamente.
Vou para a garagem, pego a chave da moto um modelo BMW S 1000
RR preta com dourado e subo apoiando o peito no tanque. A vista fica turva
ao ligar, aperto o botão abrindo o portão e saio pelas ruas do complexo.
Quase bato em um poste, angustiado pelos machucados em todos os cantos.
Cuspindo sangue ao entrar nas ruas de Nova Iorque sem saber para onde ir.
Preciso de um lugar calmo para cuidar dos ferimentos.
Tenho vertigens e sou obrigado a parar várias vezes vomitando sangue
pelas calçadas. É um milagre eu conseguir chegar a construtora sem
desmaiar. Arrasto meu corpo para a minha sala, tem um kit de primeiros
socorros aqui, deito no sofá lutando para conseguir respirar, não enxergo
nada na minha frente.
Porra, estou morrendo.
Constatar que esses são os últimos momentos da minha vida aciona o
desespero na minha mente. Puxo o celular do bolso da calça, as mãos
vermelhas, a tela manchada e a vista quase não enxergando. Clico nos
contatos de emergência, quem poderia me ajudar agora?
O aparelho cai antes que eu decida para quem ligar, tusso percebendo
o quão patética tem sido a minha vida. A aflição assola meu peito, mágoa por
não conseguir ter mais um relacionamento com minhas irmãs,
arrependimento por gastar meus anos brigando com a Josephine, medo por
deixar a Rebeca sozinha com a minha morte.
Remorso por tratar a Daisha como o Louis faz comigo, não me dando
opção e fazendo pouco caso do que sinto. Eu sou um maldito desgraçado que
merece a morte, chega de causar sofrimento para a minhas irmãs. Não vou
condenar uma garota inocente a viver ao meu lado.
Aceito a morte como o fim da minha jornada de merda.
Eu não quero continuar sozinho, é meu último desejo egoísta. Minha
mão cai batendo no chão, agarro o celular discando o número do Daniel.
— Oi — Daniel atende, engulo em seco para conseguir responder.
— Eu to morrendo — tusso.
— Onde você está? — pergunta ansioso
— Na construtura — a costela acerta meu pulmão, engasgo me
encolhendo em desespero — não chama ninguém, só venha para cá.
Se o Louis descobrir onde estou, não vai permitir que eu morra em
paz. Quero desaparecer ao lado de um amigo. Estive sozinho por anos,
sufocando todas as merdas dentro de mim. Ao menos no meu leito de morte
quero que seja do meu jeito.
— Como não? Você está morrendo, porra. Estou chegando.
— Por favor, Daniel, não traga ninguém com você.
Não escuto sua resposta, a mente nubla me jogando no esquecimento.
Não acredito que depois de tudo morrerei sozinho.
Se eu sobreviver a essa merda, juro que farei as coisas diferentes. Vou
lutar para ser feliz.
CAPÍTULO 3 KAI

Acordo com o som do portão abrindo, não consigo respirar. Levo a


mão ao rosto arfando, sufocando, puxando o máximo de ar que consigo para
a boca. Ouço os passos do Daniel pela construtora chamando meu nome, com
esforço respondo.
— Aqui.
Daniel paralisa ao me encarar, imagino o estado do meu corpo
detonado. Seguro as costelas tentando estancar um pouco do sangue e manter
o osso da costela longe do meu pulmão. É difícil para caralho respirar sem
conseguir expandir o órgão devido as pontadas incessantes.
— O que aconteceu? — Questiona ajoelhando ao meu lado, acho que
ele tem medo de me tocar.
— A sua irmã — não sei porque caralhos a culpo.
Engasgo com o pulmão perfurado novamente. Daniel segura meu
pescoço me ajudando a inclinar para a frente, uma péssima ideia. Grito em
agonia, aperto seu ombro rangendo os dentes. Ele me deita no sofá abrindo
minha camisa.
— Quem fez essa merda com você e não diga que foi a Daisha. —
Branda.
— A culpa é minha. — Reviro o olho bom em um acesso de tensão
muscular — Eu vou morrer, Daniel.
— Não vai, porra. Vou te levar agora para o hospital no complexo.
— Não — agarro seu punho com medo do Louis saber que deixei
verem as agressões — se você fizer isso, ele me mata. — O desespero de
estar no abismo da morte me impele a confessar.
— De quem diabos você está falando? Foi o seu pai? Eu o vi te
batendo na escada — gemo envergonhado por ser flagrado — acho que tem
um osso perfurando o seu pulmão. Você precisa de tratamento.
— Eu só não queria morrer sozinho — aperto sua mão, a vista
escurecendo — fica aqui mais um pouco.
— Você não vai morrer, caralho!
— O quão patético eu sou? — divago delirando — não consigo
controlar a minha irmã e agora a minha noiva me humilhando na frente de
todos. O Louis tem razão, eu sou um fracasso como homem.
— Para de falar isso e me conta o que aconteceu.
— O mesmo de sempre. Josephine apronta e eu sou castigado por não
a controlar. Daisha se recusa a dançar comigo, eu sou punido por ser um
fraco e não forçar minha noiva ao que eu quero.
— Foi o Louis que fez isso com você?
— Sim — suspiro fechando o olho, uma dormência assolando meu
ser.
Morrer agora acabaria com todo o tormento, não estou sozinho, aperto
a mão do Daniel. Posso partir em paz.
— Preciso de um hospital neutro para levar o Kai e que possa o operar
agora. — Encaro o Daniel o vendo ao telefone
— Não conta — peço desesperado. Preciso morrer em paz.
— Um acidente de moto — mente. — Não tenho tempo, Michael —
grunho com uma fisgada mais forte — Certo. — Daniel desliga.
— Vai doer e você precisa ser forte.
Não tenho chance de o responder. Daniel passa o braço por meus
ombros e o outro no meu quadril me deixando deitado sobre o lado bom.
— Deixa eu morrer, Daniel — imploro cansado de continuar lutando
— eu não aguento mais essa merda, só me deixa, porra.
Lágrimas grossas escapam do meu olho bom. Já não sei mais se são
provenientes da dor na minha alma ou pelo corpo estourado de machucados.
Eu só quero que essa merda acabe. Nem que para isso eu tenha de morrer.
— Um inferno que eu deixaria, você ainda vai viver muito, caceta!
Choro por sua determinação em me salvar.
Eu nunca tive ninguém lutando por mim, Rebeca podia enxugar
minhas lágrimas e limpar meus machucados, mas nunca esteve ao meu lado
nas batalhas. Josephine passou a ser sinônimo de dor e tormento sempre que
cruzamos o caminho um do outro.
Na beira da morte eu sou tratado com carinho pelo Daniel ao tomar
cuidado em me colocar em pé apoiando meu lado bom contra seu corpo
enquanto caminha pelo corredor. Ele me faz desejar continuar vivo, ganhar
mais um pouco do calor reconfortante de ser cuidado e protegido.
Daniel me coloca deitado no branco de trás do seu carro, assume o
volante e sai cantando pneus. Estou banhado em sangue devido aos
machucados e da tosse incessante torturando meu pulmão e costelas. A mente
desliga várias vezes até chegarmos ao hospital e uma equipe de médicos me
carregar na maca.
Desmaio.
Acordo com um irritante bipe perto da minha cabeça. Analiso o
ambiente branco com móveis de cor madeira, Daniel deitado em um sofá.
— Você me trouxe para um hospital, porra — rosno o acordando.
Ergo os ombros precisando me sentar, Daniel é rápido ao apertar
minha clavícula me empurrando contra a cama, me encara de sobrancelhas
erguidas, os olhos azuis banhados em preocupação. Acalmo a raiva ao
lembrar o que passei na noite passada. Com a ajuda do controle da cama, ele
me põem sentado confortavelmente.
— Calma, você passou por uma cirurgia de remoção da costela e de
sutura do fígado para controlar uma hemorragia.
— Como diabos eu vim parar aqui? — Pergunto meio confuso com as
lembranças
— Lembra de me chamar? — confirmo — liguei para o Michael
pedindo ajuda e ele me mandou te trazer para cá. Ele e o Black vão cuidar da
nossa ausência para que você possa se recuperar em paz.
— Tem certeza de que não vão saber que estou aqui? — Só vou
conseguir relaxar ao ter a confirmação de que o Louis não vai me achar.
— Sim, agora, me conta o que aconteceu? — Pede suave.
— Merda, não quero fazer isso — fixo a visão nas minhas pernas —
os outros dois sabem o que aconteceu, vão querer respostas também.
— Sei que é difícil se abrir — aperta meu ombro me fazendo focar
nele — Acho que mais do que ninguém compreendo como você deve se
sentir. O medo que trava a garganta na hora de falar, mas nós somos seus
amigos Kai, passamos por um furação de raiva juntos todas às vezes em que
o Michael, Matthew e Emily eram machucados. Queimaremos no inferno ao
seu lado se isso fosse te manter seguro, leve o seu tempo, mas deixe a gente
te ajudar.
Eu sempre tive eles, mas o medo me impedia de pedir ajuda ou
conforto. O choro atravessa meu dolorido peito silenciosamente, irrompendo
em soluços difíceis de controlar. Daniel me puxa para um abraço, aperto suas
costas querendo me fundir a seu corpo e esquecer a merda que é a minha
vida. Grito o sofrimento sufocado por anos.
Eu quero me abrir, encontrar conforto de verdade e uma solução para
o fim do inferno em que vivo diariamente. Aceno em positivo indicando que
pode ligar para o Black e Michael. Vou contar a verdade sobre a minha vida
para eles, nem que precise arrancar o maldito medo que me manteve em
silêncio por anos com as mãos.
Michael atravessa a porta me puxando para um abraço. Escoro a
cabeça em seu peito suspirando, ainda em meio aos resquícios do choro.
— Porra, Kai. Se eu soubesse o que esse maldito fazia com você o
teria feito sumir como fiz com o Andrew. Por que não se abriu conosco?
Tenho vergonha, Michael sempre foi meu herói, um exemplo que eu
queria seguir. O ver preocupado comigo traz paz e constrangimento.
— Você e sua família já tinham as suas merdas, não queria trazer mais
problemas. — Conto uma meia verdade.
— Todos carregam as suas dores, Kai — Black se pronuncia —
tivemos a sorte de termos nos encontrado e construído uma amizade sólida.
Pode ter demorado para percebermos o que acontece com você, mas estamos
aqui agora, conversa com a gente.
Não é culpa deles não notarem, eu escondi.
— Confie em nós — Daniel pede — vamos te ajudar.
— É tudo muito fodido — tomo coragem para falar, soluçando — já
faz anos que essa merda acontece — a voz do Louis penetra meus
pensamentos, tremo com medo dele aparecer para me punir — eu tenho
muito medo do Louis — consigo dizer em meia voz — não posso fazer isso.
Se ele descobrir, não, não posso falar a verdade.
— Ei — Michael aperta meu rosto em suas mãos, me forçando a
encarar o carinho em suas feições — tudo bem, faça como você achar
melhor, independente do que escolher, vamos continuar do seu lado.
— Isso mesmo — Black concorda — se quiser, a gente bola uma
forma do Louis morrer.
— Vamos adiantar o casamento — Daniel sugere — tornar o Kai o
subchefe o mais rápido possível. Vai fazer com que ele saia da casa do pai e o
Louis perca o poder sobre ele.
— Essa merda não mudaria com a troca de poder — levo o dedo a
cabeça, tremendo em medo — ele conseguiu se enraizar aqui dentro. É culpa
minha ser um fraco que não consegue controlar as irmãs, sempre que aquela
maldita apronta, causa confusão e briga com a Rebeca, a Josephine é
castigada, mas o Louis faz dez vezes pior comigo.
Desmorono na frente deles lembrando de todas as punições e castigos
que levo desde os 7 anos quando fiquei prezo pela primeira vez no freezer. O
nariz entope, a boca dormente e a visão embaçada pelas lágrimas abundantes.
O peito apertando a cada respiração, a dor explodindo pela primeira vez.
— Quando as agressões começaram? — Michael pergunta suave.
— Piorou quando eu tinha vinte e nove anos, na primeira vez que a
Josephine e a Rebeca brigaram quando adolescentes. Tentei separar a
confusão, mas a Josephine pegou uma faca no balcão e cortou o braço da
Rebeca na minha frente. Louis viu o que aconteceu e como não consegui
impedir, passei uma semana preso sendo espancado — suspiro engolindo um
terço do choro — e isso foi só o início.
— Piorou? — Black se aproxima com receio — ele já te agrediu de
outras formas?
Cala a boca Kai. Você é um fraco, covarde, nunca poderá pedir
ajuda, ninguém te salvara de mim. Eu sou o mais forte que existe, fique
quieto!
A voz do maldito ressoa nos meus ouvidos querendo me impedir de
relatar as agressões.
— Psicologicamente e com choques elétricos desde que eu me
entendo por gente, a voz do Louis foi impregnada controlando cada um dos
meus movimentos — aperto a cabeça tentando expulsar a voz do demônio —
eu tenho de ser forte e nunca esquecer que ele é mais do que eu. Sou um
fraco quando não consigo controlar minhas irmãs, a culpa é toda minha.
— Você já tentou falar com a Josephine? — Black questiona — ou a
Rebeca sobre as brigas.
— Josephine não me escuta, aquela maldita. Por um tempo eu tentei
dialogar sem demonstrar o que acontecia comigo, mas a desgraçada sempre
revida, causando mais destruição com suas atitudes, Rebeca é a única que me
compreende.
É mais fácil dialogar com eles agora que sabem da pior parte. Eles não
vão me denunciar, meus amigos são um lugar seguro.
— Por isso ela é a sua princesa — Daniel aponta.
— Sim — suspiro exausto — ontem, após a Daisha se recusar a
dançar comigo, Louis me fez deixar o salão com ele, nas escadas me deu uma
surra para aprender a deixar de ser fraco com mulher. Por isso eu a arrastei
para a pista, mas não consegui escapar da agressão em casa, a disciplina com
o cano de metal.
Receber o conforto do Daniel, faz eu me sentir mal pelo jeito que
tratei a Daisha.
— Desculpe pela forma que tratei a sua irmã, não quis ser rude com
ela.
— É tudo muito fodido — passa os dedos no cabelo — Vou conversar
com a Daisha para ela pegar leve. Não sei o que acontece com ela, nunca foi
rebelde.
— Não! — peço angustiado. — Eu tenho de resolver sozinho a
situação com a minha noiva.
— Você sempre foi confiante — Michael me lembra — como se nada
pudesse te atingir. Me perdoa por não perceber o que você passou — ele
afaga meu ombro. Me puxando para um abraço.
Daniel funga enxugando o rosto antes de me abraçar.
— Desculpe por não notar — pede.
Ser acalentado pela primeira vez tem um gosto doce de esperança. Eu
não estou mais sozinho, focarei minha vida a partir de hoje em conseguir
liberdade do Louis, mudarei meu maldito destino.
— Estamos com você para fazer o que quiser — Black completa o
abraço.
— Vamos seguir com o plano do Daniel — Michael avisa — vou
adiantar a sua união para dois meses depois do Daniel e Emily. Você vai sair
daquela casa e daremos um fim no Louis.
— Não posso deixar a Rebeca sozinha com a Josephine, é perigoso.
— Lembro.
— Black vai assumir o compromisso dele — Michael fala serio com o
Black que coça a cabeça desconfortável — chega de enrolar. Você vai se
casar com a Josephine, ouviu muito bem as coisas que a Hope te disse ontem
após a cerimônia.
Não sei os motivos pelos quais o Black recusa o casamento com a
Josephine. Eu demonstrava desinteresse na minha união com a Daisha devido
ao personagem criado, tinha de seguir a risca ou as coisas desandariam no
segundo em que o Louis notasse que eu a quero.
O Black parece diferente, de nós quatro ele é o que menos pega
mulher e sempre desconversa sobre o casamento. Sei que ele não é gay,
contudo não tenho ciência do que realmente o impede. Josephine é louca por
ele, no mínimo ela seria agradável na convivência diária e longe da Rebeca
poderia se passar por um anjo.
Parando para pensar, o problema da Josephine além do seu
temperamento tempestuoso sempre foi a Rebeca. Só começamos a brigar
quando elas passaram a discutir. Josephine nunca fez nada intencional para
me prejudicar, suas ações não eram pensando nos outros, mas somente nela.
Vivendo em seu mundo egoísta em que todos são seus inimigos.
Como eu nunca percebi antes?
Ela ataca para se defender.
Black foca o olhar no meu, acena em positivo aceitando se casar com
a Josephine. Fico grato por fazer um sacrifício por mim.
— A Hope é um pé no saco — bufa — eu que vou ter de aguentar
aquela maluca. — Aponta mim — você vai me dever uma e das grandes.
— Certo — Rio me arrependo pela dor nas costelas.
— Talvez a Josephine seja como o Kai — Daniel fala cauteloso —
desde que a Hope chegou, a Josephine tem agido diferente. Assim como o
Kai esconde os seus demônios, Josephine deve ter os dela. Tente conversar
com a sua irmã ao menos uma vez, talvez você também se surpreenda. Não
seria difícil para ela estar ocultando segredos, já que você faz o mesmo.
— Posso tentar.
Uma última vez, tínhamos uma relação antes das coisas explodirem,
talvez ainda exista algo que possa ser salvo. Só não sei como me aproximar
da Josephine.
Meus amigos vão embora, Daniel fica me fazendo companhia, a
enfermeira aplica a medicação no acesso venoso no meu braço. Escoro a
cabeça no travesseiro me preparando para dormir. Eu preciso mudar a minha
vida, com o apoio dos três sei que é possível. Os dias no inferno acabaram.
CAPÍTULO 4 DAISHA

A última vez em que fui chamada no escritório do meu pai eu tinha 4


anos. É a lembrança mais antiga que possuo. Fui vestida como uma boneca,
usava um vestido rosa de babado, laço no cabelo e andava como uma adulta.
No escritório eu vi Kai Lucian pela primeira vez, ao lado do meu pai, Daniel,
Louis e Andrew. Minha mãe ficou do lado de fora, eu estava aterrorizada na
frente daqueles homens.
Kai tinha 19 anos como meu irmão. Daniel segurou minha mão me
colocando sentada ao seu lado, disfarçadamente ele fazia carinho na minha
palma. Andrew, o Chefe na época, começou a falar sobre os deveres de uma
mulher com a Máfia Bianchi, e por fim anunciou que um acordo de
casamento tinha sido feito entre meu pai e o Louis.
Eu casaria com Kai Lucian quando atingisse a idade adulta. Tive
pesadelos com aquele momento por anos, acordava chorando, aterrorizada ao
imaginar um homem mais velho me obrigando a ficar com ele. O tempo
passou, ambos crescemos, tenho 20 anos e ainda não me sinto pronta para
casar com um homem de 35 anos.
Mais velho, futuro subchefe e que eu detesto.
Quando completei 15 anos, anunciaram oficialmente diante a famiglia
durante meu baile de debutante que eu pertencia a Kai Lucian e casaríamos
em breve. Kai me olhou somente uma vez naquela noite durante a nossa
valsa, franziu o nariz por pisar em seu pé e depois foi se reunir com os
amigos. Eu sentei na mesa e recebi cumprimentos de várias pessoas, depois
conversei com Emily, Josephine em uma roda de damas.
Naquela noite, Josephine Lucian ficou conhecida por chamar a esposa
do Senador da Califórnia de “velha intrometida”. Eu ri baixinho, recebi
bronca da minha mãe e Josephine foi arrastada para fora pela mãe furiosa e a
Rebeca pedindo desculpas a mulher que não parava de falar o quanto estava
ofendida. Ela não era exatamente xereta, mas ficava perguntando como a
gente se sentia sobre sermos prometidas quando crianças.
Os homens podem gostar de casarem com meninas mais novas, mas
todas nós odiamos. Só mascaramos como nos sentimos para evitar punições
do Chefe. Michael aboliu os casamentos com menores de idade e as alianças
enquanto somos crianças. Meu desejo era que ele cancelasse todas as uniões
feitas antes do seu comando, infelizmente ele não pode.
Eu já deveria estar casada desde os 18 anos, mas algo faz o Louis
Lucian ficar adiando a assinatura dos contratos de casamento. Primeiro se
assina um de promessa de união, depois perto dos 18 anos da mulher o de
casamento. Espero que ele prolongue o máximo possível, não estou animada
para me unir com o Kai Lucian.
Sou chamada no escritório do meu pai, pela segunda vez na minha
vida. Entro o encontrando de cabeça baixa assinando papéis. Nunca me foi
permitido saber os negócios da famiglia. Sou filha do consigliere e tudo que
eu sei é que meu pai realiza atividades ilícitas e seu cargo no escritório de
advocacia como CEO é uma fachada para os ganhos ilegais da nossa família.
Daniel assumiu como o novo Consigliere no seu casamento com a
Emily, já passaram alguns meses desde a fatídica noite em que tive de dançar
novamente com Kai Lucian no casamento do meu irmão. Ele segurou minha
mão e me puxou para a pista, não o encarei um único segundo, ainda irritada
pela forma como me tratou da última vez. Finalizamos a dança e sentei com
meus irmãos.
Não tenho mais visto o Kai, reclusa cuidando das atividades dadas
pela Hope na sociedade das damas. Minha vida é chata e sem muita emoção,
não vivo um sonho de casamento como a Hope e Emily e nem anseio pela
data da minha união como a Josephine que só sabe falar disso. Às vezes da
vontade de mandar ela calar a boca e parar de falar do Black.
Sempre admirei a Josephine por ela ser forte e se impor, mas quando
ela começa a dizer seus sonhos com o Black vezes seguidas na mesma
conversa o único desejo que tenho é de sumir. Eu não sou como as meninas,
não sinto euforia, paixão ou qualquer outro sentimento pelo meu prometido.
A única coisa que me anima é o sonho de um dia ser livre.
— Bom dia — cumprimento meu pai.
— Bom dia Daisha, pode sentar — aponta a cadeira.
Acomodo as mãos no colo, coluna ereta e queixo erguido como fui
ensina a me portar. Ele continua rabiscando nos papéis, embora não seja mais
o consigliere continua como CEO no escritório. Acredito que em breve ele
vai se aposentar e o Daniel assumirá a função.
— O senhor Bianchi emitiu um anúncio para todos os homens da
famiglia, as mulheres vão poder cursar a faculdade. A senhora Bianchi ficará
responsável para recolher as inscrições no clube de damas no sábado. Você
tem até as 18 horas para me dizer qual curso gostaria de fazer.
— Psicologia com especialização em psiquiatria.
Não preciso pensar muito, o mundo silencioso ao qual vivo me tornou
uma especialista em observar e analisar as pessoas. Posso não conseguir me
expressar como gostaria, mas sei dizer que o franzir da testa do meu pai é um
indicativo de desaprovação. Ele desvia o olhar para a esquerda, se escora na
cadeira e alisa os lábios com os dedos.
Deve pensar que eu escolheria direito. Foi o curso que meus irmãos e
ele fizeram. Não tenho vocação para as leis e prefiro manter distância de
trabalhar com a família. Quero ser capaz de estudar a mente humana a fundo,
entender como uma mãe é capaz de forçar a filha a ficar calada por anos para
reprimir suas vontades e a tornar um projeto de esposa perfeita.
Como um pai pode ser capaz de criar os filhos como inimigos sob o
pretexto de fazer o melhor para eles, os fortalece. Negando o amor como uma
fraqueza, quando o próprio ama a esposa. Vivo em um lar de hipocrisia,
repressão e violência.
Como minha criação me afetou?
Como me deixei ser silenciada sem revidar?
Por que eu não consigo falar as coisas entaladas na minha garanta?
Quem sabe eu descubra essas respostas ao compreender como a mente
humana opera.
— Direito, é o que você vai cursar — descansa o braço na mesa.
Aperto os dedos sentindo a raiva efervescente no meu âmago.
— Você me perguntou o que eu queria — controlo a voz para
esconder os sentimentos — se eu não podia escolher, por que se dá ao
trabalho de me deixar achar que eu tinha uma escolha?
— Psicologia não trará nenhum benefício para nossa organização.
Com o curso de Direito você poderá atua no escritório da família. É a melhor
escolha para seu futuro. Não vamos prolongar o assunto, pode ir.
Acena com a mão, como se despachasse um cachorro.
Ergo o tronco, mordo os lábios reprimindo a vontade de gritar.
— Você adora me deixar acreditar que se preocupa comigo, disfarças
suas ações com palavras polidas e gestos de representação de cuidado. Mas a
verdade é que eu não passo de um fantoche para você puxar as cordas de
acordo com sua vontade. — Levanto com os punhos apertados ao lado do
corpo — se a Hope ou o Michael me perguntarem o que eu desejo cursar,
minha resposta será psicologia.
— Não seja atrevida, Daisha — bate na mesa, tremo com medo de
apanhar — você é uma mulher, o Michael tem dado liberdade demais para
vocês na organização. E agora acham que podem se rebelar. — Levanta — eu
ainda sou seu pai e chefe dessa família, se eu falar que você vai cursar direito
é o que fará! Agora saia daqui!
— Você não é mais o chefe dos Griffins, eu vou fugir dessa maldita
— o tapa vêm forte contra minha bochecha. O pescoço estrala ao girar para a
esquerda. Levo a mão, a bochecha, os olhos secos queimando em irá.
— Sua menina mimada!
— Eu odeio você — rosno — te odeio por nunca me escutar, por fazer
promessas falsas e não cumprir. Por me deixar sofrendo quando te pedi ajuda.
Eu te odeio por me forçar a casar com um homem que me detesta. Eu te
odeio por ser meu pai. Eu te odeio com a minha alma. — Não controlo a
lágrima solitária escorrendo pela bochecha — se quiser me impedir de cursar
psicologia me mate agora.
— Eu deveria te dar uma surra — Rosna tremendo o rosto em raiva.
— Pode bater, eu não ligo.
— Saia agora do meu escritório antes que eu te mate!
Não espero por uma segunda ordem. Dou a volta na cadeira saindo
das paredes opressoras do comodo. No corredor dou de cara com minha mãe,
ela tem fogo nos olhos azuis como os meus, as mãos fechadas em punhos. O
rosto contorcido em uma careta.
— Você não aprendeu nada do que te ensinei ao longo dos anos —
aperta meu pulso me puxando pela casa. — Ficou louca em desafiar seu pai,
ele nunca te bateu e pude ouvir o som do tapa. ONDE VOCÊ ESTAVA
COM A CABEÇA! — Berra, abrindo a porta do meu quarto, ela me
arremessa para dentro. Tropeço caindo de joelhos com o rosto no chão.
— Talvez eu a tenha perdido — engasgo um riso.
— Você vai ficar de castigo refletindo sobre o que fez, sem comida ou
o direito de falar com suas amigas. Eu sabia que se envolver com a Josephine
daria nisso, aquela menina nunca foi uma boa influência.
— Pelo menos eu tenho amigas — viro de frente, ajoelha com as
mãos no chão. Exausta da vida que levo — por que você não consegue me
enxergar?
— Não seja mimada!
Sai batendo a porta do quarto. É sempre isso, meu pai só se preocupa
com os homens, minha mãe em que eu seja a esposa perfeita. Eles não me
enxergam ou dão ouvidos. Encosto a testa no chão, ranjo os dentes, a vontade
de sumir crescendo a cada segundo.
Ao longo da semana evito contato com meus pais, fico reclusa no
quarto sem poder sair com as meninas ou visitar a Hope em sua casa. Mando
uma mensagem para ela dizendo que escolhi psicologia com especialização
em psiquiatria. Não vou permitir, mais uma vez, que meu pai roube a minha
escolha.
Michael e Daniel viajaram no pior momento. Porra!
Aperto o guidão acelerando pelas ruas de Manhattan, desde o maldito
anúncio que as mulheres poderão fazer faculdade as coisas têm virado de
ponta cabeça com o Louis causando comoção contra a ordem do Chefe. Ele
convenceu os membros da sua facção a ficarem contra e não permitirem as
mulheres de estudarem.
A máfia Bianchi é composta por cinco famílias principais, que se
uniram após a guerra para definir qual organização comandaria o submundo
dos Estados Unidos. Com os Bianchi como vencedores, os Lucian seus
principais aliados ao lado dos Griffins, subjugaram os Bonnarro e os Belarc
unificando as máfias em uma só.
A hierarquia se manteve a mesma por anos, um Bianchi como Chefe,
um Lucian como subchefe e um Griffin como consigliere, sendo os Bonnarro
e Belarc capos. Louis nunca aceitou sua posição, ele queria ser Chefe e por
anos se manteve próximo do Andrew espreitando o momento de dar um
golpe. A mera ideia de perder a posição o enfurece.
Ele nunca gostou de receber ordens e não respeita o Michael, teme
pelo momento da sucessão e faz de tudo para evitar. Adia a minha união com
a Daisha e recusa as conversas com o Bartolomeu Bonnarro para unir a
Josephine com o Black, pois sabe que a balança de poder vai pender ao ter o
Black como o novo capo.
Belarc é o único que o Louis ainda tenta puxar para o seu lado,
Bartolomeu e Daniel são completamente leais ao Michael e o Louis sabe a
quem a minha lealdade pertencem. Tudo que eu anseio após o espancamento
no noivado do Daniel e Emily é que o Louis caia, não tenho forças para ir
contra ele, mas tenho os meus amigos e é tudo de que preciso.
Estaciono na garagem de casa ouvindo os gritos de Josephine. Aperto
o capacete na mão, sabendo que ela não consegue se controlar quanto a
negação do Louis em a permitir fazer psicologia. A tensão tem aumentado
cada vez mais na casa e eu já não sei qual atitude tomar para acalmar os
ânimos. É difícil conversar com minha irmã, ela é arisca e desconfiada.
Responde quando falo, mas nunca inicia uma conversa e se a Rebeca
estiver presente as defesas da Josephine são levantadas. O grito do Louis
desperta minha atenção, corro para dentro, só consigo ouvir a voz dele e da
Josephine. Abro a porta da sala batendo o capacete na soleira ao o soltar
presenciando a cena horrorizante.
Josephine pendurada contra a parede segurada pela mão do Louis
envolta de seu pescoço. O rosto branco assumindo tons vermelhos. Rebeca
gira me encarando assustada, o rosto banhado em lágrimas. Ela grita
apontando para a Josephine.
— SALVA ELA, KAI!
As pernas se movem sozinhas correndo na direção deles. Seguro o
braço do Louis puxando. Ele me encara enfurecido, com a mão livre me
empurra para longe. Caio por cima da mesa de centro. Levanto rápido, as
mãos soando por medo do que terei de fazer a punição que virá. Josephine
começa a revirar os olhos sem conseguir respirar.
Eu prometi que cuidaria dela, não posso a deixar morrer.
Lembranças de quando fiz a promessa pelo seu nascimento e o pavor
dela ser assassinada na minha frente injetam adrenalina no meu corpo. Que se
foda a punição, a vida da Josephine vale mais. Fecho o punho socando a junta
do braço do Louis, ele fraqueja a soltando. Josephine cai no chão puxando o
ar com força, tento me agachar para a ajudar. Sou impedido ao receber o soco
do Louis no rosto.
— Você perdeu o juízo? — ele branda socando novamente.
— Pai! — Rebeca grita segurando seu ombro, Louis se acalma no
mesmo segundo.
— Haverá consequências se você a matar — digo, encarando seus
sapatos, de joelhos sem conseguir o encarar. — Só queria evitar.
— Eu sou o subchefe, não existem consequências para mim —
Soberba em sua voz, ele sempre se achou invencível.
Preparo o corpo para a surrar que virá, uma sombra me faz erguer a
vista encontrando a Rebeca na minha frente com os braços abertos,
impedindo que o Louis me bata. Ele pode odiar a mim e a Josephine, mas
sempre gostou dela. Sua mão para poucos centímetros antes de acertar o rosto
da Rebeca.
— Por favor, pai. O Kai só estava tentando fazer o melhor pela nossa
família, não machuca ele.
— Saia da frente Rebeca! — Rosna irritado. — Não vou aceitar meus
filhos me desafiando. Primeiro a vadia e agora ele!
— Josephine estava completamente errada — toca seu braço — o
senhor a puniu. Olhe para ela, mal consegue respirar e com a marca da
desobediência em sua pele. Todos vão saber que você controla seus filhos
com punho de ferro. O Kai tem um machucado sangrando no rosto, ele agiu
por impulso e sei que não fará novamente. Certo, Kai? — me pergunta com a
voz doce e os olhos assustados.
— Não farei, senhor — mantenho o rosto inclinado, toco a testa
sentindo o sangue quente.
— Você ainda vai receber o que merece — ele avisa.
O celular dele toca, Louis atende furioso, muda o tom de voz em um
segundo.
— Sim, senhor — percebo que fala com o Michael. Ele se retira da
sala nos deixando a sós.
Sento cansado e assustado pela merda que acontecerá mais tarde ao
retornar para casa. Com uma mão apoiada no joelho, a outra, enxugo o
sangue escorrendo pela face.
— Aqui — Rebeca me entrega um lenço, preocupada.
— O que aconteceu? — pergunto.
Examino a Josephine, ela tem os olhos vermelhos, o rosto irritado.
Percebo suas defesas se erguendo, se preparando para a briga. Ela foi
enforcada e não tira um tempo para se acalmar, pronta para o confronto.
Suspiro pesado, eu sei como é sentir o medo sabendo que o perigo não
passou. Aliso seu braço, ela puxa para trás se afastando.
— Josephine não para de provocar o Louis — Rebeca chama minha
atenção contando o que houve — eu estava conversando com ele sobre a
faculdade e ela invadiu a sala gritando que cursaria psicologia e a vontade do
Michael vale mais do que a do nosso pai — agarra minhas mãos, as iris
negras repletas de pavor — olha só como você foi machucado por causa dela,
isso não é justo.
— Vaca mentirosa — a voz rouca ressoa.
— Vai continuar me atacando? — Rebeca bate a mão na coxa — você
nunca pensa no que suas ações causam. Age como uma louca desafiando o
nosso pai!
— Parem — peço, cansado.
Solto as mãos da Rebeca, ela me encara sem entender.
Tenho uma parcela de culpa nas confusões que acontecem nessa casa,
depois de um tempo eu parei de tentar ouvir a Josephine. Escutando somente
o que a Rebeca dizia e descontando a raiva por saber que seria punido devido
à Josephine. Eu a isolei e mereço seu ódio, mas não vou mais permitir que o
ciclo continue. Hoje porei um fim a ele.
— O quê? — Rebeca pergunta confusa.
— Vem Josephine — seguro seu cotovelo a ajudando a levantar. Ela
me encara desconfiada, como uma gata que não sabe se aceita o carinho ou
arranha o dono. — Louis vai continuar alterado até o final da reunião com as
damas hoje a noite. Vá para seu quarto, tranque a porta e só saia quando eu te
buscar. Levarei as duas ao clube.
— Qual a pegadinha? — pergunta arrisca.
— Estou cansado, por favor, faça o que pedi.
Franze a sobrancelha, encara a Rebeca, sigo seu olhar vendo a fúria
nos olhos da caçula. Não entendo o que a irritou, talvez eu a tenha mimado
demais. No momento não consigo pensar em nada. A cabeça latejando pelo
machucado, tenho de sumir daqui antes que o Louis me ache.
— Vai ser assim? — Rebeca aponta — ela causa confusão e você
passa a mão na cabeça dela? O nosso pai poderia ter te matado! Não pode
deixar passar.
— Você não cansa? — Josephine tenta avançar contra a irmã, impeço
puxando seu cotovelo.
— Rebeca, suba para seu quarto. — Ordeno — você também —
encaro a Josephine.
Ela me olha enigmática e faz o que peço sem dizer uma palavra.
Rebeca bufa com o rosto incrédulo. É a primeira vez que a mando para o
quarto. Ver a tristeza expressada por ela ao caminhar enche meu coração de
mágoa. Não queria fazer isso, mas preciso conter os danos da confusão
causada. Depois olho nas câmeras o que aconteceu.
Recebo uma mensagem do Black dizendo que chegou ao complexo
com a família e sigo para a casa que eles usam em Nova Iorque, preciso de
ajuda.
Black me espera no lado de fora. Desço da moto estressado e com a
cabeça sangrando. Ele franze o nariz ao ver meu machucado e me estende um
lenço do bolso do paleto. Entramos sem falar nada. Seguimos para seu
quarto, caminho para o banheiro encarando o machucado no espelho. Pego o
kit de primeiros socorros embaixo da pia e faço um curativo discreto.
— O que aconteceu?
— Ainda não sei direito — suspiro me jogando na cama — preciso
ver as câmeras de segurança, decidi não confiar totalmente na palavra da
Rebeca, dessa vez.
— Acha que ela mentiu? — Senta ao meu lado.
— Rebeca não mente para mim, mas se eu quiser um relacionamento
melhor com a Josephine, não posso continuar acreditando cegamente na
Rebeca.
— Acessa as imagens.
Pego o celular, abro a gravação daquela manhã. Louis e Rebeca
conversam tranquilos na sala, pela câmera do corredor vejo a Josephine
parada escutando o que eles falam. Ela não esconde o descontentamento com
o rosto e entra na sala furiosa. Não consigo ouvir suas falas em meio ao
acesso de raiva. Louis grita com ela, Josephine rebate, ele avança segurando
seu pescoço.
Não consigo ver o rosto da Rebeca, é quase como se ela se escondesse
de propósito da câmera, me incomoda ela ficar parada assistindo a Josephine
ser enforcada e só age ao escutar o capacete caindo na soleira da porta e
perceber que eu estava lá. O rosto banhado em lágrimas ao falar comigo.
— Ela só ficou chorando enquanto a Josephine era enforcada? —
Black pergunta, desviando o olhar, descontentamento em sua expressão.
— Parece que sim — suspiro me sentando com o rosto entre as
pernas, sem saber o que diabos fazer. — Ele vai me castigar por bater em seu
braço para salvar a Josephine.
— É fodido como ela estava escutando a conversa, independente do
que eles falavam, a Josephine sabe que o Louis é agressivo. Ele a machuca
sem pena e a mãe também. Por que ela foi até lá?
— Eu não sei — expiro o ar — Josephine parece que não é afetada
pelas punições, como uma maldita psicopata sem sentimentos. Eu me tremo
de pavor do Louis — encaro as mãos trêmulas — só intervi por medo dele a
matar naquele instante, o instinto protetor foi mais forte.
— Ela pode te enlouquecer e decepcionar — aperta meu ombro —
mas você ainda a ama.
— Talvez — dou de ombros — por 14 anos eu e a Josephine fomos
irmãos — confesso — eu desejei que ela nascesse, assumi um alto risco, mas
ela jogou tudo fora pelo ciúme da Rebeca. Elas se odeiam e a Josephine não
conseguiu separar a relação com a Rebeca da que tinha comigo. Fui
abandonado e aquilo me irritou tanto.
Aperto os dedos contra a palma da mão, lembrando cada uma das
brigas que tivemos ao longo dos anos e como a situação só piorava.
— Cada espancamento seguido da Josephine despejando seu ódio por
mim fizeram eu me afastar. Acabaria confessando que ela é a causadora da
minha dor. Eu queria a proteger — aperto os olhos — no início, mas… tudo
desandou e quando percebi eu estava a odiando. Não foi só um dia ou dois
desse desastre, foram anos, Black.
— Eu sei — Black me puxa contra ele, encosto a cabeça em seu
ombro deixando a dor escapar por meus olhos — você fez o que pode, mas
estava lutando sozinho contra o Louis. Não te culpo por desprezar sua irmã.
Todos da organização são testemunhas dos ataques de raiva da Josephine e o
motivo da senhora Griffin a ter afastado das damas. Se não fosse a Hope
enxergando a Josephine, tudo continuaria igual.
— Sua irmã tem um dom em ver os desprezados.
— Ela puxou da nossa mãe. Michael emitiu uma ordem, quem tentar
atrapalhar a reunião de damas será considerado um traidor. Não volte para
casa, venha ficar aqui.
— Não posso fazer isso. — Fungo.
— Pode e vai, as meninas devem ficar com a Hope hoje, a Rebeca
está segura em casa?
— Sim, o Louis sempre gostou dela, é sua preferida.
Eu não entendo o que fez o Louis criar afeição pela Rebeca. Assim
como prometi assumir a responsabilidade pela Josephine e ser punido caso
ela causasse confusão, fiz o mesmo juramento pela Rebeca. O Louis e a
Eleanor nunca machucam a Rebeca, ambos gostam dela, principalmente após
sua adolescência.
Em alguns momentos tive inveja da relação deles, queria aquilo
também. Com o tempo percebi que era por a Rebeca ser a filha perfeita,
comportada, amorosa, inteligente e sempre bem elogiada na organização. Ela
nunca deu trabalho, ao contrário da Josephine ou de mim que represento uma
ameaça para o cargo do Louis.
Se não fossem as disputas poderíamos viver em paz como uma
família. E por longos anos culpei a Josephine por estarmos presos ao inferno.
Somente naquela noite no hospital voltei a pensar nela como minha irmã
precisando de proteção e não como a causa do problema.
A verdadeira barreira entre a felicidade e o inferno é o Louis.
É para ele que devo direcionar a raiva.
— Passe a noite aqui, se quiser te acompanho ao deixar a Rebeca em
casa. Michael retorna em breve e conseguirá conter o Louis, seu casamento
vai acontecer e tudo será resolvido.
— E o seu com a Josephine?
— Está em andamento — coça a cabeça — eu já aceitei meu dever,
mas você sabe que o Louis não facilita.
— Sei — encaro o Black — você nunca se apaixonou antes? Ver o
Daniel e o Michael apaixonados às vezes me faz pensar como seria amar.
— Uma vez — suspira pesado — não podemos ficar juntos, tenho
obrigações com a organização e pelo visto não posso fugir do meu destino.
— Quem é a moça?
— Ela é de fora — dá de ombros — não pertence ao nosso mundo e
sua família não são influentes o suficiente para valer a pena a união.
— Vai deixar seus sentimentos influenciarem na sua união com a
Josephine? Você sabe que ela é louca por você.
— Espero que não — levanta — vou me arrumar para a reunião. Pode
pegar um dos meus ternos.
— Certo.
Black desaparece fugindo do assunto. Nunca me preocupei de verdade
com a união da Josephine com um homem. Saber que o Black tem
sentimentos por outra me desagrada, espero que ele resolva suas questões
antes de se unir com a minha irmã. Eu e ela já sofremos demais para perdurar
a tormenta em nossos casamentos.
CAPÍTULO 5 DAISHA

Eu tenho 3 irmãos homens.


Daniel, Dylan e Dante.
Enquanto eu era criada para ser a dama perfeita, silenciada e tímida.
Eles foram forjados na brutalidade, competindo pelo cargo de consigliere.
Dylan armou contra Daniel e pagou com a vida pela traição a um membro da
família. Dante chora escondido a perda do irmão em seu quarto ao lado do
meu, eles eram minimamente amigos. Daniel está em casa com sua esposa e
eu não sei como me sinto.
Foram poucas às vezes em que conversei com o Dylan. Eram mais
trocas de cumprimento. Ele não tinha interesse em mim. Dylan não era mau
em sua essência, ele se perdeu na inveja sentida pelo Daniel e o cargo de
consigliere, cobiçou a mulher do irmão. As poucas vezes em que o vi
encarando a Emily podia sentir que o Dylan realmente a queria. Não sei
quando o carinho virou obsessão.
E agora, nem um enterro decente ele tem direito. Como um traidor,
seu corpo foi jogado em uma cova. Nossa mãe nunca poderá chorar a morte
do filho em frente ao túmulo. Nosso pai se trancou no escritório, o rosto
banhado em arrependimento. Ele se culpa pela desgraça acometida a nossa
família.
Bellamy e Clarisse não percebem que não poderia ser diferente. Eles
nos educaram como foram criados. Esse é o mundo da Máfia. Sangrento,
cruel e sombrio. Sortudos são os como Hope e Michael, Daniel e Emily que
encontram o amor em seus casamentos arranjados. Com a ascensão do
Michael Bianchi como Chefe e o Daniel como Consigliere, mudanças
estruturais podem ser feitas.
A desgraça pode se transformar na minha chance de conseguir
liberdade.
Toco a maçaneta dourada do escritório do meu pai, hesito. O que
estou prestes a fazer é arriscado. Vou precisar ser ardilosa para convencer o
Bellamy, torço para que a dor que ele sente seja grande o suficiente para
atender ao meu pedido. Bato três vezes, ele autorizou minha entrada. Respiro
fundo, abro a porta adentrando o recinto.
— Olá, Daisha — bebe o rosto do uísque em seu copo.
Nossa última conversa terminou com um tapa no meu rosto, meses
atrás. O tenho evitado, espero que a distância imposta e a morte do Dylan
amoleça o coração de gelo de Bellamy Griffin.
— Tenho um pedido — sento, coluna ereta, altiva.
— Não estou com humor para pedidos — aperta os olhos — volte
para o seu quarto.
— A morte do Dylan é culpa sua — jogo severamente a verdade em
sua cara. Ele incha de raiva.
— Eu sei — range os dentes.
— Não repita o mesmo erro — estico segurando sua mão — ainda dá
tempo de mudarmos nossa relação. Por favor, Bellamy. Se você está
minimamente arrependido pela morte do Dylan, pare de tratar sua família
como um negócio. Eu te imploro, não me case com Kai Lucian.
— Estou em luto pela morte do seu irmão — engasga os olhos ficando
vermelhos, perdidos em tristeza — doeria menos se ele tivesse sido morto por
um inimigo e não pelo próprio sangue. Devido à maldita forma cruel e
insensível que criei os meus filhos — alisa a barba branca — me desculpe
Daisha, por mais que eu queira impedir novas rachaduras na nossa família. Já
é tarde para cancelar o casamento. — Inclina a cabeça, os olhos marejados.
— Por quê? — Solto suas mãos me retraindo.
— Eu assinei o contrato de casamento, o pedido será feito no sábado.
Eu não deveria ficar decepcionada, eu conheço esse homem e o
quanto ele é duro em suas decisões. A pequena esperança queimando em meu
peito é apagada por uma tempestade sombria.
— Você nunca tentou me entender.
— Não, Daisha. É você que não entende o mundo em que vivemos.
Nossas tradições são leis, os acordos devem ser respeitados. Por mais que eu
queira te ver feliz e… — leva as mãos ao rosto esfregando a face — você vai
ser a esposa de Kai Lucian, me desculpe.
A sensação de sufocamento começa sorrateiramente. Apertando a
garganta e estendo as garras para meus pulmões. Pressiono o braço da cadeira
fincando as unhas no estofado, controlando a vontade de esganar meu pai.
Ele parece sofrer, mas não mais do que eu.
— A morte do Dylan me fez perceber os erros que cometi com vocês
— levanta caminhando até a estante pegando a garrafa de uísque e outro
copo. Serve uma dose em cada, me entregando um. — Sua mãe foi educada
para ser uma mulher obediente, honrosa e íntegra, como você. No passado
sofremos para ficar juntos. A obsessão que senti no segundo em que pus
meus olhos nela, nunca poderei esquecer a sensação. Lutamos, ganhamos,
pagando um preço alto por amar.
Pego o uísque virando de uma vez. A garganta queima, tusso tentando
fazer o incomodo passar. Sem o álcool no sangue, não conseguirei ouvir o
final dessa história. Nunca soube como meus pais se conheceram, tenho uma
pequena curiosidade, apesar da vontade de matar o Bellamy.
— Não queria que você e seus irmãos sofressem por estarem
despreparados para a vida na Máfia. — Baixa a vista — eu consegui os fazer
fortes e temidos. Mas esqueci do principal: família deve ser aliado e não
inimigo. A morte do Dylan abriu um buraco no meu peito e da sua mãe. Não
podemos mudar o passado, mas vamos consertar o futuro.
— Como? — a voz trêmula.
— Sendo melhores com nossos netos — ergue o tronco — me perdoe,
querida, não posso cancelar seu casamento.
— E me ajudar a fugir? — tento.
— Kai seria obrigado a te perseguir, torturar e matar. Não pense uma
besteira dessas de novo Daisha. Ninguém foge dos Bianchi e sobrevive.
— Você é inteligente, deve conseguir pensar em algo — aperto a
borda da mesa me inclinando para a frente.
— Você não teria uma vida. Fugiria todos os dias, olhando por cima
dos ombros. Você foi criada para ser uma dama. — Levanta — dê uma
chance ao Kai Lucian, vocês podem se amar.
— Eu não amo a minha família — cada palavra escorre com veneno
— como espera que ame um homem que eu detesto?
— Me perdoe — pede abalado.
— Nunca.
Dou as costas ao Bellamy saindo do escritório. Eu sei o quanto é
arriscado fugir, mas eu não consigo continuar vivendo presa e silenciada. A
morte não parece uma opção tão ruim.
O dia se arrasta, o julgamento do Daniel acontece e o enterro do
Andrew, ex chefe da Máfia Bianchi. Passo atônita pelos acontecimentos,
evitando conversar com minhas amigas sobre a aflição em meu peito. Elas
seriam incapazes de me entender. Diriam para eu deixar o plano de fuga de
lado, dar uma chance ao Kai e tentar ser feliz em um casamento arranjado.
É como voltar ao passado. Quando minha mãe me olhava feio por
falar em uma reunião sem permissão. Kai também será assim? Vai me usar
para ter seus filhos, exibir como sua esposa troféu, só falarei quando me for
permitido, comerei o que me der, assistir somente às coisas que ele gosta. E
se ele não permitir que eu curse psicologia, como meu pai tentou fazer?
Eu tenho 20 anos e não conheço o sabor de um chocolate. Clarisse não
me deixa comer doces para não engordar. Nas reuniões do clube sou
impedida de aproveitar a sobremesa, qual seria o sabor de um doce feito de
cacau? O Kai me deixaria comer? Ou vestir alguma coisa que não seja os
vestidos, eu odeio essas coisas, preferia usar calças ou shorts.
Odeio saber que terei de pedir permissão para as mínimas coisas da
minha vida.
Kai Lucian será a nova pessoa a me controlar. Um homem que não me
deseja, evita me olhar e já mostrou ser capaz de usar a força para me fazer
ceder a sua vontade. É impossível visualizar uma salvação ou a mínima
felicidade diante do cenário que me aguarda.
Eu só tenho duas opções. Fugir ou continuar vivendo como uma
marionete.

Encaro o espelho odiando meu vestido de noivado. Clarisse escolheu


um bege quase branco com detalhes em renda de flores. O decote destacando
meus peitos. Eu odeio como eles são grandes e chamativos. Gostaria de fazer
uma cirurgia de redução. Tenho ânsia ao imaginar os olhares que vou receber
dos homens. E raiva por saber que meu noivo será o único a me ignorar,
buscando por outras de seu interesse.
— Você está deslumbrante — Clarisse apertar as mãos ao me analisar.
A maquiagem carregada em seu rosto mal cobre as marcas do choro.
Eu não sabia que a morte do Dylan poderia afetar tanto a minha
família, como aconteceu. Meu pai ao longo da semana se tornou uma casca
depressiva. Minha mãe só deixa a casa para organizar a festa do meu noivado
e tem permitido que Eleanor escolhesse várias coisas, desatenta ao que
acontecia ao seu redor. Dante se ocupa ficando perto do Daniel, eles estão
construindo uma amizade juntos.
Eu continuo me ocupando com minhas amigas. Hope ganhará bebê a
qualquer minuto. Anseio estar ao seu lado durante o crescimento do pequeno
Ethan. Um lar amoroso o espera, com pais que querem o seu bem acima da
vontade da organização. Emily e Daniel esperam pelo primeiro filho, a
gravidez é recente e não sabemos o sexo do bebê.
Encaro minha barriga, espero nunca trazer uma criança para o mundo
da máfia. Não sei como impedir de acontecer. O médico do complexo é
rigoroso para fornecer anticoncepcional para as mulheres. Aquele maldito me
deixa morrer de cólica e não contrabandeia nenhum remédio para mim.
Talvez a Hope possa me ajudar, ela é quase médica, deve conseguir uma
receita ou o medicamento.
— Nervosa? — Clarisse alisa meus ombros desnudos, um sorriso que
não chega aos olhos estampados em suas feições.
— Não — sopro.
— Bom, o que acha de um docinho para acalmar? — se vira pegando
algo na bolsa. Estende a mão para mim, em sua palma, uma embalagem
redonda de chocolate. A fito sem entender.
— O que isso significa? — duvidosa, recuo um passo, não vou aceitar
nenhum doce vindo dela, é estranho demais.
Há cinco anos ela me pegou roubando uma barra de chocolate trazida
pela filha da governanta. Como castigo fiquei um dia sem poder comer, eu
estava quase provando o chocolate ao ser pega dentro da dispensa pela minha
mãe. O doce foi arremessado contra a parede, eu jogada e trancada no quarto.
Bebi água da pia do banheiro tentando enganar a fome no estômago.
— Eu fui um monstro para você — os lábios rosados tremem, o
queixo enruga. — Não fui a mãe que vocês mereciam, não posso culpar
minha mãe por isso, eu poderia ter escolhido ser diferente, amorosa e não
severa. Desejei que vocês fossem fortes.
Alisa meu maxilar se aproximando, os olhos azuis como os meus
brilhando em arrependimento. Ouvir minha mãe se arrepender por ter me
criado com rigidez magoa meu peito. Ela sabia o que estava fazendo, foi sua
escolha cada uma das vezes em que mandou calar a boca, reprimiu, castigou
e magoou, me tornando um ser apagado, sem vontades, com medo de me
aproximar de outras pessoas e as deixar entrar, sem coragem para confiar ou
amar.
— Eu sei que um chocolate não apaga o que fiz todos esses anos —
encosta a testa na minha — mas se você quiser tentar reconstruir nossa
relação, vou estar esperando por você, me perdoe minha filha — alisa minha
orelha.
— Não — respondo com um bolo na garganta, ela não tem esse
direito, principalmente quando estou sendo enfeitada como uma porca prestes
a ser entregue para o abate.
— Eu compreendo — afasta o rosto — vou me tornar uma mulher
digna de ser chamada de “mãe” por você — sorri de lado, lágrimas
escorrendo, seu polegar alisa minha bochecha, mordo o lábio controlando o
choro preso no peito.
— Como quiser — respondo baixinho.
Me solto de seus braços caminhando para a porta do quarto. Aperto os
punhos controlando a vontade de chorar e gritar. Caminho de queixo erguido
pelas escadas, passo pelo Bellamy na sala. Ele chama por mim e o ignoro,
não vou conseguir lidar com os dois sem desabar.
Clarisse não se arrependeu por querer uma relação de mãe e filha
comigo, foi por perder o Dylan, se a desgraça não tivesse chegado a nossa
família, Clarisse e Bellamy nunca perceberiam o mal que fizeram a mim.
Entro no carro com meu segurança no valante, subo o vidro escuro nos
separando e me permito sentir a dor rascante.
Soluço chorando sem me importar com a maldita maquiagem a prova
de água. Não consigo respirar, sufocando a cada segundo. Aperto meu peito,
encolhendo o tronco, escondendo o rosto entre as pernas. Grito voraz,
querendo destruir algo, ser capaz de confessar todas as palavras entaladas que
ressoaram na minha mente ao longo dos anos. Doeria menos saber que eles se
arrependeram por ouvirem meus pedidos de ajuda, por notarem a aflição no
meu rosto.
Nunca será por mim.
Não sou importante o suficiente para ser enxergada.
Uma mão pesada alisa minhas costas, ergo o tronco assustada, Dante
senta ao meu lado. O rosto cansado, me puxa para seu peito alisando meu
ombro, não tenho forças para lutar contra ele. Deixo o choro sair contra seu
paleto preto. Agarro com força a lapela, ele também sente como se estivesse
sufocando?
— Não é fácil — beija o topo da minha cabeça — eles se arrependem
pelo Dylan e Daniel. Sabia que nosso irmão mais velho teve coragem de
confrontar o Bellamy sobre a nossa criação? Jogou as verdades que sempre
quisermos falar na cara dele.
— Ao menos ele teve coragem — respondo rouca.
— Sim, eu e você nunca tivemos uma chance real — suspira — me
unir ao Dylan fazia eu me sentir querido, importante, eu sabia que o Dylan
me usava para seus planos de derrubar o Daniel e deixei, eu tinha alguém —
o sinto movendo os ombros para cima e baixo.
— Mas você não colaborou no plano dele para ficar com a Emily.
— Daniel assumiu como consigliere, eu sabia que havia perdido a
batalha, estava cansado de viver em guerra com a minha família — me aperta
em seus braços — quando foi a última vez em que estivemos próximos ou
conversando?
— Não tenho lembranças.
— Nem eu — suspira — por isso desisti de viver em guerra, tudo que
eu quero é um pouco de paz. Dylan percebeu que não teria meu apoio e se
afastou, tramando sozinho. Não fiquei contra ele, apenas observei, e o
resultado não foi bonito. Se eu tivesse continuado ao seu lado, estaria morto
também.
— Você nunca pensou em fugir? Diferente de mim, você é esperto,
conseguiria escapar da Máfia e ter uma vida normal.
— Pessoas como nós, não vivem vidas normais, Daisha. Estou
acostumado ao submundo, não saberia viver de outra forma. Tenho
conhecimento de que você não quer casar com o Kai, com medo de como
serão as coisas, mas saiba que sempre vou estar ao seu lado. Se você aceitar,
estou aqui agora.
Me afasto do Dante, ele não é diferente dos meus pais. Foi preciso
perder seu irmão querido para olhar ao redor e perceber que eu existia. Pego
um lenço na minha bolsa e um espelho limpando o rosto sem borrar a
maquiagem. Dante mais do que ninguém deve saber como me sinto, somente
por isso eu aceno em positivo. Eu entendo as razões dele para se manter
distante, as minhas foram as mesmas, não sabíamos se podíamos contar um
com o outro.
— Se o Kai me machucar — pondero — você me salva?
— Eu o mato — alisa minha testa, os olhos azuis magoados me
puxando para perto de si — se ele ousar te fazer sofrer.
— Você seria morto — inclino o rosto de lado descansando em sua
palma.
— Valeria a pena por saber que te deixei segura.
— Obrigada, Dante — beijo sua bochecha — conte comigo.
— Estou aqui por você — me abraça apertado — e o Daniel, aos
poucos temos nos aproximado, sei que ele me ajudaria a esconder o corpo do
Kai.
Rio ao imaginar a cena, tenho minhas dúvidas. Daniel gosta do amigo,
eles saem bastante juntos e nas raras ocasiões em que o escutei conversando
com o Bellamy, Daniel fazia elogios ao Kai Lucian e seus desempenhos nas
missões. Nas festas da organização o quarteto sempre se reuni por horas,
conversando isolados, observando as pessoas.
Kai Lucian, Daniel Griffin, Michael Bianchi e Black Bonnarro são os
quatro cavaleiros do apocalipse na Máfia Bianchi. Os membros da famiglia e
criminosos de fora da organização costumam se referir a eles como Quarteto
Monstro. Só tive um vislumbre do terror que eles são capazes de causar
quando resgataram a Hope, há quase um ano, Nova Iorque foi tomada por
ataques em todos os lugares.
Kai apareceu na televisão com uma arma de fogo enorme em cima de
seu ombro disparando mísseis na ponte do Brooklyn. O homem eram um
verdadeiro monstro, matando quem se opusesse no seu caminho. Uma leve
curiosidade para saber qual seria seu codinome se instala em um lugarzinho
da minha mente. Para mim, ele parece um cachorro louco, mordendo quem o
desagrade.
O carro entra em movimento, deixando a garagem da nossa casa e
seguindo pelo complexo, os principais membros dos Bianchi residem entre os
muros protegidos da enorme propriedade. Casas de luxo, seguranças
armados, sistema de defesa de alta tecnologia, prédios para as atividades
ilegais protegidos dos olhares da polícia. Uma verdadeira fortaleza construída
ao longo dos anos.
Sair daqui sozinha seria um grande desafio. Só passo pelos muros
acompanhada da minha mãe, com um aviso do meu pai de que estamos
saindo, escoltadas pelos seguranças. Talvez como a nova senhora Lucian eu
consiga escapar se mentir para o Kai para onde estou indo, deixando o
complexo e me escondendo em uma loja ou banheiro, algum lugar em que os
seguranças não possam entrar.
Depois só precisaria chegar ao aeroporto e pegar diversos voos
pagando em dinheiro. Em tese seria fácil, talvez se um dos meus irmãos me
ajudar, só preciso de calma e planejar com cuidado meus próximos passos.
Por hora, vou encarar de cabeça erguida meu noivado com o Kai, não
levantarei suspeitas, com sorte o desinteresse do meu noivo por mim seja um
aliado.
Não pretendo me render sem lutar.
Chegamos ao salão de eventos, desço acompanhada do Dante.
Segurando em seu braço entramos. Vejo a Hope sentada alisando o barrigão
de nove meses e três dias, ao seu lado Josephine conversa animada com ela.
Analiso os presentes procurando pela Emily, não encontro e nem ao meu
irmão. Estranho eles se atrasarem.
— Vou falar com a Hope — aviso ao Dante.
— Certo, estarei falando com uns amigos — aponta outros rapazes de
sua idade reunidos perto das janelas de vidro do teto ao chão.
Dante tem 30 anos, acredito que em breve ele deve casar. Por não ser
um herdeiro de cargo, aqueles que assumem a função dos pais, mas um
Oficial, com função de liderança, ele não possui uma prometida e talvez
possa escolher com quem casar. Se as famílias aprovarem, se unem sem
precisar de contratos ou caso meu pai ou o Chefe julgue uma união benéfica
para a organização, escolhem a noiva e Dante não poderá recusar.
— Oi — cumprimento a Hope e a Josephine, me sentando ao lado
dela.
— Você está linda! — Hope aperta minha mão por cima da mesa.
— Uma verdadeira princesa — Josephine comenta alisando meu
ombro — só lamento que não casará com um príncipe.
Murcho.
— Você não precisava me lembrar.
— Não seja malvada, Phine — Hope bate de leve em seu ombro —
Michael me garantiu que o Kai está mudando, ele será um bom marido —
sorri esperançosa.
— Mudanças mínimas — Josephine ergue o nariz.
— Tem certeza? — pergunto franzindo a testa.
— Tá — dá de ombros como se prestes a confessar um segredo — eu
ainda acho estranho que ele puxa assunto quando estamos juntos. Não estou
acostumada com o Kai que se interessa pela minha vida.
— Eu disse — Hope aponta para mim — uma mudança, saímos de
irmão escroto para irmão que se preocupa em saber como ela está. Vocês
serão um bom casal.
— Se você diz — dou de ombros, sem ânimo para entrar na questão.
— Eu adoro essa música — Josephine comenta sorrindo, uma música
dos anos 70 começa a tocar suavemente.
— Boa noite — a voz grave ressoa pelo meu corpo causando arrepios.
— Olá — respondo a contragosto, queria mais um pouco de tempo
com as meninas antes do pedido de casamento acontecer.
— Boa noite, Kai — Hope responde sorrindo.
— Como está o Ethan? — ele pergunta chegando perto dela, o vejo se
abaixando para alisar sua barriga.
Ele não falará comigo? Mantenho o queixo erguido, não o deixando
me afetar. Poderia ao menos ter respondido ao meu cumprimento, aperto as
unhas contra a palma da mão. Me recriminando por deixar me afetar por sua
indiferença.
Entre a conversa com Bellamy, Clarisse e Dante, estou por um fio de
romper. Até quando as pessoas que deveriam me enxergar vão continuar me
jogando de lado? Não me dando importância.
— Pronto para nascer — Hope responde alegre — e você, como tem
passado?
— Bem — se cala, as pupilas negras como as iris se direcionam a
irmã — Josephine o Black te procura para uma dança.
— Sério? — Encaro minha amiga que se ilumina como o sol nascente,
ela nem tenta disfarçar o sorriso.
— Sim, lá vem ele.
— Boa noite, meninas — Black se aproxima com um sorriso contido
no rosto, beija a testa da irmã sussurrando algo que faz a Hope rir.
— Olá, Black — Josephine responde alisando uma mecha do cabelo
negro para trás da orelha.
— Boa noite. — Forço a responder por educação. Ele me encara por
um segundo antes de voltar sua atenção a Josephine.
— Me daria a honra de uma dança? — Black pergunta estendendo a
mão. Josephine a pega sorridente indo com ele.
É incomodo como os dois homens que se aproximaram da nossa mesa
tenham falado com a Hope e a Josephine, mas me ignoraram como se eu não
existisse. O bolo no peito aumenta, dificultando continuar nesse ambiente.
Preciso de um segundo para ser capaz de respirar.
— Daisha está linda, não concorda? — Hope pergunta.
Ela pode querer que eu me sinta melhor ao puxar a atenção do Kai
para mim, mas isso só aumenta o buraco no meu estômago. Ele é o meu
noivo, não deveria disputar por sua atenção.
— Sim — ele responde, percebo sua mão fechada em punho.
Levanto não conseguindo continuar com a humilhação.
— Com licença, vou ao banheiro — informo, não espero pelas
respostas.
Deixo o salão, caminhando a passos curtos pelo corredor que leva ao
banheiro e a saída. As paredes se fecham ao meu redor, uma tontura de leve
me faz tropeçar nos saltos. Caio para o lado me apoiando na parede
precisando de um segundo para respirar, puxo o ar não o sentindo
preenchendo meu pulmão.
Uma mão agarra minha cintura me puxando para trás. Grito assustada,
a palma calejada tapa minha boca. O quadril pressionado contra o meu,
aperto o braço ao redor do meu corpo querendo escapar. O coração disparado
dentro do peito, o medo de ser atacada consumindo minha alma.
— Sou eu — a voz grave sussurra rouca no meu ouvido — se acalme.
Rosno, enfurecida. Há poucos segundo eu não era digna de receber
sua atenção e agora ele se acha no direito de me agarrar no meio do corredor?
Levanto o pé pisando no seu com força, com um grunhido me soltando.
Antes que eu possa fugir, sou prensada contra a parede.
— Porra, Daisha — as iris negras como a noite me assustam ao
perceber o desejo contido nelas — estou quase esporrando nas calças desde
que a vi entrar no salão. — Agarra meu pescoço com uma mão aproximando
sua boca da minha — você não faz ideia do quanto é difícil esconder o tesão
que sinto por você.
— Está louco? — Agarro seu punho querendo que me solte — você
me ignorou por anos e agora vem com esse papo de tesão? — Ranjo os
dentes querendo o morder — vá se foder, Kai Lucian — bato em seu peito,
não causando impacto nos músculos duros.
— Ah, boneca — pressiona o quadril na minha barriga, me assusto
pulando contra a parede ao perceber o volume em sua calça — tudo o que eu
tenho feito foi máscara a vontade que tenho de te fazer minha. Não podia
correr o risco de te perder.
— Você é um nojento.
Kai não é diferente dos outros homens.
Só quer me usar para satisfazer suas vontades pervertidas.
— Não — sua boca fica a um centímetro de distância da minha — sou
um homem explodindo de vontade de te comer — pressiona os lábios quentes
nos meus.
Kai fecha os olhos espalhando as mãos pelos meus quadris. Pisco sem
saber como me libertar. A última gota que faltava para fazer meu copo
transbordar cai ressoando destruição. Ergo o joelho acertando o centro de
suas pernas. Ele arfa se curvando para a frente, uma mão na coxa, a outra
entre as pernas.
— E eu uma mulher querendo te matar.
Não fico para ouvir sua resposta. Corro para a porta de saída, o ar frio
da noite bate contra meu rosto. Corro para longe do salão, os saltos batendo
contra o asfalto. Meus pés doem, perco o equilíbrio várias vezes quase
caindo, os fios presos no coque se soltando. Como ele ousou me beijar contra
a minha vontade?
— Eu não sou um objeto sexual! — Rosno com as lágrimas presas.
Vejo a casa do meu irmão Daniel, talvez ele possa me ajudar a sair
dessa situação. Kai Lucian não é quem eu pensava e hoje eu tive uma prova
do que me aguarda. Um homem que pretende me dominar e curvar a sua
vontade, mais do que ser silenciada, serei usada como um objeto sem poder
pedir ajuda ou escapar.
Eu me recuso a cair sem lutar.
Toco a campainha, Daniel e Emily não podem me abandonar. Meu
irmão surge na soleira da porta ao lado de sua esposa, eles ficam confusos ao
me ver, tento controlar a respiração, não tenho muito tempo. Os pés me
matando, o coração acelerado e o pulmão queimando.
— Você não deveria estar no salão? — Emily pergunta.
— Eu fugi, preciso da ajuda de vocês para sair do país.
— O quê? — Emily grita.
— Daisha — Meu irmão chama meu nome com severidade.
— Não, só me escuta — agarro os ombros dele — Você é o
consigliere, eu sei que fugir é traição, mas se você me ajudar, nunca vão me
achar. Eu não quero casar com Kai Lucian, e não consigo sair do complexo
sem você. Por favor, Daniel, me ajuda a fugir.
Me salva!
Grito na minha mente, se ele souber o que o Kai fez, poderia o
convencer mais fácil.
— Não posso te condenar à morte — Daniel me puxa entre seus
braços — Kai seria obrigado a te procurar por todos os lugares do planeta,
você nunca teria paz.
— Qualquer coisa é melhor do que casar com alguém que eu detesto.
Começo a perder as esperanças de que meu irmão poderá me ajudar,
ele não me pergunta o motivo da minha fuga, Daniel não estranha? Não se
importa? Ou confia tanto no amigo que o acharia incapaz de roubar meu
primeiro beijo, me fazendo sentir uma puta usada.
— Vocês podem acabar se amando — ele fala.
— Não é porque você consegue amar a Emily, que eu terei a mesma
sorte — me solto, decepcionada. Todo o papo de eu poder contar com ele não
passou de uma mentira — eu realmente achei que você poderia me ajudar.
Não me atrapalhe.
— Desculpe, não vou te deixar cometer uma loucura que custará a sua
vida! — Puxa meu pulso, me impedindo de ir embora.
— Daisha — Emily agarra minha mão, o rosto preocupado — você
está nervosa, não pensou direito. Podemos dar um jeito na situação, ok? Tira
essa ideia maluca da cabeça de fugir, você nunca conseguiria.
— Você é a minha amiga, eu te procurei por saber que seria capaz de
me ajudar — acuso, a dor me rasgando — por favor, Emily.
Minhas amigas são as únicas pessoas as quais confio. Sem elas eu vou
ficar completamente sozinha.
— Daisha! — a voz do tarado vibra em fúria, imagino que ainda deva
sentir dor. Sempre que puder vou chutar sua virilha — que merda você pensa
estar fazendo? Fugindo antes do pedido!
Parece que ele não quer revelar o que aconteceu. Quais seriam as
punições por dar uma joelhada no meu futuro marido e fugido da festa? Eu
poderia contar ao Daniel e a Emily, pedir ajuda mais uma vez. Contudo, as
expressões em seus rostos de lamento me travam. Eles não me enxergam
como uma vítima, mas como uma garota mimada que não quer cumprir com
seu objetivo.
Acreditam que eu realmente posso criar afeto pelo Kai.
— Eu entrei em pânico, mas quem não entraria sendo a sua noiva —
visto uma armadura de frieza — eu odeio você. Podemos nos casar, mas
nunca serei sua.
— Eu não ligo — a indiferença retorna a sua voz, puxa meu pulso —
Só cumpra o seu papel.
— Vou te matar envenenado na primeira oportunidade — ameaço
fervilhando em ódio.
— Faça o seu melhor.
Aceita o desafio. Kai me puxa como uma boneca, não estou disposta a
ceder. Se ele vai ser um tarado no nosso relacionamento, serei uma praga o
infernizando a cada segundo até conseguir ser livre. Pode demorar quanto
tempo for, mas eu nunca cederei ou desistirei.
O comportamento de todos essa noite só serviu para me mostrar que
eu tenho razão em querer ir embora. Viver sem ser controlada, e quem sabe,
um dia encontrar alguém que se importe comigo.
CAPÍTULO 6 KAI

Se existem deusas nesse mundo, Daisha Griffin é uma delas.


A morena entra no salão com os cabelos presos na lateral, o pescoço
branco como leite erguido, exalando ar de rainha. Os ombros para trás, as
mãos reunidas na frente da barriga, os peitos pressionados contra o decote
tímido em formato de U, meu pau lateja de vontade de babar naquela
coisinha gostosa.
A cintura fina com uma curva generosa da bunda, aperto as mãos em
vontade de ir na sua direção e a puxar para o corredor, provar de sua boca e
apertar a carne macia com meus dedos, me perder no cheiro inebriante que
ela exala.
— Você está quase babando — Black estala os dedos na frente do
meu rosto.
— Eu conheço bem esse olhar — Michael provoca — é de um homem
apaixonado.
— Calem a boca — ralho.
Não deveria ter perdido o controle da face, Louis ainda é o subchefe e
moro na sua casa, não posso permitir que ele descubra meu desejo pela
Daisha. Eu confio nos meus amigos com a minha alma, mas não posso
arriscar contar a eles a atração que sinto. Em algum momento eles fariam
uma brincadeira como essa, que seria ouvida pelo Louis e me traria
problemas.
— Oh Michael — Black cutuca o Michael com os ombros — não era
o Kai que falava que nunca se renderia por uma boceta?
— Lembro de ouvir ele dizer isso semana passada — Michael
responde — e você também.
Não contei aos outros que Black confessou gostar de alguém. Ele
ainda não me falou quem é ou se está em um relacionamento. Algumas coisas
devem ser mantidas no sigilo. Se a Josephine descobrir ficará de coração
partido, não quero ver minha irmã sofrer pelo Black.
— Não tenho culpa se minha noiva é atraente. — Respondo.
— Ele sabe usar palavras rebuscadas — Michael provoca.
— Um verdadeiro lorde — Black zomba.
— Estou indo agora dizer a Josephine que você quer dançar com ela
— bato em seu ombro — em um minuto ela virá atrás de você.
Não espero pela resposta do Black, aliso a lapela do paletó caminhado
de encontro a Daisha sentada de costas para mim ao lado da Josephine e
Hope. Os pelos da minha nuca se arrepiam ao sentir que o Louis me observa.
Não viro o rosto na sua direção, neutralizo as feições, é arriscado falar com a
Daisha, mas a Hope já me notou e não posso recuar agora.
Vou precisar ignorar minha noiva para ela não se tornar um alvo do
Louis. Cumprimento Hope, aliso sua barriga, me dói ignorar o cumprimento
da Daisha.
Eu não queria agir como um babaca, me desculpa boneca.
Aviso a Josephine sobre o Black e um segundo depois meu amigo
chega levando minha irmã para a pista de dança. Ele também não fala com a
Daisha, deve ter percebido o mesmo que eu, Louis nos observa.
Hope me dá a chance perfeita de falar com a minha mulher. Ela está
mais do que linda, Daisha tem uma beleza única, me enlouquece, dificultando
controlar a vontade de a pegar nos braços, beijar seus lábios até eu perder os
sentidos, me enfiar entre suas pernas, a fazer delirar de desejo nos meus
braços. Me querer, ansiar por mim. Daisha Griffin foi a primeira coisa que
desejei para mim e manter longe das garras malvadas do Louis.
Aperto os punhos em uma tentativa de continuar impassível. Ela não
responde o elogio, levanta indo ao banheiro. Espero um tempo encarando a
Hope, ela ergue as sobrancelhas sugestivas indicando que devo ir atrás da
minha garota. Sorrio sutilmente concordando com seu plano. Finjo ir na
direção do Michael, passo pela porta adentrando o corredor dos banheiros,
Daisha se escora na parede, as costas nuas implorando por minha atenção.
Não consigo mais controlar o desejo avassalador.
Envolvo a mão em sua cintura a puxando para mim, o grito ecoa, tapo
sua boca com minha mão, não podemos chamar atenção. Pressiono seu
quadril contra meu corpo envolvendo um braço ao redor da sua cintura. O
cheiro cítrico com um leve toque adocicado invade meus sentidos. Inspiro
seu aroma como um maldito viciado, precisando dele para viver.
— Sou eu — inebriado sussurro em seu ouvido — se acalme.
Um rosnado partindo dela joga centenas de brasas contra o fogo
queimando minha alma. Nunca almejei tanto algo como eu quero a Daisha, a
cada dia se aproximando da nossa união, do momento dela ser minha eu vou
perdendo o controle, ficando difícil esconder o quanto eu a desejo. A dor
lateja no meu pé, rio por sua ousadia a pressionando contra a parede.
— Porra, Daisha. Estou quase esporrando nas calças desde que a vi
entrar no salão. — Excitado, agarro seu pescoço sexy levando minha boca
contra a sua — você não faz ideia do quanto é difícil esconder o tesão que
sinto por você.
Confesso o meu segredo mais precioso.
— Está louco? Você me ignorou por anos e agora vem com esse papo
de tesão? — Rosna — vá se foder, Kai Lucian — soca meu peito.
Meu pau aperta pela ferocidade dela, fantasio com a boca rosa inchada
ao redor do meu cacete enquanto meto na sua garganta a fazendo entalar com
meu membro robusto.
— Ah, boneca — esfrego o quadril na sua barriga, a fazendo sentir a
dureza do meu pau — tudo o que eu tenho feito foi mascarar a vontade te
fazer minha. Não podia correr o risco de te perder.
— Você é um nojento.
— Não — engulo sua respiração a um milésimo distante da minha —
sou um homem explodindo de vontade de te comer — não consigo mais
resistir.
Toco meus lábios contra os seus, macios, quentes, perfeitos. Espalho
as mãos em seu quadril a puxando para mim, afasto os lábios deslizando
minha língua para preencher a sua boca.
Minha virilha queima latejando em dor ao ser acertada pelo joelho
dela. Perco o ar, me curvando para a frente, amparo minhas bolas doloridas
com uma mão, quase não conseguindo me manter em pé. A voz foge, a
cabeça só processando que levei uma maldita joelhada nas bolas.
— E eu uma mulher querendo te matar.
Merda! Eu fodi com tudo.
Sou um asno por imaginar que a Daisha iria me querer como eu anseio
tê-la ao meu lado. Nunca trocamos mais do que dez palavras. Fingi tão bem
desinteresse na minha noiva que ela foi a primeira a acreditar na minha farsa.
Sento no chão me recuperando da dor nas bolas, as pernas bambas. Foco em
respirar, me recuperando enquanto planejo meu pedido de desculpas.
Eu sempre soube que a Daisha seria difícil, ela não esconde a vontade
de se ver livre da nossa união. Mas não imaginei que pudesse ser agressiva. E
o pior é que gostei de ver suas garras, uma gata arisca. Ela me chutou nas
bolas e a vontade de a foder aumentou em 100%. Preciso encontrar meu
furacão de olhos azuis.
Levanto, aos poucos vou recuperando o passo. Atravesso a porta a
tempo de a ver correndo na direção da casa do Daniel. Mais lento do que eu
gostaria caminho atrás dela, a vejo conversando com o irmão e a cunhada,
Daisha pede algo a eles, espero que não tenha contado que a beijei sem sua
permissão ou o Daniel vai querer quebrar a minha cara.
— Daisha! — vibro a chamando, querendo cortar qualquer assunto
que esteja tendo com eles — que merda você pensa estar fazendo? Fugindo
antes do pedido!
Não deixo transparecer a dor nas bolas ou a verdade por trás dela ter
fugido.
— Eu entrei em pânico, mas quem não entraria sendo a sua noiva —
se vira os olhos gélidos me encarando — eu odeio você. Podemos nos casar,
mas nunca serei sua.
Caralho, eu realmente a magoei.
— Eu não ligo — mantenho o personagem na frente dos outros — Só
cumpra o seu papel.
Enquanto eu não assumir como subchefe e estiver longe do Louis,
precisarei ser cuidado em cada um dos meus passos. Daisha não deve
perceber a presença dos soldados rondando a casa do Daniel e o complexo.
— Vou te matar envenenado na primeira oportunidade — estremeço
de tesão pelo seu ódio.
— Faça o seu melhor.
Precisando ficar a sós com ela, a puxo voltando ao salão escutando
suas reclamações. Deixo os meus amigos para trás, Daisha anda relutante me
seguindo. Nos afastamos o suficiente dos olhares curiosos, desvio nosso
caminho a levando entre as árvores, queimando de vontade de continuar de
onde páramos.
— Você vai me matar de desejo sexual com sua rebeldia — confesso
pressionando seu corpo contra a árvore. Foda-se se eu levar outra joelhada,
estou preparado.
Agarro suas bochechas, os olhos azuis me encarando duvidosos, não
era a reação que ela esperava. Daisha é a única mulher que eu quero na minha
vida, anseio pela paz em nosso casamento e poder fazer sexo quente e suado,
enlouquecedor todos os dias, me perdendo em seu corpo delicioso.
— Você é a porra de um tarado — bate no meu ombro.
— E você uma gata arisca! Eu estava te beijando e você me deu uma
joelhada! — Largo suas bochechas ao receber seu olhar mortal, me afasto um
passo ficando fora do seu alcance.
— Já pensou na possibilidade de que eu não queria ser beijada? —
Arqueia a sobrancelha.
— Mas não precisava me dar uma joelhada! — Abro os braços,
irritado.
— E você poderia ter perguntado antes. — Cutuca meu peito me
empurrando contra uma árvore.
— Bom, você quer que eu te beije? — Agarro sua cintura a puxando
para mim.
— Não. — Ergue o joelho, a largo mantendo distância.
— Porra Daisha! — Grito — Eu quero te beijar para cacete. — Aperto
suas bochechas a fazendo recuar, como um maldito maluco que não sabe se
fica longe ou perto.
— E eu não quero ser beijada, se tentar de novo acerto outra joelhada.
— Cruza os braços na frente dos peitos, os fazendo saltar na minha cara,
salivo.
— Inferno de mulher! Caso e entro em celibato.
— Se me deixar ir embora. Poderá transar com qualquer uma.
— Eu nunca vou te deixar ir. Acerte quantas joelhadas quiser, mas eu
nunca vou abdicar da mulher que eu quero.
— Por anos você fingiu que eu não existia, acha mesmo que vou
acreditar no seu papinho? No mínimo, você quer me comer — vira o rosto
magoada.
Recuo, ela tem razão. Eu fui certeiro ao fingir emoções que não sentia,
a ignorando e ficando com outras mulheres. Se continuar a pressionar, vou
afastá-la ao invés de despertar seu desejo por mim.
Preciso ser sincero com ela ou caminharemos rumo ao caos.
— Desculpe por te tratar com indiferença — calmo, toco sua mão
subindo o carinho por seu braço — se ele percebesse que eu te desejo, a
afastaria de mim. Não podia arriscar, o preço era alto demais. Todos esses
anos eu te quis em silêncio, te observei mais do que a qualquer um,
esperando pelo momento de ficarmos juntos.
— Bobagem — puxa a mão — você é Kai Lucian, come quantas
bocetas quer, com a língua solta falando atrocidades, magoando as pessoas
sem pensar duas vezes. Nunca protegeu a Josephine da Rebeca ou do Louis,
fez questão de esfregar na cara da Emily que pegava mulher com o Daniel.
Você é um maldito escroto, me ignorou por anos, me fazendo sentir um nada,
indigna de um segundo da sua atenção e agora me vem com o papo de que
me deseja? — Franze o rosto — eu te digo que vá a merda, seu escroto
fodido.
— Eu assumo que posso ter sido um escroto em muitos momentos —
aperto os dedos — mas você não faz ideia das merdas que aguentei. Não ouse
falar das brigas da Josephine e da Rebeca quando você só conhece o lado de
uma delas. Me culpa por falar para a Emily sobre o Daniel pegar mulher, mas
e quanto a ele? Era ele quem as fodias, eu só dei com a língua nos dentes —
baixo a vista envergonhado, não me orgulho de muitas coisas que fiz.
— Pretende continuar se escondendo atrás de suas desculpas ou ser
homem e assumir as merdas que fez? Você seguiu seu desejo — o nojo
evidente em suas palavras — ignorou a minha vontade e roubou o meu
primeiro beijo. Me agarrando como uma vadia qualquer no corredor. Eu não
te respeito, não te quero e por mim nunca casaria com você. Saiba que estou
sendo obrigada a engolir essa união.
— Me desculpe, Daisha — peço sincero — eu deveria ter pensado em
você e perguntado se era da sua vontade — agarro sua mão novamente —
podemos fazer nosso casamento dar certo.
— Você só quer uma boceta para foder de noite.
— Não, eu anseio por uma mulher que me ame — acaricio sua
bochecha percebendo as defesas dela baixarem — eu não sei como amar, mas
pretendo aprender com você — encosto nossas testas — prometo não te
beijar sem a sua permissão.
— Não espere me convencer com facilidade — a mágoa ressoa de sua
boca para a minha.
— Vou provar que sou digno — beijo sua testa.
— Tanto faz.
Ela se solta retornando a caminhar, percebo que manca, os saltos
devem torturar seus lindos pés de boneca. Penso em pegá-la no colo, recuo no
último segundo. Se ela não gostar, levarei outra joelhada.
— Posso te carregar, os sapatos devem machucar.
— O quê? — me encara surpresa.
— Você sente dor — aponto seus pés — ao menos até o salão, deixe
que eu te levo — estendo os braços — prometo não te atacar.
— Eu vou andar com um taser na bolsa quando casarmos, se você
tentar qualquer gracinha te dou choques — estende os braços.
— Só vou te segurar se você falar “Kai me leve nos braços” não vou
arriscar outra joelhada nas bolas. — A provoco. Sorrio ao ver a fúria em suas
bochechas rosadas, os lábios franzidos em uma linha.
Vai ser difícil controlar meu desejo de irritar a Daisha, fico com um
tesão da porra ao ver suas mãos finas pressionadas em punho. Os lábios
rosados e carnudos apertados, a testa franzida, a respiração pesada e os olhos
totalmente focados em mim enquanto ela pensa nas diferentes formas de me
acertar.
— Me carregue, agora — ordena, e meu pau aperta na calça.
Calma amigão ou vamos levar outra pancada.
Ele não gosta da opção, mas é o que temos disponível.
— Como quiser, boneca — estalo a língua nos lábios, ela persegue o
movimento que faço e noto seu rosto ganhando um tom de excitação. Daisha
pode não assumir ainda, mas tenho certeza de que ela me quer.
Só preciso recuperar os anos em que fui um completo babaca e a fazer
mudar a forma como me enxerga.
Envolvo um braço na maciez de seus ombros apertando seu bíceps, o
outro rodeio seus joelhos a suspendendo no ar. Daisha encolhe timidamente
os braços contra o colo, o rosto vermelho em vergonha, encarando as mãos.
Mordo o lábio resistindo a vontade de enfiar o nariz em seus cabelos a
cheirando, morder o pescoço branco como a neve.
— Quais as chances de você me socar se eu beijar seu ombro? —
pergunto andando com ela no colo, o mais lento possível.
— De 0 a 100 eu diria que 100, bem no meio do seu olho — encara
feroz.
Quem não vai sobreviver a um casamento com essa mulher sou eu. Ou
morro de um caso de bolas azuis, ou a fodo feito um animal todos os dias.
Com a aspereza da minha gatinha, acho mais fácil a primeira opção. Vou
precisar de paciência para fazer as barreiras dela baixarem. Eu sei que a culpa
é minha por Daisha me detestar, e pretendo me controlar o máximo possível
para não agir impulsivamente com ela.
Qualquer erro mínimo eu a perco.
— Nem mesmo um cheiro? — arisco, seu olhar duro me faz rir —
como quiser, madame — brincando com o perigo sapeco um beijo em seus
cabelos. Daisha revida batendo em meu ombro.
É gostoso me sentir aliviado, sem preocupações.
Estranhamente eu me sinto feliz.
Gargalho arrancando bufadas dela. Infelizmente chegamos à entrada
dos fundos do salão de festas e tenho que colocá-la no chão. Daisha desce
entrando a passadas largas, dou um tempo antes de a seguir. Esbarro com o
Daniel na saída do banheiro, ele ergue a sobrancelha me encarando
desconfiado.
— Como chegamos primeiro que vocês?
— Estávamos conversando — coloco as mãos nos bolsos —
acertando os ponteiros — dou de ombros.
— Michael me mandou mensagem dizendo que o Louis estava a sua
procura. Mentimos para ele, você estava comigo no lado de fora e a Daisha
com a Emily.
— Obrigado.
É dessa merda que eu tenho medo. Ele sempre está de olho em mim,
só esperando o momento para atacar.
— Vamos, hora do pedido. — Daniel bate de leve no meu ombro.
— Certo.
— Sua conversa com ela foi boa?
— Sim, começamos a definir algumas regras de convivência — aliso
o queixo, é estranho ficar sem barba. — Sua irmã quer ser respeitada e eu
quero a respeitar.
— Daisha é como você, ela nunca pode escolher nada — suspira triste
— Clarisse a educou com rigidez, a privando de muitas coisas. É importante
para a Daisha controlar a própria vida.
Me sinto pior por a beijar sem permissão. Eu não imaginava como
poderia a afetar, me perdi no meu desejo e a magoei. Farei de tudo para
compensar o erro e dar a ela um beijo de verdade, a fazer ansiar por mim.
Entramos no salão, encontro minha noiva sentada ao lado de seus pais.
Louis solta fogos pelos olhos, hoje marca o fim da sua posição como
subchefe, meu casamento acontecerá em um mês e não estarei mais sob o seu
controle. O ignoro, não vou permitir que acabe com a festa do meu noivado.
Caminho decidido até a Daisha, estendo a mão para ela.
— Me acompanha em uma dança?
— Sim — responde polida.
A puxo, a música muda quando chegamos a pista de dança. Ao final a
pedirei em casamento, mas antes preciso de sua permissão para outra coisa.
— Seus pés doem muito? — pergunto a encarando.
Na frente das pessoas, Daisha baixa as defesas agressiva, assumindo
uma expressão neutra.
— Um pouco — suspira cansada — estou acostumada com esse tipo
de dor.
— Não deveria — a puxo para mais perto, baixando a boca ao seu
ouvido — posso te beijar depois do pedido de casamento?
— Não temos escolha.
— Se você não quiser, não beijo.
— Não minta para mim — os olhos brilham desconfiados.
— Nunca. Encerro o pedido com um beijo na sua testa e pronto.
Embora saiba que minha ação vai gerar boatos sobre meu desejo pela
Daisha e alguns a desqualifiquem como minha esposa por não despertar
desejo o suficiente para a beijar. Sem contar as suspeitas de que posso ser
gay, o Louis ficará furioso, terei de passar uns dias longe de casa para escapar
de uma punição.
— Pode me beijar, não use a língua. — Acena como se convencesse a
si mesma.
— Certo.
A música para, fico de joelhos segurando sua mão, puxo a caixa de
veludo do meu paletó, abro expondo o anel de noivado com um lindo
diamante.
— Daisha Griffin, você aceita casar comigo?
— Sim.
Ela responde como um robô. Preciso ser paciente ou nunca a farei me
aceitar como seu marido.
Levanto colocando a aliança em seu dedo, as palmas explodem ao
nosso redor. Seguro suas bochechas, baixo a cabeça colando nossos lábios em
um beijo casto.
— Eu vou fazer você feliz — sussurro a soltando. Ela sorri triste antes
de ser abraçada pelas amigas.
Daisha Griffin carrega um mar sombrio em seu peito.
Quero ser capaz de a ajudar a sentir-se melhor, mesmo não sabendo
como, não desistirei de nós dois.
CAPÍTULO 7 KAI

— O que você fez? — Me assusto, pulo virando de costas encarando a


Josephine de braços cruzados me olhando irritada.
Estou fumando no jardim e no meio de uma partida no jogo no
celular, após chegar da cerimônia de noivado Louis me arrastou para seu
escritório querendo saber o motivo de eu ter demorado conversando com o
Daniel. Contei a ele que falávamos sobre a caçada que teremos em alguns
dias, a última antes do meu casamento. Ele me liberou, a tensão pelo medo de
ser castigado percorre cada músculo do meu corpo.
Ele sabe que sua dominância como subchefe chegou ao fim. O único
temor me perturbando é o dele querer continuar no comando me usando
como sua marionete. Vou escolher uma casa longe da sua, talvez próximo ao
Michael e Daniel, será mais fácil de pedir a ajuda dos meus amigos. Saber
que os tenho me acalma, por anos passei pelo inferno contando somente com
a Rebeca.
Ela me dá conforto, eles podem me proteger.
— Ao que você se refere? — pergunto tragando o tabaco e guardo o
celular.
— Daisha estava estranha quando voltou do banheiro e não me
convenceu a história de que ela estava com a Emily, você fez alguma coisa
— avança mais um passo na minha direção.
Josephine parece uma cobra prestes a dar o bote. Se fosse outros
tempos eu gritaria com ela a mandando ir embora por se meter na minha vida
e falar grosserias. Percebo sua intenção em proteger a amiga, não fui o
melhor dos irmãos e meu passado me condena, respiro pesado, soltando a
fumaça do cigarro no vento da noite.
— Daisha estava com os pés doendo — conto uma meia verdade —
machucou ao ir para o banheiro, fiquei com ela a ajudando a melhorar.
— Não combina com você — percorre o olhar pelo meu corpo, com
nojo nas feições — é mais fácil você a atacar.
— Não sou um tarado — controlo a vontade de rir, as palavras da
Daisha ressoando na minha mente, para ela sou um completo pervertido.
— Kai — fica ao meu lado — não seja um escroto com a Daisha, ela é
uma pessoa tímida e cheia de vontades. A respeite, acima de tudo.
Josephine se preocupando com alguém, nunca tinha visto esse lado
dela.
Minha irmã sempre foi egoísta, olhando para o próprio umbigo e suas
dores não conseguia perceber as consequências das suas rebeldias em mim. A
ver agindo em defesa pela amiga me intriga. O que a Daisha tem de especial
para transforar a Josephine?
— Eu sei — jogo a bituca do cigarro no lixo — a vontade dela conta
tanto quanto a minha nessa relação — sento no chão me escorando na coluna
— não precisa se preocupar.
— Certo — ergue o queixo e vira.
— Espera — seguro seu pulso a puxando para sentar ao meu lado —
como foi sua noite?
Josephine me encara de sobrancelhas franzidas.
Conversar amenidades é a forma como encontrei de me aproximar
dela. Não quero revelar a verdade por trás do motivo que eu me afastei, só a
faria sofrer e se culpar. Josephine é solitária, sempre soube disso, acreditava
que era devido a seu temperamento tempestuoso, que ninguém a aceitava,
hoje vejo que ela foi excluída.
— Boa — dá de ombros.
— Black te tratou bem?
— Sim — sorri boba não conseguindo disfarçar os sentimentos —
dançamos três músicas. Ele não conversa muito, mas me ouve.
— Bom. — O silêncio pendura entre nós.
— Você pediu a ele para dançar comigo?
— Não dançar — dou de ombros — só que ele fosse mais sociável.
Você defende a Daisha, fiz o mesmo por você — ergo o canto do lábio
observando a surpresa em suas feições — aconteceu uma coisa — confesso,
pedrinhas roçando minha garganta, travando a fala completa — eu não quero
continuar sendo o mesmo, Josephine — admito em um sussurro.
— Não entendi — ergue a coluna, desconfiada, pronta para fugir.
— Eu errei com você — toco sua mão — desculpe por te abandonar.
— Isso é uma pegadinha? — puxa a mão arisca.
— Não — dou de ombros, sabendo que não será fácil — podemos
baixar os escudos e conversar?
— Você nunca quis me ouvir — acusa.
— Ou você que não falava?
— Que diabos? — fica de joelhos os olhos queimando em fúria — sua
vida inteira você passou dando razão a Rebeca e agora vem com esse papo de
que eu não falava?
— No episódio do celular, anos atrás, eu fui ao seu quarto esperando
você me contar o que aconteceu. Lembra como fui expulso?
— Você teve dias para vir a mim — range os dentes — preferiu ficar
com a falsa da Rebeca ouvindo as versões fantasiosas dela!
— Eu não estava com a Rebeca — viro de frente segurando seus
ombros, querendo contar a verdade. A mágoa em suas iris escuras atinge meu
coração. Só conseguirei chegar a Josephine se eu for sincero com ela —
naquele dia, eu fiz merda em uma missão — minto, não posso a despedaçar
mais — e o Louis não tolera erros.
— A Rebeca disse que você estava com ela — responde baixinho,
magoada.
— Não, eu nunca daria preferencia a ela ou a você. Amo as duas, e
acaba comigo a distância que impusemos.
— Você só ama a ela — afasta meus braços — aquela não foi a única
vez em que você ficou do lado dela.
— Josephine — toco seu queixo — você nunca me permitiu ficar ao
seu lado.
— Chega de mentiras — bate na minha mão me afastando — o que
você espera conseguir com essas conversas, se aproximar de mim com qual
intuito?
— Eu me arrependo pelo que a nossa relação se transformou, só
queria poder mudar as coisas, mesmo que pouco.
— Isso é estranho — nega com a cabeça, dividida entre o que
acreditar.
— Podemos fazer isso no nosso tempo — seguro sua mão — não sei o
que você sente, mas eu quero muito me aproximar e me relacionar com você
— a encaro, expondo minha alma — não vou te força, decida por si mesma,
estarei te esperando.
— Quando eu dei um tapa na cara do Tommaso, três anos atrás, você
desapareceu, me deixando sozinha para lidar com a fúria do Louis e da
Eleanor. Você nunca esteve presente por mim, não me culpe por desconfiar
de suas intenções.
— Aquele tapa gerou uma desavença enorme com a Máfia Siciliana,
Tommaso é o Chefe deles, foi desrespeitado na frente de todos. Andrew ficou
furioso, ele pode ter gritado com você, mas foi em mim e no Louis que ele
bateu. E porra — aperto os punhos lembrando do incidente — o Louis te deu
uns tapinhas? Eu fui queimado por doze dias como punição!
Esbravejo, não consigo mais guardar dentro de mim.
— Tinha câmeras por todos os lugares, ninguém viu o Tommaso
agindo desrespeitoso com você! Não sei por que caralhos você fez aquilo,
mas não pode me culpar por não ficar do seu lado!
— Q-ueima-do? — gagueja levando a mão ao peito.
— Esquece isso — me escoro na parede passando as mãos no cabelo
tentando aplacar a fúria.
É sempre assim com a Josephine, eu tento me aproximar e ela me
expulsa o máximo que pode com suas palavras insensíveis. Não quero expor
o meu passado doloroso. É difícil manter os ânimos controlados ao ser levado
ao limite pelas suas acusações.
— Eu não sabia — fala baixo — naquele dia, eu tinha ido ao banheiro
com a Eleanor e a Rebeca — aperta o braço puxando a pele, sem me encarar
— a Eleanor ficou falando que eu seria dada como noiva do Tommaso, que
ele me levaria para a Sicília, eu seria estuprada todos os dias para gerar os
filhos dele — a voz dela se perde.
Meu peito aperta em dor pela minha irmã. A puxo para mim,
apertando seus ombros contra meu peito, a cabeça na curva do meu pescoço.
— Durante a dança o Tommaso começou a falar sobre o que esperava
de mim, eu estava em pânico. Pensei que se o rejeitasse conseguiria escapar
do destino cruel de ser sua esposa, abusada e longe sem conseguir pedir
ajuda. Eu agi sem pensar. Me desculpa, Kai.
— Não foi sua culpa — aliso seu braço — fomos criados por dois
monstros, não existe a possibilidade de felicidade nesse inferno de casa.
Desculpe por não conseguir te ajudar.
— Ele te machucou outras vezes? Por minha causa.
— Não — minto, ela já está abalada demais para continuar se
punindo.
Vou carregar a dor sozinho.
— Me dá uma chance de ser seu irmão? — peço.
— Não sei — a voz dela treme — foram anos de rejeição e mágoa.
Você tem seus segredos e eu os meus, não acho que conseguiremos nos
relacionar com esse peso entre a gente.
— Podemos começar devagar, viver o presente ao invés do passado.
— Desculpe, Kai — se afasta, a face banhada em tristeza — não sei se
consigo.
— No nosso tempo — aliso sua mão — por favor.
Ela desvia o olhar calada em pensamentos.
Não sei o quanto Josephine sofreu ao longo dos anos e hoje percebo a
minha parcela de culpa. Esconder a verdade por detrás do meu afastamento
causou uma grande rachadura em nosso relacionamento. Não estou pronto
para contar a verdade e a ferir, ela esconde algo de mim por acreditar que não
serei capaz de confiar nela.
— Começa por hoje — ergue o queixo — o que você e a Daisha
estavam fazendo?
— Você não cede — rio baixinho.
— Se quiser minha confiança terá de merecer.
— Eu a segui, dei um beijo nela e levei uma joelhada.
— Bem feito, seu tarado!
— Ela me chamou disso — aponto — depois ela fugiu para a casa do
Daniel, não sei o que eles conversaram, a trouxe de volta e conversamos
sobre consentimento. Daisha me fez perceber que agi errado a beijando
quando eu tive vontade, sem considerar a dela.
— Você não é bom em pensar nos outros — dá de ombros — só se
importa com a Rebeca!
— E estou mudando isso — cutuco sua barriga — pode perguntar a
Daisha se quiser, prometi que só a tocaria se tiver consentimento.
— Bom saber — se ergue — amanhã conversamos mais.
Ela não disse “sim” ao meu pedido. Foi embora com um pequeno
sorriso nos lábios e a promessa de continuarmos a conversa amanhã. Vou
agarrar a chance que Josephine e Daisha me deram. Vou banir o sofrimento
das nossas vidas, vai levar tempo, com paciência e persistência sei que
conseguiremos.
— Não confie nela — Rebeca surge das sombras, não percebi sua
presença.
— Rebeca, me dá um minuto de paz — peço acendendo outro cigarro.
— A história do banheiro é mentira — senta ao meu lado — nossa
mãe nunca falou que a Josephine seria estuprada, somente que o senhor
Bianchi estava considerando a união e que ela foi a escolhida pelo Chefe
Tommaso.
Rebeca sempre foi educada, polida em suas palavras, quase como se
as escolhesse com cuidado. No passado achava um sinal de educação, hoje
percebo sua astúcia ao tomar cuidado com as palavras.
— Vocês duas nunca concordam nas versões — trago o cigarro
precisando de nicotina para acalmar os nervos.
— A senhora Griffin a expulsou da sociedade das damas depois do
acontecido com o Tommaso, para que ela não pudesse nos influenciar. Você
não sabe como a Josephine é perto das outras damas…
— Se eu precisar saber, pergunto a elas — levanto, pela primeira vez,
incomodo por ouvir a Rebeca reclamar da irmã — vá para o quarto, estou
saindo.
— Para onde você vai? — me segue.
— Foder uma boceta — respondo ríspido.
— Eu não fiz nada! — o choro em sua voz me para.
Viro encarando suas bochechas vermelhas e os olhos banhados. Volto,
a puxando para meus braços, arrependido por como a tratei. A nostalgia me
envolve, sempre que brigo com a Rebeca eu recuo ao ver suas lágrimas, com
a Josephine ela se afasta e eu não vou atrás. É por isso que a Josephine me
acusa de preferir a Rebeca. Enquanto acolho a que vem chorando para mim,
deixo ir sozinha a que se afasta.
Inferno, eu mesmo cavei a cova na qual joguei minha relação com a
Josephine. Paciência e verdade serão as duas virtudes para conseguir reatar
meu relacionamento com minha irmã. Espero que exista a mínima chance das
meninas conseguirem se darem uma oportunidade de serem irmãs
novamente.
Um mês se passou desde o meu noivado, não tive contato com o Kai,
ele saiu em missão com o Black e Steve. Algum problema com traficantes no
Texas, Emily não soube dar os detalhes direito, Daniel evita contar a ela
coisas da organização e entendo os motivos por trás de suas ações. Hope
descansa com o pequeno Ethan em seus braços e o Michael de lado
aproveitando o nascimento do filho. Evito levar a ela a minha curiosidade por
onde anda o tarado do meu noivo.
Dar uma joelhada em seu pau foi muito arriscado e eletrizante. Em
casa naquela noite refleti sobre os acontecimentos. A raiva por ser beijada de
surpresa aos poucos foi sendo substituída pela euforia de o chutar nas bolas.
Eu terei autonomia no nosso casamento e Kai Lucian vai aprender que não
sou uma princesa indefesa.
Estou uma pilha de nervos ao me encarar no espelho, o vestido branco
com muitas camadas dando volume a saia, o penteado elegante, as joias
pesadas na orelha. Uma tiara de diamantes na cabeça, o decote quadrado do
vestido fazendo meus seios explodirem, o espartilho apertado dificultando
minha respiração, os saltos machucando meus pés com bolhas.
Passei a semana andando com eles para tentar amaciar e não tive
muito resultado. Que o Kai fique quieto durante a festa de casamento, não
vou aguentar estar andando e rodopiando na pista de danças. Aquele tarado
convencido, ele prometeu pedir minha permissão ao tentar qualquer coisa
comigo, mas sei que hoje não temos essa opção.
A consumação da união deve acontecer.
Não importa se estou pronta ou não para a minha primeira vez, se
tenho dúvidas, medos e receios. Se a vontade que me assola é sair correndo
por Nova Iorque, entrar no mar e desaparecer feito bolhas de sabão. Kai
Lucian precisa enfiar seu pau em mim, me marcando como dele e depois
exibindo os lençóis com sangue para nossas mães.
Para ele será ótimo. O safado não nega mais que me quer, ainda fico
me questionando quem é o “ele” que o Kai se referiu. A irritação por ser
ignorada por anos e agora tratada como um pedaço de carne continua batendo
contra meu cérebro, não me permitindo aproveitar o meu dia de noiva. Eu
não me sinto desejável, mas usada.
Se eu tivesse escolhido o Kai, tudo seria diferente.
Hope não optou por casar com o Michael, mas eles tiveram um tempo
juntos, ela confiava nele em sua primeira vez e o desejava.
Emily sempre foi apaixonada pelo Daniel, ansiava mais do que tudo
ser dele.
Josephine é louca pelo Black e sei que espera pelo segundo em que
ficarão juntos.
Mas eu não, Kai nunca me foi uma opção, mas uma sentença. Não
sinto atração por sua beleza, não me agrada sua companhia. A única coisa
que ele me deu foi sua palavra de que nunca mais me beijaria a força, não sei
se posso confiar, sabendo que teremos de fazer sexo no fim da noite.
— Como você está? — Bellamy pergunta, entrando na sala da noiva
na igreja.
— Nervosa — respondo.
— Se o Lucian não for gentil com você me fale — alisa meu braço —
vou dar um jeito nele.
— Vai matá-lo? — O encaro através do espelho.
— Colocaria toda a nossa família como traidores, seus irmãos seriam
considerados culpados. Matança entre os membros é proibido. — Me vira de
frente para ele — mas se ele te machucar, vou aceitar a punição por socar a
cara do subchefe. Já sou um senhor de idade, vão dizer que fiquei caduco.
— Você não tem nem 60 anos — controlo a vontade de rir devido à
sua piada do caduco.
— Só cagar nas calças e tudo se resolve.
Rio baixinho, não esperava que ele fosse falar algo desse nível.
— O senhor está realmente ficando senil.
— Vantagens de envelhecer, aprendemos o que devemos valorizar.
Bellamy e Clarisse continuam de luto pelo Dylan, mas aprenderam a
valorizar os filhos remanescentes. Fazendo piadas, dando presentes,
chamando para passeios, ele se ofereceu para me acompanhar na faculdade
em setembro. Recusei, ainda é difícil para mim me sentir querida, eles
respeitam meu tempo, acho que foi um avanço mínimo na nossa relação. A
mágoa persiste e demorara a ir embora.
Enquanto eu sentir que eles mudaram somente devido ao Dylan e que
se não fosse a morte dele tudo continuaria igual, não vou conseguir manter
uma relação de pais e filha com eles.
— Vamos?
— Sim.
Seguro seu braço, enfeitada como uma princesa para o meu
casamento. Damos a volta na igreja, as enormes portas de madeira se abrem
com a marcha da noiva tocando. Prendo a respiração, nervosa, odiando ser o
centro das atenções. Foco meu olhar no tapete vermelho, envergonhada,
acuada, querendo fugir do meu destino imposto. Não noto nenhum detalhe da
decoração ou convidados, não sinto euforia ou alegria, passo por tudo
indiferente.
Paramos, ergo a visão para o Kai.
Ele continua lindo, os cabelos penteados para trás, sem barba no
maxilar angular, a expressão neutra, me dando o mesmo olhar de todos os
nossos encontros passados. Como ele espera me fazer acreditar que me
desejou por anos, me encarando com feições duras e sem emoção?
Murcho, não sabia o que esperar, mas não era por sua indiferença.
Seguro sua mão, nos ajoelhamos diante do padre. Com as mãos no
cavalete. Presto atenção nas palavras do padre sobre o amor e a união de um
casal, nunca fui religiosa. Nesse segundo imploro para que a minha primeira
vez não seja traumática, que meu casamento não se transforme em um mar de
guerra revolto.
— Lembra o que eu te prometi? — ele sussurra perto do meu ouvido.
— Sobre a minha permissão? — pergunto.
— Sim, só vou te beijar se você quiser — a superfície do seu dorso
toca minha mão. — Você tem o controle, Daisha.
Meu lábio treme absorvendo o impacto de suas palavras. Ele
realmente seria capaz de quebrar a tradição do noivo beijar a noiva após
serem declarados marido e mulher? Percebendo minhas dúvidas, Kai aperta
minha palma entre a sua, com um pequeno levantar do canto da sua boca.
— Obrigada — respondo abalada.
Eu nunca tive o comando de nada da minha vida.
— Podem fazer seus votos — o padre fala me tirando do torpor.
Nos levantamos de frente um para o outro. Kai pega a aliança trazida
pela daminha de honra, minha prima Summer de 7 anos. Meus dedos tremem
ao serem segurados pelo Kai, ele posiciona a aliança no anelar, me encara ao
proferir os tradicionais votos dos Bianchi.
— Eu, Kai Lucian juro no sangue e no osso lealdade, te manter em
segurança e respeitar. — Meu estômago se revolta querendo expulsar o café
da manhã, estou mais nervosa do que gostaria, eu não estou pronta para
casar! — Hoje você se torna a minha esposa. Juntos pela honra dos Lucian,
com a benção dos Bianchi e do Senhor, nós nos tornamos um só, nem os céus
ou a terra poderá nos separar.
Ele desliza o anel de ouro no meu dedo tremulo. Kai pisca lentamente,
leva minha mão a seus lábios beijando a aliança delicadamente.
— Respira, Daisha — pede baixinho, somente eu o escuto.
Sopro tentando recuperar o folego, tremendo, com medo e querendo ir
embora, eu pego a aliança da almofada, vendo minha prima se afastar.
Esqueço os votos que deveria dizer, treinei eles por semanas com a minha
mãe, mas agora tudo desaparece da minha mente, restando apenas um vazio
sufocante.
Múrmuros penetram meus ouvidos, as pessoas comentam o silêncio
da noiva. Encaro a mão grossa do Kai me perguntando o que fazer. Ele aperta
minha palma, vejo seus dedos se aproximando do meu queixo, puxando para
cima me forçando a o encarar.
— Repete comigo — sibila inaudível, movimentando a boca
formando vagarosamente as palavras. — Eu, Daisha Griffin…
Imitiu o movimento de seus lábios fazendo minha voz sair, com a
ajuda do microfone posicionado pelo padre perto do meu queixo escuto o
som das palavras.
— Eu, Daisha Griffin — mordo a língua, embolando as palavras —
prometo no sangue e no osso ser a sua esposa… Te recebo como meu marido
e prometo lhe honrar, ser fiel, te respeitar, ser a mãe dos seus filhos… A você
pertence a minha lealdade e nada será capaz de a quebrar. Pela honra dos
Griffins e com a benção do Senhor, sou sua até o dia da minha morte.
— Você foi bem — ele pisca, pressionando o dedo na aliança a
fazendo entrar em seu dedo. Kai segura minhas bochechas se aproximando
— posso?
— Sim.
Sou grata por sua ação de sussurrar meus votos, me ajudando a
recuperar a fala. Um beijo com gosto de agradecimento, espero que ele sinta.
Seu nariz resvala sobre o meu, fecho os olhos ansiosa, a macies de
seus lábios toca os meus suavemente. Dou espaço para sua língua, Kai entra
cuidadoso, explorando com carinho as nuances da minha boca. Seguro seus
braços precisando de apoio, o coração pulava feito louco no meu peito se
acalma, o cheiro másculo invadindo meus sentidos, timidamente toco minha
língua na sua apreciando seu sabor doce.
Eu quero mais.
Impulsionou o corpo para a frente ao encontro do seu, a calmaria
trazida pelo beijo superando o caos que estive no último mês. O mundo para
de existir, a excitação nascendo pela primeira vez no meu âmago, o ventre
com pequenas comichões aproveitando os movimentos experientes de sua
língua dominando eroticamente a minha.
O sinto retraindo, me deixando, fecho a boca, abro os olhos encarando
o fogo em suas iris cor de ônix, brilhando pela iluminação da igreja. A
excitação exalando dele me assusta. Nunca senti o frenesi tímido entre as
pernas, e seu olhar me alerta de que isso foi só o começo. Não sei se me sinto
pronta, pois no segundo em que nos separamos o mundo volta a girar.
A igreja é esvaziada enquanto retorno meus pensamentos para o lugar.
Michael sobe ao altar ficando ao lado do Kai, com o anel do subchefe
em sua mão, entrega ao Kai que o coloca na outra mão.
— Hoje eu declaro Kai Lucian como o subchefe da Máfia Bianchi.
Como o segundo no comando, você me entrega a sua lealdade, fará de tudo
para guiar a organização no caminho para o sucesso. Me substituirá quando
necessário e honrara todas as minhas leis e decisões. Você é o segundo no
comando, sangrará por mim, dará a sua vida sem hesitar. Recebera o respeito
e lealdade de todos os membros da organização. Traição será paga com a
vida. Os Lucian recebem a Daisha como uma de vocês e aquela que estará ao
lado da minha esposa em todas as suas decisões. Exijo respeito, honra e
lealdade ao meu subchefe e sua esposa.
— Sim, Chefe — homens e mulheres respondem em coro.
— Eu juro lealdade no sangue e no osso diante de Deus ao Chefe
Michael Bianchi — Kai puxa um punhal do paleto cortando sua mão para o
Michael — como o subchefe dos Bianchi vou respeitar e garantir que todas as
suas ordens sejam cumpridas, reforçar perante nossos inimigos o poder do
nosso Chefe. Minha lealdade é completamente sua, prometo estar ao seu lado
em todos os nossos momentos de glória e superar as dificuldades.
— Eu aceito seu juramento — Michael aperta a mão machucada do
Kai, exibindo para todos a aliança entre eles.
É oficial, eu casei com o subchefe da Máfia Bianchi.
Recebo os cumprimentos das senhoras e suas filhas que juram
lealdade respeitando minha posição como a esposa do Subchefe. Abraço
minhas amigas não conseguindo prestar atenção em suas felicitações,
sabendo o que me espera quando entrarmos no carro.
O primeiro beijo com o Kai pode ter sido bom, mas ainda aconteceu
devido ao casamento, não saber como serão os próximos me assusta.
Entramos no carro, o coração batendo tão alto no meu peito que deixa meus
ouvidos surdos.
— Você pode relaxar — ele alisa meu braço, pulo de susto.
— Desculpe, estou nervosa — assumo.
— Eu prometi que só te tocaria se você deixasse, isso não vai mudar.
— Estamos casados, teremos de…
Não consigo falar, quase sufocando de ansiedade.
— Podemos dar uns beijos para você ir se acostumando — aproxima a
boca do meu rosto.
— Por favor, Kai — espalmo a mão em seu peito, o mantendo
afastado — eu não estou pronta.
— Tudo bem — acena se afastando — não pense sobre o que
acontecerá mais tarde, tente focar na sua festa de casamento.
— Certo. — Respondo, como se fosse possível não pensar no que
acontecerá de noite.
CAPÍTULO 8 KAI

— Quer ir falar com suas amigas? — pergunto cansado de ficar


sentado na mesa.
Nos outros casamentos em que participei as noivas eram mais
animadas, conversando com os familiares, tirando fotos e chamando para
dançar. A Daisha fica reclusa a nossa mesa, separada dos demais, fazendo
pequenas caretas ao se mover. Dançamos a primeira música a passos lentos, o
sapato deve estar apertado. Acho que ela sente dor ou incomodo, continuo
duro de tesão após nosso beijo na igreja, estou louco para chegarmos em casa
e a despir.
A Clarisse programou nossa lua de mel para ser nas ilhas gregas,
gostei da ideia. Um país com aliados, ficaremos em território protegido e
longe de olhares curiosos da nossa família. Somente eu e ela aproveitando o
paraíso grego. Porra, vou transar até meu pau cair de exaustão, esfregar nos
peitões da minha esposa como o maldito tarado que ela me acusa de ser.
— Hope já foi embora, Ethan começou a chorar e cólica — coloca o
celular na mesa observando as mensagens — Emily sumiu com o Daniel e
Josephine está conversando animada com o Black — aponta para eles — seja
sincero comigo, ele gosta dela?
— Não sei — minto, se a Daisha descobrir que o Black é apaixonado
por outra contará a minha irmã.
— Josephine me disse que vocês levantaram bandeira branca — estica
a mão segurando meus dedos entre os seus — é importante para ela, não seja
babaca, lembre que dormirei todas as noites ao seu lado.
— É uma ameaça? — rodeio seu pulso alisando a parte interna.
— Sim, você nunca saberá quando vou te acordar com uma faca em
sua garganta — sorrio tentado.
A forma como ela fala com leveza me mostra um lado mais
descontraído da Daisha. Ela sabe fazer piadas, perdendo um pouco da
rebeldia de quando fugiu no nosso noivado. Assumo minha parcela de culpa,
serei um homem melhor, principalmente com o incentivo de a deixar mansa e
sexualmente disponível.
— Com licença — o garçom traz o pedaço de bolo, faz poucos
minutos que cortamos a primeira fatia e sentamos esperando pelo jantar.
Serve um para mim e outra para a Daisha.
Ela encara o prato apertando o polegar e o indicador, em dúvida se
come ou não. Daisha é magra para sua estrutura alta, das quatro meninas ela é
a mais esguia. Não sei se faz deitas malucas como a Rebeca, fixada em não
engordar uma grama. Vivo discutindo com ela devido à sua alimentação, hoje
pelo canto de olho percebi que ela não se alimentou a noite toda, amuada em
sua cadeira ao lado da Josephine.
— Não gosta de doce? — pego uma fatia com a colher, levo a boca, o
açúcar em excesso me enjoa.
— Acho que é você que não gosta — aponta a colher para mim.
— Detesto coisa doce em excesso — pego o guardanapo colocando o
pedaço mastigado e o deixando de lado na mesa.
— Acho melhor eu não comer — afasta o prato.
— Prova, eu sou sensível a comidas doces, sempre preferi salgado —
mordo um salgado.
— Eu… — hesita.
Estico o braço repartindo uma fatia do bolo na colher e levo a seus
lábios. Daisha me olha quase pedindo permissão para comer. Um alerta soa
na minha mente. Talvez não seja dieta maluca, mas sua mãe que a impedia de
comer alimentos com açúcar. Os lábios cor de pêssego se abrem timidamente,
os dentes brancos brilhando, a língua rosada estica um pouco para fora, o
maxilar se abrindo ao receber a colher.
Daisha fecha a boca ao redor da colher e eu tenho uma síncope
imaginando sua boca envolvendo meu pau com tamanha delicadeza. Das
feições se iluminado em prazer, as pálpebras fechando pesado ao sentir o
sabor doce. Ela ficará linda com meu cacete enfiando até o talo da sua
garganta. Um gemido extremamente discreto e quase inaudível deixa seus
lábios, minhas bolas apertam de vontade.
Puxo a colher me recostando na cadeira, aproveitando a visão de
deleite em seu rosto pequeno.
— É ótimo — limpa o canto dos lábios.
Animada, ela começa a comer seu bolo uma colher atrás da outra.
Sorrio contente por presenciar seu momento. Pego meu prato colocando em
cima do seu vazio.
— Pode comer o meu — digo, ela sorri timidamente antes de devorar
outra fatia — não deixarei doces faltar em nossa casa, quais você mais gosta?
— Não sei — responde dando de ombros, o dedo fino passa na borda
do prato pegando a cobertura e chupando. Babo com a visão erótica.
— Sua mãe não te deixava comer doces?
— E algumas outras coisas — bebê do vinho.
— Daisha — envolvo sua palma com a minha — estamos casados
agora, todas as imposições que nossos pais colocaram na gente ao longo de
nossa vida, vamos deixar para trás. Eu quero muito recomeçar, saber o que é
viver, espero contar com você ao meu lado.
— Alguma vez você já pensou em quebrar as regras? Sair sem rumo
— sua pergunta me pega de surpresa.
— Outro dia falamos dessa historia — respondo baixinho olhando os
arredores.
— Desculpe — percebe que disse o que não deveria — podemos ir
embora? O espartilho está partindo minha coluna em duas.
— Sim, quer que eu peça para deixarem bolo na nossa casa?
— Podemos?
— Claro — levanto pegando sua mão — eu sou o subchefe dos
Bianchi, nos podemos tudo.
Ao contrário do que imaginei, seu rosto não se ilumina. Daisha volta a
ficar preocupada, ansiedade explodindo de seu lindo corpo. Ela levanta
ficando ao meu lado, aviso ao garçom sobre a entrega do bolo, vamos à mesa
dos nossos pais para rápidas despedidas. Amanhã Clarisse e Eleanor
passaram para conferir os lençóis e depois iremos para as ilhas gregas.
No carro ela morde a bochecha do dedo, encarando a janela. Levamos
menos de três minutos para pararmos em frente a nossa nova morada.
Suspirando ansiosa a deixo no carro, dou a volta abrindo sua porta. Ela põe
os pés no chão e logo a ergo no ar. Dando um pequeno gritinho enquanto se
apoia nos meus ombros.
— Podia ter me avisado — bate no meu ombro.
— De surpresa é melhor.
— Maluco — sufoca um riso.
— Contemple nossa nova morada, esposa — abro a porta empurrando
com o pé, já estava destrancada, mandei o segurança cuidar disso por
mensagem enquanto estávamos no carro.
— Sim — não gosto do pesar em sua voz, como se ela não desejasse a
nossa realidade.
— Tudo bem? — subo as escadas a segurando nos braços.
— Só estou nervosa, acho que é normal — dá de ombros.
As iris azuis como o céu claro não me encontram, focam nos arredores
claros da casa, tons de bege e branco gelo, com móveis em mogno ou pretos
preenchendo o ambiente. Nossa casa tem 3 andares, fica perto do Michael e
Daniel, ela poderá ver as amigas sempre que quiser, consegue ir a pé para a
casa de ambas. No último andar fica nosso quarto.
Não consigo mais esconder o tesão, meu pau sufoca dentro da calça
social. Abro a porta do quarto, a coloco sentada na cama. Ela baixa a cabeça
esfregando os dedos ansiosa. Para dar certo, preciso que a Daisha relaxe, se
continuar se contraindo vai sentir dor quando a penetrar.
Retiro meu paleto, o jogo em cima da poltrona, removo a gravata,
abrindo os primeiros botões da camisa branca. Daisha continua do mesmo
jeito. Me ajoelho diante dela, toco seu queixo encontrando seus olhos turvos.
Ela não deseja a nossa primeira vez e essa merda bate fundo no meu ser.
— Tudo bem? — pergunto baixinho.
— Eu só tô muito nervosa — abana as mãos — desculpa — a voz dela
embarga em um quase choro.
— Ei — sento ao seu lado segurando seu pescoço com a delicadeza de
um cristal — respira, não sei o que te falaram, mas prometo que não é
assustador.
— Não é isso — se abraça, ela tenta desviar o olhar e não deixo,
franzo a testa.
— Conversa comigo Daisha, o que está acontecendo.
— Eu não me sinto pronta — bate a mão na cama derrotada — eu não
consigo — esfrega o estômago — minha barriga está se revirando, meu peito
não para de bater e o ar não entra — inspira, as lágrimas acumuladas quase
transbordando.
— Respira comigo.
Eu sei como ela se sente. O medo pelo desconhecido, de fazer algo
sem a certeza de ser bom, de machucar, a dor por achar que ninguém te
compreende. Devagar vamos respirando juntos, soltando o ar um no rosto do
outro conforme me aproximo dela. Toco nossas testas ao perceber seus olhos
livres do choro, o queixo sem a tremedeira.
— Sente melhor?
— Um pouco.
— Se você quiser, podemos conversar um pouco ou assistir alguma
coisa — aponto para a televisão entre as duas portas de vidro na parede
oposta, cobertas pela camada fina da cortina branca.
— Me beija, deve ajudar — pede erguendo o rosto para mim.
— Daisha, você está se sentindo obrigada a transar comigo? —
questiono por saber que a noite de núpcias é uma obrigação do casal, não
podemos fugir. A ideia de forçá-la acaba com a vontade que tenho.
— Não, só estou nervosa, há pouco tempo eu nunca tinha beijado.
Você não sente que as coisas estão rápidas demais?
Coço a cabeça, se dependesse de mim meu rosto estaria enterrado na
sua boceta. Não verbalizo minha vontade, expor meu lado tarado a ela só
pioraria a forma como se sente. Por hora, vou me controlar.
— É diferente para mim, perdi a virgindade aos 12 anos — dou de
ombros — sexo se tornou rotineiro, normal como comer.
— Eca — franze o nariz — casei com um vadio.
— E eu com uma virgem gostosa — a puxo para meu colo, é estranho
como gosto quando ela me xinga, só me dá mais vontade de a subjugar a
minha vontade.
— Você não cansa de ser desbocado?
— Boneca — agarro seu pescoço encostando nossas bocas — eu nem
comecei a dizer o quanto quero lamber a sua boceta, sugar seu clítoris
encharcado de vontade para ser fodido pelo meu pau enorme.
Daisha arfa, enfiando as unhas no meu pulso, os olhos começando a
nublar imaginando as safadezas que quero fazer. Encosto nossas bocas em
um beijo cálido a encarando se perder nas fantasias.
— Consegue sentir meu pau babado de vontade para te comer? —
Mexo o quadril me esfregando em suas coxas — Vou socar na sua bocetinha
virgem até você esquecer a porra do seu nome e a única coisa que souber
fazer é gritar implorando por mais.
Sopro sua bochecha lambendo a pele quente, sua orelha puxando o
lóbulo para meus dentes, ela chia baixinho, arfando ao apertar meus ombros.
— Você é muito convencido — as bochechas assumem um tom
vermelho escarlate, os olhos banhados pela luxúria.
— Eu tenho confiança no meu pau, quer provar um pouco dela? —
pergunto sedutor.
— Devagar? — Começa a ceder, curiosa pelo que posso a fazer sentir.
— Boneca, devagar, rápido, contanto que você me deixe te foder,
podemos passar a noite ou a vida inteira gozando nessa cama.
Ataco sua boca gostosa em um beijo lento, sedutor, enrolando nossas
línguas uma na outra, metendo no fundo de sua garganta. Esfregando seus
peitos contra meu peitoral. Finco os dedos na cintura fina preenchida pelas
camadas do vestido, Daisha desliza as mãos em minhas costas puxando-me
para si. Ela gosta dos meus beijos, ela me quer.
Maldição! Vou esporrar nas calças se não me controlar.
Preciso manter a calma ou vou a afastar. Ela não se sente pronta para a
primeira vez, qualquer movimento brusco o tesão se transforma em medo ou
repulsa. Suor gelado escorre na minha testa para manter o controle, os pelos
da minha nuca se arrepiam ao provar a mordida tímida que ela me dá ao
separar nossos rostos.
— Tá bem — concorda baixinho, separando os lábios lentamente.
Agarro a cabeça da Daisha a pressionando contra meu rosto.
Dominando o beijo, puxando o gosto doce. Como um raio o tesão atravessa
meu corpo, aperto sua cintura com uma mão, a outra acaricio sua bochecha
focando em deslizar a língua pela sua, rodopiando em sua boca macia,
provando de seu gosto com delicadeza para a excitar e não assustar.
Ela agarra meu ombro puxando a camisa nos pequenos dedos, um
indicativo que começa a ceder. Levanto com a boca grudada, a deito no
colchão com a língua enfiada até a sua garganta, separo suas pernas com uma
coxa metendo a minha entre as camadas infinitas do vestido de noiva. Minha
palma coça em vontade de apalpar seu peito, mas levando em conta a tensão
que ela sentiu ao entrarmos no quarto, é melhor pegar leve.
Mordo a carne macia entre os dentes puxando, adorando a visão do
seu rosto vermelho, as pálpebras pressionadas fortemente, os punhos
agarrando meus bíceps. Preciso que ela fique menos tensa. Deposito um beijo
cálido em seu pescoço pintado de tons rubros, desço a carícia por sua
clavícula, quero meter a coxa em sua boceta para ela se esfregar em mim,
mas o maldito vestido não deixa.
— Vou retirar sua roupa — aviso sedutor em seu ouvido, brincando
com o lóbulo em meus dentes.
— Tá — responde quase sem voz.
A viro de costas, o rosto deitado contra o travesseiro, a testa franzida,
os dentes mordiscando a carne sensível entre eles. Desço beijando sua
bochecha, nariz e boca, deslizando a língua em sua saliva gostosa, puxando
para mim. Aliso sua bunda arrebitada, pressiono meu cacete contra ela.
Daisha faz careta assustada, não esperava por isso.
Mordisco seu pescoço observando os pelos de sua nuca se arrepiarem,
os braços ficarem ásperos pelos poros abertos. Desabotoou os botões do
vestido, os retirando um por um. De joelhos, perco a paciência e puxo o
tecido em lados opostos fazendo os botões voarem. Ela se treme novamente,
Daisha não consegue relaxar, apesar da visível excitação em suas faces,
começo a me preocupar.
— Tudo bem?
— Sim, só me assustei — responde tímida.
— Vou fazer o mesmo com o espartilho.
— Por favor.
Rasgo o maldito espartilho apertado. Ela respira audivelmente
relaxada. A pele marcada pela peça de roupa. Puxo o vestido a despindo.
Daisha fica de costas vestindo somente a calcinha rendada branca e as meias
três quarto. Removo minha roupa deixando somente a cueca. Toco suas coxas
recebendo tremeliques de sua perna, beijo, cheiro, acaricio até ouvir um
pequeno suspiro a deixando.
— Vira de frente — ordeno, ela obedece.
A boceta coberta pela calcinha me causa alucinação de tesão. Nunca
quis tanto uma mulher como anseio pela Daisha. Deslizo as mãos em sua
coxa, observando os arrepios a fazendo tremer. Pairo com o rosto acima da
boceta virgem, inspiro seu cheiro por cima da calcinha, Daisha suspira
pesado. Meu pau dói de vontade.
— Você não faz ideia do quanto o cheiro da sua boceta me deixa
louco — deslizo o nariz por cima do tecido inspirando com força. Ela contrai
erguendo o quadril. — Poderia passar o resto da noite com a cara aqui —
contorno o tecido branco com a ponta do dedo, os pelos arrepiados,
tremeliques percorrendo suas pernas. Beijo sua virilha a abrindo para mim.
— Posso beijar sua boceta, Daisha? — peço rouco de tesão.
Esfrego o nariz por cima do clítoris, estranho a ausência de umidade.
Ergo o tronco observando seu corpo tenso. As mãos apertadas ao lado das
coxas. A barriga contraída, os seios fartos com bicos rosados durinhos
apontado para cima, uma camada de suor entre eles, a garganta se
movimentando ao engolir em seco.
Desligo momentaneamente meu tesão para a observar. Tensa, se
contraindo, os olhos quase esmagados pelas pálpebras, o queixo tremendo e
os lábios branco pela pressão imposta. Frustração me invade, não é somente
tensão ou nervosismo.
— Abra os olhos, Daisha — peço sentado — você não quer transar
comigo.
— Não é isso — ela responde escondendo os peitos com os braços,
me impedindo de aproveitar a visão deles.
— E o que é? Conversa comigo, não vamos fazer isso se você não
quiser.
Daisha senta encolhendo as pernas contra o tronco. Puxo o lençol a
cobrindo. Seus olhos fixos nas unhas dos pés pintados de branco. Toco seu
calcanhar alisando, puxando sua atenção para mim. Ela está triste.
— Eu não me sinto pronta — alisa a bochecha enxugando uma
lágrima — achei que conseguiria, ao te beijar eu estava confortável, com
vontade de explorar mais do formigamento no meu corpo — encolhe.
— Se for melhor para você, podemos continuar os beijos até se sentir
pronta — aliso suas costas, próximo o bastante para me enebriar com a
fragrância cítrica.
— Não acho que ajudaria.
— Por quê? — começo a ficar impaciente, não compreendendo o que
acontece — sexo é maravilhoso, você vai gostar e querer mais.
— Para você pode ser só sexo, mas para mim é diferente. É o meu
corpo, é dentro de mim que você estará. Não consigo ficar confortável,
excitada o suficiente ou sei lá — agita as mãos — a maldita tradição dos
lençóis exige o sexo. Sem se preocupar com o que a noiva quer. Sei que
devemos fazer isso hoje — suspira, o queixo tremendo, a boca sem cor. —
Você vai ter de fazer sem considerar como me sinto, desculpa.
— Sexo sem consentimento é estupro, nunca faria isso com você —
ela me encara assustada.
— É nossa obrigação transar nas núpcias, não podemos fugir.
— Você não está pronta, não faremos sexo hoje.
Contrário o maxilar, Daisha quer o controle sobre o próprio corpo, me
lembra de quando o Louis me castiga e o quanto eu fico desesperado e
quebrado por não conseguir escapar. Não possuindo o controle da minha
vida. Não perpetuarei o ciclo da agressão.
Me chateia o fato dela não me desejar e me rejeitar, é a porra de um
soco no meu ego. Passei anos a desejando em segredo, escondendo o máximo
que pude como me sentia de todos, até mesmo dos meus amigos, para não
chamar a atenção do Louis e o fazer quebrar o contrato de prometidos.
Hoje era para ser a noite que a faria minha. Seguir por esse caminho
não é uma opção, Daisha tem de vir a mim por vontade própria.
Levanto da cama, dou a volta pegando no bolso do paleto o punhal
usado na cerimônia de nomeação. Sento ao seu lado, puxo o lençol o
colocando sobre a cama. Ela me encara assutada e confusa. Pressiono a faca
sobre o machucado que fiz para jugar lealdade ao Michael.
— Eu, Kai Lucian, prometo a você, Daisha Lucian, que só a tocarei
quando quiser. Prometo tornar o nosso casamento um ambiente seguro, trazer
conforto, carinho, proteção, te fazer me desejar, ansiar pela minha presença.
Sou seu marido no papel e esperarei o tempo que for para você me aceitar no
seu coração — pressiono a ponta na ferida, pequenas gotas de sangue
escorrem — no sangue e no osso, eu juro.
— O que você fez? — pergunta assustada segurando minha palma.
— Nossa noite de nupcias foi consumada — puxo o lençol manchado
de sangue o deixando em cima da poltrona. — Se você não contar o que
aconteceu aqui, ninguém ficará sabendo.
— Você vai quebrar uma tradição da famiglia? — assustada, ela
levanta vindo a mim, os olhos brilhando em descrença.
— Antes a tradição do que você — seguro sua bochecha — quando
estiver pronta estarei te esperando — sapeco um beijo em seus lábios. —
Durma bem.
A deixo no quarto, saio pelo corredor tentando controlar a fúria pela
situação. Daisha estava pronta para transar sem vontade por causa da maldita
tradição dos lençóis. Não vou iniciar minha vida de casado com um maldito
estupro!
A farei vir até mim. Ela vai me desejar como seu marido,
companheiro, seremos um casal de verdade porque é o nosso desejo e não
para cumprir uma maldita obrigação.
Vou conquistar a Daisha e estou pronto para usar todas as armas de
sedução que conheço. Na disputa entre o desejo e o desinteresse eu vencerei a
batalha.
CAPÍTULO 9 DAISHA

Ele fez um juramento de sangue para mim.


As palavras ressoam nos meus pensamentos durante as longas horas
do voo para as ilhas gregas. Nossas mães não desconfiaram que o sangue no
lençol pertencia ao Kai. Não fizeram perguntas sobre como foi a nossa
primeira vez. Eleanor foi embora sem falar com o filho, Clarisse me
perguntou se eu estava bem, assustada pelas bolsas pretas debaixo dos meus
olhos.
Não consegui dormir pensando no que tinha acontecido, as batidas do
Kai no saco de pancadas na academia foi o único som preenchendo a casa. Eu
nunca esperaria que ele seria capaz de se cortar para simular o sangue, me
fazer um juramento de que só teremos sexo quando eu quiser e
principalmente recuar ignorando como ele se sentia.
Sempre visualizei o Kai como um egoísta, insensível, babaca e um
homem sem sentimentos por mim. É difícil processar o que aconteceu nas
últimas horas. Durante os beijos eu realmente o queria, o frenesi entre minhas
pernas exigindo ser atendido, mas quando ficamos pelados e vi seu rosto
entre as minhas pernas entrei em pânico.
Não conseguia relaxar ou pensar em qualquer outra coisa que não
fosse o desejo de fugir, desaparecer, ser capaz de deixar o meu corpo e só
retornar após o sexo. Lidar com mudanças nunca foi o meu forte, estou
acostumada a ficar quieta no meu canto observando cuidadosamente as
pessoas. A imagem projetada do Kai se desfez em pedaços em uma única
noite.
Os beijos são bons, não tenho como negar, mas não é o suficiente para
me fazer confiar nele, desejar por mais.
Preciso fazer as coisas no meu tempo, com seu juramento espero
conseguir organizar melhor meus pensamentos, conhecer o Kai a fundo e
decidir se ele é um babaca manipulador fazendo um juramento para se enfiar
entre as minhas pernas. Ou se ele é realmente um homem descente,
compreendendo meus sentimentos e não estando disposto a me forçar a algo
que eu não estou pronta.
— Chegamos — ele me cutuca de leve no braço.
Abro as pálpebras, acho que dormir em algum momento do voo.
— Eu babei? — pergunto sonolenta limpando o canto da boca.
— Quase nada.
As bochechas queimam em vergonha ao imaginar a cena terrível da
minha boca aberta escorrendo baba em meio ao sono, ao lado do Kai.
— Não precisa ficar com vergonha — seu polegar desliza puxando
meu lábio inferior — vou adorar te ver babando com meu pau na sua boca.
— Você é um escroto — puxo o rosto.
— Sou um homem com tesão, é diferente.
Destravo o cinto levantando da cadeira. Ontem, mergulhada no
nervosismo, não consegui observar o corpo do Kai. Somente sentir seu
membro batendo contra minhas pernas e bunda. Aquele volume todo, não
tem como caber na minha boca!
— Nojento — respondo andando pelo corredor.
— Espera — ele chama, viro o encontrando a dois passos de distância
— quero um beijo da minha esposa.
— Eu não quero te beijar.
— Tem certeza? — desliza o dedo em meu pescoço, bruto envolve a
palma da mão ao redor me puxando contra ele.
Eu tenho 1,73 de altura, sou a mais alta das minhas amigas e fico
parecendo uma baixinha perto do Kai. Trajando um paleto com camisa
laranja fosco quase marrom, destacando o tom de pele branco. O olhar
travado no meu, as pupilas negras mescladas, as iris banhadas em desejo. Ele
respira pesado aproximando o rosto do meu, deslizando o nariz de ponta
redonda na minha bochecha.
Os cílios grandes, as mãos ásperas deslizando no meu corpo,
grudando meu quadril contra sua pélvis. O ar pesado soprado em meu queixo,
o cheiro amadeirado mesclado ao cigarro de canela. Os ombros largos
criando uma sombra no meu corpo. Kai consegue ser sexy sem precisar se
esforçar, eu não fazia ideia de que não conseguiria ser imune ao seu charme.
— Eu vou te beijar.
Avisa e eu deixo, pois seus beijos são suportáveis, pequenas gotas de
prazer carnal. O problema é quando eu lembro a realidade que vivo. Que fui
jogada em um casamento com um homem que até pouco tempo eu acreditava
ser um completo babaca escroto. Não sei se ele está me iludindo, brincando
com meus sentimentos para me fazer ceder e dar o que ele quer.
O beijo é gostoso, sou prensada contra a montanha de músculos,
envolvida pelos braços dominantes, a boca completamente refém da sua
língua afoita deslizando pela minha, o gosto da canela de seu cigarro se
infiltrando no meu paladar. Esqueço como respira, as pernas ficam moles, as
mãos se movem sozinhas alcançando os fios ralos de seu cabelo o puxando
para mim. O pulmão queima precisando de ar e a boca continua afoita
retribuindo sua intensidade.
Bato contra a poltrona. Meus joelhos dobram, a bunda cai, mal tenho
tempo de permanecer sentada. Ele separa nossas bocas, inspiro ar, sou
atacada novamente. Os dentes batem um no outro, deito as costas no
estofado. Sua perna vem entre as minhas, a coxa grossa pressiona meu centro.
Gelo, o membro pinicando minha barriga. Aperto as mãos ao redor do seu
ombro tentando relaxar.
Kai começa a impulsionar contra meu centro, ele geme rouco
mordendo minha boca, puxa meus cabelos. Fico desconfortável com a
mudança de ritmo, rápido demais. Sua mão livre se enfia na saia do meu
vestido, seguro seu pulso, puxo o queixo para baixo interrompendo o beijo.
— Você tem de estragar tudo com sua maldita vontade de sexo! —
Rosno irritada. Estávamos indo tão bem, por que ele precisava fazer isso?
Inferno!
— O quê? — confusão nubla seu rosto — não íamos fazer sexo! —
responde indignado.
— Então explica seu pênis roçando em mim e sua mão querendo tocar
minha vagina!
As maças do meu rosto inflamam em vergonha. Empurro seu peito o
retirando de cima de mim. Sento alisando a saia do vestido, colocando no
lugar os fios soltos do coque na minha cabeça.
— Isso se chama dar uns amassos, sua puritana maluca! — Levanta
irritado.
— E eu virei papel para ser amassado?! — Contenho um grito, não
acredito que fui comparada a um papel!
— Mas que diabos? — me encara indignado — você não sabe o que é
dar uns amassos?
— Não — ergo o queixo envergonhada.
— Daisha você tem duas amigas casadas, quer mesmo que eu acredite
que nenhuma delas falou de pegação, amassos ou sei la o que as mulheres
conversam!
O jeito como o Kai fala me chateia, me fazendo sentir um alienígena.
Repreendida, acuada, aperto o estofado encarando o chão, sem coragem de
responder. Não quero parecer uma criança inexperiente, já é vergonhoso o
suficiente não ter conseguido fazer sexo com meu marido, mas ser
menosprezada por desconhecer as nuances de um casal, me magoa.
— Emily e Hope — controlo o tremor na fala — não falam
abertamente sobre sexo. Somente que elas gostam do que fazem com os
maridos — de pernas bambas levanto — você pode ter uma longa lista de
experiência, mas eu não. Meu conhecimento se resume ao que fizemos ontem
e hoje. Você esfregou seu pênis em mim, enfio o rosto nas minhas pernas,
suas ações atuais se assemelha as de ontem.
Reúno coragem para encarar seu rosto. A expressão descrente causa
embrulhos no meu estômago. Não consigo prosseguir com a conversa.
Amuada, me achando insuficiente, dou as costas ao Kai. Vou até a porta do
avião descendo pelas escadas, travando a vontade de chorar. Ele não
compreende que beijos é o meu limite.
Quando penso que Kai está se tornando uma pessoa descente, ele
mostra seu verdadeiro lado. Preciso afiar minhas garras se quiser sobreviver a
esse casamento sem desabar a cada pequena discussão. Endureço o coração,
visto a máscara de indiferença usada por anos.
— Espera — segura meu cotovelo no caminho para o carro —
desculpe, não deveria tê-la provocado.
— Tanto faz — não o encaro.
Se quebrar um copo, ele não será consertado ou voltará ao normal
com um pedido de desculpas. Kai está fazendo o mesmo que meus pais, me
usando para atingir seus objetivos e se arrependendo por perceberem que
erram, não por minha causa, mas devido a algo que eles queriam e foi
quebrado.
Dylan foi o catalisador da mudança de Clarisse e Bellamy.
A falta de sexo está sendo o do Kai. Ele vai continuar insistindo,
buscando, tentando me fazer ceder até conseguir o que deseja. Depois serei
usada quantas vezes ele quiser, até enjoar e procurar por outra.
Eu não tenho valor. Somente uma função. Ser a esposa perfeita,
transar para satisfazer meu marido e criar seus filhos para serem homens
temíveis como seus ancestrais. E estou falhando na minha única função. O
segurança abre a porta, entro ignorando o Kai. Ele não exala energias
positivas e senta calado ao meu lado.
Encarando a paisagem pela janela, observo as pessoas caminhando
pelas ruas de pedras e edifícios brancos, o mar brilhando no horizonte
conforme subimos para a parte mais alta da ilha. Eu queria ser como esses
estranhos, capaz de transitar sem medo de ser atacada por rivais da máfia,
conversar com pessoas aleatórias, sorrir sem preocupação.
Comer as comidas das barracas sem pensar em engordar e desagradar
meu marido, aproveitar os doces sem ouvir a voz da minha mãe me
mandando ficar longe deles. Dançar nas festas de rua desajeitada, rindo,
aproveitando cada segundo de liberdade do meu passeio turístico. Eu não sei
o que faremos, quais as programações pensadas pelo Kai. Como uma
marionete o seguirei.
— Quer dar uma volta pela orla? — ele pergunta, o carro estaciona de
frente a uma linda mansão de paredes de vidros no ponto mais alto da ilha.
— Adoraria — sorrio, ainda meio triste.
— Espera — puxa meu cotovelo. Kai me leva para o muro baixo
seguro a balastra apoiando o tronco. — Estamos em um paraíso, não quero
que fique cabisbaixa — me abraça por trás escorando o queixo no meu ombro
— desculpe por ser um babaca, não queria te chamar de virgem puritana.
— Mas o fez — rosno.
— E você já me deu uma joelhada e vive me xingando de tarado,
escroto e outras coisas e estou disposto a deixar tudo isso de lado para termos
um bom casamento — suspira alisando meus braços — eu adoro te beijar —
esfrega o rosto nos meus cabelos, respirando no meu ouvido. — Sentir sua
respiração pesada, os pelos se arrepiando ao ser tocada — desliza as mãos
lentamente, meu corpo reage, o ventre aperta ansioso, querendo a sensação de
ser beijada novamente.
Encolho batendo as costas em seu peito, a bunda encontrando o
volume discreto em sua calça. Kai rosna baixinho me apertando, os braços
envolvendo minha cintura, roçando o sutiã, arfo ao ter os peitos pressionados
por seu antebraço.
Meu espirito pode ser forte para perceber quem o Kai é e querer
distância, mas meu corpo é um maldito traidor fraco, ficando mole ao menor
dos toques, aguentando as provocações e ansiando por mais. Travando
quando as coisas vão longe demais pela falta de confiança.
— Eu quero te beijar para cacete e dar uns amassos gostosos — puxa
a barra do meu vestido, deslizando os dedos no exterior da minha coxa —
quando fizermos isso você tera a certeza de que não faremos sexo, no
máximo tocarei sua boceta com os dedos, se você deixar — sopra alisando a
borda da calcinha na minha pélvis.
— Ainda… não — peço, a frieza começando a tensionar meus
músculos, ele está muito próximo.
— Sem toques na boceta — estala a língua no meu pescoço movendo
a mão para a minha bunda — e aqui? — aperta a carne macia. Tenho um
solavanco para a frente, encaro a paisagem abaixo, distante, as pessoas
conseguem ver o que acontece aqui em cima como eu as vejo?
— Vamos ser vistos — o medo lava a excitação, corroendo minhas
vontades.
— Tudo bem, eu atiro em qualquer um que olhar a minha mulher.
— O quê — Giro a cabeça o encarando — você seria incapaz de
acertar dessa distância.
— Acerto qualquer alvo, sem errar um centímetro. — Beija meu
ombro, sua mão brinca com o tecido da calcinha.
— Ach-o — gaguejo, coço a garganta limpando a voz — que a bunda
é… seguro.
— Certeza? — morde meu pescoço, arrepios me jogam no poço de
luxúria que estou começando a gostar de provar.
Ele arranha a bochecha da minha bunda, sinto uma descarga elétrica
me puxando, empurro o quadril contra ele confirmando a área segura.
— Vamos testar os peitos — sobe a mão sorrateiro por dentro do
vestido.
— Não, seremos vistos — a traseira ainda dava para esconder, mas os
seios expostos, não aguento pensar na vergonha de ser flagrada.
— Relaxa boneca — pede.
Empurro sua mão para longe de mim. Odeio quando o Kai quebra o
clima não me escutando. Poxa, o que custa parar ao meu pedido?
— Já falei que não! — rosno.
— Certo — levanta as mãos rendido — quer dar um passeio?
Muda de assunto, aceno em positivo, nunca tive meus limites testados,
não os conhecia. Imaginava ser capaz de me entregar ao meu marido, mesmo
não o desejando a princípio. É agoniante a sensação angustiante preenchendo
meu peito ao ter a vagina tocada e pensar que serei penetrada por um homem
que mal conheço ou confio.
Kai pode estar sendo paciente agora, fazendo leves brincadeiras, mas
não sei o quanto seu comportamento vai durar. Até a noite? O final da lua de
mel? Após um mês? Não sei o tempo necessário para me sentir pronta para o
sexo, ou até onde a paciência do Kai vai durar.
Ele estende a mão, agarro sua palma. Passamos pelos portões com os
seguranças, a nossa frente e atrás, andando tranquilos como se fossem
turistas. Essas pessoas são especialistas em se disfarçarem. Eu nunca as
perceberia ao meu lado, é sobre isso que meu pai se referia sobre ser
impossível escapar?
Alguém disfarçado me observando, eu olhando por cima do ombro,
desconfiando de todos, não conseguindo viver em paz, sem confiar naqueles
ao meu redor. O medo de viver eternamente na máfia não desapareceu, só
aumenta ao saber que terei de trazer uma criança a esse mundo sangrento.
— Gostou da ilha? — Kai pergunta.
Descemos as escadas que dão acesso à orla e praia, nem percebi que
tínhamos terminado a caminhada. Aceno em positivo, maravilhada com as
pessoas usando trajes de banho, rindo, correndo pela praia, passeando com
animais e entes queridos. Um grupo de amigas deitadas na areia com biquínis
minúsculos me faz pensar nas meninas, será que se tivéssemos nascido em
vidas normais estaríamos aproveitando um dia de sol como essas mulheres?
— Espero que não esteja encarando os marmanjos sem camisa — a
voz vibra grave e possessivo, a vontade de o atormentar me espeta.
— São uns gatos — afino a voz, piscando. — Olha quantos gominhos
aquele homem tem — aponto para um saradão.
Kai infla como um baiacu. O maxilar tensionado, a boca contraída, os
olhos como de uma águia prestes a descer abatendo sua presa. Meu ventre
aperta querendo o beijar, só para o ver perdendo a pose de bandido ciumento.
— Vou te mostrar como minha mira pode ser boa — leva a mão a
cintura puxando uma arma.
Me assusto, seguro seu pulso o fazendo esconder a arma entre nossos
corpos. Pressiono o peito contra o seu, encarando os arredores, um civil
poderia ver e chamar a polícia.
Meu Deus, me casei com um completo maluco possessivo!
— Você não vai matar ninguém! — Rosno a poucos centímetros do
seu rosto.
— Tire minha camisa e conte os meus gominhos, se quiser que aquele
idiota continue respirando.
— Eu não vou fazer isso — Franzo a sobrancelha diante do seu
pedido ridículo.
Kai puxa o braço, aponta para o turista e me desespero, agarro sua
camisa puxando em duas, os botões voando para todos os lados. Ele baixa a
mão escondendo a arma na cintura. Engulo em seco observando seu tórax.
— Toque e conte em voz alta — ordena.
O suor escorre frio na minha testa, engulo em seco, não estava pronta
para essa enxurrada de possessividade. Com receio do que ele pode fazer,
levo as mãos tremulas ao seu abdômen, contornando os músculos firmes com
a ponta dos dedos. Kai tem uma fileira de 8 gominhos na vertical se
estendendo em pequenas nuances nas laterais, no total 12 linhas demarcando
os músculos.
Minha respiração acelera ao ver as cicatrizes espalhadas pelo torso,
subo a visão tocando em cada uma delas. Algumas parecem queimaduras,
outras cortes com faca e poucas lembram ferimentos a bala. Meu peito aperta
imaginando o que ele já teve de passar, como conseguiu cada uma e que elas
devem ter sido devastadoras de aguentar.
— São 12 — respondo controlando a voz, nervosa pela proximidade.
— Quero 12 beijos, ou serão 12 balas no sujeito.
— Você é um escroto — rosno, começando a me irritar com suas
exigências.
— Não estou sentindo nenhum beijo.
Franzo os lábios, apoio as mãos em seu peito macio, me estico na
ponta dos pés tocando sua carne. É a primeira vez que inicio um beijo entre
nós. Kai me dá passagem, enfio a língua no seu interior provando seu sabor
de canela. Já faz horas que ele fumou e o gosto persiste. Enrolo nossas
línguas sutilmente, perco o equilíbrio, ele me ampara com ambos os braços
puxando para cima.
Em uma dança suave conduzo nosso beijo com cheiro de oceano e
sabor de canela. Gosto dos pequenos momentos calados desfrutando o gosto
um do outro. A excitação cresce no meu núcleo, espalhando pelo peito e
exigindo que o beije com mais força. Nossos dentes se chocam, recuo
puxando o rosto com um pequeno sorriso.
— O primeiro, você não disse quando teria de dar os outros — coloco
uma mecha do meu cabelo atrás da orelha — se for um bom mafioso te beijo
novamente.
— Sua safada — aperta minha bunda.
Arregalo os olhos pela ousadia.
— Estamos em público — ralho.
— Eu não me importo — começa a enfiar a mão na saia do vestido,
subindo pela minha coxa.
— O saradão vai ver a minha calcinha — o provoco.
— Vamos voltar para casa e dar uns amassos — começa a caminhar
comigo em seu colo.
Rio por sua espontaneidade.
— Não vou ficar presa em casa, quero passear.
— Você nunca vai facilitar a minha vida?
— No que eu puder, vou facilitar a minha.
Kai balança a cabeça em negativo, me colocando no chão.
Caminhamos em silêncio pela orla, ele fecha o paleto escondendo o peitoral,
me agrada sua ação. Não me importo com outras mulheres encarando seu
corpo, mas não quero ser vista ao lado de um tarado que não sabe se cobrir.
Ver a liberdade dos turistas me entristece com vontade de poder fazer
o mesmo. Não sei se preciso perguntar ao Kai para onde iremos ou pedir
permissão para comer alguma coisa. Por via das dúvidas prefiro me manter
calada. O delicioso cheiro de peixe frito me acerta, ele me puxa para uma
barraquinha, sorri sutilmente apontando para o peixe com a cabeça e aceno
em positivo.
Pegamos os espetinhos e sentamos nas cadeiras de plástico, a essa
altura não sei mais diferenciar os seguranças dos turistas. Será que eu
conseguiria me misturar a multidão como eles? Encaro o Kai de canto de
olho, a vontade de testar as habilidades do meu marido perturbando meu
juízo. Como uma coceira sem fim.
— Vamos naquela loja — aponto para uma com roupas de praia na
vitrine — preciso de biquínis.
A adrenalina pela ideia montada na minha mente me anima. Nunca
me senti assim, tentada a fazer pela primeira vez algo que eu quero. Sei que é
impossível fugir do Kai, principalmente com os seguranças, mas não custa
nada uma pequena travessura. Nunca fiz nada do tipo por medo da punição,
mas se o Kai realmente for um homem descente não vai me bater, no máximo
gritar comigo.
— Gostei da ideia, quero te ver provando cada um — sorri safado.
Minhas bochechas coram em excitação.
Jogamos os pálidos do espetinho no lixo e de mãos dadas entramos na
loja.
— Escolhe algum modelo — peço a ele, o distraindo. Kai começa a
olhar as peças, pego uma sacola para colocar os modelos.
Enfio nela vários biquínis, uma muda de roupa e uma peruca do
manequim. Meu marido fica do lado de fora do provador feminino, aproveito
a privacidade para trocar minha roupa por um short soltinho, uma blusa de
mangas, prendo o cabelo colocando a peruca loira, os óculos de sol dentro da
minha bolsa, me analiso no espelho gostando do disfarce.
Rezo para as roupas não apitar ao sair da loja ou morrerei de vergonha
por ser acusada de roubo enquanto me disfarço para saber até onde sou capaz
de ir sem o Kai me achar. Eu sempre quis fugir e a ideia foi podada de
diferentes formas pelos meus familiares, mas hoje a ânsia que tenho é
diferente.
Não desejo realmente escapar do Kai, apensas o deixar desesperado ao
perceber que sumi e o fazer vir atrás de mim. Será a minha vingança pelos
anos que ele me fez sentir invisível, preciso saber se agora ele realmente me
enxerga.
De queixo erguido, abro a cortina entrando no corredor dos
provadores, abro a porta do feminino saindo. Pelo canto do olho percebo o
Kai observando outros biquínis. Mordo o lábio animada por não ser notada na
primeira etapa. Caminho tranquila para a porta, passo por ela andando na
calçada de ombros erguidos como outra turista.
O coração batendo a mil no peito, que comece o jogo de cão e gato.
Eu nunca me senti tão viva quanto agora.
Caralho, eu gosto disso.
CAPÍTULO 10 KAI

— Chefe — Robert chama discretamente.


— Eu percebi — aviso a ele.
No segundo em que a Daisha passou pela porta do provador com a
peruca loira e o maldito short de tecido marcando a bunda arrebitada, meu
sentido a perseguiu como um cão farejador. Quero descobrir o que ela planeja
com a sua fuga improvisada. Ela pensa que eu não notei ela pegando os itens,
colocando discretamente na sacola da loja. Sorrio, a excitação da caçada
coçando minhas veias.
— O que faremos? — O chefe da segurança pergunta, Robert é um
homem de 54 anos, um excelente soldado e ex fuzileiro naval. É um dos
poucos homens de minha confiança. Ele me ajuda a manter os ratos enviados
pelo Louis para me vigiar longe dos meus negócios no submundo.
— Mantenham distância, vou segui-la de longe. Minha esposa adora
me desafiar com suas brincadeiras — ergo a sobrancelha — vou me divertir
um pouco.
— Sim senhor.
Pago pelas roupas que a Daisha levou e biquínis que escolhi, Robert
recolhe suas vestes do provador. Tranquilamente deixo a loja, analiso direita
e esquerda, sorrio sutilmente ao ver a cabeleira dobrando a esquina a
esquerda. Lentamente, como o farejador que sou, a sigo. Daisha não percebeu
Brandon, seu segurança particular, poucos passos atrás dela.
Na esquina observo o rosto da minha esposa gostosa se inclinando
para alisar a cabeça de um cachorro. A tranquilidade dela me intriga, Daisha
pode ter fugido, mas não demonstra querer escapar. Ela me convidou para um
jogo de perseguição?
A loira atrevida levanta, abre a bolsa pegando uma nota de 10 dólares
entregando a moça sentada atrás de uma barraca de miçangas. Daisha ergue
na altura do rosto um colar de conchas, analisa com cuidado, coloca no
pescoço, recebe o troco e vai embora.
Adentro a rua com cuidado, usando dos turistas para me esconder. É
difícil controlar a excitação ao ver a bunda coberta pelo tecido fino,
marcando sua curvatura, a cintura fina envolta pela blusa folgada de tecido
quase transparente ao ser banhado pelo sol, a peruca mal colocada
balançando com o vento batendo. Sempre gostei da adrenalina de uma
caçada, mas perseguir minha esposa eleva os níveis do jogo, tornando maior
o desejo pelo grande prêmio.
Daisha para em cada uma das barracas, comprando comida, objetos,
conversando com os vendedores, sorrindo tranquila, em menos de uma hora
ela já percorreu metade da orla e comprou mais de 10 coisas diferentes.
Minha esposa fugiu para poder ser uma turista comum, fazer algo sem
precisar de permissão.
Eu notei que ela queria o peixe de mais cedo, observando a barraca
com o canto de olho, engolindo em seco ao sentir o cheiro de fritura. Ela não
teve coragem de me dizer seu desejo. Daisha possui correntes ao seu redor,
presa aos ensinamentos da mãe, ela não acredita que pode ter vontade,
preciso melhorar meu jeito de demonstrar que ela é livre em nosso
casamento.
O céu começa a ganhar tons de laranja e rosa, Daisha para na frente da
murada do outro lado da rua, observando o mar. Encosto o ombro no muro, a
analisando de longe. Ela realmente não percebeu minha presença ou preferiu
fingir não notar?
Apoia os braços no balaústre de madeira, arrebitando a bunda redonda
ao se curvar para a frente. Meu sangue ferver ao perceber que outros homens
podem olhar o que é meu. Observo o movimento dos carros, atravesso a rua
ficando atrás dela.
— Te achei — Murmuro rouco em seu ouvido. Apoio os braços ao
seu redor, Daisha fica tensa, vira a cabeça lentamente encontrando meu olhar.
— Você demorou — sorri espertinha, mordo o lábio contendo a
vontade de a beijar.
— Foi uma caçada bem fácil — aperto sua cintura a puxando contra
minha ereção.
— Você levou mais de uma hora, não me afastei muito da lojinha,
admita, eu fui ótima em me disfarçar. — Ergue a sobrancelha, puxo o óculos
escuro encarando os diamantes em suas faces.
— Uma gata bastante esperta — murmuro em seu ouvido — me
deixou louco de tesão ao te procurar — roço na sua bunda, uma área segura.
Aliso seu braço puxando seu corpo contra o meu, enfio o nariz em seu
pescoço aproveitando o cheiro de mar na sua pele.
— Não está irritado por eu fugir? — pergunta receosa.
— Me diz o que você acha — pressiono meu cacete na sua bunda,
apertando a cintura dela, impedindo que escape dos meus braços.
— Safado! — responde afetada.
— Acabei de encontrar minha presa, hora de a devorar.
Mordo a pele macia do pescoço. Daisha se encolhe, pressionando os
braços contra o peito, um som abafado deixa sua garganta. A bunda por
instinto esfrega minha ereção. Aperto sua cintura com ambas as mãos a
mantendo imóvel, movo meu quadril roçando para os lados contra as ancas
firmes de sua carne.
Deslizo os dentes, lambendo a extensão altiva de seu pescoço. Prendo
sua testa contra meu ombro, a fazendo se esticar, me dando mais espaço.
Com a outra seguro sua coxa enfiando os dedos dentro do short. Daisha arfa
novamente, me dando um som extremamente satisfatório. Rosno sugando sua
pele, movimento seu queixo trazendo sua boca para o ataque da minha.
A prendo contra a balaústre, agarro a bunda com a palma, enfiando as
unhas em sua carne, levando arrepios a seu corpo esguio. Meto a língua com
vontade contra a sua, sugando sua saliva, deslizando no calor bucal. Daisha
fecha os dentes sugando para si. Sua mão acariciando sutilmente a lateral da
minha cabeça, protagonizando uma cena erótica no meio da rua.
Solto seus lábios prendendo o queixo a forçando a me encarar. Os
olhos azuis da cor do céu nublados de prazer. Em um selinho demorado
roubo seu folego para mim. Esfrego nossos narizes compreendendo sua
entrega, ela gostou da liberdade, fazendo o que desejava em seu passeio.
Estabelecer confiança com a Daisha é a chave para o nosso
relacionamento funcionar. Ela só conseguirá ser minha quando perceber que
não está presa, mas livre para decidir me aceitar.
— Quer sair para jantar? — sopro contra seu rosto.
— Você realmente não se irritou com a minha fuga? Eu passei horas
andando — dá de ombros — acho que sou melhor em me disfarçar do que
imaginei.
Dou risada do seu jeito inocente de falar. Não quero acabar com seu
encanto, ela não percebeu os soldados a seguindo de longe, eu no seu encalço
há cada passo. Daisha é fofa em sua inocência, pela primeira vez sinto algo
diferente de tesão. Um carinho protetor, querendo perpetuar sua doce
ingenuidade.
— Só percebi que não estava na loja meia hora depois — minto, seu
rosto se ilumina, não sei quais ideias rondam sua mente, mas torço para não
ser nossa última caçada.
— Eu sou um máximo — sorri de lábios fechados, inflando as
bochechas. Beijo sua testa não aguentando ficar sem a tocar. — Daniel e meu
pai viviam dizendo que é impossível fugir da Máfia, eles ficariam em choque
com minha proeza.
— Você falava sobre escapar? — pergunto, ligando um sinal na
minha cabeça. Se hoje não tiver sido somente uma brincadeira, precisarei
ficar atento na Daisha.
— Eu nunca me senti confortável, aceita, ou feliz — desvia o olhar
para suas mãos cutucando a madeira. — Não sei como foi para você, Kai,
mas a vida na Máfia nunca foi fácil para mim — ergue os ombros tristes. —
Algumas vezes eu pensei em como seria uma vida normal, longe do mundo
sangrento da Máfia.
— Qual tipo de vida você quer? — tento a fazer se abrir para mim.
— Uma com menos regras, talvez.
— Pode me dar um exemplo?
— Consegue ver aquela mulher — aponta com a cabeça para o lado.
Observo uma moça com o sutiã do biquíni e uma saia no quadril, ela rir
conversando com um rapaz, trajando somente um calção.
— Sim.
— Vê como ela não se preocupa se tem alguém a seguindo, usa as
vestes que escolheu para si, sem medo de ser repreendida. Conversa com um
homem sem receio de sua honra ser manchada. Eles podem ter se conhecido
agora, serem amigos de longa data ou namorados. Existe uma história por
trás que os permitiu viver esse momento de escolhas. Eu nunca poderei ser
assim.
— Se nos observarem vão pensar que somos um casal normal — beijo
sua testa — não podemos supor a vida de alguém por breves segundos de
análise.
— Você não me entende.
— Está usando biquíni por baixo da blusa?
— Sim.
Agarro a barra da camisa a puxando por sua cabeça. Removo a
peruca, solto seus cabelos. Daisha assume um tom escarlate, encarando os
arredores com medo. Prendo seus braços, impedindo que cubra os seios, a
encaro penetrante.
— Se você deseja desfilar na praia de biquíni, faça. Eu não vou te
impedir.
— Sua possessividade não combina com sua fala — ergue a
sobrancelha desconfiada.
— Você é minha e por isso pode fazer o que quiser. Seja desfilar
pelada ou coberta, ninguém ousará te impedir. Correria o risco de eu arrancar
os olhos de qualquer um que ouse te deixar desconfortável? Com certeza. —
Ela sorri relaxada — O que importa é você se sentir bem consigo.
— Promete nunca me controlar — pede com os olhos marejados.
— Sim, você é livre para escolher o que quer vestir, comer, falar,
fazer. Não precisa da minha permissão — baixo o rosto deslizando nossos
narizes.
Sua resposta vem na forma de um beijo. Doce, carinhoso, um
entrelaçar de linguás repleto de gratidão. Os peitos esmagando meu peitoral,
aperto sua cintura macia a puxando para mim. Ergo Daisha no balaústre me
enfiando entre suas pernas. Ela envolve os braços no meu pescoço se
aproximando.
Eu poderia tentar uma investida maior, a levar para casa e transar a
noite toda, mas não é disso que ela precisa, se eu me aproveitar do momento
vou romper a sua confiança. Ganhei uma chance de provar minhas intenções,
não vou desperdiçar.
— Eu aceito o jantar — fala a poucos centímetros recuperando o
folego.
— Primeiro vamos em casa, quero aproveitar mais desse short — a
provoco.
— Vou comprar um monte deles — rebate sorrindo sapeca.
— Eu agradeço.
Seguro sua coxa a trazendo para meus braços. Estacionado no meio
fio o carro nos espera, com um sinal de cabeça indico que devem pegar as
sacolas dela do chão. Caminho com ela nos meus braços, que me usa para
esconder os seios. Apesar do momento libertador, ela ainda tem vergonha de
se expor.
Entramos no carro e não a deixo descer do meu colo. Espalmo a mão
dentro do seu short, adoro o olhar desconfiado com uma pitada de excitação.
Miro os peitos fartos no biquíni, a carne exposta, volumosa, me dá água na
boca. Aliso os lábios com a língua mal conseguindo conter minha vontade de
a tocar, chupar, lamber os bicos durinhos.
— A saliva está escorrendo — alisa meu queixo.
— A baba maior é produzida pelo meu cacete — bato os dentes em
uma mordida audível — louco para te devorar.
— Você é um tarado! — as bochechas assumem o tom escarlate.
— Por você, completamente — aproximo o nariz do seu, inspirando o
cheiro salgado.
— Não gosto quando você age assim — murcha — faz eu me lembrar
de como é desconfortável estar na presença dos homens da famiglia, todos
me encaram como um pedaço de carne — bate em meu peito — eu tenho
mais do que seios grandes!
— Desculpe, não queria te fazer sentir um pedaço de carne. — Peço
sincero. Aliso a mecha caída em sua testa escondendo atrás da orelha — você
é mais do que seios, você disfarça sua quietude com timidez, prefere observar
do que ser o centro das atenções. Escolhe com cuidado as palavras, é
respeitadora, mesmo quando quer arrancar a cabeça de alguém, você admira
o jeito explosivo da Josephine por querer ser um pouco como ela.
As observações que fiz ao longo do nosso tempo junto brotam na
minha boca sem hesitação. Ela pode pensar que não a conheço, vou mostrar
que está errada.
— Adorou o sabor do doce e hoje comprou vários nas barracas, se
sujando enquanto comia. Tem um gosto peculiar por artesanato — toco o
colar em seu pescoço — admira o simples ao invés do luxuoso, gosta de
animais, é uma observadora nata, apesar de ter pouca confiança em mim, se
entrega aos beijos por te fazerem bem, aceitando suas vontades. Você
conhece seus limites e quando os atinge não deixa que sejam rompidos.
— Quando você percebeu isso? — pergunta espantada.
— Eu te disse, te desejo ha muito mais tempo do que você imagina.
Aliso seu queixo a trazendo para mim, os olhos curiosos, desejando
escutar minhas palavras.
— Sua vontade de ser livre não se resume somente a tomar as
decisões da sua vida, mas a saber que está no controle de suas escolhas, de
dizer “não” e ser respeitada, de optar pelas suas vestes, refeições e escolher
como ocupar seu tempo. Você é magnifica, cheia de vontades, pronta para
viver cada uma delas. Eu quero que você escolha ser feliz ao meu lado, não
vou impor. É você quem decide.
— Obrigada, Kai.
Gosto do som do meu nome em sua boca.
Macio, carregado de carinho.
Sorrio para ela, o carro para estacionando na garagem da mansão.
— Vou perguntar novamente, aceita sair para jantar comigo?
— Sim — sorri tranquila.
Estralo um beijo na sua boca, abro a porta, ela desce primeiro. A sigo
de perto, ainda não mostrei a casa. Agarro sua mão a conduzindo pelos
cômodos, nossas coisas foram deixadas no quarto. Daisha coça a cabeça e me
encara.
— Vamos dormir na mesma cama? — analisa o quarto com as mãos
na cintura fina e branquinha, Daisha tem a porra da pele de porcelana me
enchendo de vontade de a marcar com meus dentes.
— Sim — retiro o paletó.
— Não sei se gosto da ideia, você pode me atacar enquanto durmo —
se vira de frente erguendo as mãos na altura dos ombros — vou precisar da
minha faca para te manter afastado.
— Escolha sua preferida — ergo a sobrancelha me aproximando —
não vou ser capaz de controlar meu pau, ele pode acabar ficando sonâmbulo e
pular na sua boceta.
— Seu porco desbocado — ruboriza.
— Sua virgem puritana — agarro seu pescoço a fazendo arfar, choco
nossos peitos — vamos dormir agarradinhos e pelados, sua bunda será a nova
casa do meu cacete.
Bato a palma da mão na carne macia de sua bunda. Daisha grita
pulando para a frente. Abafo seu protesto com um beijo cheio de fogo. Estou
no meu limite a horas e as provocações dela só pioram minha situação. A
safada gosta de me insultar e receber minhas respostas ariscas e pervertidas.
Porra, eu adoro o jogo de cão e gato, dominar e subjugar.
Mordo sua boca arrancando uma gota de sangue. Ela grita abafado
batendo em meus ombros. Mexe as pernas esfregando a bocetinha com as
coxas, enfio a mão apalpando sua bunda, quase tocando a carne em chamadas
de sua boceta por trás, puxando para mim, devorando seus gemidos e
protestos. Se ela quisesse já teria parado o beijo, ao invés de puxar minha
camisa e ficar na ponta dos pés para alcançar minha boca.
— Quer continuar os amassos na cama? — pergunto rouco de tesão.
— Vai ficar longe da minha vagina? — se certifica.
— Vou poder devorar seus peitos? — barganho.
Ela se cala, pensando na minha proposta, encara os peitos e depois a
mim, percebo a dúvida nublando seu olhar, a vontade duelando com o medo
de ser tocada intimamente. Ficar pelada é um problema para ela. Acho que
não se importa com a bunda por sempre está coberta e longe do meu rosto.
O receio da Daisha tem a ver com a confiança de estar pelada para
outra pessoa sem vergonha do seu corpo e se entregar completamente, sem
dúvidas a respeito do parceiro.
— Ainda não — engole em seco — aceito uns beijos.
— Porra mulher — rosno em sua boca — você me mata de tesão.
— Vou precisar usar a faca para te fazer se controlar? — ergue a
sobrancelha, o olhar brincalhão com uma pitada de dúvida.
— Mantenha ela debaixo do travesseiro — ergo o canto do lábio —
quem sabe a usamos para fins sexuais.
— O quê? — se assusta — como se usa uma faca no sexo?
— O cabo como consolo, a lâmina deslizando no seu clítoris inchado,
o medo de ser cortada, mesclado a excitação pelo objeto afiado na sua boceta
— o rosto dela banha em vontade — arrancar pequenas gotas de sangue para
o parceiro provar. Tem muitas formas.
— Você já usou? — pergunta excitada.
— Sim e outras coisas — seguro sua coxa a erguendo nos meus
braços, caminho para a cama. Sento com ela no colo.
— Tipo o quê? — Sua curiosidade me intriga. Daisha se remexe no
meu colo, arregala os olhos e sai apressada deitando na cama — melhor eu
ficar aqui, acho que bati na sua arma.
— Boneca — deito por cima dela — minha arma fica na parte de trás
do cinto. Você bateu no meu cacete duro de tesão — esfrego em sua coxa,
Daisha arfa perdendo o ar.
— É mais grosso que o cabo da faca — sussurra em um segredo.
— Muito mais — me orgulho do meu tamanho.
— E você quer colocar isso em mim? Não vai caber!
— Devagarinho entra até o talo — aliso sua barriga adorando a
respiração irregular.
— Vou permanecer virgem, não quero arriscar.
— Vai ficar viúva cedo se seguir esse caminho.
— Por quê? Eu nem estou te ameaçando.
— Vou morrer pela falta de sexo, antes dos 36.
Daisha gargalha, um som bonito, límpido, proveniente de sua alma.
Beijo seu riso despejando o meu, mesclando ao dela. É bom quando estamos
em paz, acertando nossos ponteiros, conversando como um casal faria.
— Não quero que você morra, ainda — responde se recuperando do
riso.
— Vamos devagar, quando conseguir confiar em mim vai
enlouquecer de tesão implorando para que eu te foda com meu cacete
enorme.
— Você tem muita confiança, mas a verdade é que você está louco de
vontade por mim — se gaba.
— Nunca neguei.
Daisha sorri tranquila, levanta a coxa envolvendo no meu quadril ao
me puxar contra si. A beijo como fiz todas as outras vezes, saboreando
delicadamente seu gosto. Ficamos de amassos na cama até precisarmos nos
arrumar para sair. Não contenho a vontade de perturbar a Daisha.
— Só um banho — peço na porta do banheiro.
— Nem dois — franze o nariz irritada — para de insistir, não vamos
tomar banho juntos.
— No máximo, eu te esfregaria com a esponja! Prometo me manter
distante.
— Promessa de tarado é igual a de político, quebram no primeiro
segundo!
— Deixa a porta aberta, posso te observar de longe — dou a opção,
adorando a ver irritada.
— Kai eu vou te esfaquear se não soltar essa porta! — Grita apertando
os punhos.
— Vou esconder todas as facas da casa enquanto você toma banho.
— Eu pego sua arma!
— Pode tocar — aponto o quadril para ela, expondo o volume do meu
pau na calça.
— Sou escroto — rosna.
Solto a porta, ela bate com força na minha cara, sorrio.
— Vou bater punheta pensando em você — grito.
— Faça isso e acordará sem o pênis.
— Virgem puritana, não sabe falar a palavra “pau”!
— Pervertido!
O som do chuveiro me impede de ouvir o resto de suas palavras. Com
as bolas explodindo precisando de sexo, pego a toalha e vou para o banheiro
no corredor. Retiro a roupa, agarro meu cacete pela base e começo uma
punheta pensando na minha esposa, lembrando do seu corpo, o cheiro, a
macies da pele. Os beijos carinhosos, fogosos e nosso amasso na cama.
Eu preciso de Daisha mais do que achei ser possível.
Ela se infiltrou em cada célula do meu corpo.
Não existe maneira no céu ou inferno de eu a deixar ficar longe.
CAPÍTULO 11 DAISHA

Espio pela fresta da porta se o tarado não está no quarto. Enrolo o


cinto do roupão na cintura. Saio do banheiro correndo na ponta dos pés, fecho
a porta do quarto, respiro aliviada sabendo que o safado não vai entrar
enquanto me troco. Ainda não consigo acreditar que ele levou na brincadeira
minha pequena fuga hoje de manhã.
As horas sozinha caminhando tranquila foram importantes para mim,
ajudou a colocar a mente no lugar, sentir um gostinho da liberdade. Gostei de
falar com estranhos, acariciar animais e poder comprar o que eu desejasse.
Tenho minhas dúvidas se o Kai realmente demorou para me encontrar, não
sabia qual seria a reação dele.
A expressão tranquila, olhar relaxado e o sorriso espertinho nos lábios
me pegaram de surpresa. Esperava tudo, menos divertimento, quase como se
ele quisesse me ver repetir a fuga. Estou tentada, descobrir até onde poderei
ir. Nossas trocas de farpas são interessantes, o desafio de falar o que eu
desejar e receber seus insultos de volta me excita.
Estou descobrindo um mundo de novas sensações, espero não me
afogar nelas. Não confio totalmente no Kai, faz pouco tempo que casamos e
estou conhecendo um lado dele inimaginável. Rezo para não ser uma farsa
arquitetada para me fazer cair em seus encantos e transar com ele.
Eu tenho vontade de me entregar, mas não confio nele o suficiente
para ser capaz de relaxar. Ele não colocar pressão retira um peso de cima dos
meus ombros. Desejo continuar podendo fazer tudo no meu tempo, conforme
me sinto confortável em sua presença.
Visto um vestido rosa de caimento no joelho, cintura apertada por
uma faixa, alças largas, joias e um pouco de maquiagem. A mala do Kai no
canto do quarto me chama a atenção. Curiosa a abro, sem saber pelo que
procuro vou mexendo nas coisas.
Debaixo de todas as roupas encontro um conjunto de facas e armas,
pego o punhal preto de couro nos dedos, a lamina prateada brilha ao refletir a
luz. Gosto do objeto cortante, a coloco dentro da bainha, fecho a mala e com
a faca em mãos caminho para a cama escondendo a arma debaixo do meu
travesseiro, uma pequena ideia travessa dominando minha mente.
Sorrio perversa, ansiosa para quando meu marido tarado tentar me
agarrar mais tarde.
Batidas soam na porta do quarto, aliso o vestido controlando a
respiração, nervosa por causa da minha pequena exploração. Com os saltos
batendo no chão, percorro o quarto, destravo a tranca, giro a maçaneta
abrindo a porta.
O impacto da beleza do Kai me deixa sem ar por breves segundos.
Usando um terno, camisa e uma gravata preta, ele parece o lorde da noite. As
abotoaduras douradas nos punhos, um pequeno broche dourado na gravata, o
pescoço com uma veia saltada na lateral, o maxilar angular esculpido sem um
traço de barba. A boca rosa carnuda contraída, o nariz de ponta redonda
expelindo o ar suavemente.
As bochechas do Kai são levemente carnudas, demarcando uma linha
reta com o maxilar. Os cílios negros e longos quase batendo em sua pele, os
olhos negros como duas pedras de ônix se misturam a cor das pupilas, me
deixando notar levemente o dilatar delas ao me encarar. As sobrancelhas
grossas e bem penteadas, dando um charme seduzente de homem elegante e
perigoso. Os cabelos penteados para trás na lateral, fios caem soltos em sua
testa, meu ventre contrai com a imagem sexy.
— Você está linda — apanha minha mão na sua me fazendo girar.
— Obrigada — respondo recuperando a fala — você também.
As bochechas queimam pôr o elogiar, não compreendo o motivo,
começo a me sentir nervosa. Há muitos anos minha mãe me ensinou, quando
estiver nervosa devo focar na minha respiração e ficar calada, não deixar
baboseiras saírem da minha boca. Eu queria conversar com ele, perguntar
como se arrumou mais rápido do que eu, qual restaurante iremos, se estou
vestida apropriadamente, as palavras morrem entaladas na garganta.
— Pronta para ir? — a voz rouca penetra meus ouvidos trazendo uma
breve sensação de deleite.
— Sim — respondo baixinho.
De mãos dadas caminhamos pelo corredor, descemos as escadas da
linda casa grega. As paredes brancas com móveis claros, as janelas trazendo a
luz do luar para dentro, um clima tranquilo, do lado de fora vejo o brilho da
cidade, escuto ao longe o som da música das festas acontecendo espalhadas
pela ilha.
— Tudo bem para você andar de vestido na moto? — Kai aponta a
enorme moto parada ao lado do carro, não tinha notado ela.
— Nunca andei em uma — aliso a saia, com receio de subir na moto
— podemos ir de carro?
— Claro — percebo o desconforto evidente no seu rosto. Kai engole
em seco e abre a porta para mim.
— E-u — pigarreio, lutando para conseguir falar acima do nervosismo
— posso trocar de roupa — aponto para a casa.
— Você tem algo que não sejam vestidos? — arqueia a sobrancelha.
— Somente o short de mais cedo — encaro o chão.
— Amanhã compramos algumas peças para os passeios de moto —
alisa meu rosto.
— Kai — chamo seu nome baixinho, sem coragem de o encarar —
não é comum as damas andarem de moto.
— Eu sei — ele suspira — eu prefiro ela a um carro. A liberdade em
duas rodas é incomparável — alisa meus braços me puxando para perto —
Daisha — meu nome sai suave de seus lábios, o encaro — se você der uma
chance, vai gostar.
Sinto que ele não se refere somente a moto.
Aceno em positivo, disposta a tentar.
— Amanhã, compramos roupas apropriadas — digo.
— Minha gata selvagem — ele geme me puxando para si. Ampara
minhas bochechas em suas mãos grudando nossos lábios — você vai fica um
tesão em cima da minha moto.
— Você insiste em colocar sexo no meio — cutuco sua barriga
arrancando um riso baixo.
— Sexo combina com tudo — morde meu lábio puxando para si —
vamos, boneca.
— Você muda o apelido direto — comento entrando no carro ao seu
lado, a tensão indo embora conforme conversamos — hora é gata arisca ou
selvagem, outra boneca, por quê?
— Internamente sempre te chamei de boneca — puxa o meu cinto, o
cheiro de canela invadindo meus sentidos, inspiro fundo aproveitando mais
de seu aroma.
— Eu pareço com uma?
— Muito — alisa a maçã do meu rosto — principalmente seus olhos
azuis intensos.
— E a gata? — questiono perdendo um pouco do fôlego pela sua
aproximação. Suavemente o carro começa a se mover.
— Após a joelhada, percebi suas garras, como uma gata arisca pronta
para atacar ao ser ameaçada.
— Se você não fosse um tarado, aquilo não aconteceria — sinto a
necessidade de me defender.
— Tem razão — o sorriso travesso cruza seus lábios — quando estou
perto de você a luxúria me domina, é um inferno me controlar para não atacar
sua bocetinha com meus dentes — a mão grossa desliza no interior da minha
coxa, subindo e descendo, enviando descargas elétricas para meu ventre —
meter meu pau até o talo no seu calor — fecho os olhos, o corpo
esquentando, o hálito quente bate contra minha boca — está imaginando
como seria? Meu cacete duro te enchendo, entrando e saindo, enquanto você
delira implorando por mais.
— S-im — a palavra deixa minha boca quase inaudível.
— Quando chegarmos em casa, podemos brincar um pouco — o dedo
resvala minha intimidade. Pulo, surpresa, não esperava seu toque.
Agarro sua mão arregalando os olhos, confiro o vidro erguido entre o
segurança e a gente, permitindo que tenhamos privacidade. No centro da
cidade as luzes entram pela janela, as pessoas transitando nas calçadas,
ninguém imagina a mão do meu marido roçando minha vagina timidamente,
meu corpo em chamadas, a boca seca de vontade, e o desejo me corroendo.
Não respondo ao Kai, invés disso seguro sua nuca grudando nossos
lábios em um beijo quente. Puxo os fios de sua cabeça, ele geme na minha
boca, agarra minha vagina com a mão fechada pressionando minha carne.
Queimo de vontade para ter mais de seu toque, a surpresa por me entregar
com facilidade a sua carícia me assustada.
Gosto de me sentir bem, confortável ao seu lado, mas e se estivermos
indo rápido demais? Eu mal o conheço. Se eu ceder entregando minha
virgindade ao Kai ele vai continuar sendo legal comigo? Paciente,
conversador? A mera ideia de perder o que temos construído me assusta.
Pela primeira vez eu tenho uma relação que me faz querer lutar por
ela. Colocar sexo no meio pode estragar tudo, não vou aguentar perder a
pequena amizade que construímos. Mas se eu não ceder, ele vai desistir de
mim? As dúvidas permeiam minha mente, a insegurança nublando meu
coração. Interrompo o beijo, insegura.
— Calma — peço a ele, precisando de um segundo para organizar
meus pensamentos.
— Tem razão, ainda precisamos jantar — puxa a mão do meu centro,
sorrindo ardiloso.
Alivio me inunda por ele não ter notado a minha hesitação.
— Safado descarado — o xingo precisando de algo para me trazer de
volta.
— Virgem puritana — rebate.
— Um dia você vai parar de me chamar assim — ergo a sobrancelha,
o coração a mil.
— Quando eu te fizer minha mulher — encosta nossas testas —
prometo te chamar com carinho, mas até lá, você é uma puritana malvada me
matando de tesão para te comer.
— Seu porco, só se importa com sexo — ruborizo, ele gargalha.
— Daisha, um dia você entenderá como me sinto — a fileira de dentes
brancos exposta convencido.
— Acho que não — arqueio a sobrancelha — eu não sou uma tarada
desesperada por sexo.
— Essa parte você deixa comigo — sapeca um selinho — a sua será
apreciar deliciosamente minhas habilidades na cama.
— Vamos jantar! — Peço não suportando mais o calor subindo pelo
meu peito, precisando de uma distração.
— Minha janta bem que podia ser você — enfia o rosto no meu
pescoço, arquejo dando espaço para seu ataque.
— Nem janta e nem sobremesa — o carro estaciona — estou faminta
por comida.
Não me importo de parecer uma fujona ao abrir a porta e deixar o
carro ouvindo o riso do Kai. Ele fica ao meu lado, uma mão na minha cintura
guiando nossos passos pela escada de madeira. O restaurante é beira-mar, o
vento da noite joga os fios da minha cabeça para todos os lados, pego uma
presilha na bolsa prendendo os cabelos.
Somos levados para uma mesa no segundo andar, um deque de frente
para o mar, com uma linda visão das luzes da cidade. A Grécia tem uma linda
estrutura arquitetônica com as casas brancas, as ruas em ladrilhos e as
barracas trazendo o cheiro delicioso de comida e vida a cidade, os turistas por
todos os lados.
Kai puxa uma cadeira para mim, me acomodo, ele fica a minha frente.
A iluminação proveniente por lampadas presas a cordas no alto, nos
balaústres e pequenas correntinhas segurando uma lampada no formato de
vela acima das mesas. A brisa marítima, o vento frio, a iluminação e meu
companheiro sorrindo com os olhos dão um toque romântico a noite.
Pela primeira vez eu compreendo como minhas amigas se sentem ao
falarem apaixonadas de seus maridos. Posso não amar o Kai, mas uma
pequena parte do meu peito bate timidamente por ele.
— O menu é voltado para a culinária típica grega com um toque de
requinte — O garçom explica ao entregar os cardápios — apesar de
parecerem simples, será a melhor comida que vocês provarão. Desejam beber
algo?
— Quero seu melhor uísque envelhecido 50 anos — aponta para mim
— minha esposa vai querer?
Ergo a coluna adorando poder decidir o que beber. Analiso o cardápio,
entre os vinhos caros e cervejas, os drinks me atraem, a língua saliva em
vontade de provar.
— Gostaria de um grego sensual. — Deslizo a língua nos dentes
encarando o Kai.
Ele infla em ciúmes, aperta a borda da mesa, encara o garçom que não
estranha meu pedido. Grego sensual é um drink com uma famosa bebida
grega, o Ouzo, segundo a descrição.
— Boa escolha, quando estiverem prontos para pedir, podem me
chamar, volto em instantes — se retira.
— Grego sensual? — Kai rosna. Seguro o riso.
— Aqui diz que posso tomar na barriga de um grego sarado com
direito a 14 gominhos para eu lamber.
— Mas que diabos.
Se inclina para a frente puxado o cardápio. Os dedos envolvem forte
quase dobrando o couro revestindo o cardápio. Seus olhos vasculham a
página em busca da informação. Ao encontrar a descrição do drink, ele
suspira alto e eu gargalho.
Minha barriga dói pelo riso alto, o cantinho dos olhos molham pelas
lágrimas alegres. Kai bufa soltando a cara amarrada e me acompanhando na
risada, relaxando. Inspiro fundo recuperando o folego, ele puxa minha mão
para si beijando o dorso.
— Sua diaba, quase me faz cometer um genocídio no restaurante.
— Não consigo evitar, adoro te provocar — ergo os ombros marota.
— Em casa eu te castigo.
Ruborizo lembrando dos amassos que demos no carro. Após meu
mico por não saber o que é ficar de namoro sem precisar de sexo, a ideia de
dar uns pegas no Kai é excitante, envolvente, gosto do deslizar de nossas
línguas disputando para ver quem se enfia mais na boca um do outro.
O Kai é um homem divertido e descontraído, é fácil ficar na sua
presença. Quase me faz esquecer os anos em que me senti desprezada por ele.
Ainda não tive impeto de perguntar quem o fazia ficar longe de mim,
desconfio ser o seu pai, embora a Rebeca não deixe de ser uma opção.
O telefone dele toca, as sobrancelhas franzem antes de atender.
— Oi Rebeca — péssimo time para a vadia manipuladora. Fico quieta,
quero observar a interação deles. — Estou bem e você? — Kai escuta calado
por mais de três minutos, conto o tempo exato no meu celular — tem certeza?
Uma notificação apita na tela do meu aparelho, abro vendo a
mensagem da Josephine.

A vaca da Rebeca vai dizer ao Kai que a Hope não a deixou segurar o
Ethan por minha causa. Ela me acusou de envenenar a Hope contra ela.
Michael escutou e a expulsou da mansão, vou ficar uns dias com os Bianchi,
até o Kai voltar.

— Não vou voltar — a voz enraivada dele me traz de volta — até


mais, Rebeca.
Kai joga o celular em cima da mesa e pressiona os olhos cansados.
Toda a alegria que o acompanhou desde o avião evapora. Meu peito aperta,
em raiva pela Rebeca ter feito algo estupido e tristeza por ver como afeta o
Kai o tratamento entre as irmãs.
Eu achava que ele só se importava com a Rebeca, mas alguma coisa
aconteceu que o fez olhar para a Josephine. Não sei como no passado ele
reagiria ao que aconteceu com as irmãs, mas hoje seu rosto banha em
preocupação e arrependimento.
— Tudo bem? — sondo.
— Acho que sim — suspira — Eleanor foi visitar a Hope e o Ethan,
você sabe que o clima entre elas anda estranho desde a reunião das senhoras
em que a Hope subjugou a Eleanor. Ela levou um presente caro para ambos e
a Rebeca foi junto, segundo minha irmã a Josephine já estava lá, falando mal
da Rebeca e por isso a Hope impediu o contato da Rebeca com o Ethan —
afrouxa a gravata agoniado — mas, parece que tem algo faltando. A Hope
não agiria assim sem motivos.
— Você acha que a Josephine é culpada? — pergunto cautelosa.
— Eu não sei — os olhos negros me encaram cansados — são anos
dessas implicâncias e brigas, sempre o mesmo. Estamos na nossa lua de mel e
a Rebeca me liga, a voz dela — sacode a cabeça — tinha algo de estranho,
como se ela estivesse com raiva de mim por estar longe. Exigindo o meu
retorno.
— E o que você vai fazer?
— Continuar aqui com você — entrelaça nossos dedos — ao menos
por uma semana eu quero esquecer o maldito mundo e focar em você e na
paz que sinto ao estarmos juntos.
— Eu te trago paz? — uma sensação de conforto me faz flutuar.
— Mais do que você possa imaginar — beija minha palma — já
escolheu o que pedir?
— Sim, de entrada vou querer Spanakopita — ele ergue a bochecha
surpreso com minha pronúncia perfeita. — Uma moussaka acompanhada de
uma salada grega e sobremesa um frozen mantolato.
— Quero o mesmo — sorri, tentando deixar a tristeza de lado.
Teclo uma mensagem para Josephine.

Ele não te culpa, está chateado com a Rebeca.

As bebidas chegam, Kai toma seu uísque e eu me delicio com o


frescor do drink e o gosto do álcool. Ele pede nossos pratos, fica em pé me
estendendo a mão. Sem dizer nada o acompanho para a pista de dança.
Diferente da primeira vez que fizemos isso, hoje eu quero estar em seus
braços, sentir o doce aroma de seu halito mesclado ao uísque e seu cheiro de
canela.
— Você é linda — ele murmura com os lábios quase encostados aos
meus, o rosto baixo nos envolvendo no embalo da noite com a música suave.
— Não me acha um pedaço de carne atraente? — me dói dizer
palavras malvadas comigo, de alguma forma, sinto que preciso arrancar de
mim a forma como os homens me fazem sentir.
— Nunca — beija minha testa — você tem um corpo atraente, nunca
negaria — baixa a boca ao meu ouvido — seus peitos me deixam louco de
vontade de apertar, morder e chupar para cacete. Sua bunda durinha é o lugar
preferido da minha mão, sua cintura fina é atraente como o inferno — alisa
meu quadril me colando a si — você pode se achar gostosa Daisha. Nunca se
menospreze com raiva do seu corpo, aquele que ousar te deixar
desconfortável vai conhecer o cano da minha arma.
— Você… — coço a garganta, o bolo entalado. Ninguém nunca me
falou palavras tão explícitas e verdadeiras. Encaro seus olhos escuros — pode
mesmo me proteger do olhar ganancioso dos homens da famiglia?
— Eu mataria a todos, por você — beija minha testa em mais uma
promessa.
— Acredito em você — encosto no seu ombro, inspirando o cheiro,
me sentindo protegida.
Kai é bom em fazer promessas, rezo para que ele não as quebre. Não
sei o que restaria de mim após deixar ele entrar e me decepcionar.
— Daisha Lucian — pausa, segura minha mão, os olhos brilhando
espertos — começamos um casamento por obrigação. Eu sei que você não
me desejava, mas hoje eu quero te fazer uma pergunta e sinta-se livre para
recusar.
— Certo — separo os lábios começando a ficar com frio, de ansiedade
ou pela noite, não sei diferenciar.
— Você aceita namorar comigo? — encosta nossas testas, sorrindo
feliz.
Pisco contendo as lágrimas, aceno sem conseguir falar.
Eu não escolhi casar com o Kai.
Mas posso escolher se quero namorar ele.
Envolvo os braços ao redor do seu pescoço colando nossos lábios. Ele
ri ao puxar meu pescoço para trás.
— Preciso de uma resposta audível.
— Sim — murmuro saltando contra ele.
Eu tenho o direito de escolha.
Nunca me senti feliz como nesse segundo.
Flutuando, é como me sinto pelo resto da noite. Kai é um bobo que
não consegue parar de sorrir. Jantamos, dançamos e nos beijamos até chegar
em casa. A confiança nele aumenta um pouquinho a cada hora, embora ainda
não me sinta pronta para o sexo. Me tranco no banheiro o deixando no
quarto, abro o navegador e pesquiso se é normal a insegurança para transar
com o namorado.
Nunca pensei que pudesse usar essa palavra “namorado” ela parece
boba e infantil, mas para mim tem um significado forte, libertador. Foi o meu
direito de escolha. Posso ter sido obrigada pela minha família a casar com o
Kai. Contudo, absolutamente ninguém tem responsabilidade pela minha
escolha em dizer “sim” a ele.
Quero estar pronta, no meu tempo para me entregar. Vários artigos de
revistas contam experiências de mulheres com seus namorados, quanto mais
vou lendo, percebo que é normal querer esperar pelo momento certo, seja
planejado ou no impulso, constato que não estou quebrada.
Eu sou normal, tenho 20 anos, nunca me relacionei, apaixonei ou
imaginei que seria feliz em um casamento, o período de adaptação é comum.
Todos os artigos finalizam dizendo que deixar fluir naturalmente é a melhor
opção para o casal. No fim, tomo meu banho e visto a camisola de cetim para
dormir.
Envio uma mensagem no grupo das meninas.

Kai me pediu em namoro.


Eu aceitei.
Bloqueio o celular e deixo o banheiro, segura em minha escolha.
Kai está deitado mexendo no tablet, o peito nu expondo os músculos,
gominhos e cicatrizes. Ele tem muitas, meus irmãos também são homens da
máfia e nunca vi tamanhos machucados em seus corpos, meu peito aperta ao
imaginar que nem todas as marcas são frutos de missões.
— Dormiremos na mesma cama? — pigarreio chamando sua atenção.
— Com certeza — não tira os olhos do tablet, estranho sua reação.
Deito, me cobrindo com o edredom, descanso a cabeça no travesseiro
lembrando da faca.
— Finalmente — ele suspira aliviado, como se estivesse prendendo a
respiração por horas.
— Aconteceu algo? — pergunto desconfiada.
— Você entrou no quarto com essa maldita camisola — envolve
minha cintura por debaixo do edredom — se eu tivesse te encarado como
queria, te comeria naquele chão.
Kai me puxa contra ele prendendo meu quadril ao seu. O membro
grosso batendo na minha bunda me assusta, ele é enorme, por cima da cueca
eu noto sua grossura e tamanho. Não tem como ele caber dentro de mim.
Nunca nem dedo enfiei na vagina, vou ser partida em duas pelo pênis do Kai.
— Quero uns beijos antes de dormir — ataca meu pescoço,
esfregando o quadril contra minha bunda.
— Jesus — suplico em chamas.
— Nada de Jesus, boneca — prende meu queixo entre os dedos — da
sua boquinha gostosa só sairá o meu nome.
— Você é muito mandão — o provoco abafando um gemido ao sentir
sua mão agarrando minha coxa.
— Qual o meu nome, Daisha? — pergunta sexy, meu ventre contrai
de desejo.
Seus dedos sobem pela minha coxa a colocando em cima da sua, me
mantendo aberta para ele, as costas pressionadas em seu peitoral. A boca dele
no meu ouvido respirando pesado, exigindo uma resposta.
— Babaca — provoco.
— Tente de novo — arranha meu interior, grito abafado.
— Safado — rebato animada.
Sua mão fecha ao redor da minha intimidade, tocando por cima da
calcinha. Ele mexe o quadril roçando o volume coberto na minha carne em
chamas. Aperto os lençóis sentindo que devo parar, que estamos indo longe
demais e não conseguindo fazer nada além de mexer o quadril contra ele
ansiando por seu toque bruto.
— Daisha — morde minha orelha, choramingo — qual o meu nome,
porra!
Aperta os dedos no meu centro, tremeliques me cortam de uma ponta
a outra. Abafo um grito contra o travesseiro ao ter o ataque de seus dedos
girando a carne sensível entre minhas pernas. A calcinha roçando, molhada,
um incômodo, um obstaculo precisando ser superado.
— Não vai falar? — Se irrita, me deixando em chamas, o desgraçado
se afasta deitando com os braços atrás da cabeça — nada de orgasmo para
garotas mal criadas.
— Kai! — Rosno seu nome em um grito.
— Agora você fala, tarde demais — fecha os olhos.
Irritada, deslizo a mão debaixo do travesseiro. Se o desgraçado achava
que eu ia implorar para ele me tocar, não sabe com quem está lidando. Puxo a
faca da bainha, o som o faz abrir os olhos. Pressiono a lâmina no seu pescoço
subindo em seu abdômen.
— O que você falou? — pergunto a centímetros do seu rosto.
— Vai me obrigar a tocar sua boceta, gata arisca? — Estala os lábios
nos meus. — Gosto da sua bravura, quer usar a faca boneca?
— Vou te abrir de uma ponta a outra se não terminar o que começou
— a ameaça o deixa excitado.
— Quem vai te rasgar no meio sou eu.
Em um movimento ele agarra meu punho afastando a faca de seu
pescoço. Gira ficando por cima de mim, o membro bate duro contra minha
calcinha molhada. Prende minha mão contra o travesseiro, agarra a outra
acima da minha cabeça. Com um movimento rápido do quadril começa a
roçar seu membro contra o meu centro.
O calor explode pelo meu corpo. Solto o cabo da faca, gemo contra o
rosto do Kai enfiado no meu pescoço. Mordendo minha pele enquanto seu
quadril empurra feroz contra o meu. Envolvo as pernas em sua cintura,
latejando desesperada para alcançar o ápice. A calcinha encharca contra a
cueca.
— Eu podia meter em você a noite toda — ele murmura no meu
ouvido, descontrolado.
Não lembro como se respira.
Arfo arquejando o peito contra ele, completamente esmagada pelo seu
corpo enorme sobre o meu. Remexo o quadril aumentando o roçar no meu
ponto sensível. Aperto os olhos, gemendo, sentindo uma pressão subindo
pelo meu interior, prestes a explodir.
— O cheiro da sua boceta me enlouquece, porra, Daisha. Eu quero
meter a cara entre suas pernas, chupar seu grelinho, morder, sugar todo o seu
suquinho para mim. Tem noção de como é enlouquecer de vontade de comer
uma mulher? Inferno, vou gozar na cueca como um maldito adolescente.
— Eu — suspiro tentando falar — gosto, não para, Kai — peço
manhosa.
Sou jogada em uma espiral de prazer, percorrendo da ponta do meu
pé, o centro entre minhas pernas, subindo pelo meu tórax, deixando minha
boca em gemidos e explodindo na mente com uma pressão magnifica. Estou
a ver estrelas, sem ar, jogada na latência, explodindo em milhões de pedaços.
— Ah — Kai geme rouco, solta meu punho enfiando a mão entre nós
— não acredito que você gozou com o roçar do meu pau na sua bocetinha —
morde meu ombro. Sinto os movimentos da sua mão dentro da cueca,
resvalando minha intimidade sensível.
Recupero a consciência, Kai geme rouco, para os movimentos
retirando a mão da cueca, deslizando na minha intimidade por cima do tecido.
Beija meus lábios antes de deitar de lado me puxando contra seu peito.
— Esse lance de namorados é legal, nunca gozei na cueca. Você
gostou?
— Sim — é a única coisa que consigo responder.
Ele tem razão, é gostoso namorar e se sentir segura, pois em nenhum
momento eu duvidei de que o Kai ultrapassaria meus limites e forçaria o
sexo. Ele me respeita e eu a ele. Beijo seu peito me aconchegando mais
contra ele, o cansaço me embalando em um sono tranquilo.
CAPÍTULO 12 DAISHA

Aos 9 anos
Sentada com minhas primas observo a interação das senhoras no
salão do clube. Ivete tem 13 anos, a mais velha de nós, eu sou a mais nova
com 9 anos. Clarisse me ensinou a ser uma boa menina e me comportar
como a Ivete, uma dama, mas acho que ela não sabe que sem a presença de
um adulto minhas primas são malvadas comigo.
Clarisse senta com Hannah, mãe da Emily e nossa líder, com
Eleanor, mãe da Josephine e da Rebeca, a primeira e eu temos a mesma
idade, ela é legal, às vezes brincamos juntas. A Rebeca ainda é muito nova,
passa mais tempo com as outras crianças de sua idade. Emily sempre
carrega um sorriso no rosto do lado de sua mãe, ela parece um anjo.
A Kennedy e Hope deveriam ter comparecido, mais uma vez elas
recusaram um convite para uma festa do chá. Não conheço a Hope, já ouvi
que ela é da minha idade e parece uma princesa de tão linda. Balanço as
pernas na cadeira encolhida, Ivete não para de falar sobre o quanto ela
demorou se arrumando.
— Mudinha — Ivete me chama, a encaro, magoada pelo apelido.
Eu tenho 9 anos e não consigo me comunicar bem com as pessoas. A
voz da Clarisse ressoa na minha mente, mandando eu ficar calada ao invés
de falar baboseiras. Minhas primas são malvadas comigo calada, se eu
falasse na presença delas seria outro motivo para a implicância.
— Você nunca vai arranjar um marido se continuar muda — Yasmin,
irmã de Ivete, ri amarga.
— Querem ver uma coisa? — Ivete pergunta maldosa, encolho as
mãos entre as pernas querendo sair daqui.
Sacudo a cabeça em negativa sabendo suas intenções maldosas.
— A Daisha não fala mesmo se for machucada — Ivete puxa minha
cadeira para o seu lado — não é priminha?
Tremo com medo.
Sua mão se enfia por debaixo da minha saia, os dedos envolvem
minha carne ao puxar em um beliscão. As unhas penetrando, machucando.
Franzo o nariz, fecho os olhos com força querendo desaparecer. A dor
irradia se espalhando. A última vez em que gritei por ser machucada pela
Ivete, minha mãe me colocou de castigo sem ouvir o que aconteceu. Não
quero ficar de castigo trancada sozinha de novo.
Aperto os punhos rezando para a tortura chegar ao fim. As meninas
riem, o choro entala na garganta, engulo, fungo, aperto as mãos com tanta
força que elas começam a doer.
— Se você chorar eu paro — Ivete fala — ou se falar, sua muda feia!
— Um patinho — Yasmin puxa meu braço — olha como é magra,
parece um palito de fósforo.
— Vocês não têm medo da tia Clarisse descobrir? — Olivia pergunta.
— Ela só vai saber se a Daisha contar — Ivete aperta o beliscão,
sinto o sangue escorrendo do machucado.
— A mudinha não teria coragem — Yasmin aperta meu braço, gemo,
não conseguindo mais suportar a dor. Eu quero desaparecer.
— Parem com isso! — Uma voz fina ressoa atrás da gente.
Minhas primas pulam recolhendo as mãos. Ivete gira a cabeça para
trás e bufa de raiva ao ver quem é. Timidamente, giro o tronco encontrando
a Josephine com as mãos na cintura e a Emily ao seu lado. Josephine tem
fogo nos olhos.
— Eu vi o que vocês estavam fazendo! — Josephine acusa.
— Vou contar para a mamãe — Rebeca rosna, saindo de trás da
Josephine, ela só tem 7 anos e possui mais coragem do que eu.
— Não se metam! — Ivete levanta ficando de frente para as meninas.
— Eu meto a mão na sua cara — Josephine fala alto demais, atraindo
a atenção das pessoas para a pequena briga.
— Josephine se controle — Emily pede baixinho — ela só está
brincando — sorrir para as senhoras que ignoram as crianças.
— Daisha venha para cá — Josephine estica a mão.
Clarisse não gosta que eu brinque com a Josephine, ela a considera
uma dama mal-educada e má influência. A dor latejante na coxa fala mais
alto que o medo da minha mãe brigar comigo. Levanto, caminho para elas
tentando não demonstrar que fui machucada.
— Você está bem? — Rebeca pergunta segurando minha mão na sua.
Aceno em positivo, a vontade de chorar não passou.
— Se eu ver vocês machucando a Daisha de novo, vou enfiar a mão
na cara de cada uma! — Josephine ameaça.
— Você só tem 9 anos, sua pirralha! — Ivete retruca, empurrando a
Josephine.
— E meu irmão tem 24 anos, ele não vai deixar você mexer com a
gente!
— Vocês são umas covardes que se escondem atrás dos irmãos —
Ivete cruza os braços recuando.
Nossos irmãos são os herdeiros, temidos e respeitados. Ninguém ousa
mexer com a Josephine e Rebeca por causa do Kai. A Emily é protegida pelo
Michael e Matthew. Eu tenho 3 irmãos mais velhos, Daniel, Dylan e Dante,
mas não tenho coragem de contar para eles o que as minhas primas fazem.
Mal nos falamos e se eles brigarem comigo como a Clarisse faz?
— Vamos embora — Emily puxa Josephine pelo punho.
— O Kai vai ficar sabendo disso — Rebeca ameaça.
Josephine segura minha mão me levando com ela.
Nos sentamos juntas na mesma mesa, as meninas puxam assunto,
respondo como consigo. É difícil, para mim, expressar o que penso, em casa
não costumo conversar muito e no clube sou reclusa a mesa das minhas
primas malvadas.
— Conte ao Daniel o que a Ivete fez — Josephine fala — ele vai te
proteger como o Kai faz com a gente.
— Nosso irmão é legal — Rebeca diz — podemos pedir a ele para
arrancar um braço delas.
— Às vezes você me assusta — Josephine encara a irmã desconfiada,
ela dá de ombros não se importando com o comentário.
— Tudo bem — falo baixinho.
Hannah chama a atenção, iniciando seu discurso. O chá passa sem
mais nenhum problema, retorno para casa com a Clarisse. Ela não falou
uma palavra desde que entramos no carro e isso me assusta.
Em casa subo para meu quarto com minha mãe atrás de mim. Entro,
ela segura meu braço me fazendo a encarar, encolho com medo.
— Eu não te quero perto da Josephine! Aquela menina sempre
arruma confusão com as outras damas, você está proibida de ficar perto
dela, entendeu? — branda severa.
Abro a boca para falar o que aconteceu, talvez ela entenda e não me
deixe continuar com as minhas primas.
— Mamãe — sussurro.
— Não! Quando eu falar você escuta e não diz nada. Está de castigo
pelo resto da semana. Ficará no quarto sozinha.
Ela sai trancando a porta. Sento no chão, encaro as paredes frias, o
ambiente sem brinquedos, choro encolhendo as pernas contra o corpo.
Eu só queria que ela me escutasse.

Sento assustada, o coração batendo a mil no peito. Levo uma mão a


testa banhada de suor, a outra sentindo o retumbar cardíaco. Encaro os
arredores percebendo que estou no quarto na Grécia, ao meu lado, o Kai
dorme tranquilo, um braço esticado ao qual eu fazia de travesseiro.
Levanto meio zonza, odeio lembrar do meu passado.
— Vai para algum lugar? — ele pergunta rouco, os olhos fechados.
— Ao banheiro — minto — volte a dormir — agacho beijando seus
cabelos.
— Vai fazer nosso café? — pergunta meio brincalhão.
— Sim — respondo, precisando que ele permaneça na cama, não
estou pronta para falar do meu pesadelo.
Naquela época eu não conseguia me comunicar. As maldades
provocadas pelas minhas primas só pararam quando completei 10 anos e o
Daniel as flagrou beliscando minha barriga na nossa casa no meu aniversário.
Clarisse insistia que eu deveria socializar com elas, achavam que eram boas
influências, me mantinha longe da Josephine por a considerar uma garota
rebelde.
Ela ficou em choque ao encontrar o Daniel quebrando a mão da Ivete.
Ele não foi punido, ninguém poderia ir contra o filho do consigliere. Meu
irmão passou a prestar mais atenção em mim depois dos meus 9 anos, no dia
que brincamos juntos em meu quarto. Mas foi somente quando ele quebrou a
mão da Ivete que percebi que podia confiar no Daniel.
Odeio a minha infância e adolescência, toda a minha vida na máfia
causa repulsas, sempre o medo, repressão, a violência e falta de empatia,
carinho, amor. Abro o closet pegando uma muda de roupa, o short que usei
na minha fuga com uma camisa sem botões do Kai. Calço um tênis, prendo o
cabelo precisando respirar.
Deixo meu namorado no quarto, desço as escadas aos pulos, passo
pelas portas de vidro recebendo os raios solares. Vou até o muro na parte de
trás da casa vendo o mar, azul, brilhando, banhando meus olhos com vontade
de tocar a água. Abro o portão de acesso às escadas para a praia e sou parada
por um segurança.
— Bom dia senhora Lucian, a aonde deseja ir?
— Vou à praia.
— Iremos com você.
— Não — fecho os olhos, cansada de sempre ser seguida, de obedecer
o que decidem para mim, de não possuir a maldita voz para denunciar quando
era machucada. — Eu preciso ficar sozinha, daqui vocês conseguem me
vigiar.
— Não posso te deixar sair sem seguranças.
— Eu sou a sua senhora e estou te dando uma ordem — ergo o
queixo, as mãos tremendo de raiva — vou agora para a praia, vocês vão me
vigiar daqui de cima. Se alguém chegar a menos de 50 metros de mim eu juro
que mando o senhor Lucian matar!
— Deixa ela passar — uma voz ressoa atrás de mim, não viro para ver
quem é — o senhor Lucian deixou claro que não devemos prender a senhora
Lucian, ela pode fazer o que desejar, esqueceu?
— Não senhor — responde saindo de frente do portão. — Por favor,
senhora, não se afaste.
O Kai ordenou a eles para não me perseguirem? Abalada pelo cuidado
do meu namorado, desço as escadas. O vento forte batendo contra meu rosto,
jogando pequenos grãos de areia no meu corpo. Piso no terreno firme e
fofinho, caminho calmamente para as pequenas ondas desaguando na areia.
Agacho observando a vastidão do mar, estico a mão tocando a areia
áspera entre os dedos. Fecho os olhos inspirando fundo, lavando as
lembranças dolorosas da minha mente. Ao descobrir as maldades provocadas
por minhas primas, Clarisse pediu desculpas, ferida, tentou me recompensar
com um vestido novo.
Aceitei, deixei que me enfeitasse como uma boneca. Aos 12 anos ela
permitiu conviver com outras damas e ficar longe das minhas primas. Pena
que era tarde para poder interagir com a Josephine. Algo acontecia em sua
casa, boatos de brigas dela com a Rebeca, da intervenção do Kai e da revolta
da Eleanor se espalhavam. As irmãs que eram unidas, sempre juntas,
começaram a se odiar, uma não suportando ficar na presença da outra.
Elas pareciam meus irmãos, acho que na época eles não se mataram
devido ao Daniel ser o mais forte e ter conseguido controlar o Dylan e Dante.
O resultado de anos de desavenças, Dylan morto há poucos meses pelo
Daniel e o Dante arrependido, como nossos pais, tentam colar os cacos da
nossa família. Espero que Josephine não tenha um final trágico, ela não
merece.
Tenho vontade de conversar com minhas amigas, elas são meu lugar
seguro no universo. Desde que a Hope chegou com seu jeito determinado,
sem se importar com o que as senhoras falavam, dominando a organização,
impondo ordem e dando fim ao sofrimento que ela encontrava. Eu me senti
acolhida, bem, em um espaço seguro.
Por mais que às vezes ainda tenha dificuldade em confessar o que
ronda minha cabeça, eu sei que elas poderiam não entender meu desejo de
fuga, mas nunca me recriminam. Elas são minhas amigas queridas, e agora eu
só anseio poder abraçar as três e expulsar as lembranças ruins do meu peito.
Ontem foi perfeito, um jantar romântico, pedido de namoro e por fim
tive meu primeiro orgasmo. Deveria acordar feliz e não atormentada. Enxugo
as bochechas limpando as lágrimas. Viro o rosto percebendo os seguranças
me observando do alto com binóculos. Levanto, precisando esticar as pernas.
É confortável usar short e camiseta, o cheiro do Kai impregnado, seu cigarro
de canela.
Quero voltar ao normal para poder o encontrar novamente. Não me
sinto confortável em dividir meus tormentos com ele, ainda é cedo para isso.
Mas sua presença começa a me acalmar. Aos poucos durante minha
caminhada o tempo vai fechando com nuvens cinzas, não parece anunciar
chuva, só o tempo nublado. Odeio tempestades, os trovões me apavoram.
Vou andar mais um pouco e depois retorno.
A praia tranquila e sem turistas, avisto várias rochas fazendo uma
divisa no mar. Caminho até lá, subo nas superfícies lisas e duras, um pouco
molhadas. Olho para trás percebendo que os seguranças ainda me observam.
Com cuidado vou caminhando entre as rochas, elas se estendem por no
mínimo uns 20 metros. Alguns corais chamam a minha atenção.
Uma gaivota passa voando perto de mim.
Ergo os braços para me defender, perco o equilíbrio. Tento me
segurar, mas meus pés deslizam na rocha, bato a bunda sentindo a dor
irradiar, uma onda enorme bate nas rochas jogando água por todos os lados.
Deslizo sem conseguir apoio para impedir a queda. Bato o joelho em um
rochedo, encolho contra o peito, grito caindo direto em um buraco formado
pelas rochas.
Bato contra o chão fofo da areia molhada, gemo, o joelho doendo,
vermelho, um pequeno corte ralado. Tento ficar em pé e não consigo. Me
apoio nas rochas ficando agachada, me meti em uma pequena caverna de
entrada íngreme, consigo ver o céu através do buraco da entrada, tento subir
me arrastando. A dor no joelho para meu movimento, as paredes são
escorregadias e lisas.
— Merda! — esbravejo — fique presa nessa porra!
Sinto água batendo em meu tornozelo. Observo o chão percebendo
uma entrada fina de água pelo chão debaixo das rochas. Se isso encher
comigo aqui dentro não vou conseguir sair e acabarei morta.
Pânico me domina.
Tento novamente escalar para fora, escorrego batendo o cóccix em
uma rocha. A dor me faz ver estrelas. O som do céu caindo me assustada, o
trovão entra dez vezes mais potente na pequena caverna em que me meti.
Encolho prendendo os joelhos no peito, ralho pela dor escaldante no joelho
esquerdo, gemo com medo.
Assustada pelos trovões, a água da chuva começa a correr pela entrada
da caverna, a água do mar subindo rapidamente até metade da minha coxa.
Lágrimas banham meu rosto, o coração apertado, o ar faltando. Soluço
desesperada para sair daqui. Bato o punho nas rochas tentando me puxar para
cima. A água da chuva entra na minha boca, tusso soluçando, o medo se
intensificando a cada segundo que o nível da água sobe.
— KAI! — Grito por ele. — POR FAVOR, ME AJUDA — Berro.
Os seguranças deveriam ter visto minha queda, onde eles estão? Caio
sentada chorando, assustada, com frio e dor no joelho e quadril. Um trovão
alto ressoa do lado de fora, vibrando dentro da pequena caverna. Me encolho
gritando, o medo pelo céu desabar na minha cabeça, os fortes sons
aterrorizantes.
Tampo os ouvidos e grito o máximo que consigo pelo nome do meu
namorado, rezando para que ele possa me achar.
— KAAAAAAAAI!
A garganta começa a doer pelo esforço de falar mais alto que os
aterrorizantes sons do lado de fora. A água sobe chegando ao meu peito,
soluço, bato nas paredes tentando chamar a atenção do Kai. Ele tem de estar
me procurando, por favor.
— Não é uma brincadeira — murmuro entre o choro — eu não to
fugindo, por favor, Kai. Vem me salvar! — Grito fino, a água subindo no
meu pescoço — pelo amor de Deus, KAI!
Uma maldita ironia do destino. Passei anos sofrendo calada, ao
finalmente me sentir aceita por amigas e desenvolver uma relação com o
homem que eu pensava me rejeitar. Mas que, na verdade, me quer
ardentemente, estou prestes a morrer afogada enquanto caminhava
aproveitando minha liberdade.
Eu não quero morrer.
Anseio voltar para os braços do Kai, me sentir segura e protegida.
Por favor, Kai. Vem me salvar.
Água bate no meu queixo, tento me levantar e não consigo pela dor no
joelho.
Fecho os olhos aceitando meu final cruel.
— DAISHA!
A voz grita acima dos trovões. Apoio as mãos nas paredes em um
último esforço, sentindo o joelho ser partido em dois para conseguir gritar
acima da água invadindo minha boca.
— KAI, ME AJUDA!
Caio me afogando.
A escuridão da caverna não me permite ver o que acontece ao redor.
Movimento submersos, braços me puxam.
Grito ao sentir dor no quadril sendo empurrada pelo buraco da
caverna. Mãos fortes me agarram do lado de fora, inspiro o ar desesperada.
Um guarda-chuva é aberto acima da minha cabeça, impedindo os pingos da
chuva de me tocarem. Encosto o rosto no chão pedroso cuspindo água. Vejo
o Kai sendo puxado da caverna, foi ele quem entrou para me empurrar de
volta.
Tremendo de frio, me jogo em seus braços. Agradecida por ele ter me
encontrando.
— Eu não fugi, eu juro — sinto a necessidade de me explicar.
— Tudo bem — me aperta forte, beijando meu rosto — acredito em
você.
Um raio corta o céu iluminando, o som estrondoso me faz gritar
encolhendo contra seu peito. Afundo o rosto em seu corpo. Ele envolve os
braços ao meu redor. Gemo pela dor no quadril e joelho.
— Onde você se machucou? — pergunta me soltando, encarando meu
corpo preocupado.
— Joelho e quadril — murmuro tremendo.
— Preciso tirar você daqui, aguente firme, certo? — alisa meu queixo,
o olhar banhado em carinho.
— Ok — murmuro baixinho, começando a ficar sem forças,
tremendo.
Com delicadeza, Kai me segura, erguendo nossos corpos. Choro pela
dor a cada passada. É difícil sair dos rochedos molhados, ele toma cuidado
para não cair com a ajuda dos seguranças. Ao nos livrarmos das rochas,
prendo o braço ao redor de seu pescoço, enfiando o nariz no seu ombro
enquanto ele caminha comigo em seu colo para a casa.
— Fala comigo Daisha — ele pede — o que aconteceu?
— Eu estava caminhando — respondo, a voz tremida pelo bater dos
dentes, o frio cortante — escorreguei e não consegui sair — me encolho.
Um trovão ressoa alto, aterrorizando meu corpo. Tremo de medo,
encolhendo contra o Kai. A lateral do seu rosto resvala o meu, em uma
pequena carícia de proteção. A pele gelada, acolhedora. Soluço baixinho,
incapaz de perder o medo causado por tempestades.
— Desculpe ter demorado — ele pede. Finalmente ouço o som do seu
sapato batendo contra a madeira da escada. — Quando você desapareceu, os
soldados saíram a sua procura — sua voz ressoa perto do meu ouvido
distraindo os terríveis sons da chuva — eu ainda dormia. A tempestade
começou e voltaram para me chamar. Foi difícil encontrar a sua localização
debaixo das rochas. Eu sabia onde você estava, mas não conseguia te ver, os
sons da tempestade dificultava te ouvir.
— Obrigada por vir me salvar — murmuro.
— Eu sempre vou até você — beija minha testa.
— Vai me perseguir até no inferno? — tento brincar para abafar o
som dos raios.
— Boneca, por você eu reviraria o maldito inferno e abriria as portas
do céu a sua procura, não importa onde esteja, vou seguir seu rastro para
sempre.
Encosto nossos lábios frios como o gelo, aquecendo meu interior com
seu carinho. Um trovão ressoa estourando o som alto nas paredes da sala.
Grito, tremendo assustada. Kai me aperta contra ele.
— Tem medo de tempestades?
— Muita — tremo.
— Vou espantar os malditos sons — beija meus cabelos.
Enquanto o mundo cai no lado de fora, ele caminha tranquilo comigo
em seu colo. Passa pelo nosso quarto, no banheiro me coloca dentro da
banheira ligando os jatos quentes. Encolho de dor e medo com outro raio
rasgando o céu e iluminando o banheiro pela pequena janela.
— Ei, não foca nos raios — pede do lado de fora da banheira.
— Não consigo, eles me apavoram — aperto sua mão.
— Retorno em um segundo.
Ele levanta rápido demais. Tento puxar sua mão, mas não consigo, o
movimento na coluna machuca meu cóccix. Kai some pela porta, encolho na
banheira lembrando da sensação de ser afogada na caverna. Tenho impeto de
sair, mas recuou ao ouvir a música tocando alta. Uma melodia pavorosa de
Rock.
— Espero que goste — ele grita entrando no banheiro. Fecha as
janelas passando a cortina impedindo as luzes dos raios de entrarem — um
bom Rock espanta os trovões.
— É muito barulho!
— Eu sei, não é ótimo? — Entra na banheira comigo.
Apesar de detestar os acordes altos da guitarra e o vocalista gritando a
plenos pulmões, é reconfortante não ouvir o som da tempestade.
— Um médico está vindo te examinar — avisa. — Vou te aquecer
primeiro.
Kai passa uma perna ao meu redor, puxando meu tronco contra o seu.
Apesar de machucar com o movimento, deixo que o faça, precisando sentir
sua pele na minha.
— Melhor? — pergunta um tempinho depois.
— Sim.
— Precisa de ajuda para se vestir?
— Você só quer me ver pelada — ergo o rosto encontrando seu olhar
espertinho.
— Possuo as mais puras intenções — o sorriso cafajeste contradiz
suas palavras.
— Me ajude a sair da banheira e pegue um vestido, o resto eu faço —
respondo ruborizando de calor ao imaginar como seria se ele me trocasse.
— Como quiser, boneca.
Ele me auxilia a sair da banheira, deixa um vestido no banheiro e sai.
Retiro as peças molhadas, enxugo o corpo e visto a peça sem calcinha e sutiã.
Morreria de vergonha do Kai pegar minhas peças íntimas. A mera ideia dele
saber que estou sem nada por baixo do vestido deixa meu rosto escarlate.
— Kai, me ajuda — peço, encarando que devo sair do banheiro e não
consigo sozinha. Tocar o pé no chão envia fagulhas de dor pela perna.
— Quer sua calcinha? — Entra com uma vermelha na mão e um
sorriso tarado.
— Seu sem vergonha! — Ralho por cima da música alta.
— Achei que fosse precisar — se agacha na minha frente — sua
bocetinha tem um cheiro de matar — diz com o rosto a centímetros do meu
centro coberto só pelo vestido.
— Kai — amoleço a voz — estou com dor, precisando deitar e de
remédios, sem gracinhas.
— Não faria com você machucada. — Passa a calcinha pela perna
machucada — o médico chegou e vai examinar seu joelho e quadril. A mera
ideia dele ver de relance sua boceta me faz querer arrancar os olhos do
sujeito. — Levanta meio agachado — se apoie no meu ombro — faço, com
agilidade ele levanta meu pé de apoio passando o tecido — pense nisso como
uma forma de garantir a vida do doutor.
— Certo — murmuro tocada por como ele pensa em tudo.
— Pronta para ir?
— Sim.
Kai rodeia meu corpo com os braços me erguendo. Gemo, os locais
machucados latejando, precisando de descanso e analgésico. Ele me coloca
na cama, vejo o médico acompanhado de uma enfermeira. Com a ajuda dela
ele realiza exames no meu corpo. Constata que não quebrei nada, é somente
inchaço devido à pancada, que se tivesse quebrado ou fraturado estaria pior o
inchaço.
Passa remédios, Kai ordena aos seguranças para comprar e volta para
ficar comigo no quarto. Secos, a música alta esquecida, a tempestade uma
lembrança assustadora. Descansando a cabeça no peito do meu namorado,
um acalento necessário.
— Sente-se melhor? — ele pergunta alisando meu braço.
— Acho que vou me sentir com um beijinho — peço pela primeira
vez na minha vida fazendo manha.
— Não posso deixar minha paciente sofrendo — baixa o rosto contra
minha boca — tome quantos beijos quiser.
Sela nossos lábios.
Aquecida e segura, sorrio feliz contra ele.
CAPÍTULO 13 KAI

Aliso as costas da Daisha.


Ela ressoa baixinho em seu sono.
Já passa das 9 horas da manhã e minha namorada continua dormindo,
ontem após ingerir os medicamentos ela pegou no sono, acordou para as
refeições, a chuva durou o resto do dia, a mantive presa em meus braços
enquanto assistíamos a filmes com o som no máximo, abafando os ruídos da
tempestade.
Com a Daisha estou descobrindo novos lados meus que pensei nunca
existirem. Eu não namoro, ao menos era o que pensava, por anos fiquei com
diversas mulheres, parti corações, sem nunca machucar o meu. Com ela é
diferente, eu quero a porra toda falada pelos meus amigos casados, quero as
malditas flores, os sorrisos espontâneos e ser recebido por seu abraço ao
chegar em casa.
Daisha me faz desejar viver um mundo de fantasias.
Em que a dor e o medo provocado pelo Louis não existem. A
preocupação e arrependimento pela deterioração da minha relação com a
Josephine se transformando em uma pequena esperança de reaver os laços
com minha irmã, de curar o que foi machucado e impedir novas feridas.
Da Rebeca conseguir ser menos dependente emocionalmente de mim.
Estou preocupado com ela, só faz três dias que estou casado e minha irmã
envia mensagens a cada segundo, hora, com perguntas bobas, outras com
exigências de que eu retorne e relatos de brigas com a Josephine. Estou
ficando exausto da situação. Eu compreendo que a culpa é minha dela ser
assim, fui eu quem criou as meninas.
Eleanor e Louis nunca se importam com elas, fizeram o mínimo em
suas criações. A única parte que os satisfazia era punir as garotas. Josephine
desde criança tem a língua solta, briga facilmente com outras meninas, eu me
divertia com seu jeitinho atrevido quando brincávamos. Até o atrevimento se
transformar em violência.
Ainda não consigo entender o que fiz de errado, como posso ter a
machucado tanto, odiado em vários momentos. O modo como criei as
meninas me assusta, se um dia eu tiver filhos e cometer os mesmos erros, ver
eles me odiando, brigando entre si ao ponto de arrancarem sangue um do
outro. A máfia exige brutalidade e crueldade, mas não estou pronto para
trazer vidas inocentes a esse mundo sujo.
O celular em cima da mesa de cabeceira apita com notificações.
Estico o braço lendo as mensagens dos rapazes. Os texanos continuam dando
problemas, Michael prever uma pequena rebelião em breve. Precisamos
tomar medidas de contenção para que outra guerra não exploda. Os
merdinhas estão esquecendo o lugar deles, querendo expandir seu território,
pegar parte do nosso.
Em dois dias teremos de retornar, o sangue ferver com vontade de
uma caçada para expurgar os demônios que me atormentam. Louis tem
estado quieto, ele acabou de perder o cargo de Subchefe, me incomoda o seu
silêncio, não sei o que esperar, qual será a atitude destrutiva dele. Tento o
manter longe da minha cabeça para não atrapalhar minha lua de mel com a
Daisha.
A ideia de a pedir em namoro surgiu ao chegarmos no restaurante. O
local era perfeito, ela estava sorrindo relaxada, com as garras escondidas.
Fizemos as coisas como manda as tradições da Máfia. Não consumar o
casamento me mostrou que podemos seguir no nosso ritmo, começar do
início, nos conhecermos, namorar, transar e depois casar. A última parte já
fizemos.
A felicidade no olhar dela ao responder ao meu pedido me fez
perceber que eu anseio seguir todos os passos de um casal normal com a
Daisha. Um dia a pedirei em casamento, realizaremos uma cerimônia menor,
intima, quando estivermos prontos para esse passo.
Não quero a manchar com o peso do meu passado e das minhas dores,
preciso primeiro saber como o Louis agira e como manter a Daisha longe
dele. Só serei um homem verdadeiramente digno dela, quando meus
sentimentos por ela forem mais fortes do que o medo pelo Louis. Vou
derrotar cada um dos meus demônios, eles nunca poderão tocar minha
mulher.
O som de notificação chama minha atenção.
É uma mensagem da Josephine.

Josephine: Ei, a Daisha ainda tá viva?


Eu: Sim, por quê?
Josephine: Ela mandou uma mensagem suspeita e não respondeu
mais, achei que você a tinha matado.
Eu: Qual mensagem suspeita?
Eu: Eu nunca machucaria a Daisha.
Josephine: Mande uma foto comprovando que ela está viva.
Eu: Você é um pé no saco.
Josephine: Continuo esperando a foto.
Josephine: Anda logo, ou vou acionar o Michael com suspeitas da
Daisha está morta e enterrada em algum lugar do pacífico.
Eu: Josephine, pacifico é o nome de um oceano, não teria como ela
ser enterrada lá. Estamos na Grécia!
Josephine: Só precisava confirmar sua localização, agora manda a
foto.

Bufo pela insistência.


Sorrio por me comunicar com ela.
Ergo o celular abrindo a câmera frontal. Disha dorme com a cabeça no
meu peito, a boca de boneca aberta com uma pequena baba escorrendo na
minha camisa. O braço na barriga, as pernas com um travesseiro entre elas
para não machucar o joelho. Encosto o nariz em seus cabelos batendo a foto.
Sorrio analisando a imagem. Envio para a Josephine e a coloco como meu
papel de parede da tela inicial.

Eu: Satisfeita?
Josephine: Não acredito que ela está dormindo colada em você, eca.
Eu: Minha namorada me adora, diferente de você.

Não resisto a alfinetada. Josephine se comunicar comigo é um avanço


na nossa relação. Não esperava que ela fosse realmente me dar uma brecha.
Vou aceitar seus insultos com paciência e diversão. Foram anos turbulentos
de brigas, xingamentos e palavras maldosas ditas por ambas as partes. Muitas
de nossas brigas ainda me ferem.
Eu lutei por ela, mas ela nunca fez o mesmo por mim.

Josephine: Daisha é uma atriz digna de um óscar, se ela convenceu


que te suportar.
Eu: Ela mencionou alguma coisa?
Josephine: Talvez, quer saber?
Eu: Sim.
Josephine: Que você é um brocha e não conseguiu ficar duro nas
nupcias, precisou de um remedinho.

Gargalho, a pegando na mentira.


— Hum? — Daisha ergue a cabeça me encarando com os olhos
pesados de sono.
— Volta a dormir boneca — aliso seu rosto a fazendo deitar.
— Pelo que você riu? — a voz rouca de sono envia um sinal ao meu
pau.
— Josephine contou que você disse que brochei nas nossas núpcias e
precisei de um viagra.
— Ela é ótima nas piadas, adoro o senso de humor sombrio dela —
beija meu peito — me ajuda a ir ao banheiro?
— Claro — a aperto em um abraço gostoso — bom dia, boneca.
— Bom dia, Kai — esfrega o rosto manhosa no meu peito e quase
tenho uma síncope pela sua fofura.
— Vou responder rapidinho a Josephine.

Eu: Vou tomar outro viagra para poder comer a Daisha, tchau
irmãzinha.
Josephine: Eca.
Josephine: Você é um escroto.

— Ela te respondeu bem rápido — Daisha observa a nossa conversa


pela tela do celular.
— Verdade, acho que estava se divertindo me perturbando — saio das
conversas, Daisha percebe meu wallpaper e sorri com as bochechas
vermelhas.
— Não acredito que você usou uma foto minha babando.
— Você é linda com a baba escorrendo — aliso seu queixo. — Vai
ficar um pecado engolindo meu cacete.
— Lá vem você com suas safadezas — ruboriza no pescoço excitada.
— Ainda quer ir ao banheiro ou prefere dar uns pegas matinais?
— Não escovei a boca — leva a mão ao rosto — banho, agora.
— Eu não ligo — prendo seu pulso na cama.
— Eu sim.
— Só um beijinho — grudo nossos lábios.
Ela cede abrindo a boca para mim. Deslizo nossas línguas
preguiçosamente, beijando minha mulher sem pressa. A calmaria trazida pela
Daisha se espalha pelos meus músculos, infiltrando no meu ser, me fazendo
desejar prolongar nosso momento pela eternidade. Finalizamos nossa
pegação matinal e ajudo no banheiro.
Daisha me expulsa na hora do banho, como um bom namorado
obediente saiu do quarto, desço para a cozinha, preparo um café da manhã
respeitável. Subo para a buscar, desço com ela nos braços e fico satisfeito ao
ver sua cara surpresa com a mesa cheia de comida.
— Você quem fez?
— Sim — sento de frente para ela.
— Quando você aprendeu? Acho que não é normal entre os homens.
— Aprendi a cozinhar quando passei um tempo infiltrado na Rússia,
precisava de informações sobre uma aliança deles com a máfia coreana,
fiquei em um apartamento minúsculo do qual não podia sair. Precisei me
virar. Foi onde desenvolvi o gosto por jogos no celular, ajudava a passar o
tempo.
— Nunca te vi jogando.
— Só o faço em momentos oportunos, nas minhas folgas ou quando
estou entediado. Com você ao meu lado nunca fico entediado — pisco a
deixando rubra.
— Você faz muitas missões infiltrado?
— Sim, além de ser o melhor atirador dos Bianchi, sou ótimo com
infiltrações. Só fico atrás do Steve, o malandro é bom.
— O irmão da Hope?
— Sim.
Continuamos conversando enquanto comemos o café da manhã.
Daisha é curiosa, respondo a todas as suas perguntas com vários detalhes.
Terminamos de comer e a levo para o quarto novamente. A deixo na cama,
vou para o closet, pego a sacola de compras da loja de biquínis, seguro um
vermelho sangue nas mãos levando a ela.
— Topa um banho de piscina? — mostro o biquíni — estou louco
para te ver usando ele.
— Meu Deus! Olha o tamanho dessa calcinha! — A voz sobe uma
oitava, ela se inclina puxando a peça da minha mão analisando o pequeno fio
detrás.
— Eu sei, muito sexy — apoio as mãos ao lado de suas coxas,
colando nossos rostos — estou delirando imaginando você usando ela.
— Não vou colocar, é pequeno demais — arregala os olhos.
— Só experimenta — roço os lábios nos seus — você tem um corpão,
Daisha, não sairemos da piscina, prometo que somente eu vou olhar.
— E me atacar! — Franze a sobrancelha inclinando o rosto para trás.
— Faço isso com ou sem biquíni — mordo seu queixo puxando a pele
macia — você decide se quer com ou sem.
— Jesus, Kai. Eu nunca usei nada indecente como isso — ergue a
peça no meu rosto.
— Você quer usar? — pergunto sério.
— Eu não sei, talvez — em dúvida ela suspira — é difícil, a Clarisse
teria um treco ao me ver com um biquíni minusculo.
— Sua mãe não está aqui — seguro sua mão — e você pode tomar
suas decisões sem medo dela te repreender.
De alguma forma, minhas palavras servem para mim também.
Daisha tem medo da sua mãe.
Eu do meu pai.
— Juntos vamos nos libertar das amarras do passado — beijo sua
palma.
— Certo — inspira — faremos isso.
— Minha gata — sapeco um beijo em seus lábios. — Se troca
enquanto visto minha sunga.
Pego minha veste e saio do quarto. Penso em várias coisas brochantes
para não assustar a Daisha com o tamanho do meu cacete ao imaginar que
verei a bunda branquinha, arrebitada e muito carnuda da Daisha com apenas
uma tira vermelha minuscula repartindo as bandas. Porra, inferno, vou
esporrar na cueca se continuar assim.
Termino de me arrumar e espero ela me chamar. Sua voz soa baixinha
pronunciando meu nome. Entro no quarto, engulo em seco ao vê-la sentada
na cama usando o maldito biquíni vermelho. Superou todas as minhas
expectativas. Sexy, deslumbrante, uma maldita rainha. Fico de joelhos na sua
frente, seguro suas panturrilhas evitando o joelho enfaixado, abro as pernas
dela encarando a bocetinha coberta pelo tecido.
Engulo em seco, a língua salivando de vontade de tocar seu centro.
Daisha arfa prendendo o ar. Aproximo o rosto enfiando entre suas pernas,
inspiro o cheiro forte da boceta virgem, esfrego o nariz em sua dobra me
deliciando com o aroma da minha mulher. Suas mãos prendem meu cabelo
puxando para trás, demarcando um limite.
Levanto abalado, a seguro nos braços para descermos. Daisha está
mais vermelha que o biquíni, respirando irregular. Os peitos preenchendo a
taça do sutiã com fartura, a pele branca, com pequenas veias expostas quase
gritando para receber a minha boca. Invoco meu autocontrole, desço as
escadas com ela nos braços.
No lado de fora, os soldados se dispersam ao verem minha esposa em
trajes de banho. Caminho com ela para a espreguiçadeira de casal, deito a
puxando para mim, sua bunda em cima do meu cacete. Encaro as costas
brancas, o biquíni mal amarrado na parte de trás. O maldito fio enfiado em
suas dobras me enchendo de inveja.
— Você está muito gostosa — aperto seu quadril esfregando
suavemente contra ela — sente a minha excitação? O quanto eu te desejo —
murmuro em seu ouvido, capturo o lóbulo com os dentes puxando a pele —
eu poderia fastar a tira para o lado, meter na sua bocetinha virgem aqui
mesmo, bem devagarinho, te devorando somente com esse maldito biquíni.
— Kai — geme apertando minha coxa — preciso que você pare —
pede contrariada.
— Por quê? — Rodeio sua cintura colocando suas costas ao meu
peito.
— Meu quadril dói — responde em um folego — sempre que você se
mexe.
— Desculpe, não estava pensando direito — beijo seu ombro — vou
te colocar na espreguiçadeira.
— Certo.
Com calma, a deslizo para o lado, beijo sua cabeça tentando me
acalmar. Daisha está em chamas de excitação, tenho minhas suspeitas se ela
teria me mandado parar caso o quadril não doesse. Incapaz de manter as
mãos longe dela, aliso sua coxa para cima e para baixo, puxando a carne
macia em minhas mãos.
— Melhor?
— Sim, obrigada — beija meu peito.
Preciso distrair a mente, puxo assunto sem relação ao sexo.
— Seu medo de tempestades, quando começou?
— Acho que eu tinha uns 5 anos, não lembro direito — escora a
cabeça em meu ombro, os dedos deslizando nos meus gominhos — dormia
no meu quarto, acordei assustada com o som de um trovão. Eu nunca dormi
de luz acesa, ao despertar o quarto estava envolto pela escuridão, as janelas
tremiam pelas pancadas da chuva, o céu era rasgado pelos raios e os trovões
invadiam o quarto me fazendo achar que a casa cairia.
Daisha se cala, acho que pondera como continuar a história. Com o
braço debaixo de sua cabeça, eu aperto seus ombros a trazendo para mim.
Subo a mão da sua coxa alisando suas costas macias.
— Desci da cama me tremendo de medo, com o cobertor protegendo
minha cabeça sai do quarto. Corri para o dos meus pais, a casa nunca pareceu
tão grande como naquela noite. Bati na porta deles, chamei, gritando a cada
novo estrondo. Bellamy abriu a porta, perguntou o que aconteceu. Um trovão
soou e eu gritei agarrando a perna dele. Foi então que… — sua voz se perde.
— Conta para mim — beijo sua cabeça.
— Ele percebeu que eu estava com medo dos trovões e me mandou de
volta para meu quarto. Disse que boas garotas não se assustam com
bobagens. Eu chorei pedindo que me protegesse. Bellamy me pegou no colo
e me levou de volta ao quarto. Mandou eu dormir e foi embora. — A voz
dela embarga — eu só queria que ele me abraçasse e fizesse o medo ir
embora, mas ele me deixou sozinha no quarto escuro. Eu me escondi debaixo
de cama, durante todas as tempestades era lá que eu me abrigava, pois sabia
que não tinha quem me protegesse.
Deito de lado encarando a Daisha, limpo suas bochechas, pequenas
lágrimas descem com a lembrança. Beijo seu nariz, mais do que conforto eu
quero fazer ela saber que não precisa mais ter medo.
— Você nunca mais vai precisar se esconder debaixo da cama —
encosto nossas testas focando em seus olhos azuis — vou te proteger em
meus braços, de tempestades, da solidão, da mágoa e do abandono. Você tem
a mim, e nada e nem ninguém poderá te machucar. Eu te prometo, Daisha.
— Eu acredito em você — sussurra chorosa — ontem você cuidou de
mim sem precisar de explicações e tem continuado. Sei que começamos com
o pé esquerdo — repousa a mão no meu peito esquerdo — mas eu quero
fazer dar certo. Ser também seu porto seguro, Kai. Confia em mim, que
confiarei em você.
Selo mais uma de nossas promessas com um beijo. Disposto a dar ela
uma parte dos meus pesadelos. Daisha e eu queremos lutar pela nossa
relação, pelo que trilhamos juntos, se abrir sobre nossos passados vai ser a
chave para entendermos quem somos no presente e podermos confiar,
entregar, construir uma relação juntos.
— Eu tenho medo de lugares fechados.
— Claustrofobia?
— Não — aperto as pálpebras, palpitações me deixando sem ar —
desde pequeno o Louis me pune prendendo em um freezer escuro por dias —
aperto seus cabelos escondendo meu rosto na lateral de sua cabeça — odeio
andar de carro, elevador, qualquer coisa que me lembre como é ser jogado no
maldito freezer. Eu preciso sentir que não estou preso para conseguir evitar as
lembranças.
— Eu não imaginava — aperta meu corpo me puxando para um
abraço quente. Daisha consegue me fazer sentir protegido entre seus braços
finos — desculpe por recusar andar na moto com você — alisa minha nuca
— prometo que não entraremos em outro carro. Eu sinto muito Kai — beija
meu pescoço.
Soluço, pela primeira vez sendo capaz de confessar para alguém meu
medo de lugares fechados.
— Eu não sou forte, Daisha — tremo. — Desculpe.
— Ei! — Puxa meu pescoço, me forçando a encarar seus olhos azuis
— ontem você entrou em uma maldita caverna minuscula para me salvar. Kai
você é forte! — Alisa o canto dos meus olhos, o azul cristalino de suas iris
banhado em sentimentos — eu vou ser eternamente grata por você ter me
salvado e agora sabendo o que significou para você entrar naquele buraco, ah
Kai — encosta nossas testas — você é o meu namorado extremamente forte e
o único homem a me escutar e me fazer sentir que eu tenho escolha.
— Eu não podia te deixar lá — aliso sua bochecha — a única coisa
que pensei foi em te salvar.
— Obrigada — encosta os lábios nos meus em um beijo castro —
meu anjo negro.
— Minha boneca — deslizo a língua no interior de sua boca
precisando a sentir conectada a mim.
— Preciso que você me prometa uma coisa — ela pede puxando o
rosto.
— Qualquer coisa.
— Nunca mais entre no freezer — seu rosto banhado em tristeza
rouba meu ar, espalhando dor por saber que não sou capaz de cumprir seu
pedido.
— Eu não tenho escolha — sussurro apavorado, as palavras do Louis
ressoando na minha mente — ele é mais forte do que eu. Louis conseguiu se
infiltrar na minha cabeça — nego — não consigo o arrancar daqui — toco
minha têmpora.
— Lembra o que você me disse? — aperta minha mão beijando meus
dedos — não podemos deixar nossos pais continuarem controlando nossa
vida. Eu sei o quanto é difícil, mesmo agora escuto a voz da Clarisse me
repreendendo por me abrir com você, usar o biquíni e principalmente por não
termos transado — fala a última palavra em um tom baixo. — Você me
prometeu que eu posso ser livre e deixar de seguir o que ela ordena. Kai, é
seu direito fazer o mesmo por si.
— Promete ficar ao meu lado? — peço, ainda apavorado com a mera
ideia de me rebelar contra o Louis.
Michael, Daniel e Black estão comigo.
Confio nos meus amigos, iniciamos o primeiro passo para me libertar
do demônio do Louis ao assumir como subchefe. Eu quero ser forte, ser
capaz de revidar, ou ao menos não entrar voluntariamente no quarto de
tortura, não o temer mais. Ser capaz de o encarar de rosto erguido.
Parar de ser um covarde.
É difícil para cacete, só de pensar em o confrontar sinto a garganta
fechando, as pernas tremendo, o ar se tornando escasso. A vontade de me
curvar e continuar obediente, submisso, tentando não o desagradar e evitar os
castigos.
— Foram anos de tortura, eu não consigo me libertar de um dia para o
outro — murmuro.
— Nem eu — ela confessa — mas eu posso prometer estar contigo
todos os segundos. Te ajudar a se erguer, superar o medo, vamos juntos
buscar nossa liberdade, Kai — roça o nariz no meu — eu não vou te deixar.
— Ha menos de um dia você tentou fugir de mim, sem contar no
nosso noivado — sorrio sentindo o peito um pouco mais leve por ter a Daisha
comigo — eu tive de te perseguir.
— Um excelente perseguidor, me fez não querer ir embora — sobe a
perna boa no meu quadril.
— Juntos? — beijo a ponta redonda de seu nariz.
— Sempre — retribui selando nossos lábios.
Não quero beijar a Daisha com intenção sexual.
Eu sou louco por ela desde os seus 18 anos.
A única coisa que quero fazer agora é a beijar apaixonado,
completamente rendido aos seus encantos. Encontrando nela uma
companheira. O caminho é longo, sei que não perderei o medo da noite para
o dia. Vou lutar, quando cair me apoiarei nela, nos meus amigos para ser
capaz de romper a violência.
Continuamos de namoro na piscina até a hora do almoço. Subimos,
trocamos de roupa e saímos para almoçar na praia. Ela ainda não consegue
subir na moto por causa do joelho, a enchendo de beijos entramos no carro. É
menos sufocando ao seu lado.
Escolhemos um restaurante beira-mar. Pedimos frutos-do-mar e
ficamos de frente um para o outro conversando.
— Tem uma coisa que eu não entendo — ela fala — por que você
protege a Rebeca como se ela fosse uma princesa e é malvado com a
Josephine?
— Não sou malvado com a Josephine — rebato.
— Já te ouvi conversando com o Daniel e você não poupava esforços
para falar mal da Josephine, “vadia”, “doida”, “maluca”, “psicopata” e muitos
outros xingamentos. A Rebeca que é tudo isso e você não percebe.
Aperto o guardanapo entre os dedos, irritado.
— Não é assim que funciona, Daisha — tento não ser ríspido —
Rebeca e Josephine se davam bem até a adolescência de ambas. Meu lance
com o Louis — suavizo as palavras — sempre foi pesado e piorava mais por
causa da atitude da Josephine. Você pode falar o que for da Rebeca, mas ela
nunca arranjou brigas públicas com outros membros da organização. Aquele
episodio com o Tommaso me rendeu doze dias sendo queimado!
— Eu sinto muito, as marcas no seu corpo — os olhos banham em
lágrimas, aceno em positivo — o Tommaso deve ter feito algo com ela, se ela
imaginasse que você seria machucado, eu tenho certeza que ela não teria
respondido com um tapa ao assédio — diz abalada.
— Não fez, antes de casarmos ela me falou a verdade. Que Eleanor
encheu sua cabeça descrevendo uma vida de sofrimento para a Josephine com
o Tommaso, enquanto eles dançavam, o homem só falou sobre o que
esperava da Josephine. Ela entrou em panico e bateu nele na esperança do
noivado ser recusado. Três anos depois eu descobri o que aconteceu, mas
durante esse período ela nunca me contou, mesmo eu perguntando. Eu tinha
ódio de como sempre era punido devido às coisas que ela fazia. Por vezes os
xingamentos e desabafos que fiz contra a Josephine eram após punições.
Mordo a língua, não deveria ter deixado a última parte escapar. Daisha
arregala os olhos, leva a mão a boca surpresa. Somente os rapazes sabem essa
parte e ainda não quero que a Josephine descubra.
— Por favor, não diga nada a Josephine. Ela não sabe dos castigos, do
freezer e das outras merdas.
— Por quê? Se ela soubesse…
— Só iria se sentir mal — a interrompo — eu não quero que ela
descubra. Não é culpa dela o Louis ser um desgraçado. Ela pode agir
extremamente errado e por muito tempo eu a odiei, quis que ela
desaparecesse para a violência cessar, mas não é culpa dela — fecho os olhos
percebendo minha confusão.
— Eu te entendo Kai — apoia a mão na minha — um passo de cada
vez, certo? É bom vocês estarem reconstruindo a relação, vamos focar nisso.
— Obrigado, Daisha.
— A Rebeca sabe?
— Ela me viu uma vez após uma das agressões. É ela quem cuida dos
meus ferimentos, por isso ela quer ser enfermeira — sorrio — para poder me
curar.
— Ela sabe das punições e continua brigando com a Josephine? —
ergue a sobrancelha.
— Muitas brigas são começadas pela Josephine, as câmeras podem
provar.
— E você escuta a versão da Josephine?
— Eu tento, mas ela não se abre. Prefere mandar eu me foder e
começar outra discussão — escoro na cadeira, cansado. — Eu sei que vocês
são amigas, mas não é fácil lidar com ela.
— A relação de vocês é muito complicado. São duas versões
diferentes e sempre com o fator da Rebeca no meio, conhecendo ambos e
atrapalhando ao invés de ajudar.
— Você acha que ela faz isso? — nunca tinha pensado por esse lado.
— Com certeza Kai. Se ela cuida realmente de seus ferimentos, em
vez de provocar a Josephine, a Rebeca podia ao menos fingir que ela não
existe, evitaria metade das brigas.
Remexo na cadeira inquieto.
— Não é culpa sua não perceber — puxa minha mão para si — você
se afoga em dor e medo, pelo que disse a única pessoa a te dar conforto é a
Rebeca, e a Josephine trazia maus momentos. Era isso que você enxergava,
agora poderá ver de outra forma. Você tem a mim para te proteger e
conversar.
— Tem razão, vou precisar de um tempo para digerir tudo — suspiro
pesado — e muitas conversas com as meninas.
— Torço para tudo dar certo.
— Obrigada, minha boneca.
— De nada, anjo negro — sorri linda, iluminando meu coração
sombrio.
Não vai ser fácil, mas estou disposto a fazer dar certo não só minha
relação com a Daisha, mas com as minhas irmãs e poder viver sem o medo
do Louis.
Eu vou ser capaz de me libertar.
CAPÍTULO 14 DAISHA

— Quero te ver provando todos — Kai agarra minha cintura roçando


seu pênis na minha bunda.
— Tenha calma homem! — Agarro seus punhos, o fazendo me soltar,
vou mancando para o outro lado da cama. Ergo um dedo para ele — eu
comprei mais de vinte novas peças de roupa. É um exagero vestir todas.
— Você não me deixou olhar no provador — caminha lentamente
para mim, o olhar de um predador — estou no meu direito de ver como
ficaram — agarra meu braço me puxando para si — e de experimentar sua
bocetinha.
— Agora você mostrou suas verdadeiras intenções, tarado! — bato em
seu ombro.
Giro tentando me libertar dos seus braços.
O quadril lateja, o joelho range e eu grito.
— Machucou!
— Desculpe — me solta erguendo os braços com as feições
preocupadas.
— Não vou provar as roupas, vai doer o joelho, no provador eu
coloquei na frente do corpo, não vesti. — Ele murcha sentando na cama.
Sento no seu colo, os braços ao redor do seu pescoço — prometo vestir todas
em casa para você. Um desfile particular — baixo o tom de voz tentando ser
sensual.
— Gostei da ideia — alisa minha cintura, deslizando o nariz no meu
— temos uma hora antes de precisarmos pegar o avião, quer fazer algo?
— Podemos ir para a praia? Ficar olhando o mar.
— Em Nova Iorque eu tenho um lugar especial para ver a praia, é
discreto, afastado de tudo, é onde coloco minha cabeça nos eixos — confessa
baixinho — se um dia eu sumir e você não souber onde estou, não se
preocupe, estarei lá e ao me sentir melhor volto para casa.
— E se algo tiver acontecido com você, como eu vou saber?
— Os rapazes avisam — beija meu ombro — eu quero mudar as
coisas, precisa confiar em mim, vou ficar bem.
— Quero ser levada a praia, Kai. — Aliso seu queixo — se você
sumir vou te procurar em todos os lugares, principalmente lá.
— Combinado — sapeca um beijo nos meus lábios. — Coloca o
biquíni vermelho? — rio em seus lábios, ele não consegue se controlar.
— Pega ele para mim.
— Agora minha boneca!
Levanta me colocando na cama. Kai abre as portas do closet e volta
sorrindo, os olhos em chamas ao me entregar a peça minuscula.
— Para fora, tarado — aponto a porta.
— Na melhor parte eu sou expulso — bufa caminhando para fora.
— E coloque sua sunga!
— Vou ficar pelado, mostrando meu cacete enorme para quem passar
— grita batendo a porta.
Rio, aperto a roupa entre os dedos, estranhando a euforia no meu
peito.
Estamos mais conectados. Gosto do rumo que a minha relação com o
Kai tem tomado, espero que ela não mude quando retornarmos para o
complexo. Cercados pelas pessoas que nos machucaram. Ele tenta não
demonstrar, mas eu percebi como a Rebeca tem sido insistente, pegado no pé
dele com ligações e mensagens.
No primeiro dia o celular do Kai ficava no modo som ativado, depois
foi posto no silencioso. Se ela era a única pessoa a cuidar do Kai por anos
enquanto ele sofria nas mãos do Louis, vai ser difícil fazer o Kai se desapegar
da Rebeca e perceber a cobra que ela é.
Eu acreditava que a relação dos irmãos era baseada em Rebeca
manipulando o Kai, atacando a Josephine para manter a irmã afastada e
infeliz. Que o Kai era um idiota por não perceber as manipulações da Rebeca,
a Josephine uma vítima em meio as maldades da família. Eu o julguei sem
conhecer a verdade.
Kai me contou somente pequenos fragmentos do enorme quebra-
cabeça que é a relação dos Lucian. Ele é uma vítima da violência do pai,
assim como os irmãos Bianchi eram do Andrew. Como meus irmãos que
foram postos uns contra os outros pelo Bellamy. São todas famílias
quebradas pelo mundo cruel da Máfia.
Crianças machucadas, torturadas e infelizes, sem poderem pedir ajuda,
se afogando em dor e sofrimento.
Enquanto a Josephine sofre nas mãos da irmã mais nova, com pais
totalmente abusivos, ela enxergava somente o seu tormento e o fato do irmão
mais velho a ignorar, não a proteger e ter uma relação carinhosa com a irmã
malvada. Na história da Josephine, Kai é mais um de seus algozes.
Na versão do Kai, Josephine é um dos catalisadores da violência que
ele sofre. Ele aguenta tudo por ela, mas não consegue ter um vínculo de
irmandade com ela o afastando, sem entender pelo que ele passa. Enquanto
ele sofre longe dos olhos dela. Anos de violência resultaram em uma raiva
crescente, revolta por sofrer nas mãos do pai enquanto a irmã que ele protege
o odeia.
E mesmo sendo machucado constantemente, ele nunca contou a
verdade a ela, para não a machucar.
Kai Lucian não é o monstro que eu pensava.
Ele é um anjo quebrado, sofrendo em silêncio para manter quem o
despreza viva.
Continuo acreditando que a Rebeca, assim como o Louis e Eleanor,
são os vilões das histórias do Kai e da Josephine. Se a Rebeca realmente se
importasse com o Kai ela teria contado a Josephine, convenceria a irmã a
serem obedientes, não brigar. Enfrentariam juntos a dor, e no amor
encontrariam conforto.
Mas não foi isso que ela fez.
Rebeca instiga brigas com a Josephine, inventa mentiras, manipula a
verdade para o Kai odiar a irmã e não suportar ficar perto dela. Ela os separou
e qualquer aproximação se transforma em motivo para ela agir. Existe a
remota possibilidade do alvo da Rebeca não ser a Josephine, mas qualquer
pessoa que se aproxime do Kai.
Ela quer ser a única a cuidar dele. Rebeca deve gostar que o Kai a
procure, se sente importante. Ela se infiltrou na mente dele em seus
momentos mais frágeis. Podendo ter contribuído para instaurar o medo na
mente do Kai do Louis.
Não conheço o suficiente dos irmãos para saber os motivos da
obsessão da Rebeca pelo Kai. Josephine tem razão, vou precisar ficar atenta.
Qualquer passo em falso e a Rebeca me fará cair. Vou dar um jeito de
remover toda a manipulação e dependência da mente do Kai. Eu quero ser
psicologa para ajudar as pessoas com as mentes perturbadas e o Kai será meu
primeiro paciente.
Nunca mais Rebeca ou Louis terão poder sobre o meu namorado.
Visto o biquíni e chamo pelo Kai. Ele entra só de calção e com uma
toalha no ombro. Seu rosto pega fogo ao me ver na peça indecente, ergo os
braços pedindo colo. Beijo sua boca banhada em carinho, necessitando o
fazer sentir que não está sozinho, que pode contar comigo. Eu me abri para o
Kai e não me arrependo.
— Fiz algo para merecer esse beijo carinhoso? — pergunta maroto,
sorrindo de canto.
— Só tive vontade, quer outro?
— Sempre.
Sorrio enfiando minha língua em sua boca, absorvendo o gosto de
canela do cigarro que ele fumou mais cedo. Kai geralmente fuma umas três
vezes por dia, a canela sempre presente em sua boca e dedos. Eu gosto do
cheiro, seu sabor mesclado.
Hope contou sobre o Michael parar de fumar ao descobrir a gravidez
do Ethan, ele já o fazia pouco e longe dela, com a chegada do bebê parou de
vez. Emily também percebeu o Daniel fazendo o mesmo ao saber da gravidez
do filho deles. Ainda me assusta a ideia de ter uma criança no mundo da
máfia, mas não tenho dúvidas de que o Kai pararia de fumar pelo nosso bebê.
Aperto seus ombros, separando o rosto do seu.
— Pronto para ir? — pergunto.
— Claro, só tenho uma ereção gigante nas calças — debocha e eu
gargalho.
Descemos para a praia, os seguranças sempre presente. Kai pede
privacidade e em pouco tempo estamos sozinhos, sem turistas por perto.
Sentada com a bunda na areia escorada em seu tronco, sentimos as ondas
fracas baterem em nossas pernas, subindo até meu umbigo.
— Podemos voltar aqui? — peço.
— Sempre que você quiser, — alisa meus ombros, a areia em seus
dedos agindo como um esfoliante na minha pele.
— Quero que você me prometa uma coisa — sorrio lembrando de
todas as promessas que fizemos desde o casamento.
— Tudo que você pedir — beija meu ombro.
— Se, e coloque um grande se nessa frase — friso bem a importância
do “se” — o Louis fizer algo com você, procure primeiro a mim — aperto
seus braços ao meu redor, escorando a testa em seu queixo — eu quero ser a
sua calmaria e conforto.
— Prometo — beija minha orelha — o mesmo vale para você, quando
se sentir desconfortável ou ameaçada, conte para mim.
— Juro — encosto a boca em seu queixo.
Continuamos abraçados aproveitando o sol quente, a água perfeita do
mar, o som do vento forte, as gaivotas que tentaram me matar voando por
todos os lados. No horizonte, os barcos de passeio, uma melodia distante
chega como um fantasma aos meus ouvidos.
Nos despedimos da casa da nossa lua de mel sem sexo, onde nos
conectamos de maneiras mais profundas e necessária. Aqui aconteceu um
encontro de almas.
No carro a caminho do aeroporto, Kai se distrai da sua claustrofobia
me beijando. Estremeço ao ter a garganta mordiscada por seus dentes, aperto
as coxas batendo uma na outra. Sua mão grande enfiada no meu centro
apertando minha vagina enviando uma onda de prazer por cada pedaço do
meu ser.
Não fizemos sexo, mas desde o pedido em namoro ele tem me tocado
intimamente por cima da calcinha. Estou entrando em chamas com os toques
contidos, precisando de mais dele. Kai continua me respeitando e
enlouquecendo na mesma medida. Meu quadril machucado não permite outro
roçado de seu pênis no meu centro ou que nos aventuremos, somente toques
ousados.
Eu não pedi para ele ultrapassar a barreira da minha calcinha.
Ele não tentou romper os meus limites.
Cumprindo suas promessas a risca.
E eu gosto um pouquinho mais dele por isso.
O carro curva rápido demais, deslizo no banco batendo a cabeça na
janela. Kai caindo por cima do meu peito.
— O que foi isso, Robert? — ele aperta o botão comunicador para
falar com os seguranças.
— Estamos sendo perseguidos por um drone armado, senhor —
responde, jogando o carro para a lateral.
— Acabem com os desgraçados — ordena.
Kai se vira puxando o cinto de segurança, prendendo ao meu redor.
Ele observa pelas janelas, avisto o drone com uma arma atirando na gente.
Encolho com a bala vindo na nossa direção. Ela bate no vidro blindado.
— Não vai nos atingir — Kai se abaixa, enfia as mãos debaixo do
banco abrindo um compartimento secreto, pega uma arma de cano enorme.
— O que é isso? — pergunto assustada.
— Vou derrubar essa porra com meu rifle — engatilha. Kai vai para a
janela, puxo sua mão o impedindo de sair.
— Deixa os seguranças fazerem isso — estou apavorada com a ideia
dele se machucar.
— Já derrubei muitos drones, Daisha — alisa meu queixo — vou ficar
bem.
— Kai, por favor — puxo seu punho, assustada — eu to com medo,
você me prometeu que cuidaria de mim.
— Daisha — segura meu rosto colocando a arma no chão — presta
atenção boneca. — Estamos em fuga, Robert não pode atirar por estar
dirigindo, os soldados nos outros carros estão tentando derrubar o drone, o
que é bastante difícil devido à trajetória irregular dele. Eu consigo abater com
um único tiro, você precisa confiar em mim.
— Se você se machucar, eu te mato — aperto seu ombro não
querendo deixar que se arrisque.
— Quer fazer uma aposta?
— Qual?
— Se eu acertar o drone com um tiro, você vai desmentir a história do
viagra para a Josephine contando que sou um excelente amante. Mas se eu
errar eu te deixo falar para todas que brochei na nossa nupcias.
— Seus amigos te zoariam para sempre.
— Pela eternidade e não seria bonito — franze as sobrancelhas pretas.
— Tudo bem — concordo, sabendo não possuir escolha. O carro faz
um movimento brusco novamente, outro tiro nos acerta.
— Ótimo, aprecie como ganho a aposta — beija meu nariz.
Aceno em positivo.
Kai se abaixa pegando o rifle preto de cabo marrom. Apoia em seu
ombro, desce o vidro da janela. Em um movimento sincronizado, Robert gira
o volante fazendo o carro ficar de lado. Kai projeta o tronco para fora, ergue
o rifle e puxa o gatilho. Eu me tremo com medo, do lado de fora o drone vai
ao chão.
Ele entra com um sorriso convencido, fecha o vidro e voltamos a
nossa rota. Percebo os carros dos seguranças mudando a formação. Kai
guarda o rifle e vem para o meu lado me puxando para seus braços. Beija
minha cabeça alisando minhas costas.
— Venci.
— Eu quase tive uma parada cardíaca — respiro pesado — nunca
mais faça isso.
— Se for para te proteger, farei mais mil vezes.
Encaro seus olhos cor de ônix, respiro fundo por estar bem. Deito a
cabeça em seu peito. Kai se comunica com Robert para averiguar a situação.
Tinha dois drones nos seguindo. Um foi derrubado por um dos soldados e o
segundo por estar instável a trajetória de voo conseguiu passar pelas defesas
precisando ser abatido pelo Kai.
No aeroporto passamos a segurança com agilidade, olhos atentos a
todo instante. Entramos no avião particular dos Bianchi. Sento na cadeira
observando meu namorado conversando com o Robert e fazendo ligações. A
volta para casa parece durar uma eternidade e só consigo respirar tranquila
novamente ao ser envolta pelos braços do Kai.

Pousamos no complexo durante a noite. Daisha dormiu parte da


viagem com a cabeça apoiada no meu ombro. Despertou antes do pouso
sentando ereta e lutando contra o sono, nem o bater das rodas no chão
conseguiu espantar a sonolência.
Libero o cinto de segurança, com cuidado a pego no colo, sua cabeça
pende contra meu ombro, envolve meu pescoço com sua mão se
aconchegando a mim, voltando a dormir. Inspiro o cheiro de mar impregnado
na sua pele, desço as escadas encontrando Michael, Daniel e Black reunidos
na frente dos carros.
— Não aguentaram a saudade? — debocho me aproximando deles. —
Eu sei que vocês me amam, mas preciso de espaço, rapazes.
— A maior queda do quarteto acaba de chegar — Black abre os
braços apontando para mim e Daisha — olha como ele a carrega com
delicadeza!
— Kai, um romântico sem cura? — Daniel ironiza.
— Cinco dias — Michael ergue os dedos — foi o suficiente para a sua
queda. — Envolve o Daniel pelo ombro — e ele chamava a gente de cadela,
lembra?
— Só estou segurando minha esposa nos braços, suas maricas
exageradas.
— Emily contou do pedido de namoro — Daniel ergue o queixo.
— Hope me acordou as cinco da manhã para falar disso — Michael
me encara com sua melhor expressão de convencido.
— Josephine me mandou mensagem — Black diz — com direito a
foto de vocês dois, anexada.
— As garotas são umas fofoqueiras e vocês três um bando de
lavadores de calcinha — passo por eles — vou deixar minha esposa em casa,
nos reunimos na mansão?
— Sim — Michael responde.
— Não demore, senhor cadela — Black debocha.
— Ou vamos te buscar pela coleira em casa — Daniel fala.
Se não estivesse segurando minha boneca nos braços, mostraria o
dedo do meio a eles. Entramos no carro e percebo a Daisha acordada,
mordendo o sorriso. Ela ouviu minha interação com os rapazes. Geralmente
em público tentamos ser sérios, guardamos as piadas para paredes reservadas.
— Vai contar tudo as meninas? — pergunto no seu ouvido.
— Com certeza, senhor cadela — explode em uma gargalhada,
acompanho seu riso, roubando um beijo.
— Não conta para as meninas que sou louco por você há anos —
peço, com um pouco de vergonha — elas vão abrir a boca e os rapazes vão
me comer vivo.
— Elas guardariam segredo se eu pedisse — enrola os dedos no meu
pescoço — mas vou deixar só entre a gente — sapeca um beijo na minha
bochecha — a única que pode te comer, sou eu.
— Porra, gata — aperto sua coxa, o pau acordando diante o estímulo.
Quero beijar a Daisha, levar ela para casa e fazer amor gostosinho,
meter na sua bocetinha até ela desmaiar de exaustão, a despertar com a boca
chupando sua carne inchada e sensível. A única coisa a fazer eu me conter é
perceber o cansaço em seus olhos inchados, ela dormiu pouco durante o voo,
estava apreensiva com a perseguição.
Esfrego nossos narizes, a beijando com delicadeza. O carro estaciona
na garagem, desço, a pego no colo e subo os degraus da escada. Daisha
boceja, esfrega os olhos e descansa a cabeça no meu ombro. Deito na cama
agarrado a ela, faço carinho em seus cabelos até sentir o ressoar baixinho de
sua respiração.
Lembro a última vez em que estivemos entre essas paredes, seu
nervosismo ao ter de cumprir a tradição dos lençóis e não se sentir pronta
para relações intimas comigo. Hoje somos pessoas diferentes, se passaram
somente cinco dias, o suficiente para sermos capazes de nos enxergarmos.
De ver através das máscaras que usamos por anos.
De superar o preconceito que tínhamos um com o outro. Pude me
abrir com ela, ser um pouco verdadeiro, confessar meus demônios e encontrar
acalento em seus braços.
Eu a escutei, percebi quais medos precisaremos trabalhar juntos para
superar. Daisha não está mais sozinha e nunca mais terá correntes a
prendendo. Unidos seremos capazes de vencer os traumas e sermos quem
desejamos.
Beijo sua cabeça, levanto, retiro o tênis de seus pés, desabotoou o
short, desço o zíper puxando pelas pernas alvas. Ela se mexe, deitando de
lado, puxando meu travesseiro para entre seus braços, voltando a ressoar
baixinho. Pego um lençol no closet e a cubro, regulo o temporizador do
quarto, a encaro uma última vez.
Deixo nossa casa, subo na moto e sigo para a mansão do Michael.
Menos de dois minutos estaciono. Entro ouvindo o choro do Ethan, Hope
anda com o filho de um lado para o outro, Michael corre atrás dela
preocupado. Sorrio vendo a cena da família construída pelo meu amigo, ele
merece cada segundo de felicidade e amor.
— Vem com o titio Kai — falo pegando o menino nos braços antes
que alguém possa protestar.
— O pobrezinho sofre com as cólicas — Hope fala triste.
— Sempre atacam de madrugada — Michael responde me observando
com seu menino.
Encaro o Ethan, as mãos pequenas apertadas em punhos, o rosto
vermelho, a boca aberta chorando. Uma touca branca na cabeça e o pijama de
ursinhos. Ele é um bebê fofinho, parece com o Michael, os mesmo cabelos
negros e olhos azuis escuros. Aperto sua mãozinha, ele agarra meu dedo
enquanto o balanço de um lado ao outro.
— Quer dar uma voltinha de moto com o titio? Com certeza sua mãe
infantaria, mas ela não precisa saber — digo andando com o pequeno.
— Eu estou ouvindo, nada de colocar meu filho em uma moto.
— Ouviu? Sua mãe é uma chata — falo baixinho em segredo com ele.
Ethan parece gostar quando sussurro, pois se cala, abrindo os olhos
para me encarar.
— Quando você tiver idade suficiente vou te ensinar a andar de moto,
se depender do cueca do seu pai, nunca vai montar em uma. Sua mãe não
deixa e ele obedece.
Ethan mexe os braços, abrindo um sorrisinho que derrete meu peito
endurecido. Eu tenho medo de ter filhos e os criar da maneira errada, das
crianças se odiarem como Josephine e a Rebeca. Nos poucos segundos em
que aproveito o pequeno no colo, a ideia de ser pai não parece tão
assustadora, eu não estaria sozinho, teria a Daisha comigo.
— Até que você leva jeito — Michael fala se aproximando.
— Claro que sim, o menino não aguenta mais olhar a cara de vocês —
alfineto.
— Vem com a mamãe amor — Hope estica os braços e Ethan se
inclina na direção dela — agradeça ao tio Kai por chegar, na próxima ligamos
para ele.
— Kai não vai roubar meu filho — Michael cruza os braços.
— Já roubei — entrego a criança a mãe.
— Faça suas próprias crianças com a Daisha!
— Parem os dois! Não queremos agitar o Ethan — Hope sobe as
escadas com o bebê no colo — Boa noite, rapazes.
— Boa noite, amor — Michael responde.
— Até amanhã — digo ao vê-lá desaparecer.
— Vamos para o escritório, esperam pela gente lá.
Sigo o Michael, pegamos o elevador. Aperto os dedos focando que
tem outra pessoa ao meu lado, não estou sozinho e vou sair daqui em poucos
minutos. O som das portas abrindo traz alívio, passo por elas, percorremos o
corredor, passamos pelas portas do escritório. Black analisa algo no notebook
e Daniel revisa imagens na televisão.
— Nos conte o que aconteceu — Michael pede.
Sento na poltrona acendendo um cigarro. Black estende a mão
pedindo um, Michael e Daniel bebem uísque, ambos pararam de fumar pelos
filhos. Trago o cigarro com gosto de canela, sopro a fumaça e relato.
— Os cinco dias na Grécia foram tranquilos, não percebemos sinais
de que estávamos sendo seguidos ou vigiados. Não teve ataque nos
momentos em que estávamos expostos, foi somente no retorno para o
aeroporto que os drones apareceram. A equipe de rastreio ficou para trás
buscando os inimigos e não encontraram nada.
— Alguma chance de ter sido os texanos? — Black pergunta — os
malditos caipiras estão saindo do controle. Recebi um relatório de um
encontro entre o George, o Chefe deles com o Gael, o líder do quartel de
drogas mexicano e responsável pelas nossas importações para Nevada.
George quer ser o responsável pela distribuição da mercadoria deles nos
Estados Unidos.
— Vou mandar o Matthew e o Steve para lembrarem ao Gael a quem
pertence a sua lealdade — Michael avisa.
— Nessa situação, se quisermos evitar uma guerra — Daniel coça o
queixo pensado — podemos tentar uma aliança para distribuição da
mercadoria, se deixarmos eles responsáveis por 10% das drogas, podem se
acalmar.
— Não acho que seja possível — digo — os texanos estão
gananciosos, não vão aceitar menos de 50%. De forma alguma vamos dar
metade do território de venda de drogas a eles.
— E se os incorporarmos aos Bianchi? — Black sugere — retiramos a
autonomia deles, damos um território para comandar e eles seriam leais,
nossos cãezinhos.
— Não quero os texanos como associados — Michael responde —
eles não são confiáveis e não podemos demonstrar fraqueza ao nos aliarmos
com quer nos destruir.
— Vamos acuar eles — Daniel serve outra dose de uísque —
primeiro, cortar o contato deles com o Gael. Depois começamos dizimando
seus pontos de venda. Se usarmos a polícia, evitamos uma guerra e
mandamos uma mensagem.
— Quero a localização das plantações e laboratórios deles — Michael
se refere a onde fazem as drogas. — Enviaremos um avião pulverizador para
jogar álcool e depois ateamos fogo em tudo, não vai sobrar nada.
— Atacaremos suas tropas de forma organizada, pegando uma por
vez. — sugiro — sabemos os pontos que as gangues se reúnem, podemos
fazer de forma silenciosa, sem levantar suspeitas sobre o mandante.
— Faremos isso — Michael decreta.
— Mas antes — Black chama atenção — daremos uma última chance
deles se redimirem, existe a possibilidade do ataque ao Kai e Daisha não ter
sido obra dos texanos, se forcarmos nos caipiras abriremos uma brecha para o
inimigo oculto atacar.
— Iniciaremos uma missão de infiltração nos próximos dias, quero o
Steve liderando — Michael aponta para o Black — use seu irmão para
descobrir todos os associados aos texanos, quando ele retornar do México.
— Sim senhor. — Black responde.
— Daniel, coloque o Dante na equipe do Tyron para preparar nosso
exército para a guerra, reforcem a segurança nas fronteiras e perto do
complexo. Não aceitarei outros ataques como os do Samuel, as boates e
empresas precisam ficar seguras.
— Certo Chefe. — Daniel concorda.
— Kai, envie seus homens ao submundo, façam o seu melhor para
descobrir quem os atacou na Grécia, não deixe um único rato escapar.
— Sim Chefe. — Acinto.
— Podem ir, nos reunimos amanhã com uma reunião do Conselho dos
Capos, avisem ao Bonnarro e ao Belarc. Não quero a presença de ex-
membros como o Bellamy e o Lucian, é importante entenderem a mudança
de poder e não agirem como o Andrew.
— O Bellamy manterá distância — Daniel responde. — Ele está
preocupado em se redimir com a família, não será um obstaculo.
— Ótimo — Michael fala.
— Louis pode ser um problema — eu digo — mas vou cuidar dele. Eu
sou o novo subchefe e ele terá de aceitar — reúno toda a coragem que tenho
para dizer as palavras.
— Muito bem. — Michael aperta meu ombro — estamos com você,
se ele te tocar será um ato de traição, uma agressão direta ao líder da família
Lucian e ao Subchefe da Máfia Bianchi. Você terá direito sobre a morte dele.
— Obrigado — é a única coisa que consigo responder.
Para usar o meu direito, primeiro tenho de perder o medo do Louis.
— Voltem para casa, estão dispensados.
Deixamos o escritório, no lado de fora, antes de subir na moto sou
parado pelo Daniel.
— Ei, como a Daisha machucou o joelho? — me encara preocupado.
— Ela caiu nos rochedos da praia — pego o capacete — você sabia
que ela tem medo de tempestades?
— O quê? Não — nega surpreso.
— Imaginei, eu vou cuidar dela, fique tranquilo, Daniel.
— Obrigado — suspira pesado — depois eu passo por lá para falar
com ela.
— Certo.
Subo na moto, ponho o capacete e volto para casa.
Tiro a roupa jogando no chão, de cueca me deito ao lado da minha
boneca, puxando seu corpo para mim, inspiro o cheiro suave, adormecendo
tranquilo.
CAPÍTULO 15 KAI

— Hoje vou precisar me reunir com o Louis — aviso a Daisha.


Ela para o movimento de levar uma fatia de panqueca com mel a
boca. Deixa o garfo na mesa me encarando preocupada, limpa o canto dos
lábios com o guardanapo, levanta caminhando para mim. Aperta meu ombro,
deslizo a cadeira para trás permitindo sentar no meu colo.
— Tem certeza? — Alisa minha gravata, analisando meu rosto com
cuidado.
— Algumas tradições ainda precisam ser cumpridas. Eu assumi como
subchefe e o líder da família Lucian, pela lei dos Bianchi as empresas da
família devem ser lideradas por mim. Tenho de encontrar o Louis e o fazer
assinar os papeis da transferência.
— Só faz dois dias que voltamos, não pode esperar mais? — Inclina
para a frente — hoje é segunda, mas não precisa ser um dia de trabalho.
— Boneca, minha vontade é colocar sua bunda na mesa e enfiar meu
rosto na sua bocetinha — aliso sua coxa, gostando de como Daisha responde,
abrindo a perna permitindo meu acesso.
Embora ainda não tenhamos chegado a fazer sexo e ela não me deixe
a tocar sem uma calcinha protegendo sua preciosa intimidade, eu sinto nosso
elo crescendo, fortalecendo e aos poucos ela busca com mais fervor por mim.
— Não quero você sozinho com ele — confessa — Josephine
retornou para casa e as coisas estão calmas, aparentemente, porem eu prefiro
não arriscar.
— Eu não conseguirei ser forte me escondendo — suspiro,
compreendendo sua preocupação — o Michael me fez lembrar, como
subchefe, não importa se o Louis me assusta, qualquer um que ouse atacar,
ferir, ameaçar ou machucar um líder dos Bianchi será punido. Louis conhece
a lei, muitas delas foram escritas com sua ajuda. Ele não pode me tocar.
— É diferente quando encaramos os medos — encosta nossas testas
— a voz trava, o pensamento em completo silêncio não nos permitindo
encontrar um meio de reagir. Eu não quero que você se machuque — alisa o
nariz no meu — vou confiar na sua força e que você voltará para mim sem
danos mentais ou físicos.
— Estarei de volta antes do almoço — aliso sua cintura — obrigado
por se preocupar comigo.
Daisha não me considera um fraco.
Ela sabe como é ser diminuído, perder a própria fala e a vontade de
lutar.
Começamos uma vida juntos, algo novo, somente nosso, prometemos
não deixar o passado interferir. Vou mostrar a ela a minha força para lutar
pela nossa relação.
— Estarei te esperando sem calcinha na nossa cama — sussurra, os
diamantes em seus olhos brilhando excitados, o rosto rubro, aperta as coxas
ao redor da minha mão.
Mordo sua boca a puxando para um beijo com gosto de café e frutas
vermelhas. Nunca beijei tanto quanto nos últimos dias, sinto que posso
explodir de tesão a qualquer momento, a masturbação debaixo do chuveiro já
não tem mais efeito.
Na beira de um colapso pela falta de sexo, eu quero continuar indo
devagar, aproveitando cada segundo de namoro com a Daisha, a fazendo se
entregar lentamente a mim.
Talvez eu esteja me apaixonando.
— Até o almoço — digo separando meu rosto do seu.
Levanto com ela no colo, a beijo uma última vez, seus pés tocam o
chão e eu saio de casa decidido a não perder para o Louis e conseguir a
assinatura nos malditos documentos. Na garagem Robert me entrega a pasta
de documentos, pedi para pegar na firma do Daniel.
— Sigam no carro para a casa do Louis Lucian, não saiam do lado de
fora até eu sair — como medida de segurança vou levá-los comigo.
Eu conheço o Louis e sei que meu cargo como subchefe não será o
suficiente para o manter longe de mim. Caso eu não tenha forças para o
enfrentar, meus homens no lado de fora serão minha carta na manga. Não vou
ser covarde, não os colocarei na sala comigo e o Louis, vou mostrar a ele que
sou um homem de honra e ele nunca mais colocará uma mão em mim.
Subo na moto, dou a partida e saio pelo portão da minha casa. É esse o
meu lar, não mais o local em que cresci, rodeado de medo, brigas, dor e
sofrimento. Onde um garoto era queimado e eletrocutado pelos motivos mais
idiotas. Em que suas irmãs se digladiavam, e eu era castigado por não as
controlar.
Não é para esse inferno que retornarei.
Na minha casa, meu lar, vou encontrar minha namorada cumprindo
sua promessa, sem calcinha e me deixando enfiar o rosto entre suas pernas,
provar do seu sabor, a fazer minha. Sem brigas, rancor ou ódio. Somente duas
pessoas ansiando estarem juntas e viverem em paz e com sorte ao longo da
nossa jornada amando.
Caralho, eu quero amar a Daisha.
Eu sou louco por ela, gosto da sua companhia e cada segundo longe
me faz querer voltar para ela, ouvir sua voz, ver seu sorriso, beijar seus lábios
de mel.
Cortando o vento em cima da moto, eu sorrio ao me dar conta de que
eu não estou me apaixonando. Eu já sou completamente apaixonado pela
Daisha e nada no céu, inferno ou terra me fará ficar longe dela, ou quebrar
nossa promessa.
Eu vou sobreviver ao Louis, marcando um momento não somente na
minha vida, mas na trajetória que desejo construir ao lado da minha boneca.
Estaciono em frente a casa dele, desço da moto, os soldados de guarda
me cumprimentam. Entro, deixando meus homens no lado de fora, em alerta,
caminho pela casa, passo na sala encontrando a Josephine deitada lendo um
livro no sofá. Distraída, ela não me percebe chegar, puxo o livro de suas
mãos.
— Que merda? — foca em mim, ficando emburrada — eu estava na
melhor parte!
— É? Deixa eu ver o que você gosta de ler.
Suas bochechas inflam, o rosto assumindo um leve rubor. Ela pula por
cima do sofá pegando o livro das minhas mãos. Rio da sua atitude, alisa a
capa do livro, o tratando com preciosidade. Acho que é uma história de
fantasia, pelo título e capa.
— “Corte de névoa e fúria” — leio em voz alta. — É sobre o quê?
— Um Grão-Feérico que te mataria se eu pedisse — bufa — não
roube meus livros de mim ou eu te bato com um taco!
Pisco, o som da minha carne sendo esmagada pelo taco do Louis
preenchendo minha mente. Aperto a maleta na mão, me forçando a sair da
lembrança cruel e focar na Josephine.
— Como você está arisca, esqueceu dos remédios?
— Palhaço — revira os olhos — por que você está aqui?
— O Louis precisa assinar os documentos de transferência das
empresas para mim.
— Ele não vai fazer isso — franze a sobrancelha — não pode pedir ao
Michael para obrigar o Louis a assinar?
— Eu sou o subchefe, qualquer ato grosseiro dele pode ser punido
pela organização — tomo cuidado com as palavras, não a quero preocupada.
— Se precisar de ajuda grita por mim, eu chamo reforços.
— Meus homens estão do lado de fora — pisco para ela — vou ficar
bem.
— Kai — puxa a manga da minha camisa — toma cuidado.
É a primeira vez que a vejo baixar a guarda para mim. Nem mesmo na
noite em que conversamos sobre o Tommaso e revelei o castigo dado pelo
Louis, a Josephine me olhou com tamanha preocupação. A puxo para um
abraço, nossa relação ainda precisa superar muitos anos de ataques mútuos.
— Nada de abraços — empurra se afastando, ela treme a cabeça, acho
graça. — Você é muito pegajoso, coitada da Daisha.
— Até mais.
Deixo a sala, subo as escadas para o escritório do Louis. Por diversas
vezes entrei no seu escritório de cabeça baixa. Com medo de ser punido sem
cometer nenhum crime. Hoje ergo os ombros crescendo em tamanho e
atitude. Giro a maçaneta, a passos largos, paro diante da sua mesa, o
encarando de cima.
Louis se escora na cadeira, o rosto impassível, as mãos repousando na
mesa em cima de documentos. Abro a maleta, puxo os papeis e entrego a ele.
Controlando a respiração para não tremer, foco meu olhar em seu rosto, não o
deixando perceber que apesar da atitude decidida, estou com receio de o
irritar.
35 anos de tortura não serão apagados em uma única semana.
Eu só preciso de um dia para iniciar uma nova contagem e por fim a
uma sequência.
— Quais suas intenções? — ele pergunta sem encarar os documentos.
— Assine os documentos de transferência das empresas, elas são
minhas.
Anos como assassino e um homem conquistando o submundo me
ensinaram a vestir uma mascará imparcial, a não demonstrar o que penso ou
sinto pelo bem de uma missão. Encaro a situação com o Louis como ela deve
ser, uma missão dada pelo meu Chefe, vou conseguir a assinatura, ir embora
dessa casa e não permitir que ele continue me dominando.
Ele gargalha, bate palmas, o olhar letal focado em mim. Quer me fazer
desistir, recuar, minhas pernas tremem de leve ao lembrar das diversas vezes
em que o Louis gargalhava durante uma sessão de tortura. Inspiro, soltando o
ar lentamente pelo nariz, forçando meus membros a permanecerem parados.
Eu não posso fraquejar, essa opção não existe.
— Você virou um comediante, garoto? — levanta, ele escolhe suas
palavras para me fazer lembrar o meu lugar, inferior, um garoto aos seus pés.
— Assine os documentos, é uma ordem do seu subchefe! — Ranjo os
dentes, o coração disparado no peito, o sangue fervendo nas veias.
A fúria de anos eclodindo.
Louis não me respeita, não me enxerga como seu superior. Seu rosto
expressando todo o desprezo sentido por mim. Aperto os punhos, chegou a
hora de mostrar que eu sou forte, os anos treinando, ganhando músculos,
sendo um maldito assassino cruel não foram em vão.
Enquanto eu era somente o filho dele, não podia me rebelar contra
seus ataques, mas o jogo virou e agora eu sou o subchefe, é ele quem não
pode me tocar.
— Subchefe — desprezo escorre de sua boca — eu deveria ter te
matado no segundo em que nasceu, se não fosse a maldita obrigação de gerar
um herdeiro. Eu sempre soube que você tentaria roubar meu cargo — para na
minha frente. — Você é um nada, moleque insolente.
— Uma pena nunca conseguir me matar, apesar das suas tentativas —
me forço a sorrir, vestindo a mascará de um psicopata — esse nada se tornou
o seu superior e estou te dando uma ordem, cumpra ou sofra as
consequências.
Louis perde o sorriso, a mascará caindo aos seus pés.
Os olhos negros do demônio inflam em fúria. Antigamente eu
tremeria, imploraria para não me bater. Cerro os punhos tremendo os braços,
controlando a mim mesmo. Não vou cair em velhos hábitos, ele não vai
continuar a me dominar.
Chega de submissão!
— Vá agora para o freezer.
— Nunca mais entrarei naquela coisa — dou um passo a frente, por
breves segundos esqueço como se respira ao o encarar de perto.
Eu sempre enxerguei o Louis como um monstro enorme, mais forte do
que eu, mais alto, assustador, alguém impossível de ser vencido. Banhado de
coragem e força, disposto a cumprir as promessas feitas a Daisha, tornando-
as mais importantes do que o medo, eu encaro o Louis, vendo quem ele
realmente é.
Um homem de cabelos grisalhos, pele com rugas nos olhos e canto da
boca. Rancoroso, explodindo ódio pelos poros, olhar de um demônio. Menor
do que eu. Não sei quando aconteceu, mas somente agora eu noto que seu
nariz bate na altura do meu queixo, seus olhos não encontram o meu em
igualdade. Eu sou mais alto, mais forte e estou disposto a nunca mais recuar.
— É a última vez que vou mandar, assine os papeis de transferência…
Sua mão voa ao encontro do meu pescoço. Giro, agarrando seu
cotovelo com uma chave de braço empurrando para baixo, o fazendo perder o
equilíbrio. Louis apoia a mão no chão impedindo sua queda, solta da minha
chave girando ao ficar em pé rapidamente. Ergo os punhos na altura do rosto,
pronto para atacar e defender.
— Você pode ser forte, mas nunca será mais do que eu.
A maldita frase ressoa na minha mente destravando os pilares da
minha convicção. Flashes das diversas vezes em que escutei as temerosas
palavras ao ser eletrocutado nublando minha visão.

Louis me prende a cadeira de madeira, hoje é dia de punição com os


choques. Eu nem sei pelo que estou sendo castigado. Desde os meus 9 anos
ele me prende nessa cadeira todo mês eletrocutando meu corpo.
— Você já tem 14 anos, conhece o motivo pelo qual eu te amarro
aqui? — Prende meu pulso com força na cadeira, a pressão pelo sangue
retido doendo nos dedos.
— Para me lembrar de que nunca serei mais forte do que você — a
voz treme, a ansiedade por saber o que acontecerá tornando pior o período
de espera.
— Você é um fraco Kai, um inseto que só vive pela minha
misericórdia.
— Obrigado por me deixar viver, senhor — repito a frase que o deixa
contente, mostrando minha submissão.
Louis sorrir com o canto dos lábios, se afasta da cadeira, apaga a luz
do porão. Meu peito treme, o ar escapa dos pulmões irregular. Ele não faz
nenhum som, fecho os olhos, aperto os dedos, me preparando para a tortura.
Não me deixar saber quando começará é um dos seus jogos. Já passei mais
de 4 horas esperando no escuro.
O botão soa, os choques atingem meu corpo dominando meus
músculos, doendo em cada célula. Espasmos me tomam, vou perdendo a
consciência aos poucos, enlouquecendo, querendo me libertar da agonia. A
voz trava na garganta impossível de sair. O som da eletricidade aumentando
meu desespero, o cheiro da carne começando a queimar.
Mil formigas andam por cima do meu corpo.
Duas mil abelhas me picam ao mesmo tempo.
Contraio em espasmos, os músculos se mexendo sozinhos, sendo
repuxados por dentro pelos fios de eletricidade percorrendo cada centímetro
do meu corpo. A dor no meu peito me faz ficar sem ar, eu sinto meu coração
contraindo, os pulmões sem conseguir trabalhar, meus órgãos parando de
funcionar.
Louis acende as luzes, se aproxima lentamente de mim.
— Você pode ser forte, mas nunca será mais do que eu. — Repete.
Ele aperta o botão cessando a corrente, meu corpo ainda treme,
machucado, dolorido, o cérebro desliga.

Vacilo perdendo o equilíbrio ao ser atingido por um chute na canela.


As costas batem no chão, me fazendo recuperar a consciência, saindo do
porão e da sensação dos choques.
— Prova do poder pela primeira vez e fica se achando, seu bosta —
sobe em cima de mim, a mão pressionando meu pescoço — você é o meu
fantoche. Não irei passar as empresas para seu nome, diga que fiz isso para
acalmar o Chefe.
— Nunca — rosno.
— Você — aperta meu pescoço, tusso pela falta de ar. — Vai fazer o
que eu mandar. Eu sou seu dono e como um bom cachorro você vai me
obedecer.
Fecho as pálpebras, o peito apertando, sufocando sem ar.
O riso da Daisha ressoa baixinho no meu ouvido.
Eu fiz uma promessa a ela.
Como poderei ter a sua confiança se diante o primeiro confronto eu
desabo como um covarde? Como serei capaz de a proteger, provar que sou
forte, a fazer confiar em mim, me entregar seu corpo, ser capaz de me amar.
Se eu não puder cumprir a promessa de ser forte, retornar para almoçarmos
juntos.
Tensiono os músculos me preparando para contra-atacar.
Eu não vou ceder!
Firmo os pés no chão erguendo o quadril, Louis arregala os olhos
surpreso ao ver que estou resistindo. Ergo a mão, fecho o punho descendo
contra a parte interna de seu cotovelo. Ele cai para a frente, giro o quadril o
jogando no chão.
Prendo sua mão com a sola do meu sapato, pressiono o joelho em seu
pescoço, agarrando seu braço livre, o torcendo apertando em meu peito. Ele
fica vermelho sem ar, inflando de ódio.
— EU NÃO SOU O SEU CACHORRO! — Berro, a fúria de anos se
libertando. — Você nunca mais tocará em mim, seu bosta! — Pressiono mais
seu pescoço, ele abre a boca em busca de ar — vai me respeitar como o seu
líder! Assinar os malditos papeis e ficar recluso nessa casa até o dia da sua
morte. Você não tem mais importância e agradeça por eu te deixar vivo. Seu
filho da puta! É SUA VIDA QUE ME PERTENCE, NUNCA ESQUEÇA!
Giro sua mão ouvido o som do osso quebrando, Louis grita
estrangulado. Solto seu pescoço saindo de cima dele. No chão buscando por
ar o encaro com superioridade. Ergo o pé descendo com a força de anos de
abusos, a vingança inflando na minha carne, necessitando de sangue, causar
destruição, libertar o maldito ódio me prendendo.
Grito em raiva chutando a carne de seu quadril. Louis tenta se
defender erguendo os braços. Desfaço sua defesa com um chute poderoso, ele
geme, no chão completamente acabado. Subo em seu quadril, seguro o
colarinho da sua roupa o fazendo me encarar.
— Você queria um monstro submisso como seu bichinho, mas
esqueceu que todo cachorro com dentes morde.
— Eu vou matar você — ele ameaça.
Seu soco atinge meu queixo, prendo novamente seu braço com a sola
do sapato. Ele tenta me desequilibrar erguendo o quadril. Firmo o joelho no
chão, empurro seu ombro contra a madeira, ergo a mão livre, fecho o punho
descendo contra seu queixo. Bato nele uma, duas, três, quatro, o sangue de
seu nariz jorra manchando meus dedos, espirrando no chão.
Continuo socando sua cara, abrindo um corte na sobrancelha. Ele
revira os olhos, perde a força nas pernas ao parar de tentar me derrubar. Bato
com força explodindo em um grito revoltado. Sua cara pende contra o chão,
desacordado.
Levanto, dou a volta na mesa pegando o uísque, jogo em seu rosto o
fazendo acordar. Pego minha arma no quadril, aponto para sua cabeça. Ele
infla em ódio, disposto a tudo para poder me atacar. Aponto os papeis,
inspirando ruidoso e com dificuldade, escorrendo no próprio sangue o vejo
ficar em pé, sentar em sua cadeira, puxar uma caneta e assinar os papeis.
A mão quebrada recolhida contra o peito. O rosto banhado pelo seu
sangue. Nem sei mais quanto tempo esperei para poder ver o Louis destruído,
incapaz de me dominar.
A liberdade tem um gosto doce.
Com a arma apontada para seu rosto, recolho os papeis guardando na
pasta. Louis é uma cobra e não darei chance a ele de me atacar novamente.
Mesmo ferido, sei que ele pode ser letal se tiver a oportunidade.
— As coisas não serão como antes — digo a ele pegando a maleta —
você perdeu.
— Eu vou te colocar no seu lugar, cachorro maldito! — Rosna.
— Tente qualquer idiotice e você morre, hoje foi somente um aviso.
Sem dar as costas a ele, deixo o escritório. Só viro ao chegar as
escadas e perceber que não estou sendo seguido. Desço pulando em dois
degraus, a adrenalina disparada no corpo, não consigo acreditar que fui capaz
de reunir forças e surrar o Louis, a emoção corroendo minhas veias.
Eu poderia tê-lo matado e ninguém diria nada.
Conhecer a sensação de o subjugar me fez querer mais. Atormentar a
vida do Louis como ele fez comigo. Fazer ele odiar estar vivo, se corroendo
em ódio, desprezo e percebendo quem é o fraco. Eu vou quebrar o Louis de
dentro para fora, quando não restar mais nada, nem mesmo a esperança de
liberdade, eu o mato.
Ele vai saber que a sua vida me pertence, pagará por tudo que fez a
mim e minhas irmãs. Esse é só um pequeno gostinho de como as coisas serão
agora. Pois todas às vezes em que eu estiver na sua presença, não importa se
lembranças ou medos enraizados vierem me fazer fraquejar. Eu vou pensar na
Daisha e fixar na minha mente a única coisa importante a guiar os meus dias.
Eu consegui enfrentar o maldito demônio, vou sair dessa casa com
uma vitória!
Preciso dar um beijo na minha mulher!
Piso no térreo, ouço o som de passos, viro o rosto para ver quem me
segue. Um pano é pressionado no meu nariz, o cheiro forte invade meus
sentidos. A sonolência me atinge como um soco. Encaro os olhos malditos do
Louis, caio de joelhos apagando.
CAPÍTULO 16 DAISHA

Ele está atrasado.


Já são 13 horas e o Kai não retornou da casa do Louis. Não responde
minhas mensagens, atende as ligações ou dá qualquer sinal de vida. Robert
disse que ele continua dentro da casa e que não perceberam agitação. Eu sinto
que tem algo de errado e não vou ficar parada.
— Brandon! — Chamo pelo chefe da minha segurança. O homem de
43 anos entra pela porta da cozinha — Estamos indo à casa dos Lucian.
— Sim senhora.
Sem demora vou para o carro, entro ligando para o Daniel. Meu irmão
não atende, disco o número do Michael. Por mais que esteja com meus
seguranças, se o Louis não me deixar entrar não poderei fazer nada. Não sou
a Hope, somente ela tem a autoridade para invadir a casa de quem desejar.
— Aló — Michael fala do outro lado da linha.
— Kai saiu para encontrar o Louis tem mais de 3 horas e não
retornou, os seguranças garantem que ele continua lá dentro, não consigo
falar com ele. Estou indo para lá.
— Não entre sozinha, Daisha.
— Sim, Chefe.
Michael desliga, com um mau pressentimento sigo para a residência
dos Lucian. Envio outra mensagem para a Josephine perguntando sobre o
Kai, ela não me responde e minha angústia triplica de tamanho.
Paramos em frente a residência, percebo uma agitação por parte da
equipe de segurança do Kai com os do Louis. Desço chamando a atenção
para mim. De queixo erguido caminho até a porta, toco a campainha. Os
minutos se passam, ninguém atende. Impaciente aperto o botão vezes
seguidas.
— Saiam dá frete — A voz estrondosa do Michael ressoa atrás de
mim.
— Bem-vindo, Chefe — um coro de vozes cumprimenta o Michael.
Ele me encara preocupado, não sei até que ponto os amigos do Kai
sabem sobre a situação com o Louis. Eu tenho fragmentos da história e são o
suficiente para perturbar minha alma, imagino que o conhecimento do
Michael sobre a causa seja mais assustador, devido a sua expressão
carregada. Com um movimento de cabeça, Michael encara um segurança, o
homem parece prestes a desmaiar de medo, ele vem a nos, enfia uma chave
na fechadura abrindo a porta.
Entro atrás do Michael, os homens que nos seguiam ficam do lado de
fora. Até o momento estamos somente verificando onde meu namorado está e
o motivo do seu estranho silêncio. Na sala encontro a Josephine lendo
distraída. Ao nos ver ela levanta espantada, retira os fones de ouvido.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta cautelosa.
— Onde o Kai e o Louis estão? — Michael questiona.
— No escritório, eu acho — troca o peso de uma perna para a outra.
— Fique aqui, Daisha — Michael ordena.
— Por favor — seguro seu pulso — deixa eu ir com você. Prometo
não causar confusão, é o meu marido Michael, eu tenho o direito de saber se
ele está bem.
— Faça o que eu mandar — responde seguindo para fora da sala.
Josephine segura minha mão percebendo minha aflição. Ela e o irmão
estão começando uma frágil linha de amizade. Presenciar a apreensão no seu
rosto com medo ao imaginar o que aconteceu é um indicativo, ela começou a
abrir passagem para o Kai.
— Você não ouviu nada? — pergunto subindo as escadas atrás do
Michael.
— Não, estava de fones de ouvido. O Kai chegou, falou comigo e
subiu, coloquei os fones em seguida. Não imaginei que o Louis seria tolo de
agir contra o subchefe. O Kai parecia tão confiante — sua voz baixa o tom na
última palavra.
— Ele não se entregaria ao Louis — eu digo convicta, Kai me fez uma
promessa e não a quebraria.
Michael não bate na porta do escritório, ele entra, agindo como o dono
do lugar. Seguimos atrás dele, me espanto ao ver o rosto do Louis com
curativos, o queixo inchado como uma bola de tênis, o punho envolto por
faixas segurado por uma tipoia ao corpo.
— Me leve ao Kai — Michael branda, a voz grave como um trovão.
Eu não gostaria dele falar comigo nesse tom, imagino o quanto desagrada o
Louis.
— Ele não está aqui — Louis desvia o olhar, o esquerdo inchado,
quase fechado.
— Eu vou considerar que você está ficando um velho imbecil —
range os dentes na última palavra, apertando os punhos. — Não suportei as
insolências do Andrew, que era meu pai, não pense nem por um segundo que
vou tolerar as suas, Louis — Michael se aproxima dele, apertando seu pulso
machucado. Louis se treme na cadeira, encarando o Michael com medo —
onde o Kai está?
— No porão — responde baixo.
— Vá na frente, seu vagabundo!
Michael puxa o Louis pelo braço o jogando no chão, chuta suas costas
o fazendo cair. Louis tenta se equilibrar para ficar em pé, novamente Michael
o acerta. Sem dizer uma única palavra, ele faz o Louis perceber que deve ir
rastejando.
Aperto as unhas contra a palma da mão irritada, é no maldito porão
que o Kai é machucado. Louis passa por mim como um cachorro, Michael o
seguindo logo atrás. Com a Josephine vou com eles descendo as escadas. O
ódio subindo cada vez mais, a vontade de estapear a cara do maldito por
ousar machucar o Kai jorrando.
Contenho meus impulsos, todo segundo gasto batendo no Louis é
convertido em sofrimento pelo Kai. A humilhação de ser visto rastejando
pela casa é o suficiente, no momento. Eleanor e Rebeca surgem da cozinha,
ambas ficam horrorizadas ao verem o Louis se arrastando.
— O que é isso? — Eleanor grita.
— Pai! — Rebeca se abaixa ficando ao seu lado.
— Não pare — Michael chuta as canelas dele, o forçando a continuar.
— Você não pode fazer isso — Eleanor branda — ele é o…
— Cale a boca! — Michael nem a olha — não pense que você será
poupada por ser mulher.
— Mas o quê? — ela engasga se afastando.
Louis para diante de uma porta de metal, digita o código da fechadura
a destrancando. Desce as escadas, as paredes escuras e frias me assustam.
Aperto o braço da Josephine. Atrás de nós, Eleanor e Rebeca descem as
escadas sussurrando.
Uma porta de metal grossa no final da escada. Louis a destrava
revelando a sala, arrepios sobem meus pelos. Levo a mão a boca contendo a
vontade de vomitar, ouço os gritos dele abafado. Michael passa por cima do
Louis, o sigo pisando nas costas do meu sogro com Josephine ao meu lado.
Encaro minha amiga, ela tem o rosto aterrorizado, um reflexo do meu.
As paredes claras repletas de objetos cortantes, tacos, canos, arames,
ganchos, corrente, diferentes cadeiras de tortura espalhadas. O chão
manchado com sangue seco. No canto, um freezer envolto por correntes, os
gritos do Kai vindo de lá. Corro batendo na superfície, Michael pega um
martelo.
— Kai! — chamo por ele — estamos aqui, vou tirar você dai — falo
contra a tampa. Ele não me responde com palavras, apenas gritos.
Uma mão invisível envolve meu peito, choro ao sentir seu sofrimento,
desesperada para o libertar enquanto o Michael quebra os cadeados. As
correntes caem, a porta é levantada e eu quebro ao ver o Kai com o rosto
banhado em lágrimas, o corpo suado, repleto de arranhões coberto apenas por
uma cueca. Seus olhos tempestuosos me encontram.
Soluço entrando no freezer, envolvo sua cabeça com meus braços,
sentando por cima do quadril dele. Aliso sua nuca sem saber o que falar para
o confortar. Kai envolve minha cintura com força, esconde o rosto na curva
do meu pescoço soluçando, tremendo. Vejo pequenas gotas de sangue
brotando das cicatrizes rasgadas por suas unhas.
— Acabou — é a única coisa que sou capaz de falar.
— Jura? — ele pergunta abalado soluçando rouco na minha pele.
— Eu te juro, anjo negro — beijo sua orelha — acabou — beijo seu
pescoço até sentir meus lábios ressecados.
— Vem Kai — Michael chama, o encaro do lado de fora sofrendo
pelo amigo, estende as mãos pegando o Kai pela axila o puxando. Me ergo
junto deles.
Meu olhar encontra o da Josephine. Ela analisa o estado do irmão com
uma mão na boca, os olhos arregalados em espanto e dor. Acho que essa é a
primeira vez que ela percebe o quanto o Kai sofreu no passado. Quero ir até
ela, a confortar, dizer que não é sua culpa, somente do Louis por ser um
monstro com os filhos.
Mas eu não posso, pois quem treme com o olhar perdido é o Kai.
Agarrado aos meus ombros, incapaz de me deixar ficar um centímetro longe
dele. Eu não quero me afastar. Envolvo sua cintura com o braço deixando ele
se apoiar em mim.
Michael retira o paleto envolvendo o Kai com ele, o segura pelo
quadril garantindo que não perca o equilíbrio ao caminharmos. Damos três
passos antes de sermos interrompidos pela Rebeca. Ela se joga contra o irmão
enfiando o rosto em seu peito chorando, eu a sinto apertando meu pulso
querendo me fazer o largar.
Rosno os dentes sabendo que não é o momento de discutir com ela,
não faria bem ao Kai me ver agarrando sua irmã pelos cabelos a jogando
longe. Ele geme sentindo dor, mas não a pede para ficar longe. Michael me
encara impaciente, acho que ele prefere que eu resolva a situação do que ele
intervir e causar uma briga maior.
— Rebeca solta o Kai — mando.
— Não, ele precisa de mim — ela segura seu rosto fazendo ele a
encarar — eu vou cuidar de você, vamos para o quarto.
— Não! — Seguro seu pulso a afastando — ele vai para casa comigo.
Eu sou a esposa dele, você fica.
— Você não sabe o que está falando — ela rebate alterada — sou eu
quem cuida do Kai quando o Louis o machuca — grita — você não vai levar
ele daqui. — Vira para o irmão — Kai, fala para ela, eu vou te fazer sentir
melhor.
— Rebeca — a voz dele soa fraca, meu estômago contrai com a mera
possibilidade dele me mandar embora — eu vou para casa, com a Daisha —
falar é um sacrifício.
— Ela não sabe cuidar de você — sacode a cabeça. — Fui eu quem
sempre esteve ao seu lado! — A voz dela sobe em um quase grito
desesperada.
Eu detesto a Rebeca pela forma como ela trata a Josephine, achava
que ela era incapaz de sentir empatia por outra pessoa. Observando seu rosto
vermelho, olhos tristes e a ansiedade ao lutar para cuidar do irmão, eu
percebo a sinceridade em seus sentimentos, ela sente que deve ficar com ele.
Não gosto da forma que se expressa, a exigência em somente ela
poder o ajudar. Ao passo que vejo sua preocupação, eu noto a possessividade,
não aceitando outra pessoa perto dele no seu momento de fragilidade.
— Rebeca — a chamo — você só está dificultando as coisas, saia da
frente.
— Deixa eles passarem — Josephine recupera a fala, puxando a irmã
pelo braço. — Vão.
— Espera! — ela grita tentando se soltar da Josephine para chegar ao
Kai.
— Depois eu falo com você — Kai responde triste, atordoado,
perdido.
Michael não espera mais, começa a se mover, o levando consigo.
Percebo a ausência do Louis e da Eleanor. Para subir as escadas, Michael
segura o Kai de lado enquanto eu agarro sua mão firme indo na frente. Sigo o
Michael para a garagem, entramos em um dos carros com o Michael ao
valente. Saindo por aqui, os seguranças do lado de fora não verão o subchefe
machucado e perturbado.
Deito a cabeça dele no meu ombro, beijo sua testa alisando a pele
onde a irritação não o atingiu. Kai treme, soluçando assustado, não consigo
imaginar o que povoa sua mente. Somente o fazer encontrar a paz. Beijo sua
testa, me mexo ficando de frente para ele, deslizo o nariz contra o seu.
Os lábios frios tomam os meus em um beijo necessitado. O deixo
levar tudo de mim, os braços ao redor da minha cintura puxando forte contra
seu peito. Envolvo seu pescoço acariciando sua nuca, ditando o ritmo envolve
das nossas línguas. Carinhosamente o fazendo recuperar o controle do corpo,
cessando as tremedeiras infernais.
O carro estaciona, observo a garagem da nossa casa. Em um selinho
finalizo nosso beijo, ele continua envolto por sombras perturbando seus
pensamentos, mas conseguiu se acalmar um pouco.
— Vamos entrar? — pergunto.
— Sim — acena em positivo.
— Eu vou cuidar de você — prometo a ele, Kai me dá a sombra de
um sorriso.
— Com muitos beijos? — tenta brincar.
— Quantos você quiser.
— Vem Kai — Michael chama abrindo a porta.
Michael ajuda o amigo a descer do carro, sem eu precisar indicar o
caminho ele segue com um Kai assustado para o nosso quarto. Eu lembro de
quando meu namorado falou sobre o medo do freezer e como o Louis o
apavora. Ver seu estado atual, tornou mais significativo para o meu coração
saber como o Kai se arriscou para me salvar na caverna.
Ele não hesitou ao pular no buraco e me trazer de volta.
Eu não vou poupar esforços para fazer ele se sentir melhor.
Michael senta o Kai na cama, meu namorado acena para o amigo e
tenta dar um esboço de um sorriso.
— Ele será punido — Michael fala.
— Eu sei — Kai responde, a voz tremula — dei uma surra no imbecil,
consegui a assinatura nos documentos e sai da sala. Ele me pegou nas escadas
pelas costas.
— Um maldito covarde! — Michael caminha de um lado para o outro.
A pálpebra do Kai treme, percebo o esforço demonstrado para não
parecer frágil diante do Chefe. Vou ao Michael segurando seu pulso.
— Pode nos deixar a sós? Depois vocês resolvem como matar o
Louis.
— Claro, se precisar de algo me liga — vai ao Kai — tire uns dias de
folga, seguramos as coisas enquanto se recupera — aperta o ombro dele.
— Não se preocupe, logo estarei bem, estou acostumado — quebra
meu coração ouvir ele dizer palavras tristes com normalidade.
— Kai — chamo seu nome baixinho me aproximando dele.
Ele segura minha mão me puxando para seu colo. Michael vai embora
silenciosamente. Apoio o joelho na cama sentando na sua coxa. Analiso o
rosto assombrado do Kai. Toco sua nuca delicadamente, desço o olhar pelo
pescoço e tronco, percebendo as marcas vermelhas de arranhões, os braços e
pernas no mesmo estado.
— Quer tomar um banho? — pergunto, sem saber ao certo o que
fazer.
— Você me acompanha?
— Sim.
— Eu preciso que você saiba — ele segura meu pulso, me impedindo
de descer do seu colo. — a Rebeca era quem cuidava dos meus ferimentos
quando o Louis me torturava, mas eu só consigo voltar ao normal após
extravasar a adrenalina mesclada com a fúria.
— Como você faz? — franzo a sobrancelha, eu percebo a indecisão
em sua face, se me conta ou não.
— Geralmente com uma luta na arena ou com sexo — seus olhos me
deixam ao dizer a última palavra — eu sei que você não está pronta —
envolve minha cintura com a mão — e eu não quero que nossa primeira vez
seja por eu precisar me sentir bem. Eu vou para a academia, extravasar e
depois conversamos — ele faz menção de me tirar do seu colo. Aperto seus
pulsos o impedindo.
— Você vai para o banheiro tomar um banho e eu vou passar creme
nos seus arranhões — forço a voz para não fraquejar, nervosa diante da
minha escolha — eu prometi que estaria te esperando sem calcinha.
— Daisha — encosta a testa na minha — eu anseio fazer sexo com
você. O que temos construído significa muito para mim. Não posso permitir
acontecer sem ser o momento certo.
— Você só sabe fazer sexo com o pênis? — pergunto sentindo as
faces esquentarem.
— Desculpe boneca — beija meu ombro — somente me esfregar em
você não será o suficiente.
— E me chupar? — solto a palavra em um fôlego — eu meio que
quero — remexo o quadril sentindo seu pênis acordando na cueca.
— Eu passaria o resto do dia com o rosto nas suas pernas — desliza o
nariz no meu pescoço, a mão subindo pelo meu busto — tem certeza?
— Muita — respondo ansiosa.
Eu quero fazer o Kai ficar melhor, arrancar a sombra de medo dos
seus olhos e a expulsar da nossa casa. E também anseio explorar a nossa
sexualidade. Já tinha decidido dar um passo além das esfregadas, esse é o
momento perfeito, vou unir sua necessidade a minha vontade.
— Vamos para o banho? — puxo sua nuca tirando seu rosto do meu
pescoço — estou preocupada com os arranhões.
— Eu sinto insetos rastejando no meu corpo — confessa sem me
encarar — tento arrancar eles rasgando a pele — baixa a vista — estava me
sentindo poderoso, tinha finalmente conseguido revidar e impedir o Louis de
me agredir.
— Ei, você não foi derrotado — puxo seu rosto para mim —
conseguiu enfrentar seu pai e se ele não jogasse sujo eu tenho certeza de que
você teria voltado eufórico por conseguir vencer o monstro.
— Eu queria muito voltar e te beijar para comemorar — aproxima o
rosto do meu — lembrar de você me deu forças para revidar, obrigado por ser
minha, boneca — encosta nossas testas.
— Eu meio que não tive escolha — franzo o nariz — você me
perseguiu até roubar meu coração.
— Pode me devolver o meu, já que estou com o seu? — gargalho, a
leveza assumindo suas feições.
— Não, será minha garantia para manter você na linha — beijo seus
lábios em um selinho demorado.
Do nosso jeito estamos nos declarando. Kai e eu ainda temos um
caminho pela frente, abrimos passagem um para o outro e vamos construir
juntos um relacionamento forte.
— Estou orgulhosa por você enfrentar o Louis — sussurro.
— Você também vai conseguir — alisa minha bochecha.
— O quê?
— Dizer aos seus pais tudo que te machuca — toca meu peito
esquerdo com dois dedos — eu percebo como seu passado te magoa —
envolve minha cintura levantando, enlaço as pernas no seu quadril,
calmamente ele segue para o banheiro.
— Eu não sei se consigo — confesso baixinho — eu perco a voz na
presença deles.
— Eu acredito em você. E amo o doce som da sua voz — encosta os
lábios na minha bochecha. — Escutaria suas palavras por horas.
— Você não suportaria.
— Vou gravar e deixar tocando no replay — sorrio para ele, entramos
no banheiro e meu coração acelera.
— Deixa eu cuidar de você primeiro — aliso sua orelha, ele acena em
positivo.
A sombra permanece em seus olhos negros, apesar de conversar
descontraído, Kai continua atormentado. Deslizo o paleto do Michael de seus
ombros, caindo no chão. Meus pés tocam o piso, ligo a água na banheira,
despejo loções calmantes para a pele e indico para ele entrar.
Kai envolve a borda da cueca preta com os polegares, arqueia a
sobrancelha confirmando se eu quero isso. Aceno em positivo, ele baixa o
tecido, o pênis surge lentamente. Hasteado para cima, a ponta redonda e
rosada brilha, a coluna grossa com uma veia marcando sua extensão, arfo ao
perceber a grossura.
As bolas penduradas no final da base do pênis, as pernas do Kai
possuem diversas marcas de cicatrizes e uma queimadura na panturrilha
direita se estendendo a coxa. Levo a mão ao peito controlando as emoções
conflituosas, o desejo duelando com a vontade de cuidar dele.
Subo a visão pela pélvis com veias marcadas, gominhos trincados no
seu abdômen, as cicatrizes por todos os lados. Caminho para ele, nervosa, os
dedos tremendo ao tocar o peitoral musculoso com uma fina camada de pelos
nascendo. Engulo em seco, subindo a visão pela clavícula marcada por
músculos fortes, o pescoço grosso, as veias na lateral pulsando diante os
meus olhos.
Puxo sua nuca o forçando a se abaixar, beijo o queixo angular, subo
por sua mandíbula grossa, tensionada, esfrego o nariz em sua orelha.
Atrevida, abro a boca envolvendo seu pescoço, a pele áspera na minha boca,
deslizo os dentes mordendo com leveza, puxando para mim. Kai agarra
minha cintura dando um passo a frente, esfregando seu membro ereto na
minha barriga.
Ele enfia o rosto no meu pescoço, retribuindo a mordida. Grito ao ter a
pele envolta por seus dentes famintos enviando estímulos de prazer para o
meu centro. Envolvo os dedos em seu cabelo puxando os fios na minha
palma, gemendo ao ter a pele sugada com força, ansiando por seu toque no
meu centro em chamadas.
— Kai — gemo por ele — eu quero muito te sentir — peço abrindo as
pálpebras encarando o teto branco do banheiro.
— Vou tirar sua roupa — murmura rouco, as mãos apertando minha
carne com força. Agarro seus bíceps duros, contraído, ele luta contra o desejo
de me fazer sua e a vontade de continuarmos no nosso ritmo.
Encaro seus olhos tempestuosos percebendo o que ele realmente quis
dizer sobre o sexo. Ao passo que nos tocamos, sua visão vai nublando com
prazer, deixando a escuridão da tortura de lado, ocupando a mente com algo
mais prazeroso.
Eu daria tudo para o ver feliz novamente, meu peito contrai em
paixão.
Kai me valoriza mais do que qualquer pessoa foi capaz de fazer.
Colocando de lado seus desejos para atender os meus.
Nunca imaginei que alguém poderia me enxergar e priorizar de
tamanha forma. A porta que usei para trancar meus sentimentos é aberta
lentamente, deixando um pequeno fio vermelho escapar e se ligar ao Kai.
Somos duas pessoas quebradas reconstruindo uma a outra.
Suas mãos envolvem a barra do meu vestido puxando para cima. Ele
queima encarando meus peitos. Balanço pelas suas mãos deslizando por
minhas costas, arranhando a pele sensível. Arfo baixinho pela nova sensação
prazerosa, o fecho do meu sutiã é aberto, os peitos são expostos para seu
olhar pesado.
Kai fica de joelhos na minha frente, enfia o rosto na minha barriga
mordendo a pele fina. Arfo contraindo, agarro sua cabeça para me apoiar,
uma mão espalmada em seu ombro forte. Ele segura meu tornozelo abrindo
minha perna ao apoiar meu pé em sua coxa. Beija meu ventre, taquicardia
começa a nublar meus sentidos, a ansiedade por ser tocada subindo.
— É normal — pigarreio recuperando a fala — sentir que vou
desmaiar se você não me tocar?
— Boneca — ele rosna, rangendo os dentes ao envolver a lateral da
minha calcinha — eu estou quase tendo um ataque cardíaco de vontade para
chupar sua boceta. Você está bem.
— Compartilha comigo — peço nervosa — é tudo muito novo —
suspiro ansiosa, arfo deixando um pequeno som escapar ao ter a calcinha
puxada.
— Você é linda, perfeita, muito gostosa — esfrega o nariz nas minhas
dobras.
Fecho os olhos perdendo a força nas pernas por um segundo. Agarro
sua nuca precisando sentir mais, ter tudo que ele pode me dar. Afasto a coxa
oferecendo acesso ao meu centro para o olhar faminto do Kai. Não existem
mais sombras de medo em suas feições, somente o fogo crepitando e me
encontrando.
— Eu quero muito você — confesso a ele.
— Por anos eu imaginei esse momento — desliza a calcinha para fora
das minhas pernas. Kai sobe o dedo pelo interior da minha coxa aproximando
do meu centro — você é mais linda do que imaginei — seus olhos me
encontram nublados em desejo — a bocetinha rosada brilhando, consigo
sentir sua excitação — o indicador desliza nas minhas dobras e eu fraquejo.
— Oh Kai — chamo seu nome alisando sua cabeça, meus pés molham
pela água da banheira derramando.
— Eu vou te provar, Daisha.
Ele avisa. Não tenho tempo de responder, somente sinto seus dentes
abocanhando minha carne sensível. Grito apertando sua cabeça. Sem
controle, Kai evolve minha intimidade com sua boca, não deixando nada para
fora. Curvo o tronco para a frente tremendo ao ter o clítoris lambido por sua
língua grossa, experiente, deslizando como se conhecesse o lugar.
A mão aperta minha bunda com tamanha força me fazendo sentir meu
ânus ser aberto. Curvo novamente para a frente, gemendo, o quadril
completamente preso contra seu rosto. Sua mão livre sobre pela minha
barriga, agarrando meu seio. Ele espalma a mão no meu monte puxando.
Ondas de prazer percorrem meu corpo com a velocidade de um foguete.
A língua desce rodeando minha entrada. Kai tem os olhos fechados
aproveitando meu sabor. Eu quero ser capaz de falar, dizer o quanto ele me
enlouquece, mas as palavras se perdem saindo em gemidos altos, explícitos,
revelando todo o prazer que ele arranca de mim.
Completamente presa pelas suas mãos, com as pernas abertas para o
ataque da sua boca. A língua firme ao redor da minha entrada, Kai mexe o
rosto descendo, eu sinto os líquidos me deixando lambuzando seu queixo. Ele
penetra a língua no meu centro, tocando minhas paredes internas. Reviro os
olhos, tremo, aperto sua cabeça contra mim o sufocando com minha vagina.
— Kai! — grito seu nome ao ser atingida em um ponto sensível, ele
puxa o bico do meu seio espalhando dor, mesclando com o prazer. Tenho
tremores nas pernas.
Mexo o pé no piso molhado escorregando. Suas mãos amparam minha
cintura impedindo que eu caia de bunda do chão. A boca me deixa com um
rosnado furioso. Grito ao ser deitada, a água batendo nas minhas costas.
Como um animal, ele abre minhas coxas, os joelhos tocando meus braços.
— Eu nunca mais vou parar de te chupar.
Kai parece um demônio possuído pela luxúria. A língua desenrola
para fora de sua boca, o rosto descendo contra meu centro. A visão erótica
nubla meus sentidos. Arquejo ao ter a intimidade dominada por sua boca
quente. Aperto o ombro do Kai, enfiando minhas unhas em sua carne o
puxando para mim. É esplendido ver um homem grande como ele de joelhos,
a bunda levantada, as costas para baixo, o rosto no meu centro.
Completamente curvado para mim.
Eu me sinto uma rainha com meu súdito mostrando sua devoção,
curvado, atacando meu centro, espalhando prazer percorrendo a ponta do
meu pé, os dedos pressionados, o ventre explodindo em um redemoinho
poderoso de calor. Minha mente nubla ficando livre de qualquer pensamento,
sou jogada em uma nuvem poderosa de latência.
A vagina vibrando feliz ao atingir um clímax esplendoroso. Puxo o ar
com força para os pulmões, sinto que passei anos sem conseguir respirar. Ele
me deixa, levo a mão a testa limpando o suor. Kai sobe beijando meu corpo,
esfregando seu pau na minha pele. O cheiro da minha vagina em seu rosto ao
beijar meus lábios me fazendo sentir o gosto picante da minha intimidade.
— Eu sei que você gozou, mas eu preciso de mais — ele fala sombrio,
esfregando seu membro em mim.
— Eu posso te chupar — ofereço, a ideia de o colocar na minha boca
me enchendo de vontade.
— Agora não — esfrega meus cabelos — preciso de mais da sua
boceta — sua mão esfrega seu pênis na minha entrada, arfo, ele é enorme,
não sei se caberia — eu vou te chupar até você perder os sentidos — morde
meu lóbulo, contraio contra ele, ansiosa, acendendo o fogo novamente.
— Se eu desmaiar, me leva para a cama — é a única coisa que digo,
deixando que ele me tome o quanto quiser.
Kai não responde, ele rosna na minha pele.
A macies do seu membro esfregando a minha entrada. Olho para
baixo vendo a junção do seu corpo ao meu, o pênis grosso apertado
firmemente por seu punho deslizando nas minhas dobras, provando o que ele
anseia.
— Eu me entrego a você — sussurro em seu ouvido — faça comigo o
que desejar.
— Eu vou — beija meu pescoço — respeitar seus desejos. Não vou te
comer no chão do banheiro — beija meu cabelo — você merece mais, minha
boneca.
— Eu to muito excitada para me importar com isso — confesso.
— Quando o tesão diminuir você pode se arrepender ou se questionar
se fez o certo — morde meu ombro — não vamos manchar nossa relação
apressando as coisas — beija minha boca — você sabe que sou
completamente louco por você e meu pau não mente o quanto te quero. Eu
não estou te rejeitando Daisha, estou garantindo que você terá tudo o que
merece. Você é a minha rainha, me tem na palma da sua mão. Me use como
quiser.
— Você tem razão, enquanto tivermos um ao outro não precisamos de
pressa.
— Minha boneca.
O beijo acalma um pouco da euforia. Gemo na sua boca, Kai começa
a mover o quadril esfregando a coluna grossa do pênis no meu centro,
deslizando facilmente com a minha lubrificação jorrando. Envolvo seu
quadril com minhas pernas. Ele rasteja descendo. A boca abocanhando o
máximo que pode do meu peito.
Ele rosna selvagem apertando o seio livre entre os dedos. Esfrego o
quadril contra ele sentindo as novas ondas de prazer chegando. Sua boca suga
com ferocidade meu peito, o pênis esfregando em meu centro. Sensível e
inchada, eu sinto outro orgasmo começando, gemidos escapam sem timidez
da minha boca. As costas deslizando no chão molhado, o som da água
caindo.
Eu deságuo em uma poderosa explosão, um misto de sentimentos e
realização. Minhas pernas caem fracas, os braços que envolviam os ombros
do Kai encontrando a água. Ele desce o rosto mordendo minha pele
vulnerável enfiando-se novamente na minha intimidade. Gemo em um quase
choro ao ter o clítoris atacado novamente.
Não preciso de muito, poucas sugadas do Kai são o suficiente para me
fazer convulsionar contra seu rosto. Ele não diminui a intensidade, eu sinto
meu corpo sendo levado ao limite, quero parar o oral na mesma medida em
que desejo que ele continue. Minha mente começa a ficar dispersa, os
membros perdendo a força.
Caio em um redemoinho preguiçoso, largada, o corpo exausto, o
prazer continua me percorrendo. A carne aumentando a sensibilidade a cada
ataque da sua língua voraz. Não suportando mais, eu desmaio em uma espiral
de prazer sem fim. Nunca pensei que fosse possível desmaiar de prazer, até
alcançar mais de três orgasmos seguidos.
CAPÍTULO 17 KAI

Deixo a Daisha na cama, ela dormiu de exaustão por gozar na minha


boca. O gosto da boceta não sai da minha língua. Limpo o cando dos lábios
observando a perfeição da minha namorada esparramada na cama, os cabelos
molhados no travesseiro bege, os peitos vermelhos pelas chupadas apontando
para cima, a barriga lisinha marcada por minhas mordidas. A boceta
vermelha, inchada por ser lambida e devorada por horas.
Eu quero me enfiar nas suas pernas e esquecer a porra do mundo.
Minha pele coça pelos arranhões abertos, a deixo no quarto indo para o
banheiro. Abro o armário onde guardei pomada para machucados. O piso
completamente ensopado, desligo a torneira da banheira e entro, a água fria
age como um analgésico.
Aperto a base do meu pau, bombeando para cima e para baixo em
movimentos rápidos debaixo da água. O cheiro da boceta da Daisha no meu
nariz, o gosto na boca, é tudo o que eu preciso para conseguir gozar na minha
mão. Nunca bati tanta punheta como nas últimas semanas, a vontade de a
fazer minha duelando com meu desejo dela se entregar a mim.
Poderíamos ter transado hoje, eu mataria meu tesão. Mas não seria o
certo, com ela e comigo. Estamos formando uma relação na base da
confiança e entrega. Daisha ter sua primeira vez em meio ao caos da minha
mente assustada por causa do porão não seria entrega ou confiança, somente
consolo. Não quero fazer isso conosco.
Eu a amo e farei tudo ser perfeito, nos mínimos detalhes.
Levanto da banheira com o sangue fervendo, o tormento de estar
preso no freezer nublando a minha mente. De todas as torturas do Louis, o
freezer é a que mais odeio. Ela me perturba por dias, lembrando a sensação
sufocante, os insetos rastejando na minha pele. A impotência de não
conseguir me libertar, o medo assumindo proporções mais altas conforme o
tempo passa. Sacudo a cabeça tentando me livrar do tormento.
Passo pomada pelo corpo e saio do banheiro. Ouço o toque do meu
celular reservar, o principal deve estar na casa do Louis ainda. Abro a gaveta
pegando o aparelho, o nome do Tyron aparece na tela. Ele é outro herdeiro,
filho do Capo Belarc, em breve deve assumir a posição do pai, assim como o
Black com a do Bonnarro.
— Diga — atendo saindo do quarto para não acordar a Daisha.
— Tenho uma luta para você, hoje às 22 horas. O Víbora voltou e
quer te enfrentar.
— Finalmente o maldito saiu da cadeia — vibro pela adrenalina de
poder lutar novamente. Se não tenho o sexo que preciso, vou esmagar alguns
crânios na arena.
— É de última hora a luta, vou enviar os avisos, as apostas devem
superar a última vez. Você perdeu feio, tem certeza de que está pronto? —
Provoca, Tyron sabe que desejo por uma revanche desde que sai do ringue
com a derrota.
— Eu vou arrancar a cabeça do maldito.
Minha última luta foi uma derrota por causa de um maldito ponto. No
submundo das lutas dos Bianchi existem regras na arena. Não jogamos de
maneira suja para acabar com mortes desenfreadas e trazer atenção negativa
da polícia. É uma luta até o outro ficar inconsciente ou perder por pontos a
cada round.
O Tyron assumiu a liderança das arenas trazendo mais sangue e
carnificina, lutamos de mãos limpas, arrancamos sangue sem sermos punidos,
a única coisa que não podemos fazer é matar o adversário em 10 rounds, cada
round o vencedor ganha 10 pontos e o perdedor somente 9, no final do 10º
round se não acontecer um nocaute vence quem tem mais pontos.
A atração trazida pelas lutas nos tornaram a arena mais famosa do
submundo. Apostas acontecem nos mais altos níveis, pessoas importantes
assistem às lutas, na deep web temos o recorde de audiência com a venda dos
acessos às filmagens. Lutadores do MMA, UFC e diversas arenas
clandestinas frequentam nosso ringue com sangue nos olhos, muitas
revanches oficiais são travadas por debaixo dos panos trazendo mais
violência.
Estou no topo dos melhores lutadores.
Eu era o número um até perder para o Víbora, o infeliz foi preso por
ser pego traficando anabolizantes proibidos. Hoje terei a minha revanche e
vou pegar de volta meu lugar no topo. Do quarteto eu sou o lutador, Michael,
Daniel e o Black às vezes entram no ringue somente para se divertirem. Eles
não são como eu, não precisam da adrenalina de uma luta para limpar a
escuridão da mente.
— Luta confirmada, vou torcer pela sua derrota, eu ganho mais
quando o favorito perde — ele rir sarcástico.
— Aposte toda a sua grana no Víbora, vou te falir.
— Envio a grana pelos seus homens, como sempre fazemos?
— Não, pode depositar na minha conta.
Antigamente, o Louis monitorava minhas contas bancárias para ter
certeza de que eu não estava fazendo nada sem ele saber. O dinheiro das lutas
sempre era entregue aos meus homens de confianças e levados para um cofre
secreto em Las Vegas, Black cuidava da segurança do dinheiro para mim.
Tenho de ligar para o Simon e pedir que ele bloquei todo o acesso a minha
vida que o Louis tinha.
Serei eu a monitorar ele a partir de agora.
— Certo — responde.
Desligo e mando uma mensagem para o Simon, o chefe da nossa
divisão de tecnologia e maior hacker dos Estados Unidos, ele é primo do
Tyron, pertence à família dos Belarc. Digito as instruções sobre as minhas
contas e outros aspectos da minha vida que o Louis monitorava. Estive
perdido no encanto de ficar sozinho com a Daisha que esqueci
completamente de desligar o acesso do Louis a mim.
Ele nunca mais poderá acessar a localização dos meus rastreadores,
monitorar minhas contas bancárias, emitir ordens para meus homens através
do sistema de comunicação. Estou cortando tudo dele, inclusive o rastreio da
Josephine e da Rebeca, sou eu quem vai ficar de olho nelas e no Louis e
Eleanor. Eles não farão nada sem a minha permissão.
A campainha toca, ando pelo corredor para atender a porta, na escada
sinto um vento bater no meu pau e lembro que estou pelado. Retorno, no
quarto cubro a Daisha com um lençol, visto uma camisa e calça e vou descer
as escadas. Encontro a Rebeca na sala de estar com uma maleta de primeiros
socorros e preocupada.
— Você está bem? — vem a mim com cuidado analisando meu corpo
— seus braços estão horríveis, deixa eu fazer um curativo — puxa a palma da
minha mão.
— Eu passei pomada — sento ao seu lado deixando ela abrir a caixa e
pega um vidro branco.
— Não é o suficiente, vai deixar cicatrizes — espalha o conteúdo
branco gosmento pelos meus braços — eu vou cuidar de você, como sempre
fizemos — me encara preocupada, o lábio treme com o choro contido. —
Você me expulsou — acusa a voz rouca.
— Desculpe — estendo a mão livre limpando o rastro de lágrimas na
sua bochecha.
— Josephine ficou me segurando como se eu fosse um animal — as
pupilas dilatam, os olhos marejados — eu só queria te proteger — me encara
e meu coração aperta ao ver a dor em seu rosto — eu entendo que você está
casado, mas não me expulsa, Kai. Eu só tenho você.
Arrependo-me de a deixado de lado, passei a vida sendo cuidado pela
Rebeca, deixando que ela tivesse o papel de me trazer de volta, me apoiando
nela como uma escora para não desabar. Envolvo seu ombro com um braço a
puxando para mim, a garganta trava por saber que a magoei.
— Desculpe — beijo sua testa — não vai mais acontecer. Essa foi a
última vez que o Louis me machucou, você não precisa mais sofrer por mim.
— Não — ela aperta minha camisa enfiando o rosto no meu peito —
eu não posso ficar longe de você. Esses dias sem você naquela casa foram um
inferno, por favor, Kai não me abandona — treme nos meus braços chorando.
— Ei — seguro seu rosto a encarando com carinho — eu nunca vou
deixar você — beijo sua bochecha — você é a minha menininha, sempre vou
estar aqui por você.
— Deixa eu morar com você! — Pede se aproximando mais, subindo
as pernas no meu colo, o corpo grudando a mim. Rebeca sempre foi carente
de atenção, eu temia como ela reagiria ao ficar sem mim.
Se ao menos ela e a Josephine se dessem bem, uma poderia cuidar da
outra na minha ausência. Não sei como estão os ânimos entre elas, mas por
hora nenhuma nova briga foi relatada, com exceção de quando a Hope
impediu a Rebeca de segurar o Ethan.
— Não posso, Beca — encosto a testa no seu ombro a abraçando —
eu estou casado, tenho de viver com a minha esposa e filhos quando eles
nascerem.
— Mas e eu? — o soluço parte meu coração — vou ficar sozinha
naquela maldita casa?
— São as regras — a encaro, o rosto de porcelana vermelho e úmido.
A tristeza em suas feições parte meu coração. Eu queria ser capaz de
trazer as meninas para ficarem comigo, mas não posso. As regras da
organização não permitiriam.
A única coisa que sou capaz de realizar por elas é arranjar bons
casamentos e fazer o Louis permitir a união. Em breve, Black vai pedir a
Josephine em casamento na frente da famiglia, a Rebeca possui muitos
pretendentes, não parei para analisar nenhum deles ainda, sinto que o
momento chegou.
— Você é o subchefe, pode mudar elas — pede fazendo bico.
— Algumas não — aliso suas costas a confortando — você gosta de
alguém?
— Como assim? — sua expressão muda, assumindo um tom
assustado.
— A única forma de você não ficar sozinha é casando. Logo você
completa 20 anos, se tiver alguém que você gosta eu posso te unir com essa
pessoa.
— NÃO! — Ela grita pulando do meu colo — você não vai me casar
com um desconhecido!
Rebeca enfurece, aperta os punhos endurecendo as feições. Anda para
trás tomando distância de mim. Levanto, com a guarda baixa tentando chegar
até ela.
— Não é o meu desejo, Beca. — Levo a mão a testa — eu quero que
você case por amor, você vai iniciar a faculdade em menos de um mês, terá a
chance de viver novas experiências, conhecer outras pessoas.
— Cala a boca! — aperta os lábios irritada — você é o único homem
que eu aceito ao meu lado. Não vou me casar!
— Rebeca, eu sou seu irmão! — Explodo, a forma como ela falou me
assusta — nunca poderia cumprir as obrigações de um marido — franzo o
nariz, nojo me invadindo.
— O quê? Eu não — sacode a cabeça perdida — não foi o que eu quis
dizer — vem a mim segurando minhas mãos — eu não quero me casar Kai,
não desejo um parceiro na minha vida — sacode a cabeça retornando o choro
— sexo, filhos, eu não preciso de nada disso. Somente do seu carinho, é a
única coisa a me fazer feliz.
— Eu sempre vou te amar — aliso o topo de sua cabeça — você
sempre será a minha irmãzinha, a menininha que criei como uma filha —
beijo seus cabelos — mas eu não posso ser mais, Beca. Você precisa de um
parceiro ao seu lado, conhecer o amor entre um homem e uma mulher, ter sua
família, ser feliz.
— Você a ama? — a dor em sua voz espeta meu coração. — Vai me
trocar por ela? — Bate o punho no meu peito — você prometeu nunca me
deixar, disse que sempre estaríamos juntos. MENTIROSO! — Grita socando
meu peito em meio ao seu pranto.
Deixo descarregar sua raiva. Rebeca cai de joelhos chorando
copiosamente. Eu não sei o que fazer para a consolar. Não consigo chegar a
ela e a fazer percebe que eu nunca a abandonaria. Ela sempre será a minha
princesa, minha irmãzinha querida. Abraço suas costas acolhendo seu pranto
no meu peito. Os minutos se passam, o choro se transforma em fungadas
baixinhas.
— Eu amo você — digo baixinho no seu ouvido — isso nunca vai
mudar.
— Eu te amo muito, Kai. Você é tudo para mim — responde rouca.
— Esqueça o que falei sobre casamento, você não precisa fazer o que
não quer.
— Certo.
Continuamos sentados na sala, aliso suas costas esperando espantar a
dor e tristeza do seu peito. Machucar minhas irmãs dói na minha alma. As
brigas que tive com a Josephine ao longo dos anos foram me tornando
alguém malvado, insensível, não conseguia me importar com nada e
ninguém. Não ligava se minhas palavras machucavam outras pessoas e hoje
percebo que agi errado.
Tenho uma longa listas de pessoas para pedir desculpas. Começando
pelas minhas irmãs. Puxo o celular, por cima da cabeça da Rebeca, envio
uma mensagem ao Black informando sobre a luta e perguntando se ele pode
levar a Josephine.
Sei que a Daisha vai querer ir quando souber, preciso de alguém de
olho nela enquanto estou no ringue. Meu amigo vai dar conta do recado e ter
a Josephine com a Daisha pode ser bom para minha esposa. Hope cuidando
do Ethan nunca concordaria em ir e o Michael não permitiria, Daniel
arrancaria meu braço por querer sua esposa gravida no meio da violência da
arena.
Black concorda, sei que ele tem se esforçado para aceitar a minha
irmã. Talvez um pouco de convivência ajude os dois a se darem bem. Ainda
espero uma oportunidade para conversar com ele e descobrir quem é a moça
por quem ele é apaixonado. Se o sentimento ainda existe em seu peito.
Pode fazer pouco tempo que admiti para mim mesmo amar a Daisha e
hoje recebi um pedaço da sua primeira confissão. Não consigo imaginar a
dificuldade e sofrimento que seria ficar longe da minha boneca e ser obrigado
a casar com alguém que eu não amo.
Preciso fazer com que Josephine e Black se tornem ao menos amigos,
abrir um espaço para o amor em seu casamento. Minha irmã já sofreu demais
por minha causa, Black pode ser como um irmão para mim, mas não vou
permitir que ele a machuque. Fico aliviado em ver como ele tem concordado
em ficar perto dela, ainda precisamos ter uma conversa, mas por hora vou
continuar juntando eles.
Black vai perceber, assim como eu fiz, que a Josephine não é uma
vadia louca. Somente meio doida, essa parte eu não posso negar. Minha irmã
tem um gene do cão.
— Boa tarde — a voz da minha esposa soa atrás de mim, não a
percebi chegando.
— Oi Boneca — inclino a cabeça para trás, amando a ver usando
minha camisa de treino, fica um vestido nela.
— Acho que eu já vou — Rebeca fala levantando.
— Não quer ficar para o jantar? — pergunto.
— Melhor eu ir — limpa o rosto. Se inclina ajuntando as coisas no
sofá, ela pega um celular na maleta e percebo que é o meu, minha carteira e
relógio — você deixou essas coisas em casa.
— Obrigado por trazer, quer que eu te leve?
— Não, vou andando, pegar um ar — sorri triste — até mais, Kai.
— Tchau Beca — a abraço apertado.
— Adeus — Daisha ergue a mão em um aceno murcho, franzo a
sobrancelha vendo a frieza destinada a minha irmã mais nova.
Rebeca não a responde, passa pela Daisha como se minha esposa não
existisse. Machuca ver ambas se tratando com frieza, coço a cabeça sem
saber se devo falar algo com a Daisha ou não. Ela se dá bem com a Josephine
e pode ter sido influenciada pela amiga a não gostar da Rebeca. No momento,
não estou com cabeça para dramas de garotas.
— Você fica linda com minha camisa — seguro sua cintura a puxando
para mim.
— Eu realmente apaguei exausta no meio de um boquete? —
pergunta, a sobrancelha franzida, o nariz encolhido, a coisa mais linda do
universo.
— Sou o mestre do boquete, nocauteei a minha esposa gostosa —
envolvo sua bunda com a palma da mão a puxando para mim. Grudo sua
bocetinha no meu cacete ao me agachar — foram as horas mais prazerosas da
minha vida!
— Exagerado — revira os olhinhos azuis como diamantes. — Você
não passou horas me chupando — inclina a cabeça de lado.
— Duas horas, sendo mais preciso — falo seriamente.
— Impossível!
— Totalmente verdade, estou até com o maxilar doendo — toco meu
queixo — você ficava acordando e apagando, gemendo baixinho,
completamente entregue e largada na minha boca — desenrolo a língua para
fora movimentando para cima e baixo.
— Se isso for verdade, faz sentido a dormência na minha vagina.
— Você fica uma graça falando vagina — sento a trazendo para meu
colo, a bocetinha em cima do meu cacete aceso.
— Não é assim que chama a intimidade de uma mulher? — franze a
testa, rebolando o quadril contra meu pau.
— Sim, mas boceta é mais erótico — dou um selinho nela.
— Para mim é um termo rude.
— E como você chama meu pau? — não consigo deixar de sorrir com
sua fofura.
— Pênis — a palavra enrola na sua boca gostosa.
— Pau — sopro no seu rosto — repete comigo Daisha, pau e boceta.
— Não vou fazer isso! — Fica vermelha como um pimentão — deixo
você o responsável pelo linguajar chulo do nosso relacionamento.
— Falando em relacionamento — seguro seus braços a trazendo mais
perto, nossos peitos grudados, os narizes deslizando um pelo outro — o que
você quis dizer quando falou que roubei seu coração? — pergunto ansioso
para ouvir uma declaração.
— Você é um ladrão descarado — fecha os olhos — tudo que eu
sempre quis foi viver livre do mundo da máfia — puxa minha nuca
encarando meus olhos — mas você me faz querer continuar aqui, ao seu lado.
— Diz que me ama — peço.
— Não — sacode a cabeça — e te proíbo de falar, é cedo demais.
— Para você, para mim eu sei que sou loco por você há anos.
— Custava ter demonstrado ao menos um pouquinho? — percebo a
mágoa em sua voz — era horrível me sentir indesejada por você.
— O Louis dificultou de todas as formas a nossa união de casamento,
se ele tivesse percebido que eu te queria, eu tenho certeza de que ele iria nos
afastar. Me desculpa por te fazer se sentir indesejada, mas eu não podia
arriscar. Eu te desejo com fervor, te perder não era uma opção.
— Você nem falava comigo — sussurra baixinho.
— Eu não tinha controle o suficiente para me manter neutro se você
me desse atenção. Ia fica como um cachorro marcando território.
— Você se envolvia com outras mulheres — acusa magoada.
— Era só sexo.
— Tem certeza? — Ela pergunta em uma mescla de raiva com tristeza
— eu lembro que você teve um caso com a prima da Emily.
— Eu não tive um caso com ela — reviro os olhos, essa história me
perseguiu por anos — a Patricia e a Rebeca eram amigas, ela vivia na minha
casa e tinha uma paixão por mim. Quando a Rebeca descobriu a expulsou da
nossa casa e os boatos começaram. O pai dela fez pressão no Louis para que
eu casasse com ela. O Louis não aceitou, os boatos pioraram e o pai dela
querendo abafar o caso a casou com um italiano.
— Você piscou para ela no noivado da Emily!
— Aquela mulher me deu muitos problemas, eu nunca pescaria para
ela. O que você viu foi eu me comunicando com o marido dela, uma piscada
significa que tudo está bem e sem problemas nos nossos tratos por debaixo
dos panos. Eu tenho negócios com os italianos que o Louis não conhece, é
difícil me comunicar com eles sem chamar a atenção.
— Que negócios? — sua fúria desaparece por completo.
— Estou vendendo casas para eles em Nova Iorque, que serão usadas
para esconder uma pequena fortuna que não pode ficar na Itália. É comum a
venda de imóveis para guardar algum bem precioso das organizações longe
das garras do governo.
— Entendi, mas não te quero perto dela.
— Seu desejo é uma ordem — mordo seu queixo.
— Se sente melhor? — alisa minha orelha.
— Um pouco — beijo sua mandíbula — tenho uma luta hoje a noite.
Vou expurgar todos os demônios, quer assistir?
— Vai ser muito sangrento? — me encara animada.
— Para cacete, uma revanche contra o Víbora, meu arque inimigo no
ringue.
— Eu quero ir — sorri excitada.
— Black vai tomar conta de você enquanto estou lutando — oculto a
parte da Josephine, vou fazer surpresa — não saia de perto dele.
— A Phine ia adorar assistir à luta ao lado do Black. Eu tenho
suspeitas de que ela torceria pelo Víbora.
Gargalho contra seu pescoço.
— Ela com certeza vai chamar o nome dele esperando que eu saia
arrebentado.
— Qual nome eu devo gritar? — pergunta espertinha — Víbora ou?
— Cérbero, é a única palavra a deixar sua boca linda — esfrego seu
lábio com meu polegar.
— Por que esse nome? — vejo a excitação nublando seus olhos.
— Cérbero é o cão de três cabeças, um monstro indomável, como eu.
Suas três cabeças representa passado, presente e futuro. O passado que desejo
superar, o presente que anseio mudar e o futuro que busco alcançar. Eu disse
aos caras que escolhi Cérbero como meu codinome no quarteto monstro por
que com três cabeças, eu seria triplamente letal. Só você sabe a verdade por
trás.
— Combina com você — encosta os lábios nos meus — serei a pessoa
a gritar mais alto por você.
A escuridão exigindo sangue dá passagem pela animação de ver a
Daisha torcendo por mim.
CAPÍTULO 18 DAISHA

Gosto do Kai me convidar para assistir a um de suas lutas. Continuo


achando o mundo da máfia um lugar cruel e sangrento, odeio como a
escuridão permanece rodeando seus olhos, mesmo após horas seguro em
casa. Da cozinha eu posso ouvir o som dele treinando na academia no
segundo andar. O saco de pancadas sendo acertado diversas vezes.
Kai me faz ter esperança. Acreditar sermos capazes de mudar as
tradições e acabar com os ciclos de ódio. O Ethan crescerá em um lar
amoroso, Daniel fará o mesmo por seu bebê. Nós também seriamos capazes
de construir uma família longe da escuridão do mundo em que nascemos?
A pequena semente foi plantada na minha mente, ela me assusta, me
faz querer fugir para longe e também me dá forças para descobrir se somos
capazes de mudar e fazer algo de bom nesse mundo sombrio.
Estou tentada a subir e o provocar, a sensibilidade na vagina não me
permitindo esquecer a loucura feita no banheiro de tarde.
Ainda não acredito que ele passou duas horas me chupando, eu
lembro de acordar em chamas, gemer, enlouquecer e dormir novamente.
Sentia meu corpo escaldante, cada segundo aumentando meu tormento e
prazer proibido.
— Senhora Lucian, qual o cardápio você deseja para a janta? — A
governanta Teresa me chama. A mulher tem uns 47 anos, é casada com o
chefe de segurança do Kai, o Robert, e possuem dois filhos homens.
— Teresa — cutuco a ponta das unhas, encarando a mulher — você
gosta da sua vida?
— Sim, senhora Lucian — se aproxima de mim, segurando minha
mão — antes de vir para cá eu trabalhava como cozinheira auxiliar na
residência do ex-subchefe — sua vista baixa, quase com medo — o menino
Kai não é como o pai dele, você está segura — aperta a minha mão — todos
estamos.
— O Louis já te machucou? — pergunto com cuidado, apertando seus
dedos aos meus.
— Não senhora, ele não dedicava seu tempo as empregadas, é um
homem cruel, fazia o filho e as filhas sofrerem, judiou tanto da esposa que ela
se transformou em um monstro como ele. — Sacode a cabeça — esses dias
acabaram, meus meninos estão em uma posição na organização e eu estou
aqui, vendo a paixão de vocês — sorri doce.
— Nos acha apaixonados? — minhas bochechas ficam rubras, não
imaginei que eu me expusesse tanto com o Kai.
— Com certeza, dá para perceber no olhar. Nunca vi o menino Kai tão
feliz.
— E seu filhos, são felizes?
Mudo de assunto, meus sentimentos pelo Kai é algo que tenho de
resolver comigo mesma, antes de contar a outra pessoa ou o ser capaz de me
declarar para ele. Nunca fui boa em expressar como me sinto e isso parece
que não mudou com o casamento ou namoro.
— Você conhece um, o Paolo faz parte da sua segurança, o rapaz de
cabelos castanho e olhos pretos, ele tem uma cicatriz no queixo. Uma queda,
quando era criança, me deu um susto enorme.
— Lembro dele, está sempre perto do Brandon.
— Isso! Meu outro rapaz trabalha no centro de tecnologia com o
senhor Belarc, ele se formou na faculdade e foi direto para lá. O Nethan
Belarc percebeu o potencial do meu menino quando o Pedro estava no ensino
médio, pagou a faculdade dele e o colocou aos cuidados do senhor Simon
Belarc.
— Se você pudesse, trocaria a vida que tem por outra? — acho que é a
única coisa que desejo saber da conversa. Teresa não é como eu.
— Não — sorri — se eu trocasse nunca teria conhecido o Robert, meu
marido entrou para os Bianchi ao sair dos fuzileiros, eu já trabalhava na casa
dos Lucian, foi como nos conhecemos. Apaixonamos, tivemos nossos filhos e
hoje quando o turno dele acabar voltaremos para casa, dormiremos abraçados
e amanhã começaremos um novo dia.
— Nunca quis algo a mais do que a máfia?
— Aqui dentro eu estou protegida, senhora Lucian. O mundo lá fora
pode ser um lugar bastante perigoso, homens como o seu marido e o meu
existem aos montes, assim como pessoas piores do que eles.
— Você tem razão. — Levanto, precisando absorver o significado
dessa conversa.
Eu nunca tinha pensado nas coisas ruins que podem existir fora dos
muros do complexo. Sempre observei as pessoas do outro lado como gente
comum, sem preocupações e a marca de medo e ódio permeando nosso
mundo. Teresa tem razão, existem muitos homens como o Kai e meu irmão
do lado de fora e pessoas piores.
Abro a geladeira buscando uma distração. Sou surpreendida ao
encontrar três tipos diferentes de bolos e muitas sobremesas.
— Teresa, por que todos esses doces? Onde estão os outros
alimentos?
— Movi para a geladeira do lado, o senhor Lucian pediu que eu nunca
deixasse faltar sobremesas e doses nessa geladeira — fica ao meu lado — não
sei como ele dará conta de comer tudo.
— O Kai não gosta de doces, são para mim — Abismada me abaixo
partindo uma fatia do bolo de chocolate, a pego nas mãos.
— Um marido que não se incomoda da esposa engordar, isso eu nunca
vi — leva a mão a bochecha.
— Quer um pedaço? — ofereço.
— Oh não, obrigada.
— Pode pegar, não vou dar conta de comer tudo, pode comer sempre
que quiser.
Dou as costas a ela subindo animada as escadas. Eu não sei o tipo de
vida que teria se fosse uma pessoa comum, mas como a namorada do
subchefe da Máfia Bianchi, eu ganhei a liberdade de comer uma geladeira de
doces sempre que eu quiser. O sorriso atravessa meu rosto, doendo as
bochechas e se expandindo a cada passo que dou em direção à sala de
treinamento.
A música de rock pesado do Kai alcança meus ouvidos, a porta aberta,
o som dos socos contra o saco de areia. Entro vendo suas costas suadas, os
músculos contraindo conforme ele bate no material pesado revestindo o saco
de pancadas.
Através do espelho nossos olhares se encontram. Deslizo pela parede,
sentando de pernas abertas, o deixando ver minha vagina coberta pela fina
calcinha de renda. Levo a fatia de bolo a boca, fecho as pálpebras me
deliciando com o gosto do chocolate, amargo, macio, derretendo na minha
língua. Gemo engolindo outra fatia com deleite.
— Boneca, o que está fazendo? — ouço sua voz se aproximando.
— Aproveitando o bolo, quer um pedaço? — ofereço, esticando a mão
para ele.
— Passa ele na sua boceta que aceito.
Lambo os lábios ao ver a visão esplendorosa do Kai parado a minha
frente. O corpo banhado por suor, a pele meio vermelha, o calção de tecido
fino pendurado em sua cintura. Percorro o olhar por seus pés, os dedos
grossos, o calcanhar áspero.
A panturrilha musculosa, marcada por queimaduras e pequenos cortes.
O joelho um tom mais escuro, a coxa enorme, maior do que a minha cabeça,
escondida pelo calção de luta preto com uma tira vermelha. Eu vejo o volume
esplendoroso do seu pau, puxado para o lado, grosso, quase rasgando o tecido
para ser meu.
O V da pélvis saindo do calção marcado por veias grossas subindo
para os gominhos em seu abdômen sarado. Não consigo acreditar que ele tem
12 músculos definidos na região, 8 fazendo um perfeito tanquinho na vertical
e 2 em cada lado perto das costelas. Eu achava que somente atores de cinema
eram definidos assim.
O peitoral firme, duro e macio, os mamilos um rosado escuro, os pelos
cobrindo ao redor. Clavícula forte e ombros largos, braços molhados de suor,
músculos por todas as partes. Admirar o Kai é um teste de autocontrole, meu
bolo foi esquecido ao ver a gostosura do meu namorado pingando de suor
parado na minha frente.
Fico de joelhos, engulo o resto da fatia limpando os dedos na boca,
chupando provocante. Kai contrai o maxilar, se ajoelha na minha frente,
agarra meu queixo. Com velocidade ele me deita no tatame, grito ao ser
atacada por sua boca exigente.
Abro as pernas puxando seu centro ao encontro do meu, rodeando seu
quadril, espalmo sua bunda durinha puxando o tecido, rebolando contra a
grossura do seu pênis.
— Está com fome minha gatinha? — ele pergunta rouco puxando a
carne do meu lábio.
— Muita — murmuro esfregando como louca nele.
— Quer umas lambidas, gatinha? — desce a mão tocando meu centro
— ou umas dedadas?
— Eu quero seu pau — delirando de vontade, a palavra obscena
escapa dos meus lábios — por favor.
— Hoje não, boneca — encosta nossas testas — ainda não me sinto
bem o suficiente para a nossa primeira vez.
— Por favor — imploro — eu quero muito você — resvalo seu
membro, fechando os olhos ao sentir pontadas de prazer, a necessidade
implorando para ser atendida.
Kai puxa o tecido da minha calcinha, seus dedos deslizam no molhado
da minha intimidade. Arfo ao ser preenchida por dois, mordo seu queixo,
gemendo excitada, rebolando o quadril, precisando dele mais fundo. Enfio a
mão no short agarrando a grossura, puxo para fora da cueca, baixo a vista
queimando ao ver o quanto ele me deseja.
Os dedos ágeis reviram meu clítoris, encaro seu rosto percebendo o
sofrimento dele por não poder transar. Eu quero acabar com a sua agonia.
Firmo os pés no chão, ergo o quadril apontando seu membro na minha
entrada. Kai cai para trás, sua cabeça bate em um som surdo no chão, ele
fecha os olhos com força.
— Não faça isso — pede em sofrimento.
— Você quer — eu digo subindo em cima dele, esfregando a cabeça
de seu membro nas minhas dobras — e eu te quero tanto, Kai. — Murmuro
em agonia, precisando acalmar o calor no meu centro.
— Não assim — sua mão deixa meu interior, envolvendo a minha ao
nos girar ficando por cima — eu gosto muito de você, Daisha — franze a
sobrancelha — e acaba comigo não podermos fazer sexo agora, mas não é
assim que deve ser. Não foi por isso que baixamos nossas defesas e estamos
permitindo um entrar na vida do outro, confiando, vivendo a paixão. Eu não
quero sexo por consolação, eu desejo fazer amor com a minha mulher.
Suas palavras me machucam e acalentam na mesma proporção. Se não
fosse pelo maldito do Louis, não existiriam motivos para manter o Kai longe
de mim. Aceno em positivo, triste comigo por estar forçando algo do meu
marido quando ele não se sente pronto.
— Me perdoa, boneca — beija minha bochecha.
— Não existe nada para ser perdoado.
Solto seu pênis, beijo seus lábios com ternura. Kai nos gira me
deixando por baixo prolongando nosso momento. Ele se ergue me puxando
consigo, envolve seus braços ao meu redor me abraçando por trás. Beija meu
ombro delicadamente e eu me odeio mais por o estar ferindo. Fui egoísta,
pensamento somente em mim e na possibilidade do sexo o trazer de volta.
Não é disso que o Kai precisa.
Ele teve paciência para espertar por mim, eu posso fazer o mesmo por
ele.
Giro envolvendo seu pescoço, beijo a pele áspera com gosto salgado.
— Só precisamos passar pelo dia de hoje, certo?
— Sim, boneca. Após a luta eu volto ao normal.
— Conta para mim como você se sente?
— Medo e fúria, eu fico tendo lapsos de estar no freezer gritando sem
conseguir ser ouvido. Sofrendo esperando ser salvo. Fazer sexo e lutar é a
forma que encontrei para tirar minha mente do tormento. Eu descarrego com
fúria na outra pessoa o que me consome por dentro. É a sua primeira vez,
Daisha — segura meu queixo me encarando com carinho — eu iria me culpar
para sempre por agir como um animal. Eu quero te tocar com carinho,
ternura, te fazer lembrar desse momento com amor. Não triste ou se sentindo
usada.
— Você sempre me coloca em primeiro lugar — constato baixinho,
Kai faz eu me apaixonar até nos momentos em que tento o consolar.
— Para mim só existe você no universo, boneca — sela nossos lábios
em um beijo demorado.
Consigo entender como a Teresa se sente em relação ao Robert.
Se eu não tivesse nascido no mundo cruel e sangrento da máfia, eu
nunca poderia conhecer o doce amor do Kai. Ele me protege mesmo quando
se fere, eu sou a sua maior prioridade, é por mim que ele come doces que
odeia, me deixa caminhar livremente sem os seguranças, mesmo que eu
acabe me machucando por estar sozinha.
Kai me deixa escolher e usando do meu direito eu decido amá-lo.
— Vou te deixar treinar — digo, controlando as emoções, prendendo
as palavras para não o assustar. No momento certo as direi.
— Saímos às 21 horas, use o que quiser — aperta minha bunda — que
dê para andarmos na moto.
— Vou escolher minha roupa mais sexy — beijo a ponta do seu nariz.
— Se fizer isso, terei de encerrar a luta em um segundo para te trazer
de volta para casa.
— Gostei da ideia — sorrio — até mais tarde.
Planto um beijo nos seus lábios, saio da academia o deixando treinar.
Desço informando a Teresa o cardápio do jantar e subo para me arrumar sem
pressa. Tomo um banho demora, depois faço minha maquiagem e arrumo
meu cabelo. No closet decido o que vestir.
Entre as novas roupas compradas optei pela calça jeans escuro rasgada
nos joelhos e canelas. Uma regata curtinha expondo meu umbigo, mexo entre
as roupas no cabideiro encontrando uma jaqueta de couro do Kai. A visto
gostando como fica enorme no meu corpo.
Através do espelho o vejo entrando sorrateiro no closet. Pingando de
suor, sombrio. A dor tomando seu rosto, a ferocidade exigindo liberdade. Kai
age como um cachorro perigoso, do tipo que você precisa manter distância se
quiser continuar viva. Ele para atrás de mim, cheira meu pescoço com força,
causando arrepios na minha pele.
Rodeia meu quadril com as mãos grossas puxando contra si, o pênis
batendo duro na minha bunda. Ele curva os ombros colando nossos corpos, o
vejo separando os lábios, expondo os caninos afiados envolvendo minha pele
frágil. Seus dentes cravam na minha carne, contrário com uma cachoeira
deixando minha intimidade.
Estou sendo marcada.
Inferno, eu gosto.
— Ah! — grito com a intensidade da mordida — porra, Kai — cravo
as unhas em suas mãos contraindo a pélvis, latejando de vontade.
Ele suga forte, tomando para si um pedaço meu. Admiro nossa
imagem no espelho, o prazer dominando minhas feições. Bato os olhos,
encaro o teto, a tensão no meu centro nervoso precisando ser atendida.
Agarro sua mão a enfiando entre minhas pernas, esfregando contra seus
dedos, ele me aperta, torturando minha intimidade.
Solta a carne do pescoço com um “ploc” alto, os olhos fechados, o
nariz cheirando meus cabelos. Um animal dando tudo de si para não perder o
resto de controle.
— Prenda o cabelo no alto. Eu quero todos naquela arena sabendo que
você pertence ao Cérbero, vai usar a minha jaqueta, chamar por meu nome e
quando voltarmos vou me enfiar na sua boceta até perder a maldita
consciência.
— Sim, Cérbero — enrolo as palavras na linguá sedutora, o azul das
minhas íris nunca estiveram tão vibrantes.
— Minha gata — bate na minha bunda. — Te encontro na sala de
jantar, vou tomar um banho.
— Certo — respondo recuperando o fôlego.
Ele se afasta, cambaleio para o espelho. Bato a testa no vidro, encaro
meu reflexo banhado em luxúria, o corpo em chamas precisando ser satisfeito
pelo meu namorado selvagem. O Kai envolto por sombras e brutalidade mexe
com meu ventre, faz minha vagina coçar querendo ser devorada. Inferno, não
vou aguentar se ele inventar de só querer fazer amor delicado.
Eu quero o maldito caos que podemos causar em uma cama!
Sorrio sentindo a insanidade tomando conta de mim. Prendo o cabelo
no alto da cabeça em um coque folgado para conseguir usar o capacete, meu
pescoço exposto com uma mordida roxa. O círculo preenchido, a marca dos
dentes dele. Respiro fundo tentando controlar o maldito tesão corroendo meu
corpo. Eu achava incapaz amar e desejar o Kai, agora estou fervilhando em
expectativa para ser dele.
Desço as escadas aos pulos, sento na mesa de jantar. Teresa coloca os
pratos com ajuda de mais três mulheres responsáveis por cuidarem da casa. A
esposa do Brandon com as duas filhas, uma de 17 anos e a outra com 19
anos. Michael reformulou algumas equipes de segurança para os homens
poderem ficar perto de suas famílias.
— Espero que esteja bom — Teresa diz — tive somente duas horas
para preparar tudo.
— O cheiro é maravilhoso, estou ansiosa para provar.
— Tenha uma boa noite senhora, ao finalizar a refeição vou retirar os
pratos, lavar a louça e iremos para nossas casas. Vou deixar comida pronta na
geladeira caso precise.
— Obrigada Teresa e meninas.
— Acho que sua dúvida de mais cedo sumiu — Teresa fala baixinho
ao ficarmos sozinhas.
— Talvez — sorrio.
Passos pesados soam, ela vai embora e meu marido entra. Levanto da
cadeira, Kai sorri vendo a comida japonesa na nossa mesa. Ele comentou que
gostava durante a lua de mel e queria o fazer feliz, como ele me faz com os
doces. Ele senta na sua cadeira, bate na coxa. Levanto sentando no seu colo.
Sorrimos um para o outro jantamos.
Meu namorado cheira a sabonete e shampoo, loção de barbear e seu
perfume amadeirado. Os cabelos rebeldes molhados, a jaqueta de couro
idêntica à minha, uma camisa preta de malha por baixo, calça jeans e botas
militares. Somente seu olhar carregado em sombras que me deixa inquieta,
como se o passar do tempo sem liberar as trevas estivesse o consumindo por
dentro.
Terminamos de comer e seguimos para a garagem. Kai sobe na
enorme moto, estende a mão para mim, apoio o pé no local apropriado,
agarro seu ombro, forço para cima passando a perna na cela, sento com o
peito encostado nas costas do Kai. Ele me entrega o capacete, coloco
fechando a viseira.
— Segure na minha cintura e mantenha os joelhos para dentro —
segura minha coxa a firmando a sua lateral — não tenha medo de se
machucar, nunca permitiria algo acontecer com você.
— Eu sei, confio em você — me agarro mais forte a ele.
Kai segura o guidão, dá a partida na moto, o motor roncando alto. O
portão abre, os carros dos seguranças saem na frente, seguimos para fora
seguidos por outro veículo de proteção. A moto ganha velocidade, o frio da
noite se infiltrando pelas mangas largas da jaqueta. Tento agarrar meus
pulsos, Kai tem o tronco largo, dificuldade o abraçar completamente.
As luzes da cidade brilham ao nosso redor, a cacofonia das pessoas
chegando aos meus ouvidos. Sorrio feliz deitando a cabeça protegida pelo
capacete nas costas do meu namorado, aproveitando os segundos de liberdade
ao nos movermos pelo trânsito. Kai dirige com tranquilidade, se tornando um
só com sua máquina.
Consigo entender como a liberdade acontece para ele em cima de uma
moto. Sinto que podemos ir a qualquer lugar, nos misturando no trânsito, com
pessoas comuns em seus veículos. Adentramos uma parte menos
movimentada da cidade, as luzes dos postes iluminando com as lâmpadas
acesas das casas. Vejo crianças brincando nas calçadas, mulheres
conversando com as vizinhas.
Continuamos na região nos infiltrando em suas partes sombrias,
prédios altos e sem cor, as sombras da noite dominando o ambiente. Vejo o
carro de proteção entrando em um prédio, Kai o segue, a garagem tem uma
iluminação azulada e meio assustadora. Seguro nos ombros do meu
namorado para descer da moto, tiro o capacete deixando ao lado do dele no
banco. Arfo, ao perceber o olhar pesado em seu rosto.
— Gostou do passeio?
— Muito — envolvo os braços ao redor do seu pescoço o fazendo se
agachar. — Destrói o Víbora, Cérbero. — Mordo seu lábio, trazendo linhas
de excitação a sua feição.
— Vou deixar ele em pedaços e dedicar a vitória a minha gata
selvagem!
— Daisha! — ouço uma voz fina me chamar, viro o rosto vendo a
Josephine vir a nós.
— Não acredito que está aqui! — Pulo animada em sua direção.
— O Black me convidou, acredita? — sua euforia me contagia.
Encaro o irmão da Hope ao seu lado, usando trajes como o do Kai.
Josephine tem uma jaqueta masculina sobre seus ombros. Será que ela sabe o
significado de uma nesse lugar? O Black tem as feições sérias, não sei dizer
se está feliz ou irritado. Os amigos do meu irmão sempre foram difíceis de
ler.
— Você vai ficar com o Black — Kai envolve meu quadril —
enquanto eu me preparo para a luta e durante o grande evento da noite.
— Não vamos ficar juntos? — giro o encarando.
— Se eu continuar te vendo vou te foder nesse maldito lugar — morde
minha orelha — não passei o dia me controlando para perder agora. — Fala
baixinho para somente eu ouvir.
— Por mais que seja tentador — respondo — prefiro não transar aqui.
— Foi o que pensei — me solta — tome conta delas.
— Estão seguras comigo — Black crava os olhos no meu pescoço e
encara o Kai com um sorriso sacana no rosto — você não perdeu a chance de
marcar território, sua cadela.
Kai ergue os lábios em um sorriso perverso e eu tenho eu corpo
acendido com força por causa do seu gesto. Ele gruda nossos lábios em um
selinho rápido antes de ir embora. Robert o segue, Brandon e alguns homens
ficam perto de mim, misturado aos seguranças do Black.
— Você gosta do meu irmão? — Josephine pergunta enquanto
caminhamos pelo corredor escuro.
— Sim — admito para ela — eu não achava ser possível, mas o Kai
— a encaro a meia luz — ele é maravilhoso, Josephine. Eu nunca pensei que
seu irmão pudesse esconder tanto, ele fez muita coisa dolorosa para ficarmos
juntos e nos manter em segurança.
— Eu não sabia sobre as cicatrizes — confessa meio abalada —
somente de uma que foi por minha causa.
— Ei — interrompo o passo a segurando — tudo o que o Kai fez foi
por amor a você e a Rebeca. Ele não te culpa por nada, não mais. Vocês
precisam conversar e superar as mágoas do passado.
— Não sei se eu consigo — a voz dela treme — são feridas demais,
Dai.
— Eu acredito em você — beijo seus cabelos — se você continuar
presa ao passado vai perder o irmão louco para te encher de amor no
presente.
— Você realmente acredita que ele me ama? — a voz carregada por
dor parte meu coração.
— Sim, muito — beijo sua testa.
— Vou dar uma chance a ele — ela acena, talvez se convencendo —
se der errado, você ainda o envenena enquanto estiver dormindo?
Rio meio chorosa. É doloroso ver a Josephine assimilar as marcas no
corpo do Kai com punições causadas pelo Louis. Ela achava o irmão um
escroto filho da puta que não se importava com ela. Não fazendo ideia do
quanto ele a protegia em segredo, seus sentimentos e a sua vida. O Black
estar aqui é mais uma prova do cuidado do Kai, ele quer dar à irmã o homem
que ela ama.
— Não posso, quero continuar mais um tempinho com ele.
Ela ri, enxuga o canto dos olhos. Envolvo seus ombros retornando a
andar, pelo canto do olho percebo o Black prendendo o nariz contendo o
sorriso, não sei se ele ouviu a nossa conversa. Mas torço para ter algum
significado na relação deles. Ficamos em uma área reservada de frente para o
ringue. Black senta ao lado da Josephine, aperto a mão da minha amiga
notando sua animação. Brandon fica do meu lado vazio e os seguranças se
dispersam formando um cordão protetor.
— Senhora Lucian — Brandon me entrega uma capa de plástico —
vai querer colocar um, às vezes o sangue espirra na gente.
— O Kai vai se machucar? — pego a capa vestindo a minha e
percebendo o Black entregar uma a Josephine.
— O Kai nunca perde — Black responde — a única derrota dele foi
há três anos, porque o idiota se distraiu cantando vitoria antes do tempo. O
Víbora não perdeu a oportunidade ganhando por um ponto.
— Ele não me disse essa parte — estranho.
— Eu suspeitaria se ele falasse, Kai é orgulhoso.
— Muito — Josephine responde.
— Igual a você — Black rebate.
Minha amiga infla de raiva, sorrio ao ver o olhar espertinho do Black
ao provocar a Josephine. Tenho expectativa pelos dois.
O filho do Capo Nethan Belarc sobe no ringue com um microfone.
Tyron é corpulento com cabelos acastanhado e olhos escuros, ele anuncia as
lutas da noite e a plateia vibra com o anúncio da luta do Kai com o Víbora.
As disputas são selvagens, sangrentas e muito feias. Começo a ficar
preocupada com meu namorado.
Para a minha surpresa e pelo visto do Black, a Josephine vibra com
cada luta, torcendo, xingando mais do que um homem e batendo palmas.
— Em Las Vegas temos lutas — Black comenta no final de um round
— se você gostar delas vai poder assistir.
— SIM! — Josephine grita extasiada.
— Certo — ele se fecha olhando para a frente.
— Você ouviu isso? — Ela puxa meu braço animada — ele me
convidou para uma luta em Vegas! É lá minha futura morada, quer dizer que
ele pensa em mim — o brilho em seu rosto me contagia. Embora por cima do
seu ombro eu noto o Black contrariado, quase arrependido por propor.
— Já te imagino anunciando as disputas — sorrio.
As luzes são apagadas, meu estômago revira de ansiedade.
Giro vendo uma passarela surgindo percorrendo a arena de uma ponta
a outra. As luzes brancas com fumaça iluminam a entrada do meu anjo negro.
Um capuz cobrindo suas feições, a caminhada firme em frente, concentrado.
Seus olhos encontram os meus e contraio em vontade de ter minha relação
com o Kai levada a outro nível.
Ele caminha como um imperador da noite, um vingador, assassino,
cruel e frio envolto por sombras. Abre a porta da grade de ferro, tira o capuz
deixando o casaco cair aos seus pés, revelando o corpo com uma tatuagem
enorme no seu peito de um cão de três cabeças. Ele ergue os braços, as mãos
com luvas negras ao redor.
Fico surpresa pela tatuagem, ele não a tinha quando saímos de casa.
Tremo ao ser alvo do seu olhar. Kai vem a borda da gaiola, agarra a
grande com uma mão e a outra manda um beijo para mim. Eu derreto e
explodo em excitação causada por seu único gesto. As pessoas ao redor
começam a gritar “Cérbero” enlouquecidas. O outro oponente entra, não
presto atenção nele concentrada no Kai.
O calção de luta pendendo em sua cintura, eu deveria ter deixado uma
marca roxa em seu corpo. Para todas as mulheres gritando pelo meu homem
saberem que ele tem dona. Levanto indo a ele, ninguém tenta me parar, Kai
se aproxima novamente da grade, se agacha me encarando em meio às trevas.
Passo os lábios pela brecha recebendo seu beijo.
— Acaba com ele, Cérbero!
CAPÍTULO 19 DAISHA

— Essa vitória é sua — toca meu queixo, piscando.


É excitante ver as trevas ao redor do seu corpo. Ele fica em pé, aponta
para mim e vai para o centro do ringue. Observo seu adversário, o cara deve
ter uns 2 metros de altura, entupido de músculos, cabeça careca e muitas
tatuagens com imagens de cobra. Ele usa um calção branco e faixas brancas
nas mãos e pulso.
— Ei, Víbora — grito — você será destruído pelo Cérbero! — a
vontade de provocar o cara sobe como uma pequena travessura. Ele me
encara, abre a boca para responder, mas se cala ao perceber o Kai se
aproximando dele.
— Vem Daisha — Black me chama.
Retorno ao meu lugar, de pé, extasiada, a adrenalina para ver o Kai
destruindo seu oponente me consumindo por dentro. Não consigo acreditar
que estou em estase pela violência de uma luta. Eu não me considerava uma
pessoa agressiva, mas nesse minuto existe algo de tentador provar a liberdade
de poder ser quem eu desejo.
E no momento eu quero ser a pessoa a gritar mais alto pelo meu
homem.
— Queremos uma luta sangrenta — Tyron fala ficando entre eles —
hoje é a revanche do Víbora e o Cérbero, na última luta nosso campeão foi
derrotado por um ponto! Hoje é a batalha decisiva, acabem um com o outro!
Tyron desce do ringue e um homem com camisa listrada entra dando
início a disputa. O som do gongo soa alto, Kai ergue os punhos na altura do
rosto, uma perna na frente em pequenas passadas para o lado, observando seu
adversário na mesma posição. Sons de latidos invadem a arena, olho ao redor
sem entender.
— É a torcida do Kai — Black explica — os latidos do Cérbero — ele
põe as mãos ao redor da boca e começa a latir assistindo à disputa.
— ACABA COM ELE — Ponho as mãos ao redor da boca gritando
pelo Kai — AU, AU.
— ESMAGA A VÍBORA AU, AU — para a minha surpresa
Josephine torce pelo irmão, achava que ela o provocaria torcendo pelo
oponente.
Em pé vibramos ao ver o Kai avançando rapidamente contra o Víbora,
acertando dois socos seguidos em seu estômago. Ele revida tentando acertar o
peito do Kai. Meu namorado desvia girando nos calcanhares para as costas do
Víbora, ele envolve o pescoço dele com uma mão, pula aplicando uma chave
de perna no pescoço dele.
Víbora cambaleia para trás batendo na grade, Kai segura nas barras de
ferro mantendo seu ataque feroz. O rosto do Víbora fica vermelho, ele soca a
barriga do Kai tentando se libertar, ao ver que é em vão. Ele ergue as pernas
forçando uma escapatória para o chão. Kai perde o equilíbrio sendo forçado a
deixar o Víbora escapar.
— Porra! Pega ele Cérbero! — Josephine continua xingando.
— Arranca a cabeça dele, Au, Au — Black ergue os punhos, o rosto
repleto pela sede de sangue.
— Você consegue — grito para meu namorado — VAI CÉRBERO!
O outro sobe rápido tentando prender o Kai contra a grade. Meu
namorado agarra as grandes com as mãos, dobra o joelho ao impulsionar o
tronco para a cima ficando erguido de ponta cabeça pelos braços. Apoia os
pés na borda da gaiola, erguendo o tronco ficando em pé na parte grossa no
topo da grade, e voa com um chute certeiro na cabeça do Víbora o jogando
no chão. Kai pousa agachado, o Víbora se contorce no chão tentando
recuperar os sentidos.
O juiz entra no ringue segurando o Kai pela mão, se agacha na frente
do Víbora contando de 1 a 7, o outro levanta, mas é declarado o perdedor do
round.
— Isso! — pulo vibrando em felicidade, agarro a Josephine pelos
ombros e começamos a latir uma para a outra. Acho que nunca a vi se
divertindo tanto.
— Ele não levou um golpe! — ela fala.
— É assim que o Kai luta — Black diz — ele é ágil, concentrado e
quando está com sede de sangue acaba com seus inimigos em segundos.
— Vou querer assistir a todas as lutas — digo animada — nunca achei
que fosse gostar de uma.
— E eu que torceria pelo Kai — Josephine franze o nariz e rimos.
— Vai começar o segundo round — Black avisa.
O gongo toca e Víbora parte para cima do Kai agarrando a cintura
dele. Kai revida envolvendo o quadril do Víbora com as pernas, erguendo o
tronco acima da cabeça dele enviando poderosos golpes com o cotovelo na
sua coluna. Víbora joga o Kai no chão socando suas costelas. Me encolho ao
ver meu namorado sendo atingido repetidas vezes no mesmo lugar.
— Não deixa! — Grito — Revida Cérbero!
Kai junta as mãos erguendo acima da cabeça e desce em um poderoso
impacto contra a nuca do Víbora, repetindo o golpe mais três vezes antes do
seu oponente o soltar. Víbora gira para o lado, Kai ergue as pernas puxando
para seu tronco e impulsiona ficando em pé num salto. Antes que ele possa se
recuperar, é atingido por um chute no maxilar. Kai cai no chão com um
baque. Meu peito aperta em preocupação. Josephine segura minha mão me
encarando temerosa.
O juiz entra iniciando a contagem para o nocaute. No número 5 ele
para, Kai levanta sacudindo o rosto. O vencedor do Round é o Víbora
garantindo um empate de pontos, ele com 19 e Kai com 19.
— Ainda faltam 8 round — digo temerosa não quero ver o Kai se
machucando novamente.
— Ele vai acabar com um nocaute — Black avisa analisando a luta de
braços cruzados.
— A luta parece equilibrada — Josephine comenta.
— Quando o Kai termina de expurgar seus demônios ele finaliza as
lutas — aponta — ele está diferente, percebam.
Encaro a arena notando o que o Black quis dizer. Kai não possui mais
trevas sobre seus ombros, somente a sede assassina de ganhar a batalha. Seus
olhos encontram os meus, um sorriso safado na boca, uma piscadela que
derrete minhas pernas. O brilho nos olhos suaves, ele voltou ao normal.
Mordo a boca ao perceber o desejo do meu homem para me agarrar com seus
braços.
— Vamos fazer amor — movo os lábios sem emitir som.
— Um minuto — ele responde silencioso.
Kai pisca lentamente para mim, maroto ele fala
— Vou acabar com você em um golpe — grita para ser ouvido em
meio aos sons da multidão.
— Pode vir, cachorro louco! — Víbora parte para cima do Kai ao
ouvir o som do gongo.
Enquanto o Víbora avança, Kai curva o corpo para o chão,
espalmando as mãos no forro branco. Víbora freia seu movimento, é tarde
demais. Em um impulso, Kai joga as pernas para cima na direção dele,
acertando o queixo do Víbora com os dois pés. O homem abre os braços
caindo duro no chão, completamente desmaiado.
— Valeu caceta! — A Josephine grita erguendo o punho.
— É isso aí Cérbero! — Eu grito pulando.
— Fodeu com ele — Black comemora.
— Cérbero! Cérbero! Cérbero — a plateia enlouquece gritando o
nome do meu namorado.
O juiz conta até 10 e o Víbora continua no chão. Ele se ergue pegando
o punho do Kai erguendo para cima, indicando o vencedor. Pulo, a porta da
grade é aberta. Corro para meu homem vibrando por sua vitória, entro no
ringue. Kai abre os braços ao me ver amparando meu pulo, envolvo as pernas
na sua cintura, agarro sua cabeça com as mãos e o beijo.
Inferno, eu devoro a boca do Kai com a minha. Chocando os dentes,
línguas deslizando sedentas uma pela outra, indo fundo, sugando,
envolvendo. Inspiro ruidosamente na sua boca ao sentir os pulmões em
chamas pela falta de ar. Um riso rouco reverbera dele invadindo o meu ser.
Finalizo nosso beijo sorrindo em seu rosto.
— Parabéns pela vitória.
— Ela é toda sua — alisa meus cabelos apertando minha nuca.
Desço do seu colo para ele receber o cinturão e título de vencedor da
luta contra o Víbora. Kai veste sua jaqueta, entregue pelo Robert, envolve a
mão na minha e saímos. Entramos em um corredor vermelho, no final vejo o
Black e a Josephine nos esperando.
— Você foi ótimo — Josephine fala meio retraída.
— Eu ouvi você torcendo por mim? — ele pergunta brincalhão.
— Não tirou seu nome da boca — Black responde.
— Virou sua fã — eu a provoco.
Josephine dá de ombros sem responder. Ela continua fechada, sei
como se sente. Para sua relação com o Kai ser restaurada, ambos precisam
sentar e conversar abertamente sobre seus traumas do passado.
— Leve minha irmã para casa — Kai pede ao Black.
— Claro.
— O Louis e a Eleanor já retornaram? — eu pergunto.
— Não — Josephine responde — somente eu e a Rebeca, ela fica no
quarto dela, então tudo em paz.
— Amanhã temos reunião do Conselho de Capos — Black informa —
decidiremos o que fazer com os dois.
— Certo — Kai concorda.
— Vamos para casa? — chamo.
— Sim, Boneca — ele sorri para mim e eu tenho vontade de viver na
sua ternura.
— Até amanhã, Phine — aperto a mão dela.
— Tchau Dai. — Sorri animada sabendo que ficará a sós com o
Black.
Kai segura minha mão me levando para o estacionamento. De pés
descalços ele sobe na moto, retiro a capa de proteção contra o sangue a
jogando no chão. Me apoio nele abraçando seu corpo, a excitação pelo que
poderemos fazer em casa me corroendo. Eu percebi a leveza em seu olhar, as
trevas não o perturbam mais. Contudo, ele se machucou enquanto lutava, me
preocupo com seu maxilar começando a inchar.
O caminho para casa é feito em alta velocidade, ele está animado para
retornamos. Entramos na garagem e livres dos olhares do mundo, eu relaxo.
Desço da moto, retiro o capacete, Kai parado na minha frente deixa claro o
seu tesão pelo tamanho do pau escondido no calção. Passo a língua nos
lábios, faminta.
Ele segura o capacete o tirando das minhas mãos, me gira forçando a
andar para a frente com seu pau roçando minhas costas conforme subimos as
escadas quase pisando nos mesmos degraus juntos.
— Como você está? — pergunto precisando ter certeza.
— Morrendo de vontade de te comer — suspira na minha nuca —
essa marca no seu pescoço me enlouquece. Eu queria terminar a luta quanto
antes para voltarmos. Vou morrer se não fizermos amor, Boneca.
— Tem certeza? — giro nos seus braços na porta do nosso quarto —
eu te quero muito — fico na ponta dos pés encostando no seu nariz.
— Sim, estou bem — sapeca um selinho — e pronto para você.
Kai não mente para mim, seu corpo relaxado livre das sombras da
tortura confirmam suas palavras. Sorrio, sabendo estar pronta para ser dele,
dar um salto de confiança, me entregar ao homem que se importar e cuida de
mim. Me ponto como o centro do seu mundo, fazendo o universo girar a
minha volta só para eu saber o quanto sou especial para ele.
— Eu sou completamente sua — sussurro.
— E eu seu — murmura.
Ele gira a maçaneta da porta, caminho de costas entrando no quarto. O
cheiro de rosas vermelhas e velas invade meus sentidos. Viro a cabeça de
lado me deparando com o ambiente decorado com balões de corações, rosas
vermelhas em jarros, pétalas espalhadas pelo chão e cama. Velas em
recipientes redondos cobrindo todas as superfícies do quarto trazendo uma
luz bruxuleante.
— Quando você? — pergunto quase sem voz.
— Eu sabia que você voltaria cheia de fogo após me ver lutar — o
encaro erguendo a sobrancelha com as mãos no quadril. — Ou eu estaria
ensandecido para fazermos amor.
— Acho que podemos dizer que estamos ambos querendo fazer amor
— seguro a borda da sua jaqueta — é perfeito, Kai. Obrigada por se
preocupar com os mínimos detalhes, mesmo quando não estava bem.
— Quero que a sua primeira vez seja como um conto de fadas —
encosta a testa na minha — e desejo muito a nossa primeira vez ser especial
para ambos — sorri com ternura — consegui ser romântico?
— Muito — meus olhos marejam de emoção.
— Eu amo você, Daisha — sopra carinhosamente contra meu rosto.
— Eu consigo sentir o seu amor — respondo a ele, controlando o
choro na garganta — obrigada por me mostrar como é amar, Kai — envolvo
os braços ao redor do seu pescoço, não existindo mais dúvidas ou receios na
minha alma — eu amo você.
— Te amo, minha boneca — envolve minha cintura caminhando para
a frente, bato as canelas na cama.
— Vamos fazer amor — digo a ele, sendo erguida nos braços.
— Pelo resto de nossas vidas — me deita na cama ficando por cima
de mim. O cheiro das rosas, a macies das pétalas tocando meu corpo. O
coração bate forte no peito.
Diferente da última vez em que tentamos fazer sexo para cumprir uma
obrigação imposta pelas nossas famílias, eu estava tensa, com medo e
querendo fugir para o mais longe possível.
Hoje o único sentimento queimando na minha alma é saber que
escolhi ser do Kai. Confio nele de corpo e alma, sinto o seu amor e o meu
queima intensamente dentro de mim. As correntes que nos prendiam se
rompem, sendo substituídas pelo nascimento de um fio vermelho que une as
nossas almas.
Ele retira sua jaqueta e puxa a minha, segura a barra da camisa
levantando, expondo meu sutiã preto. Seus olhos analisam meu corpo com
luxúria, ele apalpa meu peito esquerdo, esfregando por cima do tecido
rendado. Move a mão agarrando o fecho abrindo com facilidade.
— Eu não consigo abrir o sutiã com uma mão, como você pode? —
fico indignada, o safado rir rouco jogando a peça preta por cima do ombro.
— Depois eu te ensino — cobre meu corpo com seu tronco — agora
eu vou te despir e chupar todo o seu corpo.
— Não me coloque para dormir novamente — aviso agarrando sua
nuca.
Ele gargalha rouco, baixando a cabeça para meu pescoço.
— Eu te quero acordada ao meter meu pau na sua boceta.
— Safado — puxo sua nuca vibrando com o som da sua gargalhada
rouca no meu pescoço.
Kai me responde com uma mordida forte, reviro os olhos, agarrando
seu tronco o puxando para mim. Arrepios percorrem minha espinha, contraio
os dedos chiando pela intensidade da dor mesclada ao prazer. Aperta meu
seio com uma mão, a outra mantém meu quadril parado. Sua boca avida
desce espalhando mordidas por meu tronco.
Ele aperta meus peitos esfregando um no outro. Senta em cima das
minhas coxas, inclina o tronco para a frente abocanhando meus mamilos de
uma vez. Arquejo a coluna queimando ao ser dominada por ele. Apoio as
mãos na colcha apertando o tecido e as pétalas enquanto o Kai trabalha com
habilidade nos meus peitos, chupando, mordendo, apertando, engolindo com
vontade.
— Porra, Daisha! Eu amo seus peitos — ele rosna puxando o bico
rosada. Grito sentindo uma dor fina me espetando e um prazer desaguando na
minha vagina.
— São seus — respondo em um fôlego aguentando as fortes puxadas
nos mamilos. Queria poder esfregar as pernas, mas não consigo com ele as
prendendo.
Envolvo a mão no seu calção, puxando para baixo junto da cueca. O
pênis pula grosso para fora. Preciso usar ambas as mãos para ser capaz de o
envolver por completo. Kai tortura meus mamilos com intensidade enquanto
subo e desço as mãos ao redor da coluna grossa do seu pênis, duro, macio,
uma tentação para a minha boca.
— Eu quero te chupar — peço delirando de vontade — vem aqui, Kai.
— Abre a boca boneca — Ele levanta retirando o calção e cueca.
Subo mais o tronco na cama, repousando a cabeça nos travesseiros.
Kai apoia um joelho ao lado da minha cabeça e o pé do outro lado.
Usando a ajuda dos cotovelos ergo o tronco alcançando seu pênis. Ele segura
a base apontando para a minha boca, com a outra mão aperta a cabeceira
branca da cama. Abro a boca envolvendo sua cabeça robusta, tão macia e
saborosa. Ele geme rouco, eu esfrego as pernas, subindo mais, ficando
inclinada contra ele.
Com as mãos livre e as costas apoiada na cabeceira, eu envolvo seu
pênis com as mãos e a boca. Deslizo a língua o chupando como faria com um
picolé, sugo a cabeça robusta dando o meu máximo. Minha falta de
experiência não parece o afetar, seus gemidos roucos são o indicativo para
continuar meu trabalho.
— Eu amo mais ainda sua boca — ele murmura rouco — me dá tudo
que você tem, boneca, chupa meu cacete com força — envolve a mão na
minha nuca. Puxando meu rabo de cavalo.
— Você é muito grande — respondo recuperando o fôlego — estou
fazendo certo?
— Sim, vou socar na sua garganta, se não aguentar coloque meu pau
contra a bochecha.
— Certo.
O abocanho novamente, prenso a língua na parte baixa da boca dando
espaço para seu pau entrar. Kai controla o movimento agarrando minha
cabeça e impulsionando o quadril. Engasgo ao ter a garganta atingida.
— Prende a respiração — ele instrui.
Obedeço, a vontade de vomitar diminuindo. Kai puxa para fora e volta
a socar fundo. Conforme pego o jeito vai se tornando mais prazeroso o ter na
minha boca. Ele não cabe inteiro, a sobra eu bombeio com as mãos da sua
base aos meus lábios.
— Isso Daisha! Come meu cacete.
Kai começa a gemer mais forte, aumentando a velocidade das
investidas. Ele puxa o membro de vez espirrando seu jato nos meus peitos,
marcando ao conduzir o membro.
Curiosa para saber qual o gosto do seu esperma, ergo o dedo pegando
o líquido grosso e o levando a boca. É muito salgado, faço careta pondo a
língua de fora. Kai me ataca empurrando minha cabeça contra a cama
mesclando o sabor do seu jato com seu beijo fogoso, aperta meu seio com
uma mão e a outra desabotoa a minha calça.
— Vou gozar na sua boca todos os dias — ele promete.
— E eu na sua — sorrio safada.
Kai pula para trás puxando minhas pernas. Grito ao ser deitada na
cama. Com agilidade ele puxa minha calça com a calcinha as jogando no
chão. Pega meus calcanhares abrindo minhas pernas para a ferocidade dos
seus olhos. Desce o rosto ao encontro do meu centro e eu grito. Ele ataca meu
clitóris como um louco, lambendo minha extensão, enfiando dois dedos no
meu canal vaginal, coçando o botão interior me fazendo delirar.
— Kai! — grito por seu nome segurando seus cabelos com força.
Ele não me responde com palavras, agarra meu quadril com o braço
livre, impedindo o movimento da minha pélvis. O safado prende meu clítoris
entre os dentes puxando devagarinho espalhando uma dor que me lembra
picada de formiga mesclado a um prazer agoniante crescendo no meu centro
exigindo ser liberto.
Eu não lembro como se respira. Ele solta meu botão sensível,
apertando o dedão em movimentos circulares, esfregando minha carne com
agilidade. A língua explora meus grandes lábios, os dentes puxando sempre
que tem vontade. Os dedos enfiados até o fundo arranhando meu ponto de
maior estímulo. Tenho tremeliques em sua boca, ardendo, queimando cada
célula do meu ser.
— Eu vou morrer! — anuncio, não tem como ser capaz de continuar
no turbilhão de sensações causada por sua boca.
— Você vai gozar — ele rosna voltando a sugar meu clítoris
adicionando um terceiro dedo.
— Sim, sim — eu gemo sem saber mais o que estou falando.
Encaro o teto branco manchado pela parca iluminação das velas.
Inspiro forte uma última vez sentindo o doce aroma das rosas marcado pelo
cheiro dos nossos corpos excitados. Aperto as pernas ao redor do rosto dele
empurrando sua cabeça contra meu centro e me desmancho em centenas de
pedaços prazerosos cortando minha carne.
Puxo o ar recuperando a sanidade. Kai sobe beijando meu corpo
acalmando minha pele em chamas com suas carícias. Envolvo as pernas ao
redor do seu quadril, ele paira o rosto tranquilo e lambuzado na minha frente,
desce o nariz me fazendo sentir meu cheiro. O beijo mesclando nossos
sabores com paixão, envolvo seu pescoço deslizando a língua sem pressa pela
sua.
— Me avise se doer muito — ele pede baixinho — não quero te
machucar.
— Não vai — respondo rente a sua boca — estou pronta.
— Certo — ele desliza a cabeça robusta do pau pelas minhas dobras
— eu amo você.
— Eu te amo muito — respondo.
Me abro para ele, permitindo a entrada do seu membro no meu corpo.
Kai me beija sufocando meu gemido, estremeço ao ser preenchida. É
estranho a ardência acompanhada da pressão, as paredes internas sendo
alargadas. Finco as unhas em suas costas tentando relaxar. Ele para o
movimento puxando para fora e enfiando novamente.
— Entrou tudo? — pergunto ansiosa.
— Só a cabecinha, amor — beija minha testa — não temos pressa,
certo?
— Sim — relaxo pelo seu cuidado continuo. — Devagarinho, você é
muito grande — rio nervosa.
— Eu sei — ele sorri convencido.
Bato em seu ombro, sorrindo, deito a cabeça no travesseiro recebendo
seus beijos. Kai continua controlando o quadril, entrando pouco a pouco em
mim. A ardência continua incomodando, mas aos poucos a pressão diminui e
eu sou capaz de gemer em sua boca, aproveitando a sensação dele entrando
em mim.
— Ah! — grito batendo o rosto em seu ombro, notando que ele entrou
até o talo, a pélvis roçando meu clítoris inchado.
— Estou dentro — ele fala rouco no meu ouvido. — Porra Daisha,
você é apertada demais, eu poderia gozar sem me mexer — morde meu
ombro — inferno de boceta gostosa, perfeita para mim.
Sua mão desce agarrando minha bunda, puxando a pele abrindo meu
ânus. Engulo em seco respirando ruidosamente, me acostumando com a
sensação de ser aberta em duas, completamente preenchida pelo pênis grosso
e grande do Kai.
Finco as unhas em suas costas gemendo por ele começar a sair. Sua
mão deixa minha bunda se enfiando entre nós, circulando meu clítoris com os
dedos, trazendo de volta os estímulos de prazer. Respiro pesado acostumando
meu corpo a nova sensação. Kai entra e sai em estocadas firmes e lentas, sua
boca ao pé do meu ouvido não para de dizer o quanto ele me ama que está
ficando louco pela minha boceta apertada.
Não é que eu seja estreita, ele que é grande demais.
— Melhorou — eu digo baixinho beijando seu maxilar — pode
aumentar a velocidade.
— Sim, boneca — responde revirando os olhos. Ele se esforça para
controlar a intensidade.
Seu membro desliza com mais facilidade, entrando e saindo, meu
interior molha o recebendo, a ardência desaparece, esquecida no fundo da
minha mente nublada pelo prazer, renascendo no meu núcleo. Os gemidos do
Kai apimentados preenchendo o quarto, mesclando aos meus finos e
necessitados. Tomo a iniciativa de mexer o quadril, ele desliza mais
facilmente, repito o movimento.
Em uma dança envolvente nossos corpos deslizam um no outro,
suados, quentes, o cheiro do sexo mesclado ao das velas aromáticas
queimando, a parca iluminação me permitindo vislumbrar as sombras em
suas feições. Os olhos cravados nos meus, a boca aberta gemendo
roucamente contra a minha. Aperto sua orelha entre meus dedos, entregando
tudo de mim ao Kai, recebendo sua alma e seu amor no meu corpo.
Meu centro convulsiona querendo explodir, diferente das outras vezes
minha vagina expele contra o pênis do Kai aumentando o deslizar e o prazer
exorbitante. Reviro os olhos gemendo entrecorto, o ar faltando nos pulmões,
por um breve segundo foco no meu namorado vendo uma linha de baba
escorrer do canto da sua boca.
Ele desce o rosto contra o meu respirando ruidosamente na minha
pele, encaixo nossas bocas devorando seus gemidos, enlouquecendo, pegando
fogo, estremecendo. Perco o controle das minhas pernas e braços, tremendo
como se levassem choques. Minha pélvis deságua um prazer sem tamanho
pelo meu corpo. Encharco me desfazendo em uma tempestade inebriante,
perdendo os sentidos por breves segundos, relaxando dentro da nossa bolha
de prazer.
Kai impulsiona uma última vez, esporrando seu jato no meu interior,
apertando minha cabeça contra a sua, roucamente gemendo em meus lábios,
atingindo o seu orgasmo, misturando ao meu, nos jogando em um poço
letárgico de felicidade e realização.
— Foi perfeito — digo ao recuperar um pouco de ar.
— Sim — ele responde beijando meu queixo.
Kai desliza para fora, respirando pesado, me puxa para o seu peito.
Envolvo a perna ao redor da sua, a cabeça contra seu ombro cheirando sua
pele quente e suada. Repouso a mão acima do seu coração completamente
exausta, faço esforço ao beijar seu peito acima da nova tatuagem, sorrindo o
encaro. Ele me mostra a fileira branca dos seus dentes, tranquilo.
— Eu te amo, muito — digo a ele.
— Tanto quanto eu te amo — responde de volta alisando meu rosto —
você foi perfeita.
— Eu me esforcei — rimos a paixão perpassando nossos corpos.
Subo um pouco o rosto encostando nossas testas no travesseiro, ele
sorri tranquilo para mim, retribuo o gesto, alisando sua orelha recebendo seus
beijos na minha face, eu durmo completamente em paz desfrutando do amor.
CAPÍTULO 20 KAI

Meu nariz coça, uma risada contida atinge meus ouvidos enviando
descargas de felicidade. Finjo continuar dormindo para a Daisha permanecer
cutucando meu nariz com uma pétala de rosa, só para me ver fazer careta sem
perceber ser uma travessura dela.
— Acorda anjo adormecido — sopra baixinho deslizando a pétala no
meu rosto.
Enfia novamente no meu nariz, não aguento, a vontade de espirrar
vem forte. Giro espirrando longe dela, fungo e volto a posição a puxando
para meus braços, prendendo sua perna com a minha.
— Levanta Kai — ela ri, nego com a cabeça esfregando contra seu
rosto cheiroso.
— Mais cinco minutinhos — respondo apertando seus ombros, a pele
macia em contato com a minha, não quero levantar nunca mais da cama.
— Já se passaram 30 — a voz suavemente fala ao pé do meu ouvido
— e eu to com muita vontade de dar para o meu marido.
Abro as pálpebras, o coração batucando no peito ao ouvi-la me
chamar de “marido” pela primeira vez. Os olhos cristalinos me encaram
sorrindo, as bochechas rubras, o sorriso mais lindo em seus lábios de mel.
— Repete — peço.
— Kai Lucian — ergue o queixo — você quer casar comigo? — a voz
suave sopra alegria no meu corpo.
— Sim. — Coço a garganta contendo o pequeno bolo de emoção, eu
planejava depois de um tempo a pedir em casamento e fazermos uma
cerimônia intima. Nunca pensei que seria a Daisha a fazer o pedido. —
Daisha Lucian, aceita ser minha esposa? — pergunto.
— Sim — ela responde, aproximando o rosto do meu — eu nos
declaro casados. Agora vamos consumar o casamento
Gargalho pelo seu jeito fofo de falar. Agarro sua cintura a puxando
para cima de mim. Daisha apoia as mãos no meu peito e seu olhar fixa na
tatuagem do Cérbero.
— Porque você fez uma tatuagem? — pergunta descendo o quadril
sentando em cima do meu cacete duro, remexendo, esfregando o mel entre
suas pernas na minha extensão.
— É costume os lutadores da arena fazerem uma tatuagem
representando seu nome de guerra. A minha é de henna, refaço antes das
lutas. Depois de uns dias ela desaparece.
Prendo seus peitos com as mãos massageando a carne macia entre
meus dedos. Mordo o lábio contendo a vontade de os enfiar por inteiro na
boca. Ergo o tronco beijando seu queixo. Daisha agarra meus ombros me
forçando contra a cama. Bato a cabeça no travesseiro sorrindo sacana por sua
atitude dominante.
— E por que não é real? — agarra meu pau e eu esqueço que ela fez
uma pergunta ao ser guiado para o calor do seu interior macio.
— Tatuagens são uma marca que servem como sinais — gemo
batendo no fundo da boceta quente. Agarro seu quadril com uma mão, a outra
pressiono seu pescoço trazendo seu rostinho para mim. Sopro em seus lábios
— os membros de alto escalão dos Bianchi não precisam de tatuagens para
saberem a nossa posição ou quem somos. Os anéis são o suficiente.
Agarro o lábio rosado em uma mordida, vejo a carne ficando branca,
sentindo as unhas dela cravando em meus ombros, os ruídos saindo como
música de sua boquinha gostosa. Ergo a mão de seu quadril batendo na bunda
com força o som espalhando no quarto, repito mais três vezes até ver
lágrimas se formando nos olhos da Daisha enquanto os revira, presa a mim
pela boca e boceta.
Solto seus lábios, aperto ao redor de seu pescoço, ergo o quadril
socando forte na bocetinha encharcada, facilitando meu acesso. Daisha revira
os olhos exibindo o branco do globo ocular, gemendo feito louca, rebolando
com vontade no meu cacete enfiado até o talo nela. Agarro sua bunda de
jeito, enfiando meus dedos no buraquinho rosado e proibido, salivo de
vontade de provar seu cuzinho.
— Caralho — ela grita alta, batendo os cílios de boneca, a testa
franzida, o pescoço vermelho, crescendo em chamas. A ferocidade para a
tomar cresce no meu interior selvagem.
— Quer mais forte, amor? — pergunto afundando até as bolas
baterem em sua bunda, ela perde o ar, completamente preenchida.
— Você me mata — responde entrecortado. Leva as mãos aos
cabelos, ebulindo de prazer ao remexer o quadril.
Eu observo o corpo de boneca, os peitos enormes, a cintura fina, a
boceta depilada roçando na minha pele, o clítoris completamente esmagado e
meu cacete enfiado até o talo nela. Solto seu pescoço, rosno como um animal
por perceber que ela aguenta pegar pesado. Seguro sua cintura com firmeza,
ergo o tronco batendo ao seu, Daisha me encara perdida no prazer.
Beijo seu pescoço, em um movimento a deito na cama. Coloco os pés
no chão, seguro suas coxas a virando de costas, a bunda branca arrebitada na
minha cara. Puxo seu quadril a pondo de quatro, posiciono meu pé na cama, o
outro firme no chão, seguro o pau duro pela base empurrando na entrada
rosada.
— Engole meu cacete na sua boceta, porra! — Rosno socando forte.
Agarro sua coxa por dentro, resvalando os dedos na carne sensível das
suas dobras, com a outra agarro seus cabelos a puxando, deixando seu tronco
suspenso, as mãos quase não tocando o colchão. Puxo o quadril saindo
lentamente, ao visualizar a cabeça robusta do meu pau quase de fora, soco
nela bruto. A carne batendo uma na outra trazendo os mais belos sons.
Rosno rouco, enlouquecendo, me perdendo no prazer de dominar a
Daisha, puxando seus cabelos, quase a partindo ao meio. Meu corpo
incendeia como larvas de vulcão corroendo minha pele, o coração batendo
tão alto quanto o som dos nossos corpos, o cacete entrando e saindo, as bolas
resvalando os pequenos lábios inchados.
— Maldição, Daisha — rosno tentando respirar pela boca, pelo nariz
se mostrou impossível — eu vou te partir em duas se continuar engolindo
meu cacete como uma maldita gulosa!
— Me come amor — ela pede manhosa — mete com força na minha
vagina.
— Vagina um caralho! — rosno, solto seu cabelo a prendendo pelo
pescoço, colo sua coluna ao meu peito — pede para eu comer sua boceta!
Fala bem sacana para mim.
— Amor — delira revirando os malditos olhinhos, tem algo quando
ela faz isso que bate fundo no meu deleite e eu só a quero comer com mais
força.
Enfio os dedos em sua boca puxando a lateral a fazendo sufocar com
seus gemidos. A pélvis batendo forte contra sua bunda, minhas bolas
apertam, um fio ligando meu cacete, as bolas querendo explodir começa a
exigir meu autocontrole para não gozar antes de a fazer implorar que eu coma
sua boceta.
— Eu vou parar de socar na sua bocetinha quente se você não pedir
direito. — Rosno no seu ouvido, lembrando como respirar.
Inferno, não vou durar muito tempo, Daisha começa a se tremer,
indícios do orgasmo rastejando por seu corpo.
— Por favor, não — agarra meu pulso, a palavra saindo embolada por
meus dedos em sua boca quente.
— Pede! — Meto sentindo a cabeça do pau encostar no seu útero,
Daisha grita quase pulando contra mim.
— Come minha boceta, Kai! — choraminga.
— Gosto de mulher obediente! — Estapeio sua bunda prendendo sua
cabeça contra o colchão.
Como um maldito cavalo, eu monto em cima dela, prendendo a
cintura com uma mão, a outra em sua cabeça, a cama balança pelo
movimento das estocadas e eu soco no seu canal sem piedade. Entrando e
saindo cada vez mais rápido, o suor escorrendo, minha mão deslizando na sua
cintura, quase não conseguindo a segurar.
Finco as unhas na pele branca a vendo ficar rubra. O tesão sobe
nublando minha cabeça, gemo rouco, controlando meu maldito pau para não
gozar antes dela.
— Eu vou… — ela tenta falar, mas se perde nos burburinhos
deixando seus lábios.
— Goza no meu pau, minha gata! — Ordeno bruto.
Daisha aperta meu cacete no seu interior, o calor inundando com os
líquidos transformando o deslizar em um maldito vício sem fim. Eu a vejo
tremendo, de olhos fechados, boca aberta gritando seu prazer aos quatro
ventos. Empurro uma última vez sentindo a porra do esperma deslizando para
dentro dela. Estremeço aproveitando o deleite arrebatador dominando meu
corpo.
Com as pernas tremulas, eu puxo para fora. Daisha baixa o quadril
sem forças, com a cara de prazer mais erótica que eu já vi. A língua de fora
lambendo os lábios, os olhos semi-abertos, a bochecha esmagada no lençol.
Os braços largados ao redor do corpo, a bunda para cima apoiada nos
calcanhares. Beijo sua coluna e deito a puxando para mim.
— Você está bem? — pergunto rouco.
— Muito — ela responde erguendo o rosto, esticando o pescoço para
me beijar — bom dia, marido.
— Bom dia, esposa — rio nos seus lábios girando ficando por cima
dela.
Ficamos de namorico na cama mais um pouco, aliso suas costas
preguiçoso. Ela ergue o tronco e a vejo procurando algo nos lençóis, seus
olhos me encaram em dúvida.
— Acho que fizemos sexo errado — murmura.
— Não tem como fazermos sexo errado, boneca — me ergo beijando
seu ombro, a marca roxa no pescoço atraindo minha atenção.
— Tem, sim, não tem sangue nos lençóis, somente as pétalas.
Franzo a testa, vasculho os lençóis e edredom buscando pelo sangue e
não encontro nada. A encaro, Daisha tem uma expressão de incredulidade e
um pouco de medo.
— Boneca, é normal algumas mulheres não sangrarem — repito o que
uma vez ouvi nas aulas de biologia.
— Acho que sim — coça a cabeça na dúvida — se isso tivesse
acontecido na noite de núpcias você iria acabar sangrando no lençol, de todo
jeito. Você que é a dama virgem da relação.
Gargalho a puxando para um abraço.
— E essa dama precisa de um banho antes de ir para a reunião.
— Passa o dia comigo — pede rodeando meu pescoço com os braços
— podemos continuar sujando os lençóis com seu sangue — fala
provocadora.
— É o que eu mais quero — a puxa para fora da cama, a carregando
para o banheiro — mas temos assuntos importantes para resolver.
— Algo perigoso? — pergunta entrando no box.
— Decidir o que fazer com o Louis.
— Faça o maldito pagar por todas às vezes em que te machucou. —
Agarra meu pescoço, gosto do cainho selvagem banhando seu rosto.
— O farei sofrer — beijo seus lábios — por mim, minhas irmãs e por
você — roço o nariz no dela — e talvez eu demore, ainda tenho uma reunião
sobre os texanos querendo se meter no nosso território.
— Mostra para eles quem manda — ela rosna colando a boca na
minha.
— Você — respondo sem vergonha.
Ela se ilumina sorrindo feliz.
Após uma segunda rodada de sexo descemos para tomar café, não a
deixo sair do meu colo. Daisha avisa que irá visitar as amigas enquanto estou
em reunião. Nos despedimos, subo na moto e sigo para o escritório do
Michael no complexo.
Entro percebendo uma movimentação maior no prédio, vejo os
membros de baixo escalão, soldados, e associados esperando na recepção.
Não é costume todas essas pessoas se reunirem no escritório oficial do Chefe,
alguma coisa aconteceu e meu instinto avisa ser obra do Louis.
Bato na porta da sala de reuniões anunciando minha presença e entro.
Michael e Daniel conversam, o Chefe na ponta da mesa e o Consigliere a sua
direta, sento a esquerda. Os pilares centrais da Máfia Bianchi reunidos,
Michael avisa a sua secretária para mandar os Capos entrarem com os
herdeiros. Bonnarro e Black assumem seus lugares ao lado do Daniel, Belarc
e Tyron ao meu lado.
— Bom dia, cavalheiros — Michael cumprimenta.
— Bom dia, Chefe — respondemos em uníssono.
— Hoje deveríamos tratar da guerra com os texanos pelas drogas
vindas do México, Bonnarro tem feito um bom trabalho impedindo o avanço
deles e contendo as tropas inimigas. Contudo, devido aos acontecimentos da
madrugada, vamos precisar mudar a pauta da reunião.
— Senhor — Bartolomeu Bonnarro ergue a mão — os texanos
entraram em comunicação ha menos de três minutos, eles pedem por uma
aliança após termos pulverizado e queimado as plantações deles.
— Não aguentaram três dias sendo esmagados — eu indago — e
querem se unir a gente? Fracotes.
— Achava que os texanos eram mais duros na queda — Belarc diz. —
Só foi preciso cortar os pontos de distribuição da droga. O Matthew e o Steve
agiram rápido lembrando ao Gael a quem deve vender, o mexicano nunca
mais pensará em nos trair.
— Qual acordo eles pediram? — Michael questiona.
— Apesar deles não serem uma máfia — Black toma a liderança —
estão dispostos a seguirem nossos costumes. Eles querem se associarem
conosco com uma aliança de casamento e garantia de que pararemos de os
atacar, apesar de estarem resistindo eles não possuem tantos soldados, em
uma semana atacamos diversos pontos de distribuição e laboratórios de
drogas. Pedem uma divisão de 40% das drogas do México para eles
venderem em seu território e 60% para a gente. Com pagamento mensal de
10 milhões de dólares.
— Não vejo vantagem — Daniel expõem sua opinião — já temos o
lucro total da droga produzida pelos mexicanos, a cocaína deles é pura e de
alta qualidade. Se repartirmos o lucro com os texanos estaremos em
desvantagem.
— Podemos usar os texanos — eu digo — como nosso laranja. Apesar
de termos nossos contatos na polícia e membros infiltrados no Governo, não
sabemos quando uma investigação pode estourar na nossa cara. Se usarmos
os texanos para receber as drogas, trazer para a gente e pagarem os
mexicanos, seriam eles os responsáveis pelo tráfico. A distribuição
continuaria o mesmo.
— Atualmente — Daniel aponta — as drogas dos mexicanos entram
pelo Colorado e vão para Las Vegas, onde os Bonnarro fazem a distribuição
entre os territórios. Seria mais fácil entrar pelo Texas por ser fronteira com o
México.
— Não gosto dessa ideia — Bonnarro se pronuncia — os texanos
podem pensar que são poderosos ao deterem o controle da cocaína. Nos meus
cassinos os clientes confiam na qualidade da droga, se eles mudarem algo
saberemos, mas não teríamos tempo de produzir uma nova. Já estamos
ocupados com as novas drogas em desenvolvimento.
— Eles não seriam os donos — rebato — mas nossos cachorros.
Aqueles que os federais iriam seguir e prender, caso algo desse errado. Do
Texas com a proteção e as rotas corretas podemos fazer ela circular entre os
territórios com mais facilidade.
— Esperem — Michael ergue um dedo — a situação com os texanos é
rendição total da parte deles, não vou aceitar uma aliança, não confio em
quem tenta primeiro atacar meu domínio e depois pedir um acordo por
estarem sendo esmagados. O Kai e o Daniel possuem razão, a droga entrando
pelo Texas por terra é menos ariscado do que os navios que usamos.
Continuaremos esmagando os texanos e não o aceitaremos como associados,
mas soldados, vamos incorporar o Texas ao nosso território.
— A cocaína não chega a ser nem 40% da nossa fonte de lucro. —
Constato — podemos fazer um bom negócio, vamos escolher um dos nossos
como líder deles como o responsável pelas encomendas e transportes, se
forem bons soldados pensamos em uma recompensa.
— Se formos fazer — Bonnarro fala orgulhoso — quero o Black a
frente de toda a negociação. Não confio nos texanos, eles precisarão serem
domesticados e aprenderem como fazemos negócios antes de serem
integrados aos Bianchi com uma aliança de casamento, nossas meninas são
preciosas para serem entregues.
Eu percebo a real intenção do Bonnarro, encaro o Michael e Daniel,
eles também notaram. Com o Black responsável pelo Texas, o território do
Bonnarro vai ser expandido de Nevada para o Texas, mais poder para a
família de um Capo. Sei que podemos confiar no Black, mas a distribuição
terá de ser feita para não causar um desequilíbrio no poder das famílias.
Os Bianchi dominam Manhattan e Massachusetts, além de ser a
família a nos liderar. Os Griffin possuem o Queens e Nova Jersey como seu
território. Minha família, os Lucian somos os responsáveis pelo Brooklyn e
sul da Flórida.
Os Belarc possuem The Bronx e Staten Island, uma areá menor em
comparação as outras, por isso foram presentados com Connecticut ao
assumirem o comando do treinamento dos soldados e as lutas clandestinas.
Os Bonnarro comandam todo o Estado de Nevada, uma grande região e
importante para nossas atividades.
Não é de estranhar o Bonnarro querer o Texas, contudo precisamos
ser cautelosos.
— Um casamento está fora de cogitação — Michael declara — nossas
mulheres não serão mais usadas para selamento de acordos instáveis. Se eles
querem ser integrados aos Bianchi, não será uma aliança de igualdade, terão
de merecer. Envie a mensagem, os termos são rendição total e trabalharem
para a gente ou extermínio.
— Sim, Chefe — Bonnarro sorri, aposto que torce internamente para
os texanos não aceitarem e ele pode gerar uma guerra tomando conta do
Texas.
— Black você fica a frente — Michael fala — será o líder dos texanos
e cuidará das novas rotas. Infelizmente isso poderá atrasar seu casamento em
alguns meses, é um problema para você?
— Não, senhor, prefiro resolver as pendências com os texanos, antes
de casar — ele não hesita.
— Ótimo, iniciaremos a pauta principal da reunião — Michael me
encara — os senhores sabem que a troca de cargo muitas vezes pode ser
conturbada — encara o Bonnarro e Belarc — em gerações passadas a
sucessão causou conflitos sangrentos nas famílias — foca no Daniel e depois
no Tyron — dessa vez tivemos um incidente com a sucessão do cargo de
subchefe.
— Eu sabia que o maldito daria trabalho — Bonnarro encara o Belarc.
— O Louis nunca foi muito a favor da troca de posição antes da morte
— Belarc foca no Michael — qual a punição dele?
— Ele ousou se reunir com os associados para iniciar um pequeno
motim — Michael aperta o anel de chefe entre os dedos — nessa madrugada
ele foi pego tentando influências os associados a pedirem a substituição do
Kai como subchefe para ele retornar, alegando fraqueza. Louis será
condenado a isolamento, trancafiado dentro de sua casa sem poder para nada
na organização. Perderá o direito sobre as filhas e esposa, e será humilhado
na frente de todos. Estejam prontos para uma Demonstração, senhores.
Nos Bianchi, uma Demonstração é uma tradição usada quando uma
tortura não teria o efeito esperado. Somos homens treinados para resistir aos
piores tipos de castigo físicos. Em alguns casos, para homens orgulhosos
como o Louis, uma Demonstração é a melhor punição. Ele será humilhado na
frente de toda a organização, seu espirito quebrado e depois preso. Perderá
tudo aquilo que ele preza.
— Podemos fazer o que quisermos? — Daniel pergunta animado.
— Sim — Michael responde — iremos depois do Kai.
Aperto a mandíbula tentando controlar a excitação por saber que
liderarei a Demonstração. Nos levantamos e seguimos o Michael pelo
corredor, entramos em uma sala pegando nossas armas. A Demonstração é
sobre humilhação e subjugar, não sobre tortura física em si, embora se
quisermos fazer uma podemos. Aperto a corrente com pregos entre os dedos,
ansiando pelo momento de a usar.
Deixo a sala seguindo para o salão. Sou o primeiro a entrar. Sentados
em fileira, os membros dos Bianchi observam o Louis exposto no palco,
soldados e associados atentos ao que acontecerá aqui. Caminho ficando de
frente para o Louis. Ele está pelado, completamente exposto, amarrado em
uma cruz. Uma mordaça ao redor da sua boca. Ergo para ele a corrente,
arqueio uma sobrancelha me deliciando com a fúria em seus olhos.
— Meus dias de ter medo de você acabaram — eu digo próximo de
seu rosto — hoje você será o meu cão. — Sorrio diabólico. — Senhores —
viro de frente para o público. — Vocês estão prestes a presenciarem uma
Demonstração, deem o seu melhor em participarem com suas reações. Louis
Lucian esqueceu o seu lugar na organização e tentou tramar um motim
infundado contra mim, o seu subchefe. Hoje, tanto ele quanto vocês serão
lembrados das regras dos Bianchi. Um líder nunca pode ser desafiado ou
questionado por quem está abaixo dele.
Aperto a corrente, abrindo a tranca.
— Louis será submetido a esse castigo pelo respeito que os Bianchi
possuem as suas contribuições como subchefe. Ele sempre foi leal e uma
peça importante para a consolidação da Máfia. Por isso seremos
misericordiosos, compreendendo que o motim não passou de uma alucinação,
um desespero de uma mente perturbada incapaz de aceitar não ser mais
importante.
Giro no calcanhar indo a ele. Envolvo a corrente ao redor do seu
pescoço, retiro a mordaça e antes que ele possa dizer algo, enfio outra parte
da corrente em sua boca, dando a volta no seu rosto. O sangue jorra pelos
pregos perfurando a pele. Solto as amarras de suas mãos e pés, chuto a parte
interna do seu joelho o fazendo ficar de quatro.
— Vem totó — puxo a corrente o forçando a andar agachado. — Cada
um de vocês, quando eu passar com meu cachorro, vai bater nele, lembrando
que cães desobedientes precisam ser castigados. Formem uma fila!
Começando pelo Chefe e Consigliere eu passo por eles que não
perdem a chance de bater forte no Louis. Black acerta a mandíbula dele
fazendo um dos pregos perfurar completamente a bochecha. Insultos são
ouvidos aos berros pelas pessoas presentes.
Louis sempre se orgulhou de como podia me controlar como um
cachorro, de exibir a sua força, hoje eu o humilho o subjugando a minha
vontade, fazendo outras pessoas, inferiores a ele, o baterem, xingarem,
cuspir. Destruindo seu orgulho, mostrando a minha força e o quanto sou
superior a ele. Porra, adoro a sensação do poder e da vingança corroendo
minhas veias, exigindo por mais. Vou quebrá-lo em milhões de pedaços.
Ao final do caminho seus olhos expelem lágrimas de ódio misturado
ao sangue. Ele mal consegue se arrastar. O prendo novamente a cruz
satisfeito por ser capaz de destruir seu orgulho precioso.
— Você é o meu cão, nunca se esqueça — bato em sua cara antes de
remover a corrente — e agora te darei de brinquedo a outros.
Michael é o próximo, ele joga um balde de sangue de porco no Louis
e o faz rolar no chão se lambuzando no sangue enquanto reproduz os sons do
animal. Eu conheço o verme o suficiente para saber o quanto ele se odeia, se
culpa e deseja ser capaz de revidar a humilhação que sofre.
Ele obriga seu corpo a ser exposto, ouvindo os diversos insultos, não
podendo recusar ou acabará morto. Um dia Louis governou a todos presente
no salão com soberba, hoje ele não passa de um brinquedo em nossas mãos.
Daniel pega uma bola, o fazendo correr atrás dela e deixar em sua
mão, Black obriga o Louis a limpar o chão com a língua. Os mais
desagradáveis e humilhantes castigos são impostos ao homem que se achava
um rei.
— Por favor — Louis vem aos meus pés, a cabeça encostada no meu
sapato completamente rendido após o Belarc o bater com pênis de borracha o
chamando de bicha e outros nomes depreciativos.
— O que o cachorro quer? — pergunto me divertindo.
— A sua misericórdia. Por favor, senhor.
— A quem você pertence? — as várias vezes em que fui obrigado a
dizer que ele era meu dono batem na minha cabeça.
— A você, senhor Kai Lucian — responde sem me encarar.
— Olho nos meus — eu rosno. — Quem é seu dono?
— Você, senhor — me encara, o negro das pupilas repleto de
desespero.
— Quem é mais forte do que você?
— O senhor — murmura quase sem voz.
— Nunca se esqueça, eu sou mais forte que você e o seu dono.
Saboreio o prazer perverso de saber ser o responsável por quebrar o
Louis. No final, eu sobrevivi e triunfei, enquanto ele será levado a loucura.
Louis precisa ser carregado para casa. A Demonstração cumpre seu
dever e eu me sinto extremamente vingado, muito mais do que se tivesse o
espancado descontando a fúria. É muito mais prazeroso quebrar o espirito de
um homem como o Louis do que destruir seu corpo. O olhar sem esperança,
acabado, completamente rendido, não existe prêmio mais gratificante.
A tarde mal iniciou, e já anseio voltar para casa e compartilhar com a
minha esposa o que aconteceu aqui.
Acabou, ele nunca mais poderá me tocar.
Eu venci.
— Senhor — Robert me encontra na saída do prédio — tenho
informações sobre o ataque nas ilhas gregas.
— Descobriu o mandante? — paro pegando o tablet de suas mãos.
— Sim, foi o Louis. Após uma análise minuciosa sobre os membros
que sabiam onde o senhor estava, chegamos ao Louis como principal
suspeito. Simon aproveitou a captura do Louis para invadir o escritório dele
achando provas no computador da transação com os mercenários controlando
os drones.
— Bom trabalho — bato em seu ombro — ele não será mais um
problema, deixaremos entre nós essa informação.
— Tem certeza, senhor? — Robert sabe que o ato do Louis contratar
mercenários para me matar seria punido com a execução dele e sua família.
— Sim, não me importo com a Eleanor morrendo, mas Rebeca e
Josephine não podem pagar por um crime não cometido por elas. Não vou
manchar o sangue das minhas irmãs. O Louis ficará preso, vou atormentá-lo
até seu último dia de vida. É o suficiente para mim.
— Os guardas da casa Lucian relataram que a Rebeca tem estado
instável — ele toma cuidado com a palavra.
— E a Josephine? — subo na minha moto.
— Ela parece bem, estranhamente após o seu casamento as brigas
entre as meninas acabaram.
— Isso é estranho, elas se matavam só de estarem no mesmo comodo.
— Concordo, senhor — entrego o tablet a ele — tenho ficado de olho
nas filmagens da casa como o senhor pediu e não notei nenhuma nova
discussão ou briga. Qualquer alteração eu te aviso.
— Vamos para a construtora, hoje é dia de fiscalização da obra —
ligo a moto, coloco o capacete saindo do estacionamento.
Ainda tenho um longo dia no meu trabalho normal. Depois vou me
encontrar com os italianos para mostrar a eles como tem ficado a construção
do cofre secreto no subsolo do prédio que será um comércio local para
disfarçar a legalidade do imóvel.
E durante o dia Daisha não sai da minha mente, em breve ela
começará suas aulas na faculdade, quero aproveitar minha esposa o quanto eu
puder. Em casa conversamos sobre o que fiz com o Louis, é satisfatório ver a
Daisha me apoiando e gostando da minha atitude. Fazemos amor pelo resto
da noite.
Ela é a calmaria para a minha alma.
CAPÍTULO 21 DAISHA

Encolho na cama sentindo meu útero espancando meu corpo,


tremeliques assombram minha mente, um frio desgraçado com pinicões em
cada pedaço da minha pele. As pernas doendo, sinto que estou recebendo
cortes da panturrilha a coluna.
— Boneca? — Kai fala baixinho entrando no quarto, passei o dia
enrolada na cama enquanto ele trabalhava.
— Hum — respondo sofrida.
— O que você tem? — sua mão toca minha testa — você está gelada.
— Minha menstruação desceu — respondo baixinho — e o maldito
remédio não está fazendo efeito.
— Como eu posso te ajudar? — ele deita ao meu lado abraçando meu
corpo. Giro enfiando o rosto em sua camisa, noto o cheiro de pólvora em sua
pele.
— Quero ir para a clínica, preciso de medicação forte — estremeço
com outra onda de dor severa nascendo no meu útero e espalhando para
minhas pernas, sinto que estou despejando um rio de sangue.
— Segura em mim.
Envolvo o pescoço do Kai com os braços trêmulos, ele segura minhas
pernas erguendo meu corpo rente ao seu. Enfio o rosto no seu ombro
gemendo, encolhendo as pernas contra o tronco, a bolsa térmica desliza
caindo na cama.
— Xiii, vai passar — fala carinhoso beijando meus cabelos.
Saímos do quarto e descemos as escadas com rapidez, na sala Kai para
seu movimento.
— Estava levando um chá para a senhora — ouço a voz da Teresa —
coitadinha a cólica está acabando com ela.
— Vou levá-la a clínica, pode ir descansar — Kai fala seguindo para a
garagem. — Robert ligue o carro, vamos para a clínica — avisa ao entrarmos
no veículo — aguenta firme boneca.
— Já estou acostumada — digo baixinho — todo mês é o mesmo
inferno — aperto os punhos pela pontada.
— Não existe nenhum tratamento que você possa fazer? — ele
pergunta, a voz macia, preocupada.
Kai alisa minha bochecha, uma rajada de calafrios me faz encolher
contra ele, quase fundindo nossos corpos. Ele passa os braços ao redor das
minhas pernas e alisa meu ombro cuidadoso tentando me esquentar. Encaro
sua camisa branca percebendo que ele não usa o paletó de quando saiu mais
cedo.
— Eu tenho síndrome do ovário policístico, o tratamento é feito com
anticoncepcional, mas meu pai não me deixa tomar.
Kai engole em seco, ergo o rosto encontrando seu olhar ferido.
— Naquela noite, no noivado da Emily, você me disse estar com
cólica e eu achei que fosse besteira — encosta a testa na minha, o olhar
arrependido — me perdoa, não fazia ideia da dor que estava sentindo.
— Eu quis muito te matar — sussurro.
Nossa conversa é interrompida pela parada do veículo. Kai desce
comigo em seu colo. Por sorte estou usando meu pijama de calças e manga
cumprida de cetim, não preciso ter vergonha querendo me esconder. E sei
que ele não permitiria nenhum dos homens recebendo tratamento me
olharem. Eu estou segura nos braços do meu marido.
— Senhor Lucian por aqui — a enfermeira surge, ela me encara e
percebo que já imagina o que estou passando, não é incomum eu vir parar na
clínica devido às cólicas. — O doutor está costurando um paciente e logo
virá. Senhora Lucian são as cólicas?
— Sim, Charlotte — respondo ao ser colocada na cama hospitalar em
um quarto privado.
— Irei primeiro medir a pressão — meu bíceps sensível doí ao ter o
aparelho rodeando e apertando ao medir a pressão. — 9 mmHg x 6 mmHg,
baixou muito, por que não veio antes? — ela se move ágil pelo quarto. Kai
fica parado ao meu lado segurando minha mão.
— Tomei o remédio para cólica e fiz compressa quente, achei que
resolveria — engulo em seco, a garganta rasgando.
— Senhora Lucian! — a mulher põe as mãos na cintura me encarando
brava — você sabe que somente isso não é o suficiente. Vou colocar um soro
para regular sua pressão e ajudar com os sintomas da cólica. Uma injeção de
anti-inflamatório para a cólica enquanto o doutor não chega.
— Existe algo — Kai fala, a voz abalada — que possa evitar a Daisha
sentir tantas dores durante a menstruação?
— Anticoncepcional — o doutor entra — seria o ideal, ao regularmos
os hormônios dela e o ciclo menstrual conseguiríamos tratar a síndrome dos
ovários policístico. — Vem a mim checando o soro colocado pela Charlotte
— Mas imagino que o senhor, assim como o senhor Griffin não seja a favor
do tratamento.
— Inicie agora — Kai fala decidido — não quero minha esposa
sofrendo novamente por causa de cólicas.
— Se ela começar a tomar o anticoncepcional não poderão ter filhos
durante o período — o doutor avisa.
— Não vou deixar a Daisha sofrendo por uma criança que não existe.
Transamos sem camisinha desde o casamento e a gravidez ainda não
aconteceu. Quando chegar o momento de termos filhos será uma decisão
nossa, não unilateral, agora traga o remédio!
— Sim senhor — o homem sai correndo da sala.
— Vou deixar vocês a sós — Charlotte avisa após aplicar a injeção.
— Perdão boneca — Kai pede beijando minha testa — eu nunca
deveria ter sido grosso com você naquele dia.
— Você não parecia bem — lembro do quanto ele estava irritado —
aconteceu algo? — seguro sua mão.
— O Louis não gostou de quando você recusou meu pedido — ele
fecha as pálpebras com força — e me encurralou nas escadas da mansão dos
Bianchi para me dar uma surrar. Se você não dançasse comigo o castigo em
casa seria pior — estico a mão tocando sua bochecha — eu estava com dor e
agi como estava acostumado, o obedecendo e descontando em outra pessoa
minha aflição.
— Eu fiquei com muita raiva de você — confesso baixinho — mas
não te culpo por ser um babaca. Você não sabia como eu estava dolorida e eu
não fazia ideia da violência que você sofria do Louis — puxo seu queixo o
trazendo para mim — nunca mais peça perdão pelas vezes em que agiu com
raiva após ser machucado. Cada pessoa reage de uma forma a dor, a sua é
atacar, a minha é ficar calada, aguentando em silêncio.
— Eu me arrependo tanto — uma lágrima escorre de sua bochecha —
você sempre foi a minha garota, a mulher que desejei estar ao meu lado —
alisa meu pescoço — e eu fui tão rude com você. Eu deveria ter sido alguém
melhor, com você, a Josephine. Fiz tudo errado — soluça.
— Kai — seguro seu queixo o forçando a me olhar — depois que
casamos em algum momento você foi babaca comigo?
— Não — nega.
— E com a Josephine, tiveram alguma discussão ou sequer olharam
de cara feia um para o outro?
— Não — funga.
— O Louis te fazia ser um homem malvado. Trazia a tona o seu pior,
mas ao se ver longe dele você mudou. Pode viver seu eu verdadeiro. Trouxe a
tona seu lado divertido, amoroso, carinhoso e muito protetor. Eu te amo meu
amor, e sei que você não é aquela pessoa do passado. Aquele Kai foi a
armadura usada para te proteger. Não existe o que perdoar, não existem mais
magoas, eu compreendo por tudo pelo qual você foi obrigado a passar. E amo
a pessoa que você é, sua verdadeira essência.
— Eu te amo muito — ele explode em um choro de partir meu
coração, envolve os braços ao meu redor escondendo o rosto no meu pescoço
— eu te juro, nunca serei aquele homem novamente. Você só terá a minha
melhor versão.
— Eu só preciso de você, é o suficiente — beijo sua nuca — me
abraça forte para a dor ir embora?
— Sempre, minha vida — deita na cama me puxando contra ele.
Kai continua em um choro sofrido, perdoando a si pelas atitudes
tomadas no passado. Hoje eu entendo que aquele Kai não era o verdadeiro. O
homem ao meu lado beijando meus cabelos e repetindo o quanto me ama é a
real versão do meu marido. Alguém que não teme mais ser repreendido por
cada uma de suas ações.
Um homem ferido, repleto de amor para dar e pronto para receber. E
eu passarei o resto da minha vida o fazendo se sentir amado.

— A vida nunca foi tão boa — Josephine se joga no sofá da minha


casa de braços abertos e um sorriso amplo.
— O que você aprontou, sua maluca — bato em suas pernas sentando
ao seu lado.
— Eu? Absolutamente nada! — suspira alegre — vamos iniciar nosso
primeiro dia na faculdade em poucas horas, a maluca da Rebeca entrou em
uma depressão profunda após o Kai casar e o Louis está vivendo como um
verme recluso e resmungão atormentando a Eleanor. Eu estou amando a
minha vida.
— Como andam as coisas entre você e o Kai?
— Bem, eu diria. Ele continua enchendo meu saco todos os dias com
mensagens, o homem é pegajoso — franze o nariz tentando fingir desagrado,
eu percebo que ela gosta do irmão está mais presente em sua vida — minha
relação com o Kai sempre foi conturbada, em momentos que pensei ter sido
abandonada por ele, eu começo a refletir que não foi o que realmente
aconteceu — suspira — passei muito tempo lutando sozinha por mim mesma
— seus olhos negros como o do irmão me encontram marejados — é
estranho ter ele ao meu redor.
— A Rebeca conseguiu manipular o Kai e a você — seguro sua mão
— e vocês nunca perceberam como eram usados por ela. Por mais que você
revidasse e visse as encenações dela, não percebia como ela manipulava o
Kai por trás. Aquele dia no porão — pisco odiando lembrar o estado do meu
marido — ela estava possessiva com relação a cuidar do Kai.
— Ela nem se importou comigo a tirando de cima dele, só tinha olhos
para o Kai e te xingar pôr o levar.
— Eu imagino como foi fácil para ela o manipular enquanto o Kai
estava ferido. O colocar contra você, a irmã malvada que brigava com ela por
idiotices, enquanto o Kai estava frágil e sujeito a somente ela para ficar bem.
— Eu sempre achei que eles tinham um ao outro enquanto eu era
obrigada a ficar sozinha — senta com a cabeça em meu ombro — ainda
preciso conversar com o Kai e entender melhor, mas agora eu percebo que ele
nunca me abandonou por querer. Em alguns de meus momentos sofridos ele
também estava sendo machucado — esfrega o rosto no meu ombro — é
fodido demais aceitar essa merda após tantos anos.
— O importante é sabermos a verdade e nunca mais repetir os erros
do passado. Ele e você seriam dois babacas se continuassem seguindo com
fúria e se odiando, mesmo após tantas revelações.
— Você fala por experiência, eu lembro de quando você queria fugir
do casamento com o Kai e não parava de o chamar de escroto.
— Eu sei, fui malvada com o coitado — rio baixinho — eu o odiava
por me fazer sentir invisível, detestava a máfia, minha família
emocionalmente distante e a rigidez da minha criação. Hoje eu sei a verdade,
ele sempre me amou, mas foi obrigado a esconder os sentimentos, a nos
magoar para o Louis não interferir no acordo de casamento. O Kai aguentou
muito sozinho, e ele é um marido maravilhoso — sorrio para ela. — Todas
as noites conversamos sobre nossas feridas e isso me faz sentir segura, posso
me abrir com ele como nunca fui capaz de fazer com outras pessoas. Ele me
escuta, conforta e ama, independente do que eu fale.
— Eu percebo, você engordou uns 3 quilos desde o casamento, daqui
a pouco vai ter uma diabete por causa de tanto doce!
Gargalho leve, Brandon entra informando que está na hora de sairmos.
Eu adoro os quilos a mais ganhos nos últimos meses. Precisei pedir a Teresa
para diminuir a quantidade dos bolos ou eu acabaria com problemas por
causa do açúcar. Kai se mantém longe dos doces, só comendo quando dou na
sua boca com alguma parte do meu corpo.
Eu acreditava que o casamento seria a minha prisão. Mas se tornou a
minha mais doce liberdade.
— Não seja exagerada — respondo ao entrarmos no carro.
— E as coisas com sua família, como estão?
— Meu pai continua tentando mudar após a morte do Dylan, e minha
mãe tenta se reaproximar. Não me sinto pronta para conversar com eles,
respeitam minha vontade e mantemos as boas maneiras. — Aperto as unhas
— um dia quem sabe poderemos ser uma família normal. Meu casamento me
ensinou que mais valioso que o perdão é poder entender as dores do outro e
os motivos para suas escolhas difíceis. Meus pais devem ter suas razões, no
momento certo os escutarei.
O carro estaciona em frente a casa da Emily, ela desce as escadas
segurando tubos com suas telas guardadas, a barriga proeminente exibindo a
gestação do meu sobrinho. Eles ainda não escolheram o nome, tenho dado
ideias todos os dias, se tornou um jogo entre as meninas tentar adivinhar o
nome do bebê.
— Bom dia maravilhosas! — Ela entra. — Não acredito que vamos
iniciar nosso primeiro dia de aula na faculdade, é muito excitante.
— Pena a Hope não vir — Josephine diz — ela vai tirar o semestre de
licença a maternidade. Iriamos colocar o terror naquele campus.
— Você sozinha já causa o caos — eu digo as fazendo rir.
— Vocês são sortudas — Emily fala — de ficarem na mesma turma.
Minhas aulas gerais são todas diferentes da grade de vocês.
— Iniciamos com filosofia hoje — Josephine olha a grade de aulas no
celular — depois temos introdução a sociologia. Hope é sortuda de já ter
passado pelos dois anos de aulas gerais. Eu e Daisha colocamos todas que
sirvam para a Psicologia, acho que um curso de Belas Artes tem de ser outras
matérias.
— Sim — Emily concorda — sou um espírito livre para perder tempo
com sociologia e filosofia.
Reviro os olhos quando elas começam a discutir qual curso tem a
melhor grade. Entramos no campus e Emily é a primeira a descer, somente
hoje viemos juntas. Josephine e eu queremos o mesmo curso, por isso
combinamos as matérias. O carro estaciona do lado de fora do prédio do
nosso bloco de aulas, caminhamos tranquilamente, os seguranças disfarçados
de alunos a poucos passos da gente.
Entramos pelas portas de madeira no grande auditório. Passo a vista
pelas cadeiras. O olhar maligno me atinge como uma flecha. Sentada na
primeira fileira está Rebeca encarando a mim e a Josephine com ódio,
apertando a caneta entre os dedos. Eu não sabia que ela estudaria com a gente
e, pela expressão da Josephine, ela não fazia ideia.
— Ignora ela — eu digo puxando a Josephine para o alto.
— A vaca escolheu de proposito — senta ao meu lado bufando — se
ela me provocar eu estouro a cara dela.
— Não tem como saber, ela pode querer fazer enfermagem, mas as
cadeiras gerais são obrigatórias para todos. — Rebeca vira o rosto nos
encarando, o ódio em suas faces me dá arrepios.
— Ela não dá ponto sem nó, Daisha — Josephine morde os lábios —
fique atenta.
— Eu sou a esposa do subchefe — falo baixinho — ela sabe que, se
mexer comigo ou com você, o Kai não ficará ao lado dela. A rejeição naquele
dia, na minha casa, deixou claro quem é a prioridade na vida dele. Ela vai se
comportar.
— É nesse momento que a Rebeca ataca, quando você baixa a guarda
— avisa.
— Ela nunca vai me pegar desprevenida.
A sala enche com os alunos, tento não prestar atenção na Rebeca
durante a aula, mas fica difícil ao perceber os alunos a sua volta me
encarando e cochichando com ela. Não sei o que a vaca está tramando, mas
não vou deixar ela ganhar confiança de que pode me vencer.
O alvo dela é a pessoa mais próxima do Kai. No passado a Josephine,
no presente eu sou a sua maior ameaça. Uma ideia sinistra arrepia meus
pelos.
E se a obsessão da Rebeca com o Kai não tiver ligação ao fato dela
querer o irmão sempre ao seu lado, mas o desejar como homem? Me enjoa
pensar essa possibilidade. Se for verdade destruiria o Kai, apesar de tudo ele
a ama, e descobrir uma obsessão doentia da irmã por ele causaria mais danos
do que posso imaginar.

O dia passa rápido, adoro a professora de filosofia e o professor de


sociologia possui uns parafusos faltando na cabeça. Na volta para casa recebo
uma mensagem do Kai avisando que vai demorar a chegar, ele está no
Brooklyn com os italianos.
— O que acha de uma noite de meninas? — pergunto a Josephine e
Emily.
— Vamos chamar a Hope — Emily pega o celular animada —
Michael que cuide do Ethan, hoje merecemos comemorar.
Menos de 20 minutos depois Hope entra pela porta da minha casa com
duas garrafas de vinho tinto na mão.
— Eu não posso beber, mas as não gravidas façam a festa — ela fala
animada.
Josephine bate palmas levantando do sofá pegando as garrafas e
trazendo para mim. Emily alisa a barriga grande fazendo careta, Hope senta
ao meu lado me puxando para um abraço. Rio alisando seu antebraço.
— Muito feliz por ter uma noite das garotas? — pergunto.
— Completamente, eu amo o Ethan, mas preciso de uns segundos sem
ouvir o choro dele ou cheirar as fraldas cagadas. — Franze o nariz e eu
gargalho.
— Em breve será a minha vez — Emily fala de testa enrugada.
— Dai — Josephine me entrega uma taça de vinho — vamos
aproveitar enquanto meu irmão não te engravida.
— Acho que não acontecerá num futuro próximo — beberico a bebida
doce e gostosa — meu anticoncepcional está em dia.
Elas podem não entender a vitória que significa para eu tomar todos
os dias as pílulas que puseram fim aos meus terríveis períodos menstruais.
Optei por um anticoncepcional impedindo o ciclo menstrual, sofri anos
demais com os sangramento e prefiro não os ver por um longo tempo.
— Garantiu que seu marido ficará fora hoje? — Emily pergunta.
— Kai disse que ficaria de bobeira com o Daniel, já que a esposa dele
também o expulsou pela noite
— Não expulsei — Emily afina a voz — só deixei claro precisar de
um segundo para respirar.
— Daniel é grudento? — Hope pergunta — não o via dessa forma, ele
é sempre sério e calculista.
— Ele consegue ser mais pegajoso do que eu — responde a loira.
— Facetas do meu irmão — respondo — acho que, no fundo cada um
deles tem um lado que não conhecemos.
— Qual o do Kai? — Hope pergunta.
— Ele não é um babaca escroto. Mas um homem muito romântico.
— Quem lembra de quando a Daisha só falava de fugir para não
casar? — Hope me provoca.
— Todo dia ela repetia seu plano de fuga — Emily cantarola.
— E agora caiu de quatro pelo Kai — Josephine senta perto da mesa
de centro beliscando os frios.
— Eu não caí de quatro — a cutuco com o pé — eu fiz ele ficar de
quatro por mim.
— Que menina convencida! — Hope belisca minha bochecha.
O riso invade a sala. Desde que o Ethan nasceu não temos tido um
tempo para nós quatro e tem tanto que eu quero dividir com elas sobre a
minha relação. Passamos as próximas horas conversando sobre a minha lua
de mel. Todas ficam surpresas ao saberem sobre o evento da caverna e como
o Kai me salvou sem hesitar, mesmo sendo claustrofóbico.
— Agora conte sobre o sexo — Hope pede virando sua taça de
champanhe sem álcool.
— Muito quente — toco meu pescoço lembrando da marca deixada na
noite da luta.
— Kai dá cada chupão nela — Josephine diz — na noite em que sai
com o Black para ver a luta ela estava com uma marca enorme no pescoço.
— Ui — Emily afina a voz — temos aqui uma safada. A santa Daisha,
tímida e envergonhada é uma devassa na cama!
— As quietinhas sãos as piores — Hope alfineta.
— Colocou meu irmão de quatro com a boceta. — Josephine provoca.
— Calem a boca, suas indecentes — abano o rosto em chamas.
— Parece que não perdeu completamente a timidez — Emily rir.
— Ela chega lá — Hope gargalha.
— Arg — Josephine rosna — morro de inveja de vocês. Todas
casadas e dando felizes para seus maridos — faz bico — enquanto isso meu
noivado com o Black foi adiado até a situação com o Texas se resolver.
— Como meu irmão tem te tratado? — Hope pergunta, noto a tensão
em seu rosto. Ela parece esconder algo e querer informações da Josephine
sem revelar do que se trata.
— Bem, o Black é um mistério — Josephine expira — nos últimos
meses ele tem estado diferente. Alguns momentos me dá aberturas e eu me
sinto uma idiota por sempre reagir feliz demais. — Encolhe os ombros — e
em outro se fecha completamente. Na noite da luta do Kai ele conversava
comigo normal, mas quando perguntei na frente da minha casa qual era o
codinome dele, se fechou e foi embora sem me responder.
— Eu vou dar um soco nele por você — Hope se irrita.
— Existe outra pessoa? — Josephine pergunta magoada. — Alguém
que seu irmão ama.
— Por que você pergunta isso? — noto como a Hope foge de
responder a Josephine. Encaro a Emily desconfiada, ela expressa o mesmo
que eu.
— É meio óbvio — ergue os ombros — o Black não gostava de mim
por causa do Kai, mas agora que estou me dando melhor com vocês e meu
irmão, ele deve ter percebido que eu não sou um completo demônio. Não
nego que já causei muita confusão nos bailes da família, mas foram todos
necessários.
— Josephine — Hope chama sua atenção severa — dizer que a Ava
era uma velha amargurada não foi necessário.
— Ela insinuou que eu não conseguia casamento por ser magra
demais! Aquela velha mereceu ouvir uns desaforos.
— Aquela velha é a sua avó e já foi a esposa de um subchefe. Você
precisa controlar um pouco mais a sua língua afiada e atrevida.
— Eu controlo se ela se controlar — balança a cabeça — em fim,
estamos falando do Black, não da Ava. Existe alguém que ele ame e por isso
o Black me mantém distante?
— Se tiver, eu não conheço.
A Hope não é boa mentindo, ela engole em seco, em expectativa pela
Josephine acreditar nela. Minha amiga vira a taça de vinho engolindo o
conteúdo de uma vez.
— Então, qual o codinome dele? — pergunta curiosa.
— Só sei o do Michael, que é Dragon.
— O Daniel é Wolf — Emily complementa, ela cutuca meu braço,
quase ansiosa para mudar de assunto.
— O Kai se chama Cérbero, o cão de três cabeças — completo.
— Bem que podíamos ter apelidos — Emily diz rindo — o quarteto
de damas.
— Escolhe algo mais legal — Josephine a cutuca com o pé — como
as super mulheres sedutoras.
— A rainha dos cadelas — eu digo rindo.
— Os meninos vivem se chamando assim — Hope diz — por diversas
vezes já os ouvi se xingando no escritório do Michael, sobre quem é o mais
cadelinha pela esposa.
— E nós somos as donas deles — aponto. — Podemos ser o quarteto
donas dos monstros. Lembro que tem algo de monstro no nome do esquadrão
deles.
— As domadoras de monstros — Hope bate palmas — gostei. Cada
uma domou um dos temidos e deliciosos membros do quarteto monstro.
— Eu apoio — Emily enfia um pedaço de queijo na boca.
— Gostei, qual seria os codinomes? — Josephine pergunta servindo
minha taça de vinho.
— Daniel vive me chamando de Súcubo — Emily fala — um
demônio sexy que invade os sonhos dos homens criando cenários eróticos
enquanto drena suas almas.
— Sexy — Josephine sorri.
— Não sei o que eu seria — Hope diz.
— Uma coruja — respondemos ao mesmo tempo. Rimos — você é
muito protetora com o Ethan — eu digo — supera o “mãe coruja” — faço
aspas com os dedos — e com a gente — a abraço de lado.
— Gostei, sou a corujinha que cuida de vocês, minhas preciosas
filhas.
Gargalho pelo seu jeito mãezona de falar.
— Eu sou a Gata — mostro as garras — Kai adora me chamar assim,
e combina com o Cérbero dele. Brigávamos como cão e gato no nosso
noivado.
— Bom eu seria — Josephine leva o dedo ao queixo, fingindo pensar
— uma serpente, letal, com um veneno matador.
— Eu declaro — Hope levanta erguendo sua taça — a criação do
quarteto de mulheres intitulado Domadoras de Monstros, com as
participantes Coruja, Súcubo, Gata e Serpente!
— Ficou incrível — digo batendo palmas.
Continuamos a diversão até apagarmos deitadas no chão da sala
coberto por edredons fofinhos. Dormimos uma por cima da outra com a
Emily protegida na ponta para ninguém machucar sua barriga. Em meio ao
sono desperto ao sentir movimentação, vejo a Josephine levantando, ela
segue o Kai para fora.
Espero que tenha chegado a hora dos irmãos terem uma conversa
definitiva e poderem se acertar.
Eles merecem um recomeço.
CAPÍTULO 22 KAI

A Daisha me proibiu de voltar para casa enquanto ela estivesse na sua


noite de meninas. É uma pena que eu nunca fui bom em obedecer. Preciso
ver a minha boneca, roubar um beijinho gostoso antes de dormir. Já passa das
4 horas da madrugada, ela nem vai perceber a minha presença em seu sono
pesado.
Abro a porta de casa sem fazer zoada, Brandon ficou de guarda e me
garantiu que as meninas estavam bêbadas dormindo na sala de estar. Retiro
os sapatos e caminho devagar, entro na sala encontrando o monte de edredons
e mulheres dormindo umas por cima da outra, com exceção de Emily no
canto virada para o sofá.
Minha boneca ao seu lado de costas para ela, abraçando a cintura da
Hope, a outra tem uma perna por cima da Daisha e da Josephine que dorme
de braços abertos ressoando baixinho no seu sono. Agacho perto da
Josephine, aliso seu rosto de feições finas, ela acorda. Retraio a mão levando
aos lábios indicando que deve fazer silêncio.
— Que horas são? — pergunta baixinho e rouca.
Ergo quatro dedos respondendo a sua pergunta. Ela acena em positivo,
olha ao redor e se mexe saindo debaixo da perna da Hope. Josephine me
encara dizendo muito com seu olhar. Aponta para fora me chamando para
conversar e concordo. Ela levanta devagar, agachado vou até a minha boneca
beijando o topo de sua cabeça, levanto seguindo a Josephine para fora.
— Tudo bem? — pergunto fora da sala de estar.
— Na verdade, não — responde apertando as mãos na barriga — eu
conversei com a Daisha e as coisas que ela falou não saem da minha mente
— Josephine parece prestes a vomitar, me aproximo tocando seu antebraço.
— Você não parece bem, quer ir ao médico? — aliso seu ombro a
puxando para mais perto, podemos estar conversando mais ultimamente,
contudo sei que ela não aceita totalmente toques carinhosos de mim, por isso
contenho a vontade de a apertar entre os braços.
— Estou ansiosa — abana as mãos se livrando de mim — vamos
conversar em um lugar com privacidade? Eu sinto que se não tirar isso do
meu peito vou explodir — franze a testa em aflição.
— Claro, vamos lá para cima — aponto as escadas.
— Não, Kai — prende meu pulso — quero um lugar longe de tudo
isso — seu olhar me deixa preocupado, aceno em positivo sabendo onde a
levar.
— Você vai precisar vestir algo mais quente — aponto seu pijama de
algodão.
— Me espera aqui — volta para a sala.
Sento no primeiro degrau ansioso pelo seu retorno. Noto minhas mãos
tremendo, estou nervoso. Eu fui um péssimo irmão para a Josephine e ela
possui todos os motivos do mundo para me odiar, se hoje ela me der a chance
de me explicar eu vou tentar ao máximo mostrar a ela o meu lado, o motivo
das minhas ações e se necessário implorar pelo seu perdão. Só preciso que ela
esteja pronta para me ouvir.
— Vamos — ergo o olhar percebendo que ela usa um conjunto de
moletom.
Saímos de casa, subo na moto e entrego um capacete para ela. Seus
braços rodeiam minha cintura me usando de apoio, aviso aos soldados o lugar
em que estamos indo e devem manter distâncias. Eles já estão acostumados a
ficarem longe.
Demora cerca de uma hora para atingirmos a costa. Josephine desce
da moto pisando na areia da praia se aproximando aos poucos da água do
mar. Desligo o motor descendo, inspiro fundo, retiro meu casaco ficando
somente com o paleto e ponho nos ombros dela.
— Aqui é calmo — ela diz por cima do som do vento.
— É meu lugar secreto para colocar a cabeça no lugar, poucas pessoas
usam essa parte da praia — observo o outro lado da cidade e a ponte ao longe
brilhando pela iluminação. — Trouxa a Daisha aqui uma vez, somente você e
ela conhecem meu segredo.
— Precisamos conversa Kai — ela me encara triste — e de verdade,
eu não aguento mais viver com essa dor no meu peito — aperta a mão no
tórax — é você, o Black. Só posso escolher lutar contra um por vez.
— Não estamos em guerra — falo macio — eu nunca quis te odiar —
confesso encarando os olhos idênticos aos meus — eu lutei pelo seu
nascimento, Josephine. As coisas saíram completamente do controle —
pigarreio lembrando a dor dos anos passados — e não existem desculpas para
justificar a dor que eu te causei.
— Podemos começar pelo começo — ela pede, os olhos marejados —
apesar de nos entendermos melhor hoje em dia, eu ainda tenho muita raiva e
mágoa pelo passado — pisca espantando as lágrimas — eu não quero
continuar vivendo com dor, eu mereço ser feliz.
Aperta os punhos rangendo os dentes. Meu peito sangra por ver seu
sofrimento e saber que tenho culpa. Aperto os dedos contendo a vontade de a
puxar para um abraço. Se eu pudesse construir uma máquina do tempo para
retornar ao passado e impedir toda a desgraça que foi a nossa vida. Voltaria
para o exato momento em que a Josephine me afastou e eu deixei,
mergulhado na minha dor, não percebendo a dela.
— A Daisha me falou um pouco sobre as coisas que você disse a ela
— chuta a areia com a ponta do tênis — e eu sei como é agir motivada pela
fúria — me encara — atacar primeiro e nunca perguntar. Acho que somos
mais parecidos do que pensamos. Eu parei de tentar me explicar e não
deixava você se justificar, você se tornou meu inimigo e eu a sua.
— Você tem razão — eu sento no chão — quando paramos de ouvir
um ao outro tudo desmoronou.
— Estou pronta para ouvir, Kai — senta ao meu lado — você precisa
entender, a dor no meu peito não vai sumir com uma simples explicação,
então seja completamente verdadeiro comigo. Chega de me manter no escuro
para me proteger. Você pode pensar estar fazendo o certo, mas não está.
— E você, promete ser sincera comigo? — peço, sabendo que
Josephine possui segredos, principalmente relacionado a Rebeca — não tente
esconder nada do que a Rebeca fez com você por achar que vou a defender.
Hoje não é sobre ela, só diz respeito a você e a mim.
— Eu quero que aquela vadia se exploda.
Ainda me magoa ouvir palavras maldosas da boca da Josephine
direcionadas a nossa irmã. Engulo em seco aceitando que preciso ser forte
por nós dois ou nunca conseguiremos nos entender. Hoje não se trata sobre a
Rebeca que eu conheço, mas somente de ouvirmos um ao outro e confiarmos
em nossas palavras.
— O Louis não queria ter filhos — começo, sabendo que é melhor
falar sobre como tudo iniciou — ele me teve para cumprir a obrigação
imposta pela Máfia. Depois disso obrigou a Eleanor a cometer abortos, eu
nunca vou entender o motivo dela não ter tomado um anticoncepcional ou
feito qualquer coisa para não engravidar.
— Ela é uma maldita vaca psicótica — Josephine responde.
— Talvez, nos meus 7 anos eu testemunhei uma das brigas deles por
causa de gravidez. O Louis ficou furioso e me prendeu no freezer pela
primeira vez — aliso meus braços tentando não lembrar da sensação
agoniante de ser preso — por anos aguentei a solidão e os castigos. Ele me
batia pelas coisas mais bestas — sacudo a cabeça e a encaro — se eu
respirasse errado era castigado, eu me sentia completamente sozinho —
controlo o tom de voz, lembrando do desespero da minha infância.
— Eu sinto muito — ela aperta meu ombro — nunca imaginei que ele
te machucasse.
— Eu me esforçava para esconder, não queria vocês duas sofrendo
por minha causa. Eu sou um homem de honra, é meu dever aguentar e
proteger minha família.
— Passei a vida te enxergando como um homem forte, antes das
brigas você era meu herói — admite chateada — Se ele não queria filhos,
como eu e a Rebeca nascemos? Foi um capricho doentio?
— É culpa minha — desvio a visão para o mar escuro, iluminado pela
luz da lua.
— Como? — a dúvida em sua voz me faz hesitar, e se ela me odiar
mais?
— Eu não aguentava mais a solidão e as torturas — remexo na areia
— acreditava que se eu tivesse uma irmã seria mais fácil suportar o inferno.
Eu desejei com todas as forças por alguém para amar e ser amado — a
encaro, a garganta trava — eu precisava de amor ou sucumbiria, mas não
queria alguém sofrendo como eu — jogo a areia — eu tinha decidido
desaparecer.
— Kai? — Josephine se mexe agarrando meu braço.
— Eu já tinha 14 anos, conversava com o Black e o Daniel, mas
eramos fechados na época. Retornar para casa era um completo inferno. Eu
não via sentido na organização, ou em seguir as ordens do Louis para no final
ser eletrocutado todo mês para ele me lembrar do quanto eu era fraco. —
Soluço — eu tinha decidido dar um fim em tudo, prendi a corda na coluna
mais alta do meu quarto, subi na cadeira e a passei no pescoço.
— Kai — Josephine puxa meu corpo contra o seu, tremendo — você
tentou se matar — ela sussurra magoada.
— Eu já pensava nisso há bastante tempo, só não tinha tido coragem
— admito. — Antes de pular da cadeira ouvi os gritos da Eleanor e o Louis a
mandando fazer outro aborto. E então eu tive esperança diante da morte.
— Ah Kai — Josephine treme segurando as lágrimas presas nos olhos
— eu sinto muito, não fazia ideia.
— Xiu — encosto nossas testas alisando seus cabelos — já passou, foi
ha muito tempo. O que importa é que eu estava decidido a acabar com a
solidão, seria meu último ato antes de desistir. Eu corri até eles, com uma
ideia e a esperança do Louis aceitar, ele parecia contente com meu
desempenho na máfia, então eu tinha uma chance.
Aliso seu rosto fino limpando os rastros de lágrimas.
— A gente deveria ter trazido felicidade, mas só pioramos seu
sofrimento — ela geme.
— Não — agarro suas bochechas a fazendo me encarar — você e a
Rebeca me deram anos felizes, curaram a minha alma fragmentada. Nem
pense em se culpar, o Louis e a Eleanor são os únicos responsáveis pela
desgraça na nossa família.
— O que você fez para nascermos?
— Um acordo com o Louis. Eu já estava provando o meu valor na
organização. Garanti a ele que se permitisse o bebê nascer eu assumia
completa responsabilidade, criaria a criança e garantiria que ela não desse
trabalho. Ele sorrio como um sádico percebendo que eu estava dando a ele
todo o controle da minha vida, aceitando a submissão em troca do seu
nascimento. Naquele noite fizemos um acordo, eu ficaria completamente
responsável pelo bebê se fosse uma menina e ela teria de ser uma dama
perfeita, qualquer deslize eu seria punido severamente.
— Você fez um acordo com o diabo pelo meu nascimento? — seus
olhos ficam sem expressão, caindo em tristeza.
— E faria outras mil vezes — fungo precisando ser forte, ela não pode
se culpar pelas minhas escolhas, precisa entender que tudo o que fiz foi por
mim, para cessar o sofrimento, e acalentar minha necessitada por amor. —
Você nasceu pelo meu egoísmo de não querer continuar sozinho e eu nunca
me arrependi dessa escolha.
— Mesmo quando eu te xingava e o mandava ir para o inferno? — ela
funga sem conseguir conter as lágrimas, acaba comigo saber que estou
magoando a Josephine.
— Sim — encosto nossas testas — pois você valia a pena. E era uma
bebê muito fofa e linda — rio em meio ao choro — acho que você não
lembra, mas até os seus 10 anos a gente dormia junto. Eu chegava em casa e
a primeira coisa que fazia era te tirar das babás e levar você para o meu
quarto, passávamos horas brincando, eu sentindo seu aroma de neném, você
puxava tanto meu cabelo que precisei passar uns sete meses careca.
Ela rir acompanhando o meu riso.
— Você me trouxe luz, Josephine e muito amor — beijo sua testa —
eu que escolhi seu nome pelo significado de “Deus multiplica”, eu acreditava
no amor e esperança que preencheriam nossos dias. Eleanor engravidou
novamente de outra menina, o Louis estava satisfeito com a minha
obediência cega e permitiu a gravidez da Rebeca sobre os mesmos termos, eu
seria o completo responsável. O nome dela significa “aquela que prende”, eu
acreditava que nossa irmã seria o laço final na nossa união.
— Eu lembro de algumas noites em que dormíamos juntos — sorri
triste — eramos felizes naquela época e é por isso que dói tanto ter sido
abandonada — soluça franzindo a testa. Aperto seus ombros desesperado
para arrancar a dor de seu peito — eramos felizes na minha infância. Você
era o meu herói, mas tudo mudou quando você passou a dar mais atenção a
Rebeca, esquecendo de mim — ela soca meu peito — como você foi capaz
de me abandonar? — grita chorando, o rosto vermelho. Mordo o lábio
recebendo sua dor — eu te amava tanto e você só tinha olhos para ela.
— Não é verdade — agarro seus punhos o rosto dela desfocado
devido à água nos meus olhos — você sempre foi mais quieta no seu canto, a
Rebeca não podia me ver que pulava nos meus braços. Ela me esperava na
entrada de casa todos os dias, por isso eu sempre te encontrava com ela no
colo. Eu nunca dei preferencia a ela, só te deixava fazer as coisas no seu
tempo.
— Não é verdade — geme soluçando — quando você não estava ela
se gabava sobre ser sua preferida — range os dentes — um dia fizemos uma
aposta, sobre quem você abraçaria primeiro ao chegar em casa. Ficamos na
sala te esperando e quando você chegou foi primeiro para ela — grita
socando meu ombro — eu estava lá e você não veio a mim!
Busco na memória a lembrança e uma parecida me vem a mente, mas
não é como a Josephine narra.
— Foi no dia em que você estava deitada lendo no sofá com os fones
de ouvido e a Rebeca no outro sofá perto da porta? — Busco a lembrança
antiga com mais precisão — quando eu cheguei a Rebeca se virou para mim
e sussurro que tinha um segredo para contar. Por isso eu fui até ela.
— O quê? — ela trava confusa. — Não, ela não disse nada.
— Você não tirava o MP4 dos ouvidos, muitas vezes eu falava e você
não me escutava, sempre com a cara nos livros infantis e a música ao seu
redor — tento me explicar — se estamos falando da mesma noite, foi isso o
que aconteceu. Eu me aproximei da Rebeca para ouvir o segredo, fiquei com
medo do Louis ou da Eleanor ter machucado vocês, eu sabia que ela não era
uma boa mãe. Peguei a Rebeca no colo e esperei ela falar o segredo, mas ela
riu e comemorou por eu a abraçar e você saiu da sala bufando em ódio. Eu fui
ao seu quarto saber o que tinha acontecido, mas se lembra o que fez?
— Bati a porta na sua cara — sussurra se encolhendo — eu tinha
certeza de que você a tinha escolhido. Aumentei o som dos fones e chorei na
minha cama o resto da noite — inclina a cabeça de lado — eu não percebi o
que ela estava fazendo.
— Nem eu — suspiro arrependido. — Foi ali que tudo começou a
desmoronar. Você se afastava cada vez mais e ia se tornando rebelde
conforme entrava na adolescência.
— Eu precisava ser forte — rosna apertando as unhas nas palmas da
mão — você não fazia ideia do que acontecia naquela casa na sua ausência. A
Rebeca era malvada com os animais, um dia a vi machucando um gatinho e
corri para contar a Eleanor, a levei até onde a Rebeca estava no quintal, ela
tinha quebrado a pata do gato — engunho ao imaginar a Rebeca fazendo isso.
Josephine expressa medo — a Eleanor ao invés de brigar com ela sorriu.
Aquela maldita sorriu! — Josephine rosna em raiva — e eu percebi que se
não me tornasse selvagem eu seria engolida pela maldade delas.
— Eu — perco a fala sem conseguir acreditar — nunca soube —
suspiro — a Rebeca, ela não pode ser assim — encolho recebendo um soco
no estômago.
— Ela é pior do que você imagina — Josephine rosna. — E quando eu
percebi que ela conseguia te manipular eu soube que não podia contar com
você — ódio nubla seus olhos — depois daquele dia da história do Tobias, eu
parei de acreditar que você me amava e o tornei meu inimigo. Era mais fácil
do que aceitar que você era como a Eleanor, que via a verdadeira face
psicopata da Rebeca e gostava.
— Você precisa saber de uma coisa.
Aperto suas mãos nas minhas sabendo que vou a machucar. Não tem
como salvar a nossa relação com mentiras ou meias verdades.
— Quando você e a Rebeca brigavam eu era punido, as cicatrizes que
eu tenho, mais de 90% foram causadas pelo Louis por eu não conseguir
controlar minhas irmãs, como tinha dito que faria. Hoje eu entendo que
muitas vezes você achou que eu tinha te abandonado e estava com a Rebeca,
mas não é verdade, eu estava preso no porão, sendo torturado, por isso não
podia ir a você e quando eu saia precisava me recuperar primeiro. A Rebeca
me viu uma vez deixar o porão estourado de ferimentos e cuidou de mim no
seu quarto, eu não contei a ela o que aconteceu, mas ela entendia e por isso te
culpava.
Josephine me surpreende ao me abraçar apertado, chorando alto no
meu ombro. Ergo os braços ao seu redor apertando o pequeno corpo contra
meu peito. Inspiro seu cheiro, soluçando em seus cabelos me deixando ser
confortado enquanto eu a conforto.
— Se você tivesse me contado, eu teria sido diferente. Por minha
causa…
— Não — minha voz rouca sai tremida — você nunca vai se culpar!
O Louis é o único responsável e hoje eu entendo. Na época eu fui um fraco e
me deixei guiar pelo medo. O Louis me batia te culpando por eu estar sendo
torturado. Aquelas malditas palavras penetraram na minha cabeça como um
prego e quando você me rejeitava, me jogava para fora eu só sentia raiva,
revolta. Eu dei tudo de mim por vocês e estava sendo jogado novamente na
solidão pela qual eu lutei para escapar — tremo agarrando seu rosto,
arrependido — eu fui um fraco por te culpar pelas agressões, deixando ele se
infiltrar na minha cabeça. O único errado sou eu por desistir e escolher o ódio
ao invés do amor.
— Você não é o único culpado — o desespero da minha irmã parte
minha alma — eu também preferi viver te odiando, acreditando nas mentiras
da Rebeca do que te deixar entrar. Eu estava magoada, ferida, e a única forma
que encontrei de seguir em frente foi causando dor. Eu não aguentava sofrer
sozinha, mas eu devia ter percebido, lutado mais, feito algo — aperta o
abraço tremendo — eu te afastei por achar que você não me amava. Me
revoltei por você nunca acreditar em mim, sempre ouvindo as versões
maliciosas da Rebeca, eu só conseguia me comunicar com você pelas brigas.
E enquanto isso você era machucado e eu nunca te abracei ou consolei.
Eu não consigo responder a sua confissão. Meu peito dói tanto que
parece está sendo arrancado. O corpo tomado por tremores, beijo seu rosto,
sentindo o gosto das lágrimas, desesperado para levar embora o sofrimento.
Só queríamos ser amados e acabamos destruindo um ao outro ao nos
perdemos na dor. A Josephine não tem culpa, eu não tenho culpa, e
merecemo nos perdoar e por uma lápide em cima do sofrimento rasgando
nossas almas.
— Não é tarde, Josephine — digo rente a sua orelha, mal conseguindo
falar — não merecemos viver presos ao passado, sofrendo no presente. Eles
nunca mais serão capazes de nos atormentar. Eu te amo minha irmã e mesmo
que você não possa me perdoa, se me permitir fazer parte da sua vida,
mostrar o quanto eu me importo eu prometo que nunca mais iremos nos
machucar. Chega de sofrer, Josephine. Nos merecemos ser felizes e viver
como irmãos que se amam.
— Perdoar? — ela me encara vermelha, os olhos inchados e o nariz
escorrendo — Kai não existe o que perdoar. Você sofreu por minha causa, e
eu não pude perceber todas às vezes em que você me protegeu — a ponta
gelada de seus dedos rodeia minha orelha — eu só quero ser sua irmãzinha de
novo, mesmo após todos esses anos eu ainda te amo e quero muito ser amada
por você.
— Você sempre será amada — afundo seu corpo no meu — eu te amo
para cacete Josephine.
— Eu também te amo, meu irmão.
Hoje nos fomos capazes de desmontar nossas almas, quebrar as
barreiras erguidas e nos enxergar de verdade. A dor rascante dá lugar
sutilmente ao amor e a esperança. Eu vou passar o resto da minha vida me
redimindo com a Josephine e a farei ser feliz, não importa o preço. Minha
irmã nunca mais sofrerá.
CAPÍTULO 23 KAI

— Naquele dia em que cortei o braço da Rebeca na cozinha, eu te


abandonei após você não procurar por mim — Josephine funga baixinho após
um choro intenso de ambos — eu quero saber a verdade por trás do seu
sumiço.
— E você me conta a sua? — peço, nunca mais fomos os mesmo após
aquele dia.
— Sim, sem mentiras Kai. Você precisa saber quem eu sou, mas
principalmente a real face da Rebeca. E eu necessito conhecer você.
— Certo — beijo o topo de sua cabeça — naquele dia eu cheguei em
casa após uma missão, estava com um ferimento de faca na coxa…
Mergulho nas lembranças do passado, da briga entre a Rebeca de 12
anos e a Josephine de 14 anos.

Abro a porta entrando com dificuldade o ferimento durante a minha


fuga do território dos russos incomodando. Foi um inferno ficar infiltrado
por meses recolhendo informações do acordo dos russos com os coreanos.
No final consegui o que precisava, mas tive de sair correndo da Rússia ao
ser descoberto.
É um milagre estar voltando vivo com somente um corte de
lembrança. Só quero abraçar minhas irmãs, as colocar na cama e passar a
noite assistindo filme em paz recebendo o amor delas. Eu soube que elas tem
brigado bastante nos últimos meses e irritado o Louis, vou precisar
conversar com elas, não podem causar problemas.
— Vadia fingida! — Ouço a Josephine gritando, aperto os olhos
sabendo que encontrarei o caos.
— Vai para o inferno, sua vaca! — Rebeca rebate.
Apoio a mão na parede do corredor tentando manter o equilíbrio ao
andar mais rápido para a cozinha, de onde os gritos parecem vir. Atravesso
o portal. Paraliso com a cena a minha frente. Josephine e Rebeca estão
atacadas pelos cabelos brigando. Sou inundado pela tristeza e desgosto ao
ver a fúria com a qual se batem.
Elas não deveriam ser assim.
— PAREM! — Grito.
Rebeca é a primeira a reagir soltando os cabelos da Josephine,
preciso segurar os pulsos da mais velha a obrigando a abrir as mãos e soltar
os cabelos da mais nova. Josephine tem fogo nos olhos, agindo como um
animal selvagem. Rebeca tem lágrimas contidas e o queixo tremendo com um
pequeno corte.
— O que vocês pensam que estão fazendo? — rugo irritado — eu já
disse para não brigarem!
— Ela jogou meu celular na piscina! — Rebeca grita.
— Mentira! — Josephine rebate.
— Por que a Josephine faria isso? — pergunto encarando a Rebeca.
Eu sei que elas brigam bastante, mas não imagino minha irmã fazendo algo
do tipo. Josephine é esquentada, mas quieta no seu canto.
— Pergunte a ela — Rebeca responde.
— Josephine? — a encaro.
— É mentira Kai! — aponta para a Rebeca — ela surtou por saber
que descobri sobre o caso dela com o Tobias.
— Sua mentirosa! — Rebeca ruge — é ela quem está ficando com o
Tobias, eu tirei uma foto para te mostrar. Meninas não podem ficar com
rapazes, principalmente de fora da máfia — Rebeca parece a Eleanor
falando — ela jogou meu celular para encobrir as provas!
— Eu vou arrebentar a sua cara! — Josephine avança. Seguro sua
cintura a colocando perto da pia.
— Você fica aqui — eu digo. — Vou pegar o celular e descobrir quem
fala a verdade.
— O quê? — Josephine fica branca como um fantasma.
— Dá para recuperar — eu digo tentando manter a calma.
— Acabou para você — Rebeca provoca.
— Rebeca já chega! — Rígido a encaro, ela se assusta pulando para
trás. — Fiquem as duas aqui.
Dou as costas caminhando para a porta dos fundos. Toco a maçaneta
escutando um grito de dor. Giro assustado vendo a Josephine com uma faca
nas mãos, sangue pingando no chão pelo ferimento no braço da Rebeca. Na
soleira da porta Louis encara as duas com fúria no rosto. Mancando chego a
elas ficando de frente para o Louis.
— Eu sou o responsável — digo com a voz tremula.
— Josephine acabou de cortar o braço da Rebeca — sua
tranquilidade me assusta — ELEANOR! — Grita por nossa mãe que não
demora a aparecer — leve a Rebeca a clínica, Josephine vá para seu quarto
e você — aperta meu pescoço com a mão — vem comigo.
Não posso olhar para trás, ele me arrasta para o porão. Pelos
próximos dias sou pendurado em correntes pelos braços, Louis usa meu
ferimento de faca para me torturar batendo com um taco de basebol. Ele só
cessa o ataque quando desmaio.
Acordo com um balde de água fria despejado no meu corpo suspenso
no ar.
— Você sabe por que está aqui? — ele pergunta novamente. Todos os
dias a mesma pergunta, minha mente confusa demora para processar. —
Responda — estapeia meu rosto.
— Por causa da Josephine — dou a ele a resposta desejada — ela
cortou a Rebeca.
— Isso mesmo, nos últimos meses fui obrigado a aguentar as brigas
dessas meninas malditas por sua causa. Você deu sua palavra de que
cuidaria delas, cumpra sua parte do acordo. Josephine está se tornando uma
garota insuportável e rebelde e eu não gosto disso. Ela cortou a Rebeca sem
hesitar. Outro ato de rebeldia e eu vou castigá-la e fazer pior com você,
entendeu?
Pavor me toma ao imagina a Josephine no maldito porão. Eu preciso
fazer algo.
— Sim senhor, desculpe.
— Suma da minha frente.
Com um baque caio no chão. A porta do porão abre e eu sei que devo
sair daqui ou ficarei preso por dias. O Louis odeia quando o desobedeço.
Apoio o peso do meu corpo machucado nos braços me arrastando para fora,
as pernas sem forças. Saio do porão chegando as escadas, ele passa por mim
indo embora.
Apago nos degraus, aqui é mais seguro do que dentro da sala.
— Kai — uma voz suave me chama, enxergo com dificuldade entre as
pálpebras — eu vou cuidar de você — alguém chora no meu ouvido. —
Levem ele para meu quarto.
Braços me carregam no ar, desmaio. Alterno entre a lucidez e
apagões. A única coisa que registro é a Rebeca ao meu lado, às vezes ouço
sua voz, outras seu choro e promessas, pedidos de desculpas. Não sei quanto
tempo leva até eu conseguir recuperar a consciência.
— Kai — Rebeca surge no meu campo de visão, o rosto inchado —
finalmente você acordou.
— Quanto tempo dormi? — pergunto, a voz rouca.
— Uma semana, eu fiquei apavorada — observo ao redor
reconhecendo seu quarto — o Louis não me deixou trazer um médico para
cuidar de você, mas eu vi como suturar um ferimento — ergue o braço
enfaixado — acho que fiz um bom trabalho cuidando de você.
Observo meu corpo, estou só de cueca enrolado pelo edredom. Uma
faixa branca na minha perna machucada. Ela lateja de dor, dormente, pego
os comprimidos que a Rebeca me dá e como a torrada feita por ela. Precisei
de mais três dias para conseguir me recuperar o suficiente para ficar em pé.
A Rebeca não sai do meu lado, ela não faz perguntas, só fica aqui cuidando
de mim e me trazendo paz com seu sorriso.
— Como você me encontrou? — pergunto após vestir um conjunto de
moletom.
— O Louis não queria dizer o que fez com você — dá de ombros —
então eu o seguia dentro de casa e percebi o padrão, sempre no porão no
mesmo horário. Um dia consegui ver a senha da porta, após ele sair eu
entrava, mas não sabia a senha da outra fechadura. Repeti o ciclo todos os
dias, até te ver no chão das escadas. Pedi ao seu segurança para te trazer ao
meu quarto, ele não fez perguntas.
— Rebeca — a puxo alisando os cabelos da minha pequena irmã
corajosa, ela só tem 12 anos. Não deveria ser obrigada a passar por esse
inferno.
— Está tudo bem, Kai — beija minha mão — eu faço qualquer coisa
por você meu irmão amado — envolve os braços no meu pescoço — eu te
protejo.
— Promete não brigar mais com a Josephine? — peço.
— Certo — ela responde baixinho — peguei meu celular na piscina —
sai do meu colo — você vai ver que falo a verdade. Ela ficou furiosa porque
descobri o casinho dela.
— Obrigada pelo celular — pego o aparelho — mas não falaremos
mais do assunto, certo?
— Ok — responde baixinho.
Com esforço me ergo da cama, aliso sua cabeça e saio do quarto.
Preciso encontrar a Josephine. Ela deve estar me odiando por não falar com
ela todos esses dias. Com dificuldade vou para seu quarto, bato na porta.
Não ouço resposta, giro a maçaneta, ponho a cabeça para dentro a vendo na
cama ouvindo música no fone e lendo.
— Josephine? — puxo o fone. Seu olhar magoado me encara, mas
nada me prepara para receber sua raiva.
— Você não acreditou em mim! — a voz embarga em fúria.
— O que aconteceu, Josephine? — pergunto cansado, sentado na
cama com as costelas doendo pela surra com o taco de basebol.
— Rebeca já contou o teatrinho dela — vira de costas não me
deixando ver seu rosto — você vai acreditar nela como a Eleanor e o Louis
fizeram. Ninguém me escuta.
— Não é verdade — tento a puxar para mim. Josephine empurra as
mãos contra minha perna se afastando, atingindo meu ferimento. Tenho
vertigens pela dor. Ela não percebe que me machucou.
— Você é um maldito idiota cego!
— Vocês eram amigas — relembro da infância quando as duas
brincavam juntas, precisando de algo capaz de romper a raiva e trazer a
amizade delas de volta — como puderam chegar a esse ponto?
— Ela é uma maldita vaca psicopata! — Grita com lágrimas nos
olhos. — E você um pateta que sempre fica do lado dela.
— Quando eu fiz isso? — Pergunto cansado.
— Sempre foi assim, Kai, você dá mais atenção a ela do que a mim.
— Eu nunca tratei vocês com diferença.
— Todas às vezes que você chega em casa, quem é a primeira pessoa
com quem você fala? Caso não saiba é a Rebeca. — Revira os olhos.
— Ela vem a mim, é diferente Josephine. — Tento argumentar, a dor
irradiando, tirando minha concentração.
— Não é não — bate as mãos no colchão — quando éramos mais
novas ela vivia nos seus braços. Eu sempre tive de lutar pela sua atenção.
— Josephine — seguro seu rosto tentando puxar para mim, ela recusa
recuando — eu te amo, a Rebeca só possui mais facilidade em demonstrar
como se sente do que você. E não tem nada de errado em ser assim, venha
aqui — faço esforço a trazendo para meu peito, ignorando a ardência nos
machucados, abraçando seu corpo pequeno. — Eu nunca quis que você se
sentisse deixada de lado, desculpe. — Beijo sua cabeça.
— Eu não ia cortar ela — confessa em voz baixa — quando você se
virou ela pegou a faca e veio na minha direção, eu revidei roubando a faca
da mão dela, estava com tanta raiva que gritei em ódio e a machuquei, mas
juro que não era minha intenção inicial.
— E o celular?
— A maluca jogou o aparelho na piscina, ela sabe que descobri que
ela tem ficado com o Tobias e o celular tinha provas deles juntos, várias
fotos. Eu ameacei te contar e ela surtou.
Duas versões para a mesma história. Eu vi a Josephine com a faca na
mão, era ela quem estava perto do faqueiro na pia. O Louis viu o momento
do ataque e foi enfático ao dizer que eu não mantive minha promessa de
controlar a Josephine e que a Rebeca se machucou devido à irmã impulsiva.
Preciso de uma prova real do que aconteceu, não posso acreditar no que me
contam.
— Quem te machucou? — pergunto ao ver o roxo no seu braço.
— A Eleanor, depois que levou a Rebeca a clínica, ela me bateu com
o sapato no braço e me trancou no quarto. Por que você não veio me ajudar?
— Os olhos tristes me encaram, meu peito aperta por saber que não posso
contar a verdade ou Josephine vai se culpar — eu esperei por você todos
esses dias e você nunca veio.
— Estou aqui agora — aliso seu braço.
— Você estava com ela — rosna levantando — vai embora Kai.
— Não é o que você pensa — me ergo, a dor a perna aumentando
pelo movimento brusco — deixa eu ver seu machucado.
— Eu quero que você diga que acredita em mim — a voz dela me
parte, desesperada para provar que é inocente.
Estou entre minhas duas irmãs, em uma situação no qual não sei
quem fala a verdade. As histórias são as mesmas em cada detalhe, só
mudando a vilã e a vítima. Preciso ver o celular da Rebeca para saber o que
tem nele, tenho ciência de que existe a remota possibilidade do Louis mentir
sobre a Josephine ter pego a faca primeiro.
— Não posso acusar uma e defender a outra sem ter certeza — é
dolorido deixar as palavras escaparem e mais ainda ao ver o que fazem com
a Josephine.
— Eu odeio você — rosna esmurrando meu peito.
O ar é cortado de meus pulmões, Josephine grita batendo os punhos
contra minha carne. Seguro seus pulsos tentando manter a respiração, não
querendo que ela me veja desabar, eu saio de seu quarto sem dizer uma
palavra. Entro no banheiro desabando no chão, a dor se tornando
insuportável, desmaio.

— Você olhou o celular? — Josephine pergunta, em algum momento


as lágrimas no seu rosto secaram pela brisa do mar. Restando somente a voz
embargada.
— Sim, encontrei fotos suas com um garoto chamado Tobias, por isso
tirei vocês da escola e pedi a transferência para o colégio da Emily e Daisha.
— Aperto seu ombro — me conte sua versão.
— O Tobias era meu amigo e gostava da Rebeca. Um dia ele me
contou que estava ficando com a Rebeca, eu sabia o risco que ela corria e
mesmo a odiando eu a confrontei. Tobias me garantiu que no celular dela
tinha foto deles dois. Eu tentei pegar o celular dela e ele acabou caindo na
piscina. Rebeca ameaçou dizendo possuir fotos minhas com o Tobias e fiquei
com medo de você interpretar errado as imagens. O resto aconteceu como
você já sabe. Acabamos brigando fisicamente, mas na parte da faca eu juro
Kai. Ela veio na minha direção no segundo que você se afastou, pegou a faca
no faqueiro e ia me machucar. Se eu não tivesse revidado.
Percebo o desespero em seu olhar, precisando que eu acredite nela.
Passeia anos duvidando da Josephine, acreditando na Rebeca e em todos os
detalhes que ela me dava. Até o momento em que a Josephine não confiava
mais em mim, sem conseguir nos comunicar brigamos, xingamos e nos
odiamos.
Para mudar nosso relacionamento eu tenho de confiar nela, independe
da dor no meu peito por perceber meus erros. A Rebeca sempre esteve ao
meu lado, trazendo carinho e conforto em meio a solidão, garantindo que
minha alma aguentasse mais um pouco.
Sou despedaçado por perceber que existe a possibilidade de os
momentos de consolo e ternura terem sido uma manipulação para me fazer
acreditar na Rebeca com mais facilidade, odiando a Josephine como a única
saída.
— Tudo bem — aliso seu braço beijando sua cabeça — eu acredito
em você.
— Mesmo com as fotos?
— Não eram nada de mais, só você conversando com o rapaz. Eu
tentei te contar, mas…
— Eu não queria falar com você — completa a frase triste — naquela
época, a Rebeca dizia que você estava com ela. Uma noite eu não aguentei e
precisava saber ser era verdade que você tinha me abandonado e escolhido a
ela. Entrei no quarto dela encontrando vocês dois dormindo na cama, ela com
a cabeça no seu peito. — Ela encara as estrelas — aquilo doeu muito. E eu
percebi que estava sozinha.
— Por que não me chamou? — imaginar o quanto foi doloroso para
ela me causa ondas de sofrimento.
— Eu fui embora decidida a não deixar mais nenhum de vocês dois
me machucarem. — Funga — você podia ter me contado a verdade, que o
Louis te machucava por minha causa, eu teria feito diferente — a voz
chorosa, apertando o rosto com as mãos — todos esses anos eu acreditei que
fui abandonada por você, enquanto você sofria no meu lugar — soluça —
VOCÊ PODIA ME CONTAR! — Grita batendo no meu peito.
Caio na areia a puxando junto. Prendo seu corpo contra o meu
engolindo o choro.
— Eu tive medo de te fazer sofrer mais — confesso encarando o céu
estrelado — eu nunca contei diretamente a Rebeca o motivo das punições,
mas ela percebeu. E nada mudou. Imaginei que você saber só traria mais dor
e nenhuma solução. Eu não podia mais proteger a Rebeca da verdade, mas
estava disposto a ir até o fim para garantir que você nunca soubesse.
Enfio o nariz em seus cabelos, seu corpo tremendo em cima do meu.
— Depois de um tempo, o Louis conseguiu mexer com a minha
cabeça e eu passei a te ver como inimiga. Em momentos de solidão e dor eu
revidava as suas provocações, queria te fazer sentir como eu. Falei mal de
você para meus amigos tentando desabafar com eles um pouco do meu
tormento, mas sem conseguir dizer a verdade. Eu tive medo deles te odiarem
mais por saberem das punições que o Louis me fazia acreditar serem culpa
sua.
— Brigar com você era a única forma que eu conhecia de nos
comunicarmos — admite baixinho — eu te odiava, mas ainda queria sua
atenção.
— Acho que o mesmo acontecia comigo.
Existe um pouco de alívio em admitir que nos odiamos porque
queríamos a atenção um do outro desesperadamente. Quando se vive no
inferno precisa aprender a como sobreviver a ele. Josephine e eu escolhemos
o caminho mais difícil.
— Kai — ergue o tronco — você percebe agora que a Rebeca é
realmente uma psicopata? Tem algo de errado com ela, eu achava que ela me
odiava e queria destruir nossa relação para me manter longe, porem não
acredito que seja isso — senta sobre os joelhos — na noite em que a Hope
impediu a Eleanor de me castigar pela briga com a Rebeca, ela se cortado
com o abajur…
— O quê? — sento — ela se cortou? Josephine eu vi as gravações,
você jogou o abajur nela.
— Joguei — olha para o lado — mas não a cortei — me encara — ela
se encolheu e pegou um fragmento do abajur. As câmeras podem não
mostrar, mas foi ela quem se rasgou.
— Por que ela faria isso?
— Ela tinha me enviado uma mensagem, falando que o Black estava
namorando uma menina. Eu fiquei furiosa e desci para brigar com ela. No
meio da discussão eu contei sobre seu acordo de casamento com a Daisha e
ela surtou dizendo que me mataria. Não sei o que você viu nas câmeras, mas
o rosto da Rebeca me assustou, agi por impulso pegando o abajur e jogando
nela para a manter longe. Eu precisava provar que não tinha medo dela.
— Não faz sentido, por ela reagiria assim? — tento processar o olhar
de pena da Josephine.
— Ela é uma maldita psicopata. Aos 11 ela já tinha um lugar na
propriedade para machucar os animais que entravam no nosso quintal. — A
bile me sobe forte, tusso tentando espantar o enjoou. — A Eleanor gostava de
ver a Rebeca fazer aquilo e nunca me deixou conta para ninguém. Ele me
ameaçava, batia e eu tive medo de você ou do Louis reagirem como a
Eleanor.
— Mas isso é — arfo, sinto que levei um soco no coração.
— Doentio, por isso brigávamos tanto. Eu tinha medo da Rebeca e
sabia que se não demonstrasse ser forte ela poderia me fazer mal como aos
animais. Eu tinha de responder à altura ou seria devorada viva por aquela
psicopata. Eu queria te contar, mas percebia o quanto você amava ela, tive
medo de não acreditar em mim e com o desenrolar das coisas eu fui tendo a
certeza de que você ficaria ao lado dela.
— Não — agarro seus braços sacudindo seu corpo, perplexo — eu
nunca apoiaria uma merda dessas. Porra, Josephine você podia dizer a
verdade! — Levanto precisando andar, essa merda é fodida demais para
aguentar.
— E você possuía a obrigação de me falar sobre o que o Louis fazia
com você! — acusa ficando em pé.
— Ela te machucou? — vou a ela analisando seu corpo — ela já te
feriu?
— Gravemente, uma vez — desvia o olhar levando a mão a barriga —
no aniversário de 15 anos dela, você sumiu com seus amigos após o fim da
festa e ela ficou furiosa. Eu tinha visto o Black indo para o quintal entre as
árvores e segui ele, eu já tinha uma quedinha por ele na época — dá de
ombros — quem eu encontrei foi a Rebeca queimando um dos cães de
guarda, segurei o pulso dela para parar a agressão e ela enfio o ferro quente
na minha barriga.
— Não — caio de joelhos sem forças para suportar como eu fui um
idiota por não perceber o que realmente acontecia com as minhas irmãs.
— Quando ela percebeu o que tinha feito se assustou e foi embora
correndo. Eu caí no chão enlouquecendo pela dor. O ferro queimou minhas
roupas e atingiu mais de dez centímetros da pele. Do meu umbigo a cintura.
Eu lembro do Black me achando e levando ao hospital. Acho que ele não se
recorda dessa noite, o cheiro de álcool era muito forte. Mas ele cuidou de
mim — sorri triste se agachando na minha frente — e depois disso eu fiquei
obcecada por ele.
— Era o meu dever te proteger — afundo o rosto na curva do seu
pescoço chorando, me odiando. — Perdão, Josephine.
— Acordei na clínica com a Eleanor e o Louis, eles estavam furiosos
comigo. A Rebeca disse que eu a ataquei e ela só se defendeu. O Louis me
ameaçou, se eu machucasse a Rebeca novamente ou contasse o que
aconteceu para qualquer pessoa ele me mataria. Eu fiquei com muito medo
— aperta meus ombros em um abraço, o corpo tremendo.
Eu queria ser capaz de voltar no tempo e impedir toda a dor sofrida
pela Josephine. Estado ao seu lado, a protegido e cuidado. Não existe choro
ou pedidos de perdão o suficiente para acabar com o mal causado.
— Perdão por não cuidar de você — encosto nossas testas pesaroso —
eu acreditava que estava te protegendo, mas só fiz magoar a nos dois.
— Eu também, se ao invés de te afastar eu tivesse pedido ajuda, as
coisas poderiam ser diferentes. Você e eu somos vítimas Kai — segura meu
rosto me encarando de perto — eu não quero mais viver com medo.
— Você não vai — nego com a cabeça — nunca mais voltará para
aquela maldita casa. A partir de hoje você vai morar comigo — beijo sua
testa — nunca mais poderão te machucar, eu te prometo Josephine. Vou
mandar para o inferno qualquer um que te faça chorar.
Ela me abraça exalando um gemido de alívio.
As feridas abertas serão fechadas, uma a uma.
Nunca mais serei afastado da minha irmã e a Rebeca, Eleanor e Louis
vão pagar por seus crimes, os farei sangrar pior do que fizeram conosco.
— Existem outras cicatrizes? — pergunto.
— Só as das surras que a Eleanor me dava, e de quando ela me
obrigava a sentar no milho, como naquele dia que a Hope interveio.
— A Hope salvou a nos dois — eu digo baixinho. — O Louis ficou
completamente furioso por ela dar ordens a ele. E por causa do jantar na casa
dela, ele não podia me machucar seriamente. Ele queimou a minha perna
dizendo que faria muito mais se não fosse o maldito jantar, eu tinha de estar
inteiro — suspiro.
— Ele considera uma punição leve queimar sua perna? — ela tenta
me olhar e não deixo mantendo sua cabeça contra meu peito.
— Sim.
Ficamos em silêncio abraçados, ouvindo o som do mar e do vento frio
da madrugada. Nos curando, toda a verdade exposta. Conseguimos
sobreviver, apesar do choro de longas horas e da a alma despedaçada estamos
juntos. Enquanto formos vivos poderemos reparar os danos causados e criar
momentos de amor.
— Kai, eu acho que a Daisha possa ser o próximo alvo da Rebeca.
— A Rebeca não tocará em você ou nela.
— Você não entende — se solta me encarando — durante a sua lua de
mel ela ficava gritando pela casa, enfurecida, bradando ameaças contra a
Daisha. Aquela maluca me assustou ao ponto de eu ficar na casa da Hope,
para evitar a Rebeca. Eu contei a Hope o que está acontecendo e ela me
garantiu que não vai deixar a Rebeca tocar na Daisha, mas eu não tenho
certeza. Queremos proteger nossa amiga, você precisa fazer algo!
— Se a Hope sabe o Michael deve estar ciente. — Franzo a
sobrancelha — preciso entender o motivo dele não ter me contado.
— Talvez por acreditar que se tratando da Rebeca e do seu amor cego
por ela, não ouviria a gente.
— Ele sabe que o escuto. Na noite do noivado da Emily o Louis quase
me matou, contei aos meus amigos sobre as agressões e eles me fizeram
perceber que podia existir muito por trás do seu comportamento — aliso sua
testa — não me esconda nada.
— Eu acho que a Rebeca te ama, mas não como um irmão — fala
baixinho quase com medo.
Fecho os olhos com força, sento sobre os calcanhares tentando digerir
o que ela quer dizer.
— Você sempre foi o centro da obsessão dela. Ela me queria longe
por saber que vi quem ela realmente era. A Rebeca não suportava que você
dividisse a atenção dela comigo, eu achava que eu era o alvo por isso, mas
agora que ela me deixou de lado e tem focado somente na Daisha após o
casamento eu tenho certeza. É você quem ela quer e a vadia está disposta a
machucar qualquer um que fique entre vocês.
— É doentio o que você está insinuando — apoio as mãos na areia
sem conseguir respirar — eu nunca… eu não — minha mente fica confusa,
repassando todos os momentos em que estive com a Rebeca. Não pode ser
verdade — eu não a tocaria — engunho quase vomitando.
— Ei! — Josephine ergue meu rosto — eu te proíbo de pensar que
você tem alguma culpa. Kai, você nunca a tocou ou fez qualquer coisa
doentia, sempre a enxergou e amou como um irmão. Ela é a doente maldita
obcecada pelo irmão. Não você.
— Josephine… eu jamais faria algo do tipo com vocês — sussurro
com a necessidade de me defender — você tem de estar errada quanto a isso,
por favor.
Lembranças da minha última conversa com a Rebeca nublam minha
mente. O jeito como ela falou, as suspeitas da Josephine. A rispidez com a
Daisha. Encolho sem conseguir respirar, não deve ser possível.
— Você é um ótimo irmão — Josephine me abraça — mesmo que
tenhamos nos deixado manipular pela Rebeca, do seu jeito você tentou me
proteger. E eu sei que você jamais, em hipótese alguma tocaria a Rebeca com
segundas intenções. Eu te proibido de se culpar, entendeu? — Sacode meus
ombros me obrigando a voltar a respirar.
— Sim — respondo.
Eu jamais faria algo com elas, mas saber a verdade sobre a Rebeca
coloca o meu mundo de ponta cabeça. Deito o tronco nas pernas da Josephine
sem forças para continuar erguido, observando o mar e chorando silencioso
enquanto ela alisa minha cabeça. Me dando tempo para organizar os
pensamentos e sentimentos.
O sol começa a nascer trazendo consigo a tranquilidade de que minha
relação com a Josephine poderá existir sem causarmos sofrimento um ao
outro.
E a certeza de que estive engano sobre a Rebeca a minha vida inteira,
destruindo meu antigo porto seguro. Se eu continuar me culpando vou
enlouquecer, manterei distância da Rebeca enquanto processo toda essa
merda e decido o que fazer com ela.
Não a deixarei impune após causar tanta desgraça e se for verdade a
teoria da Josephine sobre a Rebeca me amar, a mandarei para longe. Não vou
dar brecha para ela continuar com seus planos terríveis e fingimentos. Nunca
mais serei convencido por suas lágrimas e palavras doces.
A dor avassaladora corroendo meu peito é maior do que qualquer
tortura causada pelo Louis. A dor da verdade machuca mais do que qualquer
mentira contada para proteger. Os erros do passado cobram um preço alto
demais.
A necessidade de abraçar a Daisha me faz levantar. Eu preciso dela,
sentir o seu amor, o toque carinhoso, as palavras doces e verdadeiras. Ela é a
constante do meu universo, a única coisa que eu tenho certeza de ser
completamente real e sincera. Ao seu lado eu sei que tudo ficará bem.
— Vamos voltar.
— Você está bem? — pergunta ao subir na moto.
— Vou ficar.
O caminho para casa é feito em completo silêncio. Ao chegarmos
Josephine entra sabendo que aqui será a sua morada. Busco pela minha
esposa a encontrando na cozinha com uma xícara de café nos lábios. Ela me
ver e sorri. Vou a ela envolvendo seu corpo com os meus braços, sentindo o
calor do seu amor, afundo a boca contra a sua recarregando minha alma e me
preparando para o que virá.
Nunca mais serei cegado pela Rebeca.
Vou proteger minha esposa e irmã.
Hoje um novo Kai surge, mais forte, ciente da verdade por trás de
todos ao meu redor e preparado para lutar e proteger o que realmente é
importante para mim.
A minha verdadeira família.
CAPÍTULO 24 DAISHA

Eu preciso fazer meu marido se sentir melhor.


Kai teve seu mundo colocado de cabeça para baixo ao descobrir a
verdadeira face da Rebeca e não sabe o que fazer com ela. Decepcionado, se
sentindo engano e com raiva, ha cada nova descoberta sobre as maldades
protagonizadas pela Rebeca o Kai sofre pôr a amar cegamente.
Ele tinha o sonho das irmãs voltarem a ser unidas e tudo ruiu diante de
seus olhos, magoando o coração fragilizado e abalando seu espirito. Kai está
se sustentando em mim e na Josephine que tem morado conosco já faz duas
semanas. Eles pararam de brigar, um escuta o outro com atenção, conta sua
versão para os acontecimentos do passado, choram e às vezes riem juntos.
A última notícia que tivemos da Rebeca foi da sua fúria por não poder
morar com o Kai e a Josephine está aqui. Afinal, meu marido negou quando
ela pediu para morar conosco. Rebeca parou de ir às aulas, o silêncio dela
chega a ser assustador, não dá para saber o que está tramando. Apesar de
abalado Kai continua de olho em cada uma das ações dos membros de sua
família, garantindo que eles não sairão da linha.
Eu tenho minhas desavenças familiares com meus pais, mas nada se
compara ao enfrentado por meu marido e cunhada. Consigo conversar com
meus pais sem causar danos, apesar de ainda guardar um pouco de mágoa
deles eu estou aprendendo com o Kai e a Josephine que nem sempre o que
vemos é a verdade. Quando eu conseguir estruturar minha família conversarei
abertamente com meus pais. Algumas feridas só poderão ser fechadas após
sangrarem.
Os irmãos me deixam participar de suas conversas, saber a dor deles
só me da mais vontade de os proteger. Kai me contou sobre a tentativa de
suicídio quando mais novo e eu tive minha alma esmagada em medo dele
tentar novamente por não ser capaz de suportar a dor. Pensar em ficar sem ele
abala todo o meu mundo.
Sutilmente estou o convencendo a frequentar uma psicologa. Com a
Josephine não precisou de muito incentivo, Kai deu a oportunidade e ela
agarrou. Mas meu marido tem estado relutante, ele diz ser um ponto de
fraqueza um dos líderes dos Bianchi ser descoberto em um psicologo.
Apesar de cursar psicologia na faculdade ainda não estudo as grades
específicas do curso e não me sinto apta para uma consulta profissional.
Então eu o escuto, todas as noites antes de dormir, alisando sua orelha,
enxugando as lágrimas e o enchendo de beijos e conforto.
Eu e Josephine nos formamos em saúde mental será benéfico para
todos, pois podemos fazer sessões em casa, sem risco dos membros serem
vistos como fracos ou criar um ponto de tensão na organização.
— Ainda não consigo acreditar que você enfrentava a Rebeca sabendo
as maldades que ela é capaz de fazer — eu digo ao servir uma fatia de torta
de maçã a Josephine, sento no colo do Kai de frente para ela.
— Eu não podia abaixar a cabeça para ela, Daisha. Rebeca é uma
psicopata controlando a Eleanor, admirada pelo Louis e tinha a proteção do
Kai. Se eu não a enfrentasse teria sido engolida. Ao rebater eu mostrei que ela
não me venceria, a obrigando a tomar cuidado com suas ações ou seria
descoberta sem eu precisar fazer nada.
— Você usava as brigas para controlar a letalidade dela. — Kai fala
— desculpe por não notar.
— Chega de pedir desculpas Kai. Nós já aceitamos que escondemos
coisas e poderíamos ter feito diferente. Eu não vou continuar vivendo no
passado e você vai parar de se arrepender. — Josephine começa a comer a
torta, faço o mesmo com o Kai alisando meu quadril, os dedos infiltrados por
dentro da minha blusa.
— Ambos possuem a chance de novas vidas — encaro meu marido de
expressão triste, é difícil conseguir o animar ultimamente. — O importante é
o que vocês farão de agora em diante. — Beijo seus lábios — e posso
garantir que estamos no caminho correto.
— Confio em você, boneca — alisa seu nariz pelo meu rosto.
— Eu odeio o amor doce de vocês — Josephine afina a voz. Rio a
encarando de testa franzida — vamos logo para a aula, Daisha.
— Ela é muito azeda — provoco.
— Pior do que um limão — Kai responde zombando com a irmã.
— Vou jogar essa torta na sua cara, sua cadela de boceta! — Desde
que ouviu o Daniel chamando o Kai assim, na semana passada, ela tem
atormentado meu marido.
— Josephine — Kai adiciona todo o deboche dele a sua voz — pela
boceta da minha esposa eu sou cadela, cachorro, gato, o que você quiser.
— Parem de falar da minha vagina! — grito com ambos — vocês são
um inferno de aturar!
— Eita, ela se irritou — Josephine engole sua última fatia de torta e
sai da cozinha. — Te espero no carro — grita.
— De que horas você chega hoje? — giro o tronco encarando meu
marido, ele suspira cansado.
— Não sei, tenho uma reunião com os italianos no Brooklyn, não me
espere acordada.
— Você me acorda com sua boca faminta — deslizo o polegar em
seus lábios.
— É delicioso te ver se contorcendo em meio ao sono, não consigo
resistir — sorri safado, o beijo lentamente deslizando a língua preguiçosa por
sua boca, prolongando o momento o máximo possível.
Eu quero fazer algo para o deixar feliz, o surpreender ao ponto dele
ser capaz de esquecer o mundo e todos os problemas, só não sei como, ainda.
— Até mais tarde — digo em seus lábios.
— Tchau amor — me beija carinhoso.
Levantamos e cada um segue seu caminho.
Após o fim da aula Emily nos convida para tomar café em uma
cafeteria no shopping. Hope aparece com o Ethan e sentamos perto da janela.
O lugar lota devido aos seguranças disfarçados. Pego o Ethan no colo, ele
está uma fofura de gordinho com as bochechas rosadas e um capuz na cabeça
com formato de orelhas do Mickey Mouse.
— Ainda não acredito que o Michael deixa você vestir o Ethan assim
— o bebê aperta os pés redondinhos na minha perna balançando os braços
fazendo bolinhas com a boquinha minuscula e linda. Os olhos azuis como o
do pai me encarando curioso.
— É uma herança de família — Emily responde rindo.
— Quem o vê assim não imagina que será nosso futuro líder —
Josephine aperta a mão do Ethan fazendo o menino pedir colo a ela.
— Parem de fazer bullying com meu filho — Hope bebe seu café
americano gelado — ou no futuro vou dizer a ele para punir cada uma de
vocês.
— Como ela é ameaçadora — Josephine vira o Ethan de frente para a
mãe — diga a sua mãe que você ama a tia Phine e nunca faria nada comigo.
Ethan responde fazendo o som de “eeeeeh” com a boca balançando os
bracinhos. Os risos invadem nossa mesa. Eu nunca quis ser mãe na Máfia,
mas hoje vendo o pequeno Ethan um sentimento caloroso nasce no meu
peito. A imagem do Kai com um bebê nosso nos braços aquece meu coração
e o desejo para ser mãe se torna uma realidade.
— Olha quem está chutando — Emily se apruma na cadeira — amor,
não acerta a bexiga da mamãe ou vou sofrer um acidente.
— Faça sua mãe se mijar — Josephine fala encarando a barriga da
Emily.
— Ah — eu digo — lembrei que preciso comprar calcinhas —
levanto.
— Que coisa mais aleatória — Hope franze a testa.
— Você não diria isso se escutasse os gritos da Daisha — Josephine
entrega o bebê para a Hope — é uma surpresa ela conseguir andar.
— Josephine, privacidade! — respondo com o rosto em chamas. Não
vou dizer a elas que o Kai tem rasgado minhas calcinhas todos os dias ao me
comer em cada canto da casa, literalmente só tenho cinco na gaveta. —
Encontro vocês depois.
— Hope posso dormir na sua casa? — Josephine pede — não quero
mais uma noite de fones de ouvido por causa da senhora gazela berradora!
— Depois eu te expulso e não sabe o motivo — reviro os olhos.
— Ela não sabe como é ter as calcinhas rasgadas — Emily a provoca
— por isso é azeda.
— Concordo! — digo.
— Parem de falar indecências na frente do meu filho — Hope tenta
controlar o riso, aposto que pensou em formas de provocar a Josephine.
— Ser a única solteira do grupo, da nisso — dá de ombros tristinha.
Já faz umas duas semanas que o Black partiu em missão com o
Matthew e Steve para o Texas e não tem falado com a Josephine. Apesar de
dizer que poderia mandar mensagens ela disse que não faria, quer se
concentrar na sua relação com o Kai. E eu dou muitos pontos a ela, deixa o
Black sofrer de saudades um pouquinho.
Deixo as meninas e sigo com o Brandon e mais cinco seguranças ao
meu lado. Somente o Brandon usando o terno preto chama a atenção por sua
postura ameaçadora. Os outros vestem roupas casuais, segundo o Kai é uma
estratégia para não atrair a atenção de pessoas comuns ao me verem passando
cercada por homens como eles.
Entro na loja e escolho os novos conjuntos, até um em particular
chamar a minha atenção e uma ideia surgir na minha mente.
— Moça — amostro a peça a vendedora — como usa isso?
— Essa peça é da nossa coleção erótica com temas de animais, não
deveria estar aqui — observa os conjuntos nas araras — acho que alguém
esqueceu. As orelhas de gata no topo da cabeça, o sutiã em tecido
transparente preto com patinhas de gatos rosa deixa amostra o mamilo o
tornando o centro da pata do gato. O detalhe em rabo da calcinha você tem
duas opções para usar — aperta a ponta redonda afinada — pode introduzir
no anus o plug anal ou a retirar e pregar o rabo na tira da calcinha.
— E para introduzir — quase engasgo ao pensar na indecência que
estou falando para essa mulher — qual a melhor forma para alguém que
nunca usou nada lá atrás?
— Por ser uma estrutura fina ela entra sem causar incomodo, você
pode introduzir com a ajuda de um lubrificante.
— Você teria algum?
— Claro — sorri tranquila, ao contrário de mim que estou com
vergonha por ela saber que usarei uma lingerie sexy de gato para animar meu
marido tarado.
A moça traz diferentes vidros de lubrificante, com a ajuda dela
escolho um. Volto para casa com o corpo aceso, já são quase 18 horas da
noite, e o Kai não tem previsão de chegar. Eu janto e continuo esperando,
mando uma mensagem para ele perguntando se está perto de voltar, ele
responde que não sabe se vai demorar mais. Impaciente decido testar minha
roupa.
O sutiã cabe perfeitamente, meus seios cobertos pelo tecido preto
transparente com renda nas pontas e a parte rosa da pata do gato ao redor do
meu mamilo. Um rio em chamas começa a percorrer meu corpo excitada por
me ver vestindo algo ousado para provocar o Kai. Um pouco de pimenta na
nossa relação vai fazer bem a gente.
Visto a calcinha preta que mais parece um conjunto de tiras pregado.
O tecido transparente preto é um pequeno triangulo cobrindo a vagina e atrás
uma tira enfiada na minha bunda. Rodo o rabo do gato entre os dedos, eu
poderia usar a opção segura de prender o rabo na tira da calcinha. A excitação
corroendo minhas veias pede por outra coisa. Monto o rabo no plug anal para
ser introduzido no meu anus, ele é do tamanho do meu polegar, oval na parte
de cima com a ponta fina.
Passo o lubrificante, me agacho de pernas abertas, toco a rodela
sensível da minha traseira e com cuidado enfio o plug. Arfo por causa do
gelado do gel lubrificante e em sentir minhas pregas sendo abertas de fora
para dentro. Pisco várias vezes, a vagina escorrendo melecada querendo o
Kai para me ver nessa roupa.
Levanto, mexo as pernas me acostumando com a sensação, pego meu
celular e de frente para o espelho de corpo inteiro eu me olho. Prendo o
cabelo em um rabo de cavalo colocando as orelhas de gato no topo da cabeça.
Faço uma maquiagem pesada escurecendo meus olhos e tiro fotos, de frente,
costas, empino a bunda para o espelho exibindo o rabo negro pendurado.
Novamente mando mensagem para o Kai.

Eu: Abra quando estiver sozinho, eu estava te esperando assim, mas


cansei. Acho que vou subir em alguma árvore e esperar por um cachorro
selvagem para me comer.

Anexo duas fotos, uma de frente exibindo o conjunto em que estou


com a expressão carregada de tesão e outra com a bunda empinada para o
espelho e o celular cobrindo meu rosto. Abano as faces quentes de tesão pela
minha ousadia. Nunca imaginei que pudesse existir algo de libertador em
vestir uma roupa sexy para provocar meu marido. Não se trata de sexo, mas
do controle que exerço sobre ele.

Kai: Caralho, Daisha estou esporrando nas calças com suas fotos.
Kai: Como diabos vou me concentrar na maldita reunião com sua
imagem na minha mente?
Kai: Você enfiou um vibrador no seu cu?
Kai: Porra, gata. Eu preciso muito te comer. Tira uma foto de pernas
abertas para mim, abre bem gostoso esse cuzinho para eu ver o vibrador.

Mordo os lábios querendo elevar o nível do jogo.

Eu: Você está sendo um péssimo marido. Estou cheia de vontade de te


dar e você não vem me comer.
Eu: Se quiser provar, vai ter de me achar. É um jogo de cão e gato, se
quiser seu prêmio terá de me encontrar dentro de uma hora.

A resposta chega em menos de um segundo.


Kai: Faça o seu melhor para fugir, gata. Eu vou te achar e meu
prêmio será o seu cuzinho delicioso.
Kai: Vou te dar 20 minutos de vantagem. Corra, Daisha eu estou indo
te pegar.

Pulo animada, mordo a ponta da unha pensando no que farei. Tirar


minha roupa não é uma opção. Calço um salto fino, visto um sobretudo preto
apertando bem os botões e a faixa na cintura para não mostrar minha roupa
debaixo. Deixo o celular em cima da cama para o Kai não o usar para me
rastrear.
Desço as escadas procurando pelo Brandon, vou precisar da ajuda dele
para fugir. Não sei dirigir e quero sair do complexo. Uma ideia percorre
minha mente, o Kai vai ficar louco e isso me anima. Encontro o Brandon
conversando com a esposa na lavanderia.
— Senhora Lucian — ele me cumprimenta.
— Hoje tem luta na arena? — pergunto tentando controlar a
respiração.
— Não senhora, somente em dias de sexta, sábado e domingo. Na
semana somente se for uma luta excepcional.
— Conseguimos entrar lá sem sermos notado?
— O que a senhora quer dizer? — arqueia a sobrancelha desconfiado.
Ele recebe uma ligação e se afasta para atender.
— Tudo bem? — sua esposa pergunta.
— Ótimo, na verdade — mordo o sorriso — eu quero animar o Kai e
tive uma ideia, mas não sei se conseguirei.
— O patrão anda meio cabisbaixo — ela sussurra — espero que
consiga, vocês estavam tão bem antes da Josephine vir para cá — noto o
julgamento em sua voz. Para quem não sabe a situação dos irmãos é natural
pensar que ela esteja dando problemas e por isso a mudança de humor do
Kai.
— Josephine tem sido uma ótima companhia e ajudado nos problemas
que estamos enfrentando.
— Oh, desculpe senhora não foi o que eu quis dizer — passa as mãos
no cabelo — me expressei mal. Só queria observar que eu tinha notado a
felicidade de vocês e que isso me alegra. Mas que depois da chegada da
Josephine alguma coisa mudou com o senhor Lucian, espero que possam
ficar bem.
— Iremos — sorrio para ela.
— Senhora — Brandon retorna — a onde gostaria de ir? Tenho
ordens de te fornecer os meios para sua… saída — ergo o canto dos lábios
pela sua fala cuidadosa, Kai realmente está levando a sério nosso jogo.
— Quero entrar no ringue, consiga isso com o Tyron Belarc. Vamos.
— Sim senhora, até mais querida — beija a testa da esposa.
Controlo minha animação, o cenário depravado do que farei com o
Kai naquele ringue nublando a minha visão. No carro preciso sentar de lado
para não ter a bunda cutucada por causa do plug anal. Brandon faz ligações
enquanto dirige e ao dizer ao Tyron que é um pedido da esposa do Subchefe
tenho o meu desejo atendido.
Os 20 minutos que ganhei de vantagem acabam e continuo no carro,
ansiosa para saber quais lugares ele olhará primeiro em minha busca.
Saber que estou sendo perseguida pelo Kai é como receber uma
injeção de adrenalina. O coração bate mais alto, a vontade de fugir dele
corroendo minhas veias, eu quero ir o mais longe possível, o deixar louco a
minha procura. Fazer ele me farejar pela cidade, ficar frustrado ao não me
encontrar e após horas de perseguição quando pôr os olhos em mim eu quero
ser devorada, consumida, arrebatada pelo seu castigo selvagem.
Adentrando as ruas sombrias de Nova Iorque chegamos ao prédio em
que acontecem as lutas organizadas pela Máfia Bianchi. Consigo perceber
pessoas ao redor, armadas, protegendo o lugar. Na garagem somos
recepcionados por homens do Tyron informando que tenho acesso somente a
algumas áreas.
— Não quero nenhum de vocês por perto — informo a ele.
— Senhora Lucian, não podemos te deixar andando livremente pelo
prédio.
— Você não vai me impedir — dou um passo a frente. — Ousa
insinuar que a esposa do subchefe poderá roubar informações da organização
e que represento um perigo para os negócios do meu marido?
— Senhora, eu não quis dizer isso — dá um passo atrás.
— Foi exatamente o que você insinuou, vou me repetir pela última
vez. Não quero ninguém me seguindo, entendeu?
— Sim senhora — baixa a cabeça fazendo sinal para os outros
homens.
— Vamos Brandon — caminho atrevida pelo corredor como se eu
realmente soubesse para onde estou indo. Longe dos ouvidos de outras
pessoas pergunto baixinho ao Brandon — onde fica a entrada para o terraço?
— Posso te levar — ele sorri sutilmente.
Não sou louca de ficar sem segurança, até a chegada do Kai só quero
o Brandon ao meu lado. Subimos de elevador. O terraço é mais arrumado do
que imaginei, um sofá, mesa, freezer com bebidas e grade nas bordas. Pego
uma cerveja para aquecer a noite fria e me escoro nas grades. Eu sei que ele
não vai demorar a me encontrar, mas a cada segundo em que não vejo sua
moto vou ficando apreensiva.
E se eu tiver escolhido um lugar muito difícil para me esconder?
— Quais as chances do Kai não me achar? — pergunto ao Brandon.
— Poucas, ele é um bom rastreador, provavelmente deve estar
chegando.
— Mas é quase impossível ele pensar que eu viria aqui — Brandon
arqueia a sobrancelha.
— Ele não precisa saber onde você está, mas como você saiu. Ele me
disse para dar meu melhor despistando as câmeras de segurança e te levar ao
seu destino. — Aponta com o queixo para baixo. — Viu, antes de uma hora.
Vejo a moto curvando a esquina, o farol iluminando a escuridão. Kai
inclinado para a frente dirigindo veloz. Mordo o lábio pronta para iniciar a
caçada. Brandon desde comigo no elevador até a arena, ele fica na porta de
guarda e eu aproveito da escuridão do lugar iluminado somente por uma fraca
lampada no teto para me esconder na parte mais afastada, atrás das cadeiras.
O silêncio é quase ensurdecedor de agoniante. As portas de metal
abrem causando um estrondo. Levo a mão a boca para me impedir de gritar
ou deixar escapar qualquer barulho. Os passos dele ressoam pesados e escuto
o som de algo arrastando ruidosamente no chão. Estico a cabeça por cima da
cadeira tendo a visão do meu anjo negro no centro da arena olhando ao redor
tentando me encontrar.
— Daisha! — Sua voz reverbera feroz. Noto a porra de um chicote em
suas mãos — venha ver o eu trouxe para a sua punição — ele ergue o braço
descendo veloz fazendo o chicote bater no chão estralando alto, causando
convulsões na minha vagina. Mordo a mão com força controlando a
tremedeira nas pernas. — Gata atrevida, como ousa me mandar aquelas fotos
e me fazer te perseguir? — Repete o som e eu vibro.
Me agacho ao ver o Kai vindo na direção das cadeiras. Ele começa a
arremessar elas trazendo o caos a sala. Apoio os cotovelos no chão me
arrastando. Sua fúria causando uma reação de fuga completa do meu corpo.
Eu despertei um monstro com a minha brincadeira e agora estou um
pouco arrependida, mas excitada na mesma medida. Minha vagina despeja
um líquido cremoso molhando minhas coxas.
— Eu posso sentir seu cheiro, porra! — Ele solta um rosnado alto.
Mais cadeiras voam, o chicote não para de bater no chão. — Eu vou arrombar
o seu cuzinho, como você ousa colocar algo nele antes do meu pau?
Bato o cotovelo em uma cadeira fazendo barulho, travo ao perceber
que ele parou. Me apoio nos joelhos erguendo o tronco. Kai caminha pesado
na minha direção apertando o chicote nas mãos, os olhos duros, o rosto
dominado pelas sombras. Ergo o corpo sabendo que não adianta mais me
arrastar e corro para longe dele.
Não giro o rosto para trás, concentro minhas forças nas pernas
forçando a velocidade em cima dos saltos altos. Eu ouço ele derrubando as
cadeiras em sua caçada. Tropeço caindo no chão, giro o corpo ao sentir sua
presença ameaçadora pairando acima de mim.
— Peguei você — Estremeço em medo pela sua expressão voraz
enlouquecendo de tesão.
Kai prende meu corpo entre suas pernas se ajoelhando, o chicote
empurrando na minha boca com força.
Enfio as mãos no seu cinto tentando desabotoar sua calça. Ele sorri
perverso antes de baixar o rosto me beijando com o chicote prendendo minha
boca. Kai me tortura dando pequenos toques de sua língua, mordendo meus
lábios, puxando até arrancar sangue.
Gemo estrangulado alcançando o volume do seu pau com as mãos
coberto pela calça. Ele ergue o tronco se divertindo. Apesar da voracidade e
do meu coração bater como um louco no peito com medo do que ele vai fazer
eu estou explodindo de tesão e confiança. Kai e eu podemos estar loucos pela
luxúria, mas ainda somos nós e nunca nos machucaríamos.
— Eu vou te comer nesse maldito ringue — ele rosna bruto, retira o
chicote da minha boca envolvendo no meu pescoço. Agarra minhas mãos as
prendendo rente ao meu peito. — De pé, minha gata.
Ele se ergue me puxando junto a si. A boca a centímetros da minha
soprando seu halito quente no meu rosto.
— Hora da sua punição.
CAPÍTULO 25 KAI

Eu estou com a cabeça e as emoções fodidas desde que descobri a


verdade sobre a Rebeca. É doloroso acreditar que ela realmente foi capaz de
tamanhas barbáries com a Josephine e animais. A cada nova história eu sinto
minha alma sendo rasgada. A companhia da Daisha tem sido meu alicece, é
por ela que estou aguentando firme.
A escuridão vem tomando conta da minha mente sorrateiramente
exigindo ser liberta para eu voltar ao normal. As lutas não são mais
suficientes, a merda foi grande demais. Preciso do combo lutas sangrantes
com sexo pesado, sujo, bruto. Mas me recuso a machucar a minha esposa, ela
merece ser tratada com carinho, gozar de satisfação tendo a pele marcada
somente pela minha mão pesada.
Estou cruzando todos os meus limites de autocontrole para a manter
longe do monstro selvagem trancafiado no meu âmago.
Tudo muda ao receber a mensagem dela durante a reunião, eu tive de
abandonar fingindo uma desculpa da Daisha está no hospital e eu precisar
ficar com ela. Os italianos aceitaram remarcando para amanhã o fim da
conversa.
Porra, eu perco o controle ao ver as fotos da bunda da Daisha com um
maldito vibrador enfiado até o talo e a roupa de gata. Eu quero puxar o
maldito rabo, comer seu cuzinho até ela perder as forças nas pernas e
desmaiar. O jogo de perseguição me faz perder o controle sobre meus
demônios.
Eu vou caçar a desgraçada e meu prêmio será gozar no seu cu até não
aguentar mais esporrar.
A Daisha queria um jogo de presa e predador, ela não faz ideia de que
abriu as portas do inferno.
Passo no clube de BDSM dos Bianchi, não me detenho falando com
ninguém, entro em uma sala privada, pego um chicote de dois metros, o cabo
grosso em material de couro, agarro um frasco de lubrificante e duas algemas,
guardo no bolso do casaco. Pego o celular a vendo deixar o complexo. Dei
ordens ao Brandon para a levar onde quisesse e se esconder.
Acesso o programa de rastreio localizando o carro na avenida, percebo
um padrão nas curvas, seguindo a direção da arena de luta. Desligo o celular
sentindo minha veia pulsando pela adrenalina da caçada. Existe a
possibilidade da Daisha estar usando a rota para me enganar, ela não teria
acesso ao prédio sem a permissão do Tyron.
Deixo o clube subindo na moto, dou partida ouvindo o ronco do
motor, pisco os olhos inspirando fundo antes de ir atrás dela e do meu
prêmio. Tenho menos de 30 minutos para a encontrar ou perderei o direito a
seu cuzinho gostoso. Acelero pelas ruas, as luzes passando como flashs
diante dos meus olhos, o som do vento cortante, o casaco mal me mantendo
aquecido.
Estaciono na garagem encontrando o carro dela. Pisco novamente,
inspiro fundo farejando seu cheiro. Homens vem até mim e se afastam ao
verem minha expressão. Desço da moto, entro no corredor para a arena a
tempo de ver o Brandon saindo.
— Ninguém entra e desligue a porra das câmeras.
— Sim senhor.
Abro a porta com brusquidão, quero ela me ouvindo chegar. A sala se
encontra em completo silêncio, somente uma luz no teto iluminando
parcialmente o lugar. Inspiro fundo buscando pelo cheiro da boceta da
Daisha. A excitação dela chega aos meus sentidos me fazendo enxergar
vermelho. Puxo o chicote de dentro do casaco estralando no chão.
Chamo por ela, derrubo cadeiras, a cada segundo meu coração
batendo mais forte no peito, quase não aguentando continuar longe da minha
presa. Um som de cadeira batendo chama minha atenção e como um cachorro
eu persigo minha vítima. A encontro no chão completamente coberta pelo
maldito sobretudo, os olhos assustados, o rosto banhado em erotismo, a
língua presa entre os lábios me convidando para a domar.
Envolver o chicote em seu corpo branco como a neve parece profano,
eu quero marcar sua pele com longas tiras vermelhas do meu chicote, a
prender no maldito ringue completamente aberta para mim.
A forço a ficar de pé, agarro seu cabelo com a minha mão me
deliciando com o momento de espera, os breves segundo antes de a fazer
completamente minha.
— Hora da sua punição. — Rosno rente ao seu rosto.
Daisha aperta as coxas uma na outra gemendo baixinho, delirando,
precisando ser comida.
— Você demorou — ela provoca agarrando meus ombros, roçando as
pernas uma na outra.
— Não pensei que viria para cá — agarro seus pulsos, giro seu corpo
a fazendo colocar as costas com os braços presos para trás. — Fantasia
comigo te comendo naquele ringue? Cadela — a forço a andar para a frente.
Daisha geme rouca.
Mantenho minha mão firme em seus pulsos puxando os braços para
trás a fazendo empinar os peitos, enfio a mão livre na abertura do sobretudo a
liberando. A parca luz ilumina a frente de sua roupa, os seios pesados
sustentados pelas tiras finas transparentes, as patinhas de gato ao redor do
mamilo. Enfio o nariz em seus cabelos inspirando fundo seu cheiro, aperto
um mamilo entre os dedos ouvindo um delicioso chiado de seus lábios.
— Eu vou comer a porra do seu cu enquanto te bato com meu chicote
— rosno em seu ouvido, como resposta ela tropeça nos pés. Agarro seu corpo
pela boceta.
— Fui uma gatinha malvada — fala mansa encostando a cabeça no
meu ombro — aceito sua punição, meu senhor.
— Rasteja — a jogo no chão.
Daisha bate as mãos aparando a queda, de joelhos ela me encara por
cima do ombro. Nunca vi seus olhos azuis banhados com tamanho tesão. Ela
entrou por completo na fantasia, jogo fora as últimas correntes a me
manterem são. Aperto o couro do chicote entre os dedos, ergo o punho
descendo com velocidade fazendo a ponta encostar no chão, reverberando por
todo o lugar.
— Para o ringue, gata atrevida — rosno.
— Sim, senhor, miau — a desgraçada mia, fecho os olhos sentindo o
impacto de seu gesto.
Com um movimento rápido estralo o chicote na bunda coberta pelo
sobretudo. Minha gata arqueja miando mais alto, mesclado a um gemido
sofrido banhado em prazer. Aperto o couro entre os dedos a seguindo. Daisha
engatinha de bunda arrebitada. Enfio o chicote dentro do sobretudo
levantando a roupa e visualizando o maldito rabo de gato preso no cuzinho.
Mordo os lábios, bato novamente em sua carne deixando uma marca
vermelha. Ela geme manhosa inclinando o quadril para a frente. Sobe de
joelhos os degraus e para no centro do ringue empinando a bunda para mim,
balançando o quadril fazendo o maldito rabo se mexer.
— Gostosa! — chicoteio sua pele — safada, porra de mulher sexy!
Estou enlouquecendo de tesão, por sua causa!
Bato o chicote três vezes em sua carne ouvindo o delicioso som do
estralo mesclado a seus gemidos. Daisha deita o rosto contra as mãos,
vermelha como um pimentão, o sobretudo enrolado em sua cintura. A bunda
branca exposta para mim marcada pelo meu chicote. Fico de joelhos atrás
dela, agarro seu pescoço a forçando a ficar de joelhos.
Removo a peça de roupa a deixando somente com o conjunto
indecente. Cheiro seu pescoço com aroma picante, deslizo o cabo do chicote
na bocetinha inchada, exalando o delicioso aroma afrodisíaco por todos os
lados. Agarro seu pescoço com a mão livre, bato meu quadril na sua bunda
forçando meu cacete contra ela.
— Eu vou te comer pelo cu — rosno em seu ouvido — sua maldita
gata atrevida. Faz ideia de como estou louco para ser violento com você? —
Aperto o chicote no clítoris inchado — meter em você como um maldito
animal, arrancar cada gota de prazer do seu corpo até te fazer desmaiar e
depois continuar te comendo — mordo seu pescoço ouvindo seus lábios
chiando.
— Por favor, mestre — ela pede baixinho — me puna de todas as
formas que achar necessário. — Engole, aperto seu pescoço reduzindo a
passagem de oxigênio — eu fui muito malvada — suspira — preciso de
disciplina.
— Se você pedir para parar, o farei — recupero um segundo de
consciência — tome cuidado com as palavras.
— Certo — responde saindo do personagem — eu te quero muito Kai,
por favor, não se contenha.
— Não vou.
Levanto segurando seu pescoço a forçando a continuar de joelhos.
Fico na sua frente aproveitando a imagem pecaminosa da Daisha vestida
como uma gata safada, sem o sobretudo. Inspiro fundo sentindo o cheiro da
sua excitação mesclada a minha. Os olhos azuis pesados, ansiando para ser
tocada e obedecer cada uma de minhas ordens.
Pressiono o cabo do chicote em seus lábios, aliso seu queixo fino. Ela
abre a boca carnuda deslizando a língua rosada para fora, os olhos pesando
em tesão abertos pela metade ao rodear o chicote o puxando para sua
boquinha safada, chupando como se fosse o meu pau.
Pressiono seu queixo entre os dedos guiando sua boca a fazendo
lambuzar o cabo. Contrario os músculos, a tensão se apossando dos meus
ombros, as ideias percorrendo minha mente como raios.
— Tire minha calça — ordeno.
Seus dedos envolvem a fivela do cinto tremendo, ela encara meu
membro libertado pela cueca ao abaixar a peça de roupa. Continuo forçando
o chicote em sua garganta ouvindo os pequenos sons de engunho. O ar gelado
da noite envolve meu pau duro como aço, erguido para cima. Ela me encara
ao segurar meu membro pela base e deslizar a língua de veludo no meu
cacete.
Puxo o chicote contra sua bochecha, entrando com o pau na boca
apertada.
— Você vai chupar meu pau com o chicote na sua boca, se eu não
gozar vou te pendurar de cabeça para baixo, foder sua bocetinha com o
chicote enquanto enfio o pau até o talo na sua boca.
Ela acena em positivo piscando os olhos, vejo o temor pela ameaça
nubla suas iris azuis, mesclada pela excitação pulsante nascendo em sua
pupila negra. Daisha inspira fundo, abrindo a boca o máximo que pode ao me
engolir por inteiro. Aperto seus cabelos em um rabo de cavalo, flexiono os
joelhos a ajudando na altura.
Meu pau resvala contra o chicote de couro em sua boca quente, ela
mal consegue fechar os lábios ao meu redor completamente alargada. A ideia
de fazer o mesmo com sua boceta nubla minha mente.
Com a experiência adquirida, Daisha é habilidosa ao segurar meu
pênis com as mãos bombeando a pele de fora da sua boquinha rapidamente.
A cabeça sensível bate em sua bochecha, a língua deslizando ao meu redor,
quente, me recebendo com fome. Ela esfrega as coxas, vejo o brilho melando
seu interior.
— Chupa mais forte — ordeno, enfiando o quadril até bater no seu
rosto. Ela prende a respiração, agarra minha bunda mantendo meu quadril
parado, eu sinto meu cacete no fundo da sua garganta, sendo pressionado
pelas paredes sensíveis. Rosno alto pelo prazer de ser devorado por sua
boquinha havida e sentir o chicote dividindo espaço comigo.
A baba escorrendo, melando o queixo. Começo a respirar pesado,
Daisha empurra minha pélvis me obrigando a sair. Inspira rápido com o
chicote em seus lábios. A atrevida segura meu punho me fazendo puxar o
chicote para fora, ela o junta ao meu pau, agarra ambos fortes metendo em
sua boca gulosa.
Iniciando um vai e vem alucinante. Minhas bolas apertam em vontade
de gozar, a deixo guiar meu caminho em sua boca gulosa, aproveitando a
macies de seu interior, o calor, a saliva me babando como uma maldita gata.
A língua arrodeando meu cacete, batendo na cabecinha sensível, os lábios se
fechando ao redor, sugando forte a pontinha.
A pele sensível da cabeça do meu pau é arranhada por seus dentes me
fazendo alcançar o meu fim. O latejar no meu cacete é grande, os dentes
brancos resvalando a sensibilidade aumentando meu prazer me fazendo
explodir na sua cara. Ela expõe a língua lambendo minha porra até não sobrar
mais nada, continua seu trabalho limpando o chicote ao lado do meu cacete.
— Fui bem, mestre? — pergunta com as mãos em cima das coxas.
— Muito — aliso seu rosto sujo de porra, recolho todo o esperma de
suas feições enfiando em seus lábios, ela lambe meu dedo faminta.
— Meu prazer é deixar meu mestre feliz — responde docemente,
mordendo os lábios — por favor, mestre como eu posso te servir?
— Vá até a grade, erga as mãos para cima e abra as pernas para mim.
— Sim, mestre.
Daisha continua andando de quatro, a bunda arrebitada rebolando,
balançando o maldito rabo, atraindo minha atenção como um louco para ela.
Pego as algemas e o lubrificante no bolso do casaco. Daisha fica em pé, ergue
as mãos segurando a grade, as pernas afastadas completamente abertas para
mim.
Vou até ela, fico de joelhos sentindo o cheiro quente da boceta, enfio
o nariz em sua carne esfregando o rosto entre suas pernas. Ela choraminga
baixinho. Mordo a carne inchada adorando ouvir seu gemido.
Deixo o lubrificante no chão, me ergo retirando o resto de minhas
roupas, completamente pelado. Agarro seu queixo a pressionando contra a
grade, colo nossos corpos, a analiso de cima, mirando seu rosto atrevido, os
olhos pesados, a boca inchada implorando para ser tocada. Beijo sua testa,
mordendo a pele, esfrego o pau na sua barriga, desço uma mão agarrando o
seio pesado coberto, aperto a carne fincando as unhas em seu monte.
— Mestr-e — ela choraminga — eu quero muito o senhor — pede
dolorida de tesão.
— Você vai ter, quando eu quiser — respondo soprando contra seu
rosto — erga as mãos contra a grade.
— Sim, mestre — responde manhosa.
Agarro seu pulso o prendendo para o lado, faço o mesmo com o outro
garantindo que a Daisha fique com os braços afastados um do outro. Seu
corpo inclina para a frente forçando a articulação dos ombros, a cabeça pende
para trás ao perceber que não conseguirá se mover sem sentir dor. Com o pé
afasto suas pernas uma da outra a mantendo em posição de X completamente
aberta.
— Se você se mover eu paro de te tocar — ameaço, ela concorda com
a cabeça — eu só quero ouvir os seus miados.
— Sim mestre — responde carregada de tesão.
Agarro o chicote, passo a mão na extensão de dois metros admirando
a beleza selvagem da minha esposa. Os peitos pendendo pesado no sutiã
transparente preto. Enrolo um pouco do chicote diminuindo seu alcance. Ergo
o braço, a expectativa dela pelo que virá a faz fechar os olhos com força e
abrir a boca.
Inebriado pelo controle de ser o dono do seu prazer, corpo e alma, eu
desço o chicote batendo na pele sensível de seus peitos. Ela grita alto
apertando a grade, mantendo as pernas abertas, o rosto completamente
contorcido em dor. Espero por uma reação indicando que devo parar, mas ela
não vem.
Daisha me encara em chamas pedindo por mais piedosamente, se
controlando para não esfregar a bocetinha. Sorrio perverso, seduzido por sua
entrega. Repito a ação acertando seu peito em cheio, o sutiã rasga em dois
exibindo o mamilo rosado, continuo judiando de seu peito, meu pau incha a
cada chicotada na pele sensível. Só paro ao ver seu busto completamente
marcado por vergões vermelhos e sem o sutiã indecente.
Me aproximo dela ouvindo seus miados baixinhos, a boca aberta
implora por um beijo. Agarro seu queixo tomando seus lábios quente nos
meus em um beijo possessivo, infiltrando a língua no seu interior, a
dominando, esfrego meu cacete em sua barriga, roçando na pele suada minha
extensão poderosa. Meto o cabo do chicote em suas dobras a sentindo
estremecer.
— Vou te foder com o chicote e você vai gostar — aviso em seus
lábios.
— Sim mestre, por favor — implora — me deixa gozar no seu
chicote.
Cerro os dentes controlando a vontade insana de morde sua pele até
arrancar sangue. Puxo a calcinha para o lado, deslizo o chicote em suas
dobras melecadas pelo creme de sua boceta. Caio de joelhos inspirando o
delicioso cheiro erótico do seu monte. Com os dentes puxo a calcinha a
fazendo rasgar em duas.
Meto o cabo de couro em seu buraquinho sensível a vendo se
contorcer, apertar os dedos na grade até ficarem brancos. Os ombros
tensionados, o pescoço erguido para cima. A respiração travada na garganta.
Abro a boca abocanhando o clítoris inchado, chupando ferozmente seu
montinho.
Bombeio seu interior com o chicote, ele desliza com facilidade,
entrando e saindo sem esforço. Devoro o gosto picante de sua boceta com a
língua, engolindo em poderosos goles sua lubrificação jorrando na minha
cara. Daisha geme enlouquecida, ela tenta formular frases incompletas.
Delirando, tremendo, latejando ao ser devorada por meus lábios e fodida pelo
meu chicote.
— Meeeeeeeeestreeeeeeeeeee — grita roucamente — é
demaaaaaaaais — ela berra um som delicioso de prazer.
Inclino o chicote acertando seu botãozinho interno de prazer. Enfio
dois dedos em seu canal a alargando. Daisha grita puxando os pulsos,
apertando os dedos em punhos cerrados. Pressiona as pálpebras, cerra os
dentes. Dou o golpe final, mordendo sua carne delicada puxando. Ela explode
despejando o líquido quente. Abro bem a boca engolindo com avidez todo o
seu prazer.
O corpo da minha gatinha desaba sem conseguir se manter em pé,
suspenso pelas algemas em seus pulsos. Sabendo que preciso comer seu cu
antes que enlouqueça de tesão eu fico em pé, beijo seu pescoço delicado, a
presenteando por ser uma boa menina.
— Você foi ótima — digo em seu ouvido alisando seus ombros —
gozou lindamente no meu chicote. Gostou? — pergunto alisando seus
cabelos.
— Muito — responde após normalizar a respiração, ergue o rosto
batendo a cabeça na grade me encarando devassa — estou pronta para te dar
meu cu, mestre.
— Você me mata, Daisha — aperto seu queixo — eu te amo para
cacete, porra — beijo sua bochecha — me avise se for demais.
— Eu te amo, Kai — responde sorrindo lânguida — e confio em você,
não hesita, anjo.
— Não vou — toco seus lábios com delicadeza — minha gata.
A solto, pego a chave da algema no casaco, solto seu pulso a fazendo
virar de costas, a prendo novamente na grade. Somente o rabo de gata enfiado
em seu corpo e o chicote preso por seu canal. O puxo a sentindo se
contraindo pouquinho para mim.
— Esse maldito rabo no seu cu ficou um tesão da porra — estralo a
mão pesada em sua maciez.
— Só para você, mestre — responde pesado.
— Vamos ver como ele fica com meu chicote — puxo o rabo notando
o plug anal pequeno, ele não alargou a Daisha o suficiente para meu cacete.
— Eu fico bem com seu chicote, mestre? — ela pergunta empinando a
bunda, enquanto puxo o chicote de sua boceta.
— Muito — agarro o frasco de lubrificante — empina o rabo para
mim, gata — ordeno.
Daisha fica na ponta dos pés erguendo o quadril o máximo que
consegue, o rosto apoiado na grade. A respiração irregular, fechando os olhos
sempre que inspira forte se preparando. Eu vejo a boceta rosada brilhando
indicando seu nível de excitação crescente.
Passo o lubrificante no cabo misturado ao de sua boceta. Fico de
joelhos, seguro as bandas brancas e macias marcadas pelas chicotadas de
mais cedo. Não resisto ao enfiar o rosto em sua carne lambendo a rodelinha
sensível e enrugada. Daisha grita forte, giro a língua na sua abertura adorando
o sabor diferente de seu cuzinho, o cheiro da boceta espalhando por todos os
lados, o sabor da lubrificação escorrida para sua entrada de trás.
Enfio um dedo testando o espaço intocado, apertado, quente, avido
para eu o arrombar, adiciono um segundo dedo puxando e tirando, a vendo se
abrir para mim, engolir como se fosse sua boceta. Cuspo facilitando as
estocadas. Daisha fica quietinha gemendo contra a grade, quase com medo de
se mexer e eu parar de a tocar.
Seus gemidos aumentam, ficando mais soltos, meu pau dolorido de
vontade de a comer exige que eu pare com a brincadeira. Levanto, posiciono
o chicote em sua entrada metendo devagarinho, ouvindo o chiado de dor dela,
mesclado aos suspiros de prazer. Agarro sua boceta com uma mão esfregando
a palma no clítoris encharcado e metendo dois dedos no seu canal
bombeando forte, ajudando a Daisha a relaxar. Meu braço roçando em sua
barriga lisa.
O chicote entra o suficiente para não a machucar, começo a bombear
fazendo sua abertura se alargar para meu cacete grande.
— Gosta do meu chicote no seu cu? — pergunto rente ao seu ouvido.
— Sim, mestre — responde pausado, apoiando a cabeça no meu
ombro me deixando ver suas pálpebras pressionadas, a boca aberta
suspirando.
Aumento a velocidade deslizando com mais facilidade em seu
interior. Ao a sentir completamente relaxada, ouvindo os gemidos altos eu
puxo o chicote o jogando no chão. Solto sua boceta, pego o lubrificante
despejando no meu cacete. Volto a segurar sua boceta, bato minha coxa
contra a sua, posiciono a cabeça robusta do meu pau na sua entrada enrugada
e lambuzada pelo lubrificante.
Deliro ao ver meu cacete ser engolido pelo calor de sua bunda, a carne
branca devorando meu pênis puxando para dentro de si, a rodelinha
vermelha. Suas paredes são muito apertadas, o que causa um frenesi infernal
por meu corpo, aperto sua bunda controlando minhas bolas para não gozar. O
prazer se formando em minha pélvis, beliscando as bolas pesadas, precisando
liberar o tesão acumulado.
— Caralho, gata — rosno em seu ouvido — você é apertada para
cacete.
— Hãaam — é a única coisa que ela responde.
Acomodo meu cacete no seu interior minusculo sentindo as bolas
batendo na vagina comida por meus dedos. Aperto sua cintura com a mão
livre, completamente grudado a ela. Desço a boca contra seu pescoço,
arranho os dentes em sua pele mordendo ao começa a bombear. Puxo e soco
forte, Daisha se treme, batendo na grade, eu convulsiono de prazer
arrebatador.
Iniciou um ritmo frenético entrando e saindo, apertando seu clítoris
com a palma da mão, enfiando os dedos na vagina enquanto meu cacete come
completamente seu cuzinho delicioso. Mordo a carne sensível do seu pescoço
liberando toda minha brutalidade, aumentando a velocidade das investidas, a
rasgado em duas.
Disha mal consegue gemer, um suspiro estrangulado deixa seus
lábios, o corpo dela treme convulsionando, alucinando junto ao meu.
Pressiono sua cintura forte, metendo o cacete em um ritmo alucinante.
Minhas bolas pesam, Daisha aperta meu pau com seu interior, suga meus
dedos para dentro dela, o gosto de sangue invade meus lábios, solto sua pele
percebendo uma pequena gota escapando por causa da mordida, a pele roxa.
— KAI! — Berra tremendo ao se agarrar a grade, a cabeça apoiada no
meu ombro, os olhos completamente fechados pelas pálpebras, a boca aberta
gemendo longamente.
— Inferno, vou gozar no seu cu — aviso sentindo que não consigo
mais segurar.
Esporro forte enchendo seu canal da minha porra. Tento lembrar como
se respira. Daisha pende perdendo a força nas pernas. Seguro seu corpo pela
boceta e quadril, a mantendo em pé. Puxo para fora me deliciando com a
visão do esperma escorrendo de seu buraquinho rosado. Solto a boceta da
minha esposa segurando seu quadril.
— Gata — falo em seu ouvido recuperando a força da respiração —
preciso pegar a chave das algemas, não despenque ou machucará os pulso.
— Hum? — é a única resposta que recebo, sorrio perverso ao ver seu
rosto completamente relaxado por gozar feito louca.
Agarro sua cintura, estico o pé alcançando o casaco no chão, o puxo
para mim. Prendo o tecido com os dedos do pé erguendo até o apanhar com
uma mão, a outra mantendo minha esposa erguida. Não estou muito diferente
dela, quero desabar em uma cama sentindo o cheiro dos seus cabelos. Mas
me recuso a deixar a bocetinha dela encostar no chão do ringue de luta.
Enfio a coxa entre suas pernas sentindo o melecado em sua carne
sensível. Apoio seu corpo na minha perna enquanto abro as algemas. Como
eu suspeitava Daisha desaba contra mim. Beijo seus cabelos, ela continua
acordada, mas completamente imersa na sua bolha de prazer. Procuro pelo
seu casaco o encontrando na entrada do ringue.
Com ela nos braços pego a peça a vestindo, aperto bem ao redor de
sua cintura garantindo que não abra. A sento no chão escorada contra a grade.
Seus olhos azuis me encontram preguiçosos, beijo seus lábios sentindo que
expurguei todas as sombras nublando meus pensamentos.
Eu libertei meu monstro nela e a Daisha o domou com sua entrega.
Visto minhas roupas, recolho os apetrechos usados os guardando no
casaco junto dos restos de sua fantasia. Pego minha esposa no colo a notando
mais alerta.
— Tudo bem? — beijo sua testa.
— Maravilhoso — sorri preguiçosa, rio beijando sua bochecha.
Deixamos a arena, abro a porta sem dificuldade.
— Brandon — falo com segurança ao o encontrar do lado de fora —
diga ao Tyron que mandei limpar o ringue, ninguém luta até ele ser
completamente lavado.
— Sim senhor — pega o celular fazendo que falei.
Minha vontade é de mandar queimar o lugar para ninguém sentir o
cheiro da boceta da minha esposa. Mesmo como subchefe, uma atitude
radical deixaria o Tyron furioso comigo e não o quero atrapalhando minhas
lutas como vingança. Uma boa limpeza terá de servir.
Deixamos o prédio de carro, o caminho para casa é feito em silêncio,
aliso seus cabelos, cheiro sua pele me certificando de que está bem.
Em casa a coloco na banheira e dou banho na gente. Daisha desperta,
alisa meu peito contando baixinho como foi o seu dia de aula e com as
meninas no shopping. Falo para ela sobre meu encontro com os italianos. Nos
secamos e deitamos na cama completamente exaustos.
CAPÍTULO 26 KAI

A situação com o Texas se agravou. George conseguiu reunir as


diferentes gangues do Estado para se unirem a ele e resistirem a invasiva de
dominação do Black. Séria uma missão para o Quarteto Monstro realizar,
mas Michael não pode deixar a liderança da organização e o Daniel precisa
ficar ao seu lado. Eu e o Black teremos de dar conta.
Após minha louca noite de trevas com a Daisha as coisas voltaram ao
normal na minha cabeça. Tivemos dois dias de paz, finalizei os últimos
ajustes com os italianos da entrega do prédio. Louis continua recluso em casa
com a Eleanor e o relatório dos soldados é de que ele entrou em depressão
profunda, quero que apodreça sendo consumido por seus demônios.
Rebeca voltou as aulas e me preocupa sua aproximação com as
meninas, ainda não tive uma conversa definitiva com ela. Pretendo o fazer
após a missão, não posso deixar as coisas em um eterno limbo e ela aprenderá
que suas ações tem consequências. O pior castigo que eu poderia dar a ela é a
indiferença, isso a tem enlouquecido.
Eu cuidei dela a minha vida inteira, amei aquela menina sem ser capaz
de enxergar sua verdadeira face. Ouvir as verdades terríveis dos atos
cometidos por ela é como levar diversas punhaladas no coração. A pessoa
que eu mais confiava e amava no mundo é uma completa farsa. Não consigo
parar de me culpar e me questionar se tudo seria diferente se eu tivesse
notado antes quem a Rebeca era.
Poderia ter ajudado a Josephine e a Rebeca. Não deixaria as coisas se
tornarem um completo caos. No fundo, eu me culpo pelas minhas irmãs se
odiarem e mais ainda por ser incapaz de perceber quem elas realmente são. A
mágoa e a decepção são o que tem me mantido longe da Rebeca, tenho de ser
forte quando a encarar, não vacilar ao vê-la chorando.
Michael me confessou, momentos antes de me mandar para o Texas
que não tinha contado sobre a Rebeca por saber que eu estava feliz com a
Daisha. Ele queria me dar um período de folga, por trás ficou cuidando da
minha esposa e irmã para nada acontecer com elas. Ele não temia que eu me
tornasse fraco por causa da Rebeca. Como um bom amigo, ele queria me ver
feliz.
Ele fez o certo.
Desço do avião ouvindo o som de tiros. Black me espera de frente ao
carro com uma arma na mão, atento ao redor enquanto os soldados estão
espalhados em posições ofensivas.
— Um salve de balas para me receber? — pergunto apertando sua
mão.
— O melhor para o subchefe — entramos no carro. — Os bostas dos
texanos descobriram sobre a sua chegada com os soldados de reforço e estão
atacando a nossa base. Eles temem o que acontecerá agora.
A pista de pouso fica dentro de uma área protegida da nossa base no
deserto. Em poucos minutos chegamos ao prédio, através das câmeras vejo os
inimigos do lado de fora trocando tiros com nossos soldados. Eles estão em
minoria.
— É uma distração — eu digo ao Black.
— Sim — confirma, o carro estaciona e descemos — vou te mostrar o
que temos feito.
— Espera, primeiro vou me aquecer.
Sigo para o grande muro erguido no limiar da propriedade, subo as
escadas encontrando os atiradores posicionados abatendo os inimigos. Pego
um rifle de longo alcance, analiso a situação através da lente da mira
encontrando meus alvos. Um grupo de cinco escondidos atrás de umas pedras
altas dando suporte aos homens mais a frente.
Miro na cabeça do primeiro, puxo o gatilho o fazendo cair para a
frente morto. Manuseio o gatilho da recarga fazendo o cartucho usado cair
para fora e uma nova bala ser posicionada. Pressiono a arma no ombro
mirando, o segundo homem se escondeu entre as pedras, mudo minha
posição o encontrando. Atiro atingindo sua nuca o fazendo desabar.
Rapidamente acerto o outro que entra na minha mira ao checar o
amigo morte. Sobrando somente dois. Mudo de posição subindo em uma
torre de vigia, com visão do alto acerto ambos com a precisão de uma águia
deixando os homens na frente sem cobertura. Ao perceberem o que aconteceu
eles tentam fugir recuando e são alvejados.
— Limpem os corpos — aviso aos soldados.
— Uau — Black bate palmas — nenhum dos nossos snipers estavam
conseguindo atingir aqueles cinco.
— Eu sou o melhor atirador dessa Máfia — falo orgulhoso — o que
eu não fizer, ninguém mais consegue.
— Convencido — ri.
Entramos no prédio com o fim da confusão. Sigo o Black encontrando
o Steve e o Matthew analisando um mapa. Eles me cumprimentam e
começam o relatório.
— Talvez você não entenda umas coisas que o Matthew falar, pois a
cabeça dele só tem estado na juíza — Steve provoca o outro que responde o
empurrando.
— Cala a boca, babaca.
— A do caso do Daniel? — lembro de ter ouvido algo sobre ela gostar
do Matthew.
— A própria — Matthew responde suspirando — esses bundões estão
implicando comigo por que voltamos a nos falar e desde que cheguei no
Texas ela não me atende — coça a cabeça — oh mulher difícil.
— Ela quase prendeu ele — Black debocha — o Michael falou que foi
preciso o Daniel intervir.
— Preso por qual motivo? — questiono interessado.
— Eu dei em cima dela — dá de ombros.
— Na frente do promotor — Steve completa — a mulher ficou com
tanta vergonha que quis prender o Matthew por desacato.
— Em minha defesa — ele ergue as mãos — eu não lembrava o
quanto ela era gostosa, só esqueci um pouco de onde estávamos.
— Você e o Black são dois sofredores querendo quem não podem ter
— Steve fala. Encaro o Black que arregala os olhos para o irmão.
— Cala a boca Steve — rosna.
— Opa, foi mal.
— Explique — eu digo.
— Nada de mais — Steve responde focando a atenção no mapa —
casamentos com pessoas de fora da organização ou do nosso mundo são
proibidos. É perda de tempo se apaixonar por quem não se pode ficar.
— Você fala isso por ter um coração de pedra — Matthew rebate —
no dia em que se apaixonar eu quero ver qual será o seu discurso. — Aponta
para mim — o Kai era o maior devasso antes de casar com a Daisha e agora
está de quatro por ela.
— Completamente — confesso — se apaixonem, faz bem.
— Vocês estão parecendo umas mulherzinhas — Steve franze o nariz.
— Foco — Black bate palmas — Kai presta atenção no mapa. Essas
quatro áreas em vermelho eram dominadas por facções, a do George é essa
perto da fronteira. Ele conseguiu convencer os líderes das facções a se unirem
a luta para nos expulsar e impedir nosso domínio. Tivemos revoltas em
quatro cidades diferentes e não temos homens o suficiente para lidar com as
quatro ao mesmo tempo, sem perder o nosso posto em um ataque.
— Eu sugiro — Matthew aponta — que destroçar primeiro os Cabeça
Quente — aponta no mapa — eles são uma gangue de motoqueiros que
negociavam drogas com o George, foram os primeiros a se unirem a rebelião
e convenceram o Mancha de Sangue — aponta outro local — uma facção
criminosa.
— Esse outro, quem é? — aponto o mais perto da nossa localização.
— O Caveira, eles são um grupo de criminosos responsáveis por
diversos assaltos. Se uniram por último a rebelião após o George prometer
que se ajudassem iria tornar o território deles um centro de distribuição de
drogas. — Black explica — são um bando de vândalos, o mais fraco dos
quatro.
— Estamos lutando contra quatro inimigos — levo a mão ao bolso do
paleto pegando um cigarro — não temos soldados o suficiente, mesmo com
os meus soldados e os reforços enviados pelo Michael. O que vocês andaram
pensando? — trago o cigarro.
— Destruir O Caveira — Matthew fala — primeiro, depois seguimos
para o Cabeça Quente, pegando um por vez.
— É uma merda esse plano — Steve se opõem. — Nossa base ficará
vulnerável e o George atacará com tudo junto do Mancha de Sangue.
— Podemos usar a polícia — Black fala — temos provas do
envolvido do Cabeça Quente com drogas, uma batida e a prisão dos membros
fará a força deles balançar.
— Faremos melhor — aviso um plano surgindo na minha mente — a
polícia será usada, mas para desmontar O Caveira, temos contato no FBI, será
rápido e letal a prisão deles. Enviaremos um infiltrado para o Cabeça Quente
dizendo que O Caveira foi traído pelo Mancha de Sangue e o próximo a ser
entregue ao FBI serão eles. E o Mancha de Sangue receberá a informação de
que o Cabeça Quente vai invadir seu território para tomar posse. Vamos
coordenar nosso ataque ao George enquanto as duas gangues se destroem e O
Caveira é preso.
— Pode funcionar — Black diz — fazer eles lutarem contra si
poupará nossas forças e no final só precisaremos destruir quem sobrar.
— Vamos nos preparar.
Não será fácil organizar uma operação conjunta com o FBI e fazer as
gangues se atacarem no mesmo dia. Precisaremos usar toda a coordenação
possível, qualquer falha será letal para o nosso plano. As semanas seguintes
são usadas para articular cada passo da operação.
Tenho um primo no FBI responsável pela região do Arizona, ele
conseguiu fazer um amigo com jurisdição no Texas liderar a prisão do
Caveira, temos uma data, uma mensagem foi enviada para o Mancha de
Sangue e o Cabeça Quente.
Com esforço conseguimos cortar a comunicação deles com o George,
o que o fez se mover. Nossas tropas estão posicionadas, por garantia mantive
2 mil soldados na fronteira de onde acontecerá o confronto entre o Mancha de
Sangue e o Cabeça Quente para supervisionarem e garantir que ninguém
interferirá.
Eles somam mais de 10 mil homens, mas não possuem o treinamento
dos nossos soldados liderados pelo Calvin, um soldado de elite. O Caveira
deixo por conta do FBI, o agente vai receber um bônus gordo por nos ajudar.
Em menos de três horas chegamos a cidade base do George, são mais de 3
horas da madrugada, a invasão começa.
Levamos mais de 17 dias mapeando o território, descobrindo onde
cada um dos inimigos mora. Lugares frequentados, com quem eles se
comunicavam e suas rotas de fuga.
Com uma arma em mãos desço do carro ao lado do Black, Matthew e
Steve em frente a mansão ocupada por George. Os homens na frente de sua
casa se posicionam para nos atacar, com o clique de um botão as explosões
começam. Granadas são atiradas derrubando os portões, ergo a arma rente ao
rosto atirando em cada um que aparece na minha frente.
Abrindo um caminho de corpos para a mansão. Black atrás de mim
cuidando da retaguarda, Matthew a esquerda e Steve a direta. Robert lidera a
ofensiva na parte de trás junto do chefe de segurança do Black. Mais de mil
soldados nos acompanhando, enquanto dois mil impedem a aproximação de
reforços ou da polícia, invadindo suas casas, bares e qualquer buraco em que
os homens do George possam estar.
— Limpo — digo ao arrombar a porta, acerto três homens vindo na
nossa direção.
— Limpo — Black fala trocando de posição com o Matthew — recebi
informações que o George está fugindo pelo porão, detectaram assinatura de
calor.
— Seguiremos para lá — aviso.
Em formação continuamos atirando em cada infeliz surgindo no nosso
caminho, a poeira pelas explosões traz uma névoa para dentro de casa
dificultando enxergar muito a frente. O cheiro de sangue e pólvora invade
meus sentidos despertando a fera necessitada por sangue. Um maluco corre
na minha direção, abaixo a arma pegando a faca no meu quadril.
Giro batendo em seu braço o jogando no chão com um movimento
rápido, enfio a faca na sua barriga sentindo o sangue quente jorrando. Vejo o
Steve decepando a cabeça de um inimigo com sua machadinha, Black larga a
arma usando a faca para estripar um infeliz enquanto o Matthew continua
atirando naqueles que apontam armas para nós.
Conseguimos chegar ao porão, ouvimos vozes gritando para saírem do
caminho. Soldados dos Bianchi posicionados se escondendo atrás das
pilastras enquanto são alvejados. Pego uma granada dentro do casaco, puxo o
pino de segurança e rebolo nos inimigos.
— SE RENDÃO! — Black grita após a explosão, atirando outra
granada — OU SERÃO DESTRUÍDOS.
— VÃO SE FODER BIANCHI! — Gritam.
— Temos abertura pela esquerda — Matthew avisa seguindo o
caminho aberto pela explosão.
Vou atrás dele, Black e Steve ficam na frente jogando granadas nos
inimigos que não param de atirar. Uma parede cai como um presente me
dando a visão do George atrás de uma mesa de ferro atirando com uma
metralhadora automática. Vejo um ferimento em sua perna, sorrio. Bato no
ombro do Matthew chamando a sua atenção.
— Por aqui — sussurro.
Ele acena em positivo.
Nos misturando na fumaça, quebro o pescoço de um homem o
fazendo desabar silenciosamente no chão. Matthew puxa suas pernas o
escondendo atrás da parede quebrada. Caminhamos agachados, não quero
matar o George, ainda. Ele servirá de exemplo para os infelizes dos texanos,
vou domesticar o cachorro o fazendo se tornar nosso subordinado.
Michael gostou da ideia e deu sua aprovação. Daniel possui receio
quanto ao plano, mas com o Black em cima do desgraçado não teremos
problemas. É mais fácil controlar um território quando temos um de seus
líderes em nossas mãos, os homens obedecem com mais facilidade até
realizarmos uma troca.
Aponto para o Matthew, um homem de quase dois metros do outro
lado atirando com uma semiautomática, o último a dar cobertura do George.
— EU QUERIA A PORRA DE UM ACORDO — George grita —
MAS VOCÊS TINHAM DE ESTRAGAR TUDO. OS OUTROS VÃO
DESTRUIR VOCÊS — berra.
Matthew e eu sincronizamos nossos ataques. Ele fica atrás do grandão
e eu do George, na contagem de 3 envolvemos silenciosamente os pescoços
dos desgraçados. Passo as pernas ao redor do tronco do George o puxando
para trás, aperto seu pescoço em uma chave de braço. A arma cai de sua mão,
ele bate no meu antebraço tentando se libertar, grita enfurecido.
Rapidamente ouço o grandão preso pelo Matthew ser apagado por um
tiro certeiro do Steve. Black paira acima da cabeça do George com uma arma
em sua testa, sorrindo com o rosto banhado em sangue e poeira.
— É sua última chance, rendição total ou morte? — Black pergunta.
— Rendição — George fala em um folego.
Aperto seu pescoço o fazendo apagar nos meus braços. Levanto
observando a bagunça que fizemos. Não vai sobrar quase nenhum de seus
homens após a nossa operação, mas os que ficarem serão integrados como
soldados dominados dos Bianchi. Espalhados, desmontados e destruídos,
prontos para serem refeitos, remodelados seguindo os nossos princípios.
— Agora a porra do Texas é seu — seguro a mão que o Black me
estende ao ficar em pé.
— Vai ser um saco reorganizar o território — ele sorri não achando
ruim sua tarefa.
— Temos muito o que fazer antes de voltar para casa, a parte mais
fácil já foi.
— Senhor — Robert entra segurando um telefone — notícias do
Calvin.
— Fale — digo ao levar o celular a orelha.
— O plano foi um sucesso, eles se destruíram, o Cabeça Quente
venceram, quando estavam comemorando atacamos eles. Estamos levando os
vivos para o local combinado.
— Bom trabalho — entrego o celular ao Robert — limpem a bagunça,
quem sobreviveu será levado para a próxima etapa do plano.
— Ainda acho que deveríamos matar o George — Black encara o
homem apagado no chão. — Não acho que ele vá desistir de tentar recuperar
seu domínio.
— Se ele sair da linha o matamos.
Caminho para fora, a saudade da minha gata aumentando a cada
segundo, foram semanas longe dela sem poder me comunicar. Os malditos
texanos deram trabalho, mas agora finalmente acabou e o Texas é território
dos Bianchi.

Faz três dias que o Kai saiu para uma missão no Texas e mal temos
conseguidos nos falar. Daniel garante que meu marido está bem e a falta de
comunicação é devido às necessidades da operação. Tenho vontade de enfiar
uma marreta na cabeça do Daniel sempre que ele me responde isso.
Estou na sala mexendo no celular quando vejo o Dante entrando, ele
sorri cansado ao se jogar no sofá. Gosto quando o Dante aparece do nada, ele
tem feito bastante desde que iniciei as aulas.
— Me dê uns segundos de paz — pede colocando minhas pernas em
cima da dele.
— O que houve?
— Michael quer me enviar para uma missão no México, mas não
quero ir. A irmã do Gael é uma pegajosa que não supera a noite de sexo que
tivemos anos atrás.
— Você gosta dela?
— Nem um pouco, a maluca quase me mata por me ver flertando com
outra.
— Como ela fez isso?
— Ele me viu tomando insulina e recheou um salgado com chocolate,
quando mordi que senti o açúcar vomitei para não morrer.
— Espera — sento espantada com a informação — por que você
estava tomando insulina?
— Merda, esqueci que você não sabe — bate na testa. Dante me
encara, os olhos idênticos aos meus tristes — o pai da nossa mãe morreu por
causa do diabete, ele tinha o tipo 2. A Clarisse controla o açúcar como louca
para evitar desenvolver a doença, mas como o diabete possui fator hereditário
eu fui o sorteado a herdar do nosso avô. A minha é o tipo 1, era mais forte
quando eu era criança, mas com os anos consegui controlar.
— Por que eu não sabia disso? — me espanto a nova informação.
— Nossa mãe não queria te ver assustada como ela por causa da
diabete, e como você nasceu sem a doença ela decidiu que iria controlar sua
alimentação e a de todos na casa para mais ninguém desenvolver a doença —
suspira — sinceramente é uma merda. Sinto que tenho uma bomba relógio
prestes a explodir no meu corpo por causa da minha alimentação. Uma vez o
Dylan me entregou um chocolate quando eu era criança, lembro de salivar
antes de provar o doce — sorri triste — fui parar no hospital com uma crise
de insulina, a mamãe chorou tanto que prometi nunca mais fazer aquilo.
— Quem mais sabe da sua doença? — aperto sua mão.
— Somente nossa família, se um inimigo quiser me abater de forma
silenciosa me envenenar com doces seria a forma mais fácil.
Mudo de posição deitando a cabeça no ombro do Dante. Eu pensava
que a obsessão da Clarisse em me manter longe dos doces era por questão de
estética, mas hoje percebo que ela só queria me proteger e não podia me
contar a verdade. Se eu soubesse e falasse sem querer para alguém colocaria a
vida do Dante em risco. Meu peito aperta em vontade de pedir desculpas a
minha mãe e a escutar.
— O que acha de um jantar em família? — pergunto a ele.
— Uma ótima ideia — beija minha cabeça — eles estão se esforçando
para serem pais melhores. Nos últimos meses tenho conversado muito com o
Bellamy, compreendendo seus motivos. Vivemos em um mundo difícil para
amar.
— Muito — lembro da situação do meu marido e sua família
destruída. Eu não quero acabar como eles, sofrendo, separados, desejando o
ódio para aqueles que deveriam ser nossos maiores protetores.
Casar obrigada com o Kai não foi um inferno, eu encontrei no meu
casamento amor, proteção, carinho e acima de tudo a liberdade que eu sempre
ansiei. O motivo dos meus pais para me casarem foi errado, por causa de uma
aliança, mas se o Bellamy sabia que o Kai não seria ruim para mim, talvez
não existisse maldade em suas ações.
Pego o celular ligando para a minha mãe a convidando para o jantar.
Ela fica feliz, é a primeira vez que a chamo para a minha casa. Conto a
Josephine sobre o jantar e pergunto se ela quer participar, minha amiga nega
com um sorriso entendendo ser um momento precioso para os Griffins. Meus
pais chegam junto do Daniel.
— E a Emily? — pergunto.
— Em casa tomando sorvete — ele beija minha testa — ela decidiu
que passaria a noite conversando com a Josephine.
— Ainda não consigo acreditar em como a menina Lucian mudou —
Clarisse fala ao meu lado — ela era uma tempestade incontrolável quando eu
liderava as damas, mas com a Hope a Josephine é uma dama.
— Você nunca a tratou com o carinho que a Hope tem por ela — eu
digo, não por maldade, mas expressando uma verdade.
— Acho que eu nunca soube como tratar qualquer uma de vocês com
carinho — Clarisse encara o chão — obrigada pelo convite, filha.
— Estamos felizes por estarmos aqui — Bellamy fala.
Imagens da nossa briga e do tapa que ele me deu povoam minha
memória. Engulo em seco afastando a tristeza. Eu quero uma família unida,
amorosa e que meus pais tenham a chance de se explicarem. Viver presa ao
passado não trará nenhum benefício. Hoje descobri algo que eu não sabia,
mal posso imaginar quais segredos estão por trás da criação rígida que eles
nos deram.
— Vamos para a sala de jantar — vou na frente mostrando o caminho.
Sento na ponta, é estranho não ter o Kai segurando minha cintura e
beijando meu pescoço durante as refeições. A saudade dele aperta cada vez
mais, quero meu marido de volta. Teresa serve a mesa, meus pais sentam a
esquerda e meus irmãos a direita. Bebo o vinho em busca de coragem, será
uma noite difícil.
— Eu tenho aprendido a importância de ouvir — começo após engolir
um pedaço do cordeiro, sentindo a carne bater forte no meu estômago. —
Entender as ações que guiaram a construção da nossa relação no passado. Por
anos me senti abandonada e sozinha — Daniel aperta minha mão —
incapacitada de ouvir a minha voz com medo de ser repreendida pela minha
mãe — pisco contendo o nó na garganta — até o Daniel passar a me enxergar
— sorrio para ele — você foi o meu único amigo, obrigada por sempre estar
ao meu lado.
— Eu sempre vou te amar — ele beija o dorso da minha mão — não
tenha dúvidas de que pode contar comigo para tudo.
— Eu sei — sussurro, encaro o Dante com o olhar concentrado no
prato — Dante, você e o Dylan eram uma dupla, encontraram um no outro o
apoio para crescerem. Não se sinta mal pelas vezes que me ignorou — pisco,
é árduo admitir — eu também tenho culpa, nunca tentei conversar com você
e me apoiei no Daniel, alguém que você e o Dylan viam como inimigo. —
Pigarreio, é difícil me abrir.
— Não se culpe — Dante pede, os olhos marejados — se eu pudesse
mudaria todo o nosso passado, mas infelizmente não posso. Desculpe por ser
um péssimo irmão, Daisha.
— Você não foi tão ruim — enxugo o canto do olho — irmãos que
cometeram maldades piores um com o outro estão aprendendo a se perdoar,
acredito que podemos fazer isso também.
— Se você me der a chance, eu prometo que vou ser um irmão melhor
— vem a mim abraçando meu tronco.
— Você já é — aliso o pé do seu cabelo. O Dante nunca foi ruim
comigo, não me tratava com rispidez como o Dylan. Ele era apenas quieto no
seu canto seguindo o Dylan como uma sombra. Eu também não queria me
aproximar dele, tinha medo da rejeição, ambos somos responsáveis pelo
rumo da nossa relação.
— Vou continuar te perturbando todos os dias — beija o topo da
minha cabeça.
— Eu sei que vai, apareça para o chá da tarde — brinco.
Ele volta para seu lugar na mesa. De coração pesado encaro nossos
pais.
— Eu entendo que a máfia é um lugar cruel — digo a eles —
demonstrar piedade é algo perigoso, hoje eu percebo que não somos a única
família que passou por momentos difíceis. Algumas não têm como comparar
a situação de tão perversas. Mas eu preciso entender, o motivo de vocês
terem sido tão rígidos, separado seus filhos, me fazendo — engulo as
lágrimas — sentir rejeitada, indesejada e completamente abandonada por
vocês — falo a última frase baixinho, magoada.
— Eu tenho dois irmãos — Bellamy começa — vocês só conhecem
um. O outro foi apagado da história dos Bianchi por cometer traição. Ele se
apaixonou por uma russa, tentou uma aliança de casamento, mas o Anthony,
pai do Andrew e Chefe na época não permitiu. Meu irmão fugiu com a russa,
foi capturado e nosso pai obrigado a matar ambos. Como castigo tivemos de
esquecer a existência dele.
— Por isso você era contra minha ideia de fugir? — pergunto
começando a compreender.
— Sim, a morte é a única coisa que aguarda os que fogem. Meu pai
continua vivo, se ele ao menos sonhasse com sua ideia de fuga a mataria
antes de trazer desgraça aos Griffins novamente.
Meu pai aperta minha mão e deixo, ele não podia me ajudar ou
concordar com a minha ideia.
— A Clarisse, teve sua irmã jogada nos bordéis da Itália por se
apaixonar por um soldado e tentar uma vida com ele. Ambos sabemos como
o amor pode machucar as pessoas queridas e importantes para a gente.
Seus olhos focam na mesa, Clarisse aperta os dedos dele, me encara
tristemente. Tantas tragédias os rodeando por causa do amor. Um sentimento
capaz de curar todas as feridas, mas que para eles só significa perdas.
— A Melissa era uma grande irmã, foi horrível ver a forma como ela
foi tratada pela nossa família. Ela nem chegou a transar com o soldado e teve
sua virgindade transformada em um evento. — Clarisse pisca, lágrimas
grossas escorrendo por seu rosto. — Eu decidi que nunca me apaixonaria,
não sofreria o mesmo destino que o dela.
— Nos conhecemos em um baile da famiglia — Bellamy continua —
eu fiquei obcecado pela Clarisse, mas ela não me queria. Forcei uma união de
casamento e acho que brigávamos mais do que você e o Kai — rio triste
lembrando do meu amado marido. — Quando nos entendemos passamos por
outra desgraça na família por causa do amor — ele aperta o garfo em sua mão
— eu assumi como consigliere e meu irmão, ainda abalado pela morte do
Basilio, não percebeu o que a esposa estava prestes a fazer.
— Meu tio teve um primeiro casamento? — Dante pergunta confuso.
— Sim, Bertoldo casou com uma mulher apaixonada por outro
homem. Ela não suportou saber que estava grávida do Bertoldo e se matou
antes da criança nascer.
— O quê? — Levo a mão a boca assustada, eu nunca soube disso.
— O tio Bertoldo sempre se manteve mais afastado, foi por isso? —
Daniel pergunta.
— Sim, Bertoldo não está bem da cabeça, ele se tornou minha
responsabilidade, por ordem do Andrew. Foi obrigado a casar novamente
para gerar filhos.
Daniel levanta furioso ao ouvir o nome do sogro. Sempre existiram
boatos sobre como o Andrew tratava os filhos e a esposa. Imagino o ódio que
meu irmão deve sentir por causa do desgraçado.
— O Andrew decidiu que iria punir os Griffins após tantas tragedias
— Clarisse diz — seu avô foi exilado por não saber criar os filhos, Bertoldo
seria uma obrigação constante do Bellamy. Ele nos ameaçou. Se um de
nossos filhos demonstrasse qualquer comportamento parecido com o
Bertoldo que nunca lutou de verdade pelo cargo de consigliere ou fossem
desobedientes todos seriam punidos.
— Meu pai me criou disputando o cargo de consigliere com meus
irmãos, mas nenhum deles realmente tinha intenção de vencer a disputa. Eu
sabia que precisava ser rígido com vocês ou o mesmo erro se repetiria. —
Aperta os olhos com os dedos — estava convencido de que era o caminho
correto.
— E eu tive medo do amor destruir nossa família — Clarisse me
encara, o rosto molhado e arrependido. — Você precisava ser uma dama
perfeita e nunca chamar a atenção daquele maldito demônio. Eu fiz o que
pude para garantir que isso acontecesse e não percebi como estava judiando
de você. Eu nunca me perdoaria se você se apaixonasse pela pessoa errada e
tivesse o destino da minha irmã — soluça — eu não podia ariscar. O amor é
perigoso no nosso mundo.
— E vocês não podiam ser fracos — Bellamy diz encarando os
meninos — estimular o ódio era a única saída que eu via. Mas a desgraça
chegou a nossa família novamente. Por nossa culpa — aperta a mão da minha
mãe — o Dylan morreu, o Dante e Daniel mal se falavam e eu fui horrível
com você quando me pediu para cancelar o noivado.
Me encara, de todas as possibilidades que imaginei para o
comportamento dos meus pais. Nunca pude pensar que seria motivado pela
necessidade de impedir uma tragédia. Soluço com a mão na boca tentando
controlar o choro. Dante e Daniel caminham magoados, escutando calados.
Meus pais enxergaram o amor como seu inimigo. Nunca conseguiriam
demonstrar afeto com os corações repletos de mágoa, medo e traumas. Ao
contrário do Louis e da Eleanor que sentiam prazer em machucar os filhos,
Bellamy e Clarisse estavam desesperados para não seguirmos os caminhos
dolorosos enfrentado por eles, sem perceberem que caminhavam para um
precipício diferente.
— Eu nunca deveria ter batido em você. Naquele segundo eu te vi
seguindo os caminhos da sua tia e só soube usar o medo para tentar te
controlar. Perdão por te magoado, minha filha. Eu precisava retirar da sua
cabeça a ideia maluca de fugir ou você seria jogada nos bordéis para ser
estraçalhada pelos piores tipos de homens. Se retirássemos seus rastreadores
para você fugir seriamos detectados no mesmo instante, ou usariam os
rastreadores para te encontrar e punir.
— Rastreadores? — pergunto confusa.
— Ela não sabe — Clarisse limpa o rosto — Michael ordenou, após o
sequestro da Hope, que todas as moças tivessem implantado 3 rastreadores.
Eu sabia como você se sentia presa e sem liberdade, por isso a coloquei para
dormir quando colocaram os rastreadores, não te queria se sentindo mais
aprisionada.
Perco o ar com a informação, agora faz sentido como o Kai sempre
consegue me encontrar. O safado deve me rastrear para onde quer que eu vá.
Ele não faz ideia de que eu não sabia que os tinha no corpo. Encaro a Clarisse
compreendendo seus motivos. Eu teria dado um jeito de arrancar os
rastreadores sozinha. E se não fosse por eles talvez o Kai não tivesse me
achado na caverna e eu estaria morta agora.
— Compreendo seus motivos — me limito a responder, não vou
permitir que a raiva me domine. Hoje é para ser uma noite de cura e novos
caminhos, sem brigas.
Bellamy levanta e Clarisse o segue. Eles se encaram e dão dois passos
para trás ficando de joelhos com as mãos no chão.
— Fomos pais horríveis e o que fizemos não tem como ser
compensado — Clarisse fala em meio ao choro de partir meu coração —
perder o Dylan e nunca ser capaz de mostrar o quanto amamos vocês foi a
tragédia causada por nossa culpa. Não existe tempo de vida o suficiente para
curar a ferida aberta.
— Se vocês puderem, mesmo que pouco — Bellamy diz, pela
primeira vez vejo meu pai chorar — nos dar uma pequena chance de termos
um futuro diferente em que poderemos conversar sem nos magoarmos, ouvir,
abraçar e beijar nossos filhos, prometemos que nunca mais causaremos
sofrimento a vocês.
— O passado — eu digo me pondo de pé, encaro meus irmãos vendo
neles o mesmo que habita meu coração: a vontade de amar e ser amada por
nossos pais — é um lugar doloroso. Eu decidi com meu marido e irmãos que
não viveríamos presos a ele — fico na frente deles, de joelhos, seguro o
ombro de cada um — vamos romper as correntes do sofrimento e nunca mais
acorrentar o amor que sentimos uns pelos outros. Podemos começar do zero
— abraço meus pais, pela primeira vez na vida, sentindo amor — eu quero
muito vocês presente na minha vida.
— E nós queremos estar nela — Bellamy beija meus cabelos. — Eu
demorei 20 anos para poder te abraçar de verdade, passarei o resto do tempo
de vida que tenho compensando — beija minha bochecha onde outrora me
deu um tapa.
Assim como incentivo o Kai e a Josephine a conversarem sobre os
traumas e serem capazes de se abrir um com o outro, vou seguir meu próprio
conselho. As memórias ruins sempre vão existir, mas elas podem ser supridas
com novas lembranças.
— Eu amo muito vocês — Clarisse abre o abraço chamando pelos
filhos.
Dante fica de joelhos abraçando nossa mãe e Daniel aperta a mim e o
Bellamy em seus braços.
— Você nunca me deixou morrer pelo diabete — Dante fala — e não
me fazia passar vontade vendo meus irmãos comendo doces, acho que foi seu
jeito de me proteger e eu reconheço isso, mãe.
— Eu também — falo soluçando — apesar de sofrer pela criação
rígida e odiar a máfia, fui uma dama que nunca trouxe desonra a nossa
família, graças a sua criação.
— Você é perfeita minha filha — encosta a testa na minha — me
perdoe, eu quero muito ser capaz de te ouvir.
— Coloquemos uma barreira entre o passado e o presente — Daniel
diz — o amor não é uma fraqueza, é o laço que irá nos unir novamente.
— Sim — respondemos.
Seja no meu casamento ou na minha família. Jamais deixarei faltar
amor. Ele nunca foi o problema, mas a solução. Poder escutar meus pais,
compreender um pouco os seus traumas e entender que, no fundo eles sempre
quiseram nos proteger alivia meu coração. Jogando para longe a dor rascante
por causa da minha criação.
Teremos o nosso recomeço e nunca mais nos machucarmos. Essas
malditas correntes foram completamente rompidas.
CAPÍTULO 27 DAISHA

Entro na sala de aula com a Josephine estranhando o clima pesado.


Desde que a Rebeca retornou, após o Kai sair em missão há um mês, as
coisas tem andado estranhas. As meninas pouco falam comigo e a Josephine,
não conseguimos entrar em grupos para fazer os trabalhos acadêmicos.
Os homens da turma parecem viver uma realidade diferente das
meninas, eles falam conosco, mas não podemos nos misturar, conheço o
marido ciumento que tenho e prefiro evitar a morte de alguém.
Sento na minha cadeira de costume com a Josephine ajeitando seu
material de estudo. Meu olhar encontra o da Rebeca no segundo em que ela
cochicha algo para a menina ao seu lado e mostra uma cicatriz em seu braço.
— Josephine — aponto com o rosto — aquele é o machucado de
quando ela se cortou com o abajur?
— Sim — minha amiga franze a testa — ela levantou o casaco para
mostrar aquilo?
— Tem algo de errado.
A moça toca a cicatriz e seu olhar foca em mim com fúria. Ela não
encara a Josephine e minha intuição me diz que a Rebeca tem espalhado
mentiras ao meu respeito.
Eu sou o verdadeiro alvo dela, a pessoa que está com o Kai, ocupando
o seu lugar. Há cada dia que se passa minha teoria sobre a obsessão da
Rebeca ser causada por um amor doentio pelo irmão se prova verdade. É
como se a Josephine nunca tivesse existido, seu ódio é direcionado somente a
mim.
— Danica — Josephine chama a moça sentada a nossa frente,
costumávamos conversar bastante, mas ela também passou a nos ignorar.
— Sim? — responde sem se virar.
— Você sabe se o professor disse quando entregará as notas? Não
consegui a informação.
Ela vira a cabeça me encarando.
— Se a Daisha passasse menos tempo sendo uma vadia com a Rebeca
e estudando não perderiam as informações.
— Que diabos? — fico chocada.
— Cuidado com o que você fala — Josephine cerra os dentes — sua
vagabunda.
— Não sei como você suporta ficar ao lado dela — Danica levanta
com fúria pegando os materiais — malditas psicopatas. — Anda apressada
para sentar longe da gente.
Um borborinho começa entre as meninas. Olhares me acertam de
todos os lados, a raiva preenchendo a sala de aula me faz querer desaparecer
e no centro a maldita sorri triunfante. Não existem mais dúvidas, a Rebeca
começou a espalhar boatos maldosos para colocar a sala de aula contra mim.
— Eu vou matar a desgraçada — aperto o braço da cadeira.
— Posso te ajudar — Josephine rosna — essa vadia ficou tempo
demais sem receber a lição que merece.
— Senhora Lucian — Oliver, um segurança mais novo de 25 anos
senta no canto da Danica, me encara preocupado — acho melhor irmos para
casa, o clima se tornou hostil para a senhora permanecer aqui.
— O que você ouviu? — pergunto apertando a caneta na mão.
— O Fred estava comentando com os amigos que a namorada dele, a
Kyle, contou sobre a Rebeca ser maltratada por você após se casar com o
irmão dela. Fazendo ambos se afastarem e que a senhora a machuca sem o
Kai saber. Ela exibe a cicatriz no antebraço como uma prova das suas
agressões. E na semana passada ela chegou com um olho roxo, quando
perguntaram o que aconteceu admitiu que você a tinha socado, após ela tentar
falar com o Kai.
— Eu mato essa vadia — Josephine grita levantando furiosa, mais
olhares se voltam para a gente. Puxo o braço da Josephine a fazendo sentar.
— Quieta — falo baixo — deixa eu pensar.
— Não tem o que pensar, Daisha — me encara indignada — vamos
meter a mão na cara dela e contar ao Kai o que está acontecendo. Ele vai
mandar ela para o inferno por mexer com você.
— Não consegui falar direito com o Kai nas últimas semanas —
admito — resolveremos isso sozinhas — encaro o Oliver — Assistirei a
minha aula sem transtornos, não vou permitir que a Rebeca me faça perder
um único dia de aula. Vou lidar com ela de forma apropriada, quanto aos
boatos, desminta todos que você ouvir, fala o quanto a vadia é uma psicopata
manipuladora. Passe a ordem aos outros seguranças disfarçados.
— Sim senhora.
— E o que mais? — Josephine pergunta ansiosa — se você falar que
não vai meter a mão na cara dela eu acabo a nossa amizade.
— Rebeca está mexendo com a esposa do subchefe dos Bianchi —
encaro a demônio — vou lidar com ela seguindo as regras da organização.
Em casa terei uma reunião com o Chefe reivindicando meu direito de
vingança.
— Faça ela sofrer — Josephine sorri maléfica.
— Farei.
Rebeca está começando a passar dos limites. Iniciando pelos boatos
para colocar a turma contra mim, não posso prever o que vira a seguir e não
vou esperar pelo seu próximo passo. Ela está cometendo um ato de traição e
pagará por isso. Kai pode não se sentir pronto para confrontar a irmã, mas eu
não a deixarei agir livremente.
Após a aula vou ao banheiro enquanto Josephine tira a dúvida sobre as
notas com o professor, faço minha necessidade fisiológica e depois lavo as
mãos na pia. Ouço a porta abrindo, a garota que conversava com a Rebeca
mais cedo entra acompanhada de outras três. Elas me rodeiam me encarando.
Seco as mãos as ignorando, não gosto do clima ameaçador.
— É verdade que os alunos no lado de fora são seus amantes? — a
loira questiona debochada — não bastava casar com o irmão da Rebeca
armando para ele um golpe da barriga e ainda vai atrás de outros paus?
— É uma vadia — uma morena empurra meu braço.
Giro me afastando de seu toque, ficando com o quadril contra a pia.
Ergo o queixo, são quatro contra uma. Com um grito meus seguranças entram
no banheiro.
— Se não quiserem problemas, é melhor saírem da frente — ameaço
— não estou com saco para aguentar as putinhas.
O soco me atinge pela lateral. Meu queixo lateja, mordo a bochecha
causando um sangramento. Caio contra a pia ficando tonta.
— Como você teve coragem de cortar a Rebeca daquele jeito? —
outra fala, aperto as mãos ao redor da pia recobrando os sentidos — sabe o
que fazemos com vadias como você?
— Uma surra não será o suficiente — puxam meus cabelos com força,
sinto o couro cabeludo rasgando.
Preparo para gritar e sou impedida por uma toalha enfiada na minha
boca. Berro abafado sentindo o desespero começar a tomar conta. Os
seguranças não vão entrar se eu não falar nada.
— A Rebeca pode não conseguir revidar — a loira aperta os punhos
— mas nos vamos — soca meu estômago.
Contraio pela dor agonizante. Gemo contra a toalha, me debato
tentando me livrar do aperto na cabeça. Agarro o punho da que me prende
fincando as unhas em sua carne. Ergo a perna chutando a loira ao vir para
cima de mim. Ela cai para trás. Antes que possam revidar abaixo o tronco
girando, a queimação na cabeça é infernal, mas ao fazer isso consigo forçar a
que me segurava a me soltar.
Acerto sua barriga com um soco, ela se curva para a frente. Uma
joelhada atinge meu estômago. Caio de joelhos tentado recuperar o folego.
Assistir a todas as lutas do Kai e o ver treinando na academia me ensinaram
algumas coisas. Agarro o pé que surge para acertar meu rosto puxando a
desgraçada a fazendo cair no chão novamente. O baque do seu corpo ressoa
alto.
Braços rodeiam meu pescoço. Rosno arrancando a toalha da boca,
ergo as mãos acertando os olhos da miserável enfiando as unhas o máximo
que posso a fazendo gemer.
— Eu mato vocês! — ouço a voz da Josephine.
A mulher que me segurava me solta levando as mãos aos olhos.
Josephine voa em cima da loira acertando o rosto dela com um chute
poderoso. As duas que sobraram em pé avançam contra minha amiga. Impeço
a morena chutando seu calcanhar a levando ao chão. Josephine é rápida ao
socar o rosto da desgraçada acertando o queixo dela a fazendo cair no chão.
Com as quatro incapacitadas eu grito chamando os seguranças. Eles
entram rápido encarando a situação abismados.
— Levem elas para onde meu marido deixa seus inimigos — ordeno
ficando em pé com dificuldade — as quatro tentaram me dar uma surra,
descubra tudo que a Rebeca contou a elas e relate ao Kai imediatamente. Não
me importa com quem vocês tenham de falar para conseguir comunicação
com ele, façam!
— Senhora Lucian — Brandon vem a mim enquanto os outros
seguranças fazem o que mandei. — Por que não me chamou?
— As vadias colocaram uma toalha na minha boca — toco o queixo
— e depois eu quis acabar com a raça delas.
— Fez isso com a maestria digna da esposa do subchefe — sorri de
lado, orgulhoso.
— Ainda não acabou, onde está a Rebeca? — pergunto, Josephine
vem até mim segurando meu rosto.
— Essas vadias te atacaram por causa dela? — minha amiga pergunta
pressionando o papel toalha no canto do meu lábio.
— Sim, não vou esperar o Kai retornar para resolver essa merda. Foi
um ataque direto a mim — aperto a mão dela.
— Vamos acabar com a raça da puta — Josephine exibe os dentes em
um sorriso malvado.
— Ela foi para casa — Brandon responde.
— Seguiremos para lá — seguro a palma da Josephine a puxando
comigo — cansei da maldita da Rebeca.
Kai pode ter o desfecho que ele desejar com a maldita psicopata. Mas
não vou permitir que ela continue me atacando, o que aconteceu nesse
banheiro foi extremamente sério. Para além dos boatos, foi uma agressão
física orquestrada. Minha cabeça arde, a mandíbula dolorida e a barriga
machucada ao ponto de doer respirar.
Não tenho medo de qual será a reação do meu marido, sei que ele não
vai apoiar as ações da Rebeca e muito menos brigar comigo. O que me
magoa é saber que ele será obrigado a enfrentar a realidade de que sua irmã é
uma psicopata que precisa ser detida. Matando de uma vez o resto de
sentimentos que ele tinha por ela.
— O que você planeja fazer? — Josephine pergunta ao estacionarmos
na frente da casa dos Lucian.
— Vou arrebentar a cara dela — saio do carro — sinta-se livre para
me acompanhar.
— Esmurrar a Rebeca sem sofrer represaria? Garota você está me
dando um presente de Natal antecipado!
Estrala os dedos deixando exposto o ódio sentido pela irmã e a
vontade de finalmente poder se vingar com violência. Brandon vai na frente
abrindo as portas, diferente da última vez em que estive aqui, ninguém ousa
me impedir de entrar. Josephine ao meu lado caminha apressada,
encontramos a Rebeca na sala com a Eleanor.
— Ei, vadia — grito com ela.
A maldita me encara com ódio pungente ficando em pé para me
receber. Noto como ela pressiona os pulsos controlando a ira, se vai manter a
pose de boa moça na frente da mãe ou revidar eu não sei. Estou decidida a
dar uma lição na Rebeca e nada me impedirá.
— Recebi seu presente no banheiro — vou até ela — pronta para
ganhar meus agradecimentos?
— Do que se trata isso? — Eleanor pergunta.
— Fique de fora — Josephine rosna empurrando a mãe a forçando a
sentar no sofá — ou vamos matar você também.
— Vejo que as garotas pegaram leve — Rebeca analisa meu rosto —
não estou vendo nenhum corte, vagabunda.
Fecho a mão em um punho descendo contra o rosto da miserável de
uma vez. Acerto sua bochecha com um baque delicioso de ouvir. Ela
cambaleia para trás, sua mão envolve o jarro em cima da mesa ao lado do
sofá. Josephine avança segurando o pulso da Rebeca, impedindo que ela
jogue o vaso, estapeando seu rosto. Ela não para de bater. Rebeca recua
tentando se livrar do ataque feroz.
— Vadia psicopata! Foram anos aguentando as suas merdas e isso
acaba hoje.
— Eu mato você — Rebeca tenta segurar a mão da Josephine. Isso
não impede que os tapas continuem.
— Você fez tudo o que pode para manter o Kai longe de mim, como
se sente sabendo que ele escolheu a mim ao invés de você? — Ri amarga
arrancando sangue da boca da irmã — Porra, Rebeca, eu amo estar recebendo
o carinho dele todos os dias enquanto você só ganha desprezo!
Vejo lágrimas grossas se formando no rosto da minha amiga, o
desespero e sofrimento de anos podendo em fim serem expurgados. A
desgraçada bate contra uma mesa com um jarro maior. Corro ao perceber sua
intenção. Para se livrar da Josephine ela acerta o jarro pesado na minha
amiga. Josephine grita caindo no chão, vejo o estrago em sua coxa, um caco a
perfurou. Rebeca chuta a perna da Josephine fazendo o pedaço afiado entrar
mais em sua pele.
— EU VOU ACABAR COM A SUA VIDA — ela berra.
— Sai de perto da Josephine! — agarro os cabelos da desgraçada a
puxando para o chão.
Giro o quadril ficando por cima da Rebeca. Não suportando mais a ver
machucar a Josephine. Agarro firme seus cabelos enfiando as unhas em seu
couro cabeludo. Bato sua cabeça no chão, ela arranha meu rosto com as
unhas, agarra meus braços tentando me tirar de cima do seu corpo. Finco a
mão livre em seu pescoço apertando forte, impedindo a passagem de ar.
— Você nunca mais vai machucar o Kai ou a Josephine, seu demônio!
Ela acerta meu olho, recuo a cabeça para trás, cega pelo ataque
repentino. Não solto seu corpo, decidida a colocar um ponto final em tudo.
Braços fortes me puxam para cima, sou arremessada contra a parede suspensa
no ar. Forço meu olho a abrir vendo o Louis. Ele aperta meu pescoço com
força, sua cabeça sangra. Procuro pelo Brando o encontrando no chão
desacordado.
Josephine tenta se ergue, mas não consegue. Rebeca sobe em cima
dela enfiando o caco do jarro na sua coxa com mais força, sorrindo ao me
encarar. Eleanor observa a tudo acuada no canto da sala. Chuto o Louis
tentando me soltar do seu aperto cada segundo ficando mais forte.
— Nunca mais toque na minha filha! — Ele fala rente ao meu rosto.
Perco a força nas pernas, os gritos da Josephine atinge meus ouvidos
me mandando continuar acordada. A vejo pegando um pedaço do jarro e
acertando o rosto da Rebeca que recua atordoada. Josephine se arrasta
tentando chegar a mim. Não consigo mais respirar, minha cabeça nubla pela
falta de oxigênio, o corpo se tornando pesado de sustentar.
— Larga ela! — Josephine rosna enfiando um pedaço afiado do jarro
no braço do Louis, ela puxa, vejo sangue manchando sua mão, desce
novamente o acertando repetidas vezes. O maldito não me larga.
Um tiro soa alto na sala, vejo a cabeça do Louis explodindo, o sangue
quente atingindo meu rosto. Desabo no chão lutando para conseguir respirar,
na entrada da sala eu vejo o Kai transtornado, enfurecido.
Ele matou o Louis, e aponta a arma para a Rebeca.
Um mês sem poder ver a minha boneca tem me enlouquecido. Não
tenho tempo para falar com ela, ficar a frente da reabilitação dos inimigos em
novos soldados está sendo um grande empecilho nas nossas comunicações.
Mesmo por mensagem é difícil encontrar tempo para dizer tudo o que quero,
o quanto sinto sua falta e estou louco para voltar e a abraçar apertado.
Se eu tiro o olho desses marginais por um segundo eles começam uma
confusão. Já matei mais de 25 homens desde a dominação há duas semanas.
Black ficou responsável por colocar os líderes das rebeliões na linha,
Matthew reorganiza a divisão das gangues para manter membros
problemáticos separados e Steve cuida da limpeza dos territórios.
A rebelião está dando um lucro de 55 milhões somando o patrimonio
das quatro gangues. É tudo nosso e se não fosse a saudade da minha boneca
eu estaria aproveitando muito mais o momento de dominação. Deixo a sala
com os últimos rebeldes sendo mortos como exemplo, finalmente consegui
finalizar a minha parte.
Entro no escritório do Black, ele conversa com o George que tem
estado bastante calmo e submisso desde a dominação. Seus homens são os
mais controlados, os piores estão sendo os Cabeça Quente são um bando de
marginais precisando de corretivo.
— George quer fazer um pedido ao subchefe — Black aponta com
divertimento no olhar.
— Fale — sendo ao lado do miserável o encarando.
— Eu quero um casamento com uma mulher Bianchi. Só assim terei
certeza de que não sofrerei nenhum ataque e a minha posição estará segura.
— Nossas garotas são preciosas — respondo — mesmo a de menor
influência nunca seria entregue a um verme como você.
— Já aceitei a dominação e estou mantendo meus homens na linha —
ele não ousa me encarar — por favor, uma esposa é tudo o que preciso para
ter certeza de que estou seguro. Vocês nunca atacariam uma de vocês.
— O que você acha, subchefe? — Black pergunta, já sabendo a minha
resposta.
— Nossa palavra é o que você precisa. — Levanto abotoando o paleto
— não terá casamento entre uma de nossas mulheres com você. Continue na
linha e será recompensado se mantendo na sua posição. Agora saia.
Ele deixa a sala sem falar mais nada, pego o uísque e um charuto
sentando de frente ao Black.
— Ele não desiste. — Digo
— Chega a ser engraçado a insistência do infeliz — bebe seu uísque.
Batidas soam na porta, autorizo a entrada.
— Senhor, temos problemas — Robert me entrega um celular.
— Senhor Lucian? — perguntam do outro lado da linha.
— Sim.
— Sou Oliver, um dos soldados responsável pela proteção da senhora
Lucian na faculdade. Tenho um relatório urgente para o senhor.
— Relate — aperto o copo sabendo que não é coisa boa.
— A sua irmã Rebeca está o mês inteiro espalhando boatos sobre a
Senhora Lucian na sala de aula. Não identificamos antes por o assunto se
manter somente entre as meninas. Mas hoje de manhã chegou aos rapazes. A
senhora Lucian e a senhorita Josephine estão isoladas da turma. Rebeca
espalhou que sofre agressões físicas da senhora Lucian, que ela armou para o
senhor casar através de um falso golpe da barriga e o tem mantido longe da
Rebeca. Ela também acusa a senhora Lucian de se relacionar com outros
homens.
— Você tem certeza do que está dizendo? — aperto o celular contra o
ouvido querendo o jogar na parede pela fúria crescente.
— Sim, senhor, a aula das meninas acabou de iniciar e o clima não é
muito bom, tentei tirar a senhora Lucian da sala, mas ela se recusou a sair.
— Não deixe nada acontecer com minha esposa e irmã, estou
voltando para Nova Iorque.
— Sim senhor.
Desligo, arremesso o celular na parede precisando quebrar alguma
coisa.
— Desgraçada maldita — chuto a cadeira.
— O que houve? — Black levanta espantado.
— A fodida da Rebeca, eu nunca deveria ter deixado ela livre depois
de descobrir quem ela é. Porra! — chuto a cadeira quebrando as pernas, nada
é capaz de aplacar a raiva que sinto — vou voltar para casa, agora.
Saio da sala sem esperar uma resposta, enxergo vermelho no caminho
para o avião.
Eu precisava entender primeiro quem a Rebeca era, superar a mágoa
crescente e a decepção antes de a confrontar. Ela se manteve quieta enquanto
eu estava em casa me fazendo acreditar que ela podia ter um mínimo de
salvação. Não passou da porra de uma encenação, eu dei as costas e a
miserável começou seus ataques de forma sorrateira, boatos infundados,
mentiras, isolando a minha esposa.
O mesmo padrão de quando ela mentia sobre a Josephine, mantendo
minha irmã reclusa da organização, a forçando a ser feroz para conseguir se
defender e chamar a atenção. Nunca mais vou cometer os mesmo erros,
Rebeca vai aprender que não pode continuar manipulando e magoando as
pessoas por causa do seu maldito egoismo.
Eu quis ter esperança, acreditar que existia a miníma chance dela
mudar, se redimir. A garota amorosa que esteve ao meu lado em todos os
momentos difíceis não existe mais. Foi uma farsa, uma manipulação para me
fazer girar na ponta do seu dedo. Encarar a realidade fodida do meu passado é
abrir um buraco de proporções gigantescas no meu peito.
Todo o conforto, carinho e amor que acreditei ganhar em seus braços
era mentira. Uma maldita obsessão para me fazer seguir o seu roteiro e hoje
eu percebo não existe salvação para a Rebeca ou a nossa relação. Ela destruiu
a Josephine no passado e quer fazer o mesmo com a Daisha, machucar a
pessoa que eu mais amo nesse mundo de merda.
Eu não permitirei que ela toque em um fio de cabelo da minha boneca.
Eu fui manipulado, machucado e destruído pela família.
Não deixarei qualquer um deles ferir no que é importante para mim.
Eles não vão destruir a minha felicidade.
Eu vejo quem a Rebeca realmente é e hoje colocarei um fim na
história sangrenta dos Lucian.
Pousamos no complexo, verifico a localização da Daisha a
encontrando na casa do Louis. O desespero me consome com medo do que
irei encontrar. Subo na moto dirigindo em alta velocidade, não tenho tempo
de ordenar nada aos soldados, o Brandon não deixaria a Daisha sozinha, mas
não confio na Rebeca, Eleanor e Louis, os três juntos pode ser uma péssima
combinação para a minha boneca.
Estaciono vendo soldados do lado de fora. Corro para dentro, as
pernas do Brandon esticadas no lado de fora da porta da sala. Puxo a arma me
preparando para entrar. Josephine grita, passo pela porta vendo meu mundo
incendiar em fúria.
Daisha pressionada na parede, Louis com as mãos envoltas de seu
pescoço, Josephine o atacando com ferocidade. Aponto para a cabeça dele e
puxo o gatilho, o sangue jorra manchando o rosto da minha esposa. Seus
olhos me encontram ao desabar no chão. Miro na Rebeca que olhava a tudo
com um sorriso no rosto.
Sua face muda ao me encarar, os olhos arregalam, o rosto ficando
branco como papel. A mascará ruindo diante dos meus olhos. Ela não é o
anjo que me trouxe paz, é um demônio semeando o caos e se escondendo.
Eu a vejo.
Um gemido da Daisha chama minha atenção. Amparo minha amada
nos braços, aliso seu rosto arranhado, pequenas gostas de sangue nas
bochechas, o olho irritado, a boca cortada. Analiso seu corpo em busca de
ferimentos, o pescoço ficando vermelho com as marcas das mãos do Louis.
Beijo sua testa, o peito rasgando em dor por a ver sofrendo.
— Desculpe a demora — murmuro.
— Chegou no momento certo, anjo negro — ela beija meu queixo.
— Kai — Josephine choraminga, a puxo para meus braços beijando
seus cabelos.
Vejo o machucado em sua perna, um pedaço de cerâmica enfiado na
carne sangrando. Solto ambas, retiro o cinto fazendo um torniquete ao redor
da coxa da Josephine, impedindo o sangramento, ela precisa de um médico.
— NÃO! — Um grito alto chama minha atenção, vejo a Rebeca vindo
na minha direção — elas vieram me atacar! — fica de joelhos na frente do
Louis — se não fosse nosso pai me salvando eu estaria morta!
Um corte em sua bochecha sangra, os cabelos arrepiados, o rosto
completamente vermelho com marcas de tapas. Ela continua fazendo o
mesmo, como eu não percebi antes? É a mesma manipulação, sempre a
vítima em um local estratégico para eu acreditar. Ela está em casa, Daisha e
Josephine invadiram, a agrediram, ela é a vítima.
— Eu nunca mais vou cair nas suas manipulações — irado avanço
para ela, seguro seus braços a empurrando no chão — sua maldita psicopata
eu já sei que você tem espalhado boatos sobre a Daisha, COMO OUSA
MEXER COM A MINHA ESPOSA? — Berro na sua cara a fazendo se
encolher assustada.
— Não Kai, você não entende — ela sacode a cabeça, os olhos
enchendo de lágrimas.
— Eu fui atacada no banheiro da faculdade — Daisha diz, respirando
pesado — quatro meninas me encurralaram, a Rebeca espalhou que eu a
agrido fisicamente e aquelas vadias vieram me ensinar uma lição.
— Elas feriram a Daisha — Josephine continua — sabiam que ela
pediria ajuda dos seguranças e colocaram uma toalha na boca dela. Quando
entrei no banheiro estavam no meio do ataque.
— É mentira! — Rebeca grita.
— CALA A BOCA, SUA FODIDA! — Sacudo seu corpo a fazendo
tremer assustada. — Eu passei anos acreditando nas suas mentiras, brigando
com a Josephine e me deixando ser levado por seu maldito teatro, mas isso
acaba hoje Rebeca. EU TE AMEI PORRA — a mágoa aperta meu peito
dificultando respirar — sempre te dei tudo, te protegi, eu te tratava como o
centro do meu mundo e como você retribuiu? Machucando a nossa irmã,
caçando a minha esposa, eu deveria te jogar no maldito porão para ser
torturada até a morte!
— Eu te amo Kai — chora, as lágrimas que outrora me fariam a
segurar nos braços e oferecer conforto, hoje só me causam nojo. — Eu sou a
única que você precisa ao seu lado. Ainda podemos nos livrar delas e sermos
felizes eu prometo que posso ser a sua mulher — toca meu rosto.
O asco sobe violentamente me fazendo a largar enjoado, caio para
trás. Rebeca avança segurando meu pescoço, subindo no meu colo. Os olhos
negros repletos de desespero e maldade.
— Eu posso te fazer feliz como nenhuma outra, sempre foi você, o
meu tudo, a minha paixão o único que eu quero. Me faça sua Kai, me dê uma
chance de provar que posso ser a sua esposa.
Contrario o rosto horrorizado. Agarro seu corpo a afastando de mim.
Rebeca nunca vai parar de tentar conseguir me fazer seu.
— Não chegue perto — ergo um dedo me levantando, tentando digerir
a merda fodida jogada na minha cara.
É tudo muito pior do que pensei.
Ela não se arrepende por machucar a Josephine, por armar contra a
Daisha. Rebeca não sente remorso, não se importa com nada além da sua
obsessão fodida por mim. Eu nunca quis a machucar e mesmo agora pensar
em a fazer sofrer me rasga por dentro, espinhos enrolam na minha alma ao
imaginar machucar a pessoa que foi o meu mundo.
Encaro minha esposa e irmã, ambas abraçadas, machucadas, os
olhares magoados, com raiva e tristes por mim. Do outro lado a Rebeca me
encara furiosa apertando as mãos, eu sinto o seu desejo de machucar a Daisha
e a Josephine. Sua sede de sangue para acabar com qualquer uma que se
aproxime de mim.
— Por muito tempo você foi o meu tudo — eu digo a ela — mas hoje
eu te abandono. Acabou Rebeca, eu nunca mais vou te ver. Te mandarei para
longe, um lugar em que pagará pelos seus pecados. — A encaro de cima —
você me implorou para nunca casar e ficar para sempre ao meu lado. Sua
obsessão se prova maior do que eu imaginava, te manter em Nova Iorque,
acorrentada no porão não a faria se arrepender ou sofrer, você continuaria
tentando chegar a mim.
— Kai, por favor — de joelhos ela agarra minhas pernas. Pressiono
seus cabelos puxando seu rosto para cima. — Eu amo você — soluça.
— Eu não te amo — agacho encarando seu rosto de perto — você
conseguiu me fazer te odiar. As leis dos Bianchi impostas pelo Michael
proíbem a tortura de mulheres, seu destino seria uma bala na cabeça, um fim
rápido. Você não merece um final feliz como esse.
Ela agarra meu rosto e me afasto.
— Será enviada para o Texas, vai casar com o George. Nenhum
sofrimento que eu possa te causar vai te machucar tanto quanto saber que eu
estou te expulsando da minha vida. Vou viver feliz ao lado da minha esposa e
da minha verdadeira irmã enquanto você ficará aprisionada a um casamento,
longe de tudo o que você deseja. Sem poder para fazer mais nada, vigiada 24
horas por dia, incapacitada, trancafiada em uma casa pelo resto da vida
sabendo que foi eu quem te colocou lá.
— Por favor — encosta a cabeça nos meus sapatos. — Eu te imploro,
não faça isso, Kai.
— Levem ela daqui — digo ao Robert.
Ele a leva, ignoro seu rosto e gritos.
Posso não ter a coragem para dar um fim na vida dela, mas não vou
permitir que ela continue por perto. Rebeca causou danos demais e merece
pagar por seus crimes. Sua obsessão por mim será a verdadeira prisão dela,
longe, sabendo que foi abandonada. A dor rascante na minha alma um dia
será curada. Encaro minha esposa e irmã. Eu só preciso delas para ser feliz.
— Nunca pensei que eu realmente fosse capaz de te matar — digo
encarando o corpo sem vida do Louis — sofra no inferno desgraçado. —
Miro a Eleanor acuada no canto da parede — seu castigo será a prisão eterna
nessa casa, nunca mais poderá sair ou falar com outras pessoas. Não terá
empregados e os soldados do lado de fora serão seus carcereiros.
— Eu deveria ter abortado todos vocês — ela fala sem me encarar.
— Não todos, só a Rebeca — pego minha irmã no colo, Daisha se
levanta sozinha.
— Você vai ficar bem? — Josephine pergunta, lágrimas grossas
escorrem de sua bochecha.
— Sim, eu tenho vocês — beijo sua cabeça e me estico encostando
nos lábios da minha esposa — são tudo o que eu sempre precisei e quis.
— Tem certeza da sua escolha quanto a Rebeca? — Daisha pergunta
triste — seu rosto magoado, você não queria fazer aquilo com ela.
— É isso ou a morte — inspiro fundo — me perdoa por ser um fraco
incapaz de a matar? — a garganta trava, a tristeza do dia cobrando o preço.
— Não é fácil matar alguém que um dia amamos — Daisha responde.
— Ela terá o que merece, espero que o marido seja um escroto com ela.
— Um babaca dos grandes — Josephine continua — a vadia merece
— envolve meu pescoço — se você a matasse estaria magoando mais a si do
que a ela. Não permita que ela continue nos destruindo, você fez o certo —
encosta a testa na minha.
— Vou te levar ao médico agora.
— Por favor.
— E o Brandon? — Daisha encara a porta, não encontrando seu
segurança.
— Robert deve te-lo levado ao médico, provavelmente o Louis o
atacou de surpresa.
Deixamos a casa, coloco as meninas no carro e seguimos para a
clínica. Enquanto elas estão sendo examinadas Michael e Daniel chegam para
conversar. Conto a eles o que aconteceu e a minha escolha.
— Por um segundo eu gostaria de voltar na decisão sobre tortura de
mulheres — Michael anda na sala apertando os punhos.
— Vamos manter uma vigia na Rebeca garantindo que ela não sairá
do Texas — Daniel fala. — Até para o Dylan eu tentei dar uma segunda
chance, antes da merda da assassina explodir na nossa cara. Eu te entendo —
aperta meu ombro — é difícil para cacete matar o nosso sangue, e eu nem
gostava muito do Dylan.
— Sinto que acordei de um longo sonho — suspiro — acho que
preciso aceitar a ideia da Daisha sobre uma psicologa. As merdas que a
Rebeca disse estão batendo forte na minha cabeça — encaro o chão.
— A psicologa da Hope é ótima — Michael fala — posso te conseguir
uma sessão em casa, disfarçamos como uma visita a sua esposa.
— Obrigado — aperto o nariz contendo as lágrimas.
— Você é nosso amigo — Michael me aperta — eu faria tudo por
você — aperta meu pescoço contra ele.
— Mesmo se você nos expulsasse, ainda estaríamos aqui — Daniel se
junta me envolvendo no seu calor.
Longe das meninas e acolhido por meus amigos eu desabo. Choro a
maldita dor pressionando meu peito, precisando me livrar do sofrimento e da
desgraça pelo meu mundo ser partido ao meio.
É a última vez que isso acontece.
Demorei para enxergar a verdade, mas agora não existe mais nada
obscurecendo meu julgamento. Vou reparar o dano causado e viver uma vida
de verdade ao lado da minha verdadeira família. Meus amigos, esposa e irmã.
Os dias sombrios acabaram e todos os responsáveis pelas tragédias
estão mortos ou pagando por seus crimes longe, onde nunca mais poderão
nos machucar.
É hora de recomeçar.
CAPÍTULO 28 KAI

— Eu fico me perguntando se foi culpa minha — confesso para a


psicologa.
Já faz quase um mês que estou fazendo sessões em casa com ela,
ficamos na academia, onde me sinto mais seguro para desabafar. Tentamos
na sala, no quarto, escritório e cozinha, mas nada me trazia conforto como
estar no meu ambiente. Com as sessões tenho conseguido controlar melhor o
que a Lily chama de “ataques de raiva”, quando fico sombrio descontando a
fúria no ringue ou no sexo pesado.
Continuo transando feito louco com a Daisha, usamos acessórios, o
chicote que minha esposa adora quando a fodo com ele e meu pau entalado
na sua bunda. Mas não existe a escuridão de antes rondando minha mente, é
libertador conseguir transar sem sentir as trevas me dominando, o prazer se
torna maior, a entrega, estamos conectados, fortes e juntos.
— O que te faz pensar ser o culpado? — ela pergunta tentando
levantar um peso de 3 quilos.
— Eu fico refletindo todos os meus momentos com a Rebeca,
buscando nas lembranças algum indício de que eu a toquei errado — deixo o
peso no chão, levanto do aparelho indo para a esteira — falei algo que não
deveria ou sei la, porra, é fodido demais — começo a correr na esteira
tentando deixar os demônios para trás.
Lily fica na esteira ao meu lado, em um ritmo mais lento.
— E você encontra qualquer coisa que te faça sentir culpa em suas
interações com ela? — a respiração dela fica pesada.
— Não, eu nunca a toquei de forma erótica ou falei algo inapropriado
— aperto os braços da esteira — confesso errei ao a usar como meu apoio
emocional. Não foi justo com as minhas irmãs…
— Kai — ela para a esteira me encarando — todos os seres humanos
buscam por amor, carinho e conforto. Você queria uma relação de irmãos
com a Josephine e a Rebeca. Irmãs se apoiam e muitas vezes são os únicos
com quem podemos desabafar sobre nossos pais. Mas nem todos são assim,
muitos expressão lados tóxicos, se tornam inimigos ao invés de amigos. Não
podemos controlar quem cada pessoa é. Você teve uma criação extremamente
cruel e desumana, mas não perdeu sua vontade de amar e ser amado, buscou
loucamente por ela.
— Eu não tenho culpa, não é? — pergunto pausando a esteira, os
olhos ardendo pelas lágrimas presas.
— Não, você fez tudo o que podia pelas meninas. Posso não conhecer
a Rebeca, mas pelas coisas que você me contou ela tem traços de psicopatia.
A tortura de animais na infância é um dos primeiros sinais, a obsessão por
você surgiu na adolescência, e vai além de somente um amor doentio. Para
ela, ser mulher e mais nova, vivendo no mundo da máfia ao te controlar ela
tinha poder. É algo que os psicopatas buscam, poder sobre suas vítimas.
— É muito fodido quando você fala que fui uma vítima — enxugo a
bochecha — sempre me vi inferior ao Louis, dominado por ele. Não percebia
que a Rebeca fazia o mesmo e não me enxergava como uma vítima das
maldades dela — sento na esteira, encolhendo a cabeça entre os joelhos — é
mais fácil aceitar o Louis como agressor do que a Rebeca. Ela sempre foi tão
pequena e frágil.
— Não posso afirmar, mas teorizo que em algum momento o poder e
o sentimento de amor se misturaram na mente dela a fazendo confundir o
desejo de te dominar pelo de ser a sua esposa. Ela sabia que na máfia todos os
homens casam e saem de casa, assim como as mulheres. Quando isso
acontecesse ela perderia o poder sobre você e ela precisava evitar a qualquer
custo. Devido a você crescer sendo dominado pelo Louis, não conseguiu
perceber o mesmo padrão na Rebeca.
— Mas a Josephine notou — encosto a bochecha no joelho encarando
a Lily.
— A Josephine presenciou a Rebeca machucando animais e por
diversos momentos teve brigas com ela. A Rebeca se preocupava em vestir
uma mascará de inocente e fragilizada para você, com a Josephine ela não
tinha essa preocupação, ela sabia que esse era o seu fraco. Você tinha o
enorme desejo de proteger e a Rebeca se enquadrou nesse personagem.
Enquanto a Josephine te afastava, se recusando a receber seu carinho e
proteção.
— Por isso eu a odiava — confesso — ela não me queria, quando eu
ansiava ser tudo para ela.
— Vocês já conversaram sobre isso? — pergunta mansa.
— Tivemos um grande desabafo há uns meses, aos poucos vamos nos
reconstruindo.
— E esse é um grande passo, Kai. Admitir estar errado e ser capaz de
mudar é uma das coisas mais difíceis que podemos fazer. Vocês dois estão no
caminho certo.
Encaro o relógio na parede percebendo que já faz duas horas que
estamos aqui.
— Obrigado Lily, vou continuar trabalhando no exercício de não me
martirizar por quem a Rebeca é, eu não tive culpa. Nunca dei indícios e não
prometi mais do que era capaz. Eu não fiz minha irmã desenvolver uma
obsessão doentia por mim — repito meu mantra de todos os dias.
— Você tem razão — ela sorri doce — deseja falar de mais alguma
coisa?
— Hoje não, vamos deixar para amanhã.
— É, mais uma sessão diária de treinamento — levanta fazendo
careta, rio.
— Você sabe que não precisa malhar comigo.
— Preciso, sim, você é um ótimo instrutor e eu sedentária de
carteirinha. Vou trocar de roupa — ela aponta para a porta.
— Certo.
Lily sai e a Josephine entra.
— Ela adora fazer a gente chorar, não é? — Josephine vem sentando
no chão e escorando a cabeça no meu peito.
— Muito — a aperto em um abraço.
Após nossas sessões procuramos um ao outro para um abraço,
recarregando as energias e limpando nossas almas após expormos nosso
íntimo para a Lily.
— Hoje eu percebi como a Rebeca conseguia me manipular — aperto
seu ombro escorando o queixo na sua cabeça — existiam momentos em que
eu queria que o Louis tivesse orgulho de mim e parasse de me machucar. Eu
era o melhor atirador da minha geração e ele adorava me exibir, ficava
juntando os pequenos momentos em que dava orgulho a ele ao realizar uma
missão difícil com maestria ansiando que as torturas parassem.
Suspiro, vejo a sombra da minha esposa na porta, ela encosta a cabeça
no batente, estendo a mão a chamando para mim. Daisha vem, passa por
debaixo do braço da esteira me abraçando por trás, as pernas ao meu redor,
beija meu ombro, descanso a cabeça contra o ombro macio.
— Não pare de falar porque a Daisha chegou — Josephine pede.
— Deixa meu marido em paz — Daisha brinca batendo na testa da
Josephine.
— Eu estava desesperado para ser notado. E a Rebeca me enxergava,
eu não entendi isso antes, mas agora consigo perceber. Além do carinho que
eu buscava nela, também queria aprovação. Deixar alguém orgulhoso, se eu a
desapontasse ela poderia me deixar, igual como eu sentia que a Josephine
tinha feito. Eu não correspondi às suas expectativas e você se afastou.
— É fodido como ambos queríamos o mesmo e acabamos nos
magoando. Eu achando que você só tinha olhos para aquela maldita e não
percebia o quanto ela era malvada. Hoje eu compreendo a minha parcela de
culpa, eu nunca tentei realmente mostrar quem a Rebeca era, não te falei
sobre a tortura dos animais, não denunciei as causas das nossas brigas. Eu só
queria explodir com alguém. Me sentindo injustiçada e excluída, ferida.
— Eu deixei ela me controlar — aperto a Josephine abraçando suas
costas — eu sei que você insiste em dizer que eu não devo pedir perdão. Mas
eu quero. Se um dia seu coração conseguir me perdoar, sabia que o meu te
perdoa por tudo o que dissemos um ao outro, pelas vezes em que nos
magoamos com palavras duras e nos ferimos buscando por amor. Eu te amo
para cacete, Josephine.
Beijo sua cabeça chorando, sabendo que mesmo ela não querendo
ouvir eu preciso dizer. Não posso esperar curar as feridas somente com ações
e conversas pela metade, Josephine precisa ouvir e eu quero falar.
— Me perdoa por não ser mais forte, por não te escuta e não perceber
a manipulação da Rebeca. Perdão por te deixar viver com aquele monstro
atormentando sua vida. Perdão por não impedir às vezes em que a Eleanor te
machucava. Perdão por não ser capaz de controlar a fúria do Louis. Perdão
pelas vezes em que te xinguei de maluca e outras coisas. Perdão pelas vezes
em que falei mal de você para os meus amigos. Perdão por não demonstrar
apropriadamente o meu amor. Me perdoa Josephine, por ter te odiado quando
tudo que eu queria era te amar e não sabia como fazer isso. Perdão, minha
irmã por ser o monstro da sua história.
Ela soluça alto, seu corpo tremendo contra o meu. A dor da Josephine
irrompendo batendo forte na minha alma. Soluço enfiando o rosto em seu
pescoço, ela gira nos meus braços me abraçando. Sinto a Daisha alisando
minhas costas, beijando minha nuca, chorando contra meu corpo.
— Eu te perdoou — ela soluça, chorando alto — se você conseguir
me perdoar por todas às vezes em que gritei com você, te xinguei e te
expulsei sem ouvir o que você tinha a dizer. Desculpa por envenenar a
Daisha falando mal de você e contribuído para ela não querer casar contigo.
— Sabia que você tinha culpa nisso — falo tentando aliviar um pouco
da dor dela.
— Só um pouquinho — Daisha funga.
Josephine nega com a cabeça, apertando as mãos na minha camisa.
— Me perdoa, Kai por não dar importância quando te via machucado,
achando que era por causa de uma missão, mesmos sabendo que você não
saiu de casa. Eu escolhi ignorar a sua dor, não enxergando o quanto o Louis
te machucava. Perdão por não lutar mais por nós e te proteger da Rebeca
quando eu enxergava a manipulação, a obsessão, nunca pensei que ela te
quisesse de outra forma. Achava que o problema era comigo. Eu podia ter
feito algo, te oferecido carinho em vez de ódio. Perdão meu irmão por
quando te afastei. Eu me arrependo muito por não perceber como você
tentava me proteger do Louis, mesmo em meio a nossas brigas.
Seguro o rosto da minha irmã, as lágrimas deixam seus olhos negros
como os meus manchando o rosto vermelho, o nariz escorrendo, ela fungando
tentando controlar o choro. Os lábios inchados, o queixo tremendo, os
cabelos envolvidos por minhas mãos. Encosto a boca em sua testa a beijando
carinhosamente sentindo gosto salgado do meu choro.
— Eu te perdoou Josephine, a mágoa nunca será maior do que o amor.
Não vou mais deixar a dor continuar tendo importância na minha vida. O
passado é um lugar extremamente doloroso e sofrido, não vamos continuar
vivendo nele. Eu enxergo toda a verdade e meu coração sabe quem realmente
merece ser amada. E é você minha irmã, somente você — encosto nossas
testas.
— Eu perdoou você, Kai. Por ser um irmão que tentou me proteger e
não conseguiu, exibindo somente um de seus lados, me machucando
enquanto se destruía por dentro. Nunca mais vamos permitir que outra pessoa
fique entre a gente. Eu não quero mais viver em um mundo sombrio e repleto
de dor e sofrimento. Anseio ser feliz, amar e ser amada. Eu permito que você
faça parte do meu novo mundo. Irmão. — Beija minha bochecha envolvendo
os braços no meu pescoço, deitando a cabeça no meu peito.
— Eu amo vocês — Daisha fala nos envolvendo com seus braços. —
E nunca mais vou permitir que se magoem. Vocês foram destroçados, mas
ganharam a chance de se reconstruir e é isso que precisam fazer. Focar no
que desejam para as suas vidas, caminharem lado a lado e sempre que
sentirem que precisam dizer algo um ao outro o façam. Não escondam nada,
nunca mais. Foram os segredos que trouxeram vocês a esse momento, mas
ainda temos muito o que viver. E os segredos não vão mais existir, sejam das
coisas mais bobas ou serias, sempre contaremos um com o outro.
— Eu prometo — digo.
— Eu também prometo — Josephine fala — chega de segredos
dolorosos entre a gente.
— Ou segredos felizes — completo.
— Isso mesmo — Daisha diz.
Puxo minha esposa para meu colo a colocando entre mim e a
Josephine.
— Obrigado por ser a nossa cola — a beijo nos lábios.
— Você foi um importante elo entre a gente — Josephine confessa —
eu nunca teria dado uma chance ao Kai se não fosse por você — abraça os
ombros da Daisha.
— E não teríamos sido capazes de enxergar a verdade sem você nos
forçando a tirar a venda dos olhos — deito a cabeça em seu ombro.
— Eu amo muito vocês — Daisha passa um braço ao meu redor e o
outro na Josephine — minha família.
— Somos uma família, porra — Josephine diz rindo.
— E em breve teremos mais membros — beijo o queixo da Daisha —
eu tinha um medo fodido de ter filhos e não saber os criar direito, de que
acabassem como a Josephine e a Rebeca. Com você como a mãe das nossas
crianças eu sei que isso não acontecerá.
— Eu queria a Daisha como minha mãe — Josephine brinca.
Daisha sorri docemente para mim.
— Eu também gosto da ideia de ter filhos com você sendo o pai deles
— encara a Josephine — e você a tia maluca que vai me enlouquecer
querendo desviar meus filhos do bom caminho.
— Eles saberão aproveitar a vida, vou me assegurar disso —
Josephine rir alto pela careta da Daisha.
— Acho que precisamos repensar a Josephine como tia dos nossos
bebês.
Gargalho pela brincadeira delas.
Nunca me senti tão feliz.
Preciso começar a fazer filhos na Daisha, quero prolongar para sempre
esses momentos de felicidade e amor.
Chego em casa após uma longa aula, não sei o que os seguranças
fizeram com as vadias que me atacaram, mas duas pediram transferência e as
outras não ousam me encarar, a paz voltou a sala de aula e na minha casa,
refiz os laços com a minha família, compartilhei com o Kai a verdade por trás
da minha criação, meu marido compreendeu a decisão dos meus pais. Kai
ainda lamenta por eu crescer sozinha e me achando rejeitada, mas todos os
dias ele me faz sentir importante, amada e muito querida.
Ele me dá muito mais do que um dia eu sonhei.
Com a chegada das festas de final de ano as coisas estão uma loucura.
Emily entrou de licença maternidade e seu bebê William nascerá em breve,
será uma criança de inverno. Retiro o cansaço aproveitando o calor da casa,
dezembro está um completo gelo, tenho evitado sair para coisas que não
envolvam as obrigações com a organização e a faculdade.
— Vou revisar a matéria — Josephine diz subindo as escadas.
Escuto o som do Kai treinando, não sabia que ele já tinha chegado em
casa. Meu marido tem alternado os dias em Nova Iorque e outros no Texas
ajudando o Black com a dominação de território, ele se mantém longe da
Rebeca e ela não faz ideia de quando ele está por lá. Não quero saber sobre
ela e o Kai também prefere não receber atualizações, além de que está
trancafiada em casa no Texas.
Abro a porta da sala com cuidado, o encontro levantando uma barra de
ferro com mais de 100 quilos de peso. Entro de fininho, me escoro na parede,
Kai ouve o rock ensurdecedor nos fones de ouvido, noto pelo ruído da música
escapando dos fones, focado em sua imagem no espelho fazendo
agachamento com o peso.
Retiro a calça sem fazer zoada, a camisa longa fica parecendo um
vestido no meio das minhas coxas. Solto o cabelo, retiro o sutiã por debaixo
da blusa e puxo a calcinha pelas pernas. Nesse segundo seu olhar me
encontra. Ele solta o peso no chão em um baque, retira os fones de ouvido e
eu observo a imagem do meu marido gostoso enquanto enfio a mão na boceta
de pernas abertas, a bunda no tatame, mostro a ele minhas dobras.
Kai lambe os lábios aproveitando o show, leva uma mão ao queixo me
apreciando com luxúria nos olhos. Desço a visão por seu corpo sarado,
brilhando pelo suor. A tatuagem do Cérbero no peito pela luta de ontem,
chegamos repletos de fogo e se não fosse pela Josephine nos acompanhando
teríamos feito sexo na moto. Percebo a vontade crescente no Kai, a fantasia
de me comer em cima de sua maquina poderosa, eu gosto da ideia.
— Abre mais as pernas — ele manda, obedeço a sua ordem — enfia
um dedo, com vontade — senta no aparelho de frente para mim.
Com a boceta melecada eu meto um dedo no meu canal sentindo a
pressão ao redor do indicador, arfo pelo olhar carregado do Kai mordendo os
lábios. Ele segura o pau por cima do calção alisando de leve. Ergo o quadril
dando uma visão melhor a ele, meto um segundo dedo, suspiro, levo uma
mão aos cabelos puxando os fios para trás.
— Agarre seu peito — ele ordena, puxando o pau enorme para fora do
calção.
— Sim, mestre — respondo enrolando a língua na boca quente.
Enfio a mão por dentro da camiseta, mostrando minha barriga ao Kai,
puxo até o pescoço exibindo os peitos enormes e pesados. No passado eu
tinha raiva de como meus seios eram chamativos, hoje me orgulho por
despertar o meu marido safado com meus peitos. Giro o bico rosado entre os
dedos, imitando às vezes em que Kai o fez, bombeio mais rápido os dedos no
interior e gemo manhosa para ele.
— Ah mestre, é muito bom — arquejo ao sentir as pontadas de prazer
pinicando minha carne.
— Você é linda — ele envolve o pau com as mãos bombeando para
cima e baixo — olha o quanto me deixa excitado, Daisha. Venha chupar meu
pau.
— Sim, mestre — retiro os dedos da boceta e solto meu peito
engatinhando para o Kai. O encaro com rosto inclinado para baixo e os olhos
para cima, completamente rendida.
— Traga seus dedos para minha boca — estremeço.
Enfio os dedos na boceta lambuzando com meu creme. Atinjo meu
ponto sensível de prazer, encosto o rosto na perna do Kai gemendo, sem
conseguir parar o estímulo. Abro os lábios abocanhando seu pau, sugando a
cabecinha para mim.
— Gata gulosa — ele rosna agarrando meus cabelos puxando para trás
me fazendo o soltar — eu mandei você me dar seus dedos, porra.
Kai rosna no meu rosto, sua mão desce contra minha boceta enfiando
dois dedos no meu canal apertado. Grito por ser alargada pelos quatro dedos
de uma vez. Ele bombeia com força, forçando a palma da minha mão contra
meu clítoris. Arquejo para a frente batendo a cabeça em seu abdômen, estico
a língua sugando o delicioso sabor da sua pele.
— Quando eu te mandar fazer algo, você obedece, entendeu? — rosna
puxando minha cabeça para cima me forçando a ficar em pé.
— Sim, mestre.
— Agora, faça o que mandei!
Ele solta meus cabelos batendo no meu peito, arquejo batendo a
cabeça em seu ombro. Kai puxa o monte sensível beliscando meu mamilo,
choramingo contra sua pele. Puxo minha mão da boceta deixando somente
seus dedos me torturando, levo a seus lábios vermelhos, deslizo pela maciez
da sua carne o lambuzando com meu creme.
Kai abre a boca, introduzo os dedos me deliciando com a visão dele
chupando ferozmente, sugando meu sabor, a língua rodeando a ponta dos
dedos, envolvendo em sua boca com sagacidade. Ele aperta meu canal
esfregando meu clítoris com a palma e deliro de calor. Apoio a mão livre no
seu ombro buscando apoio, o desgraçado segura meu pulso puxando minha
mão e começa a morder a minha palma.
— De joelhos.
Obedeço. Seu corpo curva para a frente, a boca rente a minha, a mão
torturando minha vagina com socadas poderosas e rápidas dos dedos me
alargando, arranhando a sensibilidade no meu canal.
— Língua de fora.
Faço o que ele manda. Convulsões cortam meu corpo me fazendo
perder o controle das pernas, tremo violentamente sentindo o orgasmo se
formando no meu núcleo.
— Agora chupa meu cacete.
Abocanho seu pau gemendo o delicioso momento pré-orgasmo. Enfio
o pau enorme do Kai na boca batendo na minha garganta. Seus dedos se
tornam ferozes, o sugo engasgando, controlo a ânsia, bombeando seu
membro na minha bochecha, agarro as bolas pesadas alisando e puxando a
pele fina ouvindo os gemidos roucos dele no pé do meu ouvido.
Meu ventre é tomado por poderosos espasmos, atinjo o ápice do meu
orgasmo com o pau do Kai na minha boca forçando meus gemidos a saírem
completamente estrangulados.
Bato as coxas no calcanhar perdendo a força nas pernas, enfio o pau
do Kai o máximo que posso batendo na garganta me sufocando, sugo
ferozmente o fazendo gozar na minha língua. Engulo cada uma das gotas
satisfeita pelo meu desempenho. Limpo a cabecinha rosada e o encaro. Ele
lambe os dedos que estavam na minha boceta com os olhos em chamas.
— Vem aqui — Levanta com as mãos nas minhas axilas me forçando
a ficar em pé.
— Quero continuar transando — eu digo.
— Nos vamos — beija meus lábios com sabor da sua porra — de
frente para o espelho, empina a bunda para mim — bate na minha carne, arfo
adorando a ardência na pele.
Levanto, apoio as mãos no espelho encarando meu rosto vermelho, a
camisa pendendo no meu corpo amarrotada. Kai a enrola puxando pelo meu
pescoço, continuo vestindo as mangas, ele puxa para trás amarrando meus
braços com a camisa. Bato o rosto no espelho, adoro ser amarrada, entregar
todo o controle do sexo ao Kai.
Ele baixa o calção com uma mão libertando completamente o pau. A
veia na sua coluna pulsa querendo me comer. Minha boceta lateja de tesão,
curvo o joelho me agachando e esfregando a bunda em seu cacete enorme.
Fecho os olhos sentindo minha carne sensível ser esmagada pelo membro
dele.
— Daisha — ele rosna agarrando meu quadril, impulsionando contra
mim como fazia na nossa época de namorados.
— Sim, anjo?
— Eu vou te foder para cacete, goza gostoso no meu pau.
Sem dizer mais uma palavra Kai me invade. Grito batendo a cabeça
no espelho. Ele agarra meu ombro me forçando a ficar curvada, pressiona
meu peito com a mão beliscando meu mamilo sensível bombeando no meu
canal com uma velocidade alucinante. Eu o sinto entrando e saindo,
alargando minha boceta, a fazendo se moldar ao seu tamanho.
Gulosa e faminta para o devorar. Aperto o canal vaginal pressionando
seu pau, dificultando a entrada e saída. Kai rosna aumentando a força com
que me preenche, puxando meu peito me fazendo ver estrelas pela dor
mesclada ao prazer. Ele agarra meu pescoço me puxando contra si, grito ao
sentir que vou ser partida ao meio.
Sua boca agarra minha nuca mordendo, marcando possessivamente.
Meu macho selvagem está definindo seu território, tomando para si a fêmea
que ele deseja. Não aguento o erotismo de ver a selvageria do Kai pelo
espelho, de ser comida com tamanho fervor. Contrario liberando rajadas
poderosas de squirting, transformando a lubrificação em algo sublime.
— Inferno Daisha! — ele solta minha carne rosnando furioso.
Impulsiona me forçando a bater no espelho, completamente esmagada por
seu corpo enorme. — Você me enlouquece quando faz isso — aperta minha
cabeça puxando para trás. Encaro o teto da academia gemendo louca,
pressiono os olhos imergindo na porra do melhor orgasmo da minha vida.
— Kaaaaaaaai — gemo seu nome em um último fôlego alcançando o
epicentro do meu prazer.
Meu marido envolve minha cintura com um braço amparando meu
corpo que desaba sem forças, aproveitando o relaxamento em cada músculo
do meu ser. O cérebro completamente nublado aproveitando a sensação
prazerosa, lânguida, a sensibilidade aumentando na minha vagina conforme o
Kai continua socando com força. Meus peitos ardendo pelo atrito contra o
espelho.
— Toma minha porra! — Ele rosna brutal despejando seus jatos
quente no meu interior.
— Toda minha — respondo em um folego.
Kai respira pesado, ruidoso. Me segura no colo cambaleando para trás.
Senta em uma máquina de puxar peso comigo em seu colo. Permaneço
sentada com os braços amarrados. Ele beija minha coluna suada antes de me
libertar. Movimento os ombros me recuperando dos minutos presos.
— Você está bem? — ele pergunta preguiçoso beijando meus ombros
e massageando meus pulsos.
— Depois desse orgasmo, eu tenho uma nova definição para bem —
respondo rindo baixinho.
— Podemos continuar no quarto — encaro seu sorriso safado.
— Acho uma boa ideia — respondo.
Recuperados levantamos, estou quase saindo pelada quando lembro
que a Josephine pode acabar vendo a nossa indecência. Ela evita usar a
academia em casa por saber que às vezes fazemos sexo aqui. Vestimos as
roupas e deixamos a sala de treino, vejo minha bolsa jogada no chão da porta
a apanho. Sigo com o Kai para o quarto, somos parados pela Josephine.
— Daisha amanhã é a consulta com a ginecologista, você não
esqueceu, né?
— Não — na verdade, sim, mas vou fingir que sou uma pessoa
responsável.
— Saímos às 13 horas. Perderemos uma aula, mas posso recuperar
depois.
— Você é um exemplo de estudante — Kai provoca a irmã.
— Muito mais que sua esposa, ela só pensa em sexo — revira os
olhos.
— Ei! — bato em seu braço.
— Corrija a frase — Kai fala — pensa em sexo comigo.
— Detesto vocês — bufa indo embora.
— Ela nos ama — eu digo.
— Muito — ele responde — vamos terminar o que começamos.
Rio correndo para o quarto com meu marido na minha cola. Minha
vida não poderia estar mais feliz.

— Veremos como está seu útero com a ultrassonografia pélvica — a


doutora fala.
— Acredito que ótimo, faz tempo que não tenho cólica e a falta de
menstruação não me atrapalhou em nada.
Ela passa o gel frio no meu ventre e começa a ver as imagens no visor
do aparelho. Prefiro a ultrassonografia do que fazer a transvaginal usando o
transdutor, odeio aquele negócio dentro de mim. Josephine por ser virgem só
faz as consultas com a ultrassonografia pélvica, hoje ela amanheceu resfriada
e ficou em casa.
— Daisha — a doutora me encara — você tem tomado o
anticoncepcional todos os dias?
— Merda — bato a mão na cabeça lembrando que desde o incidente
com a Rebeca eu foquei tanto no meu marido e cunhada que acabei
esquecendo das pílulas.
— Bom — aponta a tela — aqui temos o resultado do seu
esquecimento — sorri.
Encaro o monitor não vendo nada além de imagens borradas. Foco na
minha barriga imaginando que existe uma vida crescendo dentro de mim.
Arfo contemplando o milagre da gravidez. Encaro a doutora com a vista
embaçada.
— Preciso contar ao meu marido, ele vai ficar muito feliz — enxugo
as bochechas rindo e chorando, radiante por descobrir que terei um bebê.
— E você, está feliz? — ela limpa minha barriga do gel.
— Muito — gargalho inclinando a cabeça para trás — completamente
feliz — engasgo com o choro alegre.
— Aqui — levanta e me entrega uma foto — você está de 3 semanas,
por enquanto o feto é minusculo, mas logo ele ficará grande. Vou agendar sua
primeira consulta do pré-natal para daqui a uma semana, enquanto isso tome
cuidado com os resfriados, mantenha a alimentação saudável e rica em
vitaminas.
— Obrigada doutora — analiso a foto tentando ver o meu bebê.
— Pode se trocar.
Flutuando eu visto a minha roupa. Guardo a foto na bolsa, precisando
contar ao Kai a descoberta, aliso minha barriga deixando a sala, encontro o
Brandon me esperando e saltito em sua direção.
— Onde meu marido está?
— Na construtora, senhora.
— Vamos para lá — mordo o sorriso.
— Certo.
Deixamos o consultório e a felicidade não cabe dentro do meu peito.
Entro no carro mordendo os lábios em ansiedade. Pego o telefone precisando
conversar com o Kai.
— Como adivinhou que eu te ligaria? — ele pergunta, escuto o som
de vento.
— Você está na moto?
— Sim, terminei mais cedo e pensei em te buscar no consultório para
irmos para casa. Estou falando pelo fone, consegue me ouvir bem?
— Com certeza. — Tampo a boca me impedindo de falar, eu quero
tanto dizer a ele que teremos um filho que mal consigo conter a ansiedade.
— Olha para trás boneca — ele pede.
Giro no banco vendo pelo vidro traseiro o Kai na moto me seguindo.
Ele faz sinal de luz e eu acendo. Não consigo mais controlar.
— Kai eu estou grávida — digo as lágrimas descendo felizes.
— O quê? — o guidão da moto dobra e ele quase perde o equilíbrio
com a moto bombeando. Se recupera rápido impedindo a queda.
— Acabei de descobrir, estou com 3 semanas, anjo eu mal podia
esperar para te dizer — aliso minha barriga — teremos um bebê.
— Meu Deus boneca, você não faz ideia do quanto eu estou feliz.
Manda o Brandon estacionar, agora! — Sua voz treme, um riso mesclado a
um grito é ouvido.
— Certo.
Viro de frente, uma luz forte entra pela janela na lateral, giro a cabeça
a tempo e ver o grande caminhão cruzando o sinal vermelho, batendo no
carro. Minha cabeça pende para o lado, o cinto de segurança aperta ao meu
redor. Meu braço queima pela dor das ferragens do carro pressionadas contra
mim. O mundo gira, a mente fica dispersa, perco os sentidos, apago.
CAPÍTULO 29 KAI

— DAISHA! — Berro desesperado ao ver o caminhão cruzar o sinal


atingindo o carro da minha esposa.
O trânsito se torna um caos, carros sendo atingidos na batida, o
motorista do fodido caminhão continua arrastando o carro para longe. O som
do veículo de apoio dos seguranças cortando o trânsito me desperta. Acelero
a moto, puxo a arma com a mão livre, começo a atirar no caminhão forçando
o desgraçado a parar. Os soldados imitam minha ação, o maldito não para.
— PAREM ESSE DESGRAÇADO — Grito mudando o canal de
comunicação com um botão no paletó.
Percebo a intenção do miserável, ele quer esmagar o carro contra uma
loja do outro lado da rua. Acelero sentindo minha vida passar diante dos
meus olhos, eu não posso perder ela.
Há um minuto Daisha estava me dando a notícia de que teríamos um
filho, mal consegui ficar feliz até ser engolido pelo desespero. Um dos
soldados consegue estourar os pneus do caminhão, o carro com soldados age
rápido batendo na lateral do motorista forçando o caminhão a interromper sua
trajetória.
— Consegui senhor — ouço a voz do Robert — parei o caminhão.
A moto desliza parando ao lado do carro da Daisha, completamente
destruído na lateral direita. Arranco o capacete, perco a força do corpo ao ver
a cabeça da Daisha pendendo para trás, ensanguentada.
— Não! — murmuro agarrando a maçaneta da porta esquerda, do lado
oposto da batida. — Daisha — chamo por ela, os olhos fechados, o sangue
por todo o seu rosto, percebo seu braço preso às ferragens da porta amassada.
— Senhor, deixe que fazemos isso — Robert segura meu braço
tentando me afastar.
— Ela — não consigo raciocinar, o ar não passa pelos meus pulmões,
aperto o peito sentindo o coração parando de bater, a dor irradiando forte,
arrancando minha alma do peito. — DAISHA! — Grito por ela.
— Senhor — Robert agarra meu rosto me forçando a o encarar, mal
consigo o ver, a visão embaçada. — Vamos tirar ela e lá, um helicóptero já
foi chamado para a levar ao hospital.
Ouço o som de serra elétrica, encaro as ferragens do carro sendo
cortadas pelos soldados que trabalham rápido. Noto Brandon machucado no
banco do motorista. Encaro a minha boneca sentindo um buraco se abrindo
debaixo dos meus pés me puxando para o abismo.
Eu não posso a perder, não aguentaria viver em um mundo sem a
Daisha.
Sirenes soam alto, um caminhão de bombeiros estaciona, eles agem
rápido assumindo o lugar dos soldados que acabaram de tirar a porta do
carro. Ao ver o estado do corpo da minha esposa, preso pela metade nas
ferragens do carro me desespero. Avanço em sua direção, eu preciso tirar ela
de lá.
— Não pode atrapalhar os bombeiros — Robert me segura com força.
— SAI! — Grito com ele, enfiando os braços contra seu peito o
empurrando.
— Me ajudem! — ele pede.
Mais braços me apertam, segurando minhas pernas, meu tronco me
impedindo de sair do canto. Eu choro desesperado, batendo a cabeça no peito
do Robert ao ver a Daisha se tremendo, cuspindo sangue. Eu estou perdendo
o meu amor.
— Daisha, por favor — imploro — não morre, boneca, por favor, fica
comigo.
Sem forças para me sustentar desabo lentamente no chão sendo
amparado pelo Robert. Grito em uma tentativa de expurgar a dor dilacerante
consumindo a minha alma. A garganta fecha, os pulmões param de processar
o ar, começo a sufocar. A pressão na cabeça me faz explodir batendo o rosto
no chão, não consigo mais ver o corpo dela completamente machucado, preso
as ferragens, eu vou perder a minha amada.
— Por favor, Deus não a leve — peço, intercalo a respiração com
lufadas pesadas de ar, não posso a perder.
— Respira senhor — Robert pede — você está tendo um ataque de
pânico. Precisa ficar bem para cuidar da senhora Lucian — eu noto ele
tremendo ao me segurar em seus braços.
Encaro minhas mãos percebendo a tremedeira tomando conta do meu
corpo, soluço sentindo o rosto completamente banhado por lágrimas. Encaro
o carro novamente vendo os bombeiros trabalharem rápido, imobilizam o
pescoço da Daisha e um curativo foi colocado em sua cabeça. O peito dela
sobe e desce lentamente, ela continua viva!
Engatinho me aproximando o máximo que posso dela, bato a cabeça
no chão curvado fazendo uma oração.
— Senhor Deus, sei que não sou a sua pessoa preferida no mundo, já
aceitei que serei enviado ao inferno pelos meus pecados, mas por favor, não
leva a minha esposa e filho. Permita que eles consigam sair dessas ferragens
e recebam tratamento. Por favor, Pai Celestial, não puna minha esposa pelos
meus pecados. Me leva no lugar dela! — Bato o punho no asfalta — ME
LEVA NO LUGAR DELA, PORRA! — Grito, incapaz de controlar o
desespero.
Continuo rezando pelo que parece horas, caindo em um looping sem
fim de sofrimento, desespero e esperança da Daisha ser resgatada com
sucesso. Eu só preciso dela bem. Como um menino eu choro sem me
importar o que demonstrará para os meus homens, eles estão sendo mais
fortes do que eu em controlar a situação, não consigo me importa com nada
além dela.
Brandon é retirado pela equipe que cuidava dele, por estar no banco
do motorista, no lado oposto a batida ele teve menos ferimentos. Daisha
estava no centro do carro, recebendo o maior impacto. Graças aos céus ela
não estava sentada no lado direito.
— Tragam a maca, vamos remover — Um bombeiro finalmente fala.
Fico de joelhos, o helicóptero chega, o símbolo de uma cruz vermelha
e o nomo do hospital que ela será levada. O forte vento quase me derruba,
não tenho forças para continuar em pé, mal consigo enxergar com a vista
manchada pelo choro incessante e os olhos inchados.
— Vem senhor — Robert me puxa me forçando a ficar em pé — sei
que é difícil, mas o senhor precisa aguentar, ela necessitada da sua força, Kai.
— Você tem razão — respondo rouco.
Eles a tiram do carro, quase desmaio ao ver o lado direito do seu
corpo banhado em sangue, cortes com ataduras brancas completamente
manchadas pelo vermelho. Vou em sua direção, os bombeiros me param.
— Sou o marido dela — informo.
— Pode subir a bordo como acompanhante — um paramédico avisa.
— Sei que pode assustar o estado dela, mas ela ficará bem.
— O acidente foi horrível — eu digo.
— Eu sei — ele responde — não perca a esperança.
Daisha é envolta por uma manta térmica e colocada no helicóptero.
Quase tropeço ao subir, não consigo coordenar meu corpo a fazer o que
quero, continuo focado dela. Sento onde mandam, perto de sua cabeça. Eles
colocam intravenoso nos braços finos da Daisha, uma mascará de oxigênio e
fios em seu peito medindo os sinais vitais.
— Ela está gravida — digo caindo de joelhos. — Daisha — chamo
por seu nome. Tenho medo de a tocar e a machucar, com as mãos tremendo
envolvo sua cabeça sem pegar nela, aliso os fios grudados pelo sangue — se
você consegue me ouvir, por favor, boneca aguente firme — soluço — eu
prometo estar aqui quando você acordar. Não me deixa amor — beijo o topo
de sua testa, o gosto de ferrugem cravando uma espada no meu peito — eu
não saberia viver sem você ao meu lado. Eu te prometi que respeitaria todas
as suas escolhas, mas não posso aguentar se você partir. O mundo não tem
sentido sem você.
O nariz entope, busco pelo ar com a boca, precisando pausar enquanto
converso com ela. Os paramédicos continuam trabalhando para a manter
estável.
— Vamos voltar para casa boneca — sussurro em seu ouvido — para
o nosso lar. Por muito tempo você tentou fugir dessa vida e eu te persegui
como um louco. Até te fazer perceber como eu te amo com cada fibra do meu
corpo e alma, enchendo sua vida de amor, carinho e liberdade. Você se
tornou o ar que eu respiro. Volta para mim boneca, luta pela gente. — Agarro
seus dedos os sentindo quente contra minha palma. — Você ainda está aqui e
vai permanecer, não me deixa Daisha.
Pousamos e ela é arrancada dos meus braços pelos médicos. Eles
correm rápido pelo corredor. Vou atrás até ser impedido de entrar na área de
cirurgia.
— ELA ESTÁ GRAVIDA — eu grito para os médicos. Um deles
para vindo a mim.
— Qual o tipo sanguíneo dela, quantas semanas de gravidez? Ela é
portadora de alguma doença?
— Tipo sanguíneo A positivo, se precisar de transfusão eu posso
fazer, sou O positivo. 3 semanas, sem doença — agarro o ombro dele — não
a deixa morrer, por favor. Eu te dou tudo o que você quiser, mas salva minha
esposa e filho.
— Farei o meu melhor, agora preciso ir. Você pode aguardar na sala
de espera.
— Certo.
Outra maca passa correndo por mim com médicos ao redor, vejo o
Brandon sendo levado. Robert segura meus ombros me puxando pelo longo
corredor.
— Vamos precisar preencher alguns papéis, senhor — ele diz.
Robert está agindo como se fosse um pai para mim. Encosto a cabeça
no seu ombro o seguindo. Sento na cadeira, preencho uma ficha sobre a
Daisha e aguardo, fingindo que meu mundo não está se fragmentando.
— Cadê ela? — Desperto ouvindo a voz da minha irmã.
— Josephine — chamo, levanto indo a ela.
— Ah Kai.
Nossos corpos se chocam, abraço a Josephine com força suficiente
para a esmagar. Ela retribuiu agarrando meus ombros, tremendo, chorando.
Me desfaço em choro ficando de joelhos precisando do colo da minha irmã.
— Eu to aqui — sua voz rouca marcada pelo pranto. — Ela vai ficar
bem.
— A Daisha estava muito machucada — eu digo sofrendo.
— Ei — Josephine agarra meu rosto me forçando a encarar — ela vai
ficar bem. Ouviu? Nada de pensar besteira, a Daisha vai sair dessa e voltar
para nos encher de amor.
— Promete? — peço desesperado para me agarrar a algo.
— Sim.
— Todos prometemos — Michael fala, encaro meu amigo o vendo
rodeado pelas pessoas que amam minha esposa.
Sua família, as amigas, e Black.
Michael cai de joelhos me abraçando, Daniel e Black se juntam a nós.
A sala de espera se transforma em uma bola de pessoas abraçadas rezando
pela recuperação da Daisha.
— Com licença — após longas horas de espera uma médica chega
para falar conosco — o senhor Brandon Rogers saiu da cirurgia, já informei a
família dele e me pediram para dizer a vocês. Ele tem uma laceração no braço
direito e uma pequena fratura nas costelas. Não corre risco de vida, mas
ficará em observação na UTI.
— E minha esposa?
— A senhora Daisha Lucian está sendo operada pela nossa melhor
equipe de cirurgiões. Acompanhei um pouco da cirurgia e tudo corre bem. A
pressão está controlada. Em breve um médico informará o caso dela.
— Certo.
Mais horas se passam, encontro na minha família apoio para continuar
vivendo. Emily precisou ser levada para um quarto e recebe tratamento, a
pressão dela aumentou devido ao estresse e o medo de perder a amiga. Daniel
a acompanhou, Clarisse e Bellamy não param de rezar. Hope se apoia no
marido, agarrando firme a mão do Black. Josephine e eu estamos grudados,
um sendo a força principal do outro.
— Boa noite — um médico entra retirando uma touca de cirurgia da
cabeça — a cirurgia da senhora Daisha Lucian finalizou e foi um completo
sucesso — a cara dele não é feliz. Levanto temendo pelo pior.
— Mas? — instigo.
— Ela teve diversos ferimentos no lado direito, o braço foi quebrado
em três pontos, no úmero, o osso da região do bíceps, o rádio e a ulna os
ossos do antebraço. Por sorte nenhuma artéria foi lesionada. Uma fratura no
músculo da coxa direita, não precisou de cirurgia, somente fechar o
ferimento. A cabeça uma concussão na parte superior direita, nenhuma lesão
foi identificada, só saberemos se deixou pequenas sequelas quando ela
acordar. Infelizmente o fígado foi perfurado por uma das ferragens o que
causou uma hemorragia interna precisando de cirurgia urgente. Trabalhamos
em equipe, com cirurgiões ortopedistas no braço e o nosso cirurgião torácico
no fígado.
Nego com a cabeça, ele fala sobre um cenário de horror, foram mais
de 8 horas de cirurgia sem saber se minha esposa conseguiria sobreviver.
Soco a parede explodindo por não a proteger. Mais um pouco e o desgraçado
do motorista teria esmagado a Daisha.
— Você ainda não disse o pior — aponto, a expressão triste em seu
rosto não é a de quem salvou um paciente.
— Tem razão, eu só queria garantir que você entendesse que a Daisha
está bem e estável. Não podemos afirmar se a batida foi a causa, ou o
sangramento no fígado, ou outro fator externo, eu lamento, mas ela teve um
aborto enquanto vinha para o hospital.
Meus joelhos batem no chão, um soco poderoso no meu pulmão me
faz perder o ar. Um duelo de sentimentos, a felicidade por saber que ela está
viva e bem, mas a destruição pela perda do nosso filho.
Mal tivemos a chance de aproveitar a presença dele e foi arrancado de
nós pelas mãos cruéis do destino.
Berro até sentir a garganta doendo.
Inspiro fundo sangrando por dentro. Estou sendo destroçado pela
perda do nosso bebê, a Daisha vai precisar de mim ao seu lado quando
descobrir. Ela estava radiante de felicidade, mal conseguindo controlar a
emoção para me dar a notícia.
Nós que temíamos ter filhos, passamos a desejar uma criança fruto do
nosso amor. Não pudemos aproveitar nem 5 minutos de felicidade, meu filho
nunca vai saber o quanto foi amado pelos pais nos breves segundos de sua
existência para a gente.
Preciso garantir que ela não sinta a dor avassaladora me queimando
por dentro.
— Preciso ver ela, agora — peço ficando em pé.
— Me acompanhe — ele diz — sinto muito por sua perda.
— Eu vou com você — Josephine continua me amparando em seus
braços finos.
— Certo.
Abraço minha irmã grato por ela estar comigo.
Enquanto caminhamos pelo corredor bege eu reúno o resto das minhas
forças para encarar a minha esposa. Tenho de ser forte por nós dois. Eu não
vou deixar ela sozinha, não permitirei que desabe, mesmo com a alma sendo
incendiada.

Minha esposa dorme tranquila na cama do hospital. O efeito da


anestesia passou tem quase uma hora, o médico garantiu que ela acordará em
breve, por hora os analgésicos são muito fortes. Ela foi transferida para um
quarto particular na UTI, o lençol branco cobre seu corpo pequeno e frágil.
Ferros enfiados em seu braço para a recuperação dos ossos quebrados.
A bochecha com pequenos cortes vermelhos, a cabeça enfaixada no
lado da pancada, uma mascará de oxigênio em seu nariz. Ela consegue
respirar sozinha, o coração bate forte me lembrando a cada “bipe” de que ela
continua comigo. A mão quente sempre apertada pela minha me dando a
certeza de que seu corpo não esfriou.
Ela luta pela vida e eu luto para continuar firme ao seu lado.
Aproximo a boca do seu ouvido.
— Eu te amo e você sabe o quanto é importante para mim. Acorda
boneca. Eu prometo te amparar e chorar com você pela perda do nosso bebê.
Você nunca vai estar sozinha, somos eu e você. Não existe vida para mim
sem você, foi você quem rompeu as correntes que aprisionavam a minha
mente e alma, me fez enxergar a minha força, busca por liberdade e criar um
mundo melhor para vivermos nele.
Já se passaram 10 horas do acidente, Robert me disse que levaram
cerca de uma hora para tirar ela das ferragens causando o mínimo de danos
possíveis em seu corpo. Eu não percebi, mas ele disse que ela saiu do carro
com um ferro enfiado na região do figado, os médicos fizeram um milagre
obrado por Deus para a salvar sem a hemorragia a matar.
— Eu superei todos os meus monstros para poder cumprir as
promessas que te fiz, eu queria que você se orgulhasse de mim, sorrisse feliz
ao escutar como fui corajoso. Eu preciso que você seja forte amor, não pode
se abater pelo acidente e não permita que suas energias se esgotem, continua
lutando para viver a vida que você conquistou e escolheu para si. Te vi se
enchendo de luz, se descobrindo, amando a sua vida e querendo seguir em
frente. Esse não pode ser o nosso final.
Pigarreio, mal escuto a voz rouca. A garganta doendo ao falar.
— Não acabaremos aqui, eu estou com muito medo Daisha, medo de
te perder, de não ver mais o seu lindo sorriso, o brilho nos seus olhos azuis,
de ouvir o doce som da sua voz. De rir quando te irrito, de comer doce da sua
boca mesmo odiando o sabor adocicado, com você tudo fica melhor.
Minha mão treme ao pairar acima do seu ventre, como vou ser capaz
de dizer a ela que perdemos o nosso bebê? Quando ela despertar.
— Eu prometo parar de ouvir meu rock ensurdecedor que te
enlouquece, prometo que vou parar de me machucar nas lutas, não ando mais
de moto, eu saio da organização se você quiser para nunca mais ficar em
perigo. Boneca eu te prometo tudo, te salvar das tempestades, pular em mais
buracos para te resgatar, comprar todas as malditas fantasias de gato e o que
você quiser. Volta para mim, é tudo que eu peço em troca, me dá mais
minutos com você.
Enxugo as lágrimas ao ver a porta ser aberta. Michael, Black e Daniel
entram acompanhados da Josephine.
— Como ela está? — Michael pergunta.
— Bem — mal tenho voz para responder. Aprumo a coluna escorando
no encosto acolchoado da cadeira.
— Kai, você precisa comer algo — Josephine pede baixinho alisando
meu ombro — vai com os meninos, eu fico com ela.
— Não vou sair daqui — nego com a cabeça apertando a mão da
Daisha, ela está viva. Mentalizo na minha mente a frase mantendo minha
alma no corpo.
— Precisamos conversar — Michael aperta meu outro ombro — é
melhor fazer isso sem a Daisha ouvir.
— Você acha que ela escuta?
Encaro o rosto dormindo tranquilamente.
— Com certeza, ela deve ter ouvido todas as promessas e declarações
que você fez — ele me puxa pelos braços — vamos, você precisa de um
banho, se alimentar e escutar o que descobrimos sobre o motorista.
— E se ela acordar sem eu estar aqui? Não posso — afasto os braços
do Michael me sentando novamente.
— Kai — Josephine se ajoelha segurando minha mão, os olhos
vermelhos e inchados — você não conseguirá cuidar da Daisha sem estar
bem. Suas mãos e roupas continuam manchados de sangue, ela vai se assustar
por te ver assim. O doutor disse que ela pode acordar somente amanhã eu te
prometo que não sairei daqui e qualquer piscada de olho eu te ligo. Mas, por
favor, meu irmão, você precisa se cuidar e escutar o que o Michael tem a
dizer.
Fixo o olhar nela, Josephine não está nada bem e tenta ser forte por
mim. Encaro minhas mãos e roupas percebendo o sangue, sujei a cadeira e os
lençóis dela de vermelho. Daisha teria um ataque em me ver ensanguentado.
Preciso fazer isso por ela, não por mim. Aceno em positivo.
— Não podemos demorar — digo aos rapazes.
— Vou ficar de guarda com a Josephine — Daniel fala encarando a
irmã.
— Vem Kai — Michael tenta me puxar, me solto dele indo a minha
amada.
Encosto a testa na sua, beijo suas pálpebras fechadas, louco pelo
segundo em que ela acordar e me deixar ver o azul vibrante de seus olhos
novamente.
— Eu volto logo, tudo bem se você acordar e eu não estiver aqui, virei
correndo no mesmo segundo ficar ao seu lado — Aliso os fios negros, beijo
sua testa demoradamente, uma lágrima mancha sua pele, fungo me afastando.
— Eu te amo, Daisha.
Deixar o quarto de hospital é a coisa mais difícil que eu faço desde
que soube que a Daisha acordou. Sutilmente Michael me ampara ao
passarmos pelos soldados e entrar no elevador. Usamos o mesmo hospital de
quando fui internado após o espancamento do Louis e onde a Hope ficou
quando precisou após o sequestro. É o único no Estado que confiamos para
usar.
Não processo o caminho até o carro e para a casa do Michael.
— Achei que você se sentiria melhor aqui — ele diz.
— Não, quero ir para casa — preciso sentir a presença dela.
— Certo — Michael suspira dando a ordem ao motorista.
Black se mantêm calado mexendo nas unhas, posso sentir que tem
algo de errado com ele. Não consigo me importa com isso agora, só tenho
pensamentos para Deus salvar a minha esposa. Chegamos, entro indo direto
para o quarto, o cheiro dela me invade, precisando a sentir agarro o
travesseiro inspirando fundo o aroma doce de seus cabelos deixados em nossa
cama.
Sento, agarro o travesseiro deitando de lado, chorando por não
retornar com ela. Essa merda não podia acontecer, eu estava voltando para a
pegar na clínica, se tivesse sido mais rápido, feito o caminho oposto o
caminhão não teria nos acertado. Estaríamos bem bolando na cama felizes
pela gravidez, pensando nos nomes, nos beijando, eu acariciaria seu ventre,
falando com nosso bebê.
Era para o dia acabar feliz.
Não com a minha esposa quase morrendo e perdendo nossa criança.
Meu peito arde, os pulmões não conseguem ar suficiente pelo meu
nariz entupido. Afundo o rosto gritando rouco no travesseiro, precisando
expulsar a dor dilacerante do meu peito. Nunca me senti em tamanho
desespero. Eu preciso da Daisha de volta.
— Ei, ei — ouço a voz do Black — ela vai ficar bem! — Ele me puxa
contra seu peito — saímos do hospital e ela estava respirando, estável e
acordará amanhã. Ela vai se recuperar, Kai — meu ombro molha, arqueio a
cabeça percebendo o Black chorando. — Eu te prometo, ela sairá dessa.
— Quem foi o responsável? — pergunto precisando de algo para tirar
minha mente do abismo.
— A culpa é minha — ele se levanta passando a mão no rosto com
força.
— Como? — sinto o corpo gelando, o Black? — não é possível.
— Chega de se culpar, inferno! — Michael branda irrompendo pela
porta — eu te disse que essa merda não aconteceu por sua causa.
— Michael, Black. — Chamo levantando — se expliquem, agora.
— Enquanto eu voltava para Las Vegas — Black começa — O
George usou uma rota de fuga. Só descobri quando cheguei em Nevada,
Steve foi a casa dele e não o encontrou.
— Como ele fugiu? — sento perdendo a força nas pernas.
— Não sabemos — Michael responde — procuramos a Rebeca por
todos os cantos e não a encontramos. Temos informações somente da fuga do
George, era ele quem dirigia o caminhão que bateu no carro da Daisha.
— As câmeras de trânsito mostram que ele estava seguindo a Daisha
desde que ela deixou o complexo. Quando a oportunidade surgiu no
cruzamento ele aproveitou. O George foi atingido por uma bala na cabeça e
morreu na hora, não sabemos suas motivações e nem o motivo do alvo ser a
Daisha — Black me encara com os olhos marejados — desculpe, se eu
tivesse matado ele desde o início, isso não teria acontecido.
— Não é sua culpa — anestesiado eu encaro meus amigos, não
conseguindo mais absorver nada. — Foi a Rebeca — a tristeza subindo pelo
meu peito — talvez nunca consigamos descobrir como ela conseguiu fazer o
George atacar a Daisha — aperto os punhos — é coisa daquela maldita vadia!
Bato no abajur o jogando no chão. Levanto furioso atacando a mesa
de cabeceira, chutando enfurecido.
— Eu perdi a oportunidade de a matar e agora a desgraçada tentou
tirar a Daisha de mim!
— Kai, se acalma — Michael me segura — precisamos focar, se isso
realmente aconteceu e a Rebeca está a solta precisamos a prender antes que
ela chegue a Daisha no hospital. Você precisa pensar, para onde a Rebeca
pode ir?
Busco na mente qualquer coisa que possa me ajudar, mas não
encontro nada. Eu não conheço qualquer lugar em que ela poderia se
esconder.
— Eu não sei, tenho de ficar com a Daisha.
— Não — Black me segura — eu vou para lá avisar ao Daniel e
reforçar a segurança. Você vai tomar a porra de um banho e comer. Está
quase desmaiando sem forças, desse jeito você não consegue lutar.
Black se culpa e quer compensar seu erro protegendo a Daisha. Aceno
em positivo ao ter uma vertigem forte me fazendo cair na cama.
— Te encontro no hospital — ele sai correndo.
— Quer ajuda no banho? — Michael pergunta. Nego — vou pegar
algo para você comer.
Aceno em positivo.
Me arrasto para o banheiro. Ignoro o espelho, retiro as roupas e entro
debaixo do chuveiro, lavo o sangue sentindo mais lágrimas se formando. A
Rebeca não vai parar enquanto não matar todos que são preciosos para mim.
Na próxima vez que eu a ver vou meter uma bala em sua cabeça.
Ser misericordioso me agarrando a lembranças de um falso amor só
causou destruição. Não darei uma segunda chance a ela, nunca mais.
Termino o banho e visto uma roupa pegando o celular e carteira. Ouço
o som da porta batendo com força no andar de baixo. Desço as escadas aos
pulos com medo de serem noticias ruins. Michael entra no carro ao me ver
aponta um dedo.
— FIQUE AI! — Ele grita indo embora.
Não tem nenhum soldado ao redor da casa, algo de errado aconteceu.
Pego o celular e ligo para a Josephine, a ligação não completa. Disco o
número do Daniel, chama até cair. Ligo para o Black, Robert, todos que
estavam no hospital. Nenhum deles me atende. Clarisse e Bellamy tinham
voltado para casa com o Dante, assim como Hope e Emily, eles não sabem o
que está acontecendo.
Entro seguindo para a garagem, vejo a minha moto, subo me
preparando para sair. O celular toca, atendendo ao ver o nome da Josephine.
— O que aconteceu!? — o desespero me consome.
— Eu matei todos que você ama — reconheço a voz da Rebeca.
Congelo, não pode ser verdade.
— Não acredita em mim? Fale com o bom doutor — ela diz
imparcial. — Estão todos mortos — reconheço a voz do médico. Um tiro soa
alto. — Como vai viver sabendo que a Daisha, seu precioso amor morreu
pelas minhas mãos? Sua irmãzinha sangra, eu a cortei até ela perder a luz nos
olhos. Seus amigos de vigia? Um bando de fracos, todos mortos. Acabou Kai,
não restou mais nada para você.
O celular cai da minha mão.
Não consigo sentir meu corpo, o coração para de bater, a mente de
raciocinar. Não existe mais nada. Os sentimentos desaparecem dando lugar a
um grande vazio. Um buraco negro consumindo minha alma.
Não existem mais emoções para serem sentidas, estou oco, não restou
nada em mim.
Mortos.
Sem vida, ligo a moto saindo de casa.
Dirijo as cegas sem saber para onde estou indo. A cada segundo o
buraco no meu peito se tornando maior, mais difícil de suportar. Lembranças
da Daisha invadem minha visão, momentos divertidos com meus amigos, as
memórias felizes que tenho criado com a Josephine.
Tudo desaparece com o vento.
Mortos.
Por isso o Michael saiu correndo e me mandou ficar.
Não atendiam as ligações por estarem mortos.
Todos que eu amo.
Minha família, meus amigos. Não sobrou ninguém.
A visão turva, não consigo mais enxergar. O guidão treme e eu caio
no chão. Suspiro sentindo a areia no meu rosto pinicando. Ergo a cabeça
percebendo que vim para a praia. Como eu cheguei aqui? É mais de uma hora
de viagem.
Não importa, estão todos mortos.
Não existe sentido em continuar vivendo.
Me arrasto pela areia seguindo para o mar.
Mortos.
Mortos.
Estão todos mortos.
Por que somente eu estou vivo?
O abismo chama pelo meu nome, pulo caindo na escuridão.
As ondas geladas batem no meu corpo, rastejo sentindo elas me
engolirem, entrarem nos meus pulmões, rasgando, queimando por dentro.
Mortos.
Estamos todos mortos.
CAPÍTULO 30 DAISHA

— E um para você — uma voz suave fala baixinho.


— Quem entregou? — reconheço o timbre do meu irmão Daniel,
distante.
— A senhora Bianchi, ela pediu que todos se cuidassem.
— Obrigado.
As pálpebras não respondem a minha vontade de abrir os olhos, por
que não consigo? Tento me mexer sentindo o corpo dormente, incapaz de
mover um músculo.
— Não vai tomar o seu? — Daniel pergunta a alguém.
— Não, obrigado — a voz da Josephine.
Vamos corpo idiota, se mexa!
A cabeça dói horrores, estou perdendo a consciência novamente. Não
posso, preciso ficar acordada!
— O que você faz aqui? — alguém rosna, desperto, percebendo que
dormi novamente.
A mente mais clara. Abro os olhos encarando o teto branco
sombreado pela noite. Pisco clareando a visão aos poucos, sons de corpos se
batendo. Algo cai pesado no chão. Tento mexer o corpo, não consigo, meus
braços e pernas não respondem a minha vontade. Sinto a cabeça pesando,
sons de bipes ressoando alto no quarto.
Uma mulher paira acima do meu rosto, sorrindo sinistra, os cabelos
louros, os olhos… idênticos ao do Kai.
— Ainda bem que você acordou, odiaria te matar sem ver o desespero
no seu rosto — a maldade refletida em seus olhos me assusta. Não sei o que
aconteceu, como vim parar em um quarto de hospital, o motivo de não mexer
meu corpo e da Rebeca está comigo.
Abro a boca tentando falar, a voz não sai, dói demais, inspiro fundo.
Preciso chamar alguém, fazer alguma coisa. Onde está o Kai? Passo os olhos
pelo quarto não conseguindo ver muito, a cama deitada dificulta minha visão.
— Eu te ajudo, você vai adorar o que fiz — ela se afasta, pega um
controle e minha cama se move.
Grito sentindo o corpo ser partido ao meio ao ficar sentada com a
parte alta do coxão erguido. Movo o braço esquerdo apertando meu
estômago, os órgãos parecem estarem soltos, prestes a saírem. Vejo meu
irmão deitado no chão, desmaiado, um líquido marrom derramado ao seu
lado, um homem de jaleco branco de joelhos com as mãos amarradas perto
do Daniel, giro a cabeça procurando outras pessoas.
Josephine está deitada com a cabeça sangrando.
— NÃO! — Grito tentando me mexer para os ajudar. Encolho pela
dor escruciante no braço direito, na lateral da barriga e a cabeça latejando me
fazendo ficar tonta.
— Cuidado, você vai acabar abrindo os pontos — o médico avisa,
tentando vir a mim.
— Fique aí, doutor — Rebeca fala apontando uma arma para a cabeça
do homem.
— O que você quer? — pergunto rouca, quase sem voz me contraindo
pela dor — maldita.
— Vou me vingar, eu dei tudo ao Kai e ele me desprezou, me tirou do
meu mundo me obrigando a viver com aquele homem patético — revira os
olhos — de todos que manipulei George foi o mais fácil. Precisei de pouco
para o fazer te odiar e querer te matar. Eu adoro como os Bianchi podem ser
previsíveis — ela ri diabólica — sério que continuam usando o mesmo
hospital? Isso facilitou tanto o meu plano. Quase não fiz esforço nenhum para
te colocar onde eu queria, vulnerável e sem meu irmãozinho idiota por perto.
De brinde ainda vou matar a Josephine. — Suspira feliz, como uma maldita
lunática.
— Esse hospital é deles — o médico diz.
— Eu sei — ela se curva sussurrando na orelha dele — como você
acha que foi tão fácil me infiltrar aqui dois dias antes, sabendo que se a
Daisha sobrevivesse ela seria levada a um quarto VIP na UTI com soldados
no corredor, elevador e entrada? Eu conheço a máfia como a palma da minha
mão, por anos manipulei muitas das atitudes do meu pai — me encara
inclinando a cabeça de lado — você gostou do meu presente de casamento?
— Do que você está falando? — pergunto, aguentando firme a dor no
corpo.
— Os mercenários controlando os drones que atiraram em você. Só
precisei dar a ideia ao Louis e ele fez todo o trabalho por mim. Pena que você
voltou inteira.
— Você é a porra de um psicopata — rosno.
— Verdade — ela suspira — estamos perdendo tempo, vamos ao
principal? Primeiro vou fazer meu irmão sofrer e depois farei você ser levada
ao desespero — encara a Josephine — eu sempre odiei essa vadia, no fim eu
queria a torturar um pouquinho mais.
— Eu vou te matar — rosno sentindo lágrimas grossas caindo pelo
meu rosto, a máscara de oxigênio não sendo o suficiente para suprir minha
respiração.
— Não, eu vou matar você — ela se mexe pegando o celular da
Josephine, o destrava usando a digital da minha amiga — temos pouco
tempo, há qualquer minuto alguém pode chegar e ver os soldados derrubados.
Vamos acabar logo com isso — mexe no celular. — Se você falar alguma
coisa eu vou atirar na cabeça da Josephine — chuta minha amiga a fazendo
rolar ficando com o rosto para cima. — Ela ainda respira.
— Não farei o que você quer — rosno.
— Não gosto de meninas rebeldes, Daisha. Darei um jeito em você
primeiro — a desgraçava vêm para cima de mim, tento me mexer, fugir dela,
mas não consigo completamente imobilizada no lado direito — quietinha.
Ergo a mão para a afastar de mim, Rebeca tem força ao agarrar meu
pulso o prendendo na cama com o lençol. Com a outra ponta do tecido, ela
forma uma bola, remove minha máscara enfiando o lençol na minha garganta.
Não consigo respirar.
Puxo o máximo de ar que posso pelo nariz tentando contornar o
sufocamento. Rebeca mexe no celular novamente o colocando na orelha e
sorri maligna. Choro com medo do que ela fará com o Kai, temor pela
Josephine que sangra no chão e Daniel desacordado.
— Não esqueça doutor, fale o que eu te disse ou sua família morre no
final da ligação.
— Certo — ele responde pesaroso.
— Eu matei todos que você ama — ela fala perversamente ao celular.
Gemo tentando ser ouvida, ele precisa saber que é mentira.
— Não acredita em mim? Fale com o bom doutor — coloca o telefone
na boca do médico.
— Estão todos mortos — o homem responde, a desolação me atinge
por não conseguir fazer nada, meu peito treme. Rebeca pressiona a arma na
cabeça do doutor e atira. O sangue jorra, me assusto temendo pela minha
vida.
Eu preciso salvar o Kai.
Tento mexer as pernas, a esquerda responde, mas a direita queima
pela ferida sendo aberta. Gemo batendo a cabeça na cama, a vertigem me
fazendo perder a noção do que acontece ao meu redor. Kai precisa me ouvir.
Forço um grito interno o mais alto que consigo, eu preciso avisar que estou
aqui.
— Como vai viver sabendo que a Daisha, seu precioso amor morreu
pelas minhas mãos? Sua irmãzinha sangra, eu a cortei até ela perder a luz nos
olhos. Seus amigos de vigia? Um bando de fracos, todos mortos. Acabou Kai,
não restou mais nada para você.
Ela encara o celular jogando o aparelho no chão, vindo a mim
ignorando o médico sangrando, morrendo. A encaro com a vista embaçada
pelas lágrimas, a dor rasgando o meu ser. O Kai não pode acreditar nela, ele
precisa vir aqui e me encontrar viva. Começo a engasgar pelo pano na boca, o
vômito sobe rasgando minha garganta. Sufoco.
— Merda, não morra de forma nojenta — puxa o lençol.
Cuspo o líquido ácido virando o rosto de lado puxando o ar
desesperada. Puxo o pulso preso com força conseguindo afrouxar o nó e
libertar minha mão. Com a mão livre bato no peito, não consigo respirar, a
garganta trava, as vias aéreas ardem. A cabeça nubla com uma poderosa
tontura.
— O que diabos você tem? — ela franze a sobrancelha.
Encolho pela dor rasgando meus órgãos interno, o braço imóvel
latejando. Estou perdendo a consciência. A máscara de oxigênio é recolocada
no meu rosto, puxo o ar finalmente conseguindo respirar.
— Você vai morrer pelas minhas mãos, não engasgada!
Rebeca fica na minha frente empurrando a máscara, pelo canto do
olho noto a Josephine se levantando e pegando o jarro em cima da mesinha
perto da janela.
Agarro o pulso da Rebeca precisando manter sua atenção em mim.
— Morra, vadia — rosno rouca.
— Quem vai mor… — ela não termina de falar.
Josephine atinge a cabeça da Rebeca com o jarro. Rebeca cai em cima
de mim, batendo o rosto nos ferros do meu braço. Grito sentindo a dor
agoniante do metal atravessando meu braço, o sangue jorra para fora do
gesso. Continuo segurando o pulso dela, apesar de quase delirando pela dor
mantenho meu aperto firme.
Josephine vacila, ergue novamente o vaso pesado descendo contra a
cabeça da Rebeca pela lateral a fazendo cair no chão.
— MORRA, PORRA! — Josephine berra ficando em cima da irmã —
EU TE ODEIO, SUA MALDITA!
O rosto da Rebeca banha em sangue ao encarar a Josephine
desorientada ao ser atingida mais vezes pelo vaso. Percebo que o material do
vaso é ferro. O sangue jorra respingando pelo quarto, aperto o braço direito,
bato a cabeça na cama ouvindo o som do crânio da Rebeca ser esmagado.
Josephine levanta cansada, chorando, o rosto cheio de sangue.
— Você precisa salvar o Kai — eu choro.
— Merda! — A porta abre, o Black entra encarando a tudo com medo.
— Ela disse que todos morremos — falo reunindo o resto de minhas
forças — Josephine, salve o Kai!
— Onde ele está? — Josephine encara o Black.
— Em casa.
— Certeza? — ela pergunta.
Pisco quase perdendo a consciência. Vejo o Black pegar o celular,
seus olhos se arregalam.
— Não, ele saiu, porra eu disse ao Michael para manter o Kai em
casa!
— Vamos agora — Josephine segura minha mão — aguente firme, ele
vai precisar falar com você — ela corre pegando o celular e me entregando.
— Vou chamar um médico.
Josephine e Black saem correndo do quarto, a dor me faz ver
pequenos pontos pretos. Os médicos entram, falam alguma coisa, não
entendo nada, estou perdendo a consciência novamente. Eu preciso ficar
acordada para quando o Kai chegar.
Por favor, Deus faça o Kai perceber que estou viva.
Traga meu marido de volta para mim.
As ondas revoltas me levam para baixo. Deixo a água invadir meu
corpo, não existe sentido continuar existindo sem a Daisha ao meu lado. A
parca luz da lua atravessa a escuridão do oceano me fazendo ver um corpo
nadando na minha direção. As mãos finas agarram minha camisa me
puxando.
Sou obrigado a ir para a superfície, alguém me agarra por trás. O ar
preenche meus pulmões sem a minha permissão, paraliso ao perceber a
Josephine na minha frente. Só pode ser uma miragem, porra.
Os dedos tremem ao tocar o rosto fino da minha irmã, manchado por
sangue. Forço as pernas para nadar me aproximando de seu corpo frágil. Ela
treme os lábios roxos, os cabelos completamente encharcados, aliso suas
bochechas.
— Você é real? — pergunto.
— Sim — ela responde tremendo.
— Ela disse que você estava morta — agarro seu pescoço sentindo a
artéria pulsando — não morreu?
— Estamos todos vivos, Kai — ela se aproxima me abraçando —
vamos sair do mar. A Daisha acordou e precisa de você.
— A Daisha morreu — lamento rouco.
— Não, Kai. Ela espera por você no hospital, eu te prometo — A voz
grossa fala atrás de mim, giro o rosto vendo o Black.
— Você está vivo.
— E congelando, vamos sair da água.
Como um boneco Black me arrasta para a praia. Josephine corre
tremendo para o carro e volta com uma manta e um celular. Não consigo
entender o que está acontecendo. Eles deveriam estar mortos, mas não estão?
— Fale com ela — coloca o celular no meu ouvido.
— Anjo? — a voz da minha amada soa do outro lado — vem ficar
comigo.
Tremo, caindo na areia ao sentir o impacto da voz da minha amada no
meu corpo dormente. O coração bate alto levando o som aos meus ouvidos.
Inspiro o ar frio da noite sentindo o corpo congelado aquecendo pela
esperança. Minha boneca, meu amor, a minha Daisha está viva!
— Eu vou — respondo chorando feliz, inspiro fundo encarando o céu
estrelado, o rosto da minha irmã e amigo. Black envolve a manta ao redor da
Josephine — não desliga boneca, não posso ficar sem ouvir a sua voz.
— Ficarei com você o tempo todo — responde rouca.
Forço minhas pernas e corro para o carro, não posso continuar
perdendo tempo nessa maldita praia. Sento no banco do motorista ligando o
carro, agarro o volante. Uma mão impede que eu feche a porta, Black me
encara de testa franzida.
— Eu dirijo.
— Certo — tremo batendo os dentes, o frio cada vez mais forte, a
adrenalina para encontrar a Daisha corroendo minhas veias, precisando ser
atendida.
Pulo para o banco de trás com a Josephine, ela me envolve em um
abraço dividindo a manta entre nós dois. Beijo seus cabelos, analiso o corte
aberto em sua testa. Não consigo entender o que aconteceu, a respiração da
Daisha no meu ouvido é tudo o que consigo focar.
— Boneca — chamo baixinho — você tá muito machucada?
— Não anjo — ela ri chorosa — só triste sentindo sua falta, onde você
está?
— Eu não sei — continuo meio desorientado — as coisas estão
confusas na minha cabeça.
— Na minha também — suspira pesado — vem ficar comigo, depois
colocamos a cabeça no lugar.
— Eu só preciso de você, boneca. Meu lugar é ao seu lado, te
cheirando, vendo seus olhos azuis como o céu, beijando seus lábios. Eu te
amo tanto Daisha.
— Eu amo muito você Kai, só preciso de você ao meu lado.
— Dirige mais rápido Black! — bato em seu ombro — preciso
encontrar minha esposa.
— Estou indo o mais rápido que posso — ele rosna.
— Calma Kai — Josephine pede. — Você não para de tremer, deixa
eu te aquecer.
— Não tenho frio — fico inquieto — preciso da Daisha.
— Anjo — ela chama.
— Oi boneca?
— Eu quero muito te encontrar, mas primeiro deixa a Josephine fazer
o que ela precisa. Mantenha a calma enquanto chega ao hospital.
— E se eu estiver sonhando e você desaparecer? — sacudo a cabeça,
não consigo diferenciar a realidade da ilusão.
— Kai, eu não vou a lugar algum.
— Promete?
— Sim meu anjo.
Fico quietinho ouvindo sua voz e deixando a Josephine me envolver
com a manta. O carro para em frente ao hospital e desço, corro perdendo o
celular no caminho, atravesso pelas portas do elevador. Aperto os botões
furiosamente, Josephine corre com o Black, as portas fecham antes que eles
cheguem. Encaro minha imagem no espelho completamente encharcado, as
pupilas dilatadas impossibilitando as diferenciar das iris.
Passo as mãos no cabelo ajeitando os fios revoltos, não posso a deixar
me ver parecendo um maluco.
— Ela acordou — murmuro encarando minhas mãos trêmulas.
A realidade me atingindo com um soco no estômago. Curvo para a
frente, levando a mão a boca arfando.
— ELA ACORDOU! — Grito no elevador pulando alucinado. Bato
palmas, caio de joelhos de mãos unidas — OBRIGADO DEUS — continuo
faltando alto, não conseguindo controlar a alegria.
Estive letárgico durante todo o caminho, mas finalmente desperto da
dor e da desolação. Ela continua viva, eu ouvi o doce som da sua voz. Nada
poderá tirar a Daisha de mim novamente. As portas abrem, corro, bato na
parede, recupero o equilíbrio voltando a corrida até a porta bege no final do
corredor.
Giro a maçaneta. Paro recuperando o fôlego. Vejo Bellamy e Clarisse
ao redor da cama da Daisha, Dante aos pés da cama, Hope abraçando minha
esposa. Ela sorri tranquila com o celular na mão.
— Daisha — eu digo em um fôlego. — Você voltou.
— Anjo — o azul de seus olhos bate na minha alma forçando todos os
pedaços a voltarem para o lugar.
Cambaleio com as pernas tremendo, as pessoas se afastam me
deixando chegar até ela. Levo a mão ao seu rosto tocando a bochecha
machucada com delicadeza. Ela deita o rosto na minha palma, os olhos
marejam, os lábios rosados se abrem em um sorriso. Tem um tubo pequeno
em seu nariz levando oxigênio.
Encosto a testa na dela sentindo o calor do seu corpo.
Viva!
Ela está viva e nos meus braços.
Sorrio, choro, rio, como um louco faço as três coisas. Encosto em seus
lábios absorvendo o sabor da vida, sendo contagiado por seu calor. Cada
célula dormente do meu corpo acorda ao senti-la tão perto e viva. Inspiro o
cheiro de produtos hospitalares em sua pele, deslizo a língua pela sua,
batendo em seu interior, mesclando nossos sabores.
— Eu achei que tinha te perdido — digo com os lábios colados —
nunca mais saio do seu lado.
— Eu não te deixaria ir a lugar algum — ela me beija de volta, inspira
fundo se afastando — você está gelado.
Encaro meu corpo percebendo a bagunça molhada que fiz em sua
cama. Levanto segurando sua bochecha e sorrio para ela. Nada no mundo
importa desde que eu tenha a Daisha ao meu lado. Encosto a testa na sua
sorrindo sapeca.
— Eu te amo. — Beijo a ponta do seu nariz ganhando um lindo
sorriso.
— Eu amo você — sopra nos meus lábios.
— Não acredito que você fechou a porta do elevador na nossa cara! —
a voz esganiçada da minha irmã soa alto atrás de mim.
— Depois você briga com ele — Black a segura pelos ombros —
agora vai receber tratamento.
— Espera — ela se liberta vindo a mim. Josephine envolve os braços
na minha cintura me puxando para um abraço caloroso. Beijo o topo de sua
cabeça alisando seus ombros — nunca mais faça isso, seu idiota.
— Eu prometo — beijo sua bochecha — o que aconteceu com sua
cabeça? — Encaro o quarto percebendo as marcas de sangue no chão, foco na
Daisha notando o gesso em seu braço manchado. Recordo do motivo de ter
tentado me matar.
Daisha sofreu um acidente.
A perda do nosso bebê.
Rebeca dizendo que todos estavam mortos.
— Eu não conseguia falar com vocês — frases desconexas começam a
sair da minha boca — a Daisha estava morta, a Rebeca matou todos. O que
está acontecendo?
— Kai — Bellamy aperta meu ombro — vamos conversar, filho.
— Não posso deixar a Daisha — agarro a mão da minha esposa com
medo dela desaparecer.
— Tudo bem, falem aqui — Daisha diz — troca de roupa anjo, você
está congelando.
— Pode usar essa — Dante me entrega uma bolsa.
— O banheiro é ali — Clarisse aponta — você confia que ficaremos
de olho na Daisha e nada acontecerá com ela enquanto toma um banho
quente?
— Sim — aceno encarando minha esposa.
Ela sorri tranquila, aperta meus dedos passando confiança. A massa de
medo acumulada em meu peito se dissolve e a culpa por tentar me matar
começa a me torturar. Engulo em seco, aperto o braço da Josephine
sinalizando que ela pode sair e vou para o banheiro, retiro as roupas
molhadas, entro na ducha quente, tomo o banho e me seco para vestir as
roupas secas. Um suéter e calça jeans.
No quarto Daisha estica o braço apontando um espaço na cama, com
medo de a machucar sento na ponta, encosto a cabeça no travesseiro, encaro
minha esposa. Aliso sua orelha tomando cuidado com o curativo, beijo seus
lábios sentindo a vida em seu corpo. O banho ajudou a colocar a cabeça no
lugar, recobrar os acontecimentos, a notícia difícil que devo dar a ela sobre
nosso bebê e entender a merda que a Rebeca fez.
— Michael ainda está apurando tudo que aconteceu — Bellamy
começa, Clarisse sentou em uma poltrona e o Dante fica ao seu lado — as
informações que conseguimos reunir é de que o George foi usado pela
Rebeca para atropelar a Daisha, não sabemos como ela fiz isso. Há três dias
Rebeca pintou o cabelo, se disfarçou de empregada e saiu de casa vindo para
Nova Iorque, ela deu entrada no hospital com um nome falso alegando estar
doente do coração.
— E os médicos acreditam? — Daisha pergunta.
— Estavam fazendo exames e esperando os resultados, enquanto isso
ela conseguiu ficar internada. George estava seguindo a Daisha e atingiu o
carro dela, ele morreu na hora. Aqui a Rebeca se disfarçou de enfermeira
esperando a chegada da Daisha e se escondeu em um quarto vazio nesse
andar. Quando o Kai foi embora ela deu início ao plano. Com a ajuda de uma
enfermeira que estava sendo paga pela Rebeca, colocou soníferos nos copos
de café e disse que a Hope pediu para dar a todos os soldados do prédio, o
Daniel também tomou.
— Como ela sabia que eu ficaria aqui?
— É o único hospital que usamos — respondo — fora do complexo.
— E como ela já sabia do atropelamento tomou as iniciativas de
infiltração — Bellamy continua — com todos dopados ela entrou no quarto,
mas a Josephine estava acordada. Ambas brigaram e quando Rebeca mostrou
a arma a Josephine se assustou e foi atingida pelo cano da arma na cabeça
ficando inconsciente por alguns minutos. O médico que estranhou os
soldados desmaiados entrou no quarto se transformando em refém da Rebeca.
Infelizmente ele morreu.
— Ela me ligou dizendo que todos estavam mortos — engulo em seco
odiando a lembrança — eu não conseguia falar com ninguém. Mesmo o
Black ou o Michael que estavam fora. Ao ver o Michael sair correndo eu me
assustei, sabia que tinha algo de errado — encaro minha boneca — ela disse
que você estava morta. Eu não — desvio o olhar — consegui lidar, não
depois de…
— Eu sei — Daisha sussurra rouca, a encaro vendo as lágrimas
banhando seu rosto — o nosso bebê, o médico me falou.
— Eu sinto muito — soluço não conseguindo conter o choro.
— Eu também — ela murmura encostando a testa na minha — me
prometa que vamos lidar com a morte do nosso bebê juntos. Eu não quero te
ver caindo na escuridão e me deixando sozinha. Eu preciso de você ao meu
lado, Kai.
— Eu não vou a lugar nenhum — é impossível abraçar a Daisha
devido aos ferimentos em seu corpo, mas me esforço envolvendo seu pescoço
com a mão e grudando nossas bochechas — nunca mais vou sair do seu lado.
— E nunca se culpe, se você fizer isso partirá a minha alma, Kai.
— A culpa é da Rebeca — rosno, aceitando a realidade — se ela não
tivesse armado essa merda, nosso bebê estaria aqui e você não teria se
machucado — encaro seu rosto triste — dói muito?
Ela cena em positivo.
— Como posso te fazer sentir melhor?
— Fica comigo. — Pede chorosa.
— Para sempre — a beijo.
— Nós podemos sair — ouço a voz do meu cunhado.
Daisha ri contra minha boca e eu amo o som da sua risada. A beijo no
pescoço arrancando mais da deliciosa melodia dos seus lábios a deixando
penetrar meu peito. É um riso triste, mesclado pela dor da perda do nosso
bebê e a felicidade por estarmos vivos. Eu a entendo, sofremos, mas ainda
existem motivos para continuar rindo.
Eu pensei que tinha perdido o meu mundo. Minha família, amigos,
minha esposa e filho. Não restou nada para mim, me entreguei a escuridão
deixando a anestesia pela dor guiar meus passos me fazendo querer morrer.
Nunca mais quero ser levado para o abismo.
Na minha mente visualizo a escuridão chamando por mim, encaro o
abismo uma última vez dando o dedo para o desgraçado. Não pularei
novamente, por anos o tive rondando a minha mente. Dou as costas
caminhando seguindo o fio vermelho pelo campo florido encontrando minha
esposa esperando por mim. As coisas continuam fodidas, a dor é grande, mas
não o suficiente para nos destruir.
Juntos podemos nos erguer.
— Pai, por favor, continue — Daisha pede escorando o rosto no meu
ombro.
— O Black estava voltando para o hospital e recebeu a ligação de uma
enfermeira avisando sobre os soldados desmaiados e dos gritos vindo do
quarto. Ela teve medo de entrar e não conseguia acordar os soldados. O Black
estava na metade do caminho quando ligou para o Michael e ambos acharam
melhor você não vir. — Ele pigarreia — você não estava bem e concordo
com a decisão deles.
— Eu sei — respondo aceitando a verdade — me deixar de fora
acabou sendo pior. Eu não conseguia falar com ninguém e quando a Rebeca
disse que todos estavam mortos e o médico confirmou eu senti meu mundo
ruir — inspiro, sem coragem de a encarar — eu tinha perdido tudo.
— Ei — ela bate a testa no meu rosto — quem está ao seu lado?
— Você — beijo sua testa com carinho.
— Eu acordei e o Daniel já estava apagado e a Josephine machucada.
A Rebeca me confessou como ela se infiltrou aqui. Estava terminando de
contar ao meu pai quando você chegou. Tem algo que você precisa saber —
seu olhar pesa — a Rebeca não me matou por que foi impedida pela
Josephine, ao acordar ela pegou o vaso de ferro e meteu na cabeça da Rebeca,
várias vezes — silencia mordendo a bochecha.
— Ela morreu — termino sua frase.
— Sim, a Josephine só parou de bater quando esmagou a cabeça dela.
Fecho os olhos inspirando fundo, aceitando a dura realidade.
Josephine fez o que eu não consegui no passado.
— Vamos cuidar dela para que não se culpe — eu digo os olhos
marejados — ela não merece ser atormentada por isso.
— Não vai — Daisha murmura — a gente protege ela.
Não poderia existir outro fim para a Rebeca. Com a ajuda das sessões
com a Lily eu sou capaz de perceber que nada do que eu fizesse teria mudado
quem a Rebeca é e suas ações. Eu não vou me culpar por sua morte.
Infelizmente ela levou meu filho antes de partir e passarei o resto da minha
vida garantindo que mais nenhuma vida será ceifada por causa dela.
Nunca mais tentarei me matar, independente do que aconteça.
E vou garantir que a Josephine não seja assombrada pelo que
aconteceu hoje.
— Depois disso o Black chegou e saiu com a Josephine atrás de você.
Os médicos me atenderam, levaram meu irmão e os soldados para saber o
que aconteceu com eles e receberam tratamento. Acho que a Emily vai acabar
ganhando bebê pelo desespero, você nem deve ter notado a Hope saindo para
ficar com a Emily. O Michael chegou e depois meus pais, ele está cuidando
de tudo.
— Ele sempre cuida — encaro meus sogros — podem nos dar
licença?
— Claro.
Os pais da Daisha beijam sua cabeça e Dante a bochecha da irmã
antes de saírem. Envolvo a Daisha pelo pescoço precisando me preparar para
dizer a ela o que tentei fazer.
— Após a ligação eu ruí. Já estava desesperado pela perda do nosso
bebê e o medo de você não acordar. Te ver naquele carro fodeu com a minha
cabeça e a morte do nosso filho despedaçou meu espírito. Eu estava me
segurando para continuar vivendo. As palavras da Rebeca e ninguém atender
as ligações romperam o último fio que estava me mantendo no lugar. Subi na
moto e dirigi sem rumo, eu caí na praia — fecho os olhos — e me joguei no
mar. Eu não queria viver sem você, e saber que todos estavam mortos…
Engasgo pelo choro triste.
— Kai — ela me chama baixinho, o rosto vermelho e molhado —
anjo, eu te entendo. Não precisa sentir vergonha. Você estava confuso e
desolado — seus lábios trêmulos tocam minha bochecha — eu estou te vendo
e você me enxerga. Estamos vivos, juntos, é a única coisa que importa. Não
vou pedir que me prometa que não tentará suicídio novamente, pois eu sinto a
sua dor e principalmente seu arrependimento.
— Nunca mais boneca — aperto seu pescoço grudando nossos lábios.
— Curaremos nossas feridas juntos — ela fala contra minha boca.
— Pela eternidade.
A nuvem sombria atormentando nossas vidas se dispersa nos
permitindo ver o sol novamente.
— Me prometa uma coisa — ela pede sorrindo, embora a tristeza
ainda esteja presente em sua face.
— Tudo o que você quiser.
— Eu quero que você continue comigo. Não importa o que esteja
sentindo ou o que o futuro reserva para a gente. Você sempre vai tentar me
alcançar.
— Eu já estava conformado que morreria e seria mandado ao inferno.
Mas hoje eu ganhei uma nova chance e boneca eu te juro, vou te perseguir até
o céu, por toda a eternidade.
— Meu mafioso malvadão — sorri colando os lábios aos meus.
— Minha gata arisca.
Eu a perseguiria pelo céu e terra. Nunca mais ficarei longe da Daisha.
Estaremos sempre um ao lado do outro.
CAPÍTULO 31 DAISHA

— Olha quem veio visitar a titia Daisha — Emily entra acompanhada


da Hope e Josephine no meu quarto. Em seus braços um pacotinho envolto de
uma manta azul.
— Ai meu Deus, finalmente vou conhecer essa coisinha linda — afino
a voz animada por ver o pequeno William. Já tem três dias que ele nasceu,
continuo internada no hospital e não pude visitar a Emily e o bebê.
— Deixa que eu seguro — Kai estende os braços pegando o William,
ele também está vendo o bebê hoje. Meu marido não sai do meu lado.
Ver o Kai segurando o corpo minusculo do William, encarando o bebê
com um sorriso no rosto, os olhos brilhando ao me fitar feliz enche meu
coração de esperança. Um dia teremos o nosso bebê e poderei babar de
amores pelo Kai o segurar no colo e ninar como está fazendo com o William.
Ainda é cedo, estamos processando a morte do nosso filho, mas um
dia sei que conseguiremos ser pais. E ver o meu marido sentando ao meu lado
com a maior delicadeza agarrado ao dedo do William me enche de amor ao
me fazer visualizar o nosso futuro.
— Ele é lindo — digo para a Emily, estico o braço agarrando a
perninha coberta pela calça azul.
— Parece um joelho a cara dele — Josephine estica a cabeça alisando
os fios loiro do William.
— Eu já disse para parar de chamar meu filho de joelho! — Emily
bate na Josephine que se encolhe alisando o braço.
— Elas estão assim desde o nascimento — Hope senta na ponta da
cama — ele não é lindo? Me lembra o Ethan quando era recém-nascido.
— Perfeito — vejo o William bocejar e me contrario pela fofura do
pequeno. As pálpebras apertadinhas e as bochechas gordinhas, eu quero
esmagar essa criança em um abraço gostoso.
— Josephine está sendo uma futura péssima madri…
— Para! — Controlo a voz impedindo o mini grito de sair. — Eu te
proíbo de escolher a Josephine como madrinha do William. Ela será a
madrinha dos meus filhos.
— O quê? — Josephine me encara abalada.
— Você me ouviu, não pode ser madrinha de ninguém, além dos
meus filhos.
— Não é justo Daisha — Emily belisca meu pé — eu já tinha
escolhido.
— Eu quase morri, vai me negar o direito de decretar de quem a
Josephine pode ser madrinha?
— Você joga sujo — a loira bufa rindo — pensando melhor, você
sobreviveu a morte, será um bom amuleto para o meu William. Pode ser a
madrinha dele.
— Obrigada pela escolha.
— Ninguém notou que a Josephine parou no tempo? — Kai aponta
com o queixo para a irmã.
— Ela está processando — Hope levanta agarrando a Josephine pelos
ombros — acorda Phine.
— Nunca pensei que eu seria disputada para ser a madrinha de um
bebê. Vocês são loucos, sabem que vou ser uma péssima influência e
continuam insistindo nisso?
— Tudo bem — Kai fala sorrindo — nossos filhos vão precisar de um
pouco de caos na vida deles, se for você trazendo eu fico tranquilo.
— Bom — ela pisca disfarçando a emoção — não digam que eu não
avisei.
— Vocês aceitam — Emily nos encara — serem os padrinhos do
William?
— Claro que sim — tento me abaixar para beijar o bebê. Com cuidado
Kai o aproxima do meu rosto, cheiro o gostinho de vida exalando do William.
— Estamos honrados — Kai agradece.
— Não sejam como a Emily — Hope provoca — que fica levando
meu filho escondido. Quem sabe com o William ela deixe meu bebê em paz.
Já basta a minha mãe e o Matthew que não pode ver o Ethan e o carregar
consigo.
— Eu nunca vou deixar de carregar o Ethan, ele e o William serão
grandes amigos. — Emily responde orgulhosa.
— Vou colocar gradeados na mansão — Michael entra acompanhado
do Black e Daniel.
— Não vai adiantar de nada — Emily responde ao irmão.
— Amor — Daniel envolve ela pelos ombros — está cansada?
— Não — ela beija a mão dele — tudo bem comigo. Dei à luz a um
ser lindo de 3 quilos, estou bem das pernas.
Rirmos pelo seu jeito de falar.
Sorrateiramente vejo o Black se aproximando da Josephine. Ele fica
parado atrás da minha amiga a encarando. Josephine estica a coluna ao
perceber a presença dele. Ela cruza os braços apertando os bíceps, eu
esperava que ela se virasse para falar com ele, mas escolhe o ignorar.
Aconteceu alguma coisa entre eles? Encaro o Kai, ele me olha desconfiado
percebendo o mesmo.
— O quarteto monstro aos poucos está virando quarteto dos papais —
Black brinca.
— Verdade — Michael fica atrás da esposa beijando seu ombro —
deixei o Ethan com a sua mãe, ela chegou indo direto atrás do neto.
— E ele ama ela — Hope responde.
— É impossível não amar o nosso filho — Michael fala orgulhoso.
Encaro meu marido percebendo uma tristeza em seu rosto. Também
sinto uma pequena dorzinha por saber que o momento poderia ser
completamente diferente e que deveríamos estar felizes por termos um bebê.
Inspiro fundo, aperto a coxa do Kai chamando sua atenção para mim.
— Eu amo você — sussurro.
— Eu te amo — responde de volta baixinho ganhando vida em sua
expressão.
Quando o momento chegar teremos a nossa família. Assim como a
gravidez veio de forma inesperada deixaremos o destino agir novamente. Não
vamos planejar o dia que teremos um bebê, deixaremos nosso filho vir a nós.
William começa a chorar baixinho, Emily o pega do meu colo e
começa a ninar o bebê. Daniel a segue a cada passada encarando o filho e
falando baixinho com ele. Admiramos a cena todos unidos, Kai estica a mão
para a Josephine, ela agarra a palma do irmão se aproximando da gente.
— Tem algo que você queira dividir conosco?
— Talvez — responde baixinho — mas depois.
— Ok — ele diz.
Meus amigos continuam no quarto conversando até William decidir
que quer ir embora. Dou um cheiro no bebê e me despeço de todos. Josephine
deita na poltrona perto da cama com as pernas contra o peito, ela nos encara
ansiosa. Sinto sua necessidade em conversar, se abrir.
— O que aconteceu? — Kai pergunta sentando no braço da poltrona e
alisando o ombro dela.
— Meu casamento com o Black — foca o olhar nos pés — tem
alguma chance dele ser cancelado?
— Como assim? — fico em choque, não esperava por isso.
— Aconteceu alguma coisa que te faz não querer ficar com ele? —
Kai toma cuidado com suas palavras.
— Ele não fez nada — dá de ombros — mas as sessões com a Lily me
fizeram perceber que passei a minha vida buscando por amor.
Se encolhe, meu coração aperta por perceber sua vulnerabilidade. Kai
escorrega na poltrona sentando e colocando Josephine em seu colo.
— Depois de tudo que aconteceu, a morte da Rebeca — engole em
seco — as coisas na minha mente estão meio confusas. — Ela esfrega os
olhos, quase contendo as lágrimas — eu não quero passar a vida mendigando
por amor — soluça. Kai aperta a irmã nos braços — e com o Black eu
percebi que tenho me iludido por anos acreditando que ele poderia me amar,
ficando feliz com as mínimas migalhas de atenção que ele me dá. Eu não
quero continuar assim.
Ela encolhe o rosto contra o pescoço do Kai. Pisco contendo as
lágrimas, entendendo a sua dor.
— Viver correndo atrás de quem não me quer, implorando por
atenção, carente e me sentindo sozinha. Eu estou com muito medo de casar
com o Black e me desiludir. Eu criei uma fantasia de ser amada por um
homem que nunca demonstrou interesse em mim. Não sei se eu aguentaria
ser rejeitada. Não agora que descobri como é realmente ser aceita e amada —
ela encara o irmão — casar com ele significa ir para Las Vegas, ficar longe
de você, da Daisha e das meninas. Eu não quero dizer adeus à minha família.
Pisco encarando o teto, engulo em seco sentindo um nó na garganta.
Josephine perceber como agia em relação ao Black é um avanço enorme.
Diferente da Emily que nunca escondeu seus sentimentos pelo Daniel e
insistiu na relação, ele sempre a tratou com muito carinho e respeito, meu
irmão lutava contra seus demônios para não machucar a Emily com a sua
escuridão.
Mas a Josephine e o Black nunca tiveram um terço do que a Emily e o
Daniel tinham. Black sempre foi educado, porém, assim como o Kai fazia
comigo, o Black costumava ignorar a Josephine e evitar ficar perto dela.
Enquanto a minha amiga aproveitava cada oportunidade para falar com ele,
sorrindo, alegre, apaixonada. Ela perdeu a ilusão e passou a temer por seu
futuro, meu peito aperta querendo ser capaz de a proteger.
Josephine merece alguém que a ame e a torne o centro do seu mundo.
— Você nunca vai dizer adeus a nenhum de nós — Kai aperta a irmã
em seus braços, Josephine encolhe em uma bolha no colo do irmão. — Um
acordo de casamento é algo sério no nosso mundo e deve ser respeitado. Não
tem como ser rompido, mas eu te prometo que vou conversar com o Black,
entender as reais intenções dele com você e se eu sentir que o Black não é o
melhor para você eu farei de tudo para vocês não ficarem juntos. Não importa
o que eu precise fazer, você será a prioridade.
— Obrigada, Kai — ela soluça.
— Phine — chamo seu nome, queria poder ir até ela, a abraçar e
confortar seu coração magoado — talvez seja só o medo falando. Você
conquistou uma família com a gente, já estamos vivendo juntos há uns meses
e eu também fico triste em pensar que você pode ir embora. Mas se a minha
experiência servir de algo, você é capaz de encontrar o verdadeiro amor no
seu casamento. Eu sei que você gosta do Black e tenho percebido ele mais
perto de você ultimamente, pode ser um bom indicativo.
Ele tem estado mais perto dela desde o dia em que a levou para
assistir à luta do Kai e hoje tentou se aproximar. Eu sinto que algo ainda faz o
Black continuar longe, só não consigo imaginar o que seja. Eu passei a amar
o Kai o conhecendo de verdade, entendendo quem ele é, me apaixonando
pelo seu carinho e jeito de me tratar.
Eu sei que quando o Black descobrir quem é a Josephine de verdade
vai se apaixonar por ela, como todos fizeram. Antes da Hope chegar a
Josephine era excluída e mal tratada, hoje ela é um dos pilares da sociedade
das damas, respeitada e amada por todos nós.
— A Daisha quase me deixou estéril no início da nossa relação e vivia
fugindo de mim. Até eu a conquistar e a fazer perceber o quanto a amo e que
seu lugar é ao meu lado.
— Você e o Black só serão capazes de se conhecer de verdade quando
casarem e estiverem convivendo juntos. Ele pode ser completamente
diferente do que você imaginou, assim como o mesmo pode acontecer sobre
você. O Black é um bom irmão para a Hope, não existe maldade no coração
dele e posso garantir que ele nunca te machucará.
— Josephine — Kai a faz erguer o queixo para o encarar — você
sempre terá um lugar na minha casa. Se sentir que precisa respirar, voltar
atrás ou se afastar dele, me ligue e irei te buscar no mesmo instante. Nada
jamais será capaz de te machucar. Eu vou te proteger.
— Eu amo vocês — respira limpando o rosto — acho que estou muito
abalada pelos últimos acontecimentos — tenta sorri — se ele for um babaca
eu o coloco no devido lugar.
— Isso mesmo — sorrio para ela — você é a Serpente, a mais forte de
nós quatro e com uma língua atrevida enorme. Faça o Black rastejar aos seus
pés.
— Serpente? — Kai pergunta franzindo a testa. Rio cúmplice com a
Josephine.
— Segredo de meninas — ela se encolhe no colo do irmão.
— Se serve de consolo — Kai indaga — de nós quatro o Black é o
mais de boas. Não é um babaca como eu costumava ser antes da Daisha me
domar — Rio alto — Não é fechado como o Daniel antes da Emily invadir a
vida dele e não é arrogante como o Michael costumava ser, até a Hope
mostrar quem manda.
— Me conte mais sobre a joelhada — ela pede — eu adoro essa
história.
Noto a sutil mudança de humor. Josephine respira mais aliviada,
encaro meu marido que percebe a estratégia da irmã. Tenho certeza de que o
Kai terá uma conversa séria com o Black sobre os sentimentos da irmã.
Josephine e Kai demoraram para serem capazes de se acertar e agora
ninguém conseguirá tocar em um deles sem receber a fúria completa do
outro.
Eles se tornaram irmãos de verdade e eu amo saber que a relação
fragilizada conseguiu ser restaurada. Eles merecem ser felizes. E Josephine
vai encontrar o amor. Os dias de solidão acabaram.

Daisha finalmente recebeu alta do hospital. Os pinos foram retirados


deixando somente o gesso no braço. A coxa se recuperou bem do ferimento,
ela não teve lesões da concussão e se recupera bem com a fisioterapia. Lily
continua nos visitando para as sessões, iniciamos terapia de casal para
aprender a lidar com a perda do bebê.
Estamos conseguindo nos curar, aos poucos. Nosso filho sempre será
uma parte da nossa história. Mas não podemos viver presos ao passado nos
poucos minutos que descobrimos a existência dele. Não teremos outro bebê
agora para suprir uma necessidade. Assim como o primeiro veio
inesperadamente deixaremos o segundo ser do mesmo jeito. No tempo certo.
Deixo minha esposa dormindo no quarto e vou para meu escritório.
Entro encontrando o Black esperando por mim. Ele tem trabalhado para
cacete com o Texas, Bartolomeu deixou tudo a cargo do filho que em breve
assumirá o lugar do pai na organização. O novo Capo de Nevada e agora
Texas.
— Queria me ver? — me entrega um copo com uísque.
— Sim — sento no sofá de frente para ele. A conversa com a
Josephine ronda minha mente, não vou deixar minha irmã sofrer pela união
com o Black. — Quem é a mulher por quem você está apaixonado?
— Não é importante, Kai — suspira.
— É, sim, seu relacionamento com essa mulher envolve a Josephine.
Eu não vou permitir que ela se case com você se existir a mínima
possibilidade de você a magoar por amar outra mulher. Somos amigos,
irmãos de batalha, e eu te amo para cacete e confio em você. Mas não
deixarei magoar a minha irmã. Ela é a minha prioridade nessa relação, Black.
— Confia em mim — me encara magoado — não importa mais.
— Confio se você fizer o mesmo comigo. Chega de meias verdades
Black, seja sincero, quem é essa mulher?
Ele bebe a dose de uísque, bate o copo na mesa e levanta caminhando
impaciente.
— Ela é uma pessoa normal, não faz parte do mundo em que vivemos
— senta balançando as pernas — nos conhecemos na faculdade. Ela é
enfermeira e mora com a mãe e o irmão mais velho.
— Estão juntos desde a faculdade?
— Não, foi um pouco depois — suspira — nos reencontramos e
começamos a ficar — dá de ombros — encurtando a história — me encara
sério — eu terminei com ela no dia que assinei o contrato de casamento. Não
vou mentir e dizer que não a amo mais, ela continua aqui — aponta o coração
— mas as coisas que aconteceram nos últimos meses, as verdades sobre a
Josephine e a Rebeca — levanta retornando a andar — estão me fazendo ver
sua irmã de outra forma e eu juro, não tenho mais raiva dela por causa da
relação de vocês.
As preocupações não me deixam, mas é bom saber que ele não se
relaciona com outra tendo um compromisso com a Josephine.
— Josephine não é a razão de você terminar com a outra mulher.
Somos homens de honra e temos nossas obrigações. Você não pode ressentir
a minha irmã por causa do casamento.
— Eu sei! — ele rosna. — Entendo toda essa merda, não precisa
repetir — bufa — não vou deixar meu relacionamento passado atrapalhar
meu casamento com a Josephine. Eu te prometo.
— Não magoei a minha irmã — peço, levanto tocando seu ombro —
vou torcer por sua felicidade.
— Eu sei — suspira — mas é difícil para cacete ficar longe dela — a
mágoa em sua voz me deixa triste. — Principalmente com ela precisando de
mim — encara as unhas — a mãe dela descobriu um câncer de mama em
estágio três — engole em seco — e eu não posso estar lá por ela. O irmão é
problemático e não serve de porra nenhuma — inspira. — Ela não merecia
sofrer. Ela é uma mulher incrível, amável e doce.
— Eu enlouqueci quando achei ter perdido a Daisha — o abraço firme
— sei como você se sente. Queria saber como te ajudar.
— Poder ser sincero com você me ajudou — suspira — prometo não
magoar a Josephine.
— E não se destrua no processo — o encaro triste — dar uma chance
a minha irmã pode ser o que você precisa para curar seu coração.
— Meu coração não está sofrendo por causa de um amor, Kai. É a
tristeza pela doença de uma mulher incrível e a desolação acometida a sua
filha, precisando enfrentar sozinha essa tragédia. Josephine nunca saberá
sobre elas e espero que você não conte nada.
— Não irei, mas estou aqui se precisar de mim.
— Talvez você possa ir comigo as visitar — dá de ombros — não
quero ficar sozinho com ela, mas não aguento a deixar sofrendo.
— Vou sim — aperto seu ombro.
— Obrigado — suspira — eu preciso ir, estou voltando para o Texas.
— Quando retornar será seu noivado.
— Certo, voltarei o mais breve.
— Se cuida — bato em seu ombro.
— Você também — retribui o toque saindo do escritório.
Eu quero acreditar no Black, que ele será capaz de ficar longe dessa
mulher e não descontará suas frustrações na minha irmã. Vou ficar de olho no
relacionamento deles e garantir que nada respingue na Josephine.
Eu demorei para acordar para a realidade, agora que o fiz protegerei
minha irmã e esposa. Cuidarei da minha família, vou garantir que nunca falte
amor e felicidade para ambas.

— Finalmenteeeeeeeeeeeeeeeee — abro os braços prolongando o “e”


na fala tamanha a minha alegria. Fecho a porta do carro, ouvindo o Kai fazer
o mesmo.
— Como é poder mover os dois braços novamente? — Kai pergunta
rindo fechando a garagem.
Acabei de retornar da minha última sessão de fisioterapia. Os últimos
meses foram cruéis, o gesso coçava demais, depois de o retirar precisei
continuar usando uma tala e fazendo as sessões de fisioterapia para recuperar
o movimento do braço. Meu corpo doía, minha alma não aguentava mais os
esforços diários e a impaciência de não poder usar a mão direita.
No sexo não podíamos pegar pesado e deixamos de lado todas as
fantasias por meses. Eu amo os orgasmos que o Kai me dá, mas nada se
compara quando sou completamente rendida por ele, o obedecendo e
chamando meu homem de mestre enquanto me entrego a ele sem ressalvas.
O lado bom de encontrar a liberdade no meu casamento é conseguir
confiar no meu marido para poder o deixar completamente no controle,
confiando a minha segurança e corpo a ele sem uma gota de medo ou
hesitação.
— Um paraíso — giro nos calcanhares, agarro a borda da sua jaqueta
— precisamos fazer sexo selvagem para comemorar.
— Tem um lugar que estou há meses querendo te comer nele —
arqueia o canto da boca em um sorriso lascivo.
— Diz que é na moto — pulo abraçando sua cintura com as pernas e
os braços ao redor do pescoço.
— Você leu meus pensamentos — recebo a mordida no lábio com um
gemido satisfeito.
— Por isso estou de vestido — arqueio a sobrancelha, enfio a língua
me deliciando com sua boca. Fecho os olhos imergindo no gosto do Kai. Eu o
amo tanto.
— Gata, você é perfeita para mim — a mão áspera envolve minha
bunda enquanto ele caminha com a boca presa a minha. A calcinha é partida,
queimando minha pele pelo atrito ao ser puxada.
— E você para mim — respondo suspirando pesado.
Minha bunda encosta no tanque frio da moto do Kai. Seguro seus
ombros enquanto ele passa a perna ao redor da cela montando. O volume na
sua calça me deixa com água na boca. Agarro o cinto puxando para fora. Kai
aperta meu pescoço me forçando a encostar a cabeça no guidão. Sua mão
livre sobe puxando meu vestido, enrolando na coxa. A boceta completamente
exposta para seus dentes ferozes.
— Ah! — Grito agarrando seu cabelo, sua a boca faminta envolve
meu núcleo necessitado.
A moto balança com o movimento, sinto o Kai firmando os pés no
chão com força, agarra minha cintura com a mão que estava no pescoço e a
outra segura minha coxa me mantendo completamente aberta. Apoio a sola
dos pés em suas coxas grossas me equilibrando. Agarro o guidão mantendo o
tronco firme.
Arfo, gemo, controlo o quadril para não mexer enquanto sou devorada
pela boca do meu marido. A língua brinca com o botão do meu clítoris
puxando a pele sensível, sugando com os lábios e depois esfregando a ponta
afinada da língua no meu ponto sensível me fazendo delirar, ebulir em calor.
— Deixa seu cheiro na minha moto — Kai rosna puxando meus
ombros me forçando a sentar, a boceta contra o material gelado, reviro os
olhos pelo choque térmico delicioso quase gozando.
— Você lavou ela hoje — lembro, segurando em seus ombros e
rebolando contra a superfície fria, mais um pouquinho e gozo.
— E agora preciso do seu perfume — esfrega o queixo na minha
bochecha, capturando minha boca com a sua. Ele mete dois dedos no meu
canal alisando o pontinho sensível da minha extremidade. Tremo agarrando
firme seus ombros enquanto a tempestade deliciosa do orgasmo me domina.
— Deita, vou comer sua boceta — a rouquidão da sua voz me deixa
sensível por dentro.
Empurrada pela sua mão agarrada ao meu pescoço caio para trás,
apoio a cabeça no painel da moto. Ergo os braços agarrando o guidão com
firmeza. Arfo ao ver o Kai se levantando, mantendo a moto equilibrada pela
força das pernas. Ele veste uma jaqueta de couro e calças do mesmo material,
a camisa é uma regata marcando o peitoral sarado.
Ele puxa o botão da calça, abaixa um pouco e enfia a mão dentro
trazendo para fora seu poderoso pênis enorme. A cabeça robusta resvala
minha boceta espalhando meu creme por toda a região. Ele segura minha
cintura com ambas as mãos e empurra.
Reviro os olhos, agarro o guidão com força segurando meu corpo no
lugar enquanto o Kai começa a puxar seu quadril resvalando o pau no meu
interior e empurra socando forte novamente. Abro a boca gemendo, deixando
esvair um pouco do tesão arrebatador me consumindo por dentro. Aperto os
pés contra sua coxa, contraindo os dedos, tremendo as pernas em espasmos
deliciosos sentindo correntes elétricas de prazer percorrendo cada uma das
células do meu corpo.
— Te foder na minha moto é a coisa mais erótica que existe — ele
rosna agarrando forte minha cintura — você fica fantástica de boceta
arreganhada recebendo meu pau, toda gulosa precisando ser fodida por mim.
— Sim, mestre. Mete forte na sua mulher — peço manhosa — eu
estava morrendo de saudades do senhor.
— Aperta meu cacete, gata — ele ordena e eu obedeço feliz.
Pois sempre será assim com o Kai.
Uma entrega completa de corpo e alma, não existe nada nos
restringindo, impedindo ou causando dor. Somos um do outro por toda a
eternidade perdidos no prazer do amor.
Contraio a vagina tornando escasso o espaço para seu pau o forçando
a entrar com mais força batendo contra o fim do meu canal. Curvo para a
frente não aguentando a deliciosa sensação acumulado, crescendo em meu
ventre, precisando ser liberta. Aperto as pálpebras, ranjo os dentes, arfo
prendendo o ar ao ser atingida por um orgasmo destruidor das minhas forças.
Minhas pernas caem fazendo o equilibro da moto balançar. Kai age
rápido segurando minhas coxas puxando para cima. Ele soca veloz, a moto
anda para a frente, eu a sinto bater contra a parede segundos antes do Kai
rosna como um animal descontrolado esporrando no meu canal. Sugo todo o
seu gozo com a vagina, respirando pesado, adorando a imagem do meu
homem satisfeito por gozar.
— Isso foi muito bom — sem dificuldade ele me ergue em seu colo
— mas acho que quebrei o farol — ri culposo, o acompanho, viro a cabeça
percebendo o farol contra a parede e uma pequena rachadura.
— Você conserta. — Beijo seu queixo.
— Pode ter certeza — envolvo as pernas em seu quadril, ele apoia a
mão na moto passando a perna pela cela descendo. Comigo em seus braços
ele coloca a moto no lugar e analisa o prejuízo, acabou sendo somente um
trincado pequeno.
— Ela vai sobreviver — eu digo.
— Minha moto é uma guerreira.
Kai passou um bom tempo arrumando os arranhões na moto após meu
acidente. E mais tempo ainda andando de carro comigo, por eu não conseguir
subir na moto com o braço latejando em dor por causa da posição sentada.
Ele tem lidado bem com a claustrofobia e hoje ela mal o assombra, lugares
fechados não são mais inimigos do meu marido. Eu me orgulho dele por cada
conquista.
De nós dois.
— Quer ir para o quarto? — pergunto.
— Com certeza.
Por toda a minha vida eu senti correntes aprisionando a minha alma.
Hoje eu posso sorrir feliz e aliava por ter conseguindo romper tudo que me
aprisiona, por ser feliz com o meu marido. A única coisa que existe nos
mantendo um ligado ao outro é o fio vermelho do amor envolvendo nossos
corpos e almas, transbordando os sentimentos de um para o outro.
Meu casamento se tornou o caminho da minha doce liberdade.
Eu amo o Kai e não mudaria nada da nossa história. Chegamos ao
campo de flores após atravessar a terra seca e sei que em breve nossa
felicidade ficará ainda maior.
Eu e ele, para sempre.
EPÍLOGO KAI

Algum tempo depois

Giro a maçaneta da porta entrando em casa. Brandon corre apressado


descendo as escadas indo na direção da cozinha. Ele não nota a minha
presença e o meu som preferido no universo atinge meus ouvidos me dizendo
o que elas precisam. Sorrio subindo as escadas pulando os degraus.
O som ficando cada vez mais alto, meu coração bombeia rápido como
tambores mal sendo capaz de conter a felicidade de chegar em casa após um
longo dia de trabalho, abrir a porta do quarto e encontra minha esposa de
cabelos bagunçados e o rosto na barriga da Janine que rir escandalosamente.
Ao seu lado, June gargalha puxando os cabelos da mãe.
— O papai chegou! — Grito abrindo os braços.
Os rostinhos pequenos viram rápido na minha direção, o sorriso delas
três alimenta a minha alma, aquece o meu ser me fazendo correr para a cama
e pular, as três gritam ao sentirem o colchão mexer. E as pequenas não
perdem a oportunidade de pularem em cima de mim.
— Aaaaaaaah! — Janine morde meu nariz enquanto June abocanha
meu queixo. Gritando as únicas letras que elas sabem pronunciar “a” e “e”.
— Eeeeeeh!
Os dentes delas começaram a crescer há uma semana e ambas estão
por uma fase horrível de choro intercalado com risos e muita bagunça pela
casa. Com seis meses as gêmeas são nossa completa alegria. Os cabelos
pretos e lisos como o da mãe e os olhos azuis como o oceano, são uma cópia
perfeita da Daisha, e eu amo minhas meninas por serem iguais à mãe.
— Bem-vindo amor — Daisha beija meus lábios quando a Janine
solta meu nariz — elas estavam chorando há poucos minutos, o coitado do
Brandon não aguentou e desceu para pegar as mamadeiras.
— Ele tenta ser uma boa babá — brinco.
Desde o acidente Brandon tem estado muito protetor em relação à
Daisha. Por um tempo ele se culpou pelo que aconteceu, mas conseguimos
limpar sua alma quanto a tragédia. Ao descobrir sobre a gravidez o homem
assumiu a tarefa de babá e tem ajudado a Daisha com as meninas, as gêmeas
são muito espertas e brincalhonas, sempre estão no colo, agitadas e levando
alegria a quem as conhece.
— Trouxe a mamadeira — Brandon entra segurando duas mamadeiras
— o senhor Lucian chegou, vou iniciar minha folga — deixa as mamadeiras
na mesinha e sai. Rio pelo pavor no rosto do homem.
— Elas choraram muito? — encaro a Daisha.
— Sim, só consegui as acalmar quando deixei que puxassem meu
cabelo e fazia cócegas nelas com o nariz.
— Quem quer cosquinha do papai? — Pego a June a erguendo para
cima. Ela ri sacudindo as perninhas gordinhas no ar e batendo as mãos me
deixando ouvir o delicioso som da sua gargalhada. Um fio de baba escorre
manchando minha camisa.
— Aaaa! — Janine grita, sua mão gorducha desce contra meu rosto
me dizendo estar com ciúmes e querendo atenção.
— Tem papai para você também, ciumentinha — entrego a June a
Daisha e pego a Janine a erguendo na frente do rosto, baixo seu corpo
fazendo cócegas nela com meu nariz e a levanto novamente.
Ela se acaba de rir balançando as pernas e fazendo sons. June começa
a querer ficar em pé no colo da mãe. Levanto da cama com a Janine em um
braço e pego a June em outro. Agachando e levantando para ambas poderem
se divertir. Elas gargalham alto batendo as palmas das mãos e tentando mexer
as pernas.
— Mantém elas aí enquanto vou no banheiro — Daisha corre
desaparecendo pela porta.
Analiso minhas filhas amando ver o brilho alegre em seus olhos azuis.
Elas nasceram de parto normal e Daisha quase enlouquece de tanta dor, não
queríamos induzir o parto e nem fazer uma cesária, a médica concordou, as
meninas são gêmeas idênticas e estavam se desenvolvendo bem. Foram
longas horas e no final nossas princesas nasceram saudáveis pesando 2 quilos
e 800 gramas cada uma.
Nossa família tem dificuldade para distinguir uma da outra,
principalmente se elas usarem roupas combinando como hoje. Cada uma
veste um vestido preto de bolinhas, um laço branco na cabeça e meia-calça
branca, os pés descalços. Para mim sempre foi fácil saber quem era quem,
Daisha também não teve dificuldades, as pulseirinhas com os nomes serve
mais para os outros não as confundir.
Minhas meninas possuem as bochechas rechonchudas, sobrancelhas
delicadas e o mais lindo sorriso do mundo, com olhos azuis intensos e felizes.
São extremamente amorosas, fofinhas e alertas. Aos 3 meses descobrimos a
fórmula para fazer elas dormirem de noite quando choram impacientes, andar
de moto no complexo, acalma elas em menos de 1 minuto e eu amo saber que
elas gostam de estar na moto comigo.
Temos usado bastante esse método nos últimos dias.
Janine adora chupar os dedos, ela é mais risonha e sempre tem um
brilho sapeca nos olhos, é mandona e se emburra fácil, foi a primeira a
nascer. Com cinco minutos de diferença June veio ao mundo berrando alto,
ela tem uma voz poderosa, é o carisma em pessoa e sempre abraça a irmã
quando dormem, June é mais tranquila, tem um brilho curioso no olhar e
sempre quer levar as coisas a boca para descobrir o que é.
Canso as pernas com a brincadeira e Daisha volta do banheiro
sorrindo alegre, mordendo os lábios. Ela tem alguma coisa para me dizer. As
meninas abrem o berro ao verem a mãe pedindo colo e isso só pode significar
que está na hora de mamarem. Daisha pega as mamadeiras e deita na cama,
sento de frente para ela.
— Vem aqui gulosinha da mamãe — Pega a Janine impaciente para
mamar e a coloca no peito.
— Você fica com o papai — aperto o nariz da June ganhando um
sorriso fofinho.
Dou a mamadeira a June enquanto Janine mama agarrada ao peito da
Daisha. Ela seca o peito esquerdo e continua pedindo por leite. June acaba a
mamadeira e ameaça chorar.
— Hora da troca — eu digo.
— Elas sugam meu leite e o da mamadeira como dois dragõezinhos
— pega a June enquanto seguro a Janine.
— Ainda bem que você tem um grande estoque acumulado — brinco
me referindo aos peitos grandes e inchados pelo leite.
— Bobinho — tenho certeza que ela me chamaria de babaca se não
fosse as meninas. Pisco ganhando seu sorriso lindo.
Repetimos o processo inverso. Desde novinhas damos de mamar a
elas assim, eu me sinto conectado com as minhas meninas de uma forma
sobrenatural. Participo de cada pequeno momento da vida delas, e dar de
mamar com a Daisha é sublime, um prazer e felicidade sem igual.
— Hora de arrotar — Daisha mal termina de falar e June arrota em
seu peito. Gargalho.
Coloco Janine apoiada com a cabeça no meu ombro batendo de leve
em suas costas, ela arrota alto e ri pelo som.
— Será que hoje elas dormem fácil? — Daisha pergunta encarando o
relógio, já são 20 horas e as meninas capotam de sono a essa hora.
— Espero que sim, estou morto — assumo — o dia foi difícil.
— Muito trabalho?
— Além da conta — inspiro o cheiro de bebê da Janine — nada mais
importa quando eu as sinto nos meus braços.
— Nossas princesas são lindas — ela sorri para mim.
— Igual à mãe.
— E ao pai, ele também é um gatinho.
Pisco para ela contendo a indecência que passa na minha mente.
Janine começa o choro e June a acompanha. Sabendo o que temos de
fazer, suspiro deixando o quarto ouvindo o berro de ambas. Seguimos para a
garagem, aperto o botão abrindo o portão, com cuidado subo na moto,
acostumado a fazer isso.
Com uma mão seguro o acelerador e a outra mantenho a Janine firme
contra meu tórax, ela apoia as perninhas no tanque da moto e bate as mãos no
meu antebraço indicando que devo andar logo. Daisha segura no meu ombro
subindo atrás de mim, sinto as costas da June nas minhas. Daisha sempre
deixa a June virada para ela a segurando com ambos os braços.
Ligo a moto, equilibro com facilidade e saio para as ruas do
complexo. Depois de um tempo ficou fácil aprender como equilibrar as
minhas garotas para não caírem. O vento bate em meu rosto e no da Janine
que começa a pender a cabeça para a frente menos de cinco minutos depois
de sairmos.
— Essa aqui já dormiu — Daisha diz.
— Janine está quase.
Continuamos andando como fazemos todas as noites. Esse momento
com a minha família é um dos preciosos segundos que guardo no meu
coração. O mundo pode estar desabando do lado de fora, enquanto eu as tiver
comigo tudo ficará bem e em paz.
Janine dorme e volto para casa, elas não acordam ao descermos e nem
quando são colocadas no berço. June imediatamente procura pela irmã
abraçando a Janine pelas costas. Sorrio, me inclino beijando ambas.
— Boa noite princesas do papai.
Daisha se inclina beijando as meninas e sussurra:
— Boa noite, minhas vidas.
Seguro minha esposa pela cintura a puxando para nosso quarto. Mal
passamos pela porta e ela pula no meu colo sorrindo feliz.
— Eu tenho algo para te contar.
— Pode dizer — sento na cama com ela no colo.
— Estou grávida — morde o sorriso.
— Quando eu penso que não posso ser mais feliz, você continua me
surpreendendo — beijo seus lábios deixando a felicidade explosiva estourar
no meu coração. Deito a Daisha na cama e repito o mesmo que fiz ao
descobrir sobre as gêmeas, levanto sua blusa encarando seu ventre. — Oi
meu bebê, o papai acabou de descobrir a sua existência, cresça saudável no
ventre da mamãe, eu te amo muito e estou contando os segundos para te
encontrar. — Beijo sua pele, uma pequena lágrima cai em seu ventre.
— Descobri hoje — ela fala rindo, com os olhos marejados, subo
beijando minha esposa nos lábios.
— Eu amo você e a nossa família — sussurro emocionado.
— Eu te amo muito, amo nossas filhas e sei que elas amam o pai —
alisa minha orelha — estamos fazendo um bom trabalho com elas e faremos
o mesmo com nosso bebê.
— Sim, elas vão crescer sendo amadas e amando.
Beijo minha esposa contemplando a felicidade de ser amado e ter uma
família amorosa para amar.

FIM
Agradeço a Deus por ter me permitido escrever esse livro e viver
todas as emoções que a Série Máfia Bianchi trouxe para a minha vida, pela
guinada que meu destino tomou ao conseguir estar vivendo o meu sonho,
trabalhando com a escrita.
Escrever Perseguida pelo Mafioso não foi fácil, tive uma crise de
tendinite horrível que me fez pausar a escrita e adiar o dia que eu planejava
lançar. Estava desesperada e sem saber o que fazer, foi quando o Senhor me
agraciou com um caminho para a cura. Através das mãos da Fada do Corpo,
Lucélia e do método Haguihara consegui encontrar uma cura para as dores e
pude continuar a escrita e finalizar essa história tão especial para mim.
Obrigada Lulu pelo tratamento, obrigada minha amiga Haglayne pela
mãe que você tem e o carinho que sua família sempre me recebeu. Obrigada a
minha mãe, Luzia e irmãos Isabelly, Priscila e Kauã por me acompanharem
nas sessões e ouvirem sobre minhas dores e preocupações sempre trazendo
conforto. Obrigada a meus pais, Vanderlan e Luzia por sempre vibrarem
comigo pelas conquistas dos meus livros, pelas minhas amigas maravilhosas
Jennifer e Iris por serem meu apoio especial.
Agradeço pela equipe maravilhosa que trabalha comigo,
principalmente a minha assessora Hylanna que me proporciona focar na
escrita enquanto você cuida de todo o resto para mim. Sou abençoada por ter
vocês e principalmente pelo meu grupo de leitoras.
O Isaverso é meu lugarzinho especial que sempre apareço para
recarregar minhas energias com a emoção das leitoras. Eu amo as teorias de
vocês, as sugestões e principalmente toda a bagunça que fazemos e já estou
preparada para fugir para uma ilha deserta após esse livro. Eu sei que vocês
vão me enlouquecer por Josephine e Black e espero ansiosa entregar eles a
vocês.
Até o próximo livro, um beijo enorme.
Chegou o momento de Josephine Lucian contar a sua história e de
Black Bonnarro mostrar quem ele é de verdade.
Black e Josephine - O 4 livro da Máfia Bianchi.

EM BREVE!
Intocável para o Mafioso
Primeiro Livro da Máfia Bianchi

Hope Bonnarro é filha do Capo de maior influência da Máfia Bianchi,


organização que domina o submundo dos Estados Unidos. Ela cresceu
seguindo três regras: não pode se apaixonar, casar ou chamar a atenção em
troca conseguiu a liberdade para cursar Medicina na universidade. Um ataque
ao comboio que faz a sua proteção coloca a vida de Hope em risco quando
seu irmão é gravemente ferido e seu pai não pode ir resgatá-la.
Michael Bianchi é o próximo Chefe e precisa de uma aliança com o
Capo Bonnarro, quando a oportunidade surge ele faz uma oferta, o resgate de
Hope em troca dela ser sua esposa. Sem saída Bartolomeu Bonnarro aceita o
pedido. Michael é habilidoso ao resgatar sua futura noiva, levando-a para a
segurança do seu território, mantendo em segredo o acordo de casamento, a
pedido do Bartolomeu.
Hope sabe que Michael esconde alguma coisa dela e enquanto tenta
manter as promessas que fez a sua família, escondendo os terríveis segredos
que podem causar a destruição dos Bonnarro, ela terá de lidar com o charme
imbatível e humor sombrio de Michael Bianchi. Um homem sedutor que não
está disposto a esperar que Bartolomeu conte a verdade sobre o acordo à
filha, antes de provar os doces lábios de sua noiva.
Entre segredos, brigas, sedução, mistérios e a construção de uma
relação que pode se transformar em algo mais, os inimigos que querem
capturar Hope não cessam a sua perseguição.
Michael Bianchi está disposto a varrer o país destruindo a todos que
ousem tocar em sua noiva, pois Hope Bonnarro é intocável para o mundo e
pertence somente a ele.
(Clique aqui para ler agora!)
Apaixonada pelo Mafioso
Segundo Livro da Máfia Bianchi

Daniel Griffin foi criado e forjado para ser o melhor Consigliere da


Máfia Bianchi. Sombras, caos, ódio e destruição são os rastros deixados por
onde passa. Um homem sem emoções, insensível e cruel em sua forma pura,
ele não pretende mudar, gosta de quem é e as coisas terríveis que faz, o
divertem.
Existe uma única exceção em sua vida sombria: Emily Bianchi.
Daniel se recusa a casar com Emily e fará de tudo para a proteger de si
mesmo, inclusive negar a vontade de que ela seja sua. Colocando em risco
sua posição como consigliere e gerando disputas pelo cargo com os irmãos
ambiciosos e dispostos a tudo para vê-lo cair.
Emily Bianchi cresceu em meio ao sofrimento imposto por seu pai e
jogada em um poço sem esperanças. Ela não tinha mais vontade de continuar
vivendo, até ele aparecer.
Emily se apaixonou por Daniel e por anos nutriu a vontade de ser
dele. Determinada a ter seu anseio realizado, ela lutará com todas as armas
para fazer Daniel casar-se com ela, mesmo que para isso ela precise quebrar
um tabu da Máfia. Astuta, convicta e pronta para jogar sujo, Emily fará
Daniel perceber que ela pode dançar ao seu lado em meio ao caos.
(Clique aqui para ler agora!)
Não tenho palavras para expressar o quanto essa história mexeu
comigo.
Admito que não era muito fã do Kai quando a série me foi apresentada
pela Isa, mas ele conseguiu conquistar o meu coração e fazer morada nele.
Daisha também me surpreendeu muito e fico feliz em ver o quando
esses personagens cresceram e evoluíram no decorrer da escrita deste livro.
Isadora tem todo o meu carinho e admiração pelo excelente trabalho, e
mais uma vez agradeço por poder fazer parte desse momento incrível.
Queridos, leitores, espero que Kai e Daisha tenham conquistado o
coração de vocês como fizeram comigo.
E agora vamos para a minha tão esperada Josephine, não vejo a hora
de iniciar a betagem do livro dela.
Beijos e até breve!
Hylanna Lima
Isadora Almeida é uma autora nordestina que com persistência e
força conseguiu realizar seu maior sonho, ter um livro publicado na Amazon
para várias leitoras poderem ler, se apaixonar e pedirem por mais. Pisciana,
sonhadora e com uma vontade louca de escrever, ela promete trazer cada vez
mais histórias apaixonantes, reflexivas e comoventes para suas leitoras.
Siga a autora em sua rede social para saber todas as novidades.
@autoraisadoraalmeida
Por favor, deixe sua avaliação, ela é muito importante e irá me ajudar
a melhorar como autora. Muito obrigada!

Beijos,
Isadora Almeida

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