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Puerpério e atuação da fisioterapia no puerpério

O puerpério é definido como o período do ciclo gravídico- • Sangramento loquial (menos volumoso e menor
puerperal em que as modificações provocadas pela gravidez duração);
e parto no organismo da mulher retornam ao seu estado • Efeitos colaterais da anestesia;
pré-gravídico, tendo seu início após o parto com a expulsão • Prisão de ventre/constipação (ilíoparalítico – lesão
da placenta e término imprevisto, na medida em que se de alça abdominal - evacuação é parâmetro de
relaciona com o processo de amamentação. alta);
• Dor/edema abdominal;
1. Puerpério imediato 1º ao 10º dia – mudanças mais • Edema de MMII importante;
intensas e condições agudas; • Aleitamento relativo;
2. Puerpério tardio 11º ao 45º dia – fim do resguardo; • Menor mobilidade.
3. Puerpério remoto após 45º dia.

*puerpério mediato: neste caso, acrescenta-se o puerpério SINAIS DE ALERTA NO PÓS-PARTO IMEDIATO
imediato sendo apenas as 2 primeiras horas pós-parto e o × Perda de sangue muito intensa
mediato as outras três classificações preexistentes. × Dor de cabeça muito forte ou prolongada;
× Dispneia;
Nenhum puerpério é igual de uma gestação para outra,
× Dor no peito;
assim como de mulher para mulher.
× Dor na panturrilha;
× Pensamentos negativos;
PARTO NORMAL (NATURAL)
× Comportamento fora do comum em geral;
Hormônios pós-parto imediato: aumento da ocitocina × Febre alta (sinal de infecção - coreoamneíte)
(lactação, vínculo mãe-bebê, promoção da dequitação e
prevenção de hemorragia) e prolactina (lactação), queda RESPOSTAS CORPORAIS LOCAIS NO PÓS-PARTO
brusca de estrogênio e progesterona;
VAGINA
✓ Rápida recuperação geral;
→ Imediato: edemaciada e congesta; o
✓ Curto tempo de hospitalização (48h);
hipoestrogenismo leva à hipotrofia (normal);
✓ Aleitamento eminente.
Após a 3ª semana começa a reaparecer rugosidades na
QUADRO PÓS-PARTO IMEDIATO parede vaginal.
• Prostração; Relações sexuais são permitidas 6 semanas após o parto para
• Fadiga; que ocorra recuperação vaginal, independente da via de
• Calafrios (perda abrupta de sangue); parto.
• Sangramento loquial (ferida placentária – regulação
de volemia); ÚTERO
• Aleitamento imediato;
Involui rapidamente (0,7cm por dia aproximadamente);
• Deambulação;
• Ardor perineal; → Imediato: 1kg/17cm
→ 1ª semana: 500gr/10 a 15cm
PARTO CESARIANA
Peso do útero decresce aproximadamente 1kg para 60g após
✓ Parto cirúrgico de grande porte via abdominal;
6 a 8 semanas.
✓ Indicado na impossibilidade de parto natural;
✓ Pode ou não ter início de trabalho de parto; LÓQUIOS (duram 20-30 dias)
É interessante que se inicie o trabalho de parto
para que os hormônios pós-parto imediato → 1-3º Dia: hemáticos;
aumentem. → 8º a 15º: sero-hemáticos ou sero-sanguinolentos;
✓ Maior tempo de hospitalização; → 15-20º: serosos
✓ Maiores necessidades de auxilio em geral. → 20º: pastoso (fim do processo de involução do
endométrio)
QUADRO PÓS-PARTO IMEDIATO
MAMAS (secreção láctea)
• Incisão cirúrgica ou FO;
• Sonda uretral (24h); → 1º colostro (3-4 dias): rico em anticorpos e lipídio
para início de defesa e metabolismo;
→ Cerca de 15 dias: leite transicional (aumento de bexiga. A retenção urinária vesical no puerpério imediato é
caseína e glicose, sendo de acordo com as frequente, podendo ser agravada pela incapacidade (atonia)
necessidades do bebê); esfincteriana devido aos tocotraumatismos, lesões da
→ Após 15 dias: leite maduro/definitivo. uretra, do meato e do vestíbulo.

ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA
RESPOSTAS CORPORAIS SISTÊMICAS NO PÓS-
PARTO
CALAFRIOS: surgem 15 a 20 minutos após a dequitação ANAMNESE
(saída da placenta), com duração variável, decorrentes da • Tipo de parto (e tempo);
estafa muscular, resfriamento corpóreo e alterações • Antecedentes obstétricos/cirúrgicos e familiares;
circulatórias; • Condição da puérpera (nível de mobilidade e atividades
funcionais);
TEMPERATURA CORPORAL: aumento de até 38°C no 1°dia
• Hábitos fisiológicos (ingesta hídrica/diurese/evacuação/
decorrente de lesões tissulares, absorção de produtos
flatos);
tóxicos e invasão bacteriana dentro da circulação materna
• Condição de FO ou do períneo (dor, desconforto, EVA).
nas primeiras 72 horas do pós-parto. A persistência da
temperatura elevada indica possível presença de infecção;
EXAME FÍSICO
COAGULAÇÃO: estado de hipercoagubilidade com intuito de
• Sinais vitais (PA, FC, SpO2)
evitar a hemorragia uterina após o parto que favorece uma
• Avaliação respiratória;
predisposição a trombose. Aos 3 a 5 dias pós-parto, há um
• Avaliação abdominal:
aumento considerável de adesividade das plaquetas.
o Palpação: deperessibilidade/rigidez; pontos de
ENDÓCRINO: queda abrupta dos hormônios placentários. dor; sensibilidade; fundo de útero;
Com início da sucção mamária, elevam-se os níveis de o Percussão: som (timpânico, submaciço,
prolactina e ocitocina (elaboração e a ejeção de leite). Na maciço);
ausência de lactação, após seis semanas do parto, dará início o Ausculta: ruídos hidroaéreos
a função menstrual com o retorno das gonadotrofinas presente/ausente/diminuído (seguindo o
hipofisárias. trajeto da alça intestinal por 5 s)
• Testes relacionados a TVP;
CARDIOVASCULAR: com a expulsão do feto e a saída da • Avaliação da FO: laceração ou incisão cesárea
placenta ocorre importantes variações hemodinâmicas. O 24 h – ferida oclusiva
diafragma e o coração voltam as condições anatômicas. O o Condição da incisão: seco hematomas, edema,
volume sanguíneo retorna ao normal dentro das primeiras alteração de sensibilidade;
seis semanas do pós-parto. O débito cardíaco sofre aumento • Avaliação perineal (integridade física e funcional) - parto
em consequência da modificação do retorno venoso, normal;
regularizando a pressão arterial. o Inspeção de AP – laceração visível, pontos,
edema de grandes lábios, pequenos ou vulva,
RESPIRATÓRIO: tendência ao retorno do padrão respiratório
hematomas, alteração cutânea, solicita
costodiafragmática devido a descompressão do diafragma.
contração sustentada;
DIGESTIVO: retorno das vísceras ao seu sítio anatômico. Há o Palpação – edema, rugosidade, volumes;
ainda redução da motilidade intestinal, em razão da o Tosse – analisa contração involuntária;
amamentação. O relaxamento da musculatura abdominal e • Avaliação de possíveis edemas (perimetria);
perineal, assim como a episiotomia podem levar à • Avaliação de queixas álgicas (lombar, quadril, púbis).
dificuldade a evacuação.
ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA IMEDIATA
MUSCULOESQUELÉTICO: as alterações provocadas pela
gestação, progressivamente desaparecem. Admite-se que o PARTO NATURAL
discreto aumento da cavidade pélvica persistirá, assim como
 Posicionamento;
o diâmetro lateral do tórax. Os efeitos da relaxina nas
 Deambulação;
estruturas e ligamentares, podem levar até dois anos para
 Analgesia geral;
serem removidos.
 Cuidado perineal;
URINÁRIO: após o parto há edema e hiperemia vesical,  Aleitamento (enfermagem).
ocorrendo maior capacidade e relativa insensibilidade da
PARTO CESÁREA 150 minutos de atividade aeróbica de intensidade moderada
por semana, que poderão ser divididos na prática de 30
 Posicionamento; minutos de exercício em 5 dias da semana ou em sessões
 Analgesia em FO; menores de 10 minutos ao longo de cada dia.
 Estimulação inguinal;
 Estímulo intestinal; A depressão pós-parto é um problema importante, e sua
 Estímulos respiratórios; prevalência varia entre 3,5-33% em mulheres ocidentais.
 Aleitamento (enfermagem). Onde um fator de motivação para prática de exercício físico
surge, diretamente relacionado com a diminuição dos
números de casos de depressão pós-parto.
FISIOTERAPIA NO PUERPÉRIO IMEDIATO/MEDIATO
(1º AO 10º DIA)  Pós-parto normal: 2-4 semanas
 Posicionamento que favoreça reestabelecimento de  Pós-parto cesariana: 6-12 semanas
postura, circulação venosa e linfática e o períneo;  Progressivo*
 Estimular o sistema circulatório com movimentos
passivos/ativos; AMAMENTAÇÃO
 Promover reabsorção de edemas;
❖ Momento multiprofissional
 Exercícios respiratórios;
 Estimular saída do leito (deambulação precoce); CUIDADOS
 Analgesia geral/perineal/ FO (Crioterapia);
 Favorecer a motilidade intestinal;  Tomar sol nos seios em horários adequados
 Promover relaxamento muscular; (auxiliar na pigmentação da mama e prevenção de
 Promover orientações gerais; fissuras - horários de manhã ou final da tarde de 5
 Orientações quanto a contração de períneo em todos os a 10 minutos);
casos.  Usar hidratantes específicos nos seios durante a
gestação;
 Manipulação do bico do seio (casos de bico plano);
FISIOTERAPIA PUERPÉRIO TARDIO (11º AO 45º DIA)
 Usar sutiã de alças largas e boa sustentação
 Estimular as contrações do assoalho pélvico; (circulação homogênea da mama);
 Estimular sistema respiratório e circulatório  Limpar o bico do seio antes e depois de cada
ativamente; mamada com gaze e água;
 Promover percepção corporal (postura);  Cobrir o seio somente após o bico estar seco;
 Promover tônus para musculatura abdominal e de  Drenagem dos ductos quando necessário;
membros superiores;  Conduta de drenagem durante o banho.
 Promover o condicionamento físico moderado;
 Promover melhora de flexibilidade; ➢ Possíveis complicações da amamentação:
 Retorno aos exercícios pré-gravídicos- gradual;
 Retorno ao peso pré-gravídicos.

FISIOTERAPIA PUERPÉRIO REMOTO (APÓS 45º DIA)


 Treinamento do assoalho pélvico;
 Retorno as atividades sexuais (orientações);
 Promover percepção corporal;
 Retorno a atividade física pré-gravídica- gradual;
 Incentivar retorno as atividades gerais pré-gravídicas;
 Incentivar condicionamento cardiorrespiratório; POSSÍVEIS DISFUNÇÕES NO PUERPÉRIO
 Desenvolver trabalho de flexibilidade, resistência, ➢ Disfunção sexual: os tipos de disfunção identificados
coordenação motora; com maior frequência foram a dispareunia (dor na
 Retorno ao peso pré-gravídicos- gradual. relação sexual), seguida do vaginismo, disfunção do
desejo e excitação;
ACOG ➢ Distúrbios urinários: incidência de incontinência
urinaria no pós-parto de 10,5% e 12,3% no terceiro e
Segundo as recomendações do ACOG (2015), após o
sexto mês após o parto, respectivamente.
nascimento de um filho, a mulher deve praticar pelo menos
• Distúrbios intestinais: dificuldade de evacuação devido
a fraqueza dos abdominais;
• Veias varicosas: causada pela estase que ocorre pela
diminuição do retorno venoso na gravidez;
• Hemorroidas: que podem persistir após o parto;
• Lesão perineal: relacionado a laceração ou episiotomia
complicada;
• Diástase de reto abdominal: relacionado a fatores
posturais e funcionais;
• Dores: pélvicas de ordem musculoesqueléticas.

CASO CLÍNICO

Rosangela, 36 anos, G3C1P2A0 (3ª gestação, 1 cesárea, 2


partos normais, nenhum aborto), 18HPPNSESL (18horas de
pós-parto normal sem episiotomia e sem laceração),
tabagista, idade materna avançada, HG, DG.

o TVP, edema, avaliação pulmonar, PA, períneo

Andrea, 28 anos, G4CEP0A1, 28HPPOC (28 horas de pós-


parto operatório cesariano), OBG2 (obesidade grau 2), PEG
(pré eclampsia grave), hipertiroidismo, transtorno de
ansiedade.

o PA, analgesia da FO, estado emocional

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