Você está na página 1de 22

I.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa visou estudar o Poder Administrativo. Os poderes


conferidos à administração pública são instrumentos colocados à sua disposição para a
preservação dos interesses da colectividade. O Objecto de análise de renomados
administrativistas, os poderes administrativos assumem, para o administrador público, a
natureza de dever e seu exercício exige estrita observância aos limites estatuídos em lei.

1.1. Contextualização

A organização de um Estado Democrático de Direito institui os poderes administrativos


como prerrogativas, entendidos como ferramentas de trabalho para assegurar o bem
comum. Cada um dos poderes é conferido à Administração Pública para responder às
diversas demandas sociais de forma satisfatória.

Os poderes Administrativos são aqueles da administração pública para consecução de seus


interesses através disso visando o bem comum da colectividade, dentre eles estão os
poderes vinculado; discricionário; normativo; hierárquico; disciplinar e poder de polícia.

Os poderes da Administração são de natureza instrumental, isto é, surgem como


ordenamentos jurídicos para que o Estado possa preservar o interesse público, ou seja, da
colectividade, atingindo sua satisfação. Portanto, os poderes da Administração são
prerrogativas que ela possui para atingir a finalidade pública. Assim, os poderes da
Administração decorrem da supremacia do interesse público.

O uso desses poderes é um poder-dever, pois é por meio deles que se irá alcançar a
preservação dos interesses da coletividade. A administração tem a obrigação de utilizá-los
(e caso o administrador não use, ele pode ser penalizado). Logo, são irrenunciáveis. O
poder subordina-se ao dever, e assim, torna-se evidente a finalidade de tais prerrogativas e
suas limitações.

Se, no exercício desses poderes o administrador não buscar o interesse público, haverá
abuso de poder (na modalidade excesso de poder caso ultrapasse os limites de suas
atribuições, o que é vício de competência; na modalidade desvio de poder caso o agente
vise finalidade diversa que deve perseguir, o que é vício de finalidade).

1
As principais manifestações do poder administrativo encontram-se no poder regulamentar,
poder de decisão unilateral, poder de execução coerciva, poderes especiais do contraente
público nos contratos administrativos, poderes especiais das autoridades de polícia.

Deste poder administrativo surgem como corolários a independência da Administração


perante a Justiça e o foro administrativo - a entrega de competência contenciosa para julgar
os litígios administrativos não é dada aos tribunais comuns e sim aos tribunais
administrativos e subsiste por razões de especialização funcional e já não na lógica da
infância difícil do juiz-administrador.

Para a materialização dos objectivos específicos, foi feita a pesquisa bibliográfica e


consultas de sites na Internet.

2
1.2. Objectivos

1.2.1. Objectivo Geral


De uma forma genérica com esse estudo pretende-se estudar o Poder Administrativo na
Administração Publica.

1.2.1. Objectivos Específicos


Contextualizar o poder administrativo segundo vários autores;

Mencionar as características do Poder Administrativo mais comuns na


administração pública;
Classificar os poderes administrativos;
Identificar as manifestações e corolários do poder administrativo.

3
II. METODOLOGIA
De acordo com o (Prodanov & Freitas, 2013), a metodologia é a aplicação de
procedimentos e técnicas que devem ser observados para construção do conhecimento,
com o propósito de comprovar sua validade e utilidade nos diversos âmbitos da sociedade.
Consiste em estudar, compreender e avaliar os vários métodos disponíveis para a
realização de uma pesquisa académica.

2.1. Tipo de pesquisa


Lakatos & Marconi, (2001:183) definem pesquisa bibliográfica como sendo aquela que
abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema estudado, desde
publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses,
materiais cartográficos, etc. e sua finalidade é colocar o pesquisador em contacto directo
com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto.

Usou se o método bibliográfico e descritivo para mais aprofundamento do trabalho a


pesquisa foi exploratória e explicativa, pelo facto de ser um estudo pouco explorado e que
demonstrou a importância do envolvimento do poder administrativo no processo de
colecta. Com isso, Gil (2002), refere que em pesquisas de natureza exploratória, o
pesquisador tem em vista a familiarizar-se com o fenómeno, obter uma nova percepção a
seu respeito, ou a busca de maiores informações sobre este. Possui um planeamento
flexível, e é indicada quando se tem pouco conhecimento do assunto.
Para realização do presente trabalho recorreu-se a consulta de várias obras publicadas que
abordam sobre o poder administrativo na administração pública.

4
III. REVISÃO DA LITERATURA

A terceira parte teve como objectivo a apresentação das bases teóricas e conceptuais do
tema e analisar o poder administrativo na administração pública. Os conceitos e
perspectivas que foram abordados neste ponto servirão de suporte tanto para a definição
dos objectivos do trabalho, como para a sustentação da discussão no ambito da
apresentação do trabalho.

3.1. Definição de Conceitos

3.1.1. O Poder da Administrativo

Poderes Administrativos são elementos indispensáveis para persecução do interesse


público. Surgem como instrumentos (prerrogativas) através dos quais o poder público irá
perseguir o interesse colectivo.

Para Marcello Caetano (2001), um poder administrativo define de acordo com a lei a sua
própria conduta e dispõe dos meios necessários para impor o respeito dessa conduta e para
traçar a conduta alheia naquilo que tenha relação com ela.

Poder Administrativo é um sistema de órgãos do Estado e das entidades públicas menores


que se carateriza pela faculdade de, com base nas leis e sob o controlo dos tribunais
competentes, estabelecer normas jurídicas e tomar decisões em termos obrigatórios para os
respectivos destinatários, estando-lhe confiado o monopólio do uso legítimo da força
militar ou policial a fim de assegurar a execução coerciva quer das suas próprias normas e
decisões, quer das normas e decisões dos outros poderes do Estado. (Amaral, 2011)

Para exercer o poder administrativo, existem vários modos de exercício para as entidades
que integram a Administração Pública.
i. Em primeiro lugar, Diogo Freitas do Amaral destaca os regulamentos
administrativos, referindo que os órgãos administrativos competentes são
frequentemente confrontados com a necessidade de desenvolver os comandos
genéricos contidos na lei, com vista a possibilitar a sua aplicação às situações
concretas que ocorrem diariamente. Por vezes é o próprio legislador que pretende
que sejam os órgãos administrativos competentes a disciplinar certos tipos de

5
situações. Assim, a Administração Pública tem vias para editar regras de conduta
gerais e abstratas com fundamento na lei.
ii. Em segundo lugar, é de realçar o acto administrativo. Exemplificando, a
Administração por vezes também é solicitada a resolver situações específicas,
problemas individuais e casos concretos e para isso tem de tomar decisões. Quando
tal acontece, a Administração actua de forma diferente, pois já não edita as regras
de conduta gerais e abstratas, mas antes procede à aplicação da lei e dos
regulamentos às situações da vida real, atribuindo-lhes assim uma nova definição
jurídica já referida inicialmente nesta modalidade que se consubstancia na prática
de atos administrativos.
iii. Em terceiro lugar, Diogo Freitas do Amaral salienta o contracto administrativo,
referindo os casos em que as entidades administrativas, em vez de actuarem
unilateralmente impondo pela via de autoridade as suas decisões, celebram acordos
bilaterais entre si ou com entidades privadas. Como exemplo temos os casos em
que a Administração Pública assina com uma empresa privada um contrato de
empreitada de obras públicas, nestas situações terá de recorrer a esta modalidade do
contrato administrativo. Como outro exemplo temos o recrutamento de um
funcionário ou quando se dá a concessão a um particular um serviço público, uma
obra pública ou um bem do domínio público. Nestes e outros exemplos, a
Administração não faz normas gerais e abstratas, nem toma decisões concretas de
modo unilateral pois actua em colaboração com particulares na base de um
contrato.
iv. Por último, Diogo Freitas do Amaral refere a prática de meras operações
materiais. Aqui a Administração Pública pode actuar através da prática de meras
operações materiais, cuja característica comum reside no facto de não produzirem
alterações na ordem jurídica. É dado o exemplo das vezes em que a Administração
Pública procede às operações físicas de demolição de um imóvel que ameaçava
ruína (porque por hipótese o particular não acatou a ordem de demolição), realiza
um conjunto de operações que não alteram a definição do direito que foi feita em
momento anterior, através do acto administrativo que ordenou tal demolição. Outro
exemplo é dado relativamente às situações em que a Administração Pública resolve
promover um colóquio/conversa para proporcionar aos seus quadros uma melhor
formação técnica, realizando um conjunto de operações que não provocam

6
alterações na ordem jurídica. Em ambos os casos deparamo-nos com operações
materiais, contrariamente aos actos jurídicos.

Com isto conseguimos entender os quatro modos padrão de exercício do poder


administrativo, emergindo deles quatro teorias jurídicas: a teoria do regulamento
administrativo; a teoria do acto administrativo; a teoria do contracto administrativo e a
teoria da actividade técnica da Administração.

3.2. Uso e abuso de poder


O abuso de poder no Direito Administrativo se caracteriza quando qualquer uma das
espécies de poder é exercida de forma ilegítima ou ilegal. Em eventuais situações em que o
propósito de salvaguardar o interesse público não é atingido, causando prejuízos à
colectividade ou mesmo ao indivíduo, sem que a finalidade principal seja perseguida.
Ademais, o abuso de poder pode ser manifestado por simples omissão ou por acção
deliberada e fora da legalidade por parte do agente público.

E, basicamente, assume ainda duas formas: por desvio ou excesso de poder.


No que tange ao excesso de poder, é definido à medida que são extrapolados os limites
das atribuições e competência determinada legalmente ao agente público. Por outro lado,
haverá desvio de poder a partir do momento em que os agentes ou administradores
públicos deturpam a finalidade dos poderes administrativos, que visam à protecção do
colectivo. Quando se fala em excesso, tem-se o vício de competência; quando se fala em
desvio, há vício de finalidade.

Os órgãos e gestores públicos são os principais responsáveis por garantir que os direitos e
deveres de todos se cumpram no Estado Democrático de Direito. Portanto, qualquer acção
em que se configure abuso de poder é ilegal.

O desvio de poder pode manifestar-se em duas situações diferentes, a saber:

O agente público prática um acto visando interesses individuais, de carácter


pessoal, sem atentar para o interesse público. Isso pode ser feito em benefício
próprio ou de um amigo ou até mesmo na intenção de causar transtorno a um
desafeto seu ou de sua família. Nesse caso, há clara violação ao princípio da
impessoalidade.

7
A autoridade pública prática o acto respeitando a busca pelo interesse público, mas
não respeitando a finalidade especificada por lei para aquele determinado acto. Por
exemplo, a exoneração é a perda do cargo de um servidor público sem finalidade
punitiva, enquanto a demissão tem essa finalidade. Não é lícito ao administrador
exonerar um servidor subordinado que cometeu infração, porque foi desrespeitada a
finalidade legal para a prática do acto.

Enfim, seja em decorrência de excesso ou desvio de finalidade, o abuso de poder enseja a


nulidade do acto administrativo a ser discutida na esfera administrativa, por meio de
impugnação administrativa do acto ou mediante provocação do judiciário, em virtude do
poder que lhe é conferido de controlar a legalidade da actuação administrativa.

Conforme explicitado alhures, os poderes administrativos nada mais é do que o


instrumento concedido ao Estado e necessário à persecução do interesse colectivo. Sem
esses poderes, o ente público teria dificuldade em alcançar seu escopo. O seu uso é uma
prerrogativa conferida à Administração Pública e deve ser feito em conformidade com a lei
e em busca do benefício da colectividade.

Destaque-se que, se o exercício desses Poderes ultrapassar o carácter da Instrumentalidade,


ou seja, caso sejam praticados além dos limites do estritamente necessário à busca do
interesse publico, ocorrerá abuso de poder. Nesse sentido, Fernanda Marinela entende que
“É necessário grifar que o exercício dos poderes administrativos está condicionado aos
limites legais, inclusive quanto às regras de competência, devendo o agente público ser
responsabilizado pelos Abusos, sejam eles decorrentes de condutas comissivas ou
omissivas.”

Dessa forma, a doutrina aponta como abuso de poder situações nas quais a autoridade
pública pratica o acto extrapolando a competência legal ou visando uma finalidade diversa
daquela estipulada pela legislação. Ainda é importante ressaltar que o abuso de poder pode
decorrer de condutas comissivas – quando o acto administrativo é praticado fora dos
limites legalmente postos – ou de condutas omissivas – situações nas quais o agente
público deixa de exercer uma actividade imposta a ele por lei, ou seja, quando se omite no
exercício de seus deveres. Em ambos os casos, o abuso de poder configura ilicitude que
atinge o acto dele decorrente.

8
3.3. Características dos Poderes Administrativos
Podemos enumerar as seguintes características dos poderes administrativos:

i. Instrumentalidade: como acima mencionado os poderes administrativos são


instrumentos colocados à disposição da Administração para que esta atinja seus fins
institucionais, na busca e alcance no interesse público.
ii. Poder-dever: os poderes da Administração são dotados de um carácter
compulsório, ou seja, não tem o administrador a faculdade de exercer ou não os
poderes colocados à sua disposição, devendo sempre deles se utilizar.
iii. Irrenunciabilidade: essa característica decorre da natureza compulsória dos
poderes, e estabelece que o administrador não pode renunciar suas prerrogativas
face ao princípio da indisponibilidade do interesse público.
iv. Exercício nos limites da lei: em decorrência do princípio da legalidade os poderes
administrativos devem ser exercidos e utilizados de acordo com que prevê o
ordenamento jurídico.
v. Responsabilização do administrador: todos os atos praticados com abuso de poder
e em desrespeito a lei são ilegais, gerando a responsabilização do administrador
tanto em sua atuação comissiva ou omissiva.

3.4. Classificação dos Poderes Administrativos


No quadro abaixo, trazemos pequeno resumo das classificações doutrinárias mais
recorrentes sobre o tema Poderes Administrativos:

a) Poder Vinculado;
b) Poder Discricionário.
Quanto à Margem de Liberdade

a) Poder Hierárquico;
b) Poder Disciplinar;
c) Poder Normativo ou

Quanto às Espécies Regulamentar;


d) Poder de polícia.

Fonte: Adaptado pelo grupo (2022)

9
3.4.1. Poder Vinculado
Trata-se do dever da Administração de obedecer a lei em uma situação concreta em que ela
só possui esta opção (a Administração fica inteiramente presa ao enunciado da lei). Só há
um único comportamento possível, e ele é o que a lei determina. O administrador não tem
liberdade de actuação, apenas deve seguir o que a lei prescreve.

O administrador fica condicionado ao que diz a norma legal, ou seja, não tem liberdade de
acção, pois se o acto for praticado sem observância de qualquer dado constante na lei, é
nulo, situação que pode ser reconhecida pela própria Administração, ou pelo Judiciário
mediante provocação do interessado

Segundo Hely Lopes Meirelles, “Poder vinculado ou regrado é aquele que o Direito
Positivo – a lei – confere à Administração Pública para a prática de acto de sua
competência, determinando os elementos e requisitos necessários à sua formalização”.

A Vinculação impede que o administrador público se afaste do enunciado da lei, haja vista
que ela estatui o único comportamento possível em determinada situação. O acto, quando
vinculado, afasta definitivamente a possibilidade de o administrador efectuar qualquer
espécie de apreciação subjetiva.

3.4.2. Poder Discricionário


Este poder permite uma margem de liberdade ao administrador que exercerá um juízo de
valor de acordo com critérios de conveniência e oportunidade.

Desse modo, o administrador, no caso concreto, avaliará a situação em que deve agir,
adoptando o comportamento adequado. Tal poder é necessário, uma vez que seria
impossível que o legislador previsse todas as situações possíveis para os vários
comportamentos administrativos.

Entretanto, é importante ressaltar que toda a actividade administrativa encontra limites na


legalidade, devendo tais prerrogativas ser praticadas nos limites impostos pela lei, sob pena
de ser reconhecida a arbitrariedade e, consequentemente, a ilegalidade do acto.

Celso Antônio Bandeira de Mello define os contornos deste princípio. Segundo ele “a
Administração ao actuar no exercício de discrição, terá que obedecer a critérios aceitáveis
do ponto de vista racional, em sintonia com o senso normal de pessoas equilibradas e
respeitosas das finalidades que presidiram a outorga da competência exercida.
10
3.4.3. Poder Hierárquico
A hierarquia e consequentemente o poder hierárquico existem no âmbito das actividades
administrativas e compreende a prerrogativa que tem a Administração para coordenar,
controlar, ordenar e corrigir as actividades administrativas dos órgãos e agentes no seu
âmbito interno.

Não há hierarquia entre os Poderes do Estado (não há hierarquia entre Legislativo,


Executivo e Judiciário), há distribuição de competências.

Pela hierarquia é imposta ao subalterno a estrita obediência das ordens e instruções legais
superiores, além de se definir a responsabilidade de cada um.

Do poder hierárquico são decorrentes certas faculdades implícitas ao superior, tais como
dar ordens e fiscalizar o seu cumprimento, delegar e avocar atribuições e rever actos dos
inferiores.

Segundo Hely Lopes Meirelles, “Poder hierárquico é o de que dispõe o Executivo para
distribuir e escalonar as funções de seus órgãos, ordenar e rever a actuação de seus agentes
estabelecendo a relação de subordinação entre os servidores de seu quadro de pessoal”.

3.4.4. Poder Disciplinar


Segundo Hely Lopes Meirelles (2012, p. 140), “poder disciplinar é a faculdade de punir
internamente as infrações funcionais dos servidores e demais pessoas sujeitas à disciplina
dos órgãos e serviços da Administração. É uma supremacia especial que o Estado exerce
sobre todos aqueles que se vinculam à Administração por relações de qualquer natureza,
subordinando-se às normas de funcionamento do serviço ou do estabelecimento que
passam a integrar definitiva ou transitoriamente”

Quando houver apuração de infração funcional cometida por agente público, o poder
disciplinar decorrerá do poder hierárquico, na medida em que haverá descumprimento de
dever funcional, cabendo ao superior hierárquico o controle da actuação de seus
subordinados.

11
3.4.5. Poder Normativo
Através deste poder a Administração pode expedir atos normativos. Portanto, o poder que
a Administração Pública tem para editar atos normativos é o poder normativo ou
regulamentar, e os actos normativos advêm do Poder Executivo (Administração Pública).

São actos normativos: os regulamentos, as instruções, as portarias, as resoluções, os


regimentos etc. Dependem de lei anterior para serem editados. Logo, o poder normativo é
derivado da lei, do acto normativo originário.

3.4.6. Poder de Polícia


Poder de polícia é o poder conferido à Administração, para restringir, frenar, condicionar,
limitar o exercício de direitos e actividades económicas dos particulares para preservar os
interesses da colectividade.

O poder de polícia abrange, ou se materializa, por actos gerais ou individuais. O acto geral
é aquele que não tem um destinatário específico, está relacionado com toda a colectividade,
por outro lado, o poder de polícia pode se materializar por acto individual, ou seja, aquele
acto que tem um destinatário específico, situação concreta de cada indivíduo.

O fundamento do poder de polícia está centrado num vínculo geral, existente entre a
Administração Pública e os administrados, que autoriza o condicionamento do uso, gozo e
disposição da propriedade e do exercício da liberdade em benefício do interesse público ou
social. Alguns autores chamam-no de supremacia geral da Administração Pública em
relação aos administrados. Assim, o exercício da liberdade e o uso, gozo e disposição da
propriedade estão sob a égide dessa supremacia, e por essa razão podem ser condicionados
ao bem-estar público ou social

Em geral, o poder de polícia deve prevenir danos e prejuízos que possam danificar o bem-
estar social, limitando os direitos individuais de liberdade e propriedade dos particulares.

3.5. Manifestações do Poder Administrativo


As principais manifestações do poder administrativo são quatro:

12
i. O Poder Regulamentar: A Administração Pública, tem o poder de fazer
regulamentos, a que chamamos “poder regulamentar” e outros autores denominam
de faculdade regulamentaria.

Estes regulamentos que a Administração Pública tem o Direito de elaborar são


considerados como uma fonte de Direito (autónoma).

A Administração Pública goza de um poder regulamentar, porque é poder, e com tal, ela
tem o direito de definir genericamente em que sentido vai aplicar a lei.

A Administração Pública tem de respeitar as leis, tem de as executar: por isso ao poder
administrativo do Estado se chama tradicionalmente poder executivo. Mas porque é poder,
tem a faculdade de definir previamente, em termos genéricos e abstractos, em que sentido é
que vai interpretar e aplicar as leis em vigor: e isso, fá-lo justamente elaborando
regulamentos.

ii. O Poder de Decisão Unilateral: Enquanto no regulamento a Administração Pública


nos aparece a fazer normas gerais e abstractas, embora inferiores à lei, aqui a
Administração Pública aparece-nos a resolver casos concretos.

Este poder é um poder unilateral, quer dizer, a Administração Pública pode exercê-lo por
exclusiva autoridade sua, e sem necessidade de obter acordo (prévio ou à posteriori) do
interessado.

A Administração, perante um caso concreto, em que é preciso definir a situação, a


Administração Pública tem por lei o poder de definir unilateralmente o Direito aplicável. E
esta definição unilateral das Administração Pública é obrigatória para os particulares. Por
isso, a Administração é um poder.

Por exemplo: é a Administração que determina o montante do imposto devido por cada
contribuinte.

A Administração declara o Direito no caso concreto, e essa declaração tem valor jurídico e
é obrigatória, não só para os serviços públicos e para os funcionários subalternos, mas
também para todos os particulares.

13
Pode a lei exigir, e muitas vezes exige, que os interessados sejam ouvidos pela
Administração antes de esta tomar a sua decisão final.

Pode também a lei facultar, e na realidade faculta, aos particulares a possibilidade de


apresentarem reclamações ou recursos graciosos, designadamente recursos hierárquicos,
contra as decisões da Administração Pública.

Pode a lei, e permite, que os interessados recorram das decisões unilaterais da


Administração Pública para os Tribunais Administrativos, a fim de obterem a anulação
dessas decisões no caso de serem ilegais. A Administração decide, e só depois é que o
particular pode recorrer da decisão. E não é a Administração que tem de ir a Tribunal para
legitimar a decisão que tomou: é o particular que tem de ir a Tribunal para impugnar a
decisão tomada pela Administração.

iii. O Privilégio da Execução Prévia: Consiste este outro poder, na faculdade que a lei
dá à Administração Pública de impor coactivamente aos particulares as decisões
unilaterais que tiver tomado.

O recurso contencioso de anulação não tem em regra efeito suspensivo, o que significa que
enquanto vai decorrendo o processo contencioso em que se discute se o acto administrativo
é legal ou ilegal, o particular tem de cumprir o acto, se não o cumprir, a Administração
Pública pode impor coactivamente o seu acatamento.

Isto quer dizer, portanto, que a Administração dispõe de dois privilégios:

Na fase declaratória, o privilégio de definir unilateralmente o Direito no caso


concreto, sem necessidade duma declaração judicial;
Na fase executória, o privilégio de executar o Direito por via administrativa, sem
qualquer intervenção do Tribunal. É o poder administrativo na sua máxima
pujança: é a plenitude potestatis.

iv. Regime Especial dos Contractos Administrativos: Um contracto administrativo, é


um acordo de vontades em que a Administração Pública fica sujeita a um regime
jurídico especial, diferente daquele que existe no Direito Civil.

14
E de novo, nesta matéria, como é próprio do Direito Administrativo, esse regime é
diferente para mais, e para menos. Para mais, porque a Administração Pública fica a dispor
de prerrogativas ou privilégios de que as partes nos contractos civis não dispõem; e para
menos, no sentido de que a Administração Pública também fica sujeita a restrições e a
deveres especiais, que não existem em regra nos contractos civis.

3.6. Corolários do Poder Administrativo

i. Independência da Administração perante a Justiça: existem vários mecanismos


jurídicos para o assegurar. Em primeiro lugar, os Tribunais Comuns são
incompetentes para se pronunciarem sobre questões administrativas. Em segundo
lugar, o regime dos conflitos de jurisdição permite retirar a um Tribunal Judicial,
uma questão administrativa que erradamente nele esteja a decorrer. Em terceiro
lugar, devemos mencionar aqui a chamada garantia administrativa, consiste no
privilégio conferido por lei às autoridades administrativas de não poderem ser
demandadas criminalmente nos Tribunais Judiciais, sem prévia autorização do
Governo.
ii. Foro Administrativo: ou seja, a entrega de competência contenciosa para julgar os
litígios administrativos não já aos Tribunais Judiciais mas aos Tribunais
Administrativos.
iii. Tribunal de Conflitos: é um Tribunal Superior, de existência aliás intermitente (só
funciona quando surge um conflito), que tem uma composição mista, normalmente
paritária, dos juízes dos Tribunais Judiciais e de juízes de Tribunais
Administrativos, e que se destina a decidir em última instância os conflitos de
jurisdição que sejam entre as autoridades administrativas e o poder judicial.

3.7. Princípios constitucionais sobre o poder administrativo

i. Princípio da Prossecução do Interesse Público

Este é um princípio motor da Administração Pública e encontra-se consagrado no artigo


249 da Constituição da República de Moçambique. A Administração actua Move-se,
funciona para prosseguir o interesse público. O interesse público é o seu único fim.

Deste princípio surgem mais dois princípios:

15
O princípio da legalidade, que manda à Administração obedecer à lei.

O princípio do respeito pelos direitos e interesses legítimos dos particulares, que


obriga a Administração a não violar as situações juridicamente protegidas dos
administrados.
A noção interesse público traduz uma exigência – a exigência de satisfação das
necessidades colectivas. Pode-se distinguir o interesse público primário dos interesses
públicos secundários: O interesse público primário, é aquele cuja definição compete aos
órgãos governativos do Estado, no desempenho das funções política e legislativa; Os
interesses públicos secundários, são aqueles cuja definição é feita pelo legislador, mas cuja
satisfação cabe à Administração Pública no desempenho da função administrativa.
No princípio da prossecução do interesse público temos que ter em conta os seguintes
aspectos:
Só a lei pode definir os interesses públicos a cargo da Administração: não pode ser
a administração a defini-los.
Em todos os casos em que a lei não define de forma complexa e exaustiva o
interesse público, compete à Administração interpretá-lo, dentro dos limites em que
o tenha definido.
A noção de interesse público é uma noção de conteúdo variável. Não é possível
definir o interesse público de uma forma rígida e inflexível.
Definido o interesse público pela lei, a sua prossecução pela Administração é
obrigatória.
O interesse público delimita a capacidade jurídica das pessoas colectivas públicas e
a competência dos respectivos órgãos: é o chamado princípio da especialidade,
também aplicável a pessoas colectivas públicas.
Só o interesse público definido por lei pode constituir motivo principalmente
determinado de qualquer acto administrativo.
A prossecução de interesses privados em vez de interesse público, por parte de
qualquer órgão ou agente administrativo no exercício das suas funções, constitui
corrupção e como tal acarreta todo um conjunto de sanções, quer administrativas,
quer penais, para quem assim proceder.
A obrigação de prosseguir o interesse público exige da Administração Pública que
adopte em relação a cada caso concreto as melhores soluções possíveis, do ponto de

16
vista administrativo (técnico e financeiro): é o chamado dever de boa
administração.

ii. O Princípio da Legalidade


O princípio da legalidade encontra-se previsto no nº 2 do artigo 249 da Constituição da
República de Moçambique e, é sem dúvida, um dos mais importantes Princípios Gerais de
Direito aplicáveis à Administração Pública, segundo o qual os órgãos e agentes da
Administração Pública só podem agir no exercício das suas funções com fundamento na lei
e dentro dos limites por ela impostos.
O princípio da legalidade aparece definido de uma forma positiva. Diz-se que a
Administração Pública deve ou não deve fazer, e não apenas aquilo que ela está proibida
de fazer.
O princípio da legalidade cobre e abarca todos os aspectos da actividade administrativa, e
não apenas aqueles que possam consistir na lesão de direitos ou interesses dos particulares.
A lei não é apenas um limite à actuação da Administração é também o fundamento da
acção administrativa.
Este princípio encontra excepções a três situações:

A teoria do estado de necessidade;


A teoria dos actos políticos;
O poder discricionário.

iii. Os princípios da Justiça e da Imparcialidade

Trata-se de uma série de limites ao poder discricionário da administração. Enquanto o


princípio da legalidade, o princípio da prossecução do interesse público e outros são
princípios que vêm de há muito e que portanto já foram devidamente examinados e
trabalhados, estes são novos e por conseguinte põe problemas ainda difíceis. O Princípio
da Justiça, significa que na sua actuação a Administração Pública deve harmonizar o
interesse público específico que lhe cabe prosseguir com os direitos e interesses
legítimos dos particulares eventualmente afectados.

Corolários do princípio da imparcialidade


Proibição de favoritismo ou perseguições relativamente aos particulares;

17
Proibição dos órgãos da Administração decisões sobre assuntos em que estejam
pessoalmente interessados;
Proibição de órgãos da Administração ou por ela aprovados ou autorizados.

IV. CONCLUSÃO E SUGESTOES

4.1. Conclusão
Em jeito de peroração constatamos que a organização de um Estado Democrático de
Direito institui os poderes administrativos como prerrogativas, entendidos como
ferramentas de trabalho para assegurar o bem comum. Cada um dos poderes é conferido à
Administração Pública para responder às diversas demandas sociais de forma satisfatória.

18
Os Poderes Administrativos são instrumentos que a Administração Pública dispõe para
consecução do interesse público. São verdadeiros deveres para a Administração Pública,
pois são conferidos instrumentos a serem utilizados para alcance do bem da coletividade.

Os poderes da Administração Pública, previstos no ordenamento jurídico, são de


cumprimento obrigatório e instrumentos de sua actuação. O poder regulamentar é exercido
privativamente pelos Chefes do Poder Executivo na edição de decretos de execução ao fiel
cumprimento à lei.

O Poder normativo ou regulamentar se refere à possibilidade do Poder Executivo emitir


actos normativos. Estes actos têm como objectivo facilitar a aplicação das leis,
explicitando-as ou pormenorizando-as, necessitando, portanto, de uma lei previamente
sancionada (acto normativo originário). São regulamentos instaurados em formas de
decretos, portarias, resoluções, instruções normativas, entre outros dispositivos.

O poder disciplinar prevê a aplicação de penalidade aos agentes pela prática de infrações
funcionais, cuja apuração é acto vinculado por meio de sindicância ou processo
administrativo disciplinar e cuja aplicação da penalidade é acto discricionário. O poder de
polícia limita e disciplina o exercício de interesses, actividades, bens e direitos individuais
ou colectivos, é exercido pela polícia administrativa e pode ter carácter regulamentar ou
autónomo.

Quando estivermos diante de um acto vinculado, a própria Lei estabelecerá os requisitos


que, uma vez cumprido, aquele pedido deverá ser deferido pela Administração Pública
(aqui, em acto Vinculado, não se pode falar em indeferimento pelo Administrador Público
quando tiver havido o cumprimento dos requisitos legais).

4.2. Sugestões

Os poderes conferidos à administração pública, devem ser instrumentos colocados


a disposição para a preservação dos interesses da colectividade e não individuais.
O Poder hierárquico, deve ser exercido na organização das actividades
administrativas dos órgãos públicos;
Quando ocorrem infrações internas, na esfera da Administração Pública, cometidas
por qualquer agente sujeito às normas administrativas, o poder disciplinar deve ser
aplicado.
19
V.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Amaral, Diogo Freitas. Curso De Direito Administrativo, Volume II, 2ªedição,
ALMEDINA, 2011.
2. Caetano, Marcelo. Manual De Direito Administrativo Volume I 10a Edição, Coimbra
2001.
3. Di Pietro, Maria Sylvia. Direito Administrativo. São Paulo, Editora Atlas, 2014.
4. Meirelles, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 24ª Edição, São Paulo,
Editora Malheiros, 2010.

20
5. Mello, Celso António Bandeira De. Curso De Direito Administrativo. São Paulo,
Editora Malheiros, 2004
6. Poggio, Harrison; Os Poderes Da Administração Pública, Disponível Em:
Https://Harrissonpoggio.Jusbrasil.Com.Br/Artigos/177075034/Os-Poderes-Da-
Administracao-Publica, Acesso Em: 05/04/2022.

ÍNDICE

Títulos Páginas
I. INTRODUÇÃO..................................................................................................................1
1.1. Contextualização.............................................................................................................1
1.2. Objectivos.......................................................................................................................3
1.2.1. Objectivo Geral............................................................................................................3
1.2.1. Objectivos Específicos.................................................................................................3
II. METODOLOGIA..............................................................................................................4
2.1. Tipo de pesquisa..............................................................................................................4

21
III. REVISÃO DA LITERATURA........................................................................................5
3.1. Definição de Conceitos...................................................................................................5
3.1.1. O Poder da Administrativo...........................................................................................5
3.2. Uso e abuso de poder......................................................................................................7
3.3. Características dos Poderes Administrativos..................................................................9
3.4. Classificação dos Poderes Administrativos.....................................................................9
3.4.1. Poder Vinculado.........................................................................................................10
3.4.2. Poder Discricionário...................................................................................................10
3.4.3. Poder Hierárquico......................................................................................................11
3.4.4. Poder Disciplinar........................................................................................................11
3.4.5. Poder Normativo........................................................................................................12
3.4.6. Poder de Polícia..........................................................................................................12
3.5. Manifestações do Poder Administrativo.......................................................................13
3.6. Corolários do Poder Administrativo.............................................................................15
3.7. Princípios constitucionais sobre o poder administrativo...............................................16
IV. CONCLUSÃO E SUGESTOES....................................................................................19
4.1. Conclusão......................................................................................................................19
4.2. Sugestões.......................................................................................................................20
V.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................21

22

Você também pode gostar