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RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO – COLÉGIO ESTADUAL MANOEL DEVOTO

08/04/2022

Ao chegar na escola apresentei-me na portaria como estagiário e fui levado até a professora
Raimunda, esta que seria a responsável interna pela supervisão das minhas aulas no colégio.
Cheguei adiantado, assim, quando encontrei a professora ela ainda estava na 2ª série H (Ensino
Médio) com Maria Eduarda, estagiária e colega de turma. A professora pediu para que eu entrasse e
aguardasse a aula terminar.
A sala da 2ª H fica ao redor do pátio principal do colégio. Como a porta e as janelas são
voltadas para esse pátio e permanecem abertas durante a aula o barulho não permite que a
professora possa ser escutada com facilidade, o que atrapalha o andamento da aula. Os alunos
também transitam entre a sala e o pátio com frequência. Haviam em torno de 20 alunos quando
cheguei, mas esse trânsito não permite afirmar quantos alunos estavam realmente no dia. Ademais,
as cadeiras ficam postas de forma aleatória pela sala. Tudo isso contribui para a desorganização e
uma sensação de caos na sala.
Ainda nessa turma pude ter contato com um estudante que falava com a professora sobre os
planos futuros. Estava falando sobre o concurso da polícia militar que pretendia fazer. A professora
disse que poderia fornecer materiais complementares para que ele estudasse para prova. Entretanto,
a parte mais interessante estava na segunda opção de carreira relatada. A de artista. O estudante
mostrou os desenhos dele. Eram bastante realistas e demonstravam algum conhecimento sobre
técnica, mesmo que não tenha vindo de um curso especializado. Porém, quando, durante a conversa,
a professora o questionou sobre o preço que cobrava para que ela pudesse encomendar a arte ou
indicar o trabalho, o aluno não tinha nenhuma ideia sobre como precificar o próprio trabalho. Além
disso, ao falar quanto já cobrou percebi a disparidade daquele preço com o tempo de trabalho e a
qualidade do desenho, sendo aquele bastante subvalorizado. Indicando que talvez haja uma ausência
de projetos que contemplem o mundo da arte como um caminho viável para o sustento do
indivíduo. Isso não é, destaco, uma particularidade do colégio, mas parece uma problemática
importante para se elencar neste relatório.
Durante o intervalo, Maria Eduarda se despediu da professora após deixarmos os
documentos para serem assinados na sala da diretoria. Fui com Raimunda para a sala dos
professores aguardar a próxima aula e pude conversar com um outro professor. Ele falou um pouco
sobre a trajetória dele na graduação e pós-graduação e então tive de sair novamente para ir para a 3ª
série B com a professora.
A 3ª B, turma sob minha responsabilidade durante o estágio, é mais tranquila que a anterior.
Fica afastada do pátio, então é mais silenciosa. Apesar dos alunos atrasarem com o retorno do
intervalo, o trânsito entre a sala e o corredor é menor que na outra, permitindo mais organização.
Havia em torno de 16 alunos em sala. Ainda não sei quantos estavam na lista de chamada.
Deveriam ocorrer duas aulas após o intervalo. Entretanto, uma das aulas foi adiantada –
“subida” – a pedido dos alunos para que pudessem sair mais cedo. Assim, no horário que pude
assistir à aula, a professora pediu que os alunos realizassem uma pesquisa sobre Karl Marx –
biografia e teoria – para que servisse como forma de avaliação – valeria 3,5 pontos na média.
Destaco que, ao menos nessa aula, esse autor não foi debatido. Após isso, Raimunda escreveu no
quadro as páginas que os estudantes deveriam ler no livro sobre classes sociais – p.120-121 – e
realizar um pequeno resumo para receber visto – outra forma de avalição. Alguns alunos fizeram.
Um se recusou e saiu da sala. Os resumos foram apresentados e receberam visto sem que houvesse
a leitura ou discussão da interpretação dos alunos sobre essas páginas.
A aula terminou. Fui informado que além do feriado na sexta da semana posterior, na
semana seguinte, em que o feriado cairia na quinta, a aula da sexta seria suspensa. Na aula que
sucede à suspensa, há aplicação de prova e farei observação. Assim, só poderei lecionar na primeira
semana de maio.

29/04/2022

Voltei pro colégio depois de duas sextas-feiras sem aula. A professora estava doente no dia
então fiquei responsável pela aula mesmo sem a supervisão. Cheguei cedo e fiquei conversando
com os professores até o momento da aula que era após o intervalo. Então, ao fim do intervalo
passei pela vice diretoria para buscar o piloto e apagador e fui para a sala.
Ao saber que a professora não iria dar aula os alunos perguntaram se eu iria cancelar a aula.
Ao responder que não, que eu daria aula, não esboçaram uma reação positiva e alguns saíram da
sala. O trânsito entre os corredores e a sala é constante.
Tentando pôr o plano de aula em prática cometi alguns deslizes. Primeiro, não deveria ter
separado a turma em grupos, isso ajudou que os alunos, já pouco motivados à participação da aula,
dispersassem ainda mais a atenção e começassem a conversar entre si durante a aula. Formando
grupos em lugares distantes uns dos outros ficou ainda mais difícil de motivar a participação das
partes na aula. Ainda que direcionasse perguntas ou buscasse a participação voluntária através de
perguntas mais abertas relacionadas às experiências a maior parte da sala permaneceu desatenta
quanto a aula.
Um segundo erro foi ter programado um conteúdo mais complexo para uma aula de 50
minutos. Como são duas aulas geminadas, ao fim da primeira ainda não havia terminado o assunto e
na segunda os alunos persistiam no pedido de cancelamento da aula, isso até o ponto de que a
atenção dada era tão mínima e o barulho na sala era tão alto que ficou inviável continuar a aula.
O terceiro erro foi ter entregue a atividade assim que a aula iniciou. Entretanto, a entrega
também foi motivada pelas perguntas sobre se eu daria alguma atividade. Como os alunos recebem
pontos por vistos dados, isso se torna a única motivação de continuarem em sala dado o modo como
essas aulas têm sido geridas – baseadas na construção de resumos e vistos dados nessas atividades
para serem pontuadas.
Ademais, a atividade não poderá servir como forma de avaliação já que não consegui
explicar aos grupos mais especificamente o que deveria ser feito, estando apenas quatro ou cinco
alunos cientes de que aquela era uma atividade para ser realizada em grupo e sobre o que deveriam
escrever.
Fora da sala de aula, na sala dos professores, pude escutar sobre más experiências durante a
docência, isso mais que as boas experiências, que naquele ambiente parecem ser raras se
observarmos os discursos dos professores.
Na vice direção estava ocorrendo a resolução de conflito entre um grupo de alunos e uma
professora que tinha sido acusada de racismo. Não tive conhecimento do que ocorreu ou sobre o
resultado da conversa que tiveram na sala da vice direção.
Com a liberação da turma, permaneci em sala e conversei um pouco com alguns alunos que
ficaram. Pude conhecer um pouco das expectativas desses alunos. O que se destaca é a pouca
adesão ao Enem pelos alunos, ou provas de concurso. Uns poucos levantaram as mãos quando
perguntei quem iria se inscrever para a prova e entre esses alguns revelavam a pouca preparação
para realizar a prova.
As duas últimas aulas, após o intervalo, em uma sexta feira, no período de retorno e
readaptação para aulas presenciais, com uma matéria que não é a da minha formação e um grupo de
alunos que não apresentam interesse no Enem, nem mesmo condições para formularem o que
estuda a Sociologia baseado no que já foi dado em sala – mesmo estando no último ano do ensino
médio. Tentarei reformular a abordagem dos planos de aula, mas no momento não sei como reter a
atenção desses estudantes.

06/05/2022

Depois dos problemas enfrentados no primeiro dia de regência, essa sexta-feira se mostrou
mais agradável. De forma mais direta, digo que, diferente do outro momento, nesse foi possível a
regência. A turma estava mais atenta e os conteúdos programados puderam ser abordados e
discutidos. Houveram questionamentos, apontamentos e a aula transcorreu de modo mais dialogado.
Entretanto, o motivo para assim ter sido – com a ausência de barulho – foi que grande parte
dos alunos receberam comunicado sobre a ausência da professora. Apenas tomaram como aviso de
que não teria aula e boa parte da sala se retirou antes que eu chegasse até lá.
O assunto dado focou em Direitos políticos sob a perspectiva da História do Voto no Brasil,
pude explorar os diferentes períodos pela liberdade que oferece o componente curricular de
sociologia, mas utilizei a perspectiva histórica com a qual tenho mais proximidade.
No geral, os alunos colaboraram com a aula, como houve participação também pude decorar
o nome de alguns deles o que facilitou minha comunicação com a turma. Com menos estudantes
também houve menos trânsito entre o corredor e a sala, o que diminuiu consideravelmente as
distrações durante a aula.
Alguns alunos demonstraram interesse no tema, conseguindo relacionar à prova do ENEM.
Boa parte da turma não prestará o exame. Como já passou o período de inscrição para concorrer à
isenção da taxa, acredito que aqueles que não se cadastraram não irão se inscrever para a prova.
Por fim, notei que houve um menor cansaço nas duas aulas com um ambiente mais
favorável à docência.

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