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MAPEAMENTO – ESTÁGIO DE OBSERVAÇÃO

JOANA SCHNEIDER

CONTEXTO ESCOLAR

O estágio de observação foi realizado nos dias 24 e 27 de novembro, sob a


supervisão da professora Andrea Craveiro Jahn, no Instituto Estadual Rio Branco,
com sede na Avenida Protásio Alves, 999, no bairro Rio Branco, em Porto Alegre. A
escola de Ensino Fundamental e Médio está situada na região central da cidade, por isso
tem um público bastante variado, recebendo alunos de diversos bairros da cidade.
Segundo a professora que me recebeu, os alunos provenientes de regiões mais distantes
geralmente não conseguiram vagas nas escolas acerca das suas residências ou, em virtude
de outros fatores, como segurança e estrutura, estudam ali por preferência das famílias,
apesar da necessidade de deslocamento.

O prédio é grande, antigo e está localizado em uma esquina, onde pude observar
dois Policiais Militares fazendo a segurança. Na minha primeira visita, ouvi alguns alunos
comentando entre si que naquele dia a entrada da escola estava bastante policiada.
Excepcionalmente, havia duas duplas de policiais paradas ao redor da escola, enquanto
geralmente é apenas uma. Então, deduzi que o policiamento é comum nas redondezas,
pelo menos nos horários de entrada dos alunos.

Um portão dá acesso ao pátio da escola, onde os alunos aguardam os horários de


entrada. Uma monitora é responsável por abrir e fechar a porta, que é mantida trancada à
chave. Observei que, após o início da aula, os alunos podem entrar na troca de períodos,
mas ficam esperando no pátio para não circularem livremente nos corredores.

Quando cheguei, toquei a campainha, me identifiquei para a monitora e pude


aguardar dentro da escola a chagada da professora de artes. Então, aproveitei para circular
um pouco e observar a estrutura. O pátio interno, onde os alunos passam o recreio, é
grande e os corredores são amplos e bastante iluminados. Apesar de a pintura interna do
prédio não ser nova, o aspecto geral da estrutura é bem agradável e há bebedouros com
água bem gelada para os alunos encherem as garrafinhas.

Talvez por ser fim de ano, as paredes estavam tomadas por trabalhos expostos,
realizados em vários projetos e disciplinas. Então, mesmo antes de conhecer
pessoalmente a professora, já pude observar alguns trabalhos de artes, como pequenas
estátuas de figuras humanas produzidas com papel alumínio. Também vi trabalhos
realizados pelo PIBID de Artes da UFRGS.

O banheiro dos professores é trancado e, para usá-lo, é preciso solicitar a chave à


monitora. No banheiro das alunas que utilizei, a estrutura e a higiene são relativamente
boas, mas não havia papel higiênico. Pelo que eu entendi, é possível solicitar papel com
a monitora.

Depois que a Prof. Andrea chegou, pude conhecer a sala dos professores, que
também é iluminada e agradável. Ela possui vários sofás, armários individuais com chave
para cada professor, geladeira, pia, micro-ondas e uma mesa bem grande no centro, onde
os professores se sentam para tomar café, conversar e lanchar. A Diretora aproveita esse
espaço para passar recados e orientações aos professores.

As salas de aulas são amplas e bem iluminadas, com janelas grandes. Todas têm
ventiladores e algumas, nas quais pega sol direto, têm ar-condicionado. A estrutura é bem
básica, com quadros, classes, cadeiras e algumas prateleiras com materiais (livros
didáticos e revistas empilhadas). Não há projetor nas salas, então, para mostrar imagens,
dar aulas teóricas ou fazer pesquisas com a turma, a professora deve reservar os espaços
específicos que possuem equipamentos (a planilha para reserva fica na sala dos
professores): laboratório de ciências, auditório, biblioteca, sala de vídeo, sala de
informática.

Atualmente, não há sala de artes e a professora relata que, quando chegou na


escola, o laboratório de ciências era uma sala inutilizada que servia como depósito. Junto
com alunos e outros professores, ela organizou um mutirão para liberar, organizar e
limpar o local. Hoje, a sala, que possui armários, mesas grandes, balcões, pias e torneiras,
é amplamente utilizada para aulas especiais e realização de projetos. Nos dias em que
realizei as observações, o espaço estava ocupado com trabalhos do projeto Semana Maria
da Penha nas Escolas, que visitei junto com uma das turmas.

Não tive acesso ao projeto pedagógico e ao currículo, pois a professora não pode me
disponibilizar e, em função do período conturbado de fim de ano, não tive contato direto
com a supervisão e a vice direção da escola.

AULAS DE ARTES

Como meu estágio foi realizado no fim de novembro, a professora já não estava
aplicando conteúdo novo, apenas revisando as 3 avaliações do 3º trimestre para que os
alunos pudessem recuperar as notas. A oportunidade de fazer ou refazer os trabalhos é
chamada de “Estudos de recuperação”. Importante salientar que, na sala dos professores,
a Diretora frisou a importância destas recuperações, visto que um alto número de alunos
corria o risco de reprovação. Além disso, em função do pouco tempo disponível, realizei
todas as observações em duas tardes, então estive em diversas turmas diferentes:

- 24 de novembro (sexta-feira): 81, 72, 71, 82, 93

- 27 de novembro (segunda-feira): 91, 62, 62, 72, 61

A professora chega na sala e cumprimenta os alunos. A primeira coisa que ela faz
é deixar os materiais em sua mesa (pastas com papéis e potes de sorvete cheios de lápis e
giz de cera). Após, para rememorar as avaliações realizadas do trimestre, ela listou todas
elas no quadro. Então, chamou a atenção dos alunos para recapitular as avaliações do 3º
trimestre e explicar como funcionaria a semana de estudos para recuperação das notas
dos trimestres anteriores. Além disso, ela explicou para os alunos como eles poderiam
consultar as suas notas no sistema chamado Classroom.

O Classroom é uma ferramenta online utilizada juntamente com as aulas


presenciais. Começou a ser usado na pandemia e depois seguiu como uma ferramenta
complementar. Todos os alunos têm um e-mail próprio para fazer login e todas as
atividades são postadas lá, através de documentos em Word e questionários, com notas e
datas de entrega fixadas. A professora explicou que, apesar de a escola utilizar esse
método, nem todos os alunos possuem acesso a internet. Neste caso, eles podem realizar
as atividades nos computadores da escola (sala de informática, biblioteca e chrome
books). Neste sentido, cabe observar que os celulares são ferramentas utilizadas
frequentemente nas aulas, em atividades de pesquisas e em atividades práticas propostas
pela professora (como a “Selfie Expressiva”, que abordarei mais adiante).

Após as explicações, a professora fez a chamada pelo celular e, então, quem já


estivesse com todas as atividades avaliativas feitas, poderia ficar com o período livre para
conversar, brincar e jogar no celular, mas sem sair da sala. Então, a professora atendeu
individualmente cada um dos alunos que tinham atividades atrasadas ou notas baixas.
Abaixo, listo as atividades avaliativas que a professora aplicou no 3º trimestre:

Sextos

1) Pesquisa Arte Grega (Questionário no Classroom)


2) Escultura – Modelagem em papel alumínio (Prática em sala de aula)
3) Pesquisa Arte Romana (Questionário no Classroom)

Sétimos

1) Selfie expressiva (Prática em sala de aula)


2) Releitura da Medusa (Prática em sala de aula)
3) Azulejos monocromáticos (Prática em sala de aula)

Oitavos:

1) Arte Barroca e Brasileira (Questionário no Classroom)


2) Arte e cultura – Minhas origens (Questionário no Classroom)
3) Autorretato – Feito de acordo com as respostas do questionário
“Minhas origens” (Prática em sala de aula)

Nonos:

1) Pesquisa Expressionismo (Questionário no Classroom)


2) Releitura – O Grito (Prática em sala de aula)
3) Abstracionismo (Questionário no Classroom)

A escola fornece materiais muito restritos para as aulas, basicamente folhas A4


para as avaliações e algumas tintas. O restante do material é fornecido pela própria
professora. Para isso, além de comprar materiais mais baratos, como papéis diferentes,
ela conta que está sempre guardando retalhos, botões, revistas velhas, missangas, etc.

Além das atividades de recuperação, acompanhei a turma 81 em um passeio pela


escola, visitando a exposição do projeto “Semana Maria da Penha nas Escolas”. A turma
foi dividida em dois grupos para fazer o percurso. Alunas do Nono e do Ensino Médio
falaram sobre o tema e apresentaram os trabalhos, que estavam expostos nos corredores,
no banheiro e no laboratório de ciências.
Outra situação que pude observar no segundo dia foi a reunião das turmas 91 e 92.
A professora explicou que é muito comum as turmas serem juntadas quando falta um
professor ou ocorre outra situação inesperada. Neste caso, como eram turmas pequenas,
elas foram reunidas na mesma sala. Mas, em caso de turmas grandes, pode ocorrer de a
professora ficar responsável por duas salas diferentes ao mesmo tempo e ter que ficar
“indo e vindo” para tomar conta dos alunos.

DOCENTE

Andrea Craveiro Jahn formou-se primeiramente no Bacharelado em Desenho pela


UFRGS. Somente muitos anos mais tarde é que concluiu a Licenciatura, também na
UFRGS, e começou a dar aulas. Pude observar que a sua relação com os alunos é muito
próxima e de bastante confiança. Eles são bastante carinhosos e abertos com ela,
evidenciando uma comunicação respeitosa e afetiva. Ela se mostrou objetiva nas
explicações e bastante generosa, fornecendo os materiais e tirando as dúvidas dos alunos
que tinha atividades atrasadas.

Visto que não pude observar nenhuma aula completa, para ter uma ideia do modo
de ensinar da professora, aproveitando o período em que os alunos estavam realizando as
atividades, pude conversar com ela sobre as proposições, materiais, recursos didáticos e
imagens utilizadas nas aulas. Ela explicou que as práticas em sala são realizadas a partir
dos conteúdos pesquisados pelos alunos (geralmente em seus próprios celulares) ou
abordados por ela em aulas expositivas (Power Point sobre os assuntos, com imagens,
apresentados em dias específicos, em salas com projetor, que são reservadas
antecipadamente. Ela não mencionou o uso de imagens impressas nas aulas.

Ela comenta que, nas suas apresentações, faz uma contextualização do tema,
relacionando obras da história da arte com os momentos históricos em que foram criadas,
além de apresentar obras e artistas atuais. Depois disso, propõe atividades práticas a partir
dos temas abordados. A “Selfie Expressiva”, por exemplo, é uma prática pensada a partir
dos estudos sobre o Expressionismo, em que os alunos, utilizando uma fotografia no
celular, fazem seus autorretratos em papel manteiga. Para fomentar a atividade de
modelagem em papel alumínio, a professora apresentou um Power Point sobre escultura.
A atividade prática “Azulejos Monocromáticos” foi proposta a partir de estudos sobre os
azulejos portugueses e as cores monocromáticas.

Por fim, ela me explicou como faz o controle e os registros das notas. Primeiro,
ela cria uma tabela para cada turma no seu caderno, contendo os nomes dos alunos e todas
as atividades avaliativas realizadas (no mínimo 3 por trimestre). Depois, junto com as
chamadas, ela lança todas as notas na plataforma RS Escola.

ALUNOS

Como transitei por várias turmas nos dois dias de observação e não acompanhei
nenhuma aula completa, não pude me familiarizar com os alunos e formar uma opinião
mais concreta sobre as suas posturas em aula.

De modo geral, apesar de estarem com o período livre, achei os alunos bastante
próximos e respeitosos entre sim e para com a professora (conversavam, sempre pediam
para ir no banheiro ou ir encher as garrafinhas), evidenciando que a escola possibilita,
dentro de certos limites, as relações de confiança. Apenas as turmas de sexto ano se
mostraram mais agitadas e exigiram uma postura mais enfática da professora, que em
alguns momentos inclusive precisou chamar a atenção em relação a xingamentos e
palavrões, o que não ocorreu em mais nenhuma turma.

Em relação ao envolvimento com as propostas, pude perceber, observando os


trabalhos já concluídos, que há sim boas respostas às proposições da professora. Contudo,
a grande maioria dos alunos que fizeram as atividades atrasadas (que foram poucos),
apenas cumpriu a tarefa, sem grande criatividade ou reflexão. Este fato é compreensível
pela época do ano e por serem atividades atrasadas, realizadas em situações que não
geram grande motivação.

Sobre a inclusão, apenas tive as informações que a professora me forneceu, não


pude tirar conclusões assertivas devido ao pouco convívio. Ela mencionou a atuação na
Sala de Recursos e a presença de alunos autistas que são acompanhados pela Monitora.
Ela também pontuou que a atuação da escola acaba sendo atravessada por situações
financeiras e familiares bastante complicadas.

REFLEXÕES PESSOAIS

Como potenciais da instituição, destaco a estrutura física geral e o ambiente


bastante seguro e tranquilo. Além disso, os trabalhos expostos evidenciam a execução de
diversos projetos.

Como minha observação foi realizada em dias atípicos, infelizmente não pude
acompanhar uma aula expositiva/prática completa nem mesmo os debates acerca dos
temas e obras abordadas. Contudo, pude observar a dinâmica das avaliações, das
recuperações de notas e do funcionamento da escola no fim do ano. Além disso, tive
acesso a algumas proposições trazidas pela professora e vi alguns dos trabalhos práticos
desenvolvidos pelos alunos.

Assim sendo, pretendo me inspirar na postura muito assertiva da professora no


tratamento com os alunos, criando um ambiente de respeito e confiança em sala de aula.
Além disso, gostei bastante de algumas atividades práticas que ela propôs, relacionando
os conteúdos estudados com situações bastante presentes na vida dos alunos (como a
“Selfie Expressiva”, autorretrato produzido a partir de uma foto no celular, prática muito
comum atualmente e que pode fomentar debates interessantes sobre os modos de produzir
imagens e o modo de vida contemporâneo).

Como estratégias, não desnecessárias, mas talvez pouco eficazes, citaria as


pesquisas feitas pelos próprios alunos nos celulares sem a complementação de uma aula
expositiva, posterior ou anterior, aprofundando os assuntos.

Para identificar melhor os potenciais e interesses dos alunos, precisaria conviver


mais e acompanhar de perto as atividades e discussões realizadas em aula. Mas, de modo
geral, percebi gostos comuns aos adolescentes: internet, jogos, música e moda.

A principal carência que senti na escola foi a ausência de equipamentos para


mostrar imagens nas salas de aula e a falta de materiais diversificados para as práticas
artísticas, impossibilitando o estudo de certas técnicas e limitando muito as atividades.
Admiro a generosidade, mas não acho nada adequado a própria professora ter que
financiar materiais.

Acredito que ter uma sala específica para artes, com projetor, mesas grandes, mais
materiais e a possibilidade de pendurar imagens impressas nas paredes já ampliaria as
possibilidades de atuação no cenário observado.

Deixo abaixo alguns registros dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos a partir
de proposições da professora Andrea:

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