CHA VIII – Gastroenterologia
Dor abdominal e pancreatite ● Hemograma completo
Pancreatite
Definição
● Processo inflamatório do pâncreas, por ação de
enzimas inadequadamente ativadas
● 60% casos ocorre por litíase biliar ou ingestão de
álcool
Quadro Clínico
● Dor abdominal súbita, de moderada a forte
intensidade, no abdome superior, em “faixa” com
irradiação para dorso
● Associada a náuseas e vômitos
● Fatores de piora: alimentação, ingesta de álcool,
esforço físico e posição supina
● Fatores de melhora: Posição genupeitoral +jejum
● Pode ter febre e icterícia discreta
● Quadro muito variável, pode evoluir até para SIRS
Exame Físico
● Doença leve: dor à palpação do epigástrio e
pode-se palpar um “plastrão”, em alguns casos
● Doença grave: Abdome doloroso e distendido,
evidência de irritação peritoneal, taquicardia,
taquipneia, hipotensão, febre, pancreatite necro -
hemorrágica
● Posição antálgica + defesa abdominal
● Pode apresentar queda do estado geral
● Sinal de Cullen (equimose periumbilical)
● Sinal de Grey Turner (equimose em flanco):
Exames Complementares
● Amilase e lipase (mais específica)
● Perfil Hepático (FA, GGT, BT, TGO, TGP)
● Função Renal (UR, CR)
● PCR (níveis acima de 150mg/dl após 48 horas
sugerem doença mais grave), VHS
● US de abdome
● Dosagem de triglicerídeos para determinar a
etiologia da PA 🡪 acima de 1000mg/dl
● Se grave: eletrólitos (cálcio muito importante),
gasometria, TC de abdome (se complicação após
48-72h)
Diagnóstico
Critérios indicativos: preciso ter pelo menos 2 desses 3
1. Dor abdominal característica 🡪 epigástrica ou em
todo andar superior do abdome (em barra)
2. Amilase ou lipase séricas >=3x o limite superior da
normalidade
3. Alterações características no exame de imagem
pancreáticos
Etiologia
● As principais causas são: litíase biliar, abuso de
álcool, hipertrigliceridemia e medicamentosa.
● 80% do causas ocorre por litíase biliar (+++) e
ingestão de álcool (+)
● Litíase Biliar: sempre solicitar US abdome, se
insuficiente solicito colangioRNM (presença de
cálculos) para o diagnóstico → CPRE para o
tratamento
● Consumo de álcool: anamnese + US de abdome
(lesões crônicas no pâncreas)
● Hipertrigliceridemia: triglicerídeos > 1000-2000
● Medicamentosa: avaliar os efeitos colaterais de
todos os medicamentos que a paciente estiver
usando
● Outras causas: hipercalcemia, tumores,
pós-trauma, infecções virais, autoimune e outras
Diagnóstico Diferencial
● Cólica biliar: Dor é mais no hipocôndrio direito;
pode ter Sinal de Murphy +; Dor dura menos de 6
horas
● Colecistite aguda: Dor é mais no hipocôndrio
direito; pode ter sinal de Murphy +; Dor dura mais
tempo e pode ter náuseas e vômitos

● Perfuração de víscera oca: Úlcera perfurada;
Paciente pode ter aumento de amilase, mas não de
lipase
● Isquemia mesentérica: Paciente pode ter aumento
de amilase, mas não de lipase; Dor é mais difusa,
em cólica; há uma dor muito forte com exame físico
praticamente normal; DM, HAS são importantes
fatores de risco
● Abdome metabólico: cetoacidose diabética,
uremia
● Doença péptica: Dor mais leve e mais crônica
Conduta e Tratamento
● Dieta Zero com VO precoce:
- Após 24-48h de dieta zero, reintroduzir a dieta: inicia
com líquida restrita → liquida → pastosa → sólida.
- Sempre optar pela VO, se o paciente não evoluir bem
com 48h (ter muito dor), passa sonda gástrica ou
duodenal; NPT é a última opção, se não tolerar nada
em 48h.
- É importante otimizar as doses de analgesia e
antiemético.
● Hidratação:
- Inicialmente, expansão volêmica com RL para os
pacientes: 25-35mL/kg/h (manter euvolemia)
- Depois, manutenção: 250-500 mL/h
- É necessário suporte calórico: 50-100g de glicose/dia.
● Analgesia: analgésico comum, AINE, opioide.
● Antibiótico:
- Só faz se sinais de infecção associada, como colangite,
colecistite, sepse – geralmente, após 2 semanas do
quadro.
● Oxigenioterapia: se hipoxemia
● Profilaxia de TEV
● Sintomáticos
● Sinais Vitais + Glicemia 4/4h
Prevenção
● Causa Biliar: sintomas leves (colecistectomia na
mesma internação) e sintomas graves
(colecistectomia após algumas semanas)
● Abuso de Álcool: orientar parar o uso de bebida
alcoólica
● Hipertrigliceridemia: evitar consumo de alimentos
ricos em gorduras e perda de peso
● Medicamentosa: suspender a medicação e
avaliação
Dor Abdominal
Abordagem do paciente com dor abdominal:
● Anamnese completa, caracterizando bem a dor do
paciente
● Exame físico do abdome completo (inspeção +
ausculta + percussão + palpação superficial e
profunda)
● Sinais:
✔ Pesquisar irritação peritoneal (descompressão
brusca), visceromegalias e tumorações
✔ Sinal de Blumberg: dor a descompressão brusca no
ponto de Mc Burney 🡪 pode indicar apendicite
Sinal de Rovsing: dor no QID ao realizar a palpação
do QIE do abdome 🡪 pode indicar apendicite
✔ Sinal do Psoas: dor a extensão da coxa D sobre o
quadril contra a resistência em decúbito dorsal ou
lateral esquerdo 🡪 pode indicar apendicite
✔ Sinal do Obturador: dor a rotação interna do
quadril D flexionado em decúbito dorsal 🡪 pode
indicar apendicite
✔ Sinal de Martorelli: dor referida no abdome ao
realizar a punho percussão do calcâneo
✔ Sinal de Murphy: interrompe a respiração por dor a
palpação do hipocôndrio direito 🡪 indica colecistite
✔ Sinal de Laffont: dor referida no ombro direito 🡪
indicativo de hemorragia retroperitoneal, pois o
sangue na cavidade peritoneal irrita o nervo frênico
✔ Sinal de Kehr: dor referida na região infra escapular
🡪 indicativo de irritação diafragmática; o sinal de
Kehr no ombro esquerdo pode ser um sinal de
ruptura de baço.
✔ Sinal do vascolejo: Estetoscopio no epigastrio e
você balança o paciente e escuta como se fosse
uma garrafa com água mexendo 🡪 pode ter em
caso de obstrução intestinal
✔ Sinal de Gersuny: Palpar fecaloma
✔ Sinal de Torres Homem:Punho percussão da loja
hepática e o paciente vai sentir dor; característico
de abscesso hepático
✔ Sinal de Jobert – Presença de percussão timpânica
na loja hepática = pneumoperitoneo = perfuração
de viscera oca e o paciente MUITO sintomático,
com abdome em tábua – não consegue deprimir o
abdome do paciente) 🡪 Diagnóstico diferencial
com Síndrome de Chilaiditi (interposição
temporária ou permanente do cólon ou intestino
delgado no espaço hepatodiafragmático) e o
paciente está assintomático
 desde o início. Dor piora após a alimentação e melhora
com o uso de paracetamol e buscopam composto. Nega
quadro semelhante previamente. Refere náuseas e
vômitos sem restos alimentares, esverdeado, vomitando
2x ao dia, não consegue quantificar. Nega febre,
diarreia, alterações nas fezes e no apetite
HPPP: DM, HAS, obesidade. Nega dislipidemia. Uso de
losartana, anlodipino, metformina e linagliptina (causa
de pancreatite aguda). Nega cirurgia e internações.
HF: Nega sintomas parecidos na família
HS: Nega tabagismo e etilismo. Refere alimentação rica
Exames Complementares em gordura, consumindo também frutas e verduras.
● Hemograma + Perfil Hepático + Função Renal + Nega realização de atividade física.
Amilase/Lipase Exame físico: FC 88bpm / PA 130x80mmHg / FR 18irpm
● ECG + Glicemia + B-HCG / Tax 37ºC / SatO2 96%. Obeso (IMC 40) Glasgow 15,
● RX de abdome + USG de abdome sem déficit focal ACP sem alterações. Abdome globoso
● Sumário de urina por adiposidade, sem cicatrizes ou abaulamentos, sem
● Eletrólitos lesões de pele visíveis, RHA normais, flácido, sem
Diagnóstico Diferencial massas ou VMG palpáveis, indolor à palpação superficial
Caso: e profunda, sinal de Murphy negativo, sem sinais de
ID: Emerson, 38 anos, analista de sistemas de irritação peritoneal. Extremidades bem perfundidas,
informação, casado, pardo pulsos palpáveis, sem edema ou cianose, TEC<3s
QP: Dor na barriga e vômitos há 3 dias
Diagnóstico: Pancreatite Aguda causada por uso de
HDA: Dor e vômitos de início súbito. Dor em cólica, em
medicamentos.
barra com irradiação para o dorso, de intensidade 7 – 8
 Dispepsia e H Pylori
Dispepsia
Definição
● Dispepsia é uma dor e/ou desconforto na região
epigástrica.
● Pode vir associada à saciedade precoce (para de
comer porque está cheio, come menos) e
plenitude pós-prandial (fica muito cheio ao
comer, mal-estar)
Causas
● Doença Ulcerosa Péptica:
o Úlcera duodenal: dor inicia 2-3h após a
refeição; alivia com a ingestão de alimento ou
antiácido; piora com o jejum; pode haver
hiperfagia e ganho ponderal
o Úlcera gástrica: dor tende a ocorrer mais
precocemente após a refeição; pode haver
anorexia e perda ponderal
● Medicamentos (AINE’s)
● DRGE
● CA de estômago, esôfago e pâncreas
● Cólica Biliar
● H. Pylori
● Causas infecciosas: CMV e herpes
● Parasitoses: giardíase e estrongilodíase
● Gastroparesias: diabetes, deficiência de B12,
hipotireoidismo, esclerodermia, amiloidose
● Dispepsia Funcional – diagnóstico de exclusão
Abordagem do paciente com dispepsia:
● Anamnese + Exame físico
● Exames Laboratoriais:
✔ Hemograma
✔ Bioquímica
✔ Função Renal
✔ Perfil Hepático
✔ Amilase + Lipase
● USG Abdominal: Indicada em pacientes com
icterícia e dor abdominal atípica
● Endoscopia: Indicada em pacientes:
✔ 40 anos
✔ Hemorragia digestiva
✔ Sintomas refratários
✔ Sinais de alarme (perda de peso, disfagia,
odinofagia, vômitos persistentes, massa
palpável – irmã maria José, virchow ou
prateleira de blummer, HF para CA, história
prévia de CA gástrico com gastrectomia
parcial)
H. Pylori
● Bactéria gram negativa que coloniza a mucosa do
estômago ou alguma área com metaplasia da
mucosa gástrica (como esôfago)
● Transmissão oro-oral, fecal-oral ou gastro-oral
Quando vou testar e tratar o H. Pylori?
● Dispepsia
● CA gástrico
● Lesão pré-neoplásica
● HF + de CA gástrico em parentes de 1° grau
● Linfoma MALT
● PTI
● ↓ Fe inexplicada
● ↓ Vitamina B12
Investigação do H. Pylori
Pode ser realizada por exames não invasivos e
invasivos
Não Invasivos:
1. Testes Sorológicos:
- Não distingue uma infecção ativa de uma exposição,
então tem que confirmar com outros métodos
- Não é um bom exame no BR, pois há muita gente
infectada pelo H. Pylori
2. Teste com Ureia Marcada: teste respiratório
- Detecta a infecção ativa
- Como funciona: paciente bebe ureia marcada com
carbono 13 diluída em suco → expira em uma bolsa
que detecta se há CO2 com carbono 13 marcado → se
aumentado, detecta H. Pylori.
- Não há muita disponibilidade no BR
3. Pesquisa de Antígenos Fecais (SAT):
- Bem mais simples e prático
Invasivos: EDA
1. Teste da Urease:
- Reação com amônia: se rosa (positivo), se amarelo
(negativo).
- Pode ter falso negativo em algumas situações:
presença de sangue, uso de IBP (suspende 2 sem
antes) e uso de ATB (suspende 4 sem antes)
2. Histopatológico:
- Padrão ouro – biopsiar antro e corpo
- Uso de IBP pode influenciar (suspender 2 sem antes)
Na prática em resumo: solicita EDA com pesquisa de
H. Pylori (teste urease ou biópsia)
Tratamento
● Antibiótico:
BR: Amoxicilina 1g (2cp de 500mg de 12/12h) +
Claritromicina 500mg de 12/12h por 14 dias
● IBP: pode ser qualquer um em dose plena
Omeprazol 40 mg – 1x em jejum (30 min antes do
café) e 1x antes do jantar por 14 dias
Após o término do ATB, manter 1x em jejum por 8 Diagnóstico: Síndrome Dispéptica com presença de H.
semanas Pylori
● Retratamento: Exames: EDA com pesquisa para H. Pylori
Troca a claritromicina por levofloxacino

● Dieta leve + evitar AINE + perda de peso

Erradicação
● Confirma de 4-8 semanas após o término do
tratamento
● Pode fazer com: SAT ou teste respiratório (não
tem no BR)
● Faz EDA se: úlcera gástrica, linfoma MALT, câncer
gástrico precoce.
● Na prática em resumo: solicita EDA e espera
biopsia e urease negativos
● Precisa ter 2 métodos negativos
Prazos de Receitas
● ATB: 10 dias
● Antidepressivo: 30 dias
Dispepsia Funcional
● É um diagnóstico de exclusão através dos
Critérios de Roma IV:
Sintomas recorrentes que afetam a qualidade de vida,
presentes nos últimos 3 meses e iniciados há pelo
menos 6 meses, associados a um ou mais dos
seguintes sintomas:
1. Empachamento pós-prandial - pelo menos
3x/semana
2. Saciedade precoce - 3x/semana
3. Dor epigástrica - 1x/semana
4. Queimação epigástrica – 1x/semana
Critérios adicionais: deve-se afastar causas orgânicas
que justifique sintomas.

Caso 1:
ID: Etevaldo, 72 anos, branco, serviços gerais, natural
e procedente de Fortaleza.
QP: Dor no estômago há 3 meses
HDA: Dor em queimação na região epigástrica,
constante, intensidade 7/10, sem irradiação, com
progressão de piora, piora quando passa muito tempo
sem comer, melhora quando se alimenta. Associado
refere empachamento, hiporexia e perda de peso de
10kg nos últimos 3 meses. Nega uso de
medicamentos, demais sintomas e episódios
anteriores.
HPPP: Nega HAS, DM, alergias, internações, uso de
medicamentos.
HF: Pai falecido com câncer de estomago com 52 anos
e mãe hígida. Sem filhos
HS: etilismo social, nega tabagismo e prática de
atividade física