Você está na página 1de 2

Vício em Açúcar

Artigo: Eating dependence and weight again: no human evidence for a sugar-addiction model
of overweight.
→ Não há evidências reconhecendo a percepção de vício em açúcar, visto que a ideia de vício leva
a percepção de drogas mais fortes que agem no sistema de recompensa.

A epidemia global de excesso de peso é considerada uma das maiores ameaças à saúde humana.
Sabe-se que pessoas com obesidade sofrem de inflamação de baixo grau, resultando em maior risco
de desenvolver diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares bem como transtornos de humor,
incluindo depressão. Com o aumento da prevalência mundial do excesso de peso e a sua relação
com graves consequências para a saúde e psicopatologias, o conceito de “dependência alimentar”
recuperou popularidade devido aos fatores do ambiente obesogênico, tais como disponibilidade
esmagadora de alimentos doces e/ou grodurosos, palatáveis, densos em calorias e baratos.
Em particular a característica de recompensa hedônica do açúcar foi recentemente sugerida por
alguns como tendo um potencial de abuso semelhante às drogas clássicas, estimulando vias
compartilhadas de recompensa cerebral envolvidas na dependência de drogas. Consequentemente,
esta hipótese da “dependência do açúcar” parece agora oferecer uma explicação atraente, e
possivelmente uma desculpa, para o consumo excessivo de alimentos açucarados, incluindo a
compulsão alimentar e, portanto, o excesso de peso.
Esses achados são encontrados principalmente em roedores e são interpretados em favor das
propriedades de dependência do doce, seja por sacarose, glicose ou sacarina liquida. O grande
problema é que roedores receberam de forma intermitente a sacarose sendo 12 horas a vontade e 12
horas sem acesso.
→ Esse comportamento não temos em seres humanos, podendo ser um fator de confusão
significativo.
Esse estudo mostra que os animais não ganharam peso, mas mostra que aumentou a dopamina
dentro do núcleo acumbens, área ligada ao sistema de recompensa, causando assim sinais de
abstinência quando há cessação da sacarose ou glicose.
As drogas de abuso como anfetamina, cocaína, entre outras recompensas atuam nos mesmos
mecanismos e também aumentam as concentrações de dopamina no estriado e regiões mesolímbicas,
essas regiões ligadas ao sistema de recompensa, havendo então essa associação do açúcar com as
drogas.
→ Agir no mesmo mecanismo não diz nada sobre dependência.
→ Quanto de dopamina? Por quanto tempo foi liberada? Qual foi o efeito pós a queda de
dopamina? São fatores que devem ser explorados e não somente verificar que agiu no mesmo
mecanismo.
Amplas evidências de revisões sistemáticas e meta-análises de ensaios dietéticos controlados em
humanos não apoiam a suposição de que um macronutriente específico como o açúcar causa
compulsão alimentar e ganho de peso mais do que outras fontes alimentares.
Um método usado com mais frequência para explorar propriedades “semelhantes ao vício” dos
alimentos em participantes humanos é avaliar se eles podem sofrer danos alimentares que atendam
aos critérios aproximados do DSM (manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais) para
“transtorno por uso de substâncias” (por exemplo, tolerância, abstinência, tempo considerável gasto
para encontrar, uso e recuperação do abuso, incapacidade de reduzir o uso apesar do desejo de fazê-
lo, uso continuado apesar das consequências negativas). Para este propósito, foi desenvolvido a
escala de Yale (YFAS) que utiliza alguns critérios do DSM para transtornos de substâncias
relacionadas à clínica para quantificar sintomas de alimentação semelhante à dependência → mas
essa escala é criticada pois a pessoa que preenche ela não necessariamente vai apresentar um vício
alimentar, pode ser mais a questão do ambiente.
Essa escala mostra uma forte correlação com esse craving (desejo), aumento de peso e compulsão
alimentar.
Esse estudo avaliou 1495 jovens universitários, com idade entre 18 e 30 anos que preencheram a
escala de forma online. Avaliaram o “vício alimentar” pela escala de Yale e sintomas depressivos
pelo questionário de Beck. Nessa escala eles analisaram que os participantes tiveram algum
problema com alimentos específicos. Sendo classificados em 4 grupos: Grupo 01: alimentos mais
baixos em gorduras e não muito ricos em açúcares como: bolo de arroz, vegetais, biscoitos; Grupo
02: Alimentos ricos em açúcares mas sem tanta gordura e proteínas: como doces, soda, xarope de
frutas, frutas secas; Grupo 03: alimentos mais palatáveis ricos em gorduras e açúcares: como bolo,
chocolate; Grupo 04: ricos em gorduras mas não necessariamente ricos em açúcares: como carnes,
queijos, batata frita.
→ 95% da amostra experimentou pelo menos um sintoma de dependência da escala;
93,8% foram categorizados como sendo persistente desejo pelo alimento e dificuldade de não
consumir. Para caraterizar nesse suposto vício somente 12,6% foram categorizados com “vício
alimentar”. Os itens mais preenchidos foram os alimentos ricos em gorduras + açúcares e gorduras.
→ Houve uma correlação entre os indivíduos que mais pontuaram na escala de Yale e no
questionário de Beck para depressão.
Os alimentos mais ricos em gorduras e açúcares foram os mais levaram ao preenchimento da escala
e não alimentos ricos em açúcares de forma isolada.
→ Palatabilidade do alimento, não somente a gordura ou açúcar isolada.
Por mais que haja ativação de dopamina no cérebro envolvido na ativação do sistema de
recompensa, as evidências não mostram que é o açúcar que faz isso, mas sim a alta palatabilidade
do alimento.
O que há é uma tolerância ao alimento cada vez que come mais e um concionamento, por exemplo
comer um doce depois do almoço, não sendo um vício.

MITOS NA NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL → Artigo: Rethinking Food Reward


Gorduras quando consumidas vai ativar vários sinais → chegar até nervo
vago → ativar áreas de motivação (sistema de recompensa) → substância negra → dopamina →
áreas corticais que vão acrescentar valor ao alimento.
→ O mesmo acontece com o carboidrato, que tem um sensor na veia porta que vai afetar toda essa
via de recompensa.
Quando há uma combinação de alimentos ricos em açúcares e gorduras há um sistema de sensores
que vão acrescentar valor nessa combinação e acrescentar valor ao alimento.
→ isso não é algo ruim necessariamente, nosso corpo tem esse sistema para modo de sobrevivência,
pois ele entende que é um alimento com maior valor. Não separamos mecanismos homeostáticos de
sistema hedônico, há uma comunicação.
→ Esse sistema só é ruim quando houver um alto valor atrapalhando o autocontrole.
Açúcar: combinação de glicose com frutose. A ideia que a grande maioria pensa é que o açúcar que
vicia, mas, na verdade, a grande maioria das pessoas tem uma preferência por alimentos
combinados com alta palatabilidade → açúcar e gordura.

Você também pode gostar