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br OPERAÇÕES 66 OPERAÇÕES 76
Editores
COM ER
C O QUE A P&G, LEGO E INTUIT SABEM SOBRE
VENCER A CONCORRÊNCIA. PÁGINA 35
FEVEREIRO 2017
35
A FIDELIDADE DO CLIENTE ESTÁ “O HÁBITO CRIA A CONEXÃO”
VANTAGEM SUPERESTIMADA
Melhor focar no hábito. Uma teoria sobre
Uma conversa com Jørgen Vig Knudstorp,
CEO e presidente do Grupo LEGO.
CUMULATIVA a vantagem acumulativa. A.G. Lafley e
Roger L. Martin
David Champion
52 PSICOLOGIA
44 ESTRATÉGIA COMO O HÁBITO VENCE A NOVIDADE
CONTRAPONTO: VELHOS HÁBITOS SÃO Evidências neurológicas do “calor
aconchegante da familiaridade”.
DUROS DE MORRER, MAS MORREM Scott Berinato
O modelo de assinatura da Dollar Shave
Club é um exemplo surpreendente. 54 EMPREENDEDORISMO
Rita Gunther McGrath
“UM PRODUTO QUE PERMITE ÀS
PESSOAS MANTER SEUS HÁBITOS” CAPA: THAWAT TANHA/123RF; BRUCE PETERSON
Uma conversa com Scott Cook, presidente
e cofundador da Intuit. David Champion
ARTIGOS
ESTRATÉGIA SOCIAL OPERAÇÕES OPERAÇÕES
A contribuição da estratégia social Seja excelente no atendimento ao Estratégias energéticas
para a vantagem competitiva consumidor para executivos do C-level
Cada vez mais, executivos e empresas O consumidor quer resultados — A energia não é mais simplesmente
são desafiados a beneficiar a sociedade não necessariamente simpatia. um custo a ser administrado.
e a proteger o meio ambiente atuando Matthew Dixon Lara Ponomareff, Andrew Winston, George Favaloro
local ou internacionalmente. Scott Turner e Rick DeLisi e Tim Healy
Alexander Zimmermann, Gilbert Probst,
Carolin Hermann e Paul Ferreira
66 76
58
ENIS AKSOY/GETTY IMAGES
RADAR 17 MARKETING
O poder de uma
avaliação positiva
COMO EU FIZ
O CEO da T-Mobile explica
Novas ideias e Forçar os consumidores a refletir
pesquisas em andamento sobre boas experiências estimula como conquistar uma fatia
as vendas. de mercado provocando
ofensivamente os
concorrentes
26 DEFENDA SEU ESTUDO O provedor de wireless
O sucesso depende dos genes quis tornar todo o
Nova pesquisa revela que pessoas segmento melhor para
com certas variantes genéticas os consumidores de
têm emprego de prestígio, ganham uma vez por todas.
salário alto e acumulam mais bens. John Legere
28
DE CORPO E ALMA
JERRY SEINFELD
90
MODELOS ANALÍTICOS de alta precisão, capazes de 8EQFqQ JSM S GEWS HI YQ ZEVINMWXE HI TSVXI QqHMS
antecipar padrões e tendências de grande impacto, como HI IUYMTEQIRXSW HI PE^IV I VSYTEW IWTSVXMZEW %PXEQIRXI
necessidades e demandas futuras dos consumidores de HITIRHIRXI HI YQ KVYTS HI GPMIRXIW ½qMW I HE WE^SREPMHEHI
determinado produto, já fazem parte do dia-a-dia de seu modelo de negócio estava prestes a se exaurir.
muitas organizações. Portais de e-commerce oferecem Quando decidiu aumentar o ticket QqHMS HI GSQTVEW S
produtos de acordo com preferências percebidas a TVSTVMIXjVMS TIVGIFIY UYI RnS XMRLE E QIRSV MHIME HIUYEP
partir dos movimentos dos internautas com seus mouses. seria a resposta dos seus clientes. Por onde começar? Que
Agências de viagens reprogramam roteiros de acordo com TVSHYXSW SJIVIGIV# )Q UYI GPMIRXIW JSGEV# % WEuHE WYVKMY
fatores climáticos ou eventos como crises políticas ou a partir de uma análise dos dados do ponto de venda da
erupções vulcânicas. Bancos previnem fraudes a partir de PSNE I HS TIV½P HSW GPMIRXIW GSQTVEHSVIW VIKYPEVIW HI
algoritmos sobre padrões de comportamento suspeitos. E produtos de valor mais baixo, os compradores ocasionais
EWWMQ TSV HMERXI IQ YQE MR½RMHEHI HI GEWSW UYI XEQFqQ de produtos mais caros, compras únicas, compradores de
combinam dados com análises de alto impacto. ±PMUYMHEpnS² I EWWMQ TSV HMERXI )WWI QIVKYPLS TIVQMXMY
Foi o caso de YQ JEFVMGERXI HI jPGSSP KPSFEP UYI IWXEZE novos insights TEVE S ZEVINMWXE GSRWIKYMV MHIRXM½GEV I
GSQ HM½GYPHEHI IQ HI½RMV YQE VSXE HI PSRKS TVE^S QEMW VEWXVIEV WIYW GPMIRXIW QEMW ½qMW JSVQYPEV GEQTERLEW I
precisa das vendas de suas várias linhas de produtos ao programar promoções, oferecendo diferentes valores para
redor do mundo. A partir de dados sobre efeitos dos consumidores menos comprometidos para aumentar as
fatores econômicos globais, preços e eventos de marketing ZIRHEW I GSRWXVYMV VIPEp~IW HI ½HIPMHEHI
HSW GSRGSVVIRXIW YQE IUYMTI HI EREPMWXEW IWTIGMEPM^EHSW Outro processo permitiu a um banco gerenciar o uso
produziu uma ampla gama de previsão para 29 mercados dos caixas eletrônicos em diferentes circunstâncias e,então,
globais, incorporando marketing, preço e fatores planejar e otimizar a programação de remessa e entrega de
KISIGSR|QMGSW% TVIGMWnS QqHME HEW TVIZMW~IW EYQIRXSY HMRLIMVS 4EVE FERGSW HI ZEVINS q GVYGMEP KEVERXMV UYIWIYW
IQ % SVKERM^EpnS XEQFqQ JSM GETE^ HI ERXIZIV SW IJIMXSW GEM\EW IPIXV|RMGSW IWXINEQ EHIUYEHEQIRXI EFEWXIGMHSW
HEW EPXIVEp~IW HI TVIpS I HEW EXMZMHEHIW HI QEVOIXMRK%PqQ GSQ HMRLIMVS (MRLIMVS IQ I\GIWWS ½GE TEVEHS WIQ
disso, os efeitos das mudanças das condições econômicas VIXSVRS TEVE S FERGS JEPXE HI HMRLIMVS WMKRM½GE WIQTVI
em vendas futuras começaram a poder ser simulados. assumir o risco de perder clientes aborrecidos por não
8
GSRWIKYMVIQ JE^IV WEUYIW UYI XIRHIQ E TVSGYVEV E 4SHIWIVUYIREverdade, a organização tenha pessoas
QjUYMREHSGSRGSVVIRXISRHIIPIWTSHIQWIVEXVEuHSW e hardware, mas os problemas a solucionar sejam mais
TSV IQTVqWXMQSW I SJIVXEW HI SYXVSW WIVZMpSW 2IWXI GSQTPI\SW I QEMW HMJuGIMW UYI E WYE GETEGMHEHI HI
GEWS JSM YWEHS YQ TVSNIXS HI±TVIZMWnS I SXMQM^EpnS² solucioná-los. Podem ser problemas novos ou emergentes
HITSMW EHETXEHS E SYXVEW SVKERM^Ep~IW UYI ETPMGEVEQ IUYITVIGMWEQWIVVIWSPZMHSWQYMXSVETMHEQIRXI
uma abordagem semelhante para a otimização de suas 3XIQTSXEQFqQTSHIWIVGVYGMEP5YEPUYIVTVSNIXS
próprias atividades de logísticas e cadeia de fornecimento, HI8-PIQFVE1EMEPIZEXIQTSTEVEGSR½KYVEVIENYWXEVSW
levando os itens certos ao lugar certo e na hora certa ambientes de hardware e software. Pode haver necessidade
para atender a demanda. de recrutar pessoal ou as pessoas envolvidas podem ter
Desafios como esses demandam QEMW UYI S outras responsabilidades diárias.
TVSGIWWEQIRXS EYXSQjXMGS HI KVERHIW UYERXMHEHIW HI
dados, segundo Bruno Maia, head HE%QqVMGE 0EXMRE HI
Cloud Analytics do SAS, líder global em softwares e serviços Os projetos levam em média de 6 a 12 meses
de business analytics e a maior empresa independente do para gerar valor. Nesse tempo, os problemas
segmento. Exigem análise especializada e personalizada. podem ter mudado ou a oportunidade de negócios
diminuído. O Results as a Service do SAS supera
O software, explica, age rapidamente e sem demandar
vários desses obstáculos e pode gerar valor
alto grau de intervenção humana. Pode ser usado em comercial em poucas semanas. Tem o resultado
diversas situações semelhantes. Uma vez ativados, os pronto para gerar ROI, sem burocracia e sem
algoritmos assumem o controle e comandam as ações. necessidade de licenciamento do software ou
Mas muitos casos exigem vasta matriz de experiência em contratação da mão de obra qualificada. Basta
diferentes setores. o RAAS (Results as a Service) para ter acesso
Por falta de capacidade de implementar as soluções ao know-how da líder global em analytics, e com
IHEVSTEWWSEPqQQIWQSIUYMTEHEWGSQJIVVEQIRXEW implementação ultra veloz.
O SAS é líder de mercado em Analytics. Por meio
tão poderosas de processamento de dados, muitas
de soluções analíticas inovadoras, voltadas para a
organizações deixam de tirar o melhor proveito dos inteligência do negócio e gerenciamento de dados,
softwares e alcançar os melhores resultados. Isso, diz Maia, a companhia ajuda seus clientes em 140 países a
TSVZjVMEWVE^~IW9QEHEWQEMWJVIUYIRXIWqEIWGEWWI^ tomarem decisões de forma rápida e assertiva.
das habilidades corretas. Analistas estão se tornando Softwares de alto desempenho para a análise
YQ VIGYVWS GEHE ZI^ QEMW IWGEWWS ª QIHMHE UYI EW de grande quantidade de dados para a solução de
SVKERM^Ep~IWTIVGIFIQSWFIRIJuGMSWUYIEERjPMWITSHI problemas complexos em curto espaço de tempo
fornecer, a demanda pelos analistas aumenta. Diversas começaram a ser desenvolvidos em 1976 pelo SAS.
Desde então, mais de 70 mil empresas, governos e
TIWUYMWEWVIGIRXIWHIWXEGEQHq½GMXHIEREPMWXEWIQXSHS
instituições acadêmicas já instalaram softwares SAS.
o mundo. Nos últimos anos, o SAS começou a se envolver
3YXVE HM½GYPHEHI q UYI a organização pode ter falta diretamente na aplicação dos processos de análise a
HI SYXVSW VIGYVWSW RIGIWWjVMSW 4SHI LEZIV HM½GYPHEHIW casos concretos – o SAS Results as a Service.
com a central de dados ou hardware EHIUYEHS GSQ No Brasil desde 1996, a subsidiária brasileira
conhecimento de TI ou disponibilidade para administrar conta com mais de 200 clientes, escritórios em São
os ambientes necessários de hardware; com software Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF), cerca
necessário para gerenciar dados, executar análises e utilizar de 180 colaboradores e atua em diferentes setores
como finanças, telecomunicações, varejo, energia,
os resultados; com habilidades certas em termos de dados
governo, manufatura e educação.
para gerenciar os dados necessários; ou com os dados
externos necessários para fornecer o melhor resultado.
9
CARTA AO LEITOR
RENOVAÇÃO Você provavelmente notou que a revista que está
em suas mãos é diferente da HBR Brasil à qual está
CONSTANTE
acostumado. Nossa equipe de design, liderada
pelo diretor de criatividade James de Vries, fez um
excelente trabalho ao introduzir mais requinte e
energia em nossas páginas.
O que não mudou foi nossa profundidade
e rigor, que você verá plenamente exibidos no
menu de artigos. O principal artigo do bloco Foco
apresenta uma nova teoria da estratégia: enquanto
alguns acadêmicos sustentam que o mercado atual
em rápida mudança torna qualquer vantagem
competitiva insustentável, o ex-CEO da Procter &
Gamble A. G. Lafley e o professor da Rotman Roger
Martin argumentam que desempenho sustentado
é, sim, possível. Alcançar o que eles chamam de
vantagem cumulativa não significa fidelizar o
cliente, e sim incutir-lhe hábitos.
Esta edição marca o início do nosso novo
esquema de publicações impressas: dez por ano.
Com esta reformulação introduzimos duas edições
digitais (janeiro e julho), o que nos permitirá
produzir mais conteúdo geral — incluindo recursos
digitais e ferramentas valiosas para ajudá-lo a
aplicar as ideias apresentadas na revista e no
Adi Ignatius com o diretor de arte Matthew Guemple
website HBRBR.com.br.
Estamos orgulhosos da nova experiência da
HBR Brasil. Queremos saber sua opinião.
CHRISTOPHER CHURCHILL
Tudo ou nada
$LQÀXrQFLDGLJLWDOQRDPELHQWHGHLPSRVWRVH[LJHXPDPXGDQoD
GUiVWLFDHPRSHUDo}HVWULEXWiULDVGDVHPSUHVDVHPWRGRRPXQGR
Houve uma época em que a digitalização do universo de está se sujeitando não só a multas e punições cada
impostos era estável e previsível. Reportes eram realizados vez mais severas, mas também a ver suas operações
com base em planilhas exaustivamente preenchidas e a serem ultrapassadas até o ponto de se tornarem
análise de todos esses dados era feita de forma individual, completamente obsoletas.
prejudicando a capacidade de cruzamento de informações
]YÕk[YdarY
g\]ajj]_mdYja\Y\]k& Para Roberta Ezar, sócia de Tax Technology da EY, essa
dura e veloz realidade se mostra ainda mais complexa
em um mundo de negócios marcado por acordos de livre
Essa época acabou. E faz tempo.
comércio e por cadeias de suprimentos multinacionais:
Hoje, o nível de maturidade de órgãos reguladores somado
à ilimitada capacidade de armazenamento, processamento “As adaptações e mudanças em reportes e obrigações
e análise de dados oferecida pelo universo digital dá a Õk[Yak\][Y\YhYkY^]lYelg\YYeYd`YljaZmljaY]$hgj
oportunidade não só de uma determinação rápida de falhas consequência, toda a operação de uma empresa, exigindo
[geglYeZe\]a\]flaÕ[Y
g]hj]]f[`ae]flgYmlgela[g um grau de conhecimento e uma versatilidade cada vez
de dados pessoais e corporativos. maiores dos responsáveis pela área de Impostos”, diz.
Radar
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MAIS UMA DIFERENÇA DE GÊNERO:
HOMENS E MULHERES TÊM MOTIVAÇÕES
BEM DIFERENTES PARA ENTRAR NA
ÁREA DE VENDAS.
O PODER DA PESQUISA POSITIVA
O processo de feedback dos clientes pode ser uma
ferramenta valiosa para inspirar lealdade e aumentar
as vendas.
Veja também: por que o lobby nem sempre significa
influência, o sucesso dos empresários estrangeiros
e a magia da palavra crowdsourced.
COMO EU FIZ
Aumentar participação de mercado atacando rivais:
a visão do CEO da T-Mobile.
PONSáVE LSUCeS
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O PODER DA
os pesquisadores chamam de “solicitações positivas
abertas” parece ser uma maneira fácil e de baixo custo
PESQUISA
de aumentar a satisfação e os gastos. “As pessoas fi-
cam mais felizes quando focam no lado positivo, mas
as empresas raramente lhes dão essa oportunidade”,
POSITIVA
diz Bone.
Em um dos estudos, realizado em uma rede nacio-
nal de varejo, clientes solicitados a fazer um elogio no
início de uma pesquisa de satisfação realizaram 9%
mais transações e gastaram 8% a mais com a empre-
sa no ano seguinte que clientes que fizeram a mesma
pesquisa sem o pedido de elogio. Um estudo em uma
empresa de software B2B descobriu que usuários de
uma versão de teste de um software aos quais se soli-
citou, logo no início, que descrevessem seus recur-
sos favoritos gastaram 32% a mais com os produtos
da empresa no ano seguinte quando comparados
aos que passaram pelo mesmo teste sem que lhes
fosse feita tal solicitação.
maioria das empresas faz pesquisa Em ambos os estudos, clientes levados a elogiar
com clientes para medir-lhes a satis- também pontuaram mais alto em medidas tradicio-
fação, identificar possibilidades de nais de satisfação. E ser solicitado a dar feedback po-
melhoria ou simplesmente permitir sitivo aumentou os gastos, mesmo entre clientes que
que os descontentes desabafem. A relataram ter tido experiências ruins. “Solicitações
abordagem parte de uma mentalida- positivas abertas podem ajudar os clientes a reformu-
de pessimista e focada em problemas. lar experiências não ideais”, escrevem os autores.
“Os clientes foram condicionados a Os pesquisadores oferecem várias explicações pos-
sempre procurar o que está errado”, síveis para esses resultados. Graças à maleabilidade da
diz Sterling Bone, professor associa- memória, conhecida por psicólogos, pedir aos clientes
do de marketing da Huntsman School que relatem episódios positivos pode fortalecer a me-
of Business, no estado de Utah. Na mória dessas experiências e torná-las mais acessíveis
verdade, a grande maioria das pes- no futuro, aguçando a percepção geral dos clientes so-
quisas sobre atendimento ao cliente bre elas. Outro efeito psicológico que pode estar em
trata da “recuperação de serviços” — jogo é a dissonância cognitiva, ou o desconforto que as
que fazer quando um cliente se pessoas sentem quando mantêm crenças contraditó-
queixa. Durante um curso de estu- rias. Ela faz com que seja mais difícil aos clientes cri-
dos bíblicos, quase uma década ticar uma marca depois de ter expressado admiração.
atrás, Bone refletiu sobre o poder da gratidão e come- “Elogiamos o que gostamos, e gostamos do que elogia-
çou a se perguntar o que aconteceria se se esse senti- mos”, diz Hilary Hendricks, MBA da Brigham Young
mento fosse mencionado em pesquisas com clientes. University, que colaborou na pesquisa.
E se em vez de as empresas perguntarem a eles o que Essa manipulação é ética? Os pesquisadores reco-
deu errado perguntassem o que deu certo? nhecem que essa dúvida deve ser investigada, mas
Desde então Bone e colegas fazem pesquisas pa- oferecem vários argumentos favoráveis. Primeiro,
ra explorar essa ideia. Eles publicaram sete estudos dizem, pesquisas anteriores mostram que os clientes
que argumentam que as empresas devem olhar para raramente percebem a manipulação. “Então, é pro-
o processo de feedback do cliente não só como uma vável que eles percebam solicitações gerenciais como
oportunidade de ouvir, mas de também, sutilmente, genuínas, ou até lisonjeiras”, escrevem. Bone acres-
influenciar-lhe a percepção. Descobriram que come- centa que o trabalho psicológico sobre os efeitos salu-
çar um pedido de feedback solicitando um elogio (por tares de expressar gratidão sugere que ser solicitado
exemplo, “O que foi bom em sua visita?”) aumenta- a elogiar pode aumentar a sensação de bem-estar dos
va consistentemente os níveis de satisfação relata- clientes. Os pesquisadores argumentam também que
dos, a possibilidade de uma nova compra, a quanti- as empresas devem ver a técnica não tanto como um
dade de dinheiro que gastariam e até mesmo a leal- meio de manipular percepções, mas como uma forma
dade do cliente. Começar uma pesquisa com o que de construir relacionamentos.
Os pesquisadores citam várias empresas que já so- Mayne argumenta, também, que as empresas po-
licitam elogios como parte dos programas de voz do dem usar respostas positivas para melhorar a qua-
cliente. A Subway colocou sinais perto de seus caixas lidade deslocando o foco de “minas terrestres” (as
com as frases: “Como está seu sanduíche? Na medi- queixas inevitáveis) para “minas de ouro” (áreas
da! Perfeito! Ótimo! Diga-me, quero saber!”. Uma rede onde a marca vai bem). No entanto, adverte Kristen
hospitalar de origem religiosa pede aos pacientes que DeTienne, professora da Marriott School of Manage-
respondam à pergunta “De que forma você foi aben- ment da Brigham Young University e coautora de al-
çoado por um funcionário do hospital?”. A página de guns dos sete estudos, é preciso mais pesquisa para
contato da JetBlue leva os clientes ao link “compar- saber se, em experiências de serviço extremamente
tilhe um elogio”. Para Lonnie Mayne, presidente da ruim (como erros médicos), altamente sensível ou ra-
InMoment — empresa de insights do cliente que se ramente agradável, o pedido de elogio pode sair pela
apoia em grande parte nessa pesquisa —, os que ado- culatra e enfurecer os clientes. “Perguntar quais ele-
tam essa tática percebem que ela cria um ciclo virtuo- mentos de um serviço de funeral nos ‘encantou’ pode
so de apreciação mútua entre clientes e funcionários. não ser uma boa ideia”, diz ela.
“Clientes não são inimigos”, diz ele. “Mas, se você DeTienne alerta que insistir demais por feedback
abordar apenas as críticas, é isso que seus funcioná- positivo é “forçar a barra”. Ela cita uma equipe da
rios vão ouvir e levar para o próximo atendimento.” Delta Air Lines com sede em Ontário que distribuiu
EM WASHINGTON
do cliente. E sugerir a resposta po-
de ser particularmente preocupan-
te no contexto de saúde porque,
frequentemente, a percepção que
os pacientes têm dos serviços con-
tribui para determinar o valor do EM CAPITOL HILL, dinheiro significa influência? Segundo um novo estudo, a
financiamento federal. Segundo resposta é não. Pesquisadores entrevistaram funcionários do Congresso,
DeTienne, as melhores empresas do Executivo e do setor privado sobre a reputação de empresas e setores
alertam os funcionários que tenta- para calcular o “índice de pontuação de marca” de cada setor. Empresas
tivas de direcionar a resposta dos
que gastam muito, como as de petróleo e gás, tiveram pontuação baixa,
clientes são motivos de demissão
imediata. enquanto empresas de tecnologia ficaram no topo. O que separa os
De fato, os autores afirmam melhores dos demais? Os pesquisadores identificaram cinco fatores:
que a maior preocupação sobre visibilidade organizacional, conhecimento da área, engajamento externo,
sua pesquisa é que alguns geren- posicionamento de políticas e cidadania corporativa.
tes tentem usá-la para inflar os
índices de satisfação do cliente ALTO
— uma métrica que muitas vezes
ajuda a estabelecer salários com
base no mérito. Em seus estudos, TECNOLOGIA
pedir um elogio levantou o Net
Promoter Scores (uma métrica co- US$ 250 BI
RECEITA
mum de fidelidade) em até 15% e MÉDIA
ANUAL
aumentou as intenções de compra
Índice de pontuação de marca
,
gatar um negócio do fracasso.” PROPORÇÃO DE ADULTOS NOS ESTADOS
HBR Reprint F1701A–P
UNIDOS QUE OBTIVERAM RENDA DA
SOBRE O ESTUDO ECONOMIA DE PLATAFORMAS ONLINE,
“Mere measurement ‘plus’: how
solicitation of open-ended positive INCLUINDO EMPRESAS COMO UBER E
feedback influences customer purchase
behavior”, de Sterling A. Bone et al.
AIRBNB.
“PAYCHECKS, PAYDAYS, AND THE ONLINE
(Journal of Marketing Research, 2016) PLATFORM ECONOMY,” DE JPMORGAN CHASE
GLOBALIZAÇÃO
Milhões de pessoas trabalham em vendas nos Estados Unidos. Como seria de
esperar, as motivações que as levaram a seguir essa carreira são muito variadas. POR QUE, REALMENTE, AS EMPRESAS
Mas uma pesquisa com mais de mil profissionais de vendas revela uma clara
diferença de gênero. As mulheres, mais que os homens, geralmente chegam à
MUDAM P&D PARA O EXTERIOR
profissão por acaso, enquanto os homens, mais que as mulheres, são atraídos NÃO É À TOA QUE AS MULTINACIONAIS
pela autonomia da área e pelas recompensas financeiras. ■
investem pesado para abrir centros de
P&D na Índia e em outros países em
A RAZÃO FUNDAMENTAL PELA QUAL ESTOU EM VENDAS desenvolvimento: muitos desses países
têm graduados em ciência, tecnologia,
MULHERES HOMENS engenharia e matemática qualificados
e que trabalharão por muito menos que
cientistas nos Estados Unidos. Mas novas
pesquisas sugerem que essa não é a maior
motivação: as empresas fazem isso,
principalmente, por causa do benefício
fiscal obtido com a transferência dos lucros
Quero controlar meu próprio destino. por meio de inovação para jurisdições
estrangeiras. Foram analisadas patentes e
dados financeiros de mais de 200 empresas
entre 1993 e 2006. Descobriu-se que as
empresas economizaram 20 vezes mais
pelo deslocamento de impostos que pelo
deslocamento do trabalho. Descobriu-
Quanto mais trabalho mais ganho. se também que as empresas estão mais
propensas a deslocar receitas relacionadas
a suas patentes mais valiosas e que o
deslocamento de impostos é menos
comum em países com baixo IP (índice de
proteção) — isso reforça a ideia de que P&D
estrangeira tem mais a ver com impostos
que com mão de obra.
“Tais análises fornecem informações
Combina com minha personalidade. úteis para os formuladores de políticas
públicas e pesquisadores interessados em
compreender a crescente participação
estrangeira nos lucros em todo o mundo”,
escrevem os autores. Isso é especialmente
verdade numa época em que autoridades
de muitos países se esforçam para conter
transferências de lucros. ■
Aconteceu naturalmente.
SOBRE O ESTUDO “R&D and the rising foreign
profitability of U.S. multinational corporations”, de Lisa
FONTE “THE SIMILARITIES AND DIFFERENCES BETWEEN MEN AND WOMEN IN SALES,” DE STEVE W. MARTIN De Simone, Jing Huang e Linda Krull (versão preliminar).
21
problemas, endereçando as necessidades pessoais,
possibilidades técnicas e demandas dos negócios.
As empresas já descobriram suas vantagens.
Atualmente, cerca de 60% dos alunos do curso de pós-
graduação em design estratégico do IED São Paulo são
engenheiros e administradores que querem usá-lo como
ferramenta para seus negócios. Os 150 professores
As empresas têm que inovar,
da casa, mentores e consultores, não só dão aula na trabalhar de olho no futuro,
graduação, pós-graduação e extensão, mas também
apoiam as consultorias prestadas pela instituição para na sustentabilidade, na nova
as grandes e médias empresas, organizações e governos,
com projetos desenvolvidos em 12 estados brasileiros.
economia e nos serviços.
O mais recente passo da faculdade foi o lançamento O design é capaz de propiciar
do IED Lab, laboratório de design e inovação que, na
KLÄUPsqV KL 4LNPKV t \T ¸LZWHsV KL [YHUZMVYTHsqV toda essa transformação
constante, local de oxigenação de seres humanos
por meio do design thinking, para gerar inovações. É
uma junção de espaços físicos e virtuais para jovens,
LTWYLZmYPVZ WYVÄZZPVUHPZ X\L WVKLYqV WHY[PJPWHY KL
cursos, vivências, workshops e desenvolver projetos
com a gente”. As empresas interessadas podem trazer
seus projetos e submetê-los ao laboratório, onde serão
desenvolvidos por professores e alunos. A exigência é
que a empresa também participe. “É preciso engajamento
e envolvimento para haver transformação”, explica
Megido. Além disso, o modelo de negócio tem que estar distinto, da arquitetura, da engenharia e do artesanato, e
coerente e alinhado com as questões da sustentabilidade, MVPZLJVUZVSPKHUKVJVTV\THWYVÄZZqVUV]HHVSVUNV
novas tecnologias, serviços e gestão. desse período. Faz parte dessa história o surgimento de
Na avaliação de Megido, o laboratório dá novo importantes escolas como o Istituto Europeo di Design
ZPNUPÄJHKV HV WYVW}ZP[V KL \TH MHJ\SKHKL KL KLZPNU (IED), na Itália, em 1966. As agências vão surgindo e
no Brasil, uma vez que fomentar o olhar diferente ganhando importância nas décadas seguintes e, mais
para a disciplina abre espaço para os jovens que estão ou menos simultaneamente, começou a tomar forma
WYVJ\YHUKV UV]HZ WYVÄZZLZ ¸i \T [Z\UHTP X\L ]HP o design thinking. Até então, o foco do design era uma
chegar: ou você surfa ou vai se afogar. Acabou a era coisa bem diferente, voltada para o mercado da época,
KHZIVUPÄJHsLZKL]VS\TLZKHZYLZLY]HZ[tJUPJHZ9;Z da indústria de produtos de massa.
KVZ WYVÄZZPVUHPZ H\[UVTVZ KVZ MLLZ KL HNvUJPHZ KV
pedágio”, diz. O que aconteceu então?
O próximo passo é mais ousado ainda. O IED quer O mercado mudou. Com novas tecnologias, é mais
ser espaço também para o empreendedorismo. Megido virtual, intangível. Para sobreviver, as empresas têm que
calcula que se cada um dos mil alunos que passam inovar, trabalhar de olho no futuro, na sustentabilidade,
pelo instituto todo ano tiver uma ideia, são mil ideias na nova economia e nos serviços. E o design é capaz de
potencialmente inovadoras. Se 20% delas forem propiciar toda essa transformação. Desde o início do
realmente transformadoras, já há um volume crítico novo milênio, o design passou a viver uma nova fase,
para levar adiante um projeto consistente com apoio ao que começou no plano teórico, mas agora começa a
empreendedorismo por meio da incubação das propostas entrar na aplicação prática. O design está hoje atrelado
junto com outras empresas. a todas essas temáticas. Não é mais só questão de marca
A seguir, a entrevista com Megido. e de engenharia. Design é um jeito de pensar diferente.
O design gera projetos transformadores para que isso
Como o design se transformou em uma ferramenta do possa ocorrer, idealizando coisas de uma forma nova e
mundo dos negócios? diferente. O design apresenta uma revolução. É disso que
O design nasceu no século 20 como um híbrido, porém tratamos no livro “A Revolução do Design – Conexões
22
para o Século XXI” (Editora Gente/IED Brasil), que Mas passa por uma revisão completa da educação e do
acabamos de lançar. relacionamento entre empresa e cliente. O que está em
jogo não é mais a relação entre uma empresa e um cliente
Qual foi essa revolução? e sim entre parceiros de vida, que buscam ambos saírem
A revolução do design signiÄJH WYVQL[HY JVPZHZ WHYH HZ enriquecidos desse relacionamento. E, para que haja
pessoas levando em conta quatro pilares: sustentabilidade, LUYPX\LJPTLU[VWYLJPZHTL_PZ[PYWYVW}ZP[VLZPNUPÄJHKV
inovação tecnológica, serviços e nova economia. A
sustentabilidade, por sua vez, tem sete pilares: clima, É um caminho sem volta?
água, direitos, produção, biodiversidade, agropecuária Não dá mais para continuar replicando as métricas e
e emprego, na formulação do Conselho Empresarial metodologias do século passado, que funcionaram em
Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). uma época da guerra fria, dos blocos políticos e
As novas tecnologias que estão redesenhando nossa econômicos. O mundo está mais complexo. O ser humano
]PKH [HTItT ZqV ZL[L! PU[LSPNvUJPH HY[PÄJPHS VIQL[VZ mudou de tal forma que não quer o relacionamento que
autônomos, big data, impressão 3D, internet das coisas, tinha antes. A pauta hoje é outra. As empresas estão
robótica e mídia social, conforme estabelece o relatório procurando o design thinking porque é uma abordagem
Digital Transformation Initiative, recém divulgado que as ajuda a projetar seus propósitos, com respeito
pelo World Economic Forum. Os serviços passam a e empatia, com o olhar para sustentabilidade que
predominar e já representam 80% do Produto Interno a sociedade exige, e para os serviços que as pessoas
Bruto (PIB) dos países desenvolvidos, e cerca de 60% no demandam. A economia pede projetistas, planejadores,
caso do o Brasil. A nova economia visa o bem-estar, além pensadores que tenham essa capacidade e essa
da riqueza. São essas as premissas do design inovador, ÅL_PIPSPKHKLKLSPKHYJVTLZZHKPUoTPJHKVZLYO\THUV
que também impactam os negócios. É uma junção de em uma ponta e com a tecnologia na outra. Por outro
inovações dos últimos anos que, pela primeira na história, SHKV LZZL WYVÄZZPVUHS [LT X\L ZHILY JVSHIVYHY JVT V
torna o homem livre de ter que produzir coisas. Ele pode arquiteto, o geneticista, com o engenheiro. O designer
planejar, mas não precisa mais produzir. t \T WYVÄZZPVUHS OxIYPKV JHWHJP[HKV WHYH [YHIHSOHY
e dialogar com todas essas frentes, do antropólogo e
Como o design thinking entra nessa equação? sociólogo ao geneticista e engenheiro. É grande aliado
O design thinking é contemporâneo do desenvolvimento das empresas porque o que mais agrega é um novo olhar.
das inovações, como as que resultaram na inteligência O designer chega como oxigênio para propiciar essa
HY[PÄJPHS L UH JPILYUt[PJH :qV PUV]HsLZ KVZ S[PTVZ transformação e tirar a inovação do discurso.
50 anos, que estão agora se integrando com resultados
explosivos. Por exemplo, o carro autônomo do futuro As empresas estão conscientes dessas mudanças?
[YHIHSOHJVTPU[LSPNvUJPHHY[PÄJPHSIPNKH[HPU[LYUL[KHZ As empresas sempre querem vender mais. Depois de
JVPZHZLYVI}[PJHHStTKLJVUÄN\YHY\TUV]VZLY]PsV terem atuado com propaganda e técnicas voltadas para
mais que um produto. E também não é mais o vilão porque o aumento das vendas, começam a entender que todos
é uma ideia sustentável, respeita o clima, é mais acessível vendem as mesmas coisas. É só ir um supermercado e olhar
e vai gerar bem-estar. É o designer que está projetando as prateleiras. Saturou. As empresas então descobriram
tudo isso. É o ser humano que usa de suas capacidades que precisam trabalhar com propósito, se relacionar com
PU[LSLJ[\HPZ¶ÅL_PIPSPKHKLZVS\sqVKLWYVISLTHZVSOHY os seres humanos que compram seus produtos e que são
L[UVNYmÄJV LTWH[PH [YHIHSOV LT LX\PWL ¶ KL TVKV movidos por paixões, medos e desejos; e que têm de
criativo. O design thinking usa a antropologia para tratar essas pessoas de uma forma mais sincera e honesta
entender o homem e se conectar com o contexto. Ser KVX\LÄaLYHTH[tOVQL,UÄTWHZZHYHYLZWLP[HYVZLY
criativo é resolver os problemas do homem e do planeta humano. As pessoas querem respeito; se consideram
com empatia e respeito para proporcionar felicidades. O parceiras das empresas e estão dispostas a se conectar
design se preocupa em realmente proporcionar felicidade com elas desde reconheçam propósito em seus produtos,
e bem-estar. Não vende felicidade como o marketing, serviços e atitudes. Caso contrário, vão se desconectar
sem se importar se realmente vai gerar felicidade. Será com apenas um clique.
possível uma revolução que quebre muralhas, mude
modelos, mas com empatia e bom humor, respeitando Todas as empresas pensam assim?
a cultura e os valores humanos? Com a revolução do É a primeira vez na história dos últimos 50 anos que as
design, que é uma revolução da empatia, isso é possível. empresas estão sensibilizadas para o tema. Atualmente,
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indústrias, organizações, entidades e até governos a ter uma utilidade extraordinária e rende muito dinheiro
querem ouvir a respeito do design thinking. Toda a para seu fabricante até hoje. As empresas têm que achar
pressão da sociedade pela sustentabilidade joga a favor; um jeito de fomentar a criatividade. Curiosidade só não
e o mercado também, por causa do protagonismo dos basta; é preciso coragem.
serviços. A virtualização torna tudo serviço hoje. Design
é serviço. Mas há um paradoxo. As empresas pedem Quais são as consequências?
criatividade das pessoas, mas castram a criatividade. Muitas empresas estão falindo porque não estão abertas
O modelo educacional faz o mesmo com escolas com a essas transformações e estão vendo seus mercados
currículos do século 19. Persiste o consenso de que serem seriamente ameaçados. Há vários exemplos
tudo que não é relacionado à produção e à riqueza é recentes. A Ryanair surgiu oferecendo serviço a baixo
vagabundice, é arte. Naturalmente, há resistências. No preço, se conectou diretamente com clientes, digitalizou
entanto, a criatividade nunca foi tão necessária. Não há tudo, possibilitando que todos os procedimentos sejam
mais gestão que não seja criativa. Não há inovação sem feitos on-line, passou a usar hubs secundários, um
criatividade. O design veio devolver a criatividade ao único modelo de avião, sem lugar marcado. Essas
mundo dos negócios. mudanças permitiram o acesso de um turista que viajava
apenas de trem ou ônibus porque o avião era caro. As
O que acontece? grandes companhias aéreas acabaram perdendo um
O dilema da empresa para inovar é mudar o modelo mercado que poderiam ter. Transformações semelhantes
atual para sobreviver no futuro. Tem que mudar a cultura aconteceram com o Uber no serviço de transporte; com
organizacional, o mindset; e, muitas vezes, a tecnologia. a Airbnb no ramo hoteleiro; e com a Alibaba e a Amazon
A empresa precisa ter coragem de canibalizar recursos nas vendas de varejo. A empresa precisa assumir que
hoje para gerar vida empresarial e receita amanhã. viverá transformações constantes. A sociedade também
Liderança não é mais mandar, é inspirar. As escolas não precisa entender que viverá crises constantes. As pessoas
ensinam que não é apenas o lucro que importa, mas passarão a mudar de emprego quatro, oito, muitas vezes
também o impacto socioambiental. É uma mudança HVSVUNVKLZ\H]PKH"LKLWYVÄZZqV[YvZX\H[YV]LaLZ
de paradigma. Nem todos executivos estão dispostos Para quem nasceu no século passado é difícil passar
a sair da zona de conforto hoje para ganhar amanhã. por essas mutações, mas quem nasce no século atual
Em muitos casos, a resistência começa na cúpula, vai viver isso naturalmente. As empresas precisam se
entre as primeiras três linhas hierárquicas. É o caso organizar para captar esses talentos. Não há talento que
KV WYVÄZZPVUHS KL THYRL[PUN V\ KH HKTPUPZ[YHsqV X\L queira trabalhar em uma empresa que coloca a mesa de
WYLMLYL YLJLILY HZ WLZX\PZHZ WYVU[HZ L UqV LZ[m H ÄT WPUN\LWVUN\LLKLWLIVSPTHWLUHZWHYHÄUNPYX\LLZ[m
de falar com as pessoas, de pôr a mão na massa. Se aberta à criatividade.
não há essa disponibilidade, vai continuar replicando as
coisas de sempre, aprendidas nos manuais tradicionais. Quais são as barreiras?
Acaba criando um castelo inacessível, se esconde no 6 WYPTLPYV NYHUKL KLZHÄV nas empresas é a cultura
micromanagement para evitar o enfrentamento. Ignora organizacional. A empresa quer adotar o design thinking,
que o contato com o ser humano é muito importante. mas não pretende mudar nada do que faz. Não tem
coragem para se transformar por causa das pessoas.
A preocupação das empresas, então, nem sempre é Geralmente a direção não quer sair da zona de conforto,
genuína? da rotina, de tudo que aprendeu a vida toda. Há resistência
Muitas vezes, para indicar que querem construir a mudar o modelo de negócio mesmo que haja pressão
um ambiente que estimula a brincadeira, o jogo e a do mercado. Mas quem não mudar não vai sobreviver.
criatividade, as empresas e as escolas instalam mesas É preciso adaptar o modelo de negócio para aplicar as
de pingue-pongue e pebolim. Mas nem sempre isso novas tecnologias, olhar a sustentabilidade, oferecer não
ZPNUPÄJHWLYTP[PY\TVSOHYKPMLYLU[LZVIYLHZJVPZHZKH apenas produtos, mas serviços e experiências. Quem
vida. O Google realmente inovou nesse ponto liberando não mudar, não vai participar da economia do século 21.
10% do tempo dos colaboradores para pensarem coisas
aleatórias, fora de um contexto utilitário. No meio desses Em que estágio as empresas brasileiras estão nessa
pensamentos laterais surgiram boas ideias. O Post it é um revolução?
case clássico de uma ideia que nasceu desatrelada de O IED tem clientes entre empresas KV ZL[VY ÄUHUJLPYV
uma necessidade fundamental do momento, que passou da área automobilística, da indústria têxtil e do
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varejo, além de entidades setoriais e alguns governos as empresas abram espaço para os jovens, que estão
estaduais e municipais com os quais trabalhamos WYVJ\YHUKVUV]HZWYVÄZZLZWHYH[YHUZMVYTHYHZVJPLKHKL
capacitação em design thinking e desenvolvimento É preciso abraçar essa transformação de forma sincera
de clusters, para ajudá-los a ter outro olhar sobre seus e sem medo. Não há fuga para essa mudança. É um
negócios e atividades. O IED faz isso com cursos in tsunami que vai chegar: ou você surfa ou vai se afogar.
company, workshop para desenvolver a gestão criativa, (JHIV\HLYHKHZIVUPÄJHsLZKL]VS\TLZKHZYLZLY]HZ
e laboratórios de design thinking, em que são usadas [tJUPJHZ9;ZKVZWYVÄZZPVUHPZH\[UVTVZKVZMLLZKL
ferramentas de solução de problemas para levar as agências, do pedágio.
empresas à transformação do mindset. O interesse pode
ser aferido pelo sucesso da pós em design estratégico Qual é o próximo passo?
entre administradores de empresas e engenheiros, que Com o IED Lab, o IED quer ser espaço não só de ensino
compõem cerca de 60% das turmas. Eles querem tornar e educação, mas também de empreendedorismo. Nossos
o design ferramenta estratégica para seus negócios. Os dois grandes ativos são os 1 mil alunos que passam por
150 professores da casa, mentores e consultores, não só ano pela unidade de São Paulo e os 150 professores
dão aula na graduação, pós-graduação e extensão, mas especialistas em todas as áreas de design. Temos um
também apoiam as consultorias prestadas há 12 anos ambiente propício para a inovação porque existem seres
para grandes e médias organizações. E agora lançamos humanos que aqui buscam formação e aprimoramento
o IED Lab. para gerar projetos; temos professores e mentores aliados
dessa transformação; e um ambiente que fomenta o olhar
Como funciona o laboratório? brincalhão, da empatia, quebra barreiras e as divisões de
O IED Lab é nossa revolução, espaço de transformação departamentos. Se cada aluno tiver uma ideia, são mil
constante, local de oxigenação de seres humanos ideias de designers. Se 20% delas forem transformadoras,
por meio do design thinking para gerar inovações. É já temos um ecossistema de inovação bastante
uma junção de espaços físicos e virtuais para jovens, interessante, cujo empreendedorismo podemos apoiar,
LTWYLZmYPVZ WYVÄZZPVUHPZ X\L WVKLYqV WHY[PJPWHY KL incubando as iniciativas junto com outras empresas.
cursos, vivências, workshops e desenvolver projetos Queremos gerar projetos transformadores que saem do
com a gente. As empresas interessadas podem trazer seus papel e são concretizados. São projetos que respeitam
projetos e submetê-los ao laboratório, com a participação as premissas da sustentabilidade e potencializam a
de professores e alunos, desde que possam trabalhar inovação e o uso de novas tecnologias, sob a lógica de
junto. É preciso engajamento e envolvimento para serviços para a nova economia. O Lab está sendo criado
haver transformação. O projeto proposto tem que estar para colocar isso tudo junto, de modo que os projetos já
coerente e alinhado com as questões da sustentabilidade, nasçam com essas características integradas. Somente
novas tecnologias, serviços e nova economia, que são as com um laboratório desse tipo, aberto à experimentação,
demandas da sociedade. pode-se integrar todas as teorias. No laboratório, o
HS\UV YLUL [\KV PZZV L HPUKH SPKH JVT VZ KLZHÄVZ
Como essa atividade é aderente aos propósitos da reais do mundo dos negócios, como prazo de entrega
faculdade? L HWYLZLU[HsqV H \T JSPLU[L YLHS ,ZZL KLZHÄV SL]H H
Nessa transformação, passamos a questionar o propósito faculdade do IED para a vanguarda, capitalizando o que
de uma faculdade de design no Brasil. Concluímos que sabemos fazer melhor. Nosso propósito é fomentar um
devemos fomentar a cultura do design de modo que espaço de ensino, projeto e consultoria e transformar a
o potencial e impacto dos projetos seja percebido; e sociedade por meio do design.
ied.edu.br
25
RADAR
O SUCESSO É MOLDADO
uma boa ideia. Para desenvolver nosso
modelo preditivo, começamos com os
resultados de coletas de dados de dezenas
de milhares de genomas humanos.
PELOS GENES
Identificamos variantes de genes ligados
a resultados acadêmicos específicos e
avaliamos essas relações. Usamos as
informações para criar um algoritmo
que calcula a chamada “pontuação
poligênica”, que indica quantas variantes
cada pessoa tem. Quando analisamos os
PROFESSOR BELSKY,
dados do estudo de Dunedin, descobrimos
que os participantes com pontuação
poligênica mais elevada eram ligeiramente
BELSKY: O DNA não determina nosso mais prestigiosos, ganharam salários Se outros métodos presumivelmente
destino, mas pode dizer algo sobre mais altos, relacionaram-se com mais baratos funcionam melhor,
que tipo de pessoa nos tornamos e o pessoas mais bem-sucedidas, por que estudar genes nesse
que realizamos. Quando estudamos tiveram maior capacidade contexto?
esse conjunto de dados de um grupo de mobilidade social e Queremos entender como
de indivíduos nascido em uma única geográfica, administraram a genética molda nossa
DESCOBERTA
cidade e depois pesquisado em seu dinheiro com mais vida e o que faz com
intervalos regulares ao longo de suas eficiência e acumularam PESSOAS que algumas pessoas
quatro primeiras décadas de vida, mais ativos. Tudo isso COM CERTOS sejam bem-sucedidas
descobrimos que aqueles com certas sugere que nossos MARCADORES e outras não. A
variantes genéticas — que, em outros genes podem afetar vantagem de olhar para
GENÉTICOS
estudos, já haviam sido relacionadas nosso futuro. Mas o DNA é que ele está
ao bom desempenho educacional — também sabemos que GANHAVAM MAIS. definido no nascimento
atingiram marcos de desenvolvimento o desenvolvimento e é fixo ao longo da vida,
mais cedo quando crianças e se tornaram humano decorre de uma por isso fornece uma base
adolescentes mais ambiciosos. Então, interação complexa entre os para pesquisas. Em última
quando adultos, avançaram mais nos genes que herdamos e o ambiente análise, esperamos fornecer
estudos, ocuparam postos de trabalho que encontramos. Somos o resultado da insights úteis para os formuladores de
John Legere
Foco
VANTAGEM CUMULATIVA
Os profissionais de marketing gastam muito
tempo — e dinheiro — tentando agradar os
consumidores com produtos cada vez mais
atraentes. Acontece que seus clientes tomam
a maioria das decisões de compra quase
automaticamente. Eles procuram o que
é mais familiar e fácil de comparar.
O Foco desta edição
explora a ideia e a ciência
subjacentes a esse
tipo de decisão, oferece
contrapontos e inclui
conversas com o CEO
da LEGO e com o
presidente da Intuit.
A FIDELIDADE DO CLIENTE ESTÁ SUPERESTIMADA
O que as pessoas realmente querem é evitar fazer escolhas.
CONTRAPONTO: VELHOS HÁBITOS SÃO DUROS DE MORRER, MAS MORREM
O modelo de assinatura da Dollar Shave Club
é um exemplo surpreendente.
“O HÁBITO CRIA A CONEXÃO”
Tornar sua marca uma proposição de valor
cria uma poderosa vantagem competitiva.
UM PRODUTO QUE PERMITE ÀS PESSOAS MANTER SEUS HÁBITOS”
O Quicken, por exemplo, foi projetado para se
parecer com um talão de cheque.
Q
Quase no fim do ano passado, o aplicativo
de compartilhamento de fotos da Facebook,
o Instagram, líder da categoria, substituiu
uma reação dessas por renovar ou relançar
sua marca. O lançamento da Diet Pepsi sem
aspartame pela PepsiCo foi — como o de-
sastre da infame New Coke — uma tentativa
fracassada de reinvenção que resultou em
sérias perdas de receita e precisou ser rever-
tida. No entanto, a questão que importa é:
por que empresas com bom desempenho se
deixam constantemente apanhar na arma-
dilha de uma renovação radical da marca?
Seria possível entender a tentação de adotar
essa estratégia diante de um desastre, mas a
Instagram, a PesiCo e a Coke estavam longe
da beira do abismo. (É importante observar
que a Snapchat, cuja fatia de mercado com-
posta de usuários jovens é hoje particular-
mente robusta, vem mantendo, zelosamen-
te, seu famoso ícone do fantasminha. A tí-
tulo de esclarecimento: A. G. Lafley é mem-
bro do conselho da Snap Inc.)
Acreditamos que a resposta está nas raí-
zes de algumas interpretações errôneas so-
seu ícone original — uma retrocâmera à bre a natureza da vantagem competitiva.
qual mais de 400 milhões de usuários do Boa parte do novo pensamento estratégi-
aplicativo estavam totalmente habituados co defende que o passo rápido da mudança
— por um design plano, modernista, que, nos negócios modernos (talvez em nenhum
como explicou o chefe de design, “sugere lugar, de forma mais óbvia que no mundo
uma câmera”. Numa época em que a Insta- dos aplicativos) significa que nenhuma van-
gram via seu crescimento ameaçado pela ri- tagem competitiva é sustentável, por isso as
val Snapchat, ela justificou a troca: “Aparen- empresas precisam atualizar continuamen-
temente o ícone já não refletia a comunida- te seus modelos de negócio, estratégias e
de, por isso pensamos em melhorá-lo”. formas de comunicação para responder em
A avaliação da Ad Week, a bíblia do setor tempo real à explosão de opções com que
de marketing, foi clara em sua manchete: os consumidores, cada vez mais sofistica-
“O novo logo da Instagram é uma caricatu- dos, deparam. Para manter seus clientes —
ra. Podemos voltar ao que era? Por favor?”. Já e atrair novos — você precisa permanecer
os designers da revista GQ assim se manifes- relevante e na crista da onda. Assim sendo,
taram no artigo “O logo que ninguém queria a Instagram fez exatamente o que dela se
acaba de chegar à Instagram”: “A Instagram esperava: mudou proativamente.
O QUE É UM ÍCONE? passou ANOS criando uma propriedade visual Certamente essa é uma ideia crítica, mas
O ícone da Instagram à direita foi da marca com seu logo, instruindo os usuá- muitas evidências a contradizem. Veja o ca-
hostilizado pela comunidade online, rios como utilizá-lo, e agora, em vez de enfa- so da Southwest Airlines, da Vanguard e da
que já estava acostumada com o da tizar isso, está deixando tudo ir pelo ralo”. IKEA, mencionadas no artigo clássico de 1996
esquerda. A Instagram mudou o ícone
por acreditar, equivocadamente, que Ainda é muito cedo para dizer se a mu- da HBR “O que é estratégia? ”, de Michael Por-
a imagem de uma câmera tradicional dança de design terá de fato consequências ter: são exemplos de vantagem competitiva
não era relevante para os usuários comerciais para a Instagram, mas não é a de longa persistência. Duas décadas depois
que nunca tiveram uma. primeira vez que uma empresa experimenta essas empresas ainda estão no topo de sua
mais altas e maior lucratividade. As impli- auferiu lucros espetaculares graças à sua de a BlackBerry ter sido derrubada pelos
cações eram claras: a vantagem precoce no atenção constante para com o design forma- smartphones munidos de aplicativos e tela
mercado é importante — e muito. dor de hábito — na verdade, mais do que há- sensível ao toque, um grupo restrito de con-
Há muito tempo os profissionais de bito: para bilhões de usuários checar atuali- sumidores — que se recusou enfaticamente
marketing já sabem da importância de ven- zações tornou-se uma verdadeira compul- a abandonar o dispositivo — implorou, com
cer logo no início. Lançada especificamente são. É claro que a empresa se beneficia com sucesso, que a administração da empresa o
para atender ao mercado de máquinas de la- os efeitos cada vez maiores da rede. Mas a ressuscitasse com o mesmo aspecto dos dis-
var automáticas em rápido crescimento, a verdadeira vantagem reside no fato de que positivos da geração anterior. O aparelho re-
Tide é uma das marcas de maior repercus- abandonar o Facebook significa eliminar cebeu o nome consolador de Classic.
são, mais bem-sucedidas e lucrativas da um hábito poderoso. Como Art Markman, psicólogo da Uni-
P&G. Quando foi apresentada, em 1946, Pioneira dos smartphones, a BlackBerry versity of Texas, demonstrou, no design
ela imediatamente mereceu a maior carga é talvez o melhor exemplo de empresa que criador de hábito certas regras precisam ser
publicitária da categoria. A P&G também conscientemente criou o design destinado à respeitadas. Para começar, é imprescindível
garantiu que nenhuma máquina de lavar compulsão. Seu fundador, Mike Lazaridis, manter consistentes os elementos do design
fosse vendida nos Estados Unidos sem es- inventou o dispositivo que explicitamente do produto que podem ser vistos de longe
tar acompanhada de uma caixa grátis de torna viciante toda uma sequência padroni- para que os compradores possam visuali-
Tide para criar o hábito no consumidor. zada de ações e percepções: senti-lo vibrar zá-lo com rapidez. Cores e formas diferen-
A Tide ganhou de imediato o concurso de no bolso, deslizar o aparelho para fora, che- tes, como o laranja do Tide e o logo do Dori-
popularidade logo no início e nunca mais car mensagens e digitar com os polegares o tos, são excelentes exemplos.
olhou para trás. teclado em miniatura. Ele foi bem-sucedi- E você deve buscar meios para fazer com
Amostras grátis de um novo produto do: o dispositivo recebeu o apelido de Cra- que os produtos se ajustem aos ambien-
sempre foram uma tática popular dos pro- ckBerry, numa clara alusão ao crack. O há- tes pessoais para estimular o uso. Quando a
fissionais de marketing. Precificação agres- bito se tornou tão forte que mesmo depois P&G apresentou o Febreze, os consumido-
siva, a tática destacada por Henderson, é res gostaram da forma como ele funcionava,
igualmente popular. A Samsung surgiu co- mas não o usavam com muita frequência.
mo líder mundial na participação de merca- Como se observou posteriormente, parte
do no setor de smartphones equipados com do problema foi o recipiente moldado como
a plataforma Android, fornecida gratuita- uma garrafa de limpa-vidros, o que sinaliza-
mente mediante contrato de prestação de va que o produto deveria ser guardado sob
serviços. Para os negócios na internet, A BLACKBERRY É a pia. O recipiente foi finalmente redese-
grátis é a tática central para criar hábi-
tos. Praticamente todas as histórias TALVEZ O MELHOR nhado para ser guardado em local mais
visível, e as vendas dispararam.
de sucesso de larga escala da inter-
net — eBay, Google, Twitter, Ins- EXEMPLO DE UMA Infelizmente as frequentes mu-
danças de design acabam destruin-
tagram, Uber, Airbnb — fornecem
serviços gratuitos para que o nú-
EMPRESA QUE, do hábitos em vez de reforçá-los.
Procure mudanças que fortaleçam
mero de usuários aumente e seus
hábitos sejam fortalecidos. Por is-
CONSCIENTEMENTE, os hábitos e estimulem a recom-
pra. O Amazon Dash Button é um
so, provedores ou agências de pu- CRIOU UM DESIGN ótimo exemplo: ao criar uma for-
blicidade se dispõem, de bom gra-
do, a pagar pelo acesso a eles. DESTINADO A GERAR ma simples de as pessoas reorga-
nizarem os produtos que utilizam
2. Crie design para o hábito. Co-
mo vimos, o melhor resultado se dá COMPULSÃO. com frequência, a Amazon as ajuda a
formar hábitos e os preserva num ca-
quando a escolha do produto se torna nal de distribuição particular.
uma resposta automática do consumidor. 3. Inove dentro da marca. Como já
Então crie o design para isso — não deixe o observamos, as empresas se envolvem em
resultado totalmente ao acaso. A Facebook iniciativas para “relançar”, “reembalar” ou
CONTRAPONTO
VELHOS HÁBITOS
o vendedor garantindo que ele é 100% à pro-
va d’água — teria sido muito mais eficiente.
Teria passado às pessoas de raciocínio rápi-
SÃO DUROS DE
MORRER, MAS
do a mensagem do que pretende que elas fa-
çam: ir a uma loja e comprar o Samsung S5.
Porém nenhum desses comerciais ganharia
MORREM
um prêmio dos profissionais de marketing
focados na astúcia da versão publicitária.
u adoro a ideia de que as ou telecomunicações. Seus ambientes não — como outros elementos do ambiente —
decisões de compra dos são estáveis — as empresas podem ser abala- mudam. E quando novas tecnologias viabi-
consumidores estão mais das por empresas novatas em ascensão, co- lizam novos modelos de negócio, os hábitos
intimamente relacionadas mo mostrou Clayton Christensen, e também podem mudar muito rápido.
a hábitos e facilidades que à por concorrentes que usam um modelo de Pense nas forças poderosas liberadas de
fidelidade — ela encerra um negócios diferente ou chegam de um setor 2004 a 2007 pelo surgimento e expansão de
insight da ciência comporta- adjacente. E forças competitivas persistentes quatro empresas separadas, mas relaciona-
mental indispensável ao estudo das decisões podem ser destruídas do dia para a noite por das. Em 2004, a Facebook foi fundada. Em
do consumidor. E como Lafley e Martin suge- uma empresa que digitalizou seu negócio físi- 2005, a YouTube. Em 2006, a Amazon lançou
rem, ela tem grandes implicações sobre co- co (hello, Enciclopédia Britânica) ou transfor- a Amazon Web Services (AWS). Em 2007, os
mo os produtos são desenvolvidos e as mar- mou seu produto num serviço (por exemplo, sistemas operacionais iPhone da Apple e
cas administradas. Concordo plenamente a Zipcar, Airbnb e Uber). A Apple e a Google, Android da Google foram lançados. Como
com os autores que o inconsciente dos con- não necessariamente, pretenderam abalar as aponta Ben Thompson, analista de tecnolo-
sumidores controla os processos de tomada câmeras fotográficas compactas, nem falar gia, a AWS facilitou e barateou o processo de
de decisão — e acredito que muitas empresas nos dispositivos GPS, comerciais de TV ou o abrir empresas online. A YouTube facilitou e
podem se beneficiar por tornar suas escolhas Wheather Channel; não obstante, acabaram barateou o upload de vídeos. E eu acrescen-
de rotina mais fáceis, mais rápidas e mais fazendo exatamente isso (ver quadro “Funcio- taria que a frenética popularidade dos telefo-
convenientes. Essa é uma razão pela qual o na até parar: a natureza mutante da vantagem nes celulares permitiu que tudo isso estives-
modelo de assinatura se tornou tão popular competitiva”). se ao alcance das pessoas comuns. Atual-
em tantos setores — ele elimina a necessida- mente, uma pessoa com uma ideia na cabeça
de dos consumidores de, conscientemente, e com conhecimentos de programação pode
decidir sobre as compras de rotina e oferece PONTOS DE INFLEXÃO ESTRATÉGICOS rivalizar com os gigantes globais em dias ou
aos fornecedores um convidativo lucro re- Durante algum tempo, meu argumento foi semanas, e não em meses ou anos — e prati-
corrente sem nenhum esforço. que precisamos de uma nova forma de pensar camente sem nenhum capital.
A teoria da vantagem cumulativa faz mui- sobre estratégia em ambientes onde as barrei-
to sentido no que Martin Reeves e seus cole- ras tradicionais a vencer estão ruindo, ou nos
gas do BCG chamam de dispositivo estratégi- quais as tecnologias emergentes enfraquecem GILLETTE VERSUS DOLAR SHAVE
co clássico — segundo o qual as fronteiras de as restrições. O termo cunhado por Andy Gro- E foi exatamente isso o que aconteceu com o
cada indústria estão claramente definidas, ve, ponto de inflexão, traduz perfeitamente es- lançamento, em 2013, da DollarShave Club.
a base da competição é estável, o ambien- sa situação. Um ponto de inflexão estratégico, com. A promessa da marca foi simples: óti-
te não sofre grandes abalos e a forte posição segundo ele, é “o momento na vida de um ne- mos barbeadores com poucos acessórios
competitiva, uma vez criada, pode ser man- gócio em que o básico está prestes a mudar”. supérfluos, a um baixo custo de assinatura,
tida. Como o BCG mostrou, a empresa de Para as ferramentas estratégicas tradicionais entregues em sua casa automaticamente.
confeitos Mars desfrutou de longos ciclos de é difícil lidar com os pontos de inflexão por- Você não só economizava dinheiro, mas não
vida de produtos: Snickers e M&M (introdu- que, de início, eles geralmente não parecem precisava ir até uma loja ou correr o risco de
zidos no mercado em 1930 e 1941, respecti- importantes. Os irmãos Wright provaram que não encontrar o produto. Isso tudo era mais
vamente) estão entre os confeitos de maiores era possível voar com segurança em 1903, mas atraente porque o hábito de comprar já tinha
vendas no mundo atual. A Procter & Gamble ninguém os levou a sério até 1908. Mesmo sido rompido: barbeadores de lâmina são
tem um background igualmente sólido com o com o lançamento, em 1914, do primeiro voo caros e fáceis de roubar, por isso era comum
Tide, a Unilever com o Dove e a PepsiCo com comercial, poucos perceberam que os aviões trancá-los com chave nas lojas. Atualmente,
o suco de laranja Tropicana. poderiam acabar com indústrias tão variadas embora a Dollar Shave Club tenha 8% de par-
Mas, para um número cada vez maior de como ferrovias, navios a vapor e entrega de ticipação de um mercado de US$ 3 bilhões de
empresas, essas condições não se aplicam. Os mercadorias. lâminas e barbeadores nos Estados Unidos,
limites de suas indústrias não estão claramen- Os hábitos dos consumidores podem ser a característica muito mais importante é sua
te definidos — na verdade, eles estão com- auxiliares poderosos para manter uma van- “participação nos cartuchos”. De acordo com
pletamente borrados. Basta perguntar a qual- tagem competitiva, como mostram Lafley e fontes recentes, está em espantosos 15% de
quer profissional de varejo, entretenimento Martin com muita propriedade. Mas hábitos todos os cartuchos de lâminas vendidos.
NA PRÁTICA
UMA CONVERSA COM JØRGEN VIG KNUDSTORP,
CEO E PRESIDENTE DO GRUPO LEGO
DAVID CHAMPION
HBR: Você acredita que a fidelidade dos construímos a conexão. As pessoas desen- recente da Nasa sugere que quando as pes-
consumidores da LEGO é consequência volvem hábitos fazendo as mesmas coisas soas chegam aos 25 anos, preservaram somen-
do hábito? repetidamente. E os hábitos se transformam te cerca de 5% da capacidade de pensamento
Knudstorp: Acredito que é mais que hábito. em valores. Quando ensinamos nossos fi- criativo que tinham aos cinco anos. Isso signifi-
Quando me tornei CEO, há 13 anos, o grupo lhos a escovar os dentes todas as noites an- ca que são facilmente sobrecarregadas.
LEGO estava em crise. Eu recebia cartas que tes de ir para a cama, no início essa é apenas Vou ilustrar como nós administramos is-
imploravam: “Por favor, não morra. O mun- uma ação obrigatória para eles. Depois, com so. Temos uma linha de produtos chamada
do seria um lugar mais pobre sem a LEGO”. o tempo, eles se sentem desconfortáveis se LEGO Creator 3 em 1 — kits. Cada um contém
Se os clientes têm conexão emocional com vão dormir sem escovar os dentes. Por fim instruções para montar três modelos em um
sua marca, eles se esforçam para obter o pro- eles começam a sentir que escovar os den- kit. Na verdade, você pode montar muito
duto, e a meu ver suas escolhas são cons- tes é a coisa certa a fazer. Se você tornar sua mais modelos com um único kit. Há 12 anos
cientes. As pessoas não fazem fila durante marca um valor — uma parte da identidade teríamos oferecido 12 sugestões. Mas tanta
dias para comprar um iPhone 7 só porque es- de alguém —, terá uma vantagem competi- variedade afugenta as pessoas. Por isso sim-
sa é uma escolha automática. tiva realmente poderosa. Mas tudo começa plificamos, deixando apenas três. É preciso
É evidente que nem todos os produtos po- quando se faz da marca um hábito. também tornar as rotinas mais divertidas,
dem esperar que ocorra essa conexão emocio- porque é brincando que as crianças apren-
nal com o consumidor. Linhas aéreas e hotéis Como isso funciona no grupo LEGO? dem e se habituam a novas rotinas.
têm programas de fidelidade para nos forçar Você precisa oferecer às pessoas rotinas sim-
a usar com exclusividade seus serviços justa- ples que elas possam praticar para se habituar A novidade — por ser a próxima coisa legal
mente porque não sentimos a conexão emo- a montar os blocos. À medida que as monta- — é importante no negócio de brinquedos.
cional que nos faria escolhê-los. É difícil en- gens se tornam mais complicadas, começam a Mas hábito tem a ver com previsibilidade.
contrar pessoas que se imaginam “asseclas da desenvolver seus próprios hábitos e técnicas. Como você equilibra os dois aspectos?
Holiday Inn”. Mas, se você comercializa um Mas elas estarão abertas a mudar essas rotinas Você está totalmente certo ao afirmar que a
produto como o Tide, certamente precisa ape- se alguém lhes mostrar uma forma mais sim- novidade é importante para as crianças, e é
lar para a mente inconsciente do consumidor, ples, mais original. Centenas de convenções por isso que 60% dos conjuntos LEGO que co-
já que a decisão sobre que detergente comprar anuais da LEGO pelo mundo afora mostram locamos no mercado todos os anos são sem-
costuma ser inconsciente. novas formas de usar os elementos existen- pre novos. Mas isso não significa substituir o
Mas um produto como o nosso, que en- tes sobre as quais nós, como empresa, nunca fator familiaridade, porque o System of Play da
volve jogos, crianças e aprendizagem, po- tínhamos pensado. Vá até o YouTube e veja LEGO é uma plataforma — talvez o único brin-
de ser mais que apenas uma opção segura as coisas extraordinárias que as pessoas mon- quedo no mundo que oferece uma plataforma
e fácil. Pode ser uma declaração consciente tam. Eu estou sentado aqui com uma estrutu- para brincar. Cada novo conjunto não só con-
de valores ou identidade. Nenhuma crian- ra de cerca de 20 blocos para criar milhões de tém 12 novos modelos possíveis como pode
ça anda por aí declarando-se correligionária estruturas diferentes. Construir é realmente ser combinado com os conjuntos que você já
da LEGO, é claro — criança quer é brincar —, uma necessidade básica — todos nós quere- tem, e assim pode aumentar o número total de
mas ela vai crescer e talvez se torne adepta mos fazer coisas que sejam nossas — e ofere- potenciais estruturas em ordens de grandeza.
da LEGO quando tiver seus próprios filhos. É cemos uma plataforma para isso. Isso contém um tremendo efeito da rede. Se
muito mais fácil persuadir os pais a adquirir o uma criança já tem um conjunto LEGO, ter ou-
hábito da LEGO que as crianças. E esse é um O que é preciso fazer para iniciar o processo? tro produto LEGO é mais valioso que apenas o
motivo para trabalharmos mais em merca- É questão de manter o básico o mais simples e ato incremental da compra — a criança amplia
dos emergentes, onde estamos falando prin- fácil possível para se acostumar. Um neuro- exponencialmente sua plataforma para brin-
cipalmente de usuários de primeira geração. cientista recentemente me disse que nosso cé- car. Isso é contagioso: quanto mais crianças
rebro tem o equivalente a 20 megabytes de me- adquirem o hábito LEGO, mais as outras crian-
O hábito tem alguma influência nessa mória RAM — suficientes para processar ape- ças também o farão, e elas poderão misturar e
conexão emocional? nas quatro fotos de um smartphone. E ela piora combinar suas coleções LEGO.
De forma alguma. Hábito é como à medida que envelhecemos: uma pesquisa HBR Reprint R1701B–P Para pedidos, página 14
A CIÊNCIA
COMO O
HÁBITO VENCE
A NOVIDADE
OS PROFISSIONAIS DE MARKETING
GASTAM TEMPO E DINHEIRO TENTANDO
TORNAR OS PRODUTOS ATRAENTES PARA
QUE SEJAM ESCOLHIDOS. MAS E SE A
NOVIDADE PRODUZIR O EFEITO OPOSTO?
SCOTT BERINATO
pesquisadores chamavam esse
Por serem criaturas de hábitos, fenômeno de “calor aconchegante
as pessoas são cegas para a da familiaridade”. Atualmente há
evidências neurológicas de que ele
novidade. existe. Tide é um exemplo clássico de
Nosso cérebro utiliza heurística e um produto que reconhecemos sem
experiência para decidir o que um objeto muito esforço. A pesquisa mostra que
é, deixando muitas vezes passar aspectos respondemos à posição, cor, forma e
inesperados ou novos de uma cena. Segundo orientação espacial dos produtos (nessa
o neurocientista Moshe Bar, o cérebro ordem) nas prateleiras das lojas. Num
está continuamente ocupado gerando processo conhecido como pré-ativação
previsões que aproximam o futuro relevante. perceptual, o cérebro se baseia nessas
“Acreditamos que, quando olhamos para pistas. Com o passar do tempo ele precisa
um objeto, o cérebro pergunta: o que é isso? de menos informação e utiliza menos energia
Mas o que ele realmente pergunta é: com para reconhecer um objeto familiar que para
que isso se parece?” Esse rápido processo de identificar um objeto novo.
previsão é o equivalente mental do antigo jogo Aparentemente esse é um segredo muito
“Qual é a música?”. Quanto mais você tivesse bem guardado, porque os profissionais de
ouvido a música, menos notas precisaria para marketing investem tempo e dinheiro criando
reconhecê-la. Quanto menos energia for usada novidades. Mas uma nova embalagem para
para reconhecer alguma coisa, melhor. O um produto tradicional pode não ter o efeito
objetivo do profissional de marketing é fazer esperado. A mudança destinada a revitalizar
o consumidor comprar aquela marca com ou energizar uma linha de produtos pode, na
apenas uma nota. Mudar constantemente a verdade, fazer os consumidores ignorarem o
melodia e a letra não vai ajudar. novo design enquanto buscam por aquilo que
O lado oposto de nossa cegueira para a estão acostumados a ver por força do hábito.
novidade é que quanto mais consistente um Num teste desse tipo de cegueira, solicitou-se a
objeto permanece, menos esforço o cérebro gestores de produto que localizassem um novo
precisa fazer para identificá-lo (e escolhê-lo). design de sua própria marca numa prateleira, e
Há muito tempo, por volta de 1910, os não foi fácil para eles fazerem isso.
A B
NA PRÁTICA
“UM PRODUTO
QUE PERMITE
ÀS PESSOAS
MANTER SEUS
HÁBITOS”
UMA CONVERSA COM SCOTT COOK,
PRESIDENTE E COFUNDADOR DA
INTUIT DAVID CHAMPION
54 HARVARD BUSINESS REVIEW FEVEREIRO 2017
DAVID CHAMPION é editor
sênior da HBR.
Artigos
No entanto, costuma ser mais fácil falar que fazer. valor compartilhado, Michael E.Porter e Mark R. Kra-
Se antes bastava divulgar as atividades filantrópicas mer (HBRBR, janeiro de 2011) defendem, por exemplo,
e criar a área de responsabilidade social, hoje as ne- que melhorar as condições sociais e ambientais ao lon-
cessidades sociais e ambientais devem ser percebidas go de toda a cadeia de suprimentos pode garantir, no
como uma oportunidade de mudança, proatividade e longo prazo, a disponibilidade dos inputs necessários.
assunção de risco. É a isso que chamamos “estratégia Outros argumentam que as necessidades sociais e am-
responsável”. Em primeiro lugar, contribuir estrategi- bientais podem ser uma fonte de inovação. Como res-
camente para a sociedade ou para o meio ambiente re- posta, as empresas devem desenvolver novos produ-
quer “pensamento fora da caixa” e habilidade de per- tos ou modelos de negócio. Podemos então resumir
ceber as demandas de diversos stakeholders. Interna- que a estratégia responsável pode levar a dois tipos di-
mente, respostas a essas necessidades dificilmente ferentes de iniciativa:
surgirão dentro das tradicionais estruturas de silos. É a) a otimização dos produtos e processos de uma
preciso pensar em soluções integradas que cruzem as empresa para aprimorar sua tripla linha final de resul-
fronteiras internas da empresa. tados no balancete (isto é, pessoas, planeta e lucros)
A estratégia responsável permite às empresas ver b) a renovação de produtos ou modelos de negócio
a esfera socioambiental como um indutor de mudan- para satisfazer necessidades socioambientais e desen-
ça para seu negócio. Outra característica está relacio- volver novas oportunidades de crescimento.
nada à proatividade da empresa em atender às neces- Como consequência, no Relatório de Pesquisa e Es-
sidades sociais e ambientais. Estratégia responsável tudo Executivo Global de Sustentabilidade & Inovação
significa que essas necessidades são percebidas como de 2012, a Sloan Management Review e o Boston Consul-
uma oportunidade de diferenciação, cabendo à pró- ting Group descobriram que iniciativas estratégicas res-
pria empresa tentar conduzir as questões mais pro- ponsáveis “se enquadram num amplo espectro — des-
missoras em vez de seguir outros atores do setor. E tão de fazer as coisas de forma diferente (isto é, otimização)
importante quanto tudo isso, a estratégia responsável até fazer coisas completamente diferentes (isto é, reno-
cria um alto nível de incerteza. Essa incerteza é parti- vação) ”. No entanto, muitas pesquisas focam nas van-
cularmente maior quando a esfera social e a ambiental tagens das iniciativas da otimização ou da renovação,
se tornam mais complexas que os mercados tradicio- mas não comparam nem destacam seus efeitos. Por is-
nais. Em outras palavras, estratégia responsável sig- so ainda sabemos muito pouco sobre se as iniciativas de
nifica que as empresas estão dispostas a assumir um otimização e renovação são o que há de mais adequa-
risco empresarial significativo. do para conferir vantagem competitiva a uma empresa.
idade crescente de pesquisas e de exem- Essa questão é vital para as pequenas e médias em-
bem-sucedidos mostra que atender às presas (PMEs), que costumam estar profundamente
sociais e ambientais pode ser vantajo- entrosadas nas comunidades vizinhas, mas, com fre-
ócios. Tendo em mente a noção de criar quência, enfrentam mercados altamente competiti-
vos. Por isso, enquanto houver uma forte pressão para
adotar uma estratégia responsável, as PMEs só terão
condições de adotá-la no longo prazo se isso contribuir
para sua vantagem competitiva. A questão tem impli-
ESTRATÉGIA
cações importantes também para as grandes multina-
cionais, que precisam enfrentar vários stakeholders
sensíveis à pegada social e ambiental da empresa. En-
ONSÁVEL
quanto isso, acionistas e mercados financeiros conti-
nuam céticos quanto a atribuir valor às iniciativas so-
cialmente responsáveis. Na pesquisa com CEOs reali-
EMPRESAS
zada pela Accenture em 2013, os respondentes consi-
deraram a falta de vínculo entre essas iniciativas e o
valor do negócio como um dos três principais obstá-
CIOAMBIENTAL
culos à implementação de uma abordagem estratégica
integrada das questões sociais, ambientais e de gover-
nança corporativa.
Para saber mais sobre se, e por meio de que inicia-
COMO UM INDUTOR DE
tivas, a estratégia responsável contribui para a vanta-
gem competitiva da empresa, realizamos um projeto
de pesquisa em várias etapas e com várias metodolo-
tem, em si, um efeito positivo. Isso pode ser explicado em toda a cadeia de suprimentos. Principalmente as
pelo fato de que as empresas que incorporam as necessi- empresas grandes, de capital aberto, praticamente não
dades sociais e ambientais em sua estratégia de negócios têm escolha senão se engajar na otimização, uma vez
enviam uma poderosa mensagem aos seus stakeholders, que elas são cada vez mais forçadas a relatar explicita-
antes mesmo que eles tomem medidas concretas. Estes mente seus esforços nesse sentido, o que constitui um
podem, então, contribuir, direta ou indiretamente, pa- critério-chave em muitos rankings de responsabilidade
ra a vantagem competitiva. Encontramos várias referên- corporativa. No entanto, esses esforços de otimização
cias a esses efeitos em nossas entrevistas. não raro implicam custos consideráveis. As empresas
A estratégia responsável pode, por exemplo, au- precisam estar dispostas a aceitar preços mais altos, su-
mentar a motivação dos funcionários, oferecendo um primentos limitados e competição acirrada.
propósito maior para seu trabalho. Os gestores perce- Um exemplo típico é o óleo de palma (denomina-
beram que isso tornou os funcionários mais envolvidos ção genéricas de vários óleos vegetais, entre eles o
e eficientes. Um segundo grupo de stakeholders muito dendê), ingrediente essencial em vários produtos de
aberto às empresas com estratégia responsável são os consumo que, no entanto, tem sido objeto de debates
governos e as agências reguladoras. Ao incluírem as ne- públicos que acompanham os relatos de devastação
cessidades socioambientais em sua estratégia, algumas de florestas e destruição ambiental massiva. Muitas
empresas se tornaram parceiros decisivos de governos empresas responsáveis reagiram e procuraram novas
ao promover mudança social e ambiental. Isso lhes deu fontes mais sustentáveis de óleo de palma. Foi criada
a vantagem de ser as primeiras a chegar e a atingir o uma mesa-redonda sobre óleo de palma sustentável
mercado no prazo mais curto possível. E, igualmente (RSPO, na sigla em inglês) para certificar o óleo cru de
importante, os clientes se tornaram cada vez mais sen- grãos de palma (CPKO, na sigla em inglês). Apesar da
síveis às empresas com estratégia responsável. Embo- acentuada queda no preço desse produto desde 2011,
ra eles não estejam necessariamente dispostos a pagar os incentivos para a produção de óleos certificados tri-
preços mais altos, a percepção pública de uma empresa plicaram, chegando a US$ 21,08 por tonelada em 2013.
ainda pode influenciar substancialmente as decisões de As empresas que quiserem comercializar esse ingre-
compra em algumas indústrias. diente de forma sustentável terão então de arcar com
os custos crescentes.
A BRITISH PETROLEUM Esse insight está alinhado com nossos resultados
Apesar dos efeitos, o bom desempenho de empresas anteriores com as PMEs. Se a estratégia responsável só
com estratégia responsável no quadrante inferior es- leva as empresas a otimizar seus negócios centrais, ela
querdo de nossa matriz pode ainda ser atribuído ao fa- aparentemente faz mais que neutralizar o efeito nor-
to de que elas evitam os altos custos e riscos associa- malmente positivo. Isso não quer dizer em absoluto
dos a abordagens mais dinâmicas. No entanto, é im- que as empresas devam reprimir essas atividades, vi-
portante observar que essa abordagem passiva, mui- tais para garantir a viabilidade de longo prazo de seus
tas vezes, não se sustenta no longo prazo. Um ótimo negócios, proteger nosso ambiente natural e melhorar
exemplo disso é a British Petroleum, que desde mui- o padrão de vida da população. No entanto, vale lem-
to cedo se tornou uma constante precursora de ques- brar que focar somente na otimização responsável po-
tões públicas no que diz respeito a visão e estratégia de produzir um efeito médio neutro ou até ligeiramen-
responsável. No entanto, dado o custo considerável te negativo no desempenho e, portanto, não é muito
da pressão da indústria, a empresa lutou para imple- adequado para promover a vantagem competitiva.
mentar definitivamente suas altas ambições no negó-
cio central. Isso resultou numa série de problemas, co- RENOVAÇÃO
mo os acidentes com a refinaria do Texas ou num oleo- Uma segunda possibilidade para implementar estra-
duto no Alasca, que, na verdade, não teve um impacto tégias responsáveis é renovar as atividades centrais
assim tão forte graças à percepção positiva que seus do negócio e se envolver em novos produtos ou mo-
stakeholders tinham da BP. Por outro lado, o acidente delos de negócio. Nos últimos anos, o empreendedo-
da Deep Water Horizon, em 2010, foi severamente cri- rismo social floresceu. Enquanto os primeiros a chegar
ticado pela opinião pública — a BP chegou a enfrentar foram principalmente pequenas start-ups, um núme-
novas críticas por não agir de acordo com o que prega- ro crescente de grandes empresas se engajou recente-
va. No entanto, embora abordagens passivas compen- mente em novos negócios com um objetivo social e/ou
sem no curto prazo, podem não ser sustentáveis. E aí é ambiental explícito. Grandes corporações farmacêuti-
preciso usar abordagens mais dinâmicas. cas que individual ou coletivamente desenvolvem me-
dicamentos para doenças tropicais negligenciadas são
OTIMIZAÇÃO um excelente exemplo. A demanda por esses tratamen-
Utilizar abordagem mais dinâmica consiste em imple- tos é enorme, uma vez que uma em cada sete pessoas
mentar uma estratégia responsável otimizando as ativi- no mundo sofre de, pelo menos, uma doença tropical
dades centrais do negócio. A forma mais comum de fa- negligenciada, e 2,5 bilhões estão em risco. No entan-
zer isso é encorajar a sustentabilidade social e ambiental to, embora elas correspondam a 11,4% do total da carga
A PERCEPÇÃO
a esses projetos parte de seu tempo livre, e ajudaram a
reduzir os custos. Os governos valorizam essas campa-
nhas. Para oferecer alguma compensação econômica, a
PÚBLICA DE
agência de alimentos e medicamentos dos Estados Uni-
dos, a FDA, concede o chamado título de ensaio priori-
tário (PRV, na sigla em inglês). Esses títulos podem ser
UMA EMPRESA
usados para qualquer tratamento médico desenvolvido
por alguma empresa e, em média, reduzem o processo
de aprovação do medicamento em cerca de seis meses.
Pesquisadores da Duke University calcularam que, pa-
SUBSTANCIALMENTE AS
sa pesquisa — indicam que as atividades de renovação
responsável podem acabar produzindo um efeito mé-
dio ligeiramente positivo no desempenho.
OTIMIZAÇÃO E RENOVAÇÃO
A terceira abordagem (de acordo com nossos dados
DECISÕES DE COMPRA EM
ALGUMAS INDÚSTRIAS.
quantitativos) que mais promove o desempenho para
implementar a estratégia responsável é adotar as ativi-
dades de renovação e otimização simultaneamente. E
essa opção não se restringe às PMEs. A incorporadora
A receita para o sucesso pode ser reduzida a um negócios. A mesma lógica está por trás da estratégia
slogan que a empresa alemã de artigos de consumo “Fator 3” da Henkel. Em seu esforço para triplicar a efi-
Henkel criou para orientar sua estratégia de sustenta- ciência na utilização de recursos, a Henkel deixou cla-
bilidade: “Tenha mais com menos”. A Henkel espera ro para todos os funcionários que essa meta não po-
que por volta de 2030 seus produtos sejam três vezes deria ser atingida apenas com a otimização. Com essa
mais eficientes em recursos do que hoje. A empresa meta ambiciosa, a empresa pretende encontrar uma
percebeu que esse objetivo ambicioso só pode ser atin- solução para um dos grandes desafios de sustenta-
gido aumentando o output e ao mesmo tempo redu- bilidade desatrelando o crescimento do consumo de
zindo o input. Ela espera que cada novo produto seu recursos.
combine melhorias inovadoras em sua funcionalida- 2) Meça o valor e a pegada. O histórico de sucesso
de, saúde e segurança dos consumidores e uma contri- da Henkel se baseia principalmente nos relatórios for-
buição para o avanço social com uma pegada ambien- mais tanto do valor que cada produto cria, como dos
tal reduzida. A Henkel Sustainability#Master® avalia recursos que ele consome. Essa é uma ferramenta po-
o aumento de valor e a redução na pegada ambiental derosa para orientar os esforços de todos os funcioná-
em todos os estágios do ciclo de vida dos produtos — rios da empresa na busca de sinergias entre otimiza-
da matéria-prima e produção até a utilização e descar- ção e renovação. A mesma lógica se aplica ao eROISM
te. Essa abordagem parece compensadora. A Henkel da Ecolab, segundo a qual medição é um componente
anunciou que em 2014 conseguiu aumentar sua efi- crítico para promover resultados exponenciais: “Co-
ciência operacional, vendas e expectativas apesar das meçamos com o que é mais importante para nossos
dificuldades do mercado. Sua estratégia reflete perfei- clientes — desempenho — e associamos os resulta-
tamente o reforço mútuo das atividades de renovação, dos do desempenho às métricas ambientais e sociais
que agrega valor para os consumidores e a sociedade, e economias de custo para demonstrar os benefícios
e de otimização, que economiza recursos. nas três linhas finais do balancete”.
A Ecolab é outro exemplo interessante de uma em- 3) Trabalhe com seus clientes. A razão do sucesso
presa inteligente que já reconheceu o potencial de da Ecolab não é só sua capacidade de inovação, mas
criação de valor sinergético. A empresa líder global em também sua habilidade de trabalhar em íntimo con-
água, higiene e tecnologia de energia e serviços, sedia- tato com os clientes para melhorar a equação de
da em Minnesota EUA), enfatiza que se a melhoria do input-output. Como comenta seu CEO, “por estarmos
desempenho, a eficiência operacional e o impacto de tão próximos de nossos clientes, e com um profundo
sustentabilidade caminharem juntos poderão criar conhecimento de suas operações, conseguimos ob-
vantagens exponenciais (chamadas pela empresa de ter insights construtivos para nossas pesquisas e pa-
“eROISM”). Cada nova solução tecnológica que a Eco- ra o desenvolvimento do trabalho”. A Henkel também
lab desenvolve para seus clientes é quantificada se- ensina seus clientes a utilizar melhor e com mais efi-
gundo essas três dimensões. Ao inventar, por exem- ciência seus produtos. Isso é de vital importância,
plo, uma nova tecnologia de resfriamento de água pa- uma vez que 90% de sua pegada ambiental é gerada
ra uma refinaria do Texas, a Ecolab permitiu que seu pelo consumidor, e geralmente basta que ele reduza a
cliente mantivesse e até melhorasse o tempo de suas temperatura da água de lavagem em 10 graus centígra-
operações e produção. E essa nova tecnologia econo- dos para economizar 40% de energia.
miza quase 4 bilhões de litros de água e US$ 4 milhões
anualmente. Graças à sua capacidade de combinar no- ESTAMOS FIRMEMENTE CONVENCIDOS que, no longo
vas tecnologias inovadoras e soluções com melhor de- prazo, somente a estratégia responsável trará pros-
sempenho, a Ecolab tem sido enormemente beneficia- peridade para as empresas e a sociedade. Quaisquer
da e vem conseguindo reduzir substancialmente seus esforços — lucrativos ou não — que envidarem serão
recursos e custos. De 2011 a 2013, ela dobrou suas ven- importantes blocos de construção dessa iniciativa.
das e sua receita líquida, superando o índice da S&P Esperamos que este estudo encoraje e oriente os to-
500 em cerca de 60%. madores de decisão não só a acreditar na estratégia
Resumindo, nossos dados quantitativos e casos responsável e incentivá-la como também a imple-
qualitativos mostram que a estratégia responsável con- mentá-la em suas empresas, para que ela promova o
tribui, sim, para a vantagem competitiva, mas somente sucesso de longo prazo num ambiente de negócios
se ela for implementada segundo a combinação de re- cada mais competitivo.
novação com otimização. Para conciliarem os dois as- HBR Reprint R1701C–P Para pedidos, página 14
pectos, as empresas devem seguir três preceitos:
1) Procure dar saltos quânticos. A Vanke jamais te- ALEXANDER ZIMMERMANN é professor do centro de excelência
ria obtido crescimento tão expressivo nos lucros e re- organizacional da University of St. Gallen. GILBERT PROBST
dução tão significativa na utilização de recursos se ti- é professor honorário e diretor do centro de pesquisa da
University of Geneva. CAROLIN HERMANN é doutouranda na
vesse otimizado suas atividades de construção tradi- University of St. Gallen. PAUL FERREIRA é professor do centro de
cional gradativamente. Isso só foi possível graças à liderança e inovação do Insper e pesquisador permanente do
introdução de formas completamente novas de fazer centro de excelência organizacional da University of St. Gallen.
REGR
AS
ILUSTRAÇÃO DE RAMI NIEMI
UM EMPURRÃOZINHO PARA AJUDAR O ATENDIMENTO AO CLIENTE
regra 1
regra 2
Fazer gestão CUMPRIR PASSOS E CHECKLISTS IDENTIFICAM O QUE O CLIENTE JÁ FEZ POR CONTA PRÓPRIA
da crise PREDETERMINADOS. E PASSAM PARA A FASE SEGUINTE.
“Primeiro, precisamos instalar a versão mais recente “O.k., se você pôs em prática todas as alternativas de solução
do software.” propostas no site, então já instalou o software mais recente.
Vamos tentar outra coisa.”
Propor DÃO AOS CLIENTES OPÇÕES DE RESOLUÇÃO PRESCREVEM A RESOLUÇÃO MAIS FÁCIL E RÁPIDA
soluções “Você pode nos enviar seu dispositivo para este “Vejo que o seu dispositivo não está disponível na loja mais próxima.
endereço. Ou pode trazê-lo para uma de nossas Recomendo que nos envie o antigo para que receba outro o quanto
lojas e fazer uma troca.” antes.”
Resolver RESOLVEM APENAS O PROBLEMA QUE ORIGINOU ANTECIPA E RESOLVE OUTROS POSSÍVEIS PROBLEMAS
problemas A CHAMADA “Clientes em sua situação muitas vezes acabam enfrentando um
“Resolvi o seu problema a contento?” problema relacionado. Deixe-me falar sobre isso agora para que
você não precise ligar mais tarde.”
apostamos que você tem o que é preciso”. A empresa as quais trabalhamos usam essa lente nas entrevistas
usa linguagem flexível — “Este trabalho não é para quem prévias e nos testes de avaliação, o que simplifica so-
tem coração fraco” — e é clara quanto às dificuldades en- bremaneira a seleção de candidatos.
frentadas pelos atendentes: “Nem sempre você saberá a
resposta certa, mas você é o tipo de pessoa que está sem- ENSINE A MENTALIDADE DO CONTROLADOR
pre pronto para o desafio. Você vai confiar em seus recur- Até mesmo uma abordagem de contratação sólida e
sos e pesquisar rapidamente uma resposta — e às vezes readequada para atrair e identificar controladores po-
tudo o que você vai precisar é o Google”. Definir clara- de deixar as empresas com um número significativo
mente as expectativas não só desestimula os candidatos de atendentes da linha de frente de outros perfis. As-
menos preparados (que são mais propensos a ir embora sim, além de aprimorar o processo de contratação, as
já nos primeiros dias depois do treinamento), como si- empresas precisam considerar novas abordagens pa-
naliza que a organização tem padrões exigentes, o que ra o desenvolvimento de talentos e gerenciamento de
contradiz a suposição de que qualquer um pode fazer desempenho para, assim, ajudar outros perfis a agir
o trabalho. A Blue Ocean também procura combater mais como controladores.
estereótipos negativos relativos ao cargo, divulgando Empresas que se comprometeram a transmitir ha-
vídeos em mídias sociais para questionar percepções bilidades de controlador excluíram do treinamento o
comuns equivocadas e apresentar as oportunidades do conhecimento do produto, os processos repetitivos de
call center da empresa de uma perspectiva favorável. atendimento telefônico e os procedimentos para usar
Mensagens elaboradas de forma cuidadosa podem sistemas e ferramentas. Em vez disso, ensinaram os
atrair controladores, mas não garantem passagem se- atendentes a aplicar técnicas de escuta e ofereceram
gura pelo processo de contratação. Como discutimos, um método que replica os instintos do controlador:
muitos gestores de atendimento ao cliente têm for- ajuda a entender rapidamente o que o cliente preci-
te preferência pelos empáticos e fortes preconceitos sa e mostra como oferecer a melhor resolução perso-
contra os controladores. Criamos um guia de entre- nalizada. No entanto, nuances de habilidades de con-
vista para ajudar a superar a situação. Sugerimos per- trolador não se aprende em sala de aula. As empresas
guntas que facilitam a tarefa de identificar controlado- que têm como objetivo desenvolver essas habilidades
res e destacamos as respostas indesejadas. Por exem- apostam em treinamento liderado pelo gerente, no lo-
plo: “Poderia relatar uma situação em que percebeu cal de trabalho, o que permitirá aos atendentes o do-
que um processo que deveria seguir determinado ru- mínio da função com o passar do tempo.
mo não fazia sentido? Que você fez?”. Ou “Fale sobre Infelizmente, a maioria dos gestores da linha de
um momento em que você precisava de alguém pa- frente confunde treinamento com gestão de desem-
ra fazer algo imediatamente, mas sabia que essa pes- penho. Numa organização típica de serviço, a maio-
soa era passiva. Que você fez?”. Muitas empresas com ria dos treinamentos é um exercício teórico, feito em
dos CEOs
divulgou a 20th Global
Para essa parcela da
CEO Survey, com
sociedade, a tecnologia
entrevistas com cerca
e a globalização
de 1.400 CEOs de
são responsáveis
79 países. As respostas
pela eliminação de
mostram que os líderes
milhares de postos de
globais têm consciência
Nos últimos 20 anos, a e viram seus mercados trabalho, entre outros
da mudança do cenário:
globalização e os avanços se expandirem efeitos negativos. Os
58% dizem que a adoção
tecnológicos provocaram enormemente. Os ganhos movimentos de oposição
de políticas nacionalistas
uma grande revolução. beneficiaram também as reverberaram nos
em alguns países tornou
As empresas registraram pessoas: milhões saíram líderes políticos e estão
a competição mais difícil
aumento da produtividade da linha de pobreza e influenciando as políticas
e 69% afirmam que
de vários países. Essa
5
ficou ainda mais difícil Outras pesquisas da PwC inteligência emocional. Cinco questões
manter a confiança dos revelam que a busca Três quartos dos CEOS
stakeholders na era digital pelo lucro financeiro afirmam que a falta de relevantes:
(em que as informações não deve ser o único talentos pode impactar o
circulam com grande objetivo das companhias crescimento das empresas
velocidade e podem – elas precisam em 2017. 1. Como fazer sua
vazar rapidamente). abraçar valores como empresa crescer
O terceiro desafio é num cenário de
Considerando que a diversidade, inclusão e
defender os benefícios da economia global com
economia se baseia sustentabilidade para
globalização. Para cerca baixo crescimento
na compra e venda de serem bem sucedidas.
de 45% dos respondentes e aumento de
produtos e serviços, a
Um segundo ponto a ser da 20th Global CEO divergências?
revolução tecnológica
enfrentado é conciliar o Survey, a globalização
não vai retroceder e a
trabalho humano com as não conseguiu diminuir 2. Como as empresas
confiança é um atributo e governos podem
novas tecnologias. Com a desigualdade entre
indispensável para trabalhar em
o avanço da impressão ricos e pobres. Uma das
qualquer empresa que conjunto para ampliar
3D, da internet das coisas soluções apontadas por
queira ser bem sucedida, os benefícios da
e o uso de robôs não só eles para avançar neste
os líderes empresariais globalização e das
na produção de bens, sentido é aumentar a
têm diante de si um novas tecnologias?
mas no setor de serviços, colaboração com os
imenso desafio.
os conflitos tendem a se governos. Uma área 3. Sua empresa está
Um primeiro desafio é agravar. Outra sondagem promissora é a educação. buscando talentos
recuperar a confiança. feita pela PwC com O trabalho conjunto de com capacidade de
Na era digital em que 5.000 pessoas de 22 empresas e governos liderança, criatividade
vivemos, a transparência é países revelou que 79% em prol da qualificação e adaptabilidade,
um requisito fundamental deles acreditam que a de trabalhadores pode capacidades
para o cumprimento tecnologia vai provocar produzir resultados fundamentais para a
desse objetivo. Os líderes redução nos postos de significativos. E a inovação e construção
empresariais precisam trabalho nos próximos tecnologia pode ser uma das marcas?
entender as implicações cinco anos. aliada (por exemplo, os
éticas de suas decisões. cursos online). 4. O que sua empresa
A despeito disso, a está fazendo para
Nada passa despercebido.
contribuição humana no Como se vê, vivemos uma medir e aumentar
Um desvio pode significar
trabalho é imprescindível era de divergências que a confiança na sua
uma crise de reputação.
– e deverá ser por muito demanda um novo estilo marca, de modo a
A 20th Global CEO
tempo. Pouco mais da de liderança, capaz de ganhar vantagem
Survey mostra que
metade (52%) dos CEOs gerenciar as crescentes competitiva?
92% dos entrevistados
entrevistados planejam ansiedades. Os vencedores
concordam que, hoje, é
contratar. E as qualidades serão os que conseguirem 5. Sua empresa
muito importante que o redesenhou
que eles buscam na força entender os diversos
propósito das empresas processos para que os
de trabalho ainda não anseios e conciliá-los para
esteja refletido em profissionais possam
podem ser copiadas pelas o progresso sustentável
seus valores, culturas trabalhar usando
máquinas: criatividade e inclusivo.
e comportamentos. novas tecnologias,
e inovação; liderança e
somando as forças?
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AS GRANDES EMPRESAS GASTAM
DE FORMA DIRETA, ANO APÓS ANO,
BILHÕES DE DÓLARES EM ENERGIA —
E MILHÕES DE FORMA INDIRETA EM REDES
DE SUPRIMENTOS, OUTSOURCING E LOGÍSTICA.
NO ENTANTO, FORA DOS SETORES DE
CONSUMO ENERGÉTICO MAIS INTENSO,
76 HARVARD BUSINESS REVIEW FEVEREIRO 2017
ESTRATÉGIAS
ENERGÉTICAS
PARA
EXECUTIVOS
DO C-LEVEL
ANDREW WINSTON,
GEORGE FAVALORO
E TIM HEALY
para a maioria das empresas a energia é apenas mais incluindo desenvolvimento de uma estratégia formal,
um custo a ser administrado. Esse é um erro estratégi- aplicação de tecnologia de ponta e alavancagem de
co que deixa passar valiosas oportunidades de reduzir sistemas avançados de financiamento. Classificamos
o risco, aprimorar a resiliência e criar novo valor. as empresas em líderes, intermediárias e atrasadas e
Atualmente a energia é item prioritário na agenda analisamos até que ponto sua “maturidade energéti-
corporativa devido a questões ambientais, sociais e ca” criou valor para os negócios. Pautados nessa pes-
de negócios que incluem: mudanças climáticas e re- quisa e em décadas de experiência em consultoria e
gulamentação global de emissões de carbono; maior gestão de energia, desenvolvemos uma nova estrutu-
pressão sobre recursos naturais; expectativas crescen- ra para utilizar a estratégia de energia para criar valor
tes sobre o desempenho ambiental corporativo; ino- para as empresas.
vações em tecnologias de energia e modelos de negó- Neste artigo, apresentamos os principais passos pa-
cios; e redução drástica dos preços das energias reno- ra criar vantagem competitiva aplicando as melhores
váveis. Essas megatendências mudam o modo de ope- práticas emergentes.
ração dos negócios e predispõem as empresas a novos
riscos e novos caminhos para criar valor.
Na visão estratégica clássica de Michael Porter, as MUDANDO DE PERSPECTIVA
empresas criam vantagem competitiva mantendo os Antes de entrar no assunto, vamos analisar como uma
custos baixos ou diferenciando-se. As escolhas que a empresa líder, a Microsoft, aborda a estratégia ener-
empresa faz sobre suas fontes e consumo de energia gética. Como a maioria das empresas, a Microsoft há
podem influenciar profundamente sua estrutura de muito tempo considera a energia uma commodity oni-
custos. E a forma como administra o impacto ambien- presente: aperte um interruptor e as luzes — e os cen-
tal e o climático de seu consumo de energia — princi- tros de dados — se acenderão. Mas com o desenvol-
palmente as emissões de carbono — é um diferencial vimento da computação em nuvem e com a volatili-
cada vez mais valorizado pelos consumidores, inves- dade histórica dos preços da energia, essa commodity
tidores e clientes corporativos. tornou-se um grande e imprevisível input operacional
Para entender como o mundo corporativo es- e de despesas para as gigantes de TI. Além disso, em-
tá abordando a estratégia energética, fizemos uma presas do setor de informação, comunicações e tecno-
pesquisa com executivos de 145 empresas, com fa- logia (ICT, na sigla em inglês) encontram-se atualmen-
turamento igual ou superior a US$1 bilhão, de diver- te entre os maiores consumidores de energia do mun-
sos ramos e regiões. A pesquisa analisou o desempe- do, o que aumenta a preocupação com as emissões de
nho das empresas em 15 ações relacionadas à energia, carbono. Grandes organizações não governamentais,
como a Greenpeace, começaram a atacar os “dados
sujos”, criticando o desempenho ambiental dos líde-
res da computação em nuvem. Todas essas pressões,
juntamente com novas oportunidades de energia lim-
D
Em 2011, Rob Bernard, executivo ambiental e de
E O P A
de exposição da empresa. A equipe concluiu rapida-
mente que regulamentações de emissões de carbo-
no e a disponibilidade e flutuação dos custos de ener-
CFO G OR
seriam fontes significativas de risco. Em resposta,
icrosoft formou uma equipe sênior centralizada
ra resolver questões estratégicas de energia em as-
SE VOLVID ERGÉT
presa. “A energia passou a ser um problema dos exe-
cutivos do C-level”, observa Bernard. “O CFO e o pre-
sidente agora estão seriamente envolvidos em nosso
EN ANO EN
plano energético.”
Ao perseguir suas metas energéticas, a Microsoft
aumentou a participação de combustíveis renováveis
PL
em seu mix de energia e melhorou sua eficiência ener- de operações, instalações, finanças, jurídico, compras,
gética. Agora, ela cobra das unidades de negócio uma sustentabilidade e até de outras áreas. A equipe da
taxa pelas emissões de carbono, reinvestindo os fun- Microsoft, que inclui membros das áreas de meio am-
dos em seus programas de energia. Recentemente biente e sustentabilidade, jurídica, financeira e opera-
ela anunciou que, para 2018, seu plano é alimentar ções de centro de dados, está subordinada ao vice-pre-
seus centros de dados com 50% de energia eólica, so- sidente de infraestrutura e operações e ao vice-presi-
lar e hidrelétrica; e, a partir da próxima década, che- dente de tecnologia e engajamento cívico. Na EMC,
gar aos 60%. empresa de serviço de dados que hoje é uma divisão
Para todas as empresas de ICT, administrar bem a da Dell, uipe de energia se reporta ao CFO.
energia tornou-se, no mínimo, a bola da vez, e cons-
2
titui um diferencial competitivo. Empresas de ou-
tros setores em que a energia e as emissões são críti- INTEGRE A ENERGIA À VISÃO E
cas estão seguindo caminho similar. A agricultura, OPERAÇÕES DA EMPRESA
por exemplo, produz até 35% das emissões de carbo- A primeira tarefa da equipe é avaliar os im-
no mundiais. Por entender as implicações estratégicas pactos internos e externos da empresa. Algu-
desse percentual, muitas empresas da indústria ali- mas das perguntas a serem respondidas são:
mentícia estabeleceram metas agressivas para reduzir qual o consumo de energia de nossa empresa
o consumo de energia e as emissões de carbono em e qual o custo? Qual o impacto desse gasto nos princi-
suas cadeias de valor. A Kellogg’s, por exemplo, redu- pais indicadores financeiros, como o custo das merca-
ziu o uso absoluto de energia em 8% e planeja cortar dorias vendidas? Estamos capitalizando oportunida-
as próprias emissões e de seus fornecedores em 65% e des de usar recursos renováveis? Qual é a nossa pega-
50%, respectivamente, até 2050. da de carbono? E de nossos fornecedores? Como isso
Embora empresas líderes de vários segmentos es- se alinha com as expectativas dos clientes, investido-
tejam desenvolvendo estratégias energéticas, não es- res e funcionários e qual é nossa posição em relação
tão seguindo nenhum manual. Na verdade, existem aos nossos concorrentes?
alguns programas bem estruturados para a gestão da As respostas sinalizam oportunidades e falhas de
energia, mas eles não estão integrados na estratégia desempenho. Uma empresa varejista de grande porte,
geral, nem estão explicitamente direcionados para sa- por exemplo, pode medir seu consumo de energia por
tisfazer as implicações estratégicas das megatendên- metro quadrado de loja e calcular o potencial de eco-
cias globais. Os cinco passos que recomendamos para nomia de custos ao resolver as falhas. A empresa tam- EM RESUMO
criar uma estratégia energética sólida não são revolu- bém pode avaliar sua taxa anual de redução de ener-
cionários. O que é revolucionário é aplicá-los sistema- gia. Grandes lojas de varejo com programas energéti- O PROBLEMA
ticam para o uso de energia das empresas. cos consistentes estão obtendo reduções anuais sus- Megatendências
ambientais, sociais e de
tentáveis de 2,5% a 3,5%. Nas centenas de milhões de negócios levaram a energia
1
dólares gastos em energia, essas reduções represen- até a agenda corporativa.
COMECE ENVOLVENDO UM tam uma economia significativa no lucro líquido da Mas muitas empresas ainda
EXECUTIVO DO C-LEVEL empresa. E cálculos similares para a intensidade de abordam o tema apenas
como um custo a ser
É difícil implementar uma estratégia de ener- carbono poderiam realçar a exposição às oscilações de
gerenciado.
gia sem o envolvimento explícito do CEO e de preço do combustível e sinalizar o sucesso da empresa
uma clara estrutura de governança. As empre- em adotar formas renováveis de energia. A SOLUÇÃO
sas classificadas como atrasadas em nosso estu- Uma vez que os impactos energéticos da empre- As empresas precisam de
do indicaram a falta dessa estrutura como o maior obs- sa sejam claramente entendidos, a equipe pode de- uma estratégia coesa de
táculo. O envolvimento do CEO normalmente come- senvolver um plano de ação com foco em várias áreas energia que reduza o risco,
ça com um comprometimento — inicialmente, den- mais amplas, começando por recomendar que o CEO melhore a resiliência e crie
novo valor.
tro da empresa — para tornar a estratégia energética defina as metas específicas de energia e emissões. Me-
essencial para a missão e competitividade da empre- tas agressivas podem refletir o grau e o ritmo da re- PRINCIPAIS PASSOS
sa. O CEO deve sinalizar a importância desse compro- dução das emissões. Tais metas, segundo os cientis- As empresas devem criar
metimento indicando um executivo sênior para ser- tas, são necessárias para mitigar as mudanças climáti- uma delegação sob o
vir como paladino e orientador. Em empresas onde as cas. Aproximadamente 200 das maiores empresas do comando de um executivo
operações e pegadas energéticas são críticas, como no mundo concordam em estabelecer essas metas basea- do C-level, integrar metas
de energia à visão e às
caso de produtores industriais e de petroquímicos, o das na ciência e mais de 80 assinaram a iniciativa glo- operações, rastrear o
COO pode desempenhar esse papel. Em empresas on- bal RE100, pela qual se comprometem a chegar a 100% progresso, buscar novas
de as fontes de energia e de financiamento são ques- de energia renovável. Um número cada vez maior de tecnologias e envolver os
tões centrais (setores de ICT e varejista), o CFO pode empresas está exigindo que também suas redes de su- stakeholders. Esses passos
ser a pessoa certa. primentos cumpram metas baseadas na ciência. Esta- não são revolucionários —
o que é revolucionário é
Esse executivo monta uma equipe transfuncional belecer metas publicamente não só sinaliza o compro- aplicá-los sistematicamente
para desenvolver a estratégia energética da empresa misso da empresa com os stakeholders externos, mas ao uso de energia da
e liderar a execução. A equipe deve incluir executivos também ajuda a alinhar vários grupos funcionais em organização.
toda a organização, promover a responsabilidade e tida praticam taxas mais baixas em períodos fora do
inspirar os funcionários. pico. Os gestores que trabalham do lado da demanda
Uma vez definidas as metas, a equipe precisa criar reformulam o consumo para evitar períodos de pico e
incentivos para mobilizar toda a organização a tornar até cobram das usinas de energia um pagamento pela
a energia uma prioridade operacional. A General Mo- resposta à demanda ao reduzir o consumo nos perío-
tors (GM), por exemplo, que atualmente gasta mais de dos de pico. As empresas estão tentando reduzir a de-
US$ 1,2 bilhão em energia, entranhou a eficiência ener- manda em períodos de pico de consumo usando ener-
gética em seu padrão global e nos planos de negócio gia armazenada previamente. A vinícola Kendall-Jack-
das fábricas. Os planos, que estão intimamente rela- son utiliza baterias do programa piloto da Tesla/Ener-
cionados à remuneração dos gestores da fábrica, in- NOC para armazenar energia de seus painéis solares.
cluem não só as métricas operacionais como os volu- Isso reduziu a conta de energia elétrica da vinícola em
mes de produção esperados, mas também os princi- aproximadamente 40% em 2016 — o que resultou na
pais indicadores de desempenho ambientais e energé- economia de US$ 2 milhões e no aumento de resiliên-
ticos, como a energia consumida em cada veículo pro- cia dian e potenciais apagões.
duzido. Se as metas de energia não são cumpridas, os
3
gestores precisam explicar os motivos para a lideran-
ça global. Como observa Mari Kay Scott, diretora de MONITORE A ENERGIA EM
compliance ambiental e sustentabilidade da GM, “para TODOS OS NÍVEIS
nós a eficiência de energia é uma prioridade na fábrica Saber que sua empresa desconhece quanto
da mesma forma como são a segurança, a qualidade, o consome de energia, tanto nas unidades e ati-
custo e a receptividade”. vidades em separado como na organização co-
Além disso, a equipe deve aconselhar como inte- mo um todo, é um duro golpe para os execu-
grar os custos de energia às prioridades e aos proces- tivos do C-level. A energia está entre as áreas de maior
sos estratégicos. Os gestores de instalações e opera- custo para as empresas — no mesmo patamar de custo
ções devem incluir a energia nos custos decorrentes com pessoal, produtos, instalações e equipamento —,
de seu potencial de recuperação e no planejamen- mas é a única que não é monitorada e controlada com
to de continuidade de negócios. E a equipe de finan- rigor. Na verdade, não raro é a área mais precariamen-
ças precisa priorizar a redução de energia e de emis- te monitorada da estrutura de custos. A maioria das
sões de carbono no processo de alocação de capital. A empresas não dispõe de bons sistemas para avaliar ra-
Johnson & Johnson e a GM reservam um capital adi- pidamente os dados sobre energia nem mecanismos
cional anualmente para projetos de eficiência e re- que informem a necessidade de intervenção imedia-
dução de emissões de carbono — respectivamente ta. Quando a Cisco, líder de TI, instalou 1.500 sensores
US$ 40 milhões e US$ 20 milhões. de energia numa de suas unidades da Ásia, em 2015,
Finalmente, a equipe de energia pode aju- pôde medir o consumo total de energia da fábrica pe-
dar a conectar duas operações que geral- la primeira vez, e imediatamente descobriu formas de
mente são distintas: prospecção de recur- reduzi-lo em 30%. Seu vice-presidente de suprimen-
e gestão de uso. Normal- tos, John Kern, diz: “Sempre administramos os custos
arte dos gestores da orga- cuidadosamente, mas não estávamos realmente me-
comprar energia pelo pre- dindo a energia — não sabíamos quanto gastávamos”.
xo possível e desenvolver Essa é uma falha comum entre os fabricantes, mas é
ento e uma estratégia de perturbadora porque, como observou Kern, a energia
tra parte dos gestores, no é normalmente o maior custo variável das fábricas.
o, trabalha para reduzir o Monitorar e analisar o uso da energia revela ques-
umo e melhorar a eficiên- tões operacionais que afetam custos, desempenho e
. Coordenar essas metas qualidade. Os dados da “assinatura da energia” po-
ode representar economia dem indicar que uma parte do equipamento, como
ou ganhos e redução de um sistema de aquecimento, ventilação e ar-condi-
risco. Por exemplo, ges- cionado (HVAC, na sigla em inglês), ou uma máquina
tores de compras deci- injetora de moldagem, está trabalhando fora de sua
dem contratar ener- faixa ideal de funcionamento. A Blommer Chocolate,
gia com custos mais grande processadora de cacau, utiliza análise estatís-
altos durante os tica para prever a energia necessária para torrar cada
períodos de pi- quilograma do produto. Quando o consumo real foge
co de deman- da previsão, os gestores sabem que algo vai mal. Um
da da malha produtor de material de construção monitora os cus-
energética tos de energia de cada linha de produto (cerca de 30
e em con- mil unidades de manutenção de estoque) e usa esses
trapar- dados para ajustar os preços e garantir a lucratividade.
É UM A EM EN E QUAN
Como ocorre com todas as formas de energia, os
incentivos do governo tornam a economia de mer-
cado mais atraente. Mas, mesmo sem ajuda, o custo
4
ção de eletricidade para usá-lo em aquecimento e re-
MUDE PARA RENOVÁVEIS E OUTRAS frigeração. Outras, como a GM e a Diageo, que produz
TECNOLOGIAS AVANÇADAS DE ENERGIA bebidas destiladas, estão coletando e queimando me-
O mercado para a tecnologia de energia lim- tano de aterros sanitários — uma fonte de gás natural
pa está mudando rapidamente e as empresas considerada neutra em termos de emissão de carbono.
precisam entender tanto essas tecnologias A Walmart, que utiliza células combustíveis para for-
como as opções de financiamento disponí- necer energia para mais de 50 lojas, instalou mais de
veis. Empresas que não incorporam agressivamente mil empilhadeiras alimentadas a hidrogênio em seus
os combustíveis renováveis e outras novas tecnologias centros de distribuição. A Home Depot, recentemente,
de energia em suas estratégias gerais de energia estão aumentou para 200 o número de lojas que utilizam cé-
deixando passar benefícios importantes e expondo-se lulas combustíveis e armazenamento de energia. Em-
a uma série de riscos. presas aéreas do mundo todo estão usando combustí-
O cenário da energia atual se caracteriza pelo au- veis alternativos de várias fontes — resíduo sólido, re-
mento drástico de fornecimento e pela queda vertigi- finarias de petróleo, gás residual de siderúrgicas e até
nosa nos custos de uma série de tecnologias de ener- tabaco. Empresas com grandes frotas de veículos, co-
gias alternativas, incluindo turbinas eólicas, células mo USPS, FedEx e UPS, estão testando veículos movi-
fotovoltaicas, biocombustíveis, células de combustí- dos a combustível alternativo que variam de veículos
vel, baterias avançadas, iluminação a LED e medido- elétricos e híbridos a caminhões movidos a propano,
res avançados. Os projetos mais recentes de energia gás natural ou biometano. Os veículos a combustível
renovável estão precificando a energia abaixo do cus- alternativo da UPS já percorreram mais de 1,5 bilhão
to de qualquer fonte de energia. Em 2015, o preço mé- de quilômetros entregando encomendas.
dio da eletricidade para novos contratos de longo pra- Opções de financiamento. As tecnologias de
zo de projetos de energia eólica nos Estados Unidos energia limpa podem estar proliferando e seus pre-
foi de US$ 0,02 por quilowatt-hora, diminuindo US$ ços caindo, mas nem sempre é fácil para as empresas
5
nal. Walmart, Morgan Stanley e Kendall-Jackson uti-
lizam a energia distribuída localmente (células com- ENVOLVA OS STAKEHOLDERS
bustíveis, ou uma combinação de painéis solares e tec- MAIS IMPORTANTES
nologia de armazenamento) para manter as operações As empresas podem se esmerar em aspectos
quando a rede de distribuição sofre pane. operacionais de estratégia energética: aumen-
Finalmente, o compromisso com a energia lim- tar a eficiência, diversificar fontes de energia,
pa beneficia a marca e gera diferencial competiti- reduzir emissões e assim por diante. Mas es-
vo. A pressão social para reduzir as emissões está ses efeitos não conseguem ir muito longe sem uma
estratégia coerente de comunicação com os stakehol- precisam colaborar com os governos na construção de
ders. As empresas precisam não só se envolver com os uma malha mais inteligente e melhorar a transmissão
governos para influenciar as regulamentações ener- para viabilizar grandes projetos de energia renovável e
géticas e ambientais que afetam seus negócios, como de desenvolvimento de infraestrutura que apoiem lo-
também informar aos clientes, comunidades, investi- gística mais limpa e eficiência energética.
dores e funcionários suas estratégias de energia. Essa A dimensão do desafio é substancial. Algumas ins-
estratégia de comunicação deve ser moldada de acor- talações e estados continuam lutando para manter o
do com os interesses de stakeholder. status quo e têm resistido em fornecer os tipos de ener-
O mercado de energia limpa evolui rapidamente. gia e serviços que as empresas líderes do mercado de-
As empresas não precisam mais comprar energia de mandam. Estas devem utilizar sua influência para pro-
uma usina local regulamentada e podem, cada vez mover regulamentações favoráveis às suas estratégias
mais, negociar com os fornecedores de energia, até de energia e garantir acesso a novas tecnologias e fi-
instigá-los uns contra os outros para obter melho- nanciamentos — e estar dispostas a transferir seus ne-
res preços. Vários elementos ajudam-nas a gerenciar gócios para outro lugar, se necessário.
seus custos: precificação dinâmica, novos sistemas de No ano passado, a gigante dos cassinos de Las Ve-
financiamento como os PPAs e incentivos como cré- gas, a MGM Resorts International, pagou uma multa
ditos fiscais para aumentar a eficiência e investimen- de US$ 86 milhões ao romper o contrato que manti-
tos em energias renováveis. As empresas podem usar nha com a distribuidora de energia local, a Nevada Po-
redes inteligentes de energia, armazenamento em wer, para poder vender uma imagem mais verde para
baterias e tecnologias de geração local para otimizar o mercado de pacotes turísticos. Numa carta enviada
a quantidade de eletricidade a ser comprada da rede à comissão estadual de fornecimento de energia a em-
de distribuição — e quando. Mas a capacidade das em- presa explicou: “É nosso objetivo diminuir o impac-
presas de capitalizar benefícios desses avanços é au- to ambiental da MGM reduzindo o uso de energia e
mentada e acelerada por políticas governamentais, desenvolver agressivamente fontes de energia reno-
incluindo a regulamentação que promove a ener- vável. Nossa necessidade é reforçada pela crescente
gia renovável e a eficiência energética. Por isso, elas demanda do cliente por ambientes sustentáveis”.
têm uma participação efetiva, quer gostem ou não, na A Facebook trabalhou de perto com as empresas dis-
criação um sistema regulador dinâmico e orientado tribuidoras para atingir suas metas e ao mesmo tempo
para o futuro. tornar público o fato de que o acesso à energia reno-
Boa parte da ação se desenvolve no cenário local vável é importante quando se decide o local onde ins-
e regional. Por mais de um século, monopólios natu- talar um novo centro de dados.
rais forneceram energia, principalmente nos Esta- Conecte-se com clientes, sociedade, investido-
dos Unidos. No entanto, usinas geradoras, co- res e parceiros. A atitude da MGM de abandonar a
missões de agências públicas e a própria matriz distribuidora sinalizou claramente seu comprometi-
energética continuarão a ser essenciais para mento com as preocupações ambientais dos clientes
as operações das empresas, mesmo com o e da sociedade local. Todas as empresas deveriam di-
da geração distribuída. Por vulgar agressivamente suas estratégias de energia e de
ptar valor sobre o uso de tec- clima para esses grupos. Demonstrar boa gestão am-
pas, as empresas precisam biental não só protege a licença de funcionamento da
políticas que encorajem a empresa como também promove as vendas para clien-
mação do sistema energé- tes que procuram administrar seus próprios impactos
ra incluir a geração distri- ambientais. Veja o caso da Iron Mountain, empresa de
. Um grupo de grandes em- armazenamento de documentos e dados de US$ 3,4
sas com operações signifi- bilhões que utiliza energia limpa para criar um pro-
tivas em Ohio — incluindo duto inovador: os clientes dos centros de dados têm a
a Campbell Soup, Owens opção de comprar serviços de hospedagem de baixo
Corning, Jones Land La- carbono ou sem carbono (alimentados a energia eóli-
Salle, Nestlé e Whirpool ca) a um preço atraente de longo prazo, o que lhes per-
— convocou recente- mite capturar valor tanto na estabilidade de preço co-
mente os legislado- mo nos benefícios climáticos.
res do estado pa- A comunicação externa também deve ser talhada
ra restabelecer os para atender investidores e parceiros do negócio. His-
drões de eficiên- toricamente, a comunidade de analistas não se pre-
cia de energia e ocupava com as ações sociais e ambientais das em-
de energia re- presas, mas isso começou a mudar. Num relatório de
novável. As analistas do setor de artigos de vestuário, por exem-
empresas plo, a Morgan Stanley aumentou as metas de cota-
também ção das ações da Nike, Hanesbrands e VF porque elas
FOCO
VANTAGEM CUMULATIVA
Nesta edição analisamos
o que realmente motiva
os consumidores a
escolher um produto em
detrimento de outro: é
o hábito — e não, como
muitos pressupõem, a
atração ou a fidelidade.
pág. 35
Cada vez mais, Por que os consumidores Grandes empresas gastam Quando ingressou na T-Mobile, em setembro de 2013, escreve
executivos e empresas estão cada vez mais de forma direta bilhões de o autor, o dado mais importante que ele logo identificou não
são desafiados a insatisfeitos com a qualidade dólares em energia todos era específico da T-Mobile, mas da indústria de wireless em
beneficiar a sociedade da assistência que recebem os anos — e milhões de geral: as pessoas a odiavam. Ele percebeu que a melhor forma
e a proteger o meio dos serviços de atendimento forma indireta em custos de ser bem-sucedido nesse setor era ter um comportamento o
ambiente atuando local ao consumidor? As da rede de suprimentos, mais diferente possível das empresas existentes.
ou internacionalmente. No pesquisas e entrevistas dos outsourcing e logística. No A T-Mobile abandonou os contratos de longo prazo e
entanto, costuma ser mais autores com pessoal de entanto, fora dos setores os substituiu por modelos com precificação transparente,
fácil falar que fazer. centros de atendimento no de consumo energético facilitou a atualização para um novo smartphone, e eliminou
Se antes bastava mundo todo sugerem que as mais intenso, a maioria taxas de roaming global. Legere também começou criticando
divulgar as atividades empresas não contratam as das empresas aborda a as concorrentes Verizon e AT&T Wireless, que ele chamou de
filantrópicas e criar a área pessoas certas para atuar energia simplesmente “burros e mais burros” em comentários na imprensa e no
de responsabilidade social, como atendentes da linha como mais um custo a ser Twitter.
hoje as necessidades de frente, nem as equipam administrado. Esse é um Resultado: os assinantes da T-Mobile, que eram 33 milhões
sociais e ambientais devem para lidar com os complexos erro estratégico que ignora quando Legere foi admitido, no fim do terceiro trimestre de
ser percebidas como uma desafios inerentes ao cargo. enormes oportunidades de 2016 eram 69 milhões.
oportunidade de mudança, Segundo os autores, reduzir o risco, aprimorar a HBR Reprint R1701A–P
proatividade e assunção existem sete tipos de resiliência e criar novo valor.
de risco. É a isso que atendente. Os “enfáticos” Atualmente a energia
chamamos “estratégia apoiadores constituem está em ascensão na
responsável”. Em o maior grupo, e são os agenda corporativa por
primeiro lugar, contribuir preferidos dos gestores. abranger tendências
estrategicamente para Mas os “controladores” ambientais, sociais e
a sociedade ou para o cuidadores, que representam de negócios, incluir
meio ambiente requer somente 15% dos mudanças climáticas e
“pensamento fora da caixa” atendentes, são na verdade regulamentação global
e habilidade de perceber melhores na hora de resolver de emissões de carbono,
as demandas de diversos os problemas dos clientes. aumentar pressões sobre os
stakeholders. Para ampliarem seus recursos naturais, aumentar
Internamente, respostas números, as empresas as expectativas sobre o
a essas necessidades precisam atualizar sua desempenho ambiental
dificilmente surgirão forma de contratação — corporativo, inovações
dentro das tradicionais procurando aprimorar em tecnologias de energia
estruturas de silos. os anúncios de oferta e modelos de negócios,
HBR Reprint R1701C–P de emprego e selecionar e reduzir drasticamente
candidatos de formas os preços das energias
diferentes. Devem também renováveis.
renovar suas práticas de Para responder a essas
treinamento, usando novos mudanças, as empresas
processos e coaching sobre precisam desenvolver
o trabalho para ajudar todas uma estratégia energética
as categorias de atendente robusta.
a aprender a agir mais como HBR Reprint R1701E–P
controladores. Outro passo
fundamental é desenvolver
uma cultura que valorize e
premie o comportamento
controlador.
HBR Reprint R1701D–P
JERRY SEINFELD anos 1990 com seu sitcom homônimo. Duas décadas depois, ele está
novamente atraindo elogios e telespectadores, desta vez com seu
inventivo programa de entrevistas online Comedians in cars getting
MICROGERIDO TUDO — CADA PALAVRA, CADA realmente enjoado?”. Para mim, eram os talk shows nos quais toca uma
música, alguém entra em cena e anda até uma mesa, cumprimenta o
LINHA, CADA TOMADA, CADA EDIÇÃO, CADA anfitrião, e senta: “Como vai? Você está ótimo!”. “Do que realmente
ESCOLHA DE ATOR. ESSE É O MEU JEITO.” estou enjoado?” é aí que começa a inovação.
Você precisa saber como motivar a si próprio para ser seguro e corajoso
quando está criando material novo, e, também, para ser um crítico
severo e dizer “Isso é bom, mas não é bom o suficiente — elimine”.
Não acho uma boa ser crítico a ponto de ficar deprimido, mas chego
perto. Gerir isso é a parte mais difícil da profissão. Na maioria das vezes,
quando os comediantes deixam o palco e você pergunta como foi, eles
dizem “Eu me odeio”.
HBR Reprint R1701F–P Para pedidos, página 14
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